Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS ARARAQUARA “A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA SUPERFÍCIE DO GLOBO E A SUA FUNÇÃO NO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO. ” de Karl Ritter Trabalho do Curso de Geografia. Henrique Heine Tritapepe Zamboni Júlia Silva Lobo Campos Juliana Pisapio Siqueira Karen Marie Morita Laís Menezes Araraquara Karl Ritter A Organização do Espaço na Superfície do Globo e sua Função no Desenvolvimento Histórico A biografia de Karl Ritter e sua contribuição para o pensamento geográfico O famigerado intelectual Karl Ritter, cujo pensamento foi uma pedra angular para a então constituição da Geografia Moderna e sua sistematização, nasceu em 1779 na cidade de Quedlinburg, cidade que no respectivo período pertencia à Prússia, contudo nos dias atuais faz parte do território da Alemanha. Filho de Friedrich Wilhelm Ritter e Elisabeth Dorothea, o estudioso iniciou sua vida acadêmica cursando então História e Filosofia na Universidade de Halle-Wittenberg, fato que viria a marcar toda sua vida intelectual No ano de 1804, Ritter escreve sua primeira obra, “Europa, Quadros Geográficos, Históricos e Estatísticos”, a qual levantou pela primeira vez no estudo geográfico a tematização da Geografia humana. Entretanto, anos mais tarde, Ritter publica os primeiros volumes de “Erdkunde” (o que significa Geografia em alemão), que posteriormente viriam a fazer parte da então mais importante obra desse pensador, a intitulada “Geografia Comparada” (ComparativeGeography), possuidora de dezenove volumes escritos de 1816 a 1859, que tinha como pretensão abranger todas as diferentes regiões da Terra, todavia Ritter acabou abordando somente os continentes asiáticos e africanos. Um ponto de extrema importância para a geografia retratado em “Geografia Comparada” é a apresentação do método comparativo, no qual Ritter compara diversas regiões do globo, agrupando um grande número de informações para depois analisar como foi o processo de desenvolvimento dessas regiões e como o homem se adaptou as condições impostas pela natureza. A vida acadêmica de Karl Ritter da então um enorme salto quando, no ano de 1820, ele é chamado para ingressar a Universidade de Berlin, na qual, anos mais tarde (em 1829), ele é nomeado para lecionar as disciplinas de história e geografia. Dentro da universidade Ritter entra em contato com o pensamento do alemão Alexander von Humboldt, outro intelectual que foi importantíssimo para a sistematização do pensamento geográfico, ou seja, a organização de todo conhecimento geográfico existente até então, e para a constituição da Geografia Moderna. É inevitavelmente que esse acontecimento exerceria assim grande influencia no pensamento de Ritter, uma vez que esse foi um professor essencialmente de gabinete, que se baseava em relatos e descrições feitas por viajantes e exploradores, ao contrario de Humboldt que viajou por diversos países espalhados pelo globo. É importante aqui mencionar que Ritter junto a Humboldt fundaram a Sociedade Geográfica de Berlim. Voltando os olhos especificamente para o pensamento geográfico de Ritter, vemos que é possível delimitar três fases, nas quais o prussiano é influenciado por distintas correntes de pensamento. No inicio de sua trajetória, Ritter é influenciado por uma corrente racionalista, apresentando então um foco na sistematização da geografia;seguindo depois de um ideário romântico (impulsionado fortemente pelo contato com Herder, que teve grande importância na literatura alemã do século XVIII, e Pestalozzi, um educador suíço que criou uma Pedagogia Intuitiva), levando sua linguagem a aproximar-se de uma ciência positivista, fato que o afetou em como fazer as observações, descrições e analogias entre as diversas regiões; e finalmente por Humboldt com seu empirismo presente em seus trabalhos, os quais foram base para inúmeras comparações feitas por Ritter. Contudo, apesar dessas diversas correntes influenciarem fortemente Ritter, há conceitos que sempre se apresentaram inserido em sua teoria e metodologia, entre eles destacam-se: o historicismo, onde Ritter diz que a relação Homem-Natureza é histórica, há uma conexão com o passado, e ainda afirma que a historia e a geografia deveriam ser inseparáveis, dessa maneira o plano temporal estaria em conjunto com o estudo do espaço (vale recordar aqui que Ritter era formado em história); o antropocentrismo, no qual procurando relacionar o homem com a natureza ele mostra que o homem é o sujeito da natureza; e finalmente o organicismo, conceito que busca explicar a Terra como um organismo (um todo orgânico), sendo essa o Todo, e as regiões desse planeta as partes desse organismo. Depois de tudo que foi retratado fica evidente então que Ritter possuiu um fundamental papel para o desenvolvimento da Geografia Moderna. Sua teoria e metodologia não só organizaram e desenvolveram o pensamento geográfico, como possibilitou a Geografia a ser vista como uma Ciência Moderna. Karl Ritter faleceu em Berlim no ano de 1859 aos 80 anos, sem conseguir terminar sua obra prima “Geografia Comparativa”. • Introdução Ao início texto, Ritter começa descrevendo suas impressões sobre o globo terrestre. Ele observa o quanto o globo aparenta ser uma representação imperfeita de nosso planeta e o quanto somos