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1 Aminoácidos e Peptídeos Profa. Dra. Daniela L. Ambrósio - As proteínas são as moléculas mais abundantes nas células – diferentes tipos, estruturas, tamanhos e funções - Todas as proteínas são construídas a partir de um mesmo conjunto de 20 aminoácidos (aas) covalentemente ligados - Diferentes combinações de sequências geram proteínas com diferentes propriedades e atividades - 1839: Mulder atribuiu o termo proteína (do grego, proteios, primário) para essa classe de compostos 2 Aminoácidos - A nomenclatura dos aas varia bastante, sendo alguns derivados dos locais onde eles foram isolados primeiramente. Ex: asparagina (aspargo), ác glutâmico (glúten de trigo), tirosina (queijo, tyros – grego) e glicina (gosto doce, glycos – grego) - Todos os 20 aas são -aminoácidos, ou seja, possuem o grupo carboxila e o grupo amino ligados ao mesmo C () - Os aas diferem na composição da cadeia lateral ou grupos R, que variam na estrutura, tamanho e carga elétrica - Aas menos comuns: modificados e outros presentes nos organismos, mas que não são constituintes das proteínas - Em pH fisiológico (~7,4), os grupos amino são protonados e os grupos carboxílicos assumem a forma de base conjugada - O primeiro aa a ser descoberto foi a asparagina (1806) e o último dos 20 aa foi a treonina (1938) - Abreviações de 3 letras ou 1 letra 3 - Os diferentes C no aa são designados por , , , etc, partindo do C - Com exceção da glicina, todos os aas apresentam o C ligado à 4 grupos substituintes diferentes (assimétrico) - C = centro quiral e são opticamente ativos 4 - Devido à forma tetraédrica é possível 2 arranjos espaciais - estereoisômeros - A configuração absoluta é especificada pelo sistema D,L (destrorrotatório, levorrotatório), baseada na configuração do gliceraldeído (Fisher 1891) - Os aas ocorrem nas proteínas na forma de L-estereoisômeros 5 Classificação dos aminoácidos - Podem ser classificados pelo grupo R ou cadeia lateral – polaridade em pH 7 1) Grupos R Apolares e alifáticos - Alanina, Valina, Leucina e Isoleucina tendem a aparecer em grupos, contribuindo para a estabilidade da estrutura proteica através das interações hidrofóbicas Alanina (Ala, A) Valina (Val, V) Leucina (Leu, L) Isoleucina (Ile, I) - A glicina é a mais simples e por ter uma cadeia lateral pequena não contribui muito para as interações hidrofóbicas Glicina (Gly, G) - A metionina é um dos 2 aas que apresenta S e o grupo tioéter é apolar Metionina (Met, M) - A prolina possui uma cadeia alifática que forma uma estrutura cíclica – conformação mais rígida Prolina (Pro, P) 6 2) Grupos R aromáticos - São relativamente apolares – interações hidrofóbicas - O OH da tirosina é capaz de formar ligação de H, importante para a atividade de algumas enzimas - O triptofano (N do anel indol) e a tirosina (OH) são mais polares que a fenilalanina Tirosina (Tyr, Y) Fenilalanina (Phe, F) Triptofano (Trp, W) - São capazes de absorver luz UV (280nm), Phe com menor intensidade 7 3) Grupos R polares não-carregados - Mais hidrofílicos que os aas apolares - Treonina (OH), serina (OH), cisteína (grupo sulfidrila), asparagina (grupo amida), glutamina (grupo amida) - A asparagina e a glutamina são amidas do aspartato e glutamato, respectivamente Treonina (Thr, T) Cisteína (Cys, C) Serina (Ser, S) Asparagina (Asn, N) Glutamina (Gln, Q) - A cisteína é facilmente oxidada para formar um aa dimérico, a cistina, sendo as 2 moléculas de cisteína unidas por ponte dissulfeto 8 4) Grupos R carregados positivamente (básicos) - Possuem os grupos R mais hidrofílicos - A His é o único aa com pKa próximo a neutralidade (tampões) Lisina (Lys, K) Arginina (Arg, R) Histidina (His, H) 5) Grupos R negativemente carregados (ácidos) - São originados da asparagina e glutamina Glutamato (Glu, E) Aspartato (Asp, D) 9 Aminoácidos incomuns - Derivam de modificações dos 20 aas padrão Parede celular vegetais e colágeno Colágeno Miosina Protrombina e proteínas que ligam Ca2+ Glutationa-peroxidase Elastina (4 Lys) Intermediários da biossíntese da arginina e no ciclo da uréia 10 - Os aas dissolvidos em água (pH neutro) se ionizam formando zwitterions (do alemão = íons híbridos) - Podem agir tanto como