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ABC DA EXPORTAÇÃO | 05 | O Brasil já está maduro o suficiente para conhecer novos mercados. Mas para a pequena e média empresa, este desafio é enorme, às vezes sendo um grande obstáculo, mas quando superado, traz muitos ganhos. A empresa precisa estar plenamente estruturada e ter conhecimento do país para o qual vai exportar. Todos concordam que a exportação é um bom negócio porque pode gerar melhorias financeiras, reduzir instabilidade, diluir riscos, ampliar mercado e criar economia de escala. Além disso, as tecnologias em transportes e os meios de comunicações em larga escala, transformaram as transações comerciais em algo mais próximo das pequenas corporações, que colaborou com o processo de integração econômica mundial. E o resultado desta integração foi a transformação do capitalismo naquilo que conhecemos hoje, em que qualquer empresa, independente do porte, pode comprar e vender bens no mundo inteiro, com um custo de transação relativamente baixo. Empreender no comércio exterior, assim como em qualquer outro mercado, não é uma tarefa indicada para aventureiros. Questões como a busca por parceiros comerciais, compromissos com prazos, inovação tecnológica, serviços de pós-venda e política de preço são questões essenciais | 06 | CARLOS ARAÚJO para que se tenha credibilidade e sucesso internacional. O Brasil participa com muito pouco nas transações mundiais de comércio. Estima-se que o nosso país participe com menos de 1,5% exportações mundiais, o que nos mostra que há muito espaço para crescer. Mais adiante vamos discutir o processo de internacionalização das empresas e os meios de exportação disponíveis. A localização da empresa A legislação brasileira não entende que um negócio de importação possa ser exclusivamente virtual. Na verdade, uma empresa nunca poderá ser virtual para os burocratas brasileiros. É preciso ter um endereço físico, e que disponha de capacidade financeira e operacional adequada (falaremos mais sobre isto adiante). Escolher o seu ponto comercial vai ser a primeira decisão importante que irá tomar para conceber a sua empresa exportadora (e possivelmente não poderá ser a sua casa!). Nela, você deve estar atento às condições operacionais que o seu negócio vai exigir, como salas em edifícios modernos, com acesso à tecnologia, conforto e proximidade dos centros urbanos, além de também estar próximo das unidades aduaneiras na qual a sua mercadoria estará obrigada. Em outras palavras, quero dizer que a sua empresa precisa ABC DA EXPORTAÇÃO | 07 | estar estabelecida próximo dos seus clientes e fornecedores, mas também perto da zona portuária/aeroportuária. Mesmo com toda a tecnologia disponível para que as transações aconteçam à distância, é recomendável que você estiver pronto para atender a uma solicitação de um ente governamental que cuide do seu processo de exportação, ou próximo do seu armazém logístico. Com a sua empresa instalada nestes locais, certamente o logística aduaneira, o transporte de materiais e o embarque de produtos serão facilitados, e você irá ganhar mais agilidade. O que se entende por capacidade operacional? Esta não é uma pergunta fácil de responder, e muitos aqui poderiam dizer que um home office ofereceria todos os elementos necessários para tocar uma operação de exportação, mas eu vou sintetizar o que pensam os burocratas de Brasília. Capacidade operacional significa a quantidade de recursos humanos, materiais, logísticos, bens de capital, imóveis, tecnologia, e se estão condizentes com aquelas necessárias para a condução das importações e exportações presentes e futuras. Ou seja, você precisa provar, com instalações, de que tem a quantidade de recursos adequada para que as operações aconteçam. Para alguns isto pode parecer um contrassenso, mas por experiência posso afirmar que você não será habilitado no | 08 | CARLOS ARAÚJO Radar, sem que a empresa esteja devidamente montada e equipada. Mas não se preocupe agora porque mais adiante voltaremos neste assunto. A criação da empresa para exportar Para facilitar o processo, vamos considerar que esta empresa que iremos criar terá o fim específico de exportação, e que existir apenas dois sócios nesta formação. Neste momento o seu principal herói vai ser o contador. Você não vai conseguir fazer tudo sozinho, e este profissional vai ser a sua tábua de salvação para os problemas futuros decorrentes de qualquer deslize. O contador é o profissional legalmente habilitado para elaborar os atos constitutivos da empresa, além de assessorar na escolha da forma jurídica mais adequada ao seu projeto de exportação. Ele também será a pessoa mais adequada para o preenchimento dos formulários exigidos pelos órgãos públicos (que não são poucos) de inscrição de pessoas jurídicas. O contador também irá lhe informar sobre as obrigações tributárias concernentes ao seu negócio. ABC DA EXPORTAÇÃO | 09 | O objeto social (no contrato social) das empresas que operam com exportação ou importação O objeto social é o coração do contrato da empresa. É nele que se determina o que a empresa pretende executar como atividade econômica para geração de receitas ao negócio. Uma empresa que planeja fazer da exportação um dos seus negócios precisa ter no objeto social a atividade de importação e exportação. Na legislação aduaneira não existe a exigência específica de vincular o objeto social da Pessoa Jurídica com os produtos que são importados. Assim, meu entendimento diz é permitido importar ou exportar qualquer produto, dentro das exigências legais. No entanto, é recomendável a definição compatível do objeto social com as atividades que serão desempenhadas. Outro elemento importante nesta etapa é a adequação do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) com a sua atividade econômica, e a pergunta mais recorrente é: vou abrir uma empresa exportadora de um produto XX, e gostaria de saber se existe um CNAE específico para a atividade exportadora. A resposta padrão é não existe um CNAE específico de exportação. | 10 | CARLOS ARAÚJO Existe apenas a obrigatoriedade de ser inserida o CNAE de comércio atacadista ou na fabricação dos produtos. Informação valiosa: você até pode escolher redigir o seu contrato social, escolher a atividade econômica de acordo com a tabela da Receita Federal, e tentar ultrapassar várias destas barreiras sem auxílio. Entretanto, com a experiência de quase três décadas, eu recomendo que você transfira esta obrigação para o contador contratado. Além de ser mais ágil, ele tem todas estas resposta na ponta da língua, e economizar o seu tempo (e o seu bolso) para que você pense naquilo que é mais importante: a estratégia dos seus negócios. Como escolher este profissional? Sinceramente, você não vai poder abrir o Google e digitar ´eu quero um contador´ para achar o melhor profissional. Será necessário ir atrás de referências e indicações com outros empresários do ramo, até achar um adequado ao seu orçamento e as suas urgências. Não recomendo balizar a sua contratação apenas no preço. Olhe o histórico deste profissional e em quantas empresas iguais a sua ele já assessorou. ABC DA EXPORTAÇÃO | 11 | A contabilidade é uma ciência padrão para várias áreas do ramo empresarial, mas o comércio exterior carrega consigo uma dose alta de peculiaridade, em que é preciso ter experiência ´de campo´ para poder prestar um bom serviço. Em outras palavras, opte por escolher o profissional que já tenha em sua carteira empresas exportadoras (e também importadoras). Quantas etapas para abertura desta empresa? Dividiríamos esta etapa em duas seções: 1. Criação da empresa; 2. A habilitação para operarno comércio exterior. O motivo desta divisão é que o comércio exterior é um capítulo a parte. Qualquer empresa, depois de constituída, vai precisar cumprir um ritual de obrigações e inscrições em órgãos exclusivamente ligados as atividades de importação e exportação, e é por isto que comentamos acima que o contador precisa ter experiência teórica e prática para assessorar os interessados em ingressar neste ramo. | 12 | CARLOS ARAÚJO A criação da empresa Segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), para legalizar a empresa, é necessário procurar os órgãos responsáveis para as devidas inscrições. Será necessário efetuar o Registro de empresa nos seguintes órgãos: • Junta Comercial; • Receita Federal do Brasil (CNPJ); • Secretaria Estadual da Fazenda; • Prefeitura do Município para obter o alvará de funcionamento; • Enquadramento na Entidade Sindical Patronal (a empresa ficará obrigada ao recolhimento anual da Contribuição Sindical Patronal); • Cadastramento junto à Caixa Econômica Federal no sistema Conectividade Social – INSS/FGTS; • Corpo de Bombeiros Militar; • Obtenção do alvará de licença sanitária (nos casos em que o objeto social contemple a importação ou exportação de produtos controlados pela ANVISA). ABC DA EXPORTAÇÃO | 13 | A Habilitação da empresa para operar no comércio exterior O processo de habilitação no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) se refere a procedimento prévio ao despacho aduaneiro necessário para que exportadores, importadores e internadores da Zona Franca de Manaus possam realizar operações no referido sistema. Algumas operações de Pessoas Físicas ou de Pessoas Jurídicas estão dispensadas de registro no Siscomex. O Siscomex é um sistema informatizado responsável por integrar as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio exterior, por meio de um fluxo único e automatizado de informações. Esta habilitação consiste em um exame prévio realizado pelos Auditores Fiscais da RFB, para qualquer pessoa física ou jurídica que pretende realizar operações de comércio exterior. Esse registro tem o nome de Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros (Radar) e figura entre os momentos mais importantes e decisivos para o empresário. Com essa ‘chave de entrada’, é possível que a empresa autorize os seus despachantes aduaneiros, funcionários, sócios, diretamente no ambiente Web da Receita Federal, para praticarem as atividades relacionadas com o despacho aduaneiro. | 14 | CARLOS ARAÚJO Por que habilitar a empresa? A sistemática de habilitação para operar no comércio exterior brasileiro visa analisar a necessidade e a utilidade do provimento e verifica a situação fática. Uma pessoa jurídica adquire identidade própria com o registro de seus assentamentos nas juntas comerciais e passam a ter vida como estrutura operacional. Para tanto, nesse momento, é necessário que em seus atos constitutivos tenham no objeto social a atividade de exportação e/ou importação. São as Juntas Comerciais os órgãos responsáveis pelas funções executora e administradora dos serviços de registro, a quem incumbe a execução de Registro de Empresas Mercantis. Essa empresa existe fazendo uso da energia do trabalho de seus empregados e do ingresso do capital social, o que atende o objetivo social da empresa, o qual é algo como uma missão, ou seja, algo que ela pretende fazer. E essa sinergia, o trabalho, a expertise do empresário e o dinheiro injetado visa a atender ao objetivo social. A estrutura operacional consiste em agrupar recursos e atividades, com vistas aos objetivos e resultados fixados no contrato social. ABC DA EXPORTAÇÃO | 15 | Todos esses elementos resultam na constatação de que a organização deixou de ser um elemento fruto da imaginação, de um registro público, e passou a ser algo que existe no mundo real. Sob esse prisma, a Receita Federal do Brasil (RFB) exerce a função de verificar as condições das empresas que desejam operar no comércio exterior, e se elas realmente foram criadas para operar com compra e venda de mercadorias. E no exercício das atribuições legais descritas em leis, os auditores fiscais verificam, entre outras coisas: • A comprovação da integralização do capita; • A documentação de identidade do responsável pela pessoa Jurídica; • Os atos constitutivos e comprovantes de domicílio empresarial; • Alvará municipal de licença de funcionamento; • Certidões negativas; e • Provas existenciais do estabelecimento da empresa. | 16 | CARLOS ARAÚJO Além desses, também podem ser solicitados: • balanço patrimonial relativo ao último exercício encerrado ou balanço de abertura; • balancete de verificação relativo ao mês anterior ao da protocolização do requerimento de habilitação; e • demonstrativo de resultados, relativo ao último período encerrado. Como vimos, a habilitação da empresa junto ao Radar é coisa séria e vai requerer muita dedicação do empresário em cumprir esta etapa. Existem empresas especializada em proceder com esta habilitação, normalmente um consultor especializado em normas aduaneiras ou um advogado, e há também a prestação de serviços por parte de alguns contadores. Minha opinião é que esta etapa é sui generis, e requer alguém com experiência teórica e prática para que ela surta efeitos positivos. Novamente, não acredite que qualquer um poderá lhe fornecer cumprir esta etapa sem maiores complicações. ABC DA EXPORTAÇÃO | 17 | Você, caso deseje, pode partir para fazer a habilitação da sua empresa exportadora, arregaçando as mangas e compreendendo o que a legislação vigente diz. As seguintes normas irão nortear o seu objetivo: • Instrução Normativa RFB 1.603/2015 • Ato Declaratório Executivo COANA 123/2015 Em regra geral, a Habilitação no Radar está descrita da seguinte forma: • Pessoa Física • Pessoa Jurídica o Modalidade Expressa o Modalidade Limitada o Modalidade Ilimitada A submodalidade expressa é destinada para as seguintes situações: 1. Pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade anônima de capital aberto, com ações negociadas em bolsa de valores ou no mercado de balcão, bem como suas subsidiárias integrais; 2. Pessoa jurídica certificada como operador econômico autorizado (OEA); 3. Empresa pública ou sociedade de economia mista; | 18 | CARLOS ARAÚJO 4. Órgãos da administração pública direta, autarquia e fundação pública, órgão público autônomo, organismo internacional e outras instituições extraterritoriais; 5. Pessoa jurídica que pretenda realizar operações de exportação, sem limite de valores, e de importação, cujo somatório dos valores, em cada período consecutivo de 6 (seis) meses, seja inferior ou igual a US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares dos estados unidos da américa); e 6. Pessoa habilitada para fruir dos benefícios fiscais concedidos para a realização dos jogos olímpicos de 2016 e dos jogos paralímpicos de 2016, previstos na lei nº 12.780, de 9 de janeiro de 2013, inclusive a contratada para representar os entes referidos no § 2º do art. 4º da referida lei. A pessoa jurídica habilitada na submodalidade limitada poderá realizar operações de importação com cobertura cambial, em cada período consecutivo de 6 (seis) meses, até o limite de US$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil dólares norte-americanos), ou o equivalente em outra moeda, caso sua capacidade financeira estimada seja superior a US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares norte-americanos) e igual ou inferior a US$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil dólares norte-americanos). ABC DA EXPORTAÇÃO | 19 | A pessoa jurídica habilitada na submodalidade ilimitadapoderá realizar operações de importação com cobertura cambial, em cada período consecutivo de seis meses, acima do limite de US$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil dólares norte-americanos), ou o equivalente em outra moeda, caso sua capacidade financeira estimada seja superior a tal montante. Pergunta que não quer calar: Uma empresa recém constituída pode ser habilitada no Siscomex? A resposta é SIM. Apesar de a empresa ainda não possuir um histórico de recolhimentos tributários e previdenciários, não há fator impeditivo de habilitação baseado exclusivamente nestes critérios. Organização Interna Este é um tema que mereceria um livro inteiro, e não teremos espaço aqui para discutir o assunto com a devida profundidade. Entretanto, quero apenas que você tenha uma noção exata do quão importante é esta etapa (note, você ainda nem chegou a decidir como irá exportar, e já precisa pensar na organização operacional dos seus processos!), e conduzindo-a de forma eficiente, tudo vai ficar mais fácil lá na frente. | 20 | CARLOS ARAÚJO A primeira coisa que você vai precisar exercitar é o Mapeamento de Processos. O que é isto? Controlar todos os passos chave do funcionamento das suas operações vai ser o segredo do seu sucesso. Você não vai conseguir ir muito longe sem que tenha o controle de como a coisa está funcionando. E é neste ponto que entra a gestão e o mapeamento dos processos. O mapeamento é uma forma de gestão e organização desses processos, que é a keymaster do funcionamento de uma empresa, de forma a torná-los mais eficazes. O mapeamento de processos encurta o caminho para a criação de sistemas de indicadores de desempenho, que avaliará, em tempo real, a execução das tarefas, medições dos resultados, a produtividade de cada setor e pessoa, além da avaliação dos custos. Lembre-se: O primeiro passo para ganhar controle sobre uma organização é conhecer e entender os processos básicos. Para a Consultoria de Qualidade, Bertha Paigel, as atividades das empresas de Comércio Exterior são mais complexas e demandam, além do conhecimento técnico, muita atenção e agilidade, onde possíveis falhas podem gerar grandes transtornos e prejuízos. ABC DA EXPORTAÇÃO | 21 | Por isso, ressalta, deixar de implementar a técnica de mapeamento de processos pode trazer graves consequências ao sucesso do negócio. Montando um departamento de exportação O investimento em profissionalização da área de exportação é também um elemento importante na condução para o sucesso no mercado externo. E um ponto importante neste processo é a criação de um departamento de exportação. Este departamento tem que de tratado como estratégico pela alta direção da empresa, e não apenas como um apêndice do departamento de vendas no mercado interno. Precisa ter gerência própria, funcionários especializados, ferramentas específicas e sistema de informação adequado às necessidades, e que fale a língua dos negócios externos. Vamos tratar com mais detalhes nas próximas páginas sobre isto, mas a exportação é cheia de siglas, procedimentos, documentos específicos e condições que o mercado interno nunca irá ver. Atividades do Departamento de Exportação O renomado consultor de exportação, Nicola Minervini, indica várias atividades do departamento de exportação, e que necessitam de ser implementados: | 22 | CARLOS ARAÚJO • Criar, identificar e selecionar as principais oportunidades de negócios; • Definir os mercados onde atuar prioritariamente; • Planejar e coordenar o plano de promoção; • Definir as formas de ingresso nos mercados; • Selecionar parceiros com os quais estabelecer colaborações comerciais; • Criar um portfólio de clientes e gerenciar a manutenção dos contatos; • Analisar as solicitações de ofertas; • Avaliar e confirmar os pedidos recebidos pelos clientes; • Monitorar todo o processo, do recebimento dos pedidos ao recebimento dos pagamentos; • Monitorar constantemente os mercados. Como demonstrado, um departamento de exportação não se assemelha, nem de perto, com as atividades que tem o departamento de venda no mercado interno. Aqui não queremos dizer que há melhor ou pior, mas apenas demonstrar que uma vez decidido pelo mercado externo, a empresa vai precisar de especialização em várias etapas, de sistemas de controle e de softwares de gestão. | 24 | CARLOS ARAÚJO Ela está em vários lugares, de forma acessível e gratuita. O problema, neste caso, é selecionar a melhor informação que servirá ao seu propósito. No início, não é possível responder para qual lugar eu vou exportar meu produto, e sim: eu posso exportar? Eu estou preparado para isto? Pode parecer uma pergunta sem sentido, principalmente se você já for um líder de mercado, mas o problema é mais profundo do que parece. Na verdade, você primeiro precisa saber se o seu produto está preparado para exigências do mercado internacional, somente depois de responder a esta primeira pergunta, é que você dará o passo seguinte, que é: Em que lugar eu sou menos vulnerável? Neste momento você precisará encontrar qual o lugar em que você possa ser mais competitivo com o seu produto em relação ao mercado e aos concorrentes. Não se deve menosprezar, também, a cultura do povo em que você irá negociar. Para o consultor italiano, e autor do livro ´O Exportador´, Nicola Minervini, mas de 70% dos negócios não se realizam devido a falta de conhecimento da diferenças culturas. ABC DA EXPORTAÇÃO | 25 | É importante não eliminar os mercados que, aparentemente, podem parecer pouco atrativos. Para os especialistas, é justamente este mercado que pode lhe dar experiência operacional e aprendizado de como compreender e atender aos diferentes clientes pelo mundo, principalmente em fatores estranhos ao que você está acostumado no mercado interno. Distância cultural x distância física Um cuidado especial para este fator. Com muita frequência, a distância cultura é muito maior e mais pesada do que a distância física. O que é isto? A crