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Alterações cutâneas fiosiológicas do recém nascido

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NASCER E CRESCER
revista do hospital de crianças maria pia
ano 2009, vol XVIII, n.º 1
19artigo original
Alterações cutâneas fi siológicas
e transitórias do recém-nascido
RESUMO 
A pele desempenha um papel fun-
damental na protecção do recém-nascido 
na sua transição da vida intrauterina para 
a vida pós-natal. A maioria das alterações 
cutâneas que ocorrem neste período é 
fi siológica e transitória, não necessitan-
do de procedimentos diagnósticos ou 
terapêutica. No entanto constituem uma 
fonte de preocupação dos pais, pelo que 
é necessário o reconhecimento destas le-
sões para uma abordagem adequada do 
recém-nascido e família. Nesta revisão 
os autores fazem uma discussão breve 
das alterações cutâneas fi siológicas e 
transitórias deste grupo etário. 
Palavras - chave: récem-nascido, 
pele, alterações fi siológicas, doenças 
cutâneas transitórias
Nascer e Crescer 2009; 18(1): 19-24
INTRODUÇÃO
A pele do recém-nascido (RN) de-
sempenha um papel fundamental na 
transição do ser humano desde o meio 
aquático intra-uterino até o meio aéreo 
extra-uterino. 
Ao nascimento, a pele já se encon-
tra dividida nas três camadas (epiderme, 
derme e tecido celular subcutâneo). No 
RN de termo a epiderme, os anexos cutâ-
neos e a união dermo-epidérmica estão 
formados. As principais diferenças da 
pele do RN em relação à do adulto re-
sidem na derme, que é menos espessa, 
possui fi bras de colagénio de menor tama-
nho, fi bras elásticas imaturas e estruturas 
vasculares e nervosas desorganizadas. 
As glândulas sudoríparas e écrinas são 
normais, mas relativamente inefi cazes no 
controlo da temperatura corporal. A se-
creção sebácea está aumentada durante 
o primeiro mês de vida, estimulada pela 
presença de androgénios maternos. 
Com frequência no RN observam-
se lesões cutâneas que são considera-
das fi siológicas e outras que, apesar de 
não fi siológicas, têm carácter benigno e 
transitório (Quadro I). Torna-se impor-
tante reconhecer estas alterações, quer 
para impedir procedimentos diagnósticos 
e terapêuticos desnecessários, quer para 
tranquilizar os pais.
1. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS 
Vernix caseosa 
A vernix caseosa, presente na su-
perfície cutânea logo ao nascimento, con-
siste numa mistura de células epiteliais, 
sebo e por vezes cabelos. A vernix serve 
de lubrifi cante e protege contra os efeitos 
do líquido amniótico e parece também 
exercer funções antibacterianas por con-
ter péptidos e lípidos anti-microbianos. 
Fenómenos vasculares
A pele do RN não tem capacidade 
de responder rápida e adequadamente 
Inês Lobo1, Susana Machado1, Manuela Selores1
__________
1 Serviço de Dermatologia, Hospital Geral de 
Santo António, CHP
Quadro I
Alterações Fisiológicas do RN Alterações Transitórias do RN
Vernix caseosa Eritema tóxico do RN
Lesões traumáticas 
- Caput sucedaneum
- Cefalohematoma
- Bolhas de sucção
Pustulose melânica neonatal transitória 
Fenómenos vasculares
- Acrocianose
- Rubor generalizado
- Cútis marmorata fi siológica 
- Coloração Harlequin
- Manchas salmão
Acropustulose da infância 
Alterações da Pigmentação
- Manchas mongólicas 
- Hiperpigmentação epidérmica transitória 
Pustulose cefálica transitória 
Alterações das mucosas 
- Quistos epidérmicos gengivais e palatinos Miliaria 
Alterações Hormonais 
- Hiperplasia sebácea 
- Acne neonatal 
Necrose do tecido celular subcutâneo
Outras alterações 
- Falsa unha encravada
- Coiloníquia 
- Linhas de Beau
- Quistos de milia 
NASCER E CRESCER
revista do hospital de crianças maria pia
ano 2009, vol XVIII, n.º 1
20 artigo original
a certos estímulos, o que provoca altera-
ções da sua coloração. 
