Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Enzimas Disciplina: Princípios de Química Orgânica e Bioquímica de Macromoléculas Docente: Profa. Dra. Fernanda Canduri Instituto de Química de São Carlos – IQSC Universidade de São Paulo Função Proteica • As proteínas possuem funções amplamente diversificadas: • Enzimáticas (proteases, lipases, RNases, DNases, ...) • Transporte (Hemoglobina, porinas) • Movimento (actina e miosina) • Defesa (imunoglobulinas, fatores de coagulação sanguínea) • Estruturais (colágeno, queratina, fibroína) • Sinalizadoras (proteínas de membrana) • entre outras... Informações gerais sobre as enzimas 1. As enzimas tem um enorme poder catalítico 2. São altamente específicas 3. A formação de um complexo enzima-substrato é o primeiro passo na catálise enzimática 4. As enzimas aceleram reações, estabilizando estados de transição 5. A atividade catalítica de muitas enzimas são reguladas. Características gerais As enzimas são catalisadores de reações biológicas Diferem dos catalisadores químicos em vários aspectos: 1. Velocidade de reação mais rápidas – de 106 a 1012 vezes maiores 2. Condições reacionais mais brandas – temperaturas inferiores a 100oC, pressão atmosférica e pH quase neutro 3. Maior especifidade da reação – imensamente maior do que catalisadores químicos em relação à identidade dos seus substratos (reagentes) e dos seus produtos 4. Capacidade de regulação – a atividade catalítica pode variar em resposta às concentrações de outras substâncias Nomenclatura • As enzimas são comumente denominadas adicionando- se o sufixo –ase ao nome do substrato, ou a uma expressão que descreva sua ação catalítica Ex.: proteases catalisam a hidrólise de proteínas pepsina, tripsina, quimotripsina, renina álcool desidrogenase catalisa a oxidação de álcoois em seus aldeídos lipases e fosfolipases catalisam a hidrólise das ligações éster de lipídeos e fosfolipídeos Classificação • As enzimas foram classificadas de acordo com a natureza da reação química que catalisam: A União Internacinal de Bioquímica e Biologia Molecular (IUBMB) adotou um esquema de classificação funcional sistemática e de nomenclatura • Para cada enzima são atribuídos dois nomes – nome alternativo e nome sistemático – e um número de classificação de quatro subdivisões Exemplo: • Carboxipeptidase A (nome recomendado) • Peptidil-L-aminoácido-hidrolase (nome sistemático) • EC 3.4.17.1 (no. de classificação), sendo EC “enzyme comission” Os números representam a classe, subclasse, sub-subclasse, e seu número de série Complementaridade geométrica e eletrônica Ajuste induzido Especificidade dos substratos Tipos de cofatores • Exemplos de Cofatores: Cu2+, Fe2+, Zn2+ (Cd2+ e Hg2+ - efeito tóxico) Uma enzima-cofator cataliticamente ativo é chamado de holoenzima. A proteína enzimaticamente inativa resultante da remoção do cofator da holoenzima é chamada de apoenzima apoenzima + cofator holoenzima (ativa) • Coenzimas: associam-se temporariamente à enzima (co-substrato) Ex.: NADH, coA • Grupos prostéticos – associam-se permanentemente (ligação covalente) Ex: grupamento heme, biotina, FMN, FAD NADH Energia de ativação e coordenadas de reação Estudos de como as enzimas catalisam reações químicas são provenientes da teoria do estado de transição – 1930 Considerando uma reação bimolecular envolvendo 3 átomos: HA–HB + HC HA + HB–HC HC deve aproximar-se da molécula diatômica HA-HB de modo que exista um complexo instável de elevada energia representado por HA …HB …HC Os reagentes se aproximam a partir de uma rota de energia livre mínima - são as coordenadas de reação desses reagentes • Caso os átomos envolvidos no sistema reacional sejam diferentes A + B X P + Q em que A e B são os reagentes, P e Q são os produtos e X representa o estado de transição DG, a energia livre do estado de transição subtraída da energia livre dos reagentes é a energia livre de ativação A concentração do estado de transição é muito baixa A decomposição do estado de transição em produtos é postulada como sendo o processo determinante da velocidade da reação total Quanto maior for o valor de DG, menor será a velocidade da reação menor será o no. de moléculas de reagentes com energia térmica suficiente para alcançar a energia livre do estado de transição Os catalisadores atuam reduzindo a energia livre do estado de transição da reação catalisada A diferença entre os valores de DG de uma reação não-catalisada e de uma reação catalisada indica a eficiência do