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1) Discorra exaustivamente sopre o Principio da Isonomia e apresente uma ementa de decisão de tribunal que o aplicou em caso concreto.
Principio da Isonomia 
O direito de igualdade consiste em afirmar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, de acordo com a Constituição Federal, art. 5°, caput. Não se admite discriminação de qualquer natureza em relação aos seres humanos.
Esse princípio vem repetido em diversos dispositivos constitucionais, realçando a preocupação do constituinte com a questão da busca da igualdade em nosso país. O preâmbulo já traz a igualdade como um dos valores supremos do Estado brasileiro. O art. 3° estabelece entre as metas do Brasil a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (PINHO, 2002, p. 94)
A busca da igualdade de dá nas mais diferentes esferas do direito seja por razão processual, ou social, ou qualquer outra, sempre no intuito de que no futuro haja não discriminações de qualquer forma, tornando o país mais justo.
O fundamento do direito de igualdade encontra-se no princípio de que todos devem ser tratados de forma igual perante a lei. Todos nascem e vivem com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado. A igualdade foi um dos ideais da Revolução Francesa atingidos com a abolição dos antigos privilégios da nobreza e do clero. Todos passaram a ter o mesmo tratamento perante a lei. (PINHO, 2002, p. 95)
O princípio da igualdade interdita tratamento desuniforme às pessoas. Sem embargo, pode-se observar, a função precípua da lei, que significa exatamente dispensar tratamentos desiguais, ou seja, as normas legais nada mais fazem que discriminar situações, de forma que as pessoas compreendias em uma ou em outra vêm a ser colhidas por regimes diferentes. De onde, a alguma são deferidos determinados direitos e obrigações que não assistem a outras, por abrigadas em diversa categoria, reguladas por diferente plexo de obrigações e direitos. (MELLO, p. 12, 2013)
A Constituição Federal vigente adotou o princípio da isonomia ou igualdade de direitos, antecipando a igualdade de aptidão, uma igualdade de tratamento idêntico pela lei, de acordo com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. (MORAES, 2008, p. 65)
A isonomia funciona de modo que toda situação de desigualdade que permaneça mesmo com a entrada em vigor da norma constitucional não deve ser recepcionada, visto que não é compatível com os valores que a Constituição de 1988 proclama.
O princípio da isonomia opera em duas formas diferentes. De um lado, frente ao legislador ou ao próprio executivo na edição de leis, atos normativos e medidas provisórias, impedindo que sejam criados tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas em situações idênticas. Do outro lado, na obrigatoriedade ao intérprete, ou seja, a autoridade pública, de aplicar a lei e atos normativos de maneira igualitária, sem que se faça diferença em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça e classe social. (MORAES, 2008, p. 65)
Garante-se desta forma que tanto o legislador seja incapaz de criar regra que não promova a isonomia, ou seja, dê tratamento desigual a situação igual, e também o aplicador do direito que não pode aplicar a lei em beneficio de uns e detrimentos de outros em situações idênticas.
Existe desigualdade na lei quando a norma diferencia de forma arbitrária tratamento específico a pessoas diversas. Para que estas diferenciações normativas não sejam consideradas discriminatórias, precisa-se que:
Exista uma justificativa objetiva e razoável, de acordo com critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-se em relação à finalidade e efeitos da medida considerada, devendo estar presente por isso uma razoável relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade perseguida, sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucionalmente protegidos. (MORAES, 2008, p. 65)
 
Então, para que uma norma dê tratamento desigual às partes faz-se necessário que tenha uma justificativa razoável, ou seja, deve haver uma proporcionalidade entre este tratamento desigual e a finalidade desta ação.
Desta forma, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal visto que se verificou que há uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim pretendido. (MORAES, 2008, p. 65)
Assim, é importante mostrar a tríplice finalidade limitadora do princípio da igualdade que é a limitação ao legislador, ao intérprete e ao particular. O legislador, no exercício de sua função constitucional de edição normativa, não pode negar o princípio da igualdade já que configura inconstitucionalidade. Logo, as normas que criem diferenciações abusivas que não tenham nenhuma finalidade lícita, serão incompatíveis com a Constituição Federal. (MORAES, 2008, p. 65)
O intérprete não pode aplicar as leis e atos normativos se for criar ou aumentar desigualdades arbitrárias. Principalmente o Poder Judiciário que deverá utilizar os mecanismos constitucionais no sentido de dar uma interpretação única e igualitária às normas jurídicas. Além disso, devido princípio da isonomia, a legislação processual deverá estabelecer mecanismos de uniformização de jurisprudência a todos os Tribunais. (MORAES, 2008, p. 65)
Por último, o particular não poderá ter condutas discriminatórias, preconceituosas, sob pena de responsabilidade civil e penal, nos termos da legislação em vigor. (MORAES, 2008, p. 65)
Normas com diferenciação abusiva, seria negação de isonomia, o que seria inconstitucionalidade, os tribunais não poderão decidir diferentemente em situações iguais o que leva à uniformização de jurisprudência, como as súmulas, e o particular não pode discriminar sob pena de ação civil ou penal.
Alexandre de Moraes APUD San Tiago Dantas diz que:
Quanto mais progridem e se organizam as coletividades, maior é o grau de diferenciação a que atinge seu sistema legislativo. A lei raramente colhe no mesmo comando todos os indivíduos, quase sempre atende a diferenças de sexo, de profissão, de atividade, de situação econômica, de posição jurídica, de direito anterior; raramente regula do mesmo modo a situação de todos os bens, quase sempre se distingue conforme a natureza, a utilidade, a raridade, a intensidade de valia que ofereceu a todos; raramente qualifica de um modo único as múltiplas ocorrências de um mesmo fato, quase sempre os distingue conforme as circunstâncias em que se produzem, ou conforme a repercussão que têm no interesse geral. Todas essas situações, inspiradas no agrupamento natural e racional dos indivíduos e dos fatos, são essenciais ao processo legislativo, e não ferem o princípio da igualdade. Servem, porém, para indicar a necessidade de uma construção teórica, que permita distinguir as leis arbitrárias das leis conforme o direito, e eleve até esta alta triagem a tarefa do órgão do Poder Judiciário. (MORAES, 2008, p. 66)
 
Isso mostra que a diferenciação dos seres é mais evidente conforme a evolução das sociedades, podendo ser distinguidas conforme suas natureza, utilidade e outras características e isto não é afronta ao principio da isonomia e sim uma necessidade comum de agrupamento, o que devia ser mais observado pelas leis brasileiras.
