Buscar

WINKIN, Y - Descer ao Campo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1
DESCERAO CAMPO
As trêsrevoluçõesda etnografia
Pergunta:como se pode agarrarfirme a comunicação?Resposta:
graçasao procedimentoetnográfico.Novapergunta:queéentãoa etnogra-
fia?O dicionário Robertdiz simplesmente:"estudodescritivode diversos
grupos humanos (etnias),de seus caracteresantropológicos,sociaisetc".
Evidentemente,etnograjiaé um termono qual seencontrade tudo,e que
pareceumpoucoultrapassado.Que sehádefazercomestapalavraquando
se tratade analisara comunicaçãoem ato?É que estapalavranomeiatoda
uma tradição de pesquisa.Gostaria de evocar muito rapidamenteesta
última,paramostrarem que ela é, aindahoje, muitopertinentee particu-
larmenteadequadaà investigaçãocientíficada comunicação.
Quando se fala de etnografiano séculoXIX, queremfrancês,quer
em inglês, remete-sea uma divisão muito nítida do trabalho científico.
Aquele que é chamado"etnólogo",na verdadeainda não "antropólogo",
permaneceem casa,em seu escritóriona universidade,em seu instituto,
em seumuseu.Envia questionários"etnográficos"a viajantes,a missioná-
rios, a comerciantes,em suma,a todos que vão, por exemplo,à África ou
129
à Ásia.Pede-Ihesquerespondamàsperguntase comprem,senãorou-
bem,tudoo quepossamencontrar- comoarcos,tapetes,máscaras...
Todos os objetossão bons para rechearas vitrinesdos museusde
etnografia.EmBruxelas,o atualMuseuRealdaÁfricaCentraléaindauma
belíssimailustraçãodo quese entendiapor etnografiano séculoXIX.
Tratava-sedelevarao"MuseudoCongo"tudooquesepudesseencontrar
noquenaquelemomentoaindaerapropriedadeparticulardoreiLeopol-
doII, edealiconstituircoleçõesdeenfeites,deflechasete.Paralelamente,
os missionáriosbelgaspreenchiamfichas,emespecialparao professor
Halkin,titularda cadeirade geografiaetnográficada Universidadede
Liege.Esteextraíadessasfichastrabalhossobreosababua(Halkin1911).
A primeirarevoluçãonadisciplinaquelogopassaráa sechamar,
no mundoanglo-saxão,antropologiaacontecepor voltade 1915-1920,
quandoBronislawMalinowski,polonêsformadonaInglaterra,partepara
o trabalhodecampo,dizendo:"Cadaumcomseuofício,osmissionários
têmo seu,eu tenhooutro,~_YOJl eu mesmocoletaros dadosqueme
interessam".Comodiránaintroduçãodeumdeseuslivrosmaiscélebres,
OsargonautasdoPacificoocidental,eletentaassim"captaro pontode
vistado indígena(...),compreendera suavisãodo mundo"(Malinowski
1922,1963,p. 71).
É umaprimeirarevolução,pois,de um lado,o antropólogoé e
permanecedurantemuitotempono campomesmo,e, por outrolado,
nãoencaramaisaquelesqueobservacomograciososanimaisexóticos,
mas,sim,comopessoasdignasderespeito,cujavidasocialsedevetentar
reconstituirpor observaçãoàsvezesparticipante.
A segundagranderevoluçãoetnográficaocorreno momento- e
estamosno entreguerras,por voltade 1930-35- emqueantropólogos
americanosdizemcomseusbotões:"Mas,afinal,o queestamosfazendo
emterràestrangeira,poderíamosmuito_bemfazeremnossopaís".E é
assimprincipalmentequeLloydWarnervaitrabalharemHarvardedepois
emChicago,apósterestudadotribosaboríginesnaAustrália.Vairealizar
estudosantropológicosde cidadezinhasde Massachusettse de Illinois.
Vaiestudá-Iassistematicamente,comosesetratassedemicrossociedades.
Seu procedimentoestápertodo do Departamentode Sociologiada
Universidadede Chicago.Um dospaisfundadoresdesteúltimo,Robert
130
Park,foraprimeirojornalista.Queriaqueseusalunosfossem"aocampo";
paraele,aciêncianãosefaziaentrequatroparedes,mascirculandopela
cidadede Chicago.Os primeirosestudosurbanosda futura"Escolade
Chicago"baseiam-senesteprincípiomuitosimplesmasmuitorico: a
cidadeéumlaboratórionatural.Geraçãoapósgeração,osestudantesirão
"explorara cidade"- pararetomaro títulodo excelentelivro de Ulf
Hannerz(1983).O procedimentodelesserásem dúvidaqualificado
formalmentedesociológico,masseráemseusprincípiosmuitoantropo-
lógico.Contribuidemaneiradecisivaparafazera antropologiavoltarao
país.
A terceirarevoluçãoacontecenosanos50,quandoessesantropó-
logos"endóticos"(poroposiçãoa "exóticos")vãoaospoucoslibertando-
sedessatendênciadefazerpesquisasobreospobres,osdesjustados,os
dominados,porexemploosíndios,oscamponeses,osmendigosetc.Em
WarnerenosestudosdaEscoladeChicago,o queobservamoscommuita
freqüênciaé queos pesquisadoresprivilegiamambientescativos,gente
queestámaisoumenosisolada,poisvivenumacidade,numbairro,num
hospitalde ondemalpodesair.Só no finalda décadade 1950vamos
encontrar,emWardGoodenough(957),umadefiniçãoda culturaque
permitefazerantropologia"foradas ilhas".Suadefiniçãoda culturaé
muitosimples:"Tudoo queé precisosaberparasermembro".Membro
de quê?Membrode suafamília,mastambémmembrodo caféao lado,
membroda cidadedeCampinas,membrodasociedadebrasileira.Cada
um pertence,às vezesaté semsaber,a múltiplasmicrossociedades,
formaise informais.
A definiçãode culturadadapor Goodenoughé, portanto,ao
mesmotempomuitoelástica(suaescala- senoscolocarmossobreum
cursor- vaido aquie agoradasituaçãoatéasociedadeglobal)emuito
operacional:apenasdizendo"tudoo quesedevesaberparasermem-
bro",vocêspodemcomeçara seperguntarquaissãoasregrasexplícitas
e implícitas,qualé o saberlatentee manifestoquepodemadquirir,de
uma ou de outramaneira,parase sentiremmembrose paraserem,
peranteosmembrosdessacultura,previsíveis.Poder-se-iaassimretomar
paracadagradientedessaescalaa questãodasregrasde inclusãoe de
exclusão,aquelasquefazemdevocêummembroou umnão-membro.
131
Seja,por exemplo,o membrode um bar:bastaque você estejaI1C J
estrangeiropara se sentirridículo.Em Paris,por exemplo,é muilc)
complicadopediraconta.Nãoseconseguechamaraatençãodogarçom.
Eu,deminhaparte,muitasvezesdesenhoumretângulono arparapedir
a conta,e sou agraciadocom o menude sobremesas.Estasregras
implícitasfazemcomquesejamosmembrosou nãodeumbar,deuma
cidade,enfim,deumasociedade.
Vejama esterespeitoo estudode]amesSpradleye BrendaMann,
intituladoLesfemmes,lesbarset Ia culture(1975,1979).Essesdois
sociólogosamericanosinvestiramum barde Minnesotacomose fosse
umapequenasociedadeautônoma.]amesficavado lado dos clientes;
Brendaeragarçonete.Poucoapouco,o quesemostroufoi todaadivisão
sexualdo trabalhono interiorde umasociedadeaindamuitomachista.
