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Manifestação Sobre Defesas

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DO 
TRABALHO DA COMARCA DE SÃO JOÃO DE MERITI-RJ 
 
 
 
Processo n. 0101314-45.2017.5.01.0323 
 
 
 
 
 Gisele Santiago de Oliveira e o menor impúbere, Nycholas 
Santiago de Oliveira, já qualificados nos autos, por sua advogada abaixo 
assinada, vêm, manifestar-se na forma que segue: 
 
1- DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA: 
 
Aduz a segunda reclamada suposta ilegitimidade ativa dos 
reclamantes, argumentando que não foram acostadas aos autos certidão de 
inventariança e declaração de dependentes emitida pelo INSS. 
 
Tal tese é esdrúxula por demais, não merecendo maiores 
discussões, tendo em vista que os reclamantes acostaram aos autos todos 
os documentos que comprovam seus respectivos vínculos com o 
trabalhador vitimado. 
 
Sem prejuízo, em atenção o disposto no artigo 435, segue em 
anexo certidão de óbito do trabalhador, na qual restou registrado ausência de 
bens a inventariar, bem como que vítima era casada e deixou um filho 
menor. Outrossim, segue documentação obtida junto à previdência social. 
 
 
2- DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA: 
 
2.1- Da Responsabilidade da Primeira Reclamada: 
 
Apesar da tentativa frustrada da primeira reclamada em tentar 
transferir sua parcela de culpa para a empresa de ônibus que se envolveu no 
acidente que vitimou o Sr. Giovani, verifica-se que a referida reclamada 
registrou Comunicação de Acidente de Trabalho-CAT, já acostada aos 
autos, apontando que o Sr. Giovani FOI PRENSADO AO OPERAR 
PLATAFORMA. 
 
Já em sua defesa, a reclamada optou por arguir que a função 
do trabalhador consistia em dirigir o caminhão e que desconhece o 
motivo pelo qual o mesmo estava do lado de fora do veículo, e atrás do 
mesmo no momento do acidente. A reclamada se esforça ainda para 
ardilosamente induzir o juízo a crer que o trabalhador estava 
descarregando, indevidamente, o caminhão no momento em que foi 
atingido. 
 
Ora, como bem esclarecido pela primeira reclamada, o Sr. 
Giovani tinha ordens par estacionar o caminhão em frente ao 
estabelecimento da segunda reclamada, e assim o fez. 
 
Dando continuidade ao seu trabalho, após o caminhão ter 
sido descarregado por trabalhadores de serviço na loja da segunda 
reclamada, Giovani se direcionou à lateral do veículo com escopo de 
recolher plataforma e dar partida no veículo, no que ficou com seu corpo 
totalmente exposto na via. 
 
Observe-se que no dia do acidente, se por praxe ou 
eventualidade, as reclamadas não disponibilizaram ajudante de caminhão 
ou qualquer outro profissional que se responsabilizasse por operar as 
referidas plataformas. E ainda se o tivessem feito, tal pessoa teria sido 
exposta ao fatídico fim que teve o trabalhador Giovani. 
 
Frise-se ainda, que os elementos apresentados nos autos 
indicam que o descaso das reclamadas com seus trabalhadores não foi 
exclusivo no dia do acidente em comento. Nesse sentido, OBSERVA-SE QUE, 
ANTES DO ACIDENTE EM TESTILHA, GIOVANI TAMBÉM PASSOU POR 
OUTRO ACIDENTE ENQUANTO TRABALHAVA, CONFORME CONSTA 
NAS FOLHAS DE PONTO ACOSTADAS AOS AUTOS PELA PRIMEIRA 
RECLAMADA. 
 
As reclamadas acordaram local de parada em local 
inapropriado, não impediram que o trabalhador utilizasse aquele local 
para estacionar o veículo, e nem sequer providenciaram o isolamento da 
área, mesmo tendo consciência de que a via em testilha é cenários de 
frequentes acidentes e que a plataforma teria que ser acionada pelo 
trabalhador na parte externa do veículo. 
 