É esta a interpretação do princípio da igualdade na doutrina e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. (MORAES, 2008, p. 66)
No caso da limitação de idade em concurso público, nota-se que a proibição genérica de acesso a determinadas carreiras públicas, devido somente em razão da idade do candidato, é um flagrante de inconstitucionalidade, uma vez que não se encontra direcionada a uma finalidade acolhida pelo direito, tratando-se de discriminação abusiva, em virtude da vedação constitucional de diferença de critério de admissão por motivo de idade, que consiste em corolário, na esfera das relações do trabalho,do princípio fundamental da igualdade, que se entende, a falta de exclusão constitucional inequívoca, como ocorre em relação aos militares, a todo o sistema de pessoal civil. (MORAES, 2008, p. 66)
Toda discriminação abusiva, considera-se inconstitucional, e uma delas é a limitação de idade em concurso público, se for só essa a proibição sem mais nenhum argumento é considerada abusiva e não deve ser considerada. A não ser que esta limitação de idade seja necessária devido as atribuições do cargo pretendido.
Não obstante ficarão ressalvadas, por satisfazer a uma finalidade acolhida pelo direito, uma vez examinada à luz da teleologia que informa o princípio da igualdade, as hipóteses em que a limitação de idade se possa legitimar como imposição de natureza e das atribuições do cargo a preencher. (MORAES, 2008, p. 66)
Quanto ao tratamento isonômico entre homens e mulheres está previsto no art. 5.°, I da Constituição Federal, que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. (MORAES, 2008, p. 67)
Homens e mulheres são iguais perante a lei e não devem ser diferenciados a não ser para equilibrar certos problemas, como, por exemplo, diminuir as diferenças de acesso a justiça.
É inaceitável a discriminação pelo sexo, que seja feito com o propósito de desnivelar materialmente o homem da mulher, a não ser quando a finalidade pretendida for atenuar os desníveis. Neste caso, além de tratamentos diferenciados entre homens e mulheres previstos pela própria constituição, poderá a legislação infraconstitucional pretender atenuar os desníveis de tratamento em razão do sexo. (MORAES, 2008, p. 67)
Em relação aos critérios de admissão para concurso público, a interpretação jurisprudencial direciona no sentido da inconstitucionalidade da diferença de critério de admissão considerado o sexo previsto no art. 5.°, inciso I, e § 2.° do art. 39 da Constituição Federal, permitindo-se exceções tendo em vista a ordem sócio constitucional. (MORAES, 2008, p. 67)
Quanto aos critérios para admissão de emprego, a Lei n.º 9.029, de 13 de abril de 1995, proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência de relação jurídica de trabalho. Fica proibida, também, qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade, ressalvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao menor previstas no inciso XXXIII do art. 7.° da Constituição Federal, constituindo crime a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez; a adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem indução ou instigamento à esterilização genética; promoção do controle de natalidade, assim não considerado o oferecimento de serviços e de aconselhamento ou planejamento familiar, realizados através de instituições públicas ou privadas, submetidas às normas do Sistema Único de Saúde. (MORAES, 2008, p. 67)
Fica proibido a discriminação de sexo na contratação para emprego, e isso inclui que o empregador peça exame de gravidez ou atestado relacionado à fertilidade de qualquer tipo.
Mas suponha-se que haja um concurso público para seleção de candidato a exercício físicos, que seja controlado por órgãos de pesquisa, que sirva de base para o estudo da medição de especialidade esportiva mais adaptada às pessoas negras. É obvio que pessoas brancas, não vão poder concorrer. e não existirá nenhum agravo ao princípio da isonomia pela exclusão de outras pessoas que não sejam negras. (MELLO, p. 17, 2013)
Da mesma forma, não há problema em que sejam admitidas apenas mulheres, o que seria desequiparação em razão do sexo, a concursos para preenchimento de cargo de polícia feminina. (MELLO, p. 17, 2013)
Assim, nota-se que a Constituição condena a desigualdade de algo por si só, ou seja, pelo único fato se ser mulher, ou negro, ou por praticar tal religião, ou por ter tal convicção política.
Quanto à constitucionalidade da prerrogativa do foro em favor da mulher, a partir do surgimento do Código de Processo Civil de 1939 (SILVA, p. 1, 2009), o ordenamento jurídico brasileiro tem contemplado a regra a qual estabelece que, para as demandas de dissolução da sociedade conjugal, o foro competente é o da residência da mulher, como até hoje se encontra disciplinado no inciso I do art. 100 do atual Código de Processo Civil.
Art. 100. É competente foro: I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão em divórcio, e para a anulação de casamento.
É uma discriminação legal que privilegia a mulher em detrimento do homem, chocando-se contra os artigos 5°, caput e inciso I, e 226, §5° da Constituição de 1988, que preveem a igualdade entre homens e mulheres inclusive no exercício dos direitos e deveres da sociedade conjugal. (GRUBER, p. 187,2010)
No caso do foro privilegiado da mulher, entra-se na parte da necessidade de diferenciação por questão econômica desde que a desigualdade não se mostre abusiva.
Veloso APUD Arnaldo Rizzardo expõe que, atualmente, quando a igualdade de direitos entre o marido e a mulher é incontestável, não se faz mais necessária a regra protetiva, e que a solução mais coerente seria definir a competência pela regra comum, que é a da residência do réu. Nesse sentido entende-se que já não prevalece o foro privilegiado, assim estabelecido a benefício da mulher casada, porquanto conflita com o princípio da igualdade entre os cônjuges, proclamado no art. 226, § 5º, da Constituição Federal de 1988. (VELOSO, p. 1, 2008)
Assim, o que se proíbem são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, porque é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, já que o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito de que as liberdades materiais têm por objetivo a igualdade de condições sociais, meta a ser alcançada, não só por meio de leis, mas também pela aplicação de políticas ou programas de ação estatal. (MORAES, 2008, p. 65)
Basicamente, o principio da isonomia deve tratar os iguais de maneira igual e os desiguais, desigualmente na medida de suas desigualdades, vedando-se as discriminações abusivas seja em razão de sexo, idade, cor, religião e outros.
