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LARISSA ARROTEIA MARIANO DE SOUZA LUCAS DOS SANTOS ALMEIDA LUIZ ROBERTO ALVES CANGUSSU FILHO GUILHERME DE JESUS STRACCINI GUILHERME SANNER RENAN NAKAMURA LOPES DA SILVA 1° SEMINÁRIO DE GEOGRAFIA: PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA TEÓRICA Primeiro seminário do Curso de Geografia, do primeiro ano de Ciências Sociais (diurno) da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP, Campus de Araraquara, com o Prof. Dr. Sérgio Gertel. Araraquara, Setembro de 2015 Introdução O presente trabalho tem como finalidade debater sobre a vida William Bunge, assim como, sintetizar as experiências e a perspectiva da geografia teórica do autor contidas na obra Theoretical Geography, de William Wheeler Bunge, publicada em 1962 e reeditada e ampliada em 1966. Sobre William Bunge William Wheeler Bunge Jr nasceu no ano de 1928 em Wisconsin nos Estados Unidos. Bunge ao longo de sua vida teve dois casamentos o primeiro com Betty, e com Donia, e possui uma filha do primeiro casamento Susan. Bunge serviu ao exército norte americano na guerra da Coréia entre 1950 e 1952. Formou-se na Universidade de Wisconsin e fez seu mestrado na mesma universidade, já seu doutorado foi feito na Universidade de Washington. Em Wisconsin William foi aluno de Richard Hartshorne, o primeiro geógrafo que teve contato com ele, sendo um dos grandes responsáveis pelo seu crescimento acadêmico. William Bunge foi exilado dos Estados Unidos no ano de 1970 para o Canadá por ser considerado um simpatizante comunista. Ele é conhecido principalmente por seus estudos na área de geografia espacial teórica e quantitativa, e pelo fato de ser um geógrafo e ativista político (defensor do marxismo). William estudava muito a geografia de uma forma mais humana, buscando entender as relações humanas com o meio. A contribuição acadêmicas de William é extensa no total em torno de 17 obras publicadas, as principais sendo Geografia Teórica do ano de 1962, e Atlas da Guerra Nuclear de 1988. Bunge buscava sair a campo para estudar a sociedade, inclusive um de seus estudos mais complexos é que foi feito em bairros pobres de Detroit e de Fitzgerald. Com resultado escreveu o livro “Fitzgerald, geografia da revolução”. Perspectivas da geografia teórica Após anos de dedicação à geografia, às matemáticas espaciais e à geometria, Willian Bunge observa a tridimensionalidade da espécie vivendo um mundo politicamente bidimensional, que consistia na sua época na influência sofrida pelo globo pelos Estados Unidos, União Soviética e China. Utilizando-se de seu conhecimento topológico (descrição ou delineação exata e pormenorizada de um terreno, de uma região, com todos os seus acidentes geográfico), Bunge apresenta a definição de dimensão: "se define um a menos do que a delimita, isto é, três dimensões estão delimitadas por dois, dois por uma, e uma por zero. As superfícies contem volumes, as linhas superficiais e as linhas pontilhadas". Observando o ser humano, ele faz um paralelo com a física, afirmando que o gênero humano no espaço em que vivemos é um ser tridimensional e que está delimitado não por linhas, mas por superfícies. Para Willian existem duas superfícies: uma exterior outra interior. “A primeira abrange toda nossa espécie e é mais crítica do que a segunda, que é a própria superfície da Terra. Embora pareça inacreditável somos homens do espaço, tridimensionais em seu planeta politicamente bidimensional, a União Soviética, os Estados Unidos e a China, todos estão acima”. Bunge abandona sua linha de pensamento sobre a tridimensionalidade da espécie que chama de "trabalho abstrato mais importante" e passa a ocupar-se com a "regionalização humana a grande escala" logo após o início da guerra do Vietnam. Envolve-se com o movimento pacifista e foi participante ativo; esteve presente nas Manifestações de Martin Luther King e em 1966, foi a um Gueto Negro. “Aprendi a ‘estar preparado para matar o mundo’ para cruzar a rua e conseguir algo