ácidos (doador de prótons) ou como bases (receptor de prótons) - Substâncias que possuem essa dupla natureza são chamadas de anfotéricas (anfólitos) Alanina 11 Titulação de aminoácidos - Ponto ou pH isoelétrico (pI): molécula ionizada com carga neutra - Os aas com grupos R não ionizáveis têm curvas de titulação similares - Titulação de aas com grupos R ionizáveis 12 Cálculo do pI Ác monoaminomonocarboxílico Ác monoaminodicarboxílico Ác diaminomonocarboxílico 13 Peptídeos - Polímeros de aas que variam em tamanho, estrutura e propriedades químicas Ligação peptídica -oligopeptídeos: possui alguns aas -polipeptídeos: possui vários aas (acima de 40) e PM abaixo de 10kDa - proteínas: possui vários aas e PM mais altos - Os aas em peptídeos são chamados de resíduos de aas - Por convenção, peptídeos são apresentados da esquerda com a extremidade N-terminal dirigindo-se para a direita, no C-terminal - A hidrólise de um peptídeo ocorre lentamente devido a alta energia de ativação, com uma meia-vida de ~ 7 anos na maioria das condições intracelulares Ser-Gly-Tyr-Ala-Leu ou SGTAL 14 - O grupo -amino livre, -carboxila e grupos R contribuem para o comportamento ácido-base global do peptídeo - Da mesma forma que os aas livres, os peptídeos possuem curvas de titulação características e pI - Os valores de pKa são modificados devido à ausência dos grupos amino e carboxila na ligação peptídica - aas mais abundantes: Leu, Ala, Gly, Ser, Val, Glu - aas mais raros: Cys, Met, His- Para uma proteína de n resíduos de aas existem 20n possibilidades Aminoácidos e peptídeos com atividades biológicas - Hormônios como ocitocina (9 aas), bradicinina (9 aas), fator liberador de tireotrofina (3 aas) - Venenos de fungos, ATBs, etc - Insulina (2 cadeias de 30 e 21 aas), glucagon (29 aas), corticotropina (39 aas) - A histamina (descarboxilação da His) – mediador de reações alérgicas - Tiroxina (derivado da tirosina) – hormônio da tireóide 15 Proteínas conjugadas - Além dos aas, estão associadas a outros grupos químicos - A parte não-aa é chamada de grupo prostético Níveis estruturais das proteínas 16 Estrutura Tridimensional das Proteínas - Por muitos anos acreditava-se que as proteínas possuíam uma estrutura aleatória - 1934: Bernal e Hodgkin – cristal de pepsina possuía uma estrutura ordenada - Conformação de uma proteína: arranjo espacial dos átomos (diferentes conformações possíveis) - em condições biológicas geralmente uma ou poucas conformações predominam (ligação à moléculas ou reação catalizada) - Proteínas nativas: proteína na sua conformação funcional (termodinamicamente estáveis) 17 O que determina uma conformação estável de uma proteína? - estabilidade: manter uma conformação nativa - Pontes dissulfeto (ligação covalente) e interações fracas (não-covalentes) - Predominância das ligações fracas – estabilidade (menor energia livre) - No interior da proteína geralmente observa-se um núcleo de aas hidrofóbicos que contribuem para a conformação protéica A ligação peptídica - Rígida e planar - As ligações peptídicas são incapazes de rodar livremente, mas a rotação é permitida nas ligações N – Cα e Cα – C Diagrama de Ramachandran - Maioria em conformação trans 18 Estrutura Secundária das proteínas - Conformação local em alguma parte do polipeptídeo - α-hélice e conformação α-hélice - 1930:Astbury – proteína do cabelo e do espinho do ouriço tinham uma estrutura regular e repetida - 1951: Pauling e Corey estudavam a influência de ligações de H na orientação dos grupos C – O e N – H da ligação peptídica - α-hélice e conformação - α-hélice: o esqueleto polipeptídico está enovelado ao redor de um eixo imaginário - Grupos R projetados para fora da hélice - Torção helicoidal da mão direita - De modo geral ¼ dos resíduos de aas nas proteínas estão na forma de α-hélice 19 Restrições à α-hélice - Ex: bloco de Glu, Lys e/ou Arg não forma α-hélice em pH 7 1) Atração ou repulsão entre grupos R carregados 2) Volume dos grupos R - Asn, Ser, Thr e Cys podem desestabilizar a estrutura pela forma e volume 3) Interação entre os grupos R espaçando 3-4 resíduos Asp Arg Interação iônica de aas carregados Interação hidrofóbica entre 2 aas aromáticos 20 - Presença de aas negativamente carregados