Com efeito, a primeira demandada se esforçou para juntar 
aos autos documentos relacionados ao Sr. Giovani, entretanto, 
curiosamente, ELEGEU NÃO JUNTAR A ORDEM DE SERVIÇO ENTREGUE 
À VÍTIMA NO DIA DO ACIDENTE, BEM COMO SE ABSTEVE DE 
MENCIONAR O SEGURO OFERTADO AOS RECLAMANTES PELA 
SEGURADORA DO CAMINHÃO, QUE EMBORA DE VALOR IRRISÓRIO, 
RECONHECEU O VÍNCULO ENTRE O VEÍCULO E O RESULTADO MORTE 
DO TRABALHADOR. 
 
Dessa sorte, não há dúvidas quanto à responsabilidade e dever 
de reparação da primeira demandada. 
 
2.1- Da Responsabilidade da Segunda Reclamada: 
 
Por sua vez, a segunda reclamada, conforme cláusula 5ª, XX 
do contrato de prestação de serviços celebrado com a primeira reclamada, 
estabeleceu que seus produtos deveriam ser entregues no local da 
entrega. Vejamos: 
 
Ora, se o local não foi escolhido nem autorizado pela 
segunda reclamada, por que permitir a permanência de um veículo 
estacionado inadequadamente na frente de seu estabelecimento? Por que 
ordenar que seus funcionários descarregassem seus produtos do 
veículo? Por que não ordenar que sua contratada corrigisse tal ilicitude, 
vez que era visível que o trabalhador estava constantemente exposto ao 
risco iminente? 
 
A culpa da reclamada, enquanto tomadora de serviços, no 
acidente objeto da presente demanda, resta evidenciada sua participação 
na cadeia causal do evento do qual se beneficiava. 
 
Ressalte-se que a ambição e falta de humanidade por parte da 
segunda demandada é tamanha que ignorou o fato de ter um trabalhador sem 
vida na porta de sua loja, mantendo inalterada sua rotina de trabalho, uma vez 
que seus produtos já haviam sido transportados até lá pelo de cujus. Caso o 
acidente tivesse ocorrido antes da entrega dos produtos, aí sim poderia ter 
incomodado de alguma forma, gerando uma mobilização mais expressiva... 
 
Dessa sorte, deve também ser responsabilizada na forma 
dos artigos 927 e 942 do Código Civil, tendo em vista que não cabe ao 
tomador de serviços fazer do trabalhador um objeto sem valor, ou 
considerá-lo descartável, de forma que se não fosse o ente querido dos 
reclamantes, outrem estaria ocupando essa triste posição. 
 
 
3- DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DOS PEDIDOS EXARADOS NA 
INICIAL: 
 
Conforme verifica-se na peça exordial, os pedidos foram 
devidamente formulados e fundamentados, estando as reclamadas 
devedoras das indenizações prevista nos artigos 7º, XXVIII da Carta 
Magna e artigos 927 e 942 do Código Civil vigente, somados aos 
respectivos encargos pela necessidade de amparo jurisdicional. 
 
4- DO ACORDO CÍVEL PELO ACIDENTE DE TRÂNSITO: 
 
As reclamantes reservaram grande parte de suas defesas para 
enaltecer o acordo celebrado pelos reclamantes com a empresa de ônibus 
envolvida no acidente. 
 
Todavia, movidos por lealdade e boa–fé, os reclamantes, 
em sua peça inaugural, de antemão comunicaram a este juízo a existência 
de tal acordo, o qual foi entabulado com a empresa de transporte público 
envolvida no acidente, no afã de minimizar a dor irreparável e o inestimável 
dano, algo que os reclamantes esperavam dos empregadores direta ou 
indiretamente ligados à vítima. Entretanto, com um ato altruísta e solidário, 
voluntariamente e ciente da parcial responsabilidade civil que lhe cabia, a 
transação foi ofertada pela concessionária de transporte público, ainda que 
seus prepostos tenham sido surpreendidos pela presença do trabalhador na 
via, em local não reservado para tal fim. Local este que, conforme 
expressamente afirmado pela primeira reclamada, era “o local correto” 
para o cumprimento do contrato de prestação de serviço à segunda 
reclamada. 
 
Dessa sorte, cabe às reclamadas seguirem o bom exemplo da 
empresa acordante, assumindo suas respectivas responsabilidades para com 
os dependentes do trabalhador fatalmente vitimado, em razão de suas 
determinações imprudentes. 
 
 
5- DO PENSIONAMENTO TEMPORÁRIO PELO INSS - DO 
PENSIONAMENTO DEVIDO PELAS RECLAMADAS: 
 
No tocante ao pensionamento realizado pelo INSS, verifica-se 
que o mesmo é oriundo da contribuição do trabalhador durante seu curto tempo 
de vida, sendo tal benefício, inclusive, temporário (documento em anexo). 
 
Ressalte-se que tal pensionamento nada tema ver com a 
pensão requerida nos presentes autos, a qual têm caráter indenizatório e de 
não amparo previdenciário Estatal, e deveria ser de pronto acatada pelas 
reclamadas, vez que representa forma parcelada de recomporem o dano 
causado aos reclamantes pela impossibilidade factual de devolverem a vida ao 
provedor dos mesmos. 
 
 
6- DO DANO MATERIAL: 
 
O dano material é devido na forma do artigo 948 do Código 
Civil, uma vez que as reclamadas tiveram participação ativa, agindo com culpa 
grave na tomada de decisões que culminaram na exposição do trabalhador ao 
acidente fatal que lhe acometeu, finalizando a vida do mesmo aos 31 anos de 
idade, encerrando suas possibilidades de dar suporte financeiro adequado aos 
seus dependentes. Encerrou ainda o pacto de parceria nas tarefas de casa e 
criação do filho, alterando em todos os aspectos as vidas dos reclamantes. 
Nesse diapasão, cumpre ressaltar o demonstrativo contábil 
acostado pelos reclamantes aos autos, no qual consta planilha de projeção de 
expectativa de vida, como base em pesquisas realizadas junto ao IBGE, 
resultando em mais de um milhão de reais de ganhos que Giovani foi 
impossibilitado de alcançar, em virtude do acidente de trabalho que o levou a 
falecer. 
 
7- DO DANO MORAL: 
 
Superados as teses sobre ausência de responsabilidade pelas 
reclamadas, resta óbvio os danos morais sofridos pelos reclamantes, restando 
às reclamadas o dever de amenizarem essa imensurável dor, diante da 
impossibilidade de devolver a vida ao provedor do lar, amigo, companheiro, 
esposo e pai, Giovani. 
 
Configurado nexo causal ente o evento danoso e a culpa das 
reclamadas, não há como se esquivar da reparação do dano moral, até mesmo 
por seu caráter punitivo pedagógico, evitando com isso que sejam feitas novas 
vítimas. 
 
 
8- DA AUSÊNCIA DE HUMANIDADE, SOLIDARIEDADE, 
RESPEITO E COMPROMISSO DAS RECLAMADAS: 
 
Repise-se que as reclamadas agiram com frieza no deslinde do 
caso, demonstrando falta de solidariedade, desamor e desrespeito para com o 
semelhante. 
 
A primeira reclamada se absteve em cumprir rotinas, agilizando 
os trâmites para encerrar seu vínculo com o falecido e acionar seguros 
obrigatórios (seguros esses que lhe ressarciram o valor desembolsado 
com serviços funerários), devidos a qualquer trabalhador, não se 
preocupando em prestar assistência aos reclamantes, que sustentaram e 
permanecem sustentando os efeitos do fatídico acidente de trabalho. 
 
Cumpre registrar que o recibo no valor de R$1.000,00 (mil 
reais) acostado aos autos pela referida reclamada é referente à dívida pesssoal 
pré-existente entre funcionário da empresa e Giovani, não tendo qualquer 
natureza reparatória. 
 
Quanto à segunda reclamada, conforme já exposto, optou por 
se abster completamente de envolvimento no caso, e assim permanece 
fazendo, conforme e vê em sua conduta perante o juízo. 
 
Por fim, registre-se que AS RECLAMADAS NÃO SE FIZERAM 
REPRESENTAR NO FUNERAL DO TRABALHADOR E, APÓS, NÃO 
PROCURARAM OS RECLAMANTES ATÉ A PRESENTE DATA, 
IGNORANDO A EXISTÊNCIA DOS MESMOS. 
 
 
9- DA LICITUDE DAS PROVAS ACOSTADAS AOS AUTOS: 
 
Os reclamantes acostaram aos autos provas lícitas e, em sua 
maior parte, documentos emitidos por órgão oficiais. 
No mais, os reclamantes acostaram aos autos registros do 
terrível acidente de trabalho que ceifou a vida de um homem trabalhador, que 
foi a óbito ainda de pé, conforme imagem a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10- DAS DEMAIS PROVAS: 
 
Os requerentes pugnam pelo seguinte: 
 
a) Pela juntada da certidão de óbito, documentos emitidos 
pela Previdência social e imagens de outros acidentes 
ocorridos na mesma via em que ocorreu o acidente de 
trabalho em comento, todos em anexo; 
 
b) Pela intimação das seguintes testemunhas: 
 
 Sr. Tiago, servidor público do Município de São João 
de Meriti, lotado na Secretaria Municipal de Segurança e Trânsito à época 
do acidente até a presente data, podendo o mesmo ser encontrado na sede da 
referida secretaria municipal, localizada na Avenida Automóvel Clube, n. 1785, 
São João de Meriti/RJ ; 
 
 Sra. Adriana Araújo, sargento Bombeiro Militar, 
Registro n. 30805, a ser intimada através do Comando do Corpo de 
Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro; 
 
c) Pela Intimação da primeira reclamada para proceder a 
Ordem do Serviço do Dia do Acidente e do Resultado da 
Análise do Seguro Mapfre que deferiu seguro aos 
reclamantes; 
 
d) Pela realização de perícia, caso Vossa Excelência 
entenda necessário para o deslinde do caso, em 
especial sobre a necessidade de manuseios da 
plataforma pela parte externa do veículo e exposição do 
trabalhador ao risco de acidentes. 
 
11- DA HIPOSSUFICIÊNCIA DAS PARTES: 
 
Os requerentes são pobres no sentido legal e não podem arcar 
com as custas do processo sem prejuízo de seu sustento e de seus familiares, 
principalmente após a tragédia vivenciada. 
Ressalte-se que o acordo entabulado com a empresa de 
transporte coletivo está sendo quitado em mais de trinta parcelas mensais; 
foram deduzidos valores referentes aos honorários advocatícios, eis que se fez 
necessária a judicialização da transação; e que a parte reservada ao menor 
Nycholas Santiago de Oliveira está sendo depositada em juízo, e só poderá ser 
resgatada quando da maioridade do mesmo. 
 
12- DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - DOS JUROS E 
CORREÇÕES: 
 
Os honorários advocatícios são devidos na forma do artigo 
791-A da CLT. 
Quanto aos juros e correções, estes são devidos desde a data 
do sinistro, momento em que foi causado o dano. 
 
13- DEMAIS DISPOSIÇÕES: 
 
Desde já, para possíveis futuros recursos, os reclamantes 
argumentam a violação dos artigos 7º, XXVIII da Carta Magna e artigos 927 
e 942 do Código Civil, que regulamentam o dever de indenizar pelas 
reclamadas. 
 
 
Rio de Janeiro, 04 de março de 2018. 
 
Maria Dulce Barbosa Fróes 
OAB/RJ n. 057.816

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