para comer; aprendi nas “ruas miseráveis” – um aprendizado indispensável para a exploração urbana em sistemas antagônicos". Sua vivência com o mundo antagônico o fez reverter sua escola de valores e escrever seu trabalho sobre Fitzgerald, que fica em Detroit, sua própria vizinhança. “Mas Fitzgerald não começou como geografia. Começou como proposta de projeto para arrecadação de fundos federais durante o engano da grande sociedade.” Tal experiência fez Bunge observar a utilidade social da geografia, a necessidade de se tomar partido nos problemas globais e situá-los a altura das vidas normais da gente. Em 1970, no período Nixon, coincidente com suas interpretações da relação entre Marx e Darwin, Willian viaja para o Canadá. Formou a Expedição Geográfica de Toronto, que tinha por objetivo investigar “as causas do porque a raça humana ameaça a si mesma com o aniquilamento". Estabeleceu o seguinte método: “1) Uma milha quadrada no interior da cidade de Toronto; 2) a cidade de Toronto; 3) Canadá como Estado; 4) o continente norte americano, e 5) o mundo. Estas escalas abrangem desde as crianças atropeladas por automóveis em ruas próximas até a tridimensionalidade da espécie. Todas as escalas estavam sendo sucessivamente investigadas. Também estabeleceu três espaços para examinar estas cinco escalas, construindo uma matriz de três por cinco: 1) os homens; 2) as máquinas; 3) a natureza. Em qual destes três espaços matam as crianças? É na convergência do espaço dos homens com o da natureza? Ou no das máquinas com os homens? Se as matanças acontecem na convergência com a natureza, a raça humana está sentenciada, posto que isto significasse que nossa natureza darwiniana nos mata a nós mesmos. Se as matanças acontecem na convergência com as máquinas, existe esperança, considerando que Marx então tinha razão. William Bunge argumenta que, ao longo da história, as teorias científicas tendem a ser aplicadas superficialmente, de modo que o mau uso dos conceitos e afirmações teóricos implica a aceitação de contradições e meias verdades. Antes de tratar propriamente da geografia, o autor traz à tona esse tipo de problema para diferentes áreas do conhecimento, como na física: as leis newtonianas foram, segundo ele, reduzidas a certas máximas que acabam por contribuir a conclusões demasiadamente precipitadas e que, no futuro, se mostraram absurdas. Em relação à produção na geografia, Bunge apresenta o caso da redução da teoria marxista e do caráter dogmático que lhe foi atribuída para conceituar os diferentes tipos de leitura geográfica; tal reducionismo levou a duas acepções de geografia: a burguesa e a proletária. O autor reconhece que ambos os conceitos são perfeitamente cabíveis, mas o que se via era uma forte tendência em polarizar o conhecimento entre essas duas vertentes, de forma que se tornaram antagônicas – o que uma aceitava, a outra deveria necessariamente negar – e não permitiram a aplicação de uma terceira vertente. O autor, no entanto, exalta o marxismo, quando compreendido e utilizado de maneira plena. Em sua visão, essa corrente apresenta os fluxos monetários invisíveis como causa da miséria existente e que a projeção de mapas é o melhor caminho para evidenciá-la como um fenômeno concreto (como “o mapa de fluxos de valor produzido dos trabalhadores explorados”, por exemplo). Os marxistas, assim como a grande maioria dos humanistas, possuem certa tendência em ligar-se aos acontecimentos mais gerais da sociedade e, devido a isso, estão em constante alteração. Logo, um marxista dificilmente consegue definir o individual ou a sipróprio sem antes circunstanciar o contexto em que se está inserido, em detrimento daqueles que vivem para si mesmos e “fazem de sua história pessoal seu curriculum vitae”. O autor afirma que é um cientista, um geografo, e um geografo que nega a física reduz seu trabalho. Marx, segundo Bunge, ensinou que os ricos roubam os pobres, diferentemente do que foi ensinado ao autor quando este era criança. Willian Bunge prega a proteção à criança para a sobrevivência da espécie humana, e quem mata criança possui o ódio mortal do autor, e esse ódio, é, para ele, o raio laser de sua alma. Quando ele cita a sobrevivência da espécie, utiliza um termo: Ato Antinatural que significa a autodestruição da espécie. O autor defende também a superioridade da espécie humana, pois para o autor somente nós conseguimos pensar e raciocinar devido ao nosso sistema nervoso, essa habilidade nos diferencia das demais espécies. Bunge cita Richard Hartshone, que foi seu professor e contribuiu na teoria das localizações, que defende a unicidade e generalidade das localizações e das pessoas. Nesse momento, o autor começa a falar sobre a utilidade da unicidade, ou seja, partindo desse princípio de tratar o homem como singular, William fala sobre mapear as pessoas geograficamente e, que essa atividade se torna fácil quando se trata de pessoas antigas, destacadas e proprietárias de terra. O problema se encontrava em mapear as pessoas que “não eram dali”. Os arrendatários e os colonos eram esquecidos, e quando estavam no local, eram considerados invisíveis. Mas existiam pessoas ainda mais difíceis de mapear. O Autor dá exemplos de um bêbado irlandês, um judeu e um agricultor negro. Usando dos nomes das pessoas como ferramenta para demonstrar a diferença social entre essas classes, o autor percebe que os negros, irlandeses e judeus tinham nomes pejorativos e curtos, como “Phillips ladrão de galinhas”, “Berry, o judeu” e o “O negro Kennedy”, em contraponto com os ricos, que tinham nomes completos e formais, como “Senhor ou Senhora Frank Sitterlet”. Partindo desse ponto, o autor começa a falar sobre “os cenários escondidos”, e no cenário mais inferior, se encontrava os índios. Desses não se sabia nem mesmo os nomes. Os agricultores falaram que em sua infância, havia dois irmãos índios que trabalhavam em um circo. William Bunge procura no registro do circo os nomes desses irmãos, mas nota que é possível encontrar o nome dos cavalos, mas não os dos índios. Está-se padecendo o genocídio, não se tem nome nem identidade. Nesse momento do texto, o autor fala sobre comunidades em Toronto, as quais são formadas pelas classes trabalhadoras, e diz que essa classe reflete a solidariedade da mesma. A identidade destas regiões depende da singularidade. Assim, as lutas e a vida, forçaram Bunge a entrar em acordo com Hartshorne sobre o valor da singularidade das localizações, assim ele publica “As regiões tem o caráter de únicas”. Hartshorne, em suma, demonstrou estar certo sobre a unicidade, mas seguiu confundindo-se sobre a generalidade das localizações. Mas ao mesmo tempo o autor rejeita a definição da geografia de Hartshorne: “A superfície da terra como morada do homem”. Definir a geografia como o estudo da “superfície da terra entendida como morada do homem” tem a característica perniciosa de incitar a parar a luta. Se for anticomunista, como Hartshrone, se pode admitir que a terra já seja uma morada para o gênero humano, especialmente suas partes não socialistas. Para o autor, se baque que, a classe do capitalismo no poder dos Estados Unidos, é uma doença, então aceitar o cômodo entendimento dos Estados Unidos como uma “casa” é manter a doença. Na última parte do texto, o autor fala que através do tempo, parece que existiram tempos maus e, logo, tempos prósperos em que todo mundo vive bem. Mas a verdade é que sempre existiu uma região oprimida, os bairros pobres, e uma região opressora, os bairros ricos. Falando em morada do homem, por acaso a região americana da criança mordida pelo rato lembra uma casa? Por acaso a taxa de mortalidade infantil negra, maior que a de 57% das nações do mundo, sugere um lar? Engels disse que somos pré-humanos, onde se deduz que a superfície da terra está prometida aos homens. William finaliza o texto com uma indagação frente à geografia e a humanidade: “se converterá o planeta em nossa morada ou em nossa tumba?”.
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