catalisador. Se DGreação < 0, a reação ocorrerá espontaneamente dos reagentes em direção aos produtos Os catalisadores Mecanismos catalíticos 1. Catálise ácido-base 2. Catálise covalente – formação transitória de uma ligação covalente entre o catalisador e o substrato 3. Catálise por íons metálicos – metaloenzimas Os íons metálicos participam de processos catalíticos de três maneiras: a. ligam-se ao substrato b. Mediam reações de oxidação-redução c. Estabilizam eletrostaticamente, ou protegem cargas negativas Mecanismos catalíticos 4. Catálise eletrostática – exclusão de uma molécula de água do sítio ativo quando o substrato se liga 5. Efeito de proximidade e orientação 6. Catálise por ligação preferencial ao estado de transição – enzimas tensionam mecanicamente seus substratos em direção ao estado de transição pelos seus sítios de ligação RNase A – exemplo de reação enzimática mediada pela catálise ácido- base Cinética enzimática • Algumas enzimas atuam somente em uma única molécula de substrato • Outras atuam em duas ou mais moléculas diferentes, cuja ordem de ligação pode ou não ser obrigatória • O início dos estudos sobre cinética enzimática foi em 1902, por Adrian Brown • Ele investigou as velocidades de hidrólise da sacarose pela enzima b-frutofuranosidase de leveduras. SACAROSE + H2O GLICOSE + FRUTOSE Quando [sacarose] >> [enzima], a velocidade de reação torna-se independente da concentração • Adrian Brown propôs então que a reação global seja composta por duas reações elementares, nas quais o substrato forma um complexo com a enzima, que se decompõe em produto e enzima k1 k2 E + S ↔ ES P + E K-1 • Quando a concentração de substrato for alta o suficiente para converter completamente a enzima na sua forma ES, a segunda etapa da reação torna-se limitante da velocidade. • A velocidade da reação global não irá variar com o aumento [S] Cinética enzimática • Cada reação elementar descrita é caracterizada por uma constante de velocidade: k1 e k-1 para a reação direta e reversa da formação do complexo ES • K2 é a constante de velocidade para a decomposição de ES em P, a segunda reação • A segunda reação é irreversível k1 k2 E + S ↔ ES P + E K-1 A equação de Michaelis-Menten • Em um esquema cinético complexo, a velocidade de formação de produtos pode ser expressa como o resultado da multiplicação da constante de velocidade da reação ao formar produtos e a concentração do seu intermediário imediatamente anterior. • A expressão geral para a velocidade da reação k1 k2 E + S ↔ ES P + E K-1 É portanto, v = d[P] / dt = k2 [ES] 1. Considerando que areação está em equilíbrio 1913 – Leonor Michaelis e Maud Menten supuseram que k1 >> k2, de maneira que a primeira etapa da reação alcance o equilíbrio Ks = k-1/k1 = [S][E] / [ES] onde Ks é a constante de dissociação da primeira etapa da reação O complexo enzima-substrato ES é conhecido como o complexo de Michaelis 2. A reação no estado estacionário tem um valor constante d[ES] / dt = 0 As quantidades [ES] e [E] não são diretamente mensuráveis, com exceção da concentração da enzima total, [E]T = [E] + [ES], que pode ser facilmente determinada. Curvas de progresso para uma reação simples catalisada por enzimas. • A constante de Michaelis (KM) é definida como KM = k-1 + k2 / k1 • O uso da velocidade inicial, (v0) minimiza fatores complicadores como os efeitos de reações reversíveis, e a inativação progressiva da enzima • A velocidade máxima, Vmáx ocorre a elevadas concentrações de substrato, na qual a enzima está saturada, ou seja, inteiramente na forma ES A constante de Michaelis e a Velocidade máxima da reação k1 k2 E + S ↔ ES P + E K-1 A equação de Michaelis-Menten v0 = Vmáx [S] / KM + [S] sendo que Vmáx=k2[E]T Essa expressão é a equação básica da cinética enzimática e descreve uma hipérbole retangular Significância da constante de Michaelis • KM – definição operacional simples quando [S] = KM, a equação v0 = Vmáx [S] / KM + [S] torna-se v0 = Vmáx / 2 De modo que: KM é a concentração de substrato na qual a velocidade da reação corresponde à metade da velocidade máxima Se a enzima tiver valor pequeno de KM, ela atingirá a máxima eficiência catalítica em baixas [S] • KM é único para cada enzima-substrato • A magnitude do KM varia bastante com a identidade da enzima e a natureza do substrato • É também uma função da temperatura e do pH. Enzima Substrato Km (mM) Catalase H2O2 25 Hexoquinase Glicose Frutose 0,15 1,5 Quimotripsina N-benzoltirosinamida N-formiltirosinamida N-acetiltirosianamida Gliciltirosinamida 2,5 12,0 32 122 Anidrase carbônica HCO3 - 9,0 Glutamato desidrogenase Glutamato a-cetoglutarato NH4 + NADox NADred 0,12 2,0 57 0,025 0,018 Aspartato aminotransferase Aspartato a-cetoglutarato Oxalacetato Glutamato 0,9 0,1 0,04 4,0 A ordem da reação em relação a um reagente indica a dependência que existe entre a concentração desse reagente e a velocidade da reação global. Reação de 1ª ordem: determina [S] utilizado ou [P] formado durante qualquer intervalo de tempo t1/2 = tempo de “meia vida” tempo necessário para converter em P metade do S presente. Reação de Ordem Zero: [S] >> Km Kcat / KM é uma medida da eficiência catalítica • Kcat (constante catalítica) de uma enzima: Kcat = Vmáx / [E]T Número de reciclagem de uma enzima representa o no. de processos reacionais que cada sítio ativo catalisa por unidade de tempo. • Considerando Vmáx = k2 [E]T , kcat = k2 Análise dos dados cinéticos • Há vários métodos para determinar (Vmáx e KM) • Para valores elevados de [S], a velocidade inicial v0 aproxima-se de Vmáx • É muito difícil determinar Vmáx com precisão a partir do gráfico de v0 versus [S]. • Método formulado por Hans Lineweaver e Dean Burk usam o inverso da equação de MM • A equação de Michaelis-Menten v0 = Vmáx [S] / KM + [S] • A equação de Lineweaver-Burk 1 / v0 = (KM / Vmáx) 1 / [S] + 1 / Vmáx é uma equação linear na forma de 1/ v0 e 1 / [S] Valores pequenos de [S] pequenos erros em v0, e grandes erros em 1 / v0 desvios de KM e Vmáx Inibição enzimática • Muitas substâncias alteram a atividade de uma enzima associando-se reversivelmente a ela, influenciando a ligação do substrato • As substâncias que reduzem a atividade de uma enzima são conhecidas como inibidores • Grande parte do arsenal farmacêutico moderno é constituído por inibidores enzimáticos Os inibidores atuam através de uma variedade de mecanismos • se assemelham estruturalmente aos substratos da enzima, mas não reagem • Outros afetam a atividade catalítica sem interferir na ligação do substrato • Estas substâncias são utilizadas para investigar a natureza química ou conformacional do sítio ativo da enzima para tentar elucidar seu mecanismo catalítico Inibição enzimática Inibição competitiva:Uma substância que compete diretamente com o substrato pelo sítio de ligação de uma enzima é um inibidor competitivo Inibidor competitivo A presença de I faz com que a [S] pareça mais diluída do que realmente é. Inibidor Incompetitivo Inibidor Não competitivo Inibição Mista Inibidores mistos: • Inibidor liga num sítio distinto do sítio ativo tanto na E como no complexo ES • Modificam ambos KM e a Vmax por fator dependente de α e α’ • Reduzem o número de renovação da E • Não pode ser deslocado pelo aumento da [S] Inibidores Irreversíveis: • Inativadores de enzimas • ligam-se fortemente as enzimas • Substâncias que modificam quimicamente resíduos de aminoácidos específicos podem agir como inativadores • A cinética de um inativador se assemelha a de um inibidor não competitivo Formas de regulação da atividade enzimática 1. Controle da disponibilidade da enzima • Velocidade de síntese e degradação 2. Controle da atividade da enzima • Alterações estruturais influenciam na afinidade da ligação do substrato • Ligação de pequenas moléculas – efeitos alostéricos (do Grego: allos, outro + stereos, espaço) • Fosforilação ou desfosforilação de resíduos específicos Enzimas alostéricas • Grupo de enzimas que não podem ser explicadas pelo modelo de Michaelis-Menten. • Exibem gráficos sigmóides da velocidade da reação V0 versus concentração de substrato [S] • São reguladores do metabolismo • Os metabólitos são chamados de efetores ou moduladores alostéricos: • positivos (leva ao aumento da velocidade de reação) • negativos (redução da velocidade de reação) de acordo com o seu efeito. Regulador alostérico Os moduladores alostéricos podem atuar tanto como inibidores, como ativadores da reação enzimática. Modulador alostérico Positivo (ativa a enzima) Negativo (inibe a enzima) Heterotropismo (o modulador é diferente do substrato) Homotropismo (o modulador é igual ao substrato) A ligação entre o modulador e a enzima é não-covalente e o local de modulação é especifico para cada modulador, no caso das enzimas heterotrópicas Regulador ou modulador alostérico Um modelo muito comum de regulação alostérica é a inibição por retroalimentação, onde o próprio produto da reação atua como modulador da enzima que a catalisa. Um exemplo
Compartilhar