O estudodo barvale"parae por si mesmo",masoferecetambémuma
aberturapara a sociedadeglobal que permitea existênciade tais
estabelecimentos.É aquiquea etnografiaminuciosa,masteoricamente
informada,ganhatodaa suajustificação.
Expliqueimuitorapidamentea evoluçãodo termo"etnografia"
paralhesmostrarcomoa suadefinição,durantemuitotempoexótica,
ancoradanum contextocolonialista,chegouhojea umaacepçãoque
permiteutilizaro termoemtodosos lugares,emtodasascircunstâncias
- mascomplenoconhecimentoteóricodecausa.Paramim,aetnografia
hojeéaomesmotempoumaarteeumadisciplinacientífica,queconsiste
emprimeirolugaremsaberver.É emseguidaumadisciplinaqueexige
saberestarcom,comoutrose consigomesmo,quandovocêseencontra
peranteoutraspessoas.Enfim,é uma arteque exige que se saiba
retraduzirparaumpúblicoterceiro(terceiroemrelaçãoàquelequevocê
estudou)eportantoquesesaibaescrever.Artedever,artedeser,artede
escrever.Sãoestastrêscompetênciasquea etnografiaconvoca.
otrabalhodecampoeassuasexigências
Quandonos iniciamosno procedimentoetnográficodentrode
nossaprópriasociedade,épreferívelcomeçarporumcampocujoslimites
132
.CQrrespondamaosdeumlugarpúblicoousemipúblico.NaUniversidade
de Liege,no âmbitode um cursode segundociclo que se chama
"Antropologiada Comunicação",convidomeusalunosa escolherum
campo,dizendo-lhes:"Todocampoé bom,excetoos camposprivados.
Não queroquevocêsvoltemparacasa,parasuasfamílias.É delicado
demais.Sevocêscomeçaremaobjetivarasrelaçõesfamiliares,nuncavão
sabercomoissovai acabar.Queroquevocêsescolhamcamposonde
poderãoir e vir,ao mesmotempono planodasrelaçõescomosoutros
(no sentidomesmodeque,sevocêsvoltaremalimuitasvezes,nãovão
ficar pensando'maso que essecaraestáfazendoaL..') e no plano
psicológicoefísico:sevocêsescolheremumlugardescobertoeestiverem
numacidadechuvosacomoLiege,depoisdecertotempovãoficarcheios
deestarnumlugarpúblicotentandoobservarcomoaspessoascirculampor ali.Devemser,portanto,lugaresconfortáveis,ondevocêsfiquemà
vontade".Emtermosdelugarespúblicos,indico-lhesaindaquetambém
nãoquerolugaresperigosos.Nosprimeirosanos,os estudantescorriam
paraos baresde homossexuaisou paraos "boxons",comose diz em
Liege,ou seja,baresqueexibemmulheresemvitrines.Minhasrecomen-
daçõesiame aindavãono sentidocontrário:"A cidadenãoé isso,não
peguemos aspectoslúgubres,complicados,perigosos,há muitomais
parase ver em outroslugares.A cidadenão se reduza esseslugares
ambíguos,quepertencemmaisà literaturada mídiasobrea cidadedo
queà realidadedela.Queroquevocêsutilizemlugaressimples,comuns,
porqueelesvão revelar-seà análiseterrivelmentecomplexos.Portanto,
bares,restaurantes,estações,piscinas,igrejas,parques,tudo o que
quiserem,contantoquesetratedelugaresfacilmenteacessíveis,contanto
quevocêspossamvoltarali tantasvezesquantasquiserem".
Porque,segundaexigência,é precisoquea observaçãodevocês
possaser sistematizáve1.Vocêsdevempoder dizer:eu volto - por
exemplo,aomeujardimpúblico- todososdias,àmesmahora,durante
umasemana.Em oito dias,escolhereium outromomentodo dia,um
outrodiadasemana.Vocêscomeçarãoassimacontrolarseuolhar.E esse
controledo olharsebaseianumaprimeirasistematizaçãodosmomentos
de observação.Isto quer dizer,em corolário,que vocêsvão tentar
transcrevero que observaramemmapasao mesmotempoespaciaise
133
temporais.Vocês vão tentardesenhartopograficamenteo lugar. Não (-
fácil. Em primeirolugar,porque quasetodosnós perdemoso domínio d()
lápis e do papel - é muito difícil retraduzirem duas dimensõeso que
existeem três.Mas é um exercícioextremamenteútil, ao qual é preciso
voltar muitasvezes,porque ele obriga vocês a se colocarem,por exem-
plo, a ql,!estãodasfronteiras.Sevocêstomaremum jardimpúblico, onde
é que ele começae onde acaba?Se houver cercas,parecefácil. Mas este
nem sempre é o caso. E mesmo quando há cercas,vocês podem se
perguntar:não existeumazona intermediária,umacâmarade eclusa,por
assim dizer, entre a cidade, sua animação,seus passantese o próprio
jardim, que pode aparecercomo uma reserva,um lugar protegido?Não
raro há uma "folga" entre os dois espaços.Tentando desenhá-Io,vocês
dirigirão seu olhar até lá. E a questão dQs contornQsvai se revelar a
vocês como uma questão que mereceser colocada.
Vocês irão tambémtentar,sistematizandoseuprocedimento,fazer
maQastempor:ai~.Vão dizer a si mesmosque a suapiscina,por exemplo,
é na verdadeumareuniãode váriaspiscinasque podemosreduzira uma
única piscina,masque tambémpodemosesticarcomo um acordeãopara
estabelecera sériedelas.Há a piscinadamanhã,a de meio-dia,a da tarde;
há a piscina do domingo, de segunda-feira,de quarta-feira,e assimpor
diante.Vocêsdevemvisualizaro mapadas flutuaçõesem termosde uso,
. em tipos de público, mastambémem sonoridade,em luz, em polifonia.
, É trabalhandona dimensãotemporaldos seus lugaresque vocês conse-
guirão dar-secontade que um lugarespacialmentedefinidoé sempreum
lugar temporalmentedefinido e que as duas dimensõesestãoinextrica-
velmentemisturadas.Os mapassão, portanto,um instrumentoessencial
paraaqueleque querfazerum trabalhoetnográfico.Não há nadade novo
nistoque lhesdigo. Em 1930,a primeirageraçãode estudantesda "Escola
de Chicago" já fazia um trabalhocartográficosob a direçãode Park (cf.
Faris 1970). Eu mesmo tomo explicitamenteemprestadasas minhas
sugestõesde Schatzmane Strauss,Field research:Strategiesfor a natural
sociology(1973).Trata-sede algo,portanto,muito clássico.Mas continua
sendo importante.
A terceiraexigência,a partirdo momento em que estãofazendo
trabalho de campo, é obrigarem-seconstantementea fazer ida-e-volta
134
entIea práticaque estãovivendoe a teoriaque lerãoparalelamente.