 ISONOMIA FORMAL E ISONOMIA MATERIAL 
Existem dois lados do princípio da isonomia, como já foi abordado, deve-se tratar os iguais modo igual e os desiguais de maneira desigual na medida de suas desigualdades.
Há duas espécies de igualdade: formal e material. A formal, dentro da concepção clássica do Estado Liberal, é aquela em que todos são iguais perante a lei. Existe também a material, denominada efetiva, real, concreta ou situada. Trata-se da busca da igualdade de fato na vida econômica e social. Em diversos dispositivos o constituinte revela sua preocupação com a profunda desigualdade em nosso país, com a criação de mecanismos que assegurem uma igualdade real entre os indivíduos. (PINHO, 2002, p. 96)
A isonomia forma é aquela absoluta em que todos são iguais, não há diferenças, mas sabe-se que isso, de antemão, não é verdade. Já a isonomia material é aquela que parece mais adequada, pois leva em consideração características sociais e econômicas.
Canotilho (1993, p. 480) diz que em face da Constitui­ção, não se pode interpretar o princípio da igualdade como um prin­cípio estático indiferente à eliminação das desigualdades, e o princí­pio da democracia económica como um princípio dinâmico, impositivo de uma igualdade material. Isto poderia significar, de novo, quer a relativização do princípio da igualdade, quer a relativização do princípio da democracia social. Aquele seria interpretado no sentido deigualdade formal perante a lei, esquecendo a dimensão da dignidade social, este constituiria tão-somente um instrumento de diminuição de desigualdades fáticas.
Na verdade se houver uma igualdade absoluta, não haverá de fato a justiça, pois as pessoas não são iguais e muito menos são idênticas suas situações sociais.
A igualdade material pregada pelo princípio da igualdade é também a igualdade real veiculada pelo princípio da democracia económica e social. Nesta perspectiva, o princípio da democracia económica e social não é um simples instrumento, não tem uma função instrumental a respeito do princípio da igualdade, embora se lhe possa assinalar uma função conformadora tradicionalmente recusada ao princípio da igualdade: garantia de igual­dade de oportunidades e não apenas de uma certa justiça de oportunidades. Isto significa o dever de compensação positiva da desigualdade de oportunidades. (CANOTILHO, 1993, p. 480)
O princípio da igualdade e o princípio da democracia económica e social unem-se em uma unidade não redutível a momentos unidimensionais de estática ou dinâmica da igualdade. Para resumir, na visão de Canotilho (1993, p. 480), vê-se que o princípio da igualdade é, simultaneamente, um princípio de igualdade de Estado de direito e um princípio de igualdade de democracia económica e social.
Ou seja, não basta a igualdade formal. O Estado deve buscar que todos efetivamente possam gozar dos mesmos direitos e obrigações. Como por exemplo, não basta a Constituição assegurar a todos formalmente a igualdade no acesso ao Poder Judiciário, conforme art. 5°, XXXV. Para o exercício universal e concreto desse direito, é indispensável que o Estado forneça assistência judiciária gratuita para que as pessoas que não possam arcar com as despesas do processo possam postular ou defender seus direitos em juízo, conforme art. 5º, LXXIV. (PINHO, 2002, p. 96)
A verdadeira igualdade é um misto da igualdade formal em que são garantidos por lei direitos iguais a todos e também a igualdade material do Estado ao observar as diferenças socioeconômicas, garantir de fato que todos tenham acesso aos direitos.
PRINCIPIO DA IGUALDADE NO PROCESSO JUDICIAL
 O processo civil moderno rege-se pelos grandes pilares da democracia, entre os quais, destaca-se a igualdade como valor de primeira grandeza. O princípio da isonomia, ditado pela Constituição em termos de ampla generalidade quando penetra no mundo do processo assume a conotação de princípio da igualdade das partes. Da efetividade deste são encarregados o legislador e o juiz, aos quais cabe a dúplice responsabilidade de não criar desigualdades e de neutralizar as que porventura existam. Tal é o significado da fórmula tratar com igualdade os iguais e desigualmente os desiguais, na medida das desigualdades. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
A isonomia no processo civil vem como o principio da igualdade das partes, devendo estas receberem tratamento isonômico dos aplicadores do direito, seja do legislador, ao criar norma não discriminatória e ao juiz ser imparcial, mas não neutro.
A leitura adequada do art. 125, inc. I, do Código de Processo Civil, mostra que ele inclui entre os deveres primários do juiz a prática e preservação da igualdade entre as partes, ou seja: não basta agir com igualdade em relação a todas as partes, é também indispensável neutralizar desigualdades. (DINAMARCO, 2001, p. 42)
Cada pessoa é um ser individual e por isso, diferentes entre si, e garantir a igualdade entre eles não significa não observar suas desigualdades, deve-se observar de que forma suas desigualdades podem ser analisadas de modo que seja dado um tratamento equilibrado às partes.