surpreendidos pelo caráter aleatório das divisões territoriais. Ele ressalta que esse “Todo terrestre” aparentemente não obedece a nenhuma regra e nos deixa com uma impressão tão estranha que nos vemos obrigados a fazer uso de métodos de classificação para reduzir o caos que dele resulta. O autor destaca que foi necessária a criação de uma linguagem abstrata que permitisse falar da Terra como um todo, e dessa forma, inspirados na realidade terrestre, foi possível a elaboração da terminologia das relações espaciais. É ainda observado por ele, no início do texto, a diferença entre as obras da natureza e as obras que o homem cria. Ele defende a ideia de que por mais belas, simétricas ou acabadas que as obras humanas possam parecer, elas na verdade apresentam falta de coesão e uma estrutura tosca. Entretanto, a impressão de assimetria e desconformidade que as obras da natureza passam, diante de um exame mais minucioso, desaparece. Dessa forma é concluído que o conhecimento que possuímos da Terra é superficial. Porém, quanto mais descobrimos sobre a Terra mais nos interessamos a seu respeito e mais encontramos harmonia e sintonia nela. Ritter acredita que há ainda muito para se fazer em matéria de conhecimento da ordem espacial e ele espera conseguir isso através da intervenção dos conhecimentos relacionados com a história dos homens e dos povos juntamente com o conhecimento da distribuição geográfica dos elementos da natureza. A geografia espacial da África Ao se tratar do continente africano, vê-se que a sua localização geográfica influencia declaradamente as relações interpessoais entre os povos nativos com o exterior e as marcas culturais que a população africana carrega consigo – manutenção do caráter primitivo, por exemplo. Seus pontos extremos de latitude e longitude equidistam do centro do continente, o que explica a dificuldade de contato e comunicação do coração da África com suas terras costeiras. Outra característica do espaço africano é o modo como se dividem suas zonas climáticas e tipos de vegetação, porque, sendo recortados aproximadamente na metade pela Linha do Equador, os contrastes climáticos e vegetativos – e consequentemente sua fauna – se reparteregularmente, como um espelho, formando, assim, a origem do mundo tropical. Tais particularidades auxiliam na explicação do estado ainda primitivo que se encontram alguns dos povos nativos que vivem alheios a maioria dos progressos que ocorreram com o passar dos tempos. Por isso, também, tais povos não são muito familiarizados com a forte tendência individualista presente nos outros continentes do “Velho Mundo”, desenvolvem-se no sentido de uma coletividade culturalmente rica, porém não individualizada. A exceção de tal marca progressista, encontra-se apenas nas bandas costeiras descontinuamente recortadas, onde suas populações possuem mais contato com o exterior do que com os outros nativos. A geografia das relações humanas da Ásia A Ásia é como um amplo núcleo central com forma romboédrica, na qual o sul possui uma periferia melhor articulada e o norte, uma menos articulada, considerando as vantagens e desvantagens de seus efeitos. O desenvolvimento costeiro da Ásia constituiu um mundo de fenômenos completamente diferentes. Enquanto os povos periféricos que alcançaram um desenvolvimento superior permaneceram isolados em seus sistemas peninsulares, o núcleo central do continente asiático se manteve como a pátria monótona dos povos nômades, seus ante países, suas penínsulas articuladas e privilegiadas pela natureza - pensando na China, Indonésia, Índia, Arábia, Ásia Menor e subdivisões - formando individualidades físicas e humanas próprias. Apesar de serem conectados pelo mar, são isolados do resto do continente, foram configurados de formas variadas em sua totalidade por natureza, suas montanhas, seus vales, seus rios, seus mares, seus ventos e seus produtos. Dessa forma, seus povos e culturas se converteram num mundo a parte. O que faz com que se contraste fortemente com o núcleo central do continente asiático, que foi mantido retraído. Nesse sentido, os progressos levados a cabo pelas demais civilizações foram incapazes de modificar a vida dos nômades - e suas maneiras substanciais de vida - que circulam a Ásia há milênios: mongóis, turcomanos, quirgnizes, uzbeques, kalmucos e outros. Também não puderam alcançar o norte do continente, que apesar das formas naturais espetaculares, de caracteres tipicamente orientais que se manifestam no imenso território, se encontra desprovido dessa harmonia que proporciona a compreensão de uma unidade adquirida em comum. Além disso, como o continente abrange a área do Equador até as terras polares, tem grandes variações climática, e consequentemente, possui sobre seu solo plantas e animais diversos, encontrados em diversas latitudes ao longo de sua extensão e é rica nos produtos naturais dos quais depende. No entanto, devido a sua grande extensão do oeste ao leste ao longo dos meridianos, forma um caráter de forte contraste entre as partes que se repartem. Ao comparar as partes, basta apontar a presença do sagu e da palmeira tamareira e do leão a oeste; a presença de uma vegetação alpina, do bosque de coníferas na Ásia setentrional e a presença da cana de açúcar, do elefante, do rinoceronte, das folhas largas e do macaco na Ásia meridional. Dessa forma, ainda que desde o começo das grandes navegações, esses povos tenham sido apropriados pelos ocidentais, nunca esgotou seus recursos humanos. Pelo contrário, permaneceu rico na diversidade das relações humanas, abundante de raças, tamanhos, cores, modos de vida, nacionalidades, religiões, organizações políticas, castas, Estado, civilizações, línguas e etnias próprias. Suas próprias populações e culturas as convertem em mundos à parte. É isto que explica, ademais, o caráter fortemente diferenciado das individualidades constituídas pelo mundo chinês, malaio, hindu, persa, árabe, etc. Desde o começo da história da humanidade, nenhum outro continente pode mostrar semelhante diversidade nas relações humanas. Por isso, a Ásia se encontra na origem de todas as civilizações humanas. Europa e sua geografia O autor apresenta o continente europeu sendo uma prolongação espacial da Ásia media, o qual desenvolveu sua superfície com certa autonomia crescente, de forma que expõe que a Europa, é um território altamente compartimentado, possuindo um desenvolvimento harmônico e unificado tal qual foi condicionado dês do começo de sua formação, o destino de dominar os continentes maiores do Velho Mundo, ou seja, África e Ásia. A Europa, continente formado na zona Temperada, muito bem articulado, com grande escala humana e de formas continentais e marítimas que se interpenetram, com povos industriais que usaram da sua energia, produziu uma civilização humana caracterizada por sua harmonia mista. O autor destaca uma estrutura básica da Europa; suas características: o desenvolvimento das costas, a articulação de terras setentrionais e as ilhas que a rodeia, comparado-a com a África e a Ásia. As Costas: o cumprimento costeiro e mais a área da superfície, a Europa é o maior dos continentes. Já a Ásia, cuja a superfície é cinco vezes maior que o da Europa (52 mil quilômetros de costas). A África, com superfície três vezes superior a da Europa, com 28 mil quilômetros. O continente europeu, tem 8.282.000 km². O litoral europeu alcança 40 mil quilômetros, o qual beneficiou a saída aos mares de todo o Velho Mundo, o que explica o contato enraizado com o mundo marítimo. Com grande abundancia de golfos e de portos naturais, favoreceu o desenvolvimento da navegação, assegurando assim, o domínio dos mares. A articulação de terras setentrionais: As costas árticas da Europa, são banhadas pelo Mar Báltico e o Mar do Norte, que se estendia até as penínsulas escandinavas, assegurou a parte setentrional do continente o qual proporcionou o desenvolvimento das penínsulas da Grécia, Itália e Espanha. A região escandinava, a parte norte da Europa, é superior que o norte da Ásia, conclusão formulada por ele, diz, que por estar separada da parte meridional e por ser a região menos desenvolvida do continente asiático. As terras polares e a Alta Ásia, habitada pelos nômades, não há tanta vegetação diferente do norte europeu que natureza, desenvolvimento civilizatório e industrial, gera um grande avanço e superioridade a esta parte específica da Ásia. As Ilha: as ilhas européias se distinguem dos outros continentes em alguns aspectos. São integradas e de grande referencia de estações marítimas, criando uma amplitude importante entre os membros do continente, o qual criou conexões entre os povos e suas civilizações o qual contribuiu para a amplitude no aspecto marítimo de comunicação. Cita a ilha de Madagascar, localizada na costa africana, sendo isolada e rejeitada pelo mundo oceânico pelas correntes e áreas marinhas. Afirma que o sudeste asiático é impossivel de compreender as especificidades por ser muito estensa. Expõe a Australia; a maior ilha e a mais rica em individualidades do mundo. Sua superfície é parecida com a da Europa, e causa sua posição entre os continentes, podendo fazer uma certa analogia com o Panamá, na América. Sua densidade demaciadamente elevada, esta ilha é rica por conseguir resolver seu problema insularares. Na Nova Guiné, afirma e defende os dons naturais que incluem no processo de desenvolvimento do comércio universal por sua riqueza tropical, na zona equatorial. O momento de comercio mercantil, mostra a vida da civilização com toda sua intensidade e potencia, por haver uma posição favoravel do globo. A Europa, assim o mais perfeito equilibrio as oposições das formas sólidas e fluidas no globo terreste. Conclusão O autor conclui que na impressão do caos e da desorganização que o globo terrestre reflete, sendo nas repartições desiguais de terra e de água, nas temperaturas variáveis, e nos eventos desordenados, existe um sistema interno e superior de organização do planeta que expressa uma infinidade de forças cujos efeitos invisíveis estão em interação. Essas forças influenciam na Natureza e na História e determinam a vida dos organismos vegetais e animais. Ritter defende a ideia de que não há um acaso que determine a dominação dos povos em respectivos territórios, na verdade, segundo ele, há uma lei cósmica superior que determinou todo processo de desenvolvimento da humanidade. Portanto a separação, que à primeira vista é puramente física, resulta ser a essência da interação espacial universal, pois a distribuição desigual dos dons naturais acaba sendo um estimulante para o desenvolvimento das trocas universais.
Compartilhar