Pode-sedizerquetudoo quedescreviatéagoraqualquerbomjornalista
seriacapazdefazer.E éverdadequemuitasinvestigaçõesjornaIísticasse
parecemmuito,aforaalgunsmatizes,compesquisasetnográficas.Tenho
em menteprincipalmenteos longos textosdos jornalistasliterários
americanos,comoJohn McPhee(cf. N. Sims1984).O matizé queos
jornalistasetnográficos- se pudermoschamá-Iosassim- não se
impõemumarelaçãoconstantecoma teoria.Por quedizerisso?Nãoé
simplesmenteparaencaixarosdadosnumareflexãomaisconceitualizan-
te ou, maisambiciosamente,paratentarrompercomo sensocomum,
comoprescrevemBourdieu,Chamboredone PasseronemLemétierde
sociologue(1968).Não,é antesde tudoporquea teoriavai levara ver
maisemaislonge.E nãoéprecisoencher-sedeteoriasparaproduziresse
efeito.Tomoumexemplopreciso.Eu mesirvomuitocommeusalunos
da obra de ErvingGoffman,um sociólogo/antropólogoformadona
Universidadede Chicagoentre1945e 1953,cujaherançaeleassimilou
inteiramente.VocêslêemOsritosdeinteração0967,1974);observamali
umanoçãoprecisae, com essaidéia,voltamao trabalhode campo.
Assim,Goffmanfaloumuitasvezesdo "envolvimento"lCinvolvement).
Para ele, a partirdo momentoem que estamosnum lugarque não
sozinhosemnossobanheiro,a partirdo momentoemqueestamosem
co-presençafísica,sobo olharpossíveldealguém,ousepensarmosestar
sob o olharde alguém,sentimo-nosna obrigaçãode nos projetarno
espaçoconstituídopelapessoae por nósmesmos.E esseenvolvimento
vai fazercom que não tenhamoscertoscomportamentosde ordem
privadae quetenhamosoutros,julgadosadmissíveisempúblico.Mante-
remoso queGoffmanchamadefachada:certamaneirade andar,certa
posturadosombros,certaposiçãodospés,dasmãosetc.Umavezque
estejamosnuma situaçãode interação,estamos,segundoele, sob o
controleuns dos outros.Vocêspodem,então,colocara questão,se
estiveremnumapiscinaou numaigreja,de que tipo de envolvimento
produzemos co-participantes.Talvezeles não estejamem interação
1. A noçãodeenvolvimentoéobjetoprincipalmentedocapítulolI1de Behaviorinpublie
plaees(1963;nãotraduzidoemfrancês),queretomeiem Ia nouvellecommunieation
(Winkin1981,pp.267-278).
135
"centrada".Por exemplo,elespodemterentradosozinhosnumaigreja,
masteremnotadodepoisdecertotempoumasombrapertodoaltar.Para
Goffman,issoé suficienteparamodificaro comportamento.Quetipode
envolvimentoterãoosatorespresentes,queposturafísica,quetensãonos
ombros,queposiçãodasmãos,quecruzamentodepernas?Esteé o tipo
de perguntas,de certamaneiramuitorasteiras,muitoempíricas,quea
reflexãode Goffmanpropõenum primeiromomentoao observador.
Goffmandá muitosexemplosdessa"etologiainteracional",mas em
nenhumdeseuslivrospropôsumaetnografiacompletadeumlugar,de
umainstituição,de umasociedade.De qualquerforma,elefeztrabalho
etnográficoavidainteira.De seustrabalhosdecampo,extraiumúltiplos
pequenosexemplosqueinformaramassuascontribuiçõesteóricas.Cabe
aseusleitoresfazero caminhoinverso,tornarapartirdestasúltimaspara
voltaraocampo,aomesmotempoparaconseguirvermaise maislonge,
mastambém,eventualmente,paratestá-Iase paradefinirseu alcance
heurístico.
Continuemoscomo exemplo.A noçãode envolvimentoacarreta
a de"pára-envolvimento"Cínvolvementshield).O pára-envolvimentosão
todasasestratégiasquevamosutilizarparatentarnãonosenvolver-
comtodalegitimidade.Estamosnumrestaurante;jantamosadois;vemos
chegaralguémquenãoqueremosver.Umavezquenossosolharesse
cruzarem,seremosobrigadosacumprimentá-loCa)comoseestivéssemos
muitofelizescomesseencontro-surpresa.O quenosrestacomoestraté-
gia de não-envolvimento?Colocarmo-nosatrásdo biomboconstituído
pelo outroe nos absorvermosna conversa.Todosjá fizemosisso... É
totalmenteidiota.Masissopodelevarvocêsa seperguntaremcomose
estabelecempára-envolvimentosemseuslugares- restaurante,igreja,
piscina,jardimpúblicoetc.É claroquejornais,árvores,obstáculosfísicos
bastanteevidentesestãomuitasvezesàdisposiçãodosatores,masoutros
sãomuitomaissutis.Por exemplo,no castelode N., quea cadaverão
acolhebrilhantescolóquios,asconversassãosempreanimadas.Questão
crucial:comoentrarou sairdelas?Realizeiumpequenoestudosobrea
questãoháalgunsanos,comumcolegaamericanoCLeeds-Hurwitz/Win-
kin 1992).Naspausasparao café,todossaíamdo casteloe algunsiam
sentar-senos murinhosda pontequeatravessaos fossose mantinham
136pequenasconversas.Parachamaros participantesde volta,o diretor
mandavatocarumsinoatravésdo castelo.Sevocêquisessesentar-seao
ladode alguémdurantea sessão,deixavadesfilaremos participantesà
sua frente.Quando a pessoaescolhidapassasse,você se levantava
naturalmentee a seguiadeperto,iniciandoumaconversa,por exemplo
comumsuspiro:"maisduashoras..." Masse,pelocontrário,umapessoa
indesejávelo tivesseagarradodepassagem,vocêaindatinhaapossibili-
dadede"selivrar"delaantesdeseversentadoaoseulado.De fato,no
momentodeentrarnocastelo,umpontodeestrangulamentoobrigavaos
participantesaentraremfilaindiana:aportaduplaestavasempresócom
umdosbatentesaberto.Vocêpodia,então,deixareducadamentepassar
primeiroo inoportunoe esperarqueatrásdevocêchegasseumapessoa
maisagradável.Vocêa deixariapassardamesmaforma,mascomeçaria
imediatamenteaconversarcomela.Vocêseservia,porassimdizer,dessa
espéciedetorniquetequesãoosbatentesfechadoeabertodaportapara
sedes-envolvere sere-envolver.
Todosnósvivemossituaçõescomoessaetodosnóssomosmestres
na artede administraressaspequenascoisasdavidado dia-a-dia,que
parecemde somenosmasque,paraGoffman,sãoessenciaisparauma
boagestãodavidasocial.Emsuaperspectiva,a ordemdainteração,ou
seja,a gestãodessesminibalésque todosnós realizamosem nossas
interaçõesé a ordemsocialno nívelinteracional.A ordeminteracionalé
umadasmodalidadesdaordemsocialinteira.Comofuncionaa socieda-
de,segundoele?Funciona,e elenãoo nega,nasrelaçõeseconõmicas,
nasrelaçõessociais,nasestruturasde classeetc.,masfuncionatambém
na interação.Toda infraçãoda ordemde interação,todarupturadas
regrasqueregemainteraçãosãoigualmenterupturasdaordemsocial(cf.
Goffman1988).Estaé umarespostaà perguntacrucial:que devemos
fazerparasabercomoaspessoasseservemdasportas?A observaçãoda
vidacotidianapodeparecertãobanal,tãoanódina,tãogratuitaquenão
mereçaquelhedediquemosumsemestredepesquisa,emenosaindaum
trabalhode tese.Issocontinuasendoverdadeenquantonãofizermosa
passagementreumapráticade campo,comoa queestourapidamente
descrevendo,e umateoriacomoadeGoffman.Mas,umavezquevocês
seempenhememfazerumtrabalhodecampoquenãodescambeparaa
137
passagementre uma práticade campo, como a que estou rapidamente
descrevendo,e uma teoriacomo a de Goffman,Mas, umavez que voc0s
se empenhemem fazerum trabalhode campo que não descambepara ;1
descriçãogratuita,que procure construir seus quadros de percepção <l
partirde empréstimostomadosaos trabalhosteóricosde um ou de outro
sociólogo ou antropólogo,vocêsconservamsuaentradade pleno direito
no universo da pesquisa em ciências sociais. Isso no que se refere ao
papel da teoria.
Asfunçõesdodiário(diary)
Como administrarsimultaneamenteobservações,leituras,reflexões
e frustrações?Tão logo cheguemao campo,vocêsdevemsecomprometer
a ter um diário (diary).Todo antropólogolhes dirá que seu instrumento
de pesquisaessencialé o diário. Um diário escritoem duas colunas: a
coluna da direitaé paravocês,a coluna da esquerdaé paraassucessivas
releiturase para os comentários.Um diário mantidocom muita regulari-
dade, todas as noites, com uma disciplina que acaba tornando-se tão
naturalquantoa de umviciadoemjoggingquenão conseguedispensá-Io.
Quando voltarparacasa,exasperadocoma metadedo dia passada
no jardim,onde essaespéciede louco mansoveio muitasvezesfalarcom
você, você diz isso.É preciso que o diário tenhauma função<::.ªt;Í!!ica.É
o que Schatzmane Strauss(1973)chamamde função emotivado diário.
Atacou-se injustamenteMalinowski quando o acusaramde racismo por
ocasião da publicação de seu diário íntimo (Malinowski 1967,1985),Se
publicassemnão importaqual diário de antropólogo,descobrir-se-iaque
elessãoescandalosamenteracistas- pelo menosmuitosdeles.É preciso
que o diário sejaprivado,que sóvocêstenhamo direitode lê-Io e relê-Io.
São, por assim dizer, notas.de psicanalista;não devem sair de seu
consultório. A relação entre vocês e os seus diários é um trabalho de
controle da contratransferência.O diário será o lugar do corpo-a-corpo
consigo mesmos,anteo mundo social estudado.
A segunqafunção do diárioé~111J2íriC:!l.Nele vocêsanotarãotudo
o que chamar a sua atenção durante as sessõesde observação.Não
138
queasnoçõesteorizadasdeGoffman(ou outros),que"armam"o olhar,
vãoproduzirplenamenteseusefeitos.Numprimeiromomento,vocês
anotarãomuito,demaneiradescabelada- e issoémuitobom.Masnum
segundomomento,umtantoexaustospeloesforçorealizado,vãorecor-
rer a um procedimentomaisanalítico,que exigemenosesforços,e
finalmentemaiseficazem suascolheitade dadospertinentes.Num
terceiromomento,com a penamaiságil,vocêschegarãoa escrever
muitíssimorapidamente,parasurpresadevocêsmesmos.
A terceirafunçãododiárioéreflexivaeanalítica.Vocêsvãoreler-se
regularmentee fazeranotações(à esquerda).Umarecomendaçãozinha:
escrevamcom tintasde coresdiferentes,paraconstituir"estratos"ao
longo dos meses.Aos poucos,verãosurgiremregularidades,que os
americanoschamamdepatterns,queoscanadensesdoQuebectraduzem
no seufrancêsporpatternese nóstentamostraduzirpor configurações.
Sãorecorrênciascomportamentaisquenos levama falaremtermosde
r~!as, quandonão em termosde códigos.Na verdade,trata-sede
impressõesde regularidades,àsclarasou emfiligrana(coisasquenão
aparecemsãotalveztãoimportantesquantoasqueaparecem).Quando
escreveremseurelatóriofinal,retomarãoessessurgimentosde "regras"
paraproporenunciadosdenaturezageneralizante.
Os estudantesa quempropusessemétododetrabalhoaparente-
mentemuitotrabalhosomuitasvezestentamescapardele levandoa
campoum gravador,umamáquinafotográficaou atéumacâmerade
vídeo.Eusempreosdesencorajo.A observaçãodeveprimeiropassarpelo
!!?palhoa olho nu,pelasanotaçõesfeitasmaisou menosàspressasem
campoe pelaslongasreescriturasno diário,ànoite,àbeirado fogo...Só
muitomaistarde,bemestabelecidosemseusítio,vocêspoderãoeven-
tualmentegravarseusdados.RayBirdwhistell,formadonosanos40pelo
DepartamentodeAntropologiadaUniversidadedeChicago,foiquemme
formounessetipodetrabalhoetnográfico,naUniversidadedaPensilvâ-
nia,nadécadade1970.Nãoqueriaquetrabalhássemoscomumacâmera
ou commáquinafotográfica,dizendoqueaquiloera,parausarassuas
expressões,ora um aspirador- coletamosos dadossemsabero que
aspiramos,ficamoscom uma bolsa cheia deles,exibimo-Iose não
sabemoso quefazercomeles-, oraumpreservativo:vocêsseprotegem
139
do perigo;sentem-seà vontadepor trásda câmera,é umamaneirade
nãoestarrealmentecaraa caracomo outro,e issoameaçaarruinaro
, trabalhodecampodevocês.Paraele,e retomeiesteprincípioemminha
docênciaeemmeuprópriotrabalho,nadadecâmera,nadadegravação,
vamosa elesemescafandro,armadosapenasde umacanetae de uma
caderneta.
Maistardiamente,seráeventualmenteprecisorealizarentrevistas.
A formaçãoparao procedimentoetnográficopassaprimeiropelaobser-
vação,que, aliás,não devenecessariamenteser participante.Não é
porquevocêestáfazendoumestudosobrea vidasocialde umbarque
vocêtemdesergarçomdebar.É precisosimplesmenteestarali,viverno
ritmodobar.Nãohánecessidadededesempenharumpapelprofissional
no lugarestudado.Namesmalógica,sónumsegundomomentovocêvirá
talveza realizarentrevistas,paratentarreconstituirapercepçãodo lugar
por meio de seusdiferentesusuáriosprofissionaisou amadores.Não
devemosenvolver-noscedodemaisnumasériedeentrevistas;maisvale,
a meuver,termosnósmesmoschegadoaumacertaperspectivasobreo
lugarurbanopesquisado do queconseguirlogode saídacertaschaves
daquelesqueo conhecembeme àsvezesatébemdemais.2
Mencioneio quesedevefazersempre:o diário;o quese deve
fazeràsvezes:fotografias;gostariaporfimdedizerumapalavrasobreo
que,a meuver,nãosedevefazernunca:_observªçãoescondida.Tentar
"esconder-se"paramelhorver. Isso não funciona.Acabarãosempre
vendovocê,vocêacabarásempresendoexpulso.Tambémnão usem
nuncaumdisfarce,umpapel,pensando:seriamelhorseeufingisseser
um professorde nataçãona piscina,um sacristãona igreja... não.
Negociemseusestatutoscomos outros,obriguem-sea estardentro,a
jogaro jogo,a nãoenganaros membros"naturais"dolugar.Esteé ao
mesmotempoumproblemametodológicoeumproblemadeontológico.
Nãosebrincacomaspessoas.Pontofinal.
2. Seriaprecisodedicarumaatençãomuitomaiorà questãoda entrevistaetnográfica.
Limitar-me-eiaquiaestaspoucasobservações,porqueseriaprecisofazerumaescolha:
preferiinsistiremalgunsaspectos(aescolhado campo,a organizaçãodo jornal etc.)
queosmetodólogos"qualitativos"têmmuitasvezestendênciaa negligenciar.
140
Issoquantoaosgrandesprincípios.Faltatentarresumirasdificul-
dadescomquesedeparaamaiorpartedosestudantesqueestréianesse
tipodeabordageme assoluçõesquenãorarosãopossíveis.Parece-me,
maisumavez,queo trabalhoetnográficonãoéumtrabalhosimples,mas
tampoucoé algoqueexijaanosdeformação.Podemosaprendermuito
graçasa nossasprópriastentativase erros,é claro,mastambémgraçasa
antropólogosquerelatamsuasprópriasexperiênciasdecampo.3
Primeirasdificuldades,primeirassoluções
A primeiradificuldadeque surgeno trabalhode campoé a
constatação:"Masnãoestouvendonada!"Sim,hámuitagentenadando,
pessoasatravessandoa praça... e daí?Vocêsprovavelmentenãoverão
nadademuitointeressante,demuitooriginal.Provavelmente,aprimeira
reaçãode vocêsserá dizer: "Vou mudarde orientação,fazer outra
coisa...". Podesertambémquevocêsnãodesistamimediatamente,mas
inventemdesculpas,todasaceitáveis,umasmaisdo queasoutras:"Vou
primeiroterminartal trabalho,depois... etc.".É o que o dicionárioLe
GrandRobertpermitechamarde "procrastinação"(do latimeras:dia
seguinte).
Existeaindaumaoutramaneiradesefurtar,muitomaissutil.Consiste
em se introduzirnumpapel,a priori legítimo,masqueos impedirána
verdadedeencararo trabalho.Paranosiniciarnoprocedimentoetnográfi-
co, Birdwhistellpedia-nosum textosobreuma famíliadesconhecida.
Devía"mostrocarendereçosentreos alunose negociarnossaentradana
família,maisou menoscomose negociaa entradanumasociedade.
Birdwhistellqueriaumlevantamentotopográficodasala.Queriaquenos
obrigássemosassimanosexplicarsobreumpedidoaparentementeridícu-
lo,tantoperantenósmesmosquantoperanteafamíliaquenosobservava.
A escapatória- sobretudonomeucaso,estudanteestrangeiro- consistia,
tão logo a famíliame davaoportunidade,em passarparaas minhas
3. Sãocadavezmaisnumerosasaspublicaçõesdenarrativasdeexperiênciasdecampo.
Limitadadurantemuitotempoa algunstextosquasemíticos(por exemplo,Bowen
1954),essalistaé hojequaseilimitada.CitemosapenasFreilich(1970).
141
impressõesamericanas,sobreaBélgicaetc.Eunãofaziao meutrabalhode
campo,ao mesmotempoem que diziaparamimmesmo:"Estoume
relacionando,ótimo...".Duashorasmaistarde,continuavasemtermapas.
Tudosepassavacomoseeudissesseaosmembrosdafamília:"Porfavor,
nãomedeixemfazero meutrabalho,peçam-mequeeucontinueafalarda
Bélgica.É muitomaisagradáveldo quefazeressemalditotrabalhode
topografiada sala de vocês...". Semdúvida,Os lugarespúblicosou
semipúblicosurbanoscaracterizam-semaispelataciturnidadedo quepela
prolixidade.Corremospoucorisco,a não serem certosbares,de nos
ofereceremaoportunidadedeumconviteparaconversaredeassimmudar
depapel.Maso papelsituacionaldolugarquevocêsestudam(nadarnuma
piscina,lernumabiblioteca,rezarnumaigreja...) poderiaparecer-Ihesmuito
sedutor...
Diantedessasfugas,váriassoluçõessão possíveis.A primeira
consisteem se dar contadelas,escrevendo-asno diário, e em se
tranqüilizar,sabendoquese tratade umaetapamuitonormalna fase
inicialdeentradano trabalhodecampo.Todospassarampor isso.
A segundamaneiradelevá-Iosapermanecernocampoeacomeçar
a ver"algumacoisa"neleconsisteem[azermap<ls,~squemas,pequenos
desenhos.Comoaspessoassesentamnosbancos,quaissãoasposições
doscorposnapiscina?Façamumaespéciederepertóriodoregistrocorporal
ciisp9I1íveInumapiscina.Perguntem-setambém:atéondese podeir no
registrocorporal"praia"numapiscinaabertaoucoberta?Quaissãoaspartes
do corpoquesãomostradas?Quaisnãosãomostradas?Comqueidade?
Quaissãoosautocontatos,osalocontatospermitidos,ou pelomenosque
podemsernotados?etc.Voltemparacasa,completemseusmapas,escre-
vamseudiário,masnãoescrevamdemais,nãovãologode saídaatéo
fastídio.Seaescrituraforpenosademais,111anci~1l!u111açartaaseucolega.
Obriguem-sea se correspondercomregularidade.Vocêsdevolverãoas
cartasnofinaldotrabalhoeterãoseudiário.MargaretMead,aliás,mantinha
rigorosamenteseudiário,aomesmotempoemqueescreviaquantidades
de cartas,dasquaisextraiumaistardeum livro,intituladosimplesmente
Lettersfromthefield(M.Mead1977).
A segundadificuldadeéparalelaàprimeira:vocêscorremo riscode
não se sentirbemconsigomesmos.Vãose sentirno campocomoum
142
voyeur, inútil, inoportuno,estúpido.Maisumavez, não se escondam.
Estejamalie eventualmenteo digam:estãofazendoumtrabalhoparaesta
ou aquelainstituição.Vocêsnãosãojornalistasneminspetoresdepolícia.
Tranqüilizemaspessoase tranqüilizem-se.Aindae sempre,escrevamsuas
"~n~stias"no diário,prendam-senos primeirostemposa objetivações
fáceis(mapasde lugares,evoluçãodasfreqüênciasetc.).Aos poucos,o
lugarIhesparecerámenos"agressivo"oumenosdesinteressante.Osdados
vãoentraremquantidadescadavezmaisconsideráveis- a tal pontoque
surgiráumaterceiradificuldade:Quefazercomtodasessasanotações?É
nesseestádioqueentramasreleiturassucessivasdo diário,comvistasa
demarcarpatterns,comovimosanteriormente.É tambémnesseestádioque
o etnógrafosetornaliteralmenteumescritor.Tarefatemível.
No início da décadade 1980,certonúmerode antropólogos
americanose francesesdeclararam:a antropologiaé - exagerandoum
pouco - em primeirolugar escritura.O que faz um antropólogo
profissionalmente?Escrevea suaexperiênciadecampo.Senãoescrever,
por maisque tenhaestadoem campo,issonão contará.Assimé que
Clifforde Marcus(1986),Geertz(1988)ou Brady(1991)obrigarama
comunidadeantropológicaa refletirsobreesteaspecto"poético"da
disciplina,a tentarçiepreenderascaracterísticasdo "gênero"etnográfico.
Por exemplo,umaespéciedeprincípiodetransparênciaparecetersido
tomadoemprestadoao gêneroromanescorealista:o antropólogoextrai
elementosbrutosde seudiárioe os reinserecomotaisemseurelatório
final,aomesmotempopor razõesretóricas,mastambémporrazõesde
demonstraçãocientífica.A revolução"textualista",comofoi chamada,
semdúvidalevoumuitosantropólogosa tornarem-senarcisistas(Sanjek
1991),mas teve pelo menoso méritode tê-Iosfeito deixarde ser
ingênuos.Até 10ou 15anosatrás,quandosefaziaetnografia,aindase
podiaacreditarqueos dadostinhamumatal forçaquefalavampor si
mesmos;o leitortinhaapenasde se deixarlevarpelacorrente.Hoje,
reconhece-seque a capacidadeou a incapacidadede escreverpode
modificarradicalmentea percepçãoda realidadedo trabalhorealizado.