Essas desigualdades que o juiz e o legislador do processo devem compensar com medidas adequadas são resultantes de fatores externos ao processo, ou seja, fraquezas de toda ordem, como a pobreza, desinformação, carências culturais e psicossociais em geral. Neutralizar desigualdades significa promover a igualdade substancial, que nem sempre coincide com uma formal igualdade de tratamento porque esta pode ser, quando ocorrentes essas fraquezas, fonte de terríveis desigualdades. A tarefa de preservar a isonomia consiste, portanto, nesse tratamento formalmente desigual que substancialmente iguala. Exemplo vivo é a promessa constitucional e legal de assistência jurídica integral aos necessitados. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
Dos tempos em que a mulher casada aparecia perante a sociedade como pessoa extremamente dependente do marido é o dispositivo segundo o qual as ações de separação judicial e de divórcio têm por foro competente o da residência da mulher - figure ela na condição de autora ou de ré (CPC, art. 100, inc. I). Essa era uma fórmula de reequilíbrio, num trato desigual aos desiguais. Mas a emancipação da mulher, sua profissionalização dentre outros fatores, levaram o constituinte a proclamar a absoluta equivalência jurídica dos sexos, vedada qualquer discriminação. (DINAMARCO, 2001, p. 43) A dúvida que permanece é se continuaria em vigor o dispositivo do Código de Processo Civil ou se estaria revogado pela Constituição de 1988. A jurisprudência vem optando firmemente pela permanência dessa discriminação, que neste caso não se mostra abusiva.
A igualdade de todos perante a lei reflete também na garantia constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional, a qual deve ser outorgada a todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Essa disposição serve de corretivo à má redação do art. 511, caput, fonte da falsa impressão de que estrangeiros não residentes no país não desfrutariam das garantias oferecidas pela Constituição Federal. Nota-se que não só nacionais, mas também pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras radicadas ou não no país são todos beneficiados por essas garantias. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
O direito será garantido a todos os brasileiros ou mesmo turistas, que estão de passagens pelo país, não devendo haver discriminação de qualquer tipo eliminando toda e qualquer disposição em contrário.
O tema da prática do princípio isonômico pelo juiz é muito próximo ao da imparcialidade e com ele bastante relacionado. O juiz imparcial atua de modo equilibrado, o parcial é propenso a buscar o favorecimento de uma das partes. Nem teria significado a preocupação pela imparcialidade do juiz, não fora com o fito de garantir aos sujeitos litigantes o tratamento isonômico indispensável para que, ao fim, o processo possa oferecer tutela jurisdicional a quem efetivamente tenha razão. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
Como é o caso do juiz que julga demanda de seu amigo ou inimigo pessoal, é provável que ele tenha um comportamento tendencioso, o que não pode existir já que não seria justo com a parte contrária.
Na outra ponta, o tema da isonomia confina com o das garantias da liberdade, do contraditório e da ampla defesa, porque a igualdade das partes inclui igualdade em oportunidades de participar com liberdade, defendendo-se adequadamente. Contraditório é participação e participar do processo significa, para as partes, empregar as armas lícitas disponíveis com o objetivo de convencer o juiz a dar julgamento favorável. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
Os princípios do processo por vezes se ligam como é caso do princípio do contraditório que garante o direito de defesa e se as partes têm direitos iguais de se pronunciar durante o processo, vê-se também o princípio da isonomia. No entanto, isso não significa que o contraditório faça parte do princípio da isonomia.
O contraditório não é característica da isonomia muito menos faz parte dela. O que os relaciona é essa convergência funcional, somada ao fato de que ambos são importantíssimas premissas democráticas e, portanto, manifestações do cuidado do Estado contemporâneo pelas liberdades públicas. Isonomia e contraditório caminham politicamente juntos, embora cada qual tenha sua própria individualidade conceitual independente. Um contraditório em equilíbrio é um contraditório com igualdade. (DINAMARCO, 2001, p. 43)Ainda sobre a prática da isonomia pelo juiz, nota-se que esse dever inclui não só oferecer oportunidades iguais de participação aos litigantes, mas também pô-los sempre em situação equilibrada, mediante decisões coerentes. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
Novamente, sobre a isonomia pelo juiz, este não pode somente garantir a igualdade da participação das partes, mas também e principalmente manter o processo em equilíbrio que é o aspecto material da isonomia.
O juiz pratica a isonomia dando oportunidades iguais quando concede prazos equivalentes a ambas as partes para apresentarem memoriais com alegações finais; ou quando, tendo diligenciado a obtenção de um meio de prova de interesse de uma das partes, tem o dever isonômico de diligenciar análogo elemento probatório de interesse da outra parte etc. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
Ou seja, o juiz dá tanto tratamento igual quando deixa que as partes se pronunciem, quanto quando deixam que produzam provas em sua defesa, lembrando que a outra parte deve ficar ciente das provas produzidas pela parte contrária.
A prática da isonomia pelo juiz não se limita à sua conduta na direção do processo, mas deve estar presente também ao julgar a causa. O processo justo, sobre o qual fala a doutrina, é aquele feito segundo legítimos parâmetros legais e constitucionais e que ao fim produza resultados exteriores justos. (DINAMARCO, 2001, p. 43)
O princípio da isonomia apresenta vários reflexos no direito processual. Por muito tempo, predominou o entendimento de que o juiz deveria promover a igualdade das partes na esfera processual apenas em seu aspecto formal, o que aproximava o postulado da concepção nominalista de igualdade. Esse entendimento era justificado sob o argumento de evitar a quebra da imparcialidade do julgador. Modernamente, contudo, esse paradigma está sendo redimensionado. (HERTEL, p. 7, 2006)
O direito atual, com as constantes mudanças e as diferentes características de definição de vários grupos da sociedade, não pode se conformar com a igualdade formal e absoluta de direitos deve-se aceitar as diferenças e aceitar que os desiguais serão julgados de maneira diferente para manter o equilíbrio.
Na realidade, a migração do critério formal da isonomia para o material redundou em alterações relevantes na interpretação de certos dispositivos da lei processual. Pretendeu-se assim aproximar os resultados do processo ao seu escopo social, ou seja, pacificar com justiça. Desta forma, é fundamental que o magistrado considere as diferenças sociais, políticas e econômicas existentes entre os demais sujeitos da relação processual. O julgador deve estar atento para as especificidades dos envolvidos em cada lide, para que possa promover a equalização entre as partes. (HERTEL, p. 7, 2006)
As partes, enquanto pedem justiça, devem ser colocadas no processo em absoluta paridade de condições; mas o novo processo tem percebido que a afirmação puramente jurídica da igualdade das partes pode se transformar em letra morta, se depois, no caso concreto, a disparidade de cultura e de meios econômicos põe a uma das partes em condições de não se poder servir dessa igualdade jurídica, porque o custo e as dificuldades técnicas do processo, que a parte acaudalada e culta pode facilmente superar com os próprios meios e se fazendo assistir, sem economizar nada, por defensores competentes, cabe que constituam, por outro lado, para a parte pobre um obstáculo frequentemente insuperável na via da justiça. (HERTEL, p. 7, 2006)
 
Procura-se a pacificação e manutenção da ordem jurídica além da garantia do direito das partes, e isto não será alcançado se houver apenas a igualdade pura e absoluta, por isso junto a ela há também a isonomia substancial que leva em consideração as disparidades culturais e socioeconômicas, o que é mostrado em privilégios como o benefício de prazo e o foro privilegiado que não são discriminações abusivas e são perfeitamente justificáveis, pois são frutos da busca pelo equilíbrio jurídico.
