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CCJ0041-WL-D-AMMA-10-Procedimento do Tribunal do Júri

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AULA Nº 10 – PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI
PROCESSO PENAL II
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 10
Princípios constitucionais do Tribunal do Júri - Sigilo 
das Votações e Soberania dos Veredictos. 
Competência para julgamento dos crimes dolosos 
contra a vida e crimes conexos. Procedimento Bifásico 
– Juízo de Admissibilidade (Pronúncia, Impronúncia e 
Absolvição Sumária) crimes contra a propriedade 
intelectual.
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Procedimento do Tribunal do Júri
Caso concreto da semana 08
Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista 
extremamente qualificado, guiava seu automóvel tendo 
Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o 
trajeto, o casal começa a discutir asperamente, o que faz com 
que Caio empreenda altíssima velocidade ao automóvel. 
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Muito assustada, Madalena pede insistentemente para Caio 
reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não seria 
possível controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu 
aos pedidos dizendo ser perito em direção e refutando 
qualquer possibilidade de perder o controle do carro. Todavia, 
o automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade 
empreendida, acaba se desgovernando, vindo a atropelar três 
pessoas que estavam na calçada, vitimando-as fatalmente. 
Realizada perícia de local, que constatou o excesso de 
velocidade, e ouvidos Caio e Madalena, que relataram à 
autoridade policial o diálogo travado entre o casal, Caio foi 
denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de 
homicídio na modalidade de dolo eventual, três vezes em 
concurso formal.
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Realizada Audiência de Instrução e Julgamento e colhida a 
prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, 
nos exatos termos da inicial.
Na qualidade de advogado de Caio, chamado aos debater 
orais, responda aos itens a seguir, empregando os 
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal 
pertinente ao caso: 
a) Qual (is) argumento (s) poderia (m) ser deduzidos em favor 
de seu constituinte? 
b) Qual pedido deveria ser realizado? 
c) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser 
interposto e a quem a peça de interposição deveria ser 
dirigida?
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Exercício Suplementar da semana 08
Assinale a alternativa CORRETA à luz da doutrina referente 
ao Tribunal do Júri.
a) São princípios que informa o Tribunal do Júri: a plenitude 
de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e 
a competência exclusiva para julgamento dos crimes dolosos 
contra a vida;
b) A natureza jurídica da pronúncia (em que o magistrado se 
convence da existência material do fato criminoso e de 
indícios suficientes de autoria) é de decisão interlocutória 
mista não terminativa;
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c) O rito das ações de competência do Tribunal do Júri se 
desenvolve em duas fases: judicium causae e judicium
accusacionis. O judicium accusacionis se inicia com a 
intimação das partes para indicação das provas que 
pretendem produzir e tem fim com o trânsito em julgado da 
decisão do Tribunal do Júri;
d) Alcançada a etapa decisória do sumário da culpa, o juiz 
poderá exarar quatro espécies de decisão, a saber: 
pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e condenação.
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1– Introdução
O procedimento do tribunal do júri é aquele aplicável quando 
o réu é acusado da prática de um crime doloso contra a vida, 
segundo o art. 5º, XXXVIII, da CF. O dispositivo que o prevê 
tem natureza de cláusula pétrea, ou seja, o júri não pode ser 
extinto nem a sua competência pode ser reduzida. Nem 
através de emenda constitucional isso seria possível, 
conforme o art. 60, § 4º, do CRFB. 
Hoje em dia, a competência do júri abrange os crimes dolosos 
contra vida (homicídio doloso, induzimento ao suicídio, 
infanticídio e aborto). 
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É necessário destacar que, em razão das causas de conexão 
e continência, previstas nos art. 76 e 77, do CPP, outros 
crimes podem ser atraídos para o júri. É que as causas de 
conexão e continência fazem com que dois crimes ou dois 
réus sejam julgados juntos. O art. 78, I, do CPP prevê o júri 
como foro atrativo. Isso significa que, havendo conexão ou 
continência, a competência do júri prevalecerá.
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O procedimento do Tribunal do Júri é chamado de escalonado 
ou bifásico porque é possível dividi-lo em duas grandes fases: 
juízo da acusação (do oferecimento da denúncia ou queixa 
até a decisão de pronúncia) e juízo da causa (a partir da 
decisão de pronúncia até a sentença).
Registre-se que Lei 11689/08 alterou radicalmente os arts. 
406 a 497 do CPP, que tratam do procedimento aplicado no 
tribunal do júri.
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2– Síntese do procedimento
(a) oferecimento da denúncia ou queixa (art. 41)
(b) recebimento da denúncia ou queixa (art. 395)
(c) citação (art. 351 a 369)
(d) defesa prévia (art. 406)
(e) manifestação do MP (art. 409)
(f) audiência de instrução (art. 411)
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(f.1) oitiva da vítima
(f.2) oitivas das testemunhas de acusação
(f.3) oitivas das testemunhas de defesa
(f.4) interrogatório
(f.5) alegações finais
(f.6) opções do juiz
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(f.6.1) pronúncia (art. 413)
(f.6.2) impronúncia (art. 414)
(f.6.3) absolvição sumária (art. 415)
(f.6.4) desclassificação (art. 419)
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(g) preclusão da pronúncia (art. 421)
(h) manifestação do MP (art. 422)
(i) manifestação da defesa (art. 422)
(j) preparo do julgamento (art. 423)
(k) inclusão em pauta (art. 429)
(l) formação do conselho de sentença (arts. 425, 433, 468 e 
469)
(m) oitiva da vítima (art. 473)
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(n) oitivas das testemunhas de acusação (art. 473)
(o) oitivas das testemunhas de defesa (art. 473)
(p) leitura de peças (art. 473, § 3º)
(q) interrogatório (art. 474)
(r) sustentação da acusação (art. 476)
(s) sustentação da defesa (art. 476, § 3º)
(t) réplica (art. 476, § 4º)
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(u) tréplica (art. 476, § 4º)
(v) sala secreta (art. 485)
(w) sentença (art. 492)
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3– Fases do procedimento
(a) oferecimento da denúncia ou queixa (art. 41)
(b) recebimento da denúncia ou queixa (art. 395)
(c) citação (arts. 351 a 369)
(d) resposta do réu (art. 406)
(e) manifestação do Ministério Público (art. 409)
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O art. 409 do CPP prevê a manifestação do órgão ministerial 
com relação à resposta do réu, no prazo de cinco dias, antes 
do início da instrução criminal.
OBS: Apesar de tal manifestação não ser prevista para o 
procedimento ordinário, a doutrina já está entendendo que o 
MP deve se manifestar sempre após a resposta do réu, em 
observação ao contraditório.
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(f) audiência de instrução (art. 411)
(f.1) oitiva da vítima
(f.2) oitivas das testemunhas de acusação
Podem ser ouvidas até oito testemunhas de acusação 
indicadas na denúncia ou na queixa, sendo certo que tal 
número deve ser multiplicado pelo número de crimes e de 
réus. Também é adotado o sistema do exame cruzado.
(f.3) oitivas das testemunhas de defesa
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(f.4) interrogatório
(f.5) alegações finais
As alegações finais devem ser apresentadas oralmente. A 
acusação e a defesa, nesta ordem, terão respectivamente 
vinte minutos, prorrogáveis por outros dez minutos, conforme 
o art. 411, § 4º, do CPP.
(f.6) opções do juiz
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(f.6) opções do juiz:
(f.6.1) pronúncia (art. 413)
(f.6.2) impronúncia (art. 414)
(f.6.3)absolvição sumária (art. 415)
(f.6.4) desclassificação (art. 419)
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(f.6.1) pronúncia (art. 413)
O art. 413 do CPP exige que o juiz profira a decisão de 
pronúncia quando se convencer da existência do crime e de 
indícios de autoria. A pronúncia se contenta com a prova da 
materialidade e indícios suficientes de autoria, ou seja, não é 
necessária a prova cabal. 
Para a minoria (Frederico Marques), a pronúncia tem 
natureza de “sentença de caráter processual” que envia a 
causa aos jurados. Mas, para a maioria esmagadora, a 
pronúncia tem natureza de decisão interlocutória mista não 
terminativa.
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Contra a pronúncia, cabe o recurso em sentido estrito do art. 
581, IV, do CPP.
Existe uma divergência interessante quanto à pronúncia. É 
que, às vezes, o réu é acusado de um crime qualificado ou 
mesmo é acusado da prática de um crime doloso contra a 
vida e um crime conexo. A questão é a seguinte: se o juiz não 
reconhecer a presença de indícios com relação à 
qualificadora ou com relação ao crime conexo, ele poderá 
pronunciar o réu em parte, excluindo a qualificadora ou o 
crime conexo?
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(f.6.2) impronúncia (art. 414)
O art. 414 do CPP determina que o juiz impronuncie o réu 
quando não se convencer da materialidade ou de indícios 
suficientes de autoria.
Então, faltando um dos requisitos (materialidade ou indícios 
de autoria), o juiz julga improcedente o pedido inicial e 
extingue o processo sem julgamento de mérito. É muito 
importante perceber que a impronúncia não significa a 
absolvição do réu. No caso de impronúncia, o juiz apenas 
conclui que o processo não deve ser levado ao tribunal do 
júri. 
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Entretanto, o art. 414, parágrafo único, do CPP, autoriza o 
oferecimento de outra denúncia ou queixa, caso advenham 
novas provas. Estas provas têm natureza de condição de 
procedibilidade para o exercício da nova ação. 
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Sendo assim, percebe-se que a impronúncia faz coisa julgada 
formal, ou seja, não se pode novamente discutir o mérito do 
conflito naqueles autos, mas é possível que ele seja discutido 
em outros autos, desde que surjam provas materialmente 
novas. 
A impronúncia tem natureza de decisão interlocutória mista 
terminativa.
Contra a impronúncia, cabe o recurso de apelação, conforme 
o art. 416 do CPP. 
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O que é a despronúncia? Trata-se de uma impronúncia 
antecedida por uma pronúncia. De que forma isso ocorre?
Quando o juiz profere a decisão de pronúncia, é possível a 
interposição do recurso em sentido estrito do art. 581, IV, do 
CPP. O procedimento do recurso em sentido estrito é peculiar 
porque permite que o juiz, antes de enviar os autos ao 
tribunal de justiça, possa exercer o juízo de retratação 
previsto no art. 589 do CPP, ou seja, o juiz pode voltar atrás. 
Se ele voltar atrás, a questão está resolvida e os autos não 
vão ao tribunal de justiça. Se ele não voltar atrás, os autos 
seguem ao tribunal de justiça e o recurso pode ser provido ou 
não provido. 
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Ocorre, então, a despronúncia nos seguintes casos: 
(a) o juiz profere a decisão de pronúncia; é interposto o 
recurso em sentido estrito; o juiz exerce o juízo de retratação, 
transformando a pronúncia em despronúncia.
(b) o juiz profere a decisão de pronúncia; é interposto o 
recurso em sentido estrito; o juiz não exerce o juízo de 
retratação; os autos são enviados ao tribunal de justiça; se o 
recurso for provido, a pronúncia se transformará em 
despronúncia.
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(f.6.3) absolvição sumária (art. 415)
O art. 415 do CPP prevê as causas de absolvição sumária.
Trata-se de verdadeira sentença absolutória, a qual 
excepciona a competência do tribunal do júri prevista no art. 
5º, XXXVIII, da CF, porque o crime doloso contra a vida é 
julgado pelo juiz-presidente, e não submetido ao conselho de 
sentença.
Isso ocorre nos seguintes casos:
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(a) quando provada a inexistência do fato: é necessário que 
haja prova cabal da inexistência do fato porque, havendo 
dúvida, a matéria deve ser submetida ao conselho de 
sentença.
(b) quando provado que o acusado não foi o autor nem o 
partícipe do crime: também é necessário que haja prova cabal 
neste sentido; a hipótese é estranha porque o fato imputado 
ao réu restou comprovado, mas também ficou comprovado 
que o réu não tem envolvimento com o crime.
(c) quando o fato não constitui infração penal.
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(d) quando houver causa de exclusão da ilicitude ou da 
culpabilidade: também é imprescindível que a causa de 
exclusão esteja plenamente comprovada; se houver dúvida, 
cabe ao juiz pronunciar o réu e deixar o conselho de sentença 
julgar.
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Observação: o art. 415, parágrafo único, do CPP, dispõe que 
não haverá absolvição sumária se o réu for inimputável, salvo 
se a única tese de defesa for neste sentido; é que, havendo 
outra tese (por exemplo, negativa de autoria), o réu deverá 
ser pronunciado, a fim de que tenha chance de não ser 
submetido à medida de segurança.
Contra a absolvição sumária cabe a apelação, a teor do art. 
416 do CPP.
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(f.6.4) desclassificação (art. 419)
O art. 419 do CPP referes-se à hipótese em que o juiz 
reconhece a existência de crime distinto daqueles da 
competência do júri, ou seja, ele entende que não se trata de 
crime doloso contra a vida.
Segundo o art. 419 do CPP, cabe ao juiz encaminhar os autos 
ao juízo competente, se ele próprio não for o competente. E 
quando ele continuará competente mesmo após a 
desclassificação? Quando o CODJERJ determinar.
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Não custa lembrar que o juiz do tribunal do júri, na decisão 
desclassificatória, apenas deve afastar a sua competência, 
concluindo que não há indícios quanto ao crime doloso contra 
a vida. Mas não deve definir com relação a qual crime existe 
tais indícios. É que tal definição importaria em ato estranho à 
sua competência. 
Para o entendimento majoritário, a decisão que desclassifica 
a imputação tem natureza de decisão interlocutória simples, 
mas a minoria (Paulo Rangel) entende que se trata de 
decisão interlocutória mista não terminativa.
Contra a desclassificação, cabe o recurso do art. 581, II, do 
CPP.

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