O treinamentoparaaescrituracomeça,assim,afazerparteintegranteda
formaçãoantropológica.Abre-seaquium outrodebate:se a escritura
constituium taldesafio,podeum inicianteenfrentá-Io?Semtertempo
143
para responder à perguntacom um pouco de vagar,responderei sem
hesitarpela afirmativa.Aprende-sea escritura:pela leitura,pela imitação,
pela prática- por sua transformaçãoem habitus,se ousarmosexprimir-
nos assim.Não é que sejaprecisoimitaro "estilo"de ClaudeLévi-Strauss,
Michel Leirisou StanleyDiamond;é precisoantesde tudo terconsciência
da dimensãopacientementeconstruídados trabalhosdeles. A partir de
então,é possívelcultivarnossaprópria escritura.
Etnografiadacidadeouetnografiana cidade?
Falta-metentar responder ao que para mim constitui a questão
espinhosa do trabalho de campo. Deve o campo ser considerado um
mero lugaronde podemosobservara comunicaçãoemação,ou deveser
encarado como um contexto sem o qual essa comunicação sequer
apareceria?Quando eu lhes propus observarcomo as pessoasse exibem
à beira da piscina,produzem certotipo de envolvimentoou se valemde
pára-envolvimentos,eu estavasugerindo a vocês que utilizassemesse
lugar como uma espécie de reservatóriode comportamentos.Outros
"reservatórios"poderiamserexploradosparaestudaressesenvolvimentos
e outrasexibições de intenção.Mas estareieu tão certo disso?Não são
essescomportamentosà beirada piscina~specíficosdesselugar,que por
assim dizeros "produz"? Podemos reencontrá-Iasem outros lugares
públicos e semipúblicos?Pertencempropriamenteà esferapública?Não
ocorrem também em família? Os pára-envolvimentos,por exemplo,
existem também no interior da esfera privada da família. Abre-se a
perspectivaparaamplosestudoscomparativos...Minha respostaé menos
teóricado que operacional.Digo aos meus alunos: "Comecemfazendo
um trabalho bem circunscrito,utilizem seu lugar como um reservatório
de comportamentos.Pouco a pouco, surgirácertaordema partirde seus
dados e, paraalém disso,dos diferentestrabalhosde vocês,porque - e
mais uma vez, emprego aqui um princípio goffmaniano - a ordem
interacionalé tambémuma das modalidadesda ordem social. Trabalhar
sobre as interaçõesé infine trabalharsobre a sociedadeinteira".
144
Masissosuscitaumaoutraquestãoigualmentecomplexa.Estáo
ulliversalbem no coraçãodo particular?A respostapositivaa esta
perguntaconstituio fundamentodo trabalhoetnográfico.Se vocês
estudaremcombastanteminúciaummeio,umgrupo,umasituação,logo
extrairãomuitasregularidadesquefundamesseconjuntoparticular.Ora,
essasregularidadespertencemà comunidadeou à sociedadeglobal.É
esseprincípioquefundaigualmenteo trabalholingüístico:quantomais
pxecisossomos,maisestamosem condiçõesde generalizar.Entramos
aquinumdebatequeéaomesmotempodeordemepistemológica(que
teoriado socialutilizamosparaproporumatalrelaçãomicro/macro?)e
de ordempessoal:acredita-seno trabalho"clínico"ou nãose acredita.
Estaé a únicarespostaquetereiparaconcluir.Pessoalmente,creiona
pertinênciado procedimentoetnográfico.Os trabalhosque ele pode
produzir estãolonge de ser meras"monografiasde aldeias",como
disseramalguns(sobretudona França).Ele permiteapreendero social
comtodoo respeitoquelheédevido- e comtodoo prazerquedele
podemosretirar.
145
BIBLIOGRAFIA METODOLÓGICA
L Os relatosautobiográficosde pesquisaantropológicapodemserúteis
no que diz respeitoa uma iniciaçãometodológica:
ANDERSON,BarbaraGallatin(1990).Firstfieldwork:1bemisadventuresofan
anthropologist.ProspectHeights,I1linois,WavelandPress.
BARLEY, Nigel (1983).1beinnocentanthropologist:Notesfrom a mud hut.
Londres,Penguin(trad.fr.: Unanthropologueendéroute.Paris,Payot,
1992).
___ o (1986).A plague of caterpillars:A return to the african bush.
Londres,Penguin(trad.fr.:Le retourde l'anthropologue.Paris,Payot,
1994).
___ o (1988).Nota hazardoussport.Londres,Penguin.
BELL,Diane;CAPLAN, Pate KARIM, Wazir(orgs.)(1993).Women,menand
ethnography.Londres,Routledge.
BETEILLE,André e MADAN, T.N. (orgs.)(1975).Encounterand experience:
Personalaccountsoffieldwork.Delhi,Vikas.
BOWEN, ElenoreS. (1954).Returntolaughter.NovaYork, HarperandRow.
147
BRADBURD, Daniel(998), Beingthere:Ibe necessityoffieldwork.Washing-
ton,DC: SmithsonianInstitutionPress.
CASSELL,Joan (1987).Children in thefield: Anthropologicalexperiences.
FiladélfIa,TempleUniversityPress.
CESARA,Manda (1982).Reflectionsof a woman anthropologist:No hiding
place.NovaYork,AcademicPress.
CLASTRES,Pierre(972). Chroniquedesindiensgl.layaki.P,uis,Plon.
CONDOMINAS, Gearges(965), L 'exotiquepstquotidien.Palis,Plon.
DE VITA, Philip R.Corg.)Cl991).Ibe nakedanthropologist:Talesfromaround
theworld.Wadsworth.
FOWLER, Don D. e HARDESIT, DonalclL. Corgs.)(994). Othersknowing
others:Perspectiveson ethnographiccareers.Washington,D.C.,Smith-
sonianInstitutionPress.
FREIUCI!, Monis Corg.)(1970).Marginal natives:Anthropologistsat worn
NovaYork, HarperanelRow.
GEERTZ, Clifford (995), A/ter thefact: Two countries,four decades,one
anthropologist.Cambridge,HarvarelUniversityPress.
GHOSH, Amitav(994). Un infideleenEgypte.Paris,Seuil.
GOLDE, Peggy (970). Womenin thefield: Anthropologicalexperiences.
Chicago,AldinePublishingCO.
HAMMOND, PhillipE. Carg.)(964). Sociologistsatwork:Essaysonthecraftof
socialresearch.NovaYork, BasicBooks.
HASTRUP,Kristen.Apassagetoanthropology:Betweenexperienceand theory.
Londres,Routleclge.
HOBBS, Dick e MAY, Tim Corgs.)(993). Interpretingthefteld:Accountsof
ethnography.Oxford,ClarendonPress.
]AULIN, Robert.(971). IA mortSara.Paris,PIoR>
D.G. e GUTKIND, W. (orgs.) Anthropologistsin lhe
York, HumanitiesPress.
KULICK, e Margar~t(orgs.)(1995). sex,identityand
f?'f'Oticsubjeetivityin anthropologicalfieldwork. Routledge
148
,,",,,,_.,,..- w
IAREAU, Annettee SHULTZ,]effrey(orgs.)(996).Journeysthroughethno-
graphy:Realistieaeeountsoffieldwork.WestviewPress.