EMENTA
STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 1499511 RN 2014/0309930-8 (STJ)
Data de publicação: 05/08/2015
Ementa: PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. ACIDENTE DE TRABALHO. AÇÃO REGRESSIVA DO INSS CONTRA O EMPREGADOR. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. PRESCRIÇÃO. 1. A Primeira Seção do STJ, por ocasião do julgamento do REsp 1.251.993/PR, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC , assentou a orientação de que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública é quinquenal, conforme previsto no art. 1º do Decreto-Lei 20.910/1932, e não trienal, nos termos do art. 206 , § 3º , V , do CC/2002 . 2. A jurisprudência é firme no sentido de que, pelo princípio da isonomia, o mesmo prazo deve ser aplicado nos casos em que a Fazenda Pública é autora, como nas ações de regresso acidentárias. Precedentes: AgRg no REsp 1.423.088/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 19.5.2014; AgRg no AREsp 523.412/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 26.9.2014; e AgRg no REsp 1.365.905/SC, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 25.11.2014. 3. A pretensão ressarcitória da autarquia previdenciária prescreve em cinco anos, contados a partir do pagamento do benefício previdenciário. Por conseguinte, revela-se incabível a tese de que o lapso prescricional não atinge o fundo de direito, mas apenas as prestações anteriores ao quinquênio que antecede o ajuizamento da ação. 4. O Tribunal a quo consignou que o INSS concedeu benefício auxílio-acidente, o que vem sendo pago desde 30.01.2001. A propositura da Ação de Regresso ocorreu em 5.6.2013 (fl. 402, e-STJ). Assim, está caracterizada a prescrição. 5. Recurso Especial não provido.
Encontrado em: - PRAZO PRESCRICIONAL - CINCO ANOS - PRINCÍPIO DA ISONOMIA) STJ - AgRg no REsp 1423088-PR STJ - Ag
2) Discorra exaustivamente sopre o Principio da Boa Fé e apresente uma ementa de decisão de tribunal que o aplicou em caso concreto.
Principio da Boa Fé
Salientando que o campo de atuação da boa-fé seja bastante vasto, é grande a dificuldade em sua conceituação, em razão de comportar uma série de significados, dependendo do lado em que se olha, seja por um prisma subjetivo ou objetivo, como princípio ou cláusula geral.
O grande valor dado à boa-fé, constitui uma das mais importantes diferenças entre o Código Civil de 1916 e o de 2.002, que o substituiu.
Acredita-se que a Boa-Fé, ou sua noção, surgiu a priore no Direito Romano, tendo uma conotação, uma hermenêutica diferenciada pelos juristas alemães, em Roma, pode-se afirmar que “A fides seria antes um conceito ético do que propriamente uma expressão jurídica da técnica. Sua jurisdição só iria ocorrer com o incremento do comércio e o desenvolvimento do jus gentium, complexo jurídico aplicável a romanos e a estrangeiros”, no direito Alemão, o que se entende por boa-fé é a fórmula do Treu und Glauben (lealdade e confiança), regra que era observada nas relações jurídicas, e, que se aproxima da interpretação que ocorre no Brasil.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, nos trouxe alguns princípios de grande relevância, além de promover uma reinterpretação do direito civil e processual civil. A Primeira
Hoje em dia, a boa-fé age principalmente como princípio amparado pela ética inspiradora da ordem jurídica e a aplicação das normas existentes. Diante de um princípio de tão grande importância, podemos afirmar que é um dos princípios que mais influencia o sistema jurídico brasileiro, representando o reflexo da ética no fenômeno jurídico.
A boa-fé é o foco, na esfera do qual girou a alteração da Lei Civil Brasileira, da qual cumpre salientar dois artigos, o de nº 113, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”, e o art. 422, que assevera in verbis, “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Nesse sentido, a ilustre doutrinadora Cláudia Lima Maerques, define boa-fé, e, ainda, boa-fé objetiva da seguinte forma:“(...) uma atuação “refletida”, uma atuação refletindo, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando seus interesses legítimos, seus direitos, respeitando os fins do contrato, agindo com lealdade, sem abuso da posição contratual, sem causar lesão ou desvantagem excessiva, com cuidado com a pessoa e o patrimônio do parceiro contratual, cooperando para atingir o bom fim das obrigações, isto é, o cumprimento do objetivo contratual e a realização dos interesses legítimos de ambos os parceiros. Trata-se de uma boa-fé objetiva, um paradigma de conduta leal, e não apenas da boa-fé subjetiva, conhecida regra de conduta subjetiva do artigo 1444 do CCB. Boa-fé objetiva é um standard de comportamento leal, com base na confiança, despertando na outra parte co-contratante, respeitando suas expectativas legítimas e contribuindo para a segurança das relações negociais”
Assim, insta ressaltar que a boa-fé constitui uma norma que condiciona e legitima toda experiência jurídica, desde a interpretação dos mandamentos legais e das cláusulas contratuais, até as suas últimas consequências.
Para se desenvolver um tema tão abrangente como a boa-fé, é necessário fazer a distinção entre a boa-fé subjetiva e a boa-fé objetiva, a que iremos nos aprofundar.
A boa-fé subjetiva
A boa-fé subjetiva é também conhecida como boa-fé crença, isto porque, diz respeito a substâncias psicológicas internas do agente.
É conhecida pela maioria dos operadores da ciência jurídica, pela simples razão de estar presente no código Civil de 1916, em linhas gerais, como já fora observado no parágrafo anterior, consiste em uma situação psicológica, estado de espírito ou ânimo do sujeito, que realiza algo, ou, vivência um momento, sem ter a noção do vício que a inquina.
Geralmente, o estado subjetivo, deriva da ignorância do sujeito, a respeito de determinada situação, ocorre, por exemplo, na hipótese do possuidor da boa-fé subjetiva, que desconhece o vício que macula a sua posse. Assim, neste caso do exemplo, o legislador cuida de ampará-lo, não fazendo o mesmo em relação ao possuidor de má-fé.
Na aplicação dessa boa-fé, o juiz deverá se pronunciar acerca do estado de ciência ou de ignorância do sujeito. O doutrinador Menezes Cordeiro, esclarece sobre tal afirmação:
"Perante uma boa-fé puramente fática, o juiz, na sua aplicação, terá de se pronunciar sobre o estado de ciência ou de ignorância do sujeito. Trata-se de uma necessidade delicada, como todas aquelas que impliquem juízos de culpabilidade e, que, como sempre, requer a utilização de indícios externos. Porém, no binômio boa-má fé, o juiz tem, muitas vezes, de abdicar do elemento mais seguro para a determinação da própria conduta. (...) Na boa-fé psicológica, não há que se ajuizar da conduta: trata-se, apenas de decidir do conhecimento do sujeito. (...) O juiz só pode profanar, como qualquer pessoa, juízos em termos de normalidade. Fora a hipótese de haver um conhecimento direto da má-fé do sujeito – máxime por confissão – os indícios existentes apenas permitem constatar que, nas condições por ele representadas, uma pessoa, com o perfil do agente, se encontra, numa óptica de generalidade, em situação de ciência ou ignorância."
O grande doutrinador, Dr. Bruno Lewicki, esclaresse sobre a concepção de boa-fé subjetiva:
“(...) ligada ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil, é insuficiente perante as novas exigências criadas pela sociedade moderna. Para além de uma análise de uma possível má-fé subjetiva no agir, investigação eivada de dificuldades e incertezas, faz-se necessária a consideração de um patamar geral de atuação, atribuível ao homem médio, que pode ser resumido no seguinte questionamento: de que maneira agiria o bônus pater familiae, ao deparar-se com a situação em apreço? Quais seriam as suas expectativas e as suas atitudes, tendo em vista a valoração jurídica, histórica e cultural do seu tempo e de sua comunidade”
 “A resposta a esses questionamentos, encontra-se na boa-fé objetiva, sendo que esta, consiste em uma imprescindível regra de comportamento, umbilicalmente ligada à eticidade que se espera seja observada em nossa ordem social.”
Cumpre mais uma vez salientar que apenas no que se refere à boa-fé subjetiva é que pode se utilizar do consagrado brocado do doutrinador Stoco de que "a boa-fé constitui atributo natural do ser humano, sendo a má-fé o resultado de um desvio de personalidade”.
Assim, podemos chegar a conclusão que a boa-fé subjetiva se refere ao estado psicológico da pessoa, consistente na justiça, ou, na licitude de seus atos, ou na ignorância de sua antijuricidade. Alípio Silveira a chamou de boa-fé crença, conforme já citado e Fábio Ulhoa Coelho definiu como “a virtude de dizer o que acredita e acreditar no que diz”. Assim, aquele que se encontra em uma situação real, e imagina estar em uma situação jurídica, age com boa fé subjetiva.
 A boa – fé Objetiva
A boa-fé objetiva se apresenta como um princípio geral que estabelece um roteiro a ser seguido nos negócios jurídicos, incluindo normas de condutas que devem ser seguidas pelas partes, ou, por outro lado, restringindo o exercício de direitos subjetivos, ou, ainda, como um modo hermenêutico das declarações de vontades das partes de um negocio, em cada caso concreto.
Ao se ter um lado objetivo para o princípio da boa-fé, o juiz deixou de ter que seguir estritamente o que consta em lei, podendo fazer a justiça, de modo singular em cada caso concreto apareça.
Como prova dos bons ventos da influência alemã, é que o Código Civil italiano (1942), português (1966), espanhol (1974) dentre outros, aderiram ao princípio da boa-fé objetiva em suas jurisdições.
A boa-fé objetiva, ou simplesmente, boa-fé lealdade, relaciona-se com a lealdade, honestidade e probidade com a qual a pessoa mantém em seu comportamento.
Trata-se, de ética, um exemplo dessa mencionada ética é um dever de guardar fidelidade à palavra dada ou ao comportamento praticado, na idéia de não fraudar ou abusar da confiança do outrem. Não se opõe à má-fé, quem o faz é a boa-fé subjetiva, nem tampouco tem relação com o fato da ciência que o sujeito possui perante a realidade.
Importante destacar que somente com a criação do Código do Consumidor em 1990, é que a boa fé objetiva foi realmente consagrada em nosso ordenamento jurídico, derivada dos dizeres constitucionais, essa modalidade de boa-fé começou então a ser utilizada para interpretações contratuais, integração de obrigações pactuadas, mostrando-se absolutamente fundamental, para que as partes de um negócio jurídico pudessem agir com lealdade perante o outrem, até o cumprimento de suas obrigações.
O culto Menezes Cordeiro, em obra sobre o tema, acrescenta que: “A boa-fé apenas normatiza certos factos que, estes sim, são fonte: mantenha-se o paralelo com a fenomenologia da eficácia negocial: a sua fonte reside não na norma que mande respeitar os negócios, mas no próprio negócio em si.”
No mesmo seguimento, cumpre-nos observar que a doutrina, destaca as seguintes funções da boa-fé objetiva:
 Função interpretativa e de colmatação;
 Função criadora de deveres jurídicos anexos ou de proteção;
 Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos.
 Função interpretativa e de colmatação.