Ao nascimento a pele das extre-
midades (mãos e pés) pode ter uma 
coloração violácea- acrocianose - que 
desaparece em poucas horas e reapare-
ce apenas quando a criança tem frio ou 
chora. Esta coloração é devida a uma hi-
pertonia das arteríolas periféricas, com a 
consequente congestão venosa respon-
sável pela cor cianótica. O diagnóstico di-
ferencial nestes casos deve ser feito com 
a cianose central de origem cardiovascu-
lar ou metabólica. Nos primeiros dias de 
vida, alguns RN podem apresentar um 
rubor generalizado resultante do excesso 
de hemoglobina, que desaparece com a 
diminuição fi siológica dos níveis de he-
moglobina sérica. 
A cútis marmorata fi siológica resulta 
da dilatação dos capilares quando o RN 
é exposto ao frio. Caracteriza-se clinica-
mente pela presença de um reticulado 
eritemato-violáceo no tronco e extremi-
dades. Esta situação não tem signifi cado 
patológico e normalmente desaparece 
quando o RN é aquecido(1). Perante esta 
situação é necessário estabelecer o diag-
nóstico diferencial com a cútis marmora-
ta telangiectásica congénita (fi g. 1) que é 
uma malformação capilar, onde as lesões 
são persistentes e, em 50% dos casos, 
estão associadas a outras malformações, 
nomeadamente ósseas, oculares e neu-
rológicas. 
A coloração em “Harlequin” é um 
fenómeno fi siológico que afecta 15% 
dos RN nas primeiras 2 a 3 semanas de 
vida(2). Resulta da ausência transitória de 
regulação central do tónus vascular peri-
férico(3). Traduz-se pelo aparecimento de 
eritema no hemicorpo (geralmente zona 
em declive) e palidez no outro hemicor-
po, separados pela linha média(3). A face 
e os genitais são poupados. Esta situa-
ção pode ser difícil de visualizar já que os 
episódios têm curta duração (de alguns 
segundos a 20 minutos) e desaparecem 
rapidamente após aquecimento ou mu-
dança de posição. 
A manchas salmão, também deno-
minada de angioma de Unna, resulta de 
ectasias capilares na derme e está pre-
sente em 70% dos RN caucasianos(4). 
Manifesta-se como máculas ou manchas 
eritematosas/salmão localizadas à zona 
occipital, pálpebras, glabela, sendo mais 
rara a localização no nariz e lábio supe-
rior (fi g. 2). A maioria desaparece nos 
primeiros anos de vida(5). O diagnóstico 
diferencial faz-se sobretudo com malfor-
mações vasculares que não desapare-
cem espontaneamente.
 
Alterações da pigmentação
A mancha mongólica ocorre sobre-
tudo em RN de raça negra e corresponde 
a agregados de melanócitos na derme, 
que se manifestam como máculas ou 
manchas azul acinzentadas geralmente 
localizadas nas nádegas ou na região 
sagrada. Quando se situam em outras 
localizações são denominadas de man-
chas mongólicas ectópicas (Fig. 3). A 
patogénese é desconhecida embora pa-
reça residir num defeito na migração das 
células pigmentadas da crista neural. As 
melanoses dérmicas podem também es-
tar patentes nos nevos de Ito e de Ota, 
mas nestes casos não têm resolução es-
pontânea. 
Figura 2 - Mancha salmão - Manha eritemato-
sa/salmão localizadas na glabela.
Figura 3 - Mancha mongólica ectópica - Man-
cha azul acinzentada localizada ao ombro e 
omoplata esquerda.