LÉVISfRAUSS, Claude(955). Tristestropiques.Paris,Plon.
MALAURIE,]ean (976).Lesderniersroisde Tbulé.Paris,Plon.
MEAD, Margaret(972). Blaekbeny winter:k{yearlieryears.Nova York,
Morrow (trad.fr.:Du givreSUl' lesronees.Paris,Seuil,1977).
___ o (977). Lettersfrom lheField, 1925-1975.NovaYork, Harperand
Row.
MESSERSCHMIDT,DonaldA. (org.)(981).Anthropologistsat homein North
Ameriea:Methodsand i.mtesin thestudyofone'sownsoeiety.Cambrid-
ge,CambridgeUniversityPress.
OKELY,Judith e CALLAWAY,Helen(orgs.)(992).Anthropologyand autobio-
graphy.Londres,Routledge.
OKELY,Judith (996). Own and othereulture.Londres,Routledge.
POWDERMAKER, Hortense(966). Strangerand friend: T7Jeway of an
anthropologist.NovaYork, Norton.
PRICE,Richarde PRICE,Sally(1992).Equatoria.Londres,Routledge.
RABINOW,Paul (988). Unethnologueau Maroe.Rijlexionssur uneenquête
deterrain.Paris,Hachette(traduzidodo inglês).
REED-DANAHAY,DeborahE. (org.)(997).Autolethnography:Rewritingthe
se!!and thesocial.Oxford,Berg.
SMITH,CarolynD. eKORNBLUM,William(orgs.)(989)./n thefield:Readings
on thefteld researehexperienee.NovaYork, Praeger.
SPINDLER,GeorgesD. e SPINDLER,Louise(orgs.)(970).Beingan anthro-
pologist:Fieldwork in eleveneultures.Nova York,·Holt, Rinehart&
Winston.
VIDICH, Arthur; BENSMA.l~,]oseph e STEIN, Maurice R. (orgs.) (964).
Rifleetionson eommunitystudies.NovaYork, Wiley.
WAX, Rosalie(971).DOingfieldwork: Warningsand adviee.Chicago,The
Universityof ChicagoPress.
14q
WHITEHEAD, TonyLanye CONAWAY,MayEllen(orgs.)(986).Self,sexand
gender in cross-culturalfteldwork.Urbanae Chicago,Universityof
Illinois Press.
WOLF, Diane L. e DEERE,CarmenDiana (orgs.)(996).Feministdilemmas
infieldwork.WestviewPress.
lI. Entre os manuaismaisconhecidose maisacessíveis,pode-se citar:
AGAR, MichaelH. (980).7beprofessionalstranger:An informalintroduction
toethnography.NovaYork, AcademicPress.
BEAUD, Stéphanee WEBER,Florence(997).Cuidede l'enquêtedetermino
Paris,La Découverte.
BECKER,Howard S.(986).Writingforsocialscientists.Chicago,The Univer-
sityof ChicagoPress.
BECKER, Howard S. (998).Tricksofthe trade:Howtothinkaboutresearch
whileyou 'redoingit.Chicago,The Universityof ChicagoPress.
BERNARD, RussellH. (988).Researchmethodsin cultural anthropology.
NewburyPark,Sage.
BERTAUX,Daniel(997).Lesrécitsdeme.Paris,Nathan,col. "128".
BOGDAN, Roberte TAYLOR, Steven]. (997).lntroduction to qualitative
researchmethods:7besearchfor meaning.NovaYork, Wiley (Si! ed,).
BURGESS,R. G. (org.)(982).Fieldresearch:A sourcebookandfield manual.
Londres,G. Allen and Unwin.
CAR SPECKEN, Phil Francis (1995). Critical ethnographyin educational
research:A theoreticalandpracticalguide.Londres,Routledge.
CHISERI-5'IRATER,Elizabethe SUNSTEIN,BonnieStone(997).Fieldworking:
Readingand writingresearch.Prentice-Hall.
CICOUREL,Aaron(1964).Methodand measurementin sociology.NovaYork,
The FreePress.
ISO
CRANE,Julia G. e ANGROSINO, MichaelV. (orgs.)(974). Fieldprojectsin
anthropology:A studenthandbookMorristown,NJ, GeneralLeaming
Press.
DENZIN, Nonnan e UNCOLN, Yvonna S. (orgs.) (1994).Handbook of
qualitativeresearch.ThousandOaks,Sage.
OOUGLAS,Jack D. (1976).Investigativesocialresearch:Individualand team
fteld research.BeverlyHills, Sage.
EILEN,R.E (org.)(984). ahnographicresearch.A guidetogeneralconduct.
Londres,AcademicPress.
EMERSON,RobertM. (988). Contemporaryfteld research:A collectionof
readings.WavelandPress.EMERSON,Robelt M., FRETZ, Rachei1.e SHAW,Linda J.-. (1995).Writing
ethnographicfieldnotes.Chicago,The Universityof ChicagoPress.
FETfERMAN, DavidM. (989).Ethnographystepbystep.NewburyPark,Sage.
FIL~TEAD,W.J. (1970).Qualitatiuemethodology:Firsthandinvolvementwith
thesocialworld.Chicago,Markham.
FlNNEGAN, Ruth (1992).Oral traditionsand the verbalarts.A guide to
researchpractices.Londres,Routledge.
GLAZER, Bamey e STRAUSS,Anselm (967). Yhe discoveryof grounded
theory.Chicago,Aldine.
GRILLS,Scott(org.)(1998).Doing ethnographicresearch:rz.eldworksettings.
NewburyPark,Sage.
GUBRIUM,Jaber (1988).Analyzingfteldreality.NewburyPark,Sage.
HABENSTEIN, RobertW. (org.) (1970).Pathwaystodata:Field methodsfor
studyingongoingsocialorganizations.Chicago,Aldine.
HAMMERSLEY,Martyne ATKINSON, Paul (1993).Ethnography:PrincipIesin
practice.Londres,Tavistock.
HENDERSON,Neil J. e VESPERI,MariaD. (orgs.)(995).Ybecultureof long
termcare:Nursinghomeethnography.BerginandGarvey.
]ACKSON, Bruce(987).Fieldwork.Urbana,Universityof IllinoisPress.
JOHNSON, John M. (1975).Doingfteldresearch..NovaYork, The FreePress.
151
]ORGENSEN, Danny L. (989),Participantobservation:A methodologyfor
humanstudies.NewburyPark,Sage.
]UNKER, BufordH. (960).Fieldwork:An introductiontothesocialsciences.
Chicago,The Universityof ChicagoPress.
KUTSCHE, Paul (997).Field ethnography:A manual for doing cultural
anthropology.Prentice-Hall.
LAPASSADE,Georges(991).L'ethnosociologie.Lessourcesanglo-saxonnes.
Paris,MéridiensKlincksieck.
LAPLANTINE, François(996).Ia descriptionethnographique.Paris,Nathan,
col. "128".
LOFLAND,]ohn (976).Doingsociallife.NovaYork, Wiley.
LOFLAND, ]ohn e LOFLAND, Lyn H. (984).Analyzing social settings.
BeImont,Califómia,WadswOlth(2ªed.).
McCALL,George].e SIMMONS]'1.(orgs.)(969),IssuesinparticijJantobserva-
tíon:A textand a reader.Reading,Massachusetts,Addison-Wesley.