É a função mais conhecida pela doutrina, sendo que nesta, o operador do direito tem, na boa-fé objetiva, um referencial de interpretação de grande valia, para poder extrair do objeto de questão, o sentido moral mais recomendado e socialmente mais útil.
Essa função tem a estreita conexão com o art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, o qual o juiz deve aplicar a lei, atendendo os seus fins sociais e os questionamentos do bem comum.
“Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”
 No mesmo sentido, insta ressaltar que a boa-fé objetiva serve como um alicerce de comutação para orientar o magistrado em casos que ocorram integração de lacunas.
Função criadorade deveres jurídicos anexos ou de proteção.
 A boa-fé possui essa importante função criadora de deveres anexos ou de proteção.
 Sem querer esgotar tais deveres, somente a título de exemplificação, vale mencionar os deveres mais conhecidos: Lealdade e confiança recíprocas; Assistência; Informação; Sigilo ou confidencialidade.
Todos esses, e, ainda, os não citados, já que este rola não é taxativo, derivam desta grande força criadora da boa-fé objetiva.
 Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos.
Por fim, tem-se a função delimitadora do exercício de direitos subjetivos.
A boa-fé objetiva, além de outros, também tem o condão de evitar o exercício abusivo aos direitos subjetivos. Algo que raramente existe nos dias de hoje, essa “tirania dos direitos”.
Por isso que não se pode mais aceitar, algo como as “cláusulas leoninas ou abusivas”, seja em relações de consumo, ou, contratos cíveis em geral.
Um exemplo real do tema em comento, é o dispositivo contratual que prevê a impossibilidade de se aplicarem as normas da teoria da imprevisão (onerosidade excessiva), em prol de parte prejudicada.
Assim, observamos que cabe também à boa-fé, essa função delimitadora.
Sobre o assunto, vale frisar os artigos 51 do CDC e 187 do C.C.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. (grifos nossos)
A função integrativa da boa-fé advém do art. 422 do C.C. Além de servir à interpretação do negócio jurídico, a boa-fé é na verdade uma fonte, criadora de deveres jurídicos para as partes. Tanto antes, quanto durante e depois, deve-se agir pelo princípio da boa-fé em uma realização de negócio jurídico entre partes.
EMENTA 
TJ-PE - Apelação APL 4027758 PE (TJ-PE)
Data de publicação: 18/01/2016
Ementa: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - RELAÇÃO DE CONSUMO - RESTRIÇÃO DA AUTORA NA CONTRATAÇÃO DE CONSÓRCIO - FORMULAÇÃO DE NOVA PROPOSTA DE CONTRATO EM NOME DE TERCEIRO PARA POSTERIOR TRANSFERENCIA - UTILIZAÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE SINAL - AUSENCIA DE CONSENTIMENTO DA AUTORA - VIOLAÇÃO AO PRINCIPIO DA BOA-FÉ CONTRATUAL - DEVER DE RESSARCIMENTO CONFIGURADO - DANOS MORAIS DEVIDOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO - OBSERVANCIA AOS PRINCIPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE, ALÉM DO CARÁTER PEDAGÓGICO - RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Havendo restrição do nome da autora para a contratação de cota de consórcio, competia a parte Ré ressarci-lhe dos valores pagos no ato da proposta formulada e não utilizar do valor pago para firmar o contrato em nome de terceiro para posterior transferência, após a regularização cadastral. 2. A falta de conhecimento prévio da operação configura violação ao princípio da boa-fé objetiva, em sua fase pré-contratual, de modo a restar imprescindível o ressarcimento dos valores pagos pela autora, em virtude da ausência da transferência de titularidade do contrato pretendida. 3. Evidenciada a ilicitude do ato praticado pela parte ré, tal fato é capaz de ensejar dano moral, exsurgindo, daí, o dever de indenizar in re ipsa, advinda do próprio ato praticado. 4. É cediço que, na fixação da reparação por dano extrapatrimonial, incumbe ao julgador, atentando, sobretudo, para as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, arbitrar quantum que se preste à suficiente recomposição dos prejuízos, sem importar, contudo, enriquecimento sem causa da vítima. 5. Ao concreto, demonstrada a ilicitude do ato praticado pela ré, e sopesadas as demais particularidades do caso, adequada a fixação do valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a título de danos morais. 6. Apelo que nega provimento.
2) Discorra exaustivamente sopre o Principio da Cooperação e apresente uma ementa de decisão de tribunal que o aplicou em caso concreto.
Principio da Cooperação
Outrora já implícito no sistema processual brasileiro, o Princípio da Cooperação tem seu alicerce no devido processo legal, e, atualmente tem redação implementada pelo Novo Código de Processo Civil, através do art. 6º que aduz:
“Art. 6º: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.”
Tal artigo, expõe e aponta como alicerce de uma base eficaz e célere, o chamado “ativismo judiciário”, exercido pelo juiz e ambas as partes. Este ativismo é a própria soma da participação efetiva e colaborativa das partes, para que atenda a finalidade processual (resolução da lide), tornando-as, portanto, corresponsáveis pelo processo e o Juiz, que atua, inclusive, como participante ativo do contraditório, não mais se limitando a mero fiscal de regras e atos burocráticos.
Desta sorte, esse princípio busca, dentre outras assertivas que serão brevemente analisadas, legitimar o procedimento, tendo em vista que os atos processuais não serão apenas ritualística formal e legal mas significarão, também, o fortalecimento da argumentação favorável à teoria da relação jurídica triangular do processo (juiz, autor e réu). Fredie Didier Junior5, explica que:
“Atualmente, prestigia-se no Direito estrangeiro mais precisamente na Alemanha, Franca e em Portugal e, já com algumas repercussões na doutrina brasileira o chamado princípio da cooperação, que orienta o magistrado a tomar uma posição de agente colaborador do processo, de participante ativo do contraditório e não mais a de um mero fiscal de regras.”
