Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FABIANO TIMBÓ BARBOSA Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro MACEIÓ 2013 FABIANO TIMBÓ BARBOSA Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro A presente obra é uma produção independente do autor cuja finalidade é auxiliar pesquisadores iniciantes a darem seu pontapé inicial no mundo da pesquisa. Toda pesquisa deve antes ser precedida por uma revisão sistemática. MACEIÓ 2013 Informações gerais Endereço do autor. Endereço eletrônico: fabianotimbo@yahoo.com.br Endereço postal: Fabiano Timbó Barbosa FACULDADE DE MEDICINA – FAMED/UFAL Campus A. C. Simões - Av. Lourival Melo Mota, S/N Tabuleiro dos Martins - Maceió/AL/Brasil. C.E.P.: 57072-900 Telefone: (82) 3214-1141/3214-1140/3322-1396 http://lattes.cnpq.br/2273678989024980 Conflito de interesse. Disponível em: http://tinyurl.com/timboconflito. Colaborador de capítulo “Explorando a heterogeneidade”. Nassib Bezerra Bueno. Mestre em Nutrição Humana pela UFAL. Data da última modificação. 18 de fevereiro de 2013. 4 http://bit.ly/lrs01 DEDICATÓRIA A minha amada esposa Tatiana Rosa Bezerra Wanderley Barbosa. Aos meus filhos Rafael José e Rosa Maria Wanderley Barbosa. EPÍGRAFE “O conhecimento só é verdadeiramente útil e eficaz quando auxilia a encontrar os resultados desejados.” Sócrates PREFÁCIO As revisões sistemáticas estão há muito nos mostrando um novo olhar ao conhecimento já existente, embora muitas vezes desprezamos o que é “o novo” pela condição natural do seres humanos de repulsar o que é novo. A revisão sistemática é um tipo de pesquisa que reúne dados da literatura, analisa-os criticamente e se for possível mostra qual a melhor estimativa de efeito para determinada intervenção terapêutica, social ou pedagógica. A presente obra trás um modelo para quem deseja iniciar uma revisão sistemática abordando intervenções sejam elas terapêuticas, diagnósticas ou profiláticas. Fabiano Timbó Barbosa fabianotimbo@yahoo.com.br http://tinyurl.com/timboh Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 5 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 ÍNDICE 1. Motivos para executar uma revisão sistemática 6 2. Pergunta da pesquisa 15 3. Localização e seleção dos artigos originais 23 4. Avaliação da qualidade dos artigos originais 37 5. Coleta de dados 64 6. Análise e apresentação dos dados 79 7. Interpretação dos resultados 93 8. Projeto de pesquisa 102 9. Relatório final 110 10. O que fazer quando não há ensaios clínicos aleatórios? 122 11. Explorando a heterogeneidade 128 12. Referências bibliográficas 144 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 6 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Motivos para executar uma revisão sistemática Fabiano Timbó Barbosa “O conhecimento só é verdadeiramente útil e eficaz quando auxilia a encontrar os resultados desejados.” Sócrates, V a.C. INTRODUÇÃO O conhecimento se renova de maneira contínua e pode ser adquirido por meio dos livros, cursos, congressos, CDs, periódicos e pela internet. A principal forma de divulgação dos novos conhecimentos ocorre pela leitura dos artigos originais ou artigos de pesquisa publicados em periódicos e conseguidos por meio da assinatura dos periódicos ou pela internet. A literatura científica apresenta artigos originais referentes a estudos que foram executados de forma correta e respeitando os padrões científicos assim como artigos originais de estudos que apresentaram resultados dúbios e questionáveis. É obrigação dos modernos profissionais da área da saúde saberem separar o joio do trigo, pois, pesquisas de má qualidade tendem a apresentar resultados favoráveis e positivos, porém não reprodutíveis na população de interesse. CLASSIFICAÇÃO DOS ESTUDOS Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 7 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Os principais tipos de estudos encontrados na área de saúde são: os ecológicos e os individuais. Os estudos ecológicos ocorrem após a coleta de dados de uma população. Os estudos individuais ocorrem quando se usa dados de amostras das populações de interesse e podem ser divididos em: os observacionais, os experimentais e a revisão sistemática. Os estudos observacionais descrevem as características de um ou mais grupos de sujeitos de pesquisa que são registradas para análise. Podem ser classificados em: série de casos, estudos transversais, estudos de caso e controle e estudos de coorte. As séries de casos apresentam os dados que foram observados por um pesquisador sem a elaboração de um projeto de pesquisa e sem a existência de hipóteses específicas. São fáceis de redigir, mas estão sujeitos a muitos erros sistemáticos, mormente para a escolha dos participantes e para as características observadas. São estudos que geram hipóteses e servem de inspiração para futuras pesquisas. Os estudos transversais analisam os dados sem vinculação a um lapso de tempo, por isso são chamados estudos de corte transversal. Todos os dados são coletados no momento em que o sujeito da pesquisa é incluído no estudo. São relativamente baratos e rápidos para executar além de poderem gerar informação sobre o estado de uma doença ou condição de interesse. A desvantagem principal deste tipo de estudo é que ele fornece informações apenas sobre o que está ocorrendo naquele momento específico. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 8 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Os estudos de caso e controle são ótimos para analisar doenças raras ou condições que demorem a ocorrer. São selecionados casos com a condição de interesse e controles sem essa condição para uma análise retrospectiva dos dados. A principal dificuldade relatada pelos pesquisadores ocorre na seleção de um grupo controle adequado para a situação clínica. A análise estatística tem de ser muito criteriosa devido à presença de muitos fatores que podem confundir o pesquisador e levar a conclusões inadequadas. Os estudos de coorte ocorrem com a observação de uma coorte que pode ser definida como um grupo de indivíduos que apresentam características semelhantes e que permaneceram juntos por um período de tempo. São excelentes para avaliar fatores causais, fatores de risco e a evolução das doenças. Os estudos experimentais avaliam a realização de uma intervenção que é controlada pelo pesquisador. Esta intervenção pode ser um medicamento, um procedimento ou um tratamento. Podem ser executados em animais, estudos laboratoriais, ou em serem humanos, ensaios clínicos aleatórios. O ensaio clínico aleatório é um tipo de estudo de coorte onde ocorre uma intervenção sendo obrigatória à presença de pelo menos dois grupos para análise. São os estudos mais adequados para analisar uma intervenção diagnóstica, terapêutica ou profilática. São os estudos menos propensos aos erros sistemáticos, mas são relativamente dispendiosos e requerem geralmente um longo período de seguimento para observação dos desfechos. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 9 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A revisão sistemática é um tipo de pesquisa que analisaa combinação dos resultados de estudos já executados e concluídos previamente ao início da revisão sistemática. Este tipo de pesquisa procura analisar a qualidade da informação gerada a partir dos estudos já executados e resumir os resultados existentes de forma que se possa perceber o poder de cada evidência científica gerada após a execução das pesquisas. O QUE É UMA REVISÃO SISTEMÁTICA É um tipo de revisão da literatura que serve para responder a uma pergunta de pesquisa que utiliza métodos específicos para identificar, selecionar, avaliar e criticar os artigos originais de estudos já concluídos e para coletar e analisar os dados gerando resultados a cerca de um conhecimento específico. Toda revisão sistemática difere das revisões narrativas porque aquelas seguem a um projeto de pesquisa que é elaborado previamente a sua execução e estas são realizadas sem critérios específicos. Os cálculos matemáticos utilizados para estimar um resultado, ou seja, um ponto central contendo a magnitude do efeito de uma intervenção que está sendo avaliada e seu intervalo de confiança, testes estatísticos de heterogeneidade e estimativas de viés de publicação, são conhecidos como metanálise. O termo metanálise também tem sido utilizado no lugar do termo revisão sistemática para se referir as revisões que apresentam cálculos de metanálise. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 10 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 COMO FAZER UMA REVISÃO SISTEMÁTICA O ponto de partida para iniciar uma nova revisão sistemática é checar a existência de outras revisões sistemáticas que já analisaram aquele foco de pesquisa ou que estejam em andamento. O segundo passo é definir se uma nova revisão sistemática irá contribuir com uma nova visão sobre alguma área do conhecimento científico ou se a atualização de algum tópico poderá incrementar algo novo ao conhecimento vigente até então. A busca por revisões sistemáticas deve ser iniciada pesquisando-se em: Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE), que contém resumos de revisões já concluídas, na The Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), que contém revisões completas e protocolos para novas revisões e no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), que contém o registro e protocolos de revisões sistemáticas em andamento. Estes locais avaliam o efeito da intervenção na saúde humana, porém existem outros locais que executam revisões na área da educação, na saúde pública e na área social. A existência de uma revisão sistemática avaliando um foco de interesse deve conduzir o pesquisador a realizar uma análise da qualidade metodológica desta revisão sistemática. Em geral uma boa revisão sistemática deve conter: uma pergunta de pesquisa bem definida; métodos claros e objetivos para identificar, selecionar e analisar os artigos originais incluídos a ponto de poder se repetir a revisão sistemática; relatar o processo de análise da qualidade dos Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 11 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 artigos incluídos; a descrição de como foi o processo de extração e combinação dos dados; e relato das medidas para evitar os vieses. A desatualização de uma revisão sistemática, mesmo que de boa qualidade metodológica, também autoriza a execução de uma nova busca por artigos científicos. Quando se perceber a necessidade de nova revisão sistemática inicia-se o processo da criação de protocolo para nova revisão sistemática. A revisão sistemática segue então a um projeto de pesquisa elaborado a priori que é seguido passo a passo. As etapas deste tipo de pesquisa estão demonstradas na Figura 1. Pergunta da pesquisa Projeto de pesquisa Identificação dos artigos originais Seleção dos artigos originais Classificação dos artigos: dois pesquisadores Avaliação da qualidade: dois pesquisadores Tabulação e interpretação dos dados Conclusão e relatório final Figura 1. Etapas de uma revisão sistemática Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 12 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 QUANDO FAZER UMA REVISÃO SISTEMÁTICA A inexistência de uma revisão sistemática ou a existência de uma revisão de qualidade metodológica duvidosa ou mesmo desatualizada autoriza a realização de uma nova revisão sistemática. As novas revisões sistemáticas podem ser executadas também quando as evidências disponíveis se baseiam em estudos com amostras pequenas, quando os resultados encontrados em diferentes estudos abordando o mesmo foco de pesquisa são conflitantes e quando se deseja mapear o conhecimento existente sobre algum foco de interesse. As revisões sistemáticas são indicadas para analisar: as intervenções, os testes diagnósticos, os marcadores biológicos e prognósticos, os efeitos adversos e os custos. Quando não é possível realizar um ensaio clínico aleatório a sua realização também é exeqüível utilizando os resultados dos estudos observacionais. A existência de uma revisão sistemática de boa qualidade alerta o pesquisador para a realização de um novo ensaio clínico aleatório caso não exista uma resposta definitiva a pergunta da pesquisa (Figura 2). O ensaio clínico randomizado é uma peça fundamental para a execução e conclusão da revisão sistemática, pois, a sua existência é considerada pelos revisores como existência da evidência para a intervenção (Figura 2). Quando não existirem ensaios clínicos na área de interesse o mais coerente é realiza-lo com projeto de pesquisa adequado (Figura 2). Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 13 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Figura 2. Importância de um ensaio clínico randomizado para uma revisão sistemática As informações deste livro referem-se a revisões sistemáticas que analisam as intervenções terapêuticas e profiláticas na área da saúde. Outras formas de analisar informações relacionadas a testes diagnósticos, no campo social e na área da pedagogia fogem ao escopo deste livro. DEPOIS DA REVISÃO SISTEMÁTICA A pesquisa clínica possui um contexto aonde ela é realizada com o objetivo auxiliar no processo de tomada de decisão clínica, porém a realização de uma revisão sistemática pode não ser suficiente. É necessário fazer análises econômicas dessas intervenções, que resultarão em diretrizes clínicas, isto é, condutas padronizadas que levam em conta os resultados das revisões sistemáticas e a experiência clínica. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 14 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A decisão clínica deve ser a resultante das evidências geradas pela metanálise, da situação local de atendimento e das particularidades dos pacientes. Figura 3. Contribuição da revisão sistemática na tomada de decisão clínica CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão sistemática avalia a qualidade das pesquisas e quantifica os seus dados, expondo-os de forma crítica e resumida. É um tipo de pesquisa que pode levar a descoberta da melhor estimativa de efeito para uma determinada intervenção e seu início ocorre quando ainda não foram executadas ou quando existem revisões sistemáticas cujos resultados podem ser questionáveis. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 15 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Pergunta da pesquisa Fabiano Timbó BarbosaToda pesquisa começa com uma “pergunta de pesquisa”, pois, sem ela estaremos mascarados para o mundo das invenções e descobertas tirando conclusões que podem já serem consolidadas ou não serem replicadas as situações cotidianas. INTRODUÇÃO As pesquisas científicas se iniciam após a idealização de uma pergunta de pesquisa. Este é o primeiro e mais importante passo porque define a área do conhecimento que se deseja pesquisar e, na maioria das vezes, determina a forma como os dados serão analisados. ORIGEM DA PERGUNTA DE PESQUISA A pergunta da pesquisa pode surgir em qualquer lugar e a qualquer hora pela observação de um fenômeno específico em uma população de interesse. Essa pergunta determinará a retirada de uma amostra de sujeitos de pesquisa para análise e a mensuração do fenômeno observado para que a pergunta possa ser respondida. As medidas utilizadas numa pesquisa para responder a uma pergunta da pesquisa numa amostra selecionada são conhecidas como validade interna. A Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 16 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 avaliação da qualidade metodológica de um artigo original visa analisar a validade interna de um estudo. Quando a pergunta de pesquisa é respondida adequadamente, ou seja, sem erros sistemáticos, os resultados podem ser generalizados para a população que originou a amostra e essa capacidade de generalização é conhecida como validade externa (Figura 1). POPULAÇÃO FENÔMENO OBSERVADO PERGUNTA DA PESQUISA AMOSTRA FENÔMENO ANALISADO RESPOSTA A PERGUNTA Validade interna Validade externa Figura 1. Origem da pergunta de pesquisa, localização didática das validades externa e interna COMPONENTES DA PERGUNTA DA PESQUISA Os componentes básicos de uma pergunta de pesquisa são: a população ou amostra, a variável preditora e a variável de desfecho. Entende- se como população um conjunto de indivíduos que possuem a mesma característica e a amostra é um subconjunto desta população. A variável preditora pode ser entendida como uma característica analisada que poderá levar a algum resultado. A variável de desfecho é a característica que está relacionada ao resultado. O desfecho também pode ser entendido como sendo o resultado final. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 17 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 As revisões sistemáticas servem também para avaliar as intervenções sejam elas para terapia, diagnóstico ou profilaxia. Os componentes das perguntas sobre intervenções são: a população, a intervenção ou a exposição e as variáveis de interesse. a) População. A população que será investigada pode ser considerada em dois passos: primeiro, definir a doença ou condição que será estudada com critérios bem claros; e segundo, definir a população e o cenário em que esta população deve ser analisada. b) Intervenção ou a exposição. A intervenção e a exposição devem ser explicitadas porque a revisão sistemática exige a comparação entre grupos sendo um aquele que receberá a intervenção ou ficará exposto a alguma situação e o outro aquele que servirá de controle para comparações. c) Variáveis de interesse. Variável é uma característica que varia de um indivíduo para outro. Os autores da revisão sistemática têm de definir qual ou quais as variáveis são mais importantes para responder a pergunta de pesquisa. As variáveis mais simples não devem figurar na pergunta da pesquisa porque podem torná-la muito ampla e pouco específica. Utilizar a variável relacionada ao principal resultado é a melhor estratégia na criação de uma pergunta de pesquisa. O sucesso ou falha de uma intervenção terapeutica geralmente serão analisados a luz das diferenças de mortalidade e morbidade. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 18 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 As principais pesquisas clínicas que contribuíram positivamente para a ciência consideraram algumas variáveis como sendo primárias para responder a pergunta das suas pesquisas. As principais vaiáveis primárias foram: a mortalidade e a morbidade, a efetividade, a eficácia, a segurança, a qualidade de vida, o grau de satisfação e a eficiência considerando os custos envolvidos no procedimento analisados. Estas são boas variáveis para figurarem numa pergunta de pesquisa. As perguntas de pesquisa podem seguir alguns modelos já conhecidos. Alguns modelos para uma pergunta são: a) INTERVEÇÃO A comparada a INTEVENÇÃO B para CENÁRIO CLÍNICO em POPULAÇÃO. Por exemplo: Amoxicilina comparada a clindamicina para pneumonia aspirativa em idosos; b) INTERVENÇÃO para PROCEDIMENTOS. Por exemplo: Ácido acetilsalicílico para profilaxia de infarto agudo do miocárdio; c) DESFECHO na(o)/após uso/com INTERVEÇÃO comparada AUSÊNCIA DE INTERVENÇÃO para CENÁRIO CLÍNICO: TIPO DE ESTUDO. Por exemplo: Incidência de insuficiência respiratória aguda após uso de curares comparada ao uso de placebo para anestesia geral: estudo de coorte; d) DESFECHO na(o)/após uso/com INTERVEÇÃO para POPULAÇÃO. Por exemplo: Cárie dentária após uso de flúor para crianças abaixo de um ano de idade; e) DESFECHO na(o)/após uso/com INTERVEÇÃO comparada AUSÊNCIA DE INTERVENÇÃO para CENÁRIO CLÍNICO em POPULAÇÃO: TIPO Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 19 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 DE ESTUDO. Por exemplo: Grau de satisfação após trabalho de cuidador comparado a ausência do trabalho do cuidador para sequelados de acidente automobilístico em idosos. Existem outras formas de fazer uma pergunta de pesquisa que também são possíveis cabendo ao pesquisador usar o bem senso na escolha dos termos mais adequados que utilizará em sua busca por respostas. CARACTERÍSTICAS DE UMA BOA PERGUNTA A boa pergunta de pesquisa deve ser: factível, interessante, inovadora, ética e importante. Não há relação entre a qualidade da pergunta e o tamanho da mesma. A pergunta torna-se factível no momento em que apresenta objetividade, permite que um número adequado de participantes seja analisado e, se possível, minimize os custos. Ela será interessante se despertar o interesse de todos os envolvidos com o assunto de interesse como os pacientes, os pesquisadores, os clínicos, os gestores, etc. A pergunta de pesquisa será inovadora se corroborar com o conhecimento existente adicionando-lhe uma nova visão do mesmo problema ou se a pergunta envolver um conhecimento novo, desconhecido ou original. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 20 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A ética da pergunta deve ser analisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (C.E.P.) por meio da observação do projeto de pesquisa. O C.E.P. deve analisar toda e qualquer pesquisa previamente a sua execução para analisar a conformidade com os parâmetros éticos envolvendo a pesquisa com humanos. A pergunta será importante se a sua resposta puder auxiliar diretrizes, levar a um novo pensamento em relação às intervenções, se puder estimular futuras pesquisas ou se auxiliar na criação de diretrizes locais ou internacionais. RESPOSTA A PERGUNTA DA PESQUISA A pergunta de pesquisa deve ser preferencialmente respondida de forma numérica. A resposta provisória a uma pergunta de pesquisa chama-se hipótese. Por exemplo: A hipótese da pesquisa é que 10% dos idosos que vomitam e broncoaspiram apresentampneumonia e 1% morrem após um ano de observação. A resposta pode não ser real, mas o ideal é fazer uma busca na literatura pela resposta correta. NECESSIDADE DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA A resposta a uma pergunta de pesquisa para revisão sistemática vem através dos resultados presentes em artigos originais, por isso, deve-se Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 21 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 analisar se a pergunta de pesquisa já foi respondida por meio de estudos prévios ou mesmo outras revisões sistemáticas. Se a resposta já existir e já for definitiva não haverá necessidade de se realizar uma nova revisão sistemática. Se a resposta não existir ou não for definitiva permanece a dúvida a cerca da viabilidade da realização de uma revisão sistemática (Figura 2). A pergunta da pesquisa foi respondida com ensaios clínicos randomizados? Sim Não Há evidências. Não há evidências. Suficiente? Insuficiente? O que fazer? Figura 2. Fluxograma representando a necessidade de uma revisão sistemática As respostas relacionadas às perguntas de pesquisa envolvendo intervenções somente existem se já houver algum ensaio clínico aleatório executado. Se não houver ensaios clínicos randomizados realizados em relação ao tópico de interesse a melhor conduta não é realizar uma revisão sistemática, mas planejar um novo ensaio clínico randomizado (Figura 2). Se os ensaios clínicos randomizados já existirem e apresentarem sempre o mesmo resultado e se foram executados sem erros sistemáticos, então a necessidade da realização de uma revisão sistemática passa a ser Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 22 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 questionável (Figura 2). Uma revisão sistemática só irá confirmar o que já se sabe. As perguntas de pesquisa já podem ter sido respondidas por meio dos ensaios clínicos e nesta condição diz-se que existe evidência para a resposta, mas a presença dos ensaios clínicos não exclui a necessidade de uma revisão sistemática, pois, eles podem ser insuficientes para a prática clínica (figura 2). Se os ensaios clínicos randomizados já existirem e apontarem para direções opostas, ou seja, apresentarem resultados discordantes entre si então a pergunta de pesquisa poderá ser respondida por meio de uma revisão sistemática (Figura 2). CONSIDERAÇÕES FINAIS A pergunta da pesquisa é o ponto de partida para toda pesquisa. Ela é o início de uma seqüência de eventos que culminam com o surgimento de respostas que impulsionam a ciência a evoluir cada vez mais e a cada dia. As revisões sistemáticas auxiliam a responder perguntas que possuem resultados duvidosos, quando não existe resposta definitiva e quando os resultados são conflitantes. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 23 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Localização e seleção dos artigos originais Fabiano Timbó Barbosa O pesquisador que executa uma revisão sistemática depende da existência de artigos originais, por isso, todos os esforços são válidos para achar estudos já publicados ou resultados de estudos que ainda não foram publicados. INTRODUÇÃO As revisões sistemáticas baseiam-se na busca de artigos originais de estudos já concluídos, mormente os ensaios clínicos aleatórios porque eles conduzem a estimativas do efeito do tratamento mais fidedignas. A busca pelos artigos pode ser por meio das bases de dados eletrônicas, lista de referências, busca manual, eventos científicos, consulta com especialistas e em outras revisões sistemáticas. A seleção dos estudos é geralmente conduzida em dois estágios: primeiro, analisar títulos, resumos e palavras-chave comparando-os com os critérios de inclusão para identificar estudos com potencial para responder a pergunta da pesquisa, e segundo, analisar os artigos científicos conseguidos na íntegra para confirmar se os estudos possuem realmente potencial para serem incluídos na revisão. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 24 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 BASES DE DADOS ELETRÔNICAS A maioria dos revisores prefere iniciar suas buscas em bases de dados eletrônicas, pois, são analisadas mais rapidamente e consomem menos tempo na identificação de artigos originais relevantes. Algumas bases de dados, como o MEDLINE e EMBASE, possuem resumos de artigos publicados no mundo inteiro, por isso são as mais utilizadas. MEDLINE (MEDLARS on line, the Medical Literature Analysis and Retrieval System) foi produzida pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América e contém referências e resumos de mais de 4.600 títulos de revistas biomédicas, publicadas nos Estados Unidos e em outros 70 países. Em fevereiro de 2002 já continha mais de 17 milhões de registros da literatura catalogadas desde 1966. O PUBMED é uma forma livre e online de acesso a essa base de dados http://www.pubmed.gov. A base de dados mais utilizada é o MEDLINE, porém 30% dos artigos de interesse podem não ser identificados se o revisor utilizar somente esta base. EMBASE (Excerpta Medica database) é frequentemente considerado o equivalente europeu da MEDLINE. Tem indexado mais de 4000 jornais de mais de 70 países e em maio de 2002 continha aproximadamente 9 milhões de citações. A biblioteca da Universidade de São Paulo permite acesso a esta base de dados gratuitamente. O acesso também pode ser conseguido via CAPES http://aplicacao.periodicos.saude.gov.br/. Scopus é a maior base de dados de resumos e citações da literatura de pesquisa com mais de 20.500 títulos de mais de 5.000 editoras internacionais. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 25 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A base de dados abrange as seguintes áreas: de medicina, das ciências sociais, das artes e das ciências humanas. Os resumos datam de 1823 e as atualizações são diárias. Acesse o link http://www.scopus.com/home.url. Os estudos com resultados que são estatisticamente significantes são mais facilmente publicados em revistas de países que utilizam o idioma inglês, enquanto que estudos com resultados negativos podem ser publicados em outros idiomas com menores restrições, por isso revisões sistemáticas que fazem restrição a língua e utilizam somente o idioma inglês para os artigos incluídos podem ter seus resultados enviesados. É importante pesquisar outras bases de dados que possuam periódicos em outros idiomas como a LILACS. LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde): Compreende a literatura relativa às Ciências da Saúde, publicada nos países da América Latina e do Caribe, a partir de 1982. Contém artigos de aproximadamente 670 revistas, entre as mais conceituadas na área da saúde, atingindo mais de 150.000 registros. ISI (Institute for Scientific Information) Web of Science: É considerado a primeira indústria da informação interdisciplinar, foi criado em 1958, na Filadélfia, EUA. Mantém, em suas bases de dados, o registro do conteúdo de mais de 8000 títulos dos mais renomados títulos de periódicos de todo o mundo, além de livros recém-publicados, anais de congressos e revisões. CINAHL (Cumulative Index of Nursing and Allied Health): É uma base de dados que enfoca predominantemente uma área específica da saúde, enfermagem, porém não se restringe somente a publicações nesta área. Introdução a Revisão Sistemática:A Pesquisa do Futuro 26 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 The Cochrane Library é uma coleção de fontes de informação de boa qualidade relacionadas à saúde. Inclui as revisões sistemáticas da Colaboração Cochrane, protocolos de revisões sistemáticas em andamento nesta colaboração, lista de ensaios clínicos aleatórios, pesquisas de avaliação econômica em saúde e revisões sistemáticas resumidas criticamente. BUSCA MANUAL E ESTUDOS NÃO PUBLICADOS Os estudos não publicados devem ser identificados e se possível incluídos na análise, pois, os estudos com resultados positivos são publicados com maior facilidade e aqueles com resultados negativos podem até nunca serem publicados. O viés de seleção ocorre quando somente os estudos com resultados positivos são incluídos, mesmo existindo estudos com resultados contrários, porém não identificados. As estratégias para localizar estudos não publicados são: analisar listas de referências, busca manual nos periódicos, localizar ensaios clínicos em andamento nos registros de ensaios clínicos como, por exemplo no www.clinicaltrial.gov, contato com experts e fabricantes de produtos farmaceuticos, pesquisar em websites na internet e observar as referências bibliográficas das citações dos artigos incluídos na revisão sistemática. A busca manual é executada procurando-se pelos ensaios clínicos aleatórios em periódicos e página por página. Algumas bases de dados podem Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 27 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 utilizar termos diferentes para identificação dos ensaios clínicos como: vendamento, casualização, encobrimento, etc. Alguns artigos que apresentam resultados negativos nunca são publicados, assim os artigos publicados podem não representar uma amostra satisfatória a cerca do real efeito do tratamento. Este erro é conhecido como viés de publicação. ESTRATÉGIA PARA O PUBMED A principal vantagem das bases de dados eletrônica é que elas podem ser pesquisadas eletronicamente. As palavras no título, no resumo e os termos indexados podem ser utilizados para a elaboração de uma estratégia de busca. A pergunta da pesquisa deve ser analisada com a finalidade de identificar os seus núcleos principais conhecidos como conceitos. Uma vez desenvolvida uma série de conceitos que refletem a pergunta da pesquisa eles podem ser combinados por meio dos Operadores Booleanos (AND, OR, NOT) para criar uma série de resultados que podem conter artigos relacionados ao interesse do pesquisador. Os operadores Booleanos são usados para: AND, diminuir ou focar a busca; OR, acumular termos e expandir a busca; e, NOT para excluir termos da buscados artigos científicos. Os passos para realizar uma estratégia de busca são: definir os conceitos, achar os termos correspondentes na base de dados que se deseja pesquisar, rodar os termos isoladamente, unir os termos com os Operadores Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 28 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Booleanos e refinar a estratégia. Por exemplo, caso quiséssemos pesquisar no PUBMED "anestesias para a cirurgia de mama em mulher não grávida com pequena incisão" os passos seriam os seguintes: Passo 1 (criar uma lista de conceitos analisando a pergunta de interesse): 1 Anestesia epidural; 2 Anestesia espinal; 3 Anestesia geral; 4 Mulher ; 5 Cirurgia de mama com pequena incisão; 6 Fora da gravidez. Passo 2 (achar os termos correspondentes aos conceitos): Os conceitos devem ser escritos em inglês, pois a base de dados está neste idioma. Os descritores em saúde escritos em inglês podem ser pesquisados em http://decs.bvs.br. Os descritores podem não ser utilizados no PUBMED exatamente da forma como se escreve no site dos descritores em saúde, por isso deve ser checar a existência do termo dentro da base de dados PUBMED e para isso deve-se acessar o endereço http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh. Os termos da plataforma MeSH para o exemplo acima são: "anesthesia, epidural"[MeSH Terms] - (para “Anestesia epidural”); "anesthesia, spinal"[MeSH Terms] - (para “Anestesia espinal”); Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 29 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 "anesthesia, general"[MeSH Terms] - (para “Anestesia geral”); "women"[MeSH Terms] OR woman[Text Word] - (para “Mulher”); "mastectomy, segmental"[MeSH Terms] - (para “Cirurgia de mama com pequena incisão”); "pregnancy"[MeSH Terms] OR pregnancy[Text Word] - (para “Gravidez”). Passo 3 (utilizar os termos isoladamente): O termo deve ser checado individualmente já na base de dados (http://www.pubmed.gov), pois, pode haver uma relação muito pequena de artigos com aquele termo e isso restringir a estratégia de busca. Passo 4 (unir os termos com os descritores Booleanos): A união dos termos deve ser realizada com os descritores para orientar a base eletrônica do que se deseja pesquisar (http://www.pubmed.gov). Quando se utiliza a estratégia "anesthesia, epidural"[MeSH Terms] AND NOT "anesthesia, spinal"[Mesh Terms] significa que se deseja pesquisar anestesia peridural, mas excluir a anestesia raquianestesia da lista de artigos de interesse. Passo 5 (refinar a estratégia): A base de dados organizará automaticamente cada termo se você utilizá-los isoladamente. Cada vez que se usa um termo ou vários termos unidos com os Descritores Booleanos cria-se uma linha de estratégia que é representada por um número acompanhado do sinal gráfico #. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 30 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 #1 - "anesthesia, epidural"[MeSH Terms]; #2 - "anesthesia, spinal"[MeSH Terms]; #3 - "anesthesia, general"[MeSH Terms]; #4 - "women"[MeSH Terms] OR woman[Text Word]; #5 - "mastectomy, segmental"[MeSH Terms]; #6 - "pregnancy"[MeSH Terms] OR pregnancy[Text Word]; As linhas #1, #2, #3, #4, #5 e #6 aparecem devido à utilização dos termos na base de dados PUBMED, porém cada base eletrônica pode utilizar sinais gráficos diferentes para organizar as linhas das estratégias. Assim deve- se complementar: #7 - #1 OR #2 OR #3 OR #4 OR #5; A estratégia exige a combinação dos termos. A linha #7 mostra a combinação dos termos de forma que ela representa a união das técnicas de anestesia epidural, espinal e geral administradas em mulher que se submeterá a cirurgia na mama. Percebe-se que a linha #6 não foi usada diretamente na estratégia de unir os termos. Veja a seguir: #8 - #7 AND NOT #6. A linha #8 refere-se ao cenário descrito na linha #7, porém excluindo o tópico "gravidez" da busca dos artigos de interesse que estava na linha #6 e que não era do interesse do pesquisador incluir na estratégia. Quando os resultados forem muito extensos a estratégia deve ser refinada para melhor atender as necessidades da pesquisa. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 31 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A criação de uma estratégia de busca desta forma retorna muitos títulos para análise, porém somente alguns poderão responder efetivamente a dúvida do profissional ou a pergunta de pesquisa que motivou a criação da estratégia de busca, por isso acredita-se que a estratégia pode ser muita sensível, mas pouco específica. Os artigos científicos identificados pela estratégia de busca e que possuempotencial para responder a pergunta da pesquisa são confrontados com os critérios de inclusão para serem incluídos na revisão sistemática. É necessário rodar a estratégia mais de uma vez se a revisão sistemática for iniciada seis meses após o término da confecção do protocolo. A descrição da estratégia que foi utilizada deve conter: o nome da base de dados, o sistema utilizado (Ovid, Silver Plater, PUBMED, etc.), a data da realização da última busca pelos artigos de interesse, os anos em que a estratégia identificou os artigos e a descrição da estratégia, preferencialmente a descrição completa e não somente os termos utilizados. A criação da estratégia de busca pode ser realizada sem que se avalie cada termo correspondente ao núcleo da pergunta isoladamente, e pode ser criada diretamente sem a organização de linhas. Para o exemplo acima seria: (("anesthesia, epidural"[MeSH Terms] OR "anesthesia, spinal"[MeSH Terms] OR "anesthesia, general"[MeSH Terms] OR "women"[MeSH Terms] OR woman[Text Word] OR "mastectomy, segmental"[MeSH Terms]) AND NOT ("pregnancy"[MeSH Terms] OR pregnancy[Text Word])). Outro exemplo para cirurgia coloretal pode ser visto no estudo de caso no Apêndice 1. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 32 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 SELEÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS A seleção deve ser realizada pelo menos por dois revisores e de forma independente, pois, quando realizado por apenas um revisor até 8% dos estudos elegíveis podem não ser selecionados. As discordâncias entre os revisões devem ser resolvidas por meio de reuniões de consenso. A seleção inicial dos artigos de interesse é realizada pela observação dos títulos e resumos. Esta estratégia economiza tempo e impede que artigos originais que não sirvam para responder a pergunta de pesquisa sejam conseguidos na íntegra. Os artigos selecionados inicialmente são conseguidos na íntegra para uma avaliação pormenorizada. Essa avaliação pormenorizada se inicia com a observação do tipo de estudo, do tipo de participantes, do tipo de intervenção e a presença das variáveis de interesse. Os dados serão extraídos se o estudo identificado pela estratégia de busca desenvolvida estiver de acordo com os critérios de inclusão e possuir as variáveis de interesse. Todos os artigos conseguidos na íntegra e que não foram selecionados devem ser relatados assim como os motivos que levaram a exclusão dos mesmos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A identificação de artigos originais de estudos já finalizados é primordial para a execução de uma revisão sistemática. A elaboração de uma estratégia de busca para bases de dados eletrônicas é necessária para tornar possível o Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 33 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 processo de identificação de estudos já publicados na forma de artigos originais. Somente após a identificação dos artigos originais é que se inicia o processo de seleção. A seleção é inicialmente realizada pela observação dos títulos e dos resumos. O processo de identificação e seleção de artigos originais deve ser executado por dois avaliadores de forma independente com discussão das suas discordâncias. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 34 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 APÊNDICE Apêndice 1 – Estudo de caso para criação de estratégia de busca para PEBMED Pergunta da pesquisa: Qual a mortalidade dos idosos que apresentam infarto miocárdico após cirurgia coloretal? A criação da estratégia de busca exige os seguintes passos: Identificação dos núcleos de conceitos: idoso, infarto miocárdico e cirurgia colorretal. Identificação dos descritores em saúde para estes núcleos: aged, myocardial infartion e colorectal surgery. Identificação dos termos referentes aos descritores na plataforma Mesh: "aged"[MeSH Terms] OR aged[Text Word], "myocardial infarction"[MeSH Terms] OR Myocardial Infarction[Text Word] e "colorectal surgery"[MeSH Terms] OR Colorectal Surgery.[Text Word]. A combinação dos termos formando uma estratégia de busca: (("aged"[MeSH Terms] OR aged[Text Word]) AND ("myocardial infarction"[MeSH Terms] OR Myocardial Infarction[Text Word]) AND ("colorectal surgery"[MeSH Terms] OR Colorectal Surgery.[Text Word])). Resultado desta estratégia em dezembro de 2012 (Figura 1): Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 35 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 1. Causey MW, Maykel JA, Hatch Q, Miller S, Steele SR. Identifying risk factors for renal failure and myocardial infarction following colorectal surgery. J Surg Res. 2011 Sep;170(1):32-7. Epub 2011 Apr 12. 2. Dalton SJ, Ghosh A, Greenslade GL, Dixon AR. Laparoscopic colorectal surgery - why would you not want to have it and, more importantly, not be trained in it? A consecutive series of 500 elective resections with anastomoses. Colorectal Dis. 2011 Feb;13(2):144-9. doi: 10.1111/j.1463-1318.2009.02101.x. 3. Salihoglu Z, Baca B, Koksal S, Hakki Hamzaoglu I, Karahasanoglu T, Avci S, Ozben V. Analysis of laparoscopic colorectal surgery in high-risk patients. Surg Laparosc Endosc Percutan Tech. 2009 Oct;19(5):397-400. 4. Singh R, Omiccioli A, Hegge SG, McKinley CA. Can community surgeons perform laparoscopic colorectal surgery with outcomes equivalent to tertiary care centers? Surg Endosc. 2009 Feb;23(2):283-8. Epub 2008 Apr 24. 5. Ram E, Sherman Y, Weil R, Vishne T, Kravarusic D, Dreznik Z. Is mechanical bowel preparation mandatory for elective colon surgery? A prospective randomized study. Arch Surg. 2005 Mar;140(3):285-8. 6. Isbister WH, Prasad J. Emergency large bowel surgery: a 15-year audit. Int J Colorectal Dis. 1997;12(5):285-90. 7. Luukkonen P, Mikkonen U, Järvinen H. Abdominal rectopexy with sigmoidectomy vs. rectopexy alone for rectal prolapse: a prospective, randomized study. Int J Colorectal Dis. 1992 Dec;7(4):219-22. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 36 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 8. Rosati R, Rebuffat C, Fumagalli U, Montorsi M, Olivari N, Salvaneschi S, Roviaro G, Pezzuoli G. [Clinical use of a new compression surgical stapler in surgery of the large intestine]. G Chir. 1992 Apr;13(4):213-5. Italian. 9. Wise WE Jr, Padmanabhan A, Meesig DM, Arnold MW, Aguilar PS, Stewart WR. Abdominal colon and rectal operations in the elderly. Dis Colon Rectum. 1991 Nov;34(11):959-63. 10. Rebuffat C, Rosati R, Montorsi M, Fumagalli U, Maciocco M, Poccobelli M, Roviaro G, Varoli F, Pezzuoli G. Clinical application of a new compression anastomotic device for colorectal surgery. Am J Surg. 1990 Mar;159(3):330-5. Figura 1. Visão da busca on line Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 37 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Avaliação da qualidade dos artigos originais Fabiano Timbó Barbosa “A qualidade metodológica de uma pesquisa é a possibilidade que ela possui de apresentar seus resultados sem tendenciosidades.” Verhagen et al., 1998 INTRODUÇÃO O delineamento dos ensaios clínicos aleatórios pode interferir na interpretação dos resultados de uma revisão sistemática. Os estudos de má qualidade metodológica tendem a gerar resultados positivos com mais frequencia e também são os mais publicados pelos resultados que apresentam. A validade de um estudo pode ser entendidacomo o surgimento de um resultado sem tendenciosidades em virtude do seu delineamento e condução adequados. A interpretação e a qualidade de uma revisão sistemática está diretamente relacionada com a validade dos estudos incluídos. Uma revisão sistemática deve ser baseada na evidência de melhor qualidade que esteja disponível. A análise da qualidade metodológica de um estudo pode ser usada para auxiliar a interpretar e explicar diferenças nos resultados entre os estudos. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 38 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A revisão sistemática deve ser efetuada com os estudos de má qualidade metodológica, porém em segundo momento fazendo-se análise de sensibilidade estes estudos são retirados para saber qual a sua influência nos resultados. Se os resultados se mantiverem após a retirada dos estudos que não são bons significa que os resultados não estão distorcidos ou influenciados negativamente pelos estudos de má qualidade metodológica. COMO LER ARTIGOS CIENTÍFICOS A execução de uma revisão sistemática depende da leitura pormenorizada de artigos científicos e da identificação das características de interesse para a execução da pesquisa. Os profissionais que não tem prática em fazer críticas a artigos científicos geralmente procedem à leitura desta forma: observam o título, valorizam o resumo, analisam a introdução, não fazem leitura do método porque julgam não saber estatística, resultados são lidos ocasionalmente e finalmente acham que lendo a discussão irão aprender tudo que o artigo pode oferecer na visão do autor e passam a acreditar piamente na conclusão. Depois de todo este processo alguns mudam de imediato a sua rotina na prática clínica. A leitura adequada dos artigos científicos exige alguns passos que podem ser vistos na Figura 1. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 39 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Figura 1. Fluxograma para análise de um artigo científico. Legenda: CEP, Comissão de Ética em Pesquisa; CI, critérios de inclusão; e CE, critérios de exclusão. A primeira etapa da boa leitura dos artigos científicos é ler o título para identificar qual a área do conhecimento relatada no artigo científico. Em revisão sistemática a observação dos títulos e resumos aumenta a praticidade, pois, evita que um artigo que não se enquadre nos critérios de inclusão seja conseguido na íntegra. Não se deve dar ênfase aos autores de um artigo para evitar que o preconceito em relação ao autor e suas credenciais, ao local de realização do estudo e ao contato com indústrias farmacêuticas prejudique a sua análise (Figura 1). O resumo deve ser analisado em seguida. Deve-se dar ênfase na leitura da conclusão. Muitas vezes a conclusão é evasiva e não leva a nenhum acréscimo do conhecimento. Deve-se questionar sempre se há sentido biológico na conclusão, se ela é dissonante do restante da literatura e se ela Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 40 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 apresenta algum sentido clínico. Muitos especialistas param a análise de um artigo já na leitura do resumo por identificarem motivos que justificam o abandono da leitura (Figura 1). Os clínicos norte-americanos baseiam suas decisões apenas na leitura do resumo deixando de lado a leitura dos demais itens de um artigo. Esta atitude deve ser desencorajada, pois, a maioria das revistas não apresenta informações suficientes na forma de um resumo estruturado. Se o leitor desejar prosseguir com a leitura deve passar para a observação do método que é onde se encontram os itens que dão validade a análise do artigo científico (Figura 1). É nesta secção que constam características que demonstram a forma de execução e os cuidados para o surgimento dos erros sistemáticos. Estudos mal delineados tendem a apresentar resultados positivos e assim serem mais facilmente publicados. A análise estatística não precisa ser rigorosa ao extremo. Se um resultado for negativo, ou seja, estatisticamente não significante, deve-se perceber se o número de pacientes utilizado na análise foi o mesmo que o descrito no cálculo do tamanho da amostra. Se este número for inferior ao cálculo desconsidere este resultado. Se o cálculo do tamanho da amostra estiver ausente desconsidere o cálculo. O leitor deve parar a leitura caso perceba que o artigo de interesse não tenha demonstrado parâmetros para sua credibilidade (Figura 1). Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 41 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A secção dos resultados mostra a magnitude do efeito do tratamento ou da intervenção, mormente pela observação das tabelas e dos gráficos. Muitos autores e críticos de artigos acham que é suficiente ler somente até os resultados e abandonam a leitura do artigo. Se o leitor desejar perceber a visão do autor a cerca do contexto e a aplicabilidade dos seus resultados deve ver a discussão. A introdução somente deve ser lida caso o leitor deseje saber a importância da pergunta da pesquisa. A regra é parar a qualquer momento em que aja discordância entre o leitor e o autor do artigo em relação a necessidade do conhecimento ou se houver a percepção de que não valerá a pena continuar lendo o artigo (Figura 1). QUALIDADE METODOLÓGICA DOS ENSAIOS CLÍNICOS ALEATÓRIOS A qualidade de um ensaio clínico pode ser definida como a probabilidade de um estudo gerar resultados que se aproximem da realidade terapêutica, ou seja, resultados sem tendenciosidades. Os principais componentes que providenciam qualidade a um ensaio clínico aleatório são: o método da randomização e o sigilo da alocação. O método de randomização, também conhecido como método de aleatorização ou de alocação, é considerado adequado quando: a aleatorização é centralizada por um escritório central ou farmácia, ocorre administração sequencial de pacotes pré-codificados ou numerados aos Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 42 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 pacientes selecionados para o estudo, é relatada a utilização de uma tábua de números aleatórios, o sistema de escolha dos participantes for computadorizado e os dados forem gerados por um programa de computador contendo a distribuição codificada. O sigilo da alocação é considerado adequado quando: forem utilizados envelopes seriados opacos e numerados, houver relato de ampolas contendo medicações com a mesma cor e tamanho contendo códigos desconhecidos pala pessoa que vai praticar a intervenção, a intervenção é realizada por uma pessoa que não participa da pesquisa e por isso não conhece e nem divulga o que está administrando naquele momento e também por outras maneiras que pareçam oferecer uma alocação adequada. Somente os artigos originais de ensaios clínicos com sigilo adequado devem participar de uma revisão sistemática. Analisar o tratamento estatístico descrito nos estudos não é tarefa obrigatória numa revisão sistemática, pois, os resultados ou os dados individuais de cada paciente são reunidos em metanálise e não os valores estatísticos. Quando a metanálise não é possível então uma análise qualitativa de um estudo exige a análise do tratamento estatístico, principalmente o poder estatístico do estudo (ver Apêndices e Tabelas). Há quatro métodos para avaliar a qualidade metodológica dos ensaios clínicos aleatórios:os marcadores individuais, as escalas, as listas e a tabela para o risco de viés. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 43 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 MARCADORES INDIVIDUAIS Os marcadores são itens avaliados isoladamente que permitem uma visão individualizada sobre a influência de determinado ponto em produzir tendenciosidades. O cálculo do tamanho da amostra é um item essencial a ser analisado. Um estudo deve ser grande o suficiente para ter uma alta possibilidade de detectar uma diferença entre os grupos em comparação, caso ela exista, e para descartar com segurança o efeito procurado caso ele não exista na população que originou a amostra (Apêndice 1). O tempo de seguimento também deve ser avaliado. O tempo de seguimento deve ser suficiente para avaliar o efeito da intervenção no desfecho de interesse. As perdas e exclusões devem ser avaliadas. A perda ocorre quando o paciente não é achado durante o seguimento de um estudo e seus dados ausentes. A exclusão ocorre quando: se percebe que o paciente não se encaixou no protocolo do estudo, a intervenção estudada trouxe prejuízos e malefícios, o participante tomar a decisão de abandonar. Os motivos para perdas e exclusões assim como a descrição das suas taxas confere qualidade ao relato do artigo original. O desenho ou delineamento de um estudo é outro item da qualidade metodológica. A realização de um ensaio clínico randomizado nem sempre é possível devido às implicações éticas. Em relação ao tipo de estudo a escolha Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 44 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 pode ser decisiva no surgimento das tendenciosidades (Figura 2). Mesmo para a execução de um estudo de coorte é recomendável uma randomização simples para a sua execução. Figura 2. Tipos de estudo e sua possibilidade de tendenciosidades. Menor tendenciosidade nos estudos de coorte O desfecho pode não responder adequadamente a pergunta de pesquisa. Saber qual o desfecho analisado e como foi medido é item fundamental na análise de qualquer ensaio clínico randomizado. Os periódicos internacionais estão exigindo a inscrição dos projetos dos estudos em órgãos internacionais previamente a sua execução. O acesso ao projeto pode facilitar a análise de como foi planejado o acesso aos dados e como ocorreu de fato conforme está na publicação do artigo original. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 45 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 ESCALA DE QUALIDADE As escalas transformam informações em números simples que podem ser quantificados e traduzidos em informações sobre o artigo original. Aproximadamente 25 escalas já foram identificadas. Uma escala muito referenciada pela sua simplicidade é a Escala de Qualidade. Ela foi desenvolvida através da técnica de Consenso de Grupo Nominal. Uma relação com os itens constantes em várias escalas e listas de critérios de avaliação de ensaios clínicos aleatórios, que foi construída por um painel multidisciplinar de seis especialistas, os quais as resumiram em três itens, diretamente relacionadas com a redução de tendenciosidades (Quadro 1). Quadro 1. Itens da Escala de Qualidade Itens da qualidade 1.a O estudo foi descrito como aleatório (uso de palavras como "randômico", "aleatório", "randomizado")? 1.b O método foi adequado? 2.a O estudo foi descrito como duplo-cego? 2.b O método foi adequado? 3. Houve descrição das perdas e exclusões? Pontuação: cada item (1,2 e3) recebe um ponto para a resposta sim ou zero ponto para a resposta não Um ponto adicional é atribuído se, no item 1, o método de geração da seqüência aleatória foi descrito e foi adequado; no item 2, se o método de mascaramento duplo-cego foi descrito e foi adequado. Um ponto é deduzido se, na questão 1, o método de geração da seqüência aleatória foi descrito, mas de maneira inadequada; na questão 2, se foi descrito como duplo-cego, mas de maneira inadequada. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 46 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Todos os itens têm duas opções de resposta: sim ou não. Um máximo de cinco pontos poderia ser obtido: três pontos para cada sim, um ponto adicional para um método adequado de randomização e um ponto adicional para um método adequado de mascaramento. O estudo era considerado de má qualidade metodológica se o artigo original referente a sua descrição receber dois pontos ou menos. LISTA DE DELPHI A lista de Delphi é uma relação dos itens constantes em várias escalas e listas de avaliação da qualidade de ensaios clínicos aleatórios que foi submetida à análise de mais de vinte e cinco especialistas nesta área. Através da técnica do Consenso de Delphi, os duzentos e seis itens da lista inicial foram resumidos a nove, os quais avaliam três dimensões da qualidade: validade interna, validade externa e considerações estatísticas (Quadro 2). Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 47 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Quadro 2. Itens da lista de Delphi (validade interna, validade externa e análise estatística) Itens da lista de Delphi 1.a A alocação dos pacientes foi aleatória? 1.b Se os indivíduos foram alocados aleatoriamente para os grupos de tratamento, foi mantido o sigilo de alocação? 2. Os grupos eram comparáveis em relação às características mais importantes do prognóstico? 3. Os critérios de inclusão e exclusão foram especificados? 4. Foi utilizado um avaliador independente para avaliar os resultados? 5. O responsável pelo cuidado do paciente foi mascarado? 6. O paciente foi mascarado? 7. As medidas de variabilidade e a estimativa dos pontos foram apresentadas para a variável primária? 8. O estudo incluiu uma análise por intenção de tratar (todos os pacientes alocados)? 9. Descrição das taxas e razões para as exclusões? Todos os itens têm três opções de resposta: sim, não e não mencionado. A análise é qualitativa e dispensa pontuações, porém para simplificar a visão do pesquisador iniciante é recomendável atribuir igual peso é aos itens desta lista resultando em uma pontuação entre 0 e 10. A resposta sim equivale a um ponto. Um estudo é considerado de má qualidade metodológica quando recebeu menos de 5 pontos ou de forma qualitativa quando menos de 50% dos itens da lista não foram adequadamente relatados. TABELA PARA O RISCO DE VIÉS A tabela para o risco de viés (TRV), do inglês, Risk of Bias Table (Rob Table), é um novo instrumento que reúne informações sobre os itens da validade interna e outras fontes de erros sistemáticos (viés). Esta tabela é Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 48 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 gerada no aplicativo RevMan, distribuído gratuitamente pela Colaboração Cochrane, e gera um gráfico e um sumário contendo informações que permite visualizar com mais clareza e facilidade a contribuição de cada artigo original incluído para o risco de viés. As respostas possíveis para cada item são: baixo, indeterminado e alto. A resposta “baixo” sugere que o item está presente na publicação e representa baixo risco para que o viés tenha ocorrido, a resposta “alto” sugere que o item está ausente na publicação e representa elevado riso para que o viés tenha ocorrido ea resposta “indeterminado” sugere que não foi possível ter certeza sobre a informação de cada item e representa um indeterminado o risco de viés (Quadro 3). Quadro 3. Itens da Tabela Para o Risco de Viés (Rob Table) Itens da Tabela presentes no RevMan 1. Método de escolha da sequência de alocação (Sequence generation) 2. Sigilo da alocação (Allocation Concealment) 3. Mascaramento, vendamento ou ocultamento (Blinding) 4. Dados incompletos dos resultados das variáveis (Incomplete outcome data) 5. Relato incompleto das variáveis (Selective reporting) 6. Outras fontes potenciais de viés (Other potential sources of bias) Os critérios para considerar a resposta de cada item como sendo “baixo” são: a) Método de escolha da sequência de alocação: referência a tabela de números aleatórios, geração de sequencia por meio de computador, arremesso de moeda, arremesso de dados, sorteio e embaralhar cartas ou envelopes; Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 49 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 b) Sigilo da alocação: alocação central (farmácia, telefone ou pela web), sequencia numerada de ampolas com aparências idênticas e envelopes seriados, opacos e não transparentes; c) Mascaramento, vendamento ou ocultamento: ausência de mascaramento desde que o revisor acredite que o mascaramento não influenciaria positivamente nos resultados, referência ao mascaramento dos participantes da pesquisa e quando houver mascaramento do participante e do responsável pela coleta de dados; d) Dados incompletos dos resultados das variáveis: quando não há ausência de dados dos resultados das variáveis, descrição dos motivos para ausência dos dados das variáveis e quando os dados ausentes não influenciem nos resultados; e) Relato incompleto das variáveis: quando se tem acesso ao projeto da pesquisa e quando todas as variáveis citadas foram relatadas nos resultados e quando não se tem acesso ao projeto da pesquisa, mas o revisor acredita que todas as variáveis foram citadas nos resultaos; f) Outras fontes potenciais de viés: quando o estudo parecer livre de outras formas de viés. Os critérios para considerar a resposta de cada item como sendo indeterminado e não se encontram nos Anexos 1 e 2 respectivamente. A TRV permite interpretar o risco de viés dentro e entre os estudos conforme Quadro 4. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 50 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Quadro 4. Interpretação dos resultados da tabela para o risco de viés dentro e entre os estudos Possibilidade de viés dentro e entre os estudos Risco de viés Interpretação Dentro de um estudo Entre os estudos Baixo O viés pode ocorrer, mas é improvável que comprometa resultados Baixo risco de viés para todos os itens A maioria das informações é de estudos com baixo risco de viés Indeterminado Presença de viés que torna o resultado duvidoso Risco indeterminado para um ou mais itens A maioria das informações é de estudos com baixo e indeterminado risco de viés Alto Presença de viés que compromete o resultado Alto risco para um ou mais itens A proporção de informações provenientes de estudos com alto risco de viés é suficiente para comprometer a interpretação dos resultados Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 51 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 ANÁLISE ESTATÍSTICA A análise estatística não é obrigatória como critério de avaliação da qualidade metodológica, porém a sua análise, às vezes, se faz necessária uma vez que um estudo pode individualmente apresentar um resultado e a combinação dos resultados dos estudos em metanálise pode não garantir o mesmo resultado de um estudo individual. Isto pode ocorrer porque a metanálise utilizada os resultados e não os dados estatísticos. A análise qualitativa de um estudo exige a avaliação do tratamento estatístico apresentado no artigo. A análise estatística pormenorizada não é obrigatória e pode ser inviável. Uma lista contendo itens relevantes pode auxiliar na análise da estatística relatada no artigo original. Os itens estão elencados abaixo e devem ser procurados nas seções “método” e “resultado”. Quanto maior for o rigor na descrição dos itens desta lista menor será a possibilidade de viés estatístico. A análise é qualitativa e não gera uma pontuação para interpretações. Observar três conjuntos de itens: estatística descritiva, estatística inferencial e anomalias. O itens da lista para análise estatística são: a) Estatística descritiva: descrição do n para cada conjunto de dados, descrição das medidas de tendência central, descrição das medidas de dispersão e Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 52 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 quando uma medida estatística vier descrita X±Y perceber se o Y é o desvio- padrão ou o erro-padrão; b) Estatística inferencial: descrição das variáveis, descrição da forma de medição das variáveis, descrição dos testes estatísticos de hipóteses, justificativa para o uso dos testes em cada análise, ajuste para testes múltiplos, realização de testes estatísticos aferindo a normalidade dos dados, descrição do cálculo do tamanho da amostra ou justificativa da ausência, descrição do nível do alfa, informação sobre a utilização de teste uni ou bicaudal, descrição do valor exato de p e descrição do intervalo de confiança; c) Anomalias: algum método estatístico não usual foi usado e explicado detalhadamente, explicação para a exclusão de dados, explicação para dados ausentes, discrepâncias entre n em diversas análises, justificativa para transformação de dados e descrição do tipo de análise: por protocolo ou por intenção de tratar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os ensaios clínicos aleatórios são os estudos que mais contribuem com o avanço da ciência devido ao seu baixo potencial para a produção de resultados tendenciosos. A boa qualidade metodológica nos estudos permite maior confiança nos seus resultados. A revisão sistemática usa os resultados relatados nos artigos originais reunindo-os em metanálise. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 53 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 APÊNDICES Apêndice 1 – Considerações sobre o cálculo do tamanho da amostra Existem duas possibilidades de interpretação quando a diferença entre os grupos não é evidenciada pelos testes estatísticos e o cálculo do tamanho da amostra não foi executado: ou a diferença não existe de fato ou o estudo não teve poder estatístico suficiente para captá-la. O cálculo do tamanho da amostra possui implicações éticas. Por exemplo: Qual o número de participantes mais adequado numa pesquisa onde o número calculado de pacientes para detectar pneumonia seja de 200 pacientes e para mortalidade seja de 400 pacientes? a) Analisando somente a parte metodológica o mais coerente seria considerar o maior número entre as variáveis, pois, utilizando 400 pacientes os desfechos pneumonia e morte seriam analisados corretamente na pesquisa sem precisar realizar outra pesquisa posteriormente; b) Analisando somente a parte ética o mais coerente seria utilizar somente 200 pacientes, pois, seria necessário induzir pneumonia em outros 200 participantes para detectar quantos mais morreriam na pesquisa. Neste contexto seria possívela realização de duas pesquisas para pneumonia analisando também a mortalidade possibilitando unir os resultados da mortalidade em metanálise. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 54 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A descrição do cálculo do tamanho da amostra requer alguns cuidados. Alguns modelos de descrição adequada podem ser vistos abaixo: O tamanho da amostra para detectar uma diferença de mortalidade de 2% entre os grupos, com um nível de significância de 5% e com um poder estatístico de 80% com o uso do teste do qui quadrado é de 1504 pacientes em cada grupo; O tamanho da amostra para detectar uma correlação estatística de 0,6 entre peso e altura, com intervalo de confiança de 95%, um nível de β de 10% com teste bicaudal é de 21 participantes; São necessários 61 participantes na amostra considerando uma frequencia de eventos (pneumonia) da população de 10%, um nível de significância de 5%, um poder estatístico de 80% e um intervalo de confiança de 95% com amplitude de 15%; São necessários 294 participantes em cada grupo da amostra considerando um nível de significância de 5%, um poder estatístico de 80%, a frequencia do evento no primeiro grupo de 20% e a frequencia do evento no segundo grupo de 10%. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 55 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Apêndice 2 – Tabelas e fórmulas para o cálculo do tamanho da amostra para dois grupos em análise A melhor forma de maximizar o poder estatístico de um teste é ter grupos com o mesmo tamanho. Uma forma simples de calcular o tamanho da amostra para dois grupos para dados quantitativos contínuos é por meio da fórmula de Lehr. A fórmula é de Lehr apresenta um valor aproximado e superestima o valor. A fórmula é: n = 16 / MPE2 MPE = diferença que se deseja encontrar / desvio-padrão onde, n é o tamanho da amostra em cada grupo e MPE é a magnitude padronizada do efeito. Um pesquisador deseja captar uma diferença de 5 batimentos por minutos entre dois grupos após uso de medicamento e placebo. A literatura refere que o desvio-padrão fica próximo de 12 batimentos por minuto. Com estes dados e considerando um nível de significância de 5% e com poder estatístico de 80% o número de participantes em cada grupo é de 100 participantes. MPE = 5 /12 = 0,416 n = 16 / 0,42 = 100 n = 100 pacientes Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 56 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 A MPE também pode ser utilizada para o cálculo do tamanho da amostra observando valores tabelados. O exemplo acima pode ser visualizado na Tabela 1 para confirmar o cálculo por meio da fórmula de Lehr. O tamanho da amostra será maior se o tamanho dos grupos for desigual porque o desenho do estudo possuirá menor poder estatístico. Outra fórmula que utiliza o n já calculado pode ser utilizada para estimar o tamanho de cada grupo. A relação (r) entre os grupos é utilizada para auxiliar nas estimativas. Em uma relação 2:1 o r será 2, se a relação for 3:1 o r será 3 e assim por diante. A fórmula é: n’ = (r + 1 / 2r) x n O n’ é o valor do primeiro grupo e rn’ é o valor do outro grupo. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 57 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Tabela 1 - Tamanho da amostra para um nível de significância de 5% de acordo com os vários valores de poder estatístico do teste Cálculo do tamanho da amostra para cada grupo com uma significância de 5% Poder estatístico (1 - β) MPE 99 95 90 80 50 0,1 3676 2600 2103 1571 770 0,2 920 651 527 394 194 0,3 410 290 235 176 87 0,4 231 164 133 100 49 0,5 148 105 86 64 32 0,6 104 74 60 45 23 0,7 76 54 44 33 17 0,8 59 42 34 26 13 0,9 47 34 27 21 11 1,0 38 27 22 17 9 1,1 32 23 19 14 8 1,2 27 20 16 12 7 1,3 23 17 14 11 6 1,4 20 15 12 9 5 1,5 18 13 11 8 5 Fonte: Campbel et al, 1995. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 58 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 Tabela 2 - Tamanho da amostra por grupo para comparar duas proporções (teste bicaudal). Primeira linha α = 0,10 e β = 0,20 Segunda linha α = 0,05 e β = 0,20 Terceira linha α = 0,05 e β = 0,10 Diferença entre proporções (P1 e P2) Menor Valor de P 0,05 0,1 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,05 381 129 72 47 35 27 22 18 15 13 473 159 88 59 43 33 26 22 18 16 620 207 113 75 54 41 33 27 23 19 0,10 578 175 91 58 41 31 24 20 16 14 724 219 112 72 51 37 29 24 20 17 958 286 146 92 65 48 37 30 25 21 0,15 751 217 108 67 46 34 26 21 17 15 944 270 133 82 57 41 32 26 21 18 1252 354 174 106 73 53 42 33 26 22 0,20 900 251 121 74 50 36 28 22 18 15 1133 313 151 91 62 44 34 27 22 18 1504 412 197 118 80 57 44 34 27 23 0,25 1024 278 132 79 53 38 29 23 18 15 1289 348 165 98 66 47 35 28 22 18 1714 459 216 127 85 60 46 35 28 23 0,30 1123 300 141 83 55 39 29 23 18 15 1415 376 175 103 68 48 36 28 22 18 1883 496 230 134 88 62 47 36 28 23 0,35 1197 315 146 85 56 39 29 23 18 15 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 59 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 1509 395 182 106 69 48 36 28 22 18 2009 522 239 138 90 62 47 35 27 22 0,40 1246 325 149 86 56 39 29 22 17 14 1572 407 186 107 69 48 35 27 21 17 2093 538 244 139 90 62 46 34 26 21 0,45 1271 328 149 85 55 38 28 21 16 13 1603 411 186 106 68 47 34 26 20 16 2135 543 244 138 88 60 44 33 25 19 0,50 1271 325 146 83 53 36 26 20 15 1603 407 182 103 66 44 32 24 18 2135 538 239 134 85 57 42 30 23 0,55 1246 315 141 79 50 34 24 18 1572 395 175 98 62 41 29 22 2093 522 230 127 80 53 37 27 0,60 1197 300 132 74 46 31 22 1509 376 165 91 57 37 26 2009 496 216 118 73 48 33 0,65 1123 278 121 67 41 27 1415 348 151 82 51 33 1883 459 197 106 65 41 0,70 1024 251 108 58 35 1289 313 133 72 43 1714 412 174 92 54 0,75 900 217 91 47 1133 270 112 59 1504 354 146 75 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 60 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 0,80 751 175 72 944 219 88 1252 286 113 0,85 578 129 724 159 958 207 0,90 381 473 620 P, proporção. Fonte: Hulley et al., 2008. Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro 61 _______________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 ANEXOS Anexo 1. Critérios para considerar “alto” em cada item da tabela para o risco de viés Os critérios para considerar “alto” em cada item são: a) Método de escolha da sequência de alocação: referência de escolha por data de aniversário, data de admissão no hospital ou número de prontuários; escolha pelo julgamento clínico, preferência do participante; baseado nos resultados de laboratório; e pela viabilidade da intervenção; b) Sigilo da alocação: lista de números randômicos, envelopes não enumerados e nem opacos, alternância, data de aniversário, número de prontuários ou qualquer outro método que não pareça consistente; c) Mascaramento, vendamento ou ocultamento: ausência de mascaramento, mas o revisor acredite que o mascaramento influenciaria
Compartilhar