NAROLL, Raoul e COHEN, Ronald(orgs.)(970).Handbookof methodin
culturalanthropology.NovaYork, ColumbiaUniversityPress.
PELTO, Pertti]. e PELTO, GreteIH. (978).Anthropologicalresearch:Ibe
structureof inquiry.NovaYork, CambridgeUniversityPress.
PIETfE, Albert(1996).Ethnographiedel'action.L'observationdesdétails.Paris,
Métailié.
RYNKIEWICH, MA e SPRADLEY,]amesP. (orgs.)(976).Ethicsand anthro-
pology:Dilemmasinfieldwork.NovaYork, Wiley.
SAGE QUAIlTATlVE RESEARCHMETHODS. Cerca de 40 volumes de 96
páginasou menos(apenasalgunstítulosforamretomadosnapresente
bibliografia).
SAN]EK,Roger(org.)(990).Fieldnotes:Ibe makingsofanthropology.Ithaca,
ComeUUniversityPress.
SCHATZMAN,Leonarde STRAUSS,AnseIm(973).Field research.Strategies
for a naturalsociology.EnglewoodCliffs,NJ, Prentice-Hall.
SCHWARTZ,Howarde]ACOBS,]erry(979).Qualitativesociology:A method
tothemadness.NovaYork, The FreePress.
1'12
SPEIER, Matthew (973).How to observeface-toface communication:A
sociologicalintroduction.PacificPalisades,GoodyearPublishingCo.
SPINDLER, Georges e Louise (orgs.) (987).Interpretiveethnographyof
educationathomeand abroM, Hillsclall,N], LawrenceErlbaum.
SPRADLEY,]ames P. (979).Ibe ethnographicinterview.Nova York, Holt,
RinehartandWinston.
____ o (980).Participant observation.Nova York, Holt, Rinehartand
Winston.
SPRADLEY, ]ames e Mc CURDY, David W. (orgs.) (1972). Ibe cultural
e:x:perience:ethnographyin a complexsociety.Chicago,ScienceRe-
searchAssociates.
SlRINGER, ErnestT.; AGNELLO, Mary Francese BALDWIN, SheilaCona
(orgs.)(997).Communitybasedethnography:Breaking traditional
boundariesof research,trainingand learning.Hillsclall,NJ, Lawrence
Erlbaum.
WHYfE, WilliamF. (981).Learningfrom thefield:Aguidefrom e:x:perience.
BeverleyHills, Sage.
WOLLOTI, Hany F. (994). Transformingqualitativedata: Description,
analysisand inte1pretation.ThousandOaks,Sage.
___ o (995).Ibe artoffieldwork.AltamiraPress.
WOODS, Peter (997).Researchingthe art of teaching:Ethnographyfor
educationaluse.Londres,Routledge.
IH. Numerosos são os textos recentesque insistemsobre a dimensão
narrativa/textualdo empreendimentoantropológico,como:
ADAM, ]ean-Michel; BOREL, Marie-]eanne;CALAME, Claude e KILANI,
Mondher(990).Lediscoursanthropologique.Description,narration,
savoir.Paris,MéridiensK1incksieck.
AGAR, Michael(986).Speakingofethnography.BeverlyHills, Sage.
153
ATKINSON,Paul(990). 7beethnographieimagination.Textualeonstruetions
of reality.Londres,Routledge.
. (992). Understandingethnographietexts.NewbutyPark,Sage.
BEHAR, Ruthe GORDON, DeborahCorgs,)(995), Womenwritingeulture.
Berkeley,Universityof CalifomiaPress.
BENSON,P.Corg,)(993). Anthropologyand literature.Urbana,Universityof
IllinoisPress.
BRADY, Ivan Corg.)(991). Anthropologiealpoeties.Savage,Maryland,Row-
man& LittlefieldPublishers.
BRETIELL, CarolineB. Corg.)(993), Wbentheyread what we write: 7be
palitiesofethnography.Bergin& Garvey.
CAPPEm, Cada(993). WritingChicago:Modernism,ethnographyand the
noveloNovaYork, ColumbiaUniversityPress.
CLIFFORD, ]ames e MARCUS, GeorgeCorgs.)(986). Writingeulture:7be
poetiesandpolitiesof ethnography.Berkeley,Universityof Califomia
Press.
CLIFFORD, ]ames (988). 7bepredieamentof eulture: Twentieth-eentury
ethnography,literatureand ar!.Cambridge,HarvardUniversityPress.
___ o (997). Routes:TraveIand translationin thelatetwentietheentury.
Cambridge,HarvardUniversityPress.
COMMUNICA7JONS(994)."L'écrituredessciencesde l'horrune",nº 58.Paris,
Seuil.
DENZIN, Norman K. Corg,)(996). Intetpretiveethnography:Ethnographie
praetieesfor the21steentury.Sage.
ELLIS,CarolyneBOCHNER,ArthurP.Corgs.)(996). Comparingethnography:
Alternativeforms ofqualitativewriting.AltamiraPress.
ESPACES 1EMPS (991). "La fabriquedes sciencessociales.Lecturesd'une
écriture",nQ!!47/48.
E1VDESRURALES(985). "Letexteethnographique",janvier-juin,nQ!!97-98.
FARDON, RichardCorg.)(990). Loealizingstrategies:Regionaltraditionsof
ethnographiewriting.Edimburgo,ScottishAcademicPress.
1 "i)
GEERTZ, Cliffard (1988). Worksand lives:Tbe anthropologistas author.
Stanfard,Califómia,StanfordUniversityPress.
GUPTA, Akhil e FERGUSON,James(args.)(1997).Anthropologicallocations:
Boundariesand grounds of a field science.Berkeley,Universityof
CaliforniaPress.
JACOBSON, David (1991).Readingethnography.Albany,StateUniversityof
New York Press.
JAMES, Allison; HOCKEY, Jenny e DAWSON, Andrew (args.)(1997).After
writingculture:Fpistemologyandpraxis in contemporaryanthropolo-
gy.Londres,Routledge.
KRUPAT,Amold (1992).Ethnocriticism:Ethnography,history,literature.Ber-
keley,Universityof CalifomiaPress.
LHOMME(1989). "Littératureetanthropologie",julho-dezembro,nQ§111-112.
MANGANARO, Marc(arg.)(1990).Modernistanthropology:Fromfieldworkto
textoPrinceton,PrincetonUniversityPress.
MARCUS,Georgee FISCHER,MichaelM], (1986).Anthropologyas cultural
critique:An experimentalmomentin thehumansciences.Chicago,The
Universityof ChicagoPress.
PALSSON,G. (arg.) (1994).Beyondboundaries:Understandingtranslation
and anthropologicaldiscourse.Oxford,Berg.
PRAlTIS, J. Ain (org.)(1985).Reflections:Tbeanthropologicalmuse.Washing-
ton,D.e, AmericanAnthropologicalAssociation.
ROSE,Dan (1990).Livingtheethnographiclife.NewburyPark,Sage·.
STOLLER,Paul (1989).Tbetasteofethnographicthings.Filadélfia,University
of PennsylvaniaPress.
VAN MAANEN, John (1988). Talesof thefield: On writing ethnography.
Chicago,The Universityof ChicagoPress.
VISWESWARAN,Kamala(1994).Fictionsoffeministethnography.Minneapo-
lis,Universityof MinnesotaPress.
WOLF, Margery(1992).A thrice told tale:Feminism,postmodernismand
ethnographicresponsability.Stanford,Califómia,StanfordUniversity
Press.
155

Outros materiais