Figura 1 - Cútis marmorata telangiectasica 
congénita - Reticulado eritematovioláceo per-
sistente.
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revista do hospital de crianças maria pia
ano 2009, vol XVIII, n.º 1
21artigo original
Nos RN de raça negra é comum uma 
hiperpigmentação epidérmica transitória 
dos órgãos genitais externos (fi g. 4), do 
abdómen inferior (linha nigra), das axilas, 
das aréolas mamárias, do perioníquio e da 
face dorsal da terceira falange(1), resultan-
te da acção da hormona estimuladora dos 
melanócitos in útero. É importante fazer 
o diagnóstico diferencial desta alteração 
cutânea benigna com a hiperpigmentação 
resultante da hiperplasia adrenal congéni-
ta, mas nesta última estão presentes ou-
tros sinais de hiperandrogenismo. 
 
Alterações das mucosas 
O exame da cavidade oral no RN é 
muito importante já que pode conduzir à 
detecção de muitas patologias. A altera-
ção fi siológica mais comum na mucosa 
oral é a presença de quistos epidérmicosgengivais e palatinos. Os quistos gengi-
vais podem ser detectados em 64% dos 
RN(6) e manifestam-se como pequenas 
pápulas isoladas ou agrupadas, banco-
amareladas, com tamanho de 1-2mm. A 
sua origem deve-se à formação de pe-
quenos quistos córneos na mucosa oral. 
Quando localizados no palato e na crista 
alveolar denominam-se respectivamen-
te de pápulas de Epstein e de Bohn. A 
maioria desaparece nos primeiros 5 me-
ses de vida. 
Fenómenos hormonais
Durante os primeiros meses de vida 
os RN estão expostos às hormonas andro-
génicas de origem materna e, em conse-
quência, podem surgir hiperplasias sebá-
ceas. São lesões foliculares punctiformes, 
de cor amarelada e superfície lisa, agrupa-
das no nariz, lábio superior e zonas mala-
res. Estas lesões regridem gradualmente 
durante as primeiras semanas de vida. 
Acne neonatal – Alguns RN sofrem 
de uma erupção facial acneiforme en-
tre as 2 e 3 semanas de vida. As lesões 
papulares e pustulosas eritematosas 
localizam-se sobretudo nas zonas ma-
lares. Caracteristicamente não existem 
comedões (fi g. 5). Há autores que con-
sideram esta forma de acne como uma 
primoinfecção por leveduras do género 
Malassezia. As lesões resolvem esponta-
neamente ao fi m de 2 a 3 meses. 
Devido à passagem de estrogénios 
maternos através da placenta, alguns RN 
apresentam também ginecomastia transi-
tória, produção de muco vaginal e mes-
mo hemorragia vaginal. Estas alterações 
resolvem em poucas semanas. 
Alterações dos anexos cutâneos
As alterações ungueais no RN são 
raras e podem representar alterações 
congénitas e genéticas. De entre as al-
terações fi siológicas e transitórias podem 
apontar-se a falsa unha encravada, a coi-
loníquia e as linhas de Beau.
Alguns RN apresentam uma hiper-
trofi a das pregas laterais que cobrem par-
cialmente as pregas ungueais, simulando 
deste modo as unhas encravadas(7). A 
maioria dos casos tem resolução espon-
tânea, mas por vezes estas pregas hiper-
trofi adas podem sobreinfectar e causar 
dor transitória. 
As linhas de Beau são linhas ungue-
ais transversais. Refl ectem uma paragem 
do metabolismo da matriz ungueal que 
pode ser atribuído ao stress induzido pelo 
parto. Contudo, podem também surgir 
após episódios febris, toxidermias e em 
situações de acrodermatite enteropática. 
É também possível o aparecimento de 
coiloníquia, que se trata de uma curvatu-
ra côncava das unhas “unha em colher”, 
principalmente nas unhas dos pés(3). 
O sistema piloso do RN é caracteri-
zado pelo lanugo que persiste durante as 
duas primeiras semanas de vida(8). Pode 
observar-se no RN uma hipertricose lo-
calizada, não lanuginosa, em particular 
ao nível da helix, que não traduz qual-
quer fenómeno patológico (antigamente 
pensava-se erroneamente que estava 
relacionado com a presença de diabe-
tes materno)(1). Outra das alterações dos 
Figura 5 - Acne neonatal - Pápulas e pustulo-
sas eritematosas, sem comedões.
Figura 6 - Quistos de milia - Múltiplas pápulas 
brancas punctiformes.
Figura 4 - Hiperpigmentação epidérmica tran-
sitória dos órgãos genitais externos.
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anexos é a presença de uma alopécia 
bem delimitada na região occipital, que 
empiricamente se atribuía à posição mais 
comum de decúbito, mas cuja etiologia 
parece ser devida à entrada mais tardia 
dos folículos da zona occipital, na fase 
telogênica(9). 
Outras alterações
As bolhas por sucção são bolhas 
tensas com conteúdo seroso, rodeadas 
por pele normal. Aparecem no dorso das 
mãos e antebraços e são devidas à vigoro-
sa sucção oral do RN nesse local, durante 
a vida intra-uterina. Associadas a estas le-
sões aparecem calos de sucção na muco-
sa oral. Esta lesão pode muitas vezes ser 
confundida com herpes simples. 
Quistos de Milia – Os quistos de 
milia são uma das alterações fi siológicas 
mais frequentes dos RN. Manifestam-se 
como pápulas brancas punctiformes úni-
cas ou múltiplas (fi g. 6) que aparecem 
em qualquer localização na superfície 
corporal, mas com mais frequência na 
face (zonas malares, nariz e mento). Têm 
origem em rolhões de queratina de etiolo-
gia desconhecida ao nível do infundíbulo 
pilossebáceo. O diagnóstico diferencial 
mais importante é com a hiperplasia se-
bácea, mas esta tem uma coloração mais 
amarelada. A maioria desaparece sem 
necessidade de tratamento, nos primei-
ros meses de vida. Quando persistentes, 
podem estar associados a casos de epi-
dermólise bolhosa distrófi ca, juncional ou 
ao síndroma orofacial-digital tipo I. 
2- ALTERAÇÕES IDIOPÁTICAS 
TRANSITÓRIAS 
Eritema tóxico do RN 
O eritema tóxico do RN ocorre em 
aproximadamente 50% dos casos, sem 
preponderância de sexo ou etnia. A sua 
ocorrência parece relacionar-se com o 
peso ao nascimento e a idade gestacio-
nal, sendo raro em prematuros e neo-
natos com menos de 2500g. A etiologia 
é desconhecida, mas há autores que 
consideram que corresponde a uma re-
acção enxerto-versus-hospedeiro contra 
linfócitos maternos. Apesar de poderem 
estar presentes desde o nascimento, o 
mais comum é que as lesões apareçam 
entre as 24 e as 48 horas de vida. As 
lesões típicas consistem em pápulas ou 
papulopústulas rodeadas de áreas infl a-
matórias eritematoedematosas de con-
tornos irregulares, semelhantes a pica-
das de insecto. Normalmente as lesões 
iniciam-se na face, expandindo-se de-
pois para o tronco e extremidades - mas 
podem aparecer em qualquer área cor-
poral com excepção das palmas e plan-
tas(3). A eosinofi lia periférica pode estar 
presente em 15% dos casos, indepen-
dentemente da gravidade das lesões. O 
diagnóstico baseia-se nas característi-
cas clínicas das lesões e no bom estado 
geral do RN. Quando houver dúvidas 
pode realizar-se uma biópsia cutânea, 
verifi cando-se a presença de eosinófi los 
subcórneos localizados à porção supe-
rior do infundíbulo folicular. 
As lesões resolvem espontanea-
mente em aproximadamente 7 dias. 
Pustulose melânica neonatal 
transitória
A pustulose melânica neonatal 
transitória é uma erupção frequente das 
crianças de raça negra. Apesar da etiolo-
gia não estar completamente esclarecida, 
há autores que consideram que a causa 
seja a hiperestimulação dos melanócitos. 
A clínica desenvolve-se em três fases e, 
ao contrário do eritema tóxico, aparece 
sempre ao nascimento. A primeira fase 
caracteriza-se pela presença de pústulas 
superfi ciais sem infl amação circundante, 
com tamanho entre 2-10mm, localizadas 
preferencialmente à face, região lombar e 
área pré-tibial. Contudo, as palmas, plan-
tas e região torácica podem estar envol-
vidas. Muitas vezes estas lesões passam 
despercebidas pois rompem com muita 
facilidade (pústulas intra ou subcórneas). 
Posteriormente aparecem colaretes des-
camativos ao redor das pústulas e, numa 
terceira fase, as lesões curam esponta-
neamente deixando hiperpigmentações 
residuais que podem demorar meses 
a desaparecer. O diagnóstico é clínico 
mas, quando há dúvidas, pode proceder-
se a avaliação histológica a qual revela 
pústulas com neutrófi los subcórneas ou 
intracórneas. O eritema tóxico do RN e a 
pustulose melânica neonatal podem co-
existir, havendo autores que consideram 
que estas duas entidades representem 
a mesma patologia(3), mas na primeira o 
aparecimento é mais tardio e o compo-
nente celular é eosinofílico. O diagnóstico 
diferencial desta entidade deve fazer-se 
com a acropustulose da infância (locali-
zação acral das lesões e o aparecimento 
geralmente é mais tardio), e com quadros 
pustulosos de origem infecciosa (candid-
íases e impétigos). 
Acropustulose da infância
A acropustulose da infância é uma 
condição de etiologia desconhecida, 
mais frequente em crianças de raça ne-gra e do sexo masculino. Caracteriza-se 
pela presença de surtos recorrentes de 
lesões vesico-pustulosas pruriginosas 
com distribuição acral (palmas, plantas, 
dorso das mãos e pés) (fi g. 7). As lesões 
duram 5-10 dias e os surtos recorrem 
a intervalos de 2-4 semanas. As lesões 
podem estar presentes ao nascimento, 
mas normalmente desenvolvem-se nas 
primeiras semanas ou meses de vida. 
O exame histológico das lesões revela 
pústulas intraepidermicas e subcórneas. 
As lesões sofrem remissão espontânea 
em 1 a 2 anos, mas durante as fases 
de actividade é necessário recorrer-se 
a tratamentos com corticóides tópicos e 
antihistaminico oral. 
Figura 7 - Acropustulose da infância - Lesões 
vesicopustulosas pruriginosas nas plantas. 
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A escabiose é o diagnóstico diferen-
cial mais importante a colocar com esta 
entidade, uma vez, que há uma forma de 
acropustulose que pode ocorrer pós es-
cabiose. 
 
Pustulose cefálica transitória
A pustulose cefálica transitória é um 
quadro raro descrito pela primeira vez em 
1991(10) , caracterizado por uma erupção 
pápulo-pustulosa pruriginosa localizada à 
face e couro cabeludo. As lesões podem 
aparecer por surtos. O estudo histológico 
mostra um infi ltrado eosinofílico denso na 
derme e ao redor do folículo piloso. Há 
autores que consideram que se trata de 
uma manifestação de primoinfecção pela 
espécie de Malassezia sympodialis(11). As 
lesões resolvem espontaneamente entre 
os 4 e os 36 meses de vida. 
Miliaria 
O termo miliaria é um termo ge-
nérico para descrever a obstrução do 
ducto écrino. A causa desta obstrução 
é desconhecida mas há quem defenda 
que seja causada pela substância po-
lissacarídea extracelular produzida pelo 
Staphylococcus epidermidis(3). Ocorre 
geralmente em climas quentes, em esta-
dos de pirexia ou de supra-aquecimento. 
A manifestação clínica depende do nível 
de obstrução do ducto. A forma mais fre-
quente no RN (primeiros dias de vida) é 
a cristalina ou sudamina e surge devido 
à obstrução superfi cial (subcórnea ou in-
tracórnea) do ducto écrino. Consequen-
temente, há retenção de suor a este 
nível, levando à formação de pequenas 
vesículas cristalinas que lembram gotas 
de água e que rompem com facilidade 
(fi g. 8). Quando a obstrução do ducto é 
mais profunda, mas ainda epidérmica, 
a miliaria denomina-se de rubra. Neste 
caso as lesões são pápulas eritemato-
sas ou papulo-pústulas não foliculares. 
A miliária profunda é rara no período ne-
onatal e resulta da oclusão do canal ao 
nível da junção dermoepidérmica, con-
dicionando o aparecimento de pápulas 
brancas que impedem o normal fenó-
meno da sudação. Trata-se de uma enti-
dade benigna que desaparece esponta-
neamente após controlo da febre ou da 
temperatura ambiental.
Necrose do tecido celular 
subcutâneo 
A necrose do tecido celular subcu-
tâneo ou citoesteatonecrose é uma hipo-
dermite rara que ocorre em RN nascidos 
de cesariana ou expostos a stress fetal(12). 
A etiologia parece resultar do facto de o 
tecido adiposo do RN conter grande pro-
porção de ácidos gordos saturados. Fac-
tores como frio, hipotermia, traumatismo, 
nutrição inadequada e isquemia induzi-
riam a libertação de agentes mediadores 
de infl amação e necrose que actuariam 
sobre esses ácidos gordos(13).
 Normalmente manifesta-se entre 
as 1ª e 4ª semanas de vida, mas também 
pode ser congénito. As lesões consistem 
em placas ou nódulos assintomáticos, 
cobertos com pele normal ou eritemato-
sa, localizados à face, nádegas e tronco. 
As lesões podem ulcerar ou apresentar 
depósitos de cálcio. O RN normalmente 
não apresenta qualquer sintoma sisté-
mico associado, mas entre o primeiro e 
quarto dia de vida pode ocorrer hipercal-
cemia sintomática, que pode ser fatal. 
Torna-se portanto necessário monitorizar 
os níveis de cálcio e evitar a administra-
ção exógena de vitamina D. O exame 
histológico mostra infl amação granulo-
matosa do panículo adiposo com células 
histiocitárias. 
O curso clínico da patologia é be-
nigno, e as lesões regridem espontane-
amente em algumas semanas. Nesta cir-
cunstância é todavia importante realizar 
o diagnóstico diferencial com a paniculite 
infecciosa, com o escleroderma neonato-
rum ou com causas de calcinose cútis. 
PHYSIOLOGICAL AND TRANSIENT 
CUTANEOUS DISORDERS OF THE 
NEWBORN
ABSTRACT 
Neonatal skin provides physical 
protection, playing a vital role in the new-
born’s transition from an aqueous to an 
air-dominant environment. The majority 
of the newborn cutaneous lesions are 
usually physiological, transient and self 
limited and thus require no therapy or 
diagnostic procedures. As parents often 
seek medical attention for these prob-
lems, clinicians must be aware of both 
normal and abnormal cutaneous lesions 
of the neonate to properly address these 
issues. In this article the authors briefl y 
discuss the transient benign lesions of 
the newborn.
Key-words: newborn, skin, physio-
logic alterations, transient cutaneous di-
seases
Figura 8 - Miliaria cristalina - Pequenas vesículas cristalinas que fazem lembrar gotas de água.
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24 artigo original
Nascer e Crescer 2009; 18(1): 19-24
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