na extremidade N-terminal e carregados positivamente na extremidade C-terminal 5) Interação nas extremidades e dipolo elétrico - Pro e Gly dificilmente aparecem dentro de uma α-hélice 4) Ocorrência de Pro e Gly Conformação - Conformação estendida em ziguezague, arranjadas em uma série de folhas chamadas de folhas (ligações de H entre segmentos adjacentes da proteína) Antiparalelas 21 Paralelas - Quando 2 ou mais folhas estão próximas, somente aas com grupos R pequenos são possíveis (Ex: Gly e Ala) 22 Dobras - Conectam as extremidades de 2 segmentos adjacentes de uma folha antiparalela - Envolve 4 resíduos de aas e ligação de H entre O da carbonila do 1º aa com o H do amino do 4º aa dobra - Aparecem geralmente na superfície da proteína - Gly e Pro ocorrem frequentemente 23 Estruturas Terciária e Quaternária - Proteínas fibrosas e globulares 1) Proteínas fibrosas - Cadeias polipeptídicas arranjadas em longas fitas ou folhas - Usualmente consistem de um único tipo de estrutura secundária - Proteínas que fornecem apoio, forma e proteção externa aos vertebrados - Todas as proteínas são insolúveis em água - α-queratina, colágeno e fibroína da seda α-queratina - Constituinte de cabelo, lã, unhas, pena, espinhos, chifres, casco e a maior parte da camada externa da pele - Pertence à família das proteínas do filamento intermediário - α-queratinas (mamíferos) e -queratinas (répteis e pássaros) - α-hélice no sentido da mão direita 24 - Espiral supertorcida (mão esquerda) de 2 fitas de α-queratina – maior resistência - Rica em resíduos Ala, Val, Leu, Ile, Met e Phe - hidrofóbicos - Ligações cruzadas (pontes S-S) estabilizam a estrutura 25 Curiosidade - O cabelo na presença de calor úmido pode ser esticado até que as α-hélices da α-queratina cheguem à conformação , mas ao esfriar revertem espontaneamente Colágeno - Encontrado nos tendões, cartilagens, matriz dos ossos e córnea do olho - Hélice no sentido da mão esquerda com 3 resíduos por volta (Pro) - 3 cadeias entrelaçadas no sentido de mão direita (tropocolágeno) - Os mamíferos possuem 30 cadeias geneticamente diferentes – 19 variedades de colágeno 26 - A gelatina é um derivado do colágeno - Tipicamente composto por Gly (35%), Ala (11%), Pro e 4-Hyp (4-hidroxiprolina) (21%) - Gly – X – Y (frequentemente X=Pro e Y=4-Hyp) Fibrilas de colágeno: ligações cruzadas entre Lys, HyLys (5- hidroxilisina) ou His de moléculas de tropocolágeno Envelhecimento – aumento de ligações cruzadas 27 Doenças relacionadas à estrutura do colágeno: osteogênese imperfeita (formação anormal de ossos) e síndrome de Ehlers-Danlos (juntas frouxas) - Substituição de um aa com grupo grande (Cys ou Ser) por uma Gly – ruptura da repetição Gly – X – Y e efeito deletério na estrutura do colágeno Escorbuto – deficiência de vit. C leva à diminuição na produção de 4-Hyp – lesões na pele, fragilidade dos vasos sanguíneos, cicatrização dificultada e morte Fibroína da seda - Cadeias em conformação antiparalela, rica em Ala e Gly - Não se estica, mas é flexível (ligações de H) 28 2) Proteínas globulares - Cadeias polipeptídicas enoveladas em uma forma esférica ou globular - Contém vários tipos de estruturas secundária - Enzimas, proteínas reguladoras, de transporte, motoras, imunoglobulinas e outras funções - Estrutura X Função Mioglobulina - 1950 (Kendrew et al.): difração de raios-X mioglobulina - Proteína de ligação ao oxigênio presente nas céls musculares, para difusão e armazenamento no tecido - Uma cadeia polipeptídica de 153 resíduos (16,7 kDa) e um grupo protoporfirina férrica (heme) - Em mamíferos mergulhadores (baleia, foca e boto), a mioglobulina permite a submersão por longo tempo 29 - Dessa estrutura foram analisados a posição dos grupos R hidrofóbicos (interior da molécula), grupos R polares encontram-se na superfície externa - Primeira evidência direta da presença de α-hélices, presença de Pro nas curvaturas - O grupo heme se apoia em um bolsão ou fissura Métodos de determinação da estrutura tridimensional Difração de raios-X - espaçamento dos átomos em uma estrutura cristalina pela medida das localizações e intensidades das manchas produzidas em filme por um feixe de raios-X (difração) - Imagem da densidade eletrônica - requer um cristal ordenado de proteína (proteínas fibrosas não cristalizam) 30 Ressonância Nuclear Magnética (RNM) - determinação de estruturas maiores, incluindo CH, ác nucléicos e proteínas de tamanho pequeno a médio - macromoléculas em solução que permite obter informações de conformação, enovelamento protéico e interações com outras moléculas - A amostra é colocada em um campo magnético de forma que os spins dos prótons sejam alinhados. Ao aplicar pulsos de radiofrequência, os prótons são excitados e emitem sinais cuja frequência depende do ambiente molecular dos prótons 31 - As estruturas estão depositadas no Protein Data Bank (PDB) – http://www.pdb.bnl.gov - arranjos particularmente estáveis de vários elementos da estrutura secundária e suas conexões Motivos 1) α: uma α-hélice conecta 2 fitas paralelas de uma folha 32 2) Grampo : fitas antiparalelas conectadas por voltas reversas relativamente firmes, os segmentos não se cruzam e nem formam nós 3) αα: 2 α-hélices antiparalelas consecutivas arranjadas uma contra a outra em eixos enclinados 4) Barril : folhas se enrolam para formar um barril Barril α/ é encontrado em muitas enzimas para a ligação de um co-fator ou substrato - Os motivos podem ter um significado tanto funcional como estrutural. Ex: Rossmann mostrou que o motivo αα frequentemente atua como local de ligação de nucleotídeos 33 Domínios - Proteínas com mais de 200 resíduos de aas se dobram em 2 ou mais aglomerados globulares chamados de domínios Troponina C (ligação ao Ca no músculo) - Os domínios frequentemente apresentam uma função específica Classificação estrutural das proteínas - Base de dados de Classificação estrutural de proteínas (SCOP) – http://scop.mrc-lmb.cam.ac.uk/scop - 4 classes: toda α, toda , α/ (α e intercaladas) e α+ (α e separadas) 34 Citocromo C - A estrutura terciária das proteínas é mais conservada que a estrutura primária – informações sobre evolução - família: semelhante estrutura primária e/ou estrutura terciária e função semelhantes - superfamília: 2 ou mais famílias com pouca semelhança na sequência primária, mas que possuem semelhanças funcionais e fazem uso do mesmo motivo Estrutura quaternária - Proteínas >100 kDa geralmente são constituídas por mais de uma cadeia polipeptídica (subunidades) idênticas ou diferentes Hemoglobina: α22 com 4 grupos heme - O contato entre as subunidades se dá porligações de H e interações hidrofóbicas e em alguns casos por pontes S-S - Geralmente proteínas de função reguladora 35 Limitação de tamanho para as proteínas - 2 fatores estão relacionados, a capacidade genética dos ác nucléicos e a precisão na biossíntese protéica (1 erro a cada 10.000 aas adicionados) - Proteína Titin possui mais de 30.000 resíduos de aas - vírus: muitas cópias de genes pequenos (maior eficiência) Dobramento e estabilidade das proteínas 1) Forças que estabilizam a estrutura - Interações hidrofóbicas – cadeias laterais apolares no interior da molécula - Interações eletrostáticas (forças de van der Waals e entre grupos iônicos) - Ligações químicas cruzadas: pontes S-S, íons metálicos (Ex: dedos de zinco (zinc finger) 36 2) Desnaturação e Renaturação das proteínas Desnaturação: perda da estrutura tridimensional que leva à perda de função, que não precisa ser um estado de desenovelamento completo - Agentes desnaturantes: temperatura, extremos de pH, certos solventes orgânicos, uréia, cloreto de guanidina e detergentes Renaturação: reversão de proteínas desnaturadas (podem retornar à estrutura nativa e função biológica) Ex: ribonuclease - A sequência de aas contém a informação para o enovelamento na estrutura tridimensional nativa 37 3) Enovelamento das proteínas - E. coli – proteína de 100 resíduos de aas em 5 seg (37oC) – 10100 possibilidades de conformação 1º modelo 2º modelo - Colapso hidrofóbico que leva a um estado compacto 38 Enovelamento assistido - Algumas proteínas não se enovelam espontaneamente e necessitam da ajuda de outras proteínas - Chaperonas moleculares: interagem com polipeptídeos parcial ou impropriamente enovelados, facilitando o enovelamento correto. - 2 classes de chaperonas foram bem estudadas: HSP70 e chaperoninas
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