Para a doutrina, o dever de cooperação recíproca estaria voltado principalmente para o magistrado, de modo a orientar sua atuação processual, a boa fé processual e a lealdade a justiça, devendo ser um agente e colaborador do processo, inclusive, como participante ativo do contraditório, não mais se limitando a mero fiscal de regras e atos burocráticos. De fato, o Magistrado, diante da mudança apresentada, não pode mais atuar como mero espectador do conflito e sim, como o grande agente colaborador do processo, inclusive como participante ativo do contraditório, não mais deixando espaço para a atividade jurisdicional estática, que aguarda manifestações das partes para atuar perante o processo e limitada a atividade fiscal e demandista de regras.
Aponta, ainda, a doutrina que, este dever de cooperação recíproca entre partes e Magistrados deve-se ser compreendida através da subdivisão em, pelo menos, quatro pilares essenciais: o dever de prevenção, de esclarecimento, de auxílio às partes e de consulta. Que, serão basicamente entendidos da seguinte forma: o dever de prevenção significaria o cabimento por parte do magistrado em apontar para as partes as “deficiências” processuais para que haja o devido saneamento das mesmas, por exemplo, a emenda à inicial; O dever de esclarecimento, que consistiria na obrigação do magistrado de estar à disposição das partes para sanar quaisquer dúvidas que possuam sobre o desenvolvimento processual conforme evolução de suas etapas; O dever de auxílio, sintetizaria aquele no qual o juiz deve auxiliar as partes, no exercício de seus ônus ou deveres processuais de forma a equilibrar a relação processual, por exemplo, a distribuição dinâmica do ônus da prova e, por fim, o dever de consulta que congloba a ideia que o juiz deve estar disposto a ouvir as partes, as questões de fato ou de direito que interferirão no julgamento da lide afinal, desta maneira, cooperarão as partes para uma célere e com maiores possibilidades de acerto solução do litígio, se lhes for dada a oportunidade de manifestação sobre as alegações da parte contrária, consequentemente levando a um bem maior, qual seja, o contraditório.
Os tribunais já reconhecem expressamente a aplicação de tal princípio e apontam na jurisprudência, decisões que se utilizam da argumentação principiológica para se desenvolverem:
CIVIL. PROCESSO CIVIL. BUSCA E APREENSÃO. CONVERSÃO EM EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE EXECUTIVIDADE. NÃO VERIFICADA. PRINCIPIO DA COOPERAÇÃO PROCESSUAL. VIOLADO. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA CASSADA.
I.O rol estabelecido no artigo 585 do Código de Processo Civil é meramente exemplificativo, podendo a lei conferir o status de título executivo extrajudicial a outros documentos, que não os previstos no mencionado dispositivo.
II. Fere o princípio da cooperação processual, a atitude do magistrado de influenciar a parte a converter o feito e, posteriormente, indeferir a inicial, sobre o argumento de que o título não é hábil ao procedimento adotado.
III. Recurso Provido para cassar a sentença de primeiro grau.
(Processo: APC 20140310015006. Relator (a): GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA. Julgamento:25/11/2015. Órgão Julgador: 3ª Turma Cível Publicação: Publicado no DJE: 14/12/2015. Pág.: 294)
Segue:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. UTILIZAÇÃO EXCEPCIONAL. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO. PREVENÇÃO AO CERCEAMENTO DE DEFESA.
1 – Julgamento antecipado. O julgamento antecipado da lide nos Juizados Especiais Cíveis somente se mostra cabível quando a produção de provas em audiência se mostre absolutamente dispensável.
2 – Princípio da Cooperação. Se os fatos da lide não estão devidamente delineados, o juiz deve agir de forma cooperativa, designando audiência para produção da prova pessoal, na forma do art. 33 da Lei 9.099/1995, com o objetivo de prevenir o cerceamento de defesa.
3 – Recurso conhecido e provido. Sentença anulada.
(RI 07071643320158070016. Relator (a) AISTON HENRIQUE DE SOUSA. Julgamento:18/12/2015. Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA RECURSAL. Publicação: Publicado no DJE: 26/01/2016.)
Importante frisar que a participação efetiva do magistrado, não fere sua isonomia, uma vez que, na cooperação, os deveres são recíprocos e todos os agentes do processo são protagonistas de sua própria condução. Em verdade, o legislador visou a substituição da figura “monótona” do juiz no processo, a fim de o tornar manifestante na relação processual e colaborador imediato para o sucesso jurisdicional, célere e adequado. O novo Código de direito processual defende a necessidade de um contraditório mais participativo pela figura do juiz no processo e colhe, como consequência, o exercício mais ativo da cidadania, inclusive da própria natureza processual.
Desta sorte, este Princípio, vem para facilitar o trabalho do julgador e de quaisquer partes pleiteadoras, dando-lhes um melhor aparato judicial diante de uma nova realidade social. Tendo em vista que a busca processual sempre será uma só, qual seja, a solução justa e eficaz da lide, o legislador se manifestou de forma a propiciar eficazmente a justiça, sendo um marco na história processual. É a renovação do processo, de modo que o papel de cada um dos operadores do direito e partes, seja o de cooperar e dialogar, pautados na lealdade, boa-fé objetiva e contraditório.
EMENTA
TJ-DF - RECURSO INOMINADO RI 07071643320158070016 (TJ-DF)
Data de publicação: 26/01/2016
Ementa: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. UTILIZAÇÃO EXCEPCIONAL. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO. PREVENÇÃO AO CERCEAMENTO DE DEFESA. REVELIA. CARÁTER RELATIVO. VERROSIMILHANÇA. 1 ? Julgamento antecipado. O julgamento antecipado da lide nos Juizados Especiais Cíveis somente se mostra cabível quando a produção de provas em audiência se mostre absolutamente dispensável. 2 ? Princípio da Cooperação. Se os fatos da lide não estão devidamente delineados, o juiz deve agir de forma cooperativa, designando audiência para produção da prova pessoal, na forma do art. 33 da Lei 9.099 /1995, com o objetivo de prevenir o cerceamento de defesa. 3 ? Revelia. A revelia somente se aplica (art. 20) quando se vislumbra verossimilhança nos fatos alegados, situação que não se mostra presente, à primeira vista, na alegada troca de bens usados, por novo, em loja de ramo de atuação diversa. 4 ? Recurso conhecido e provido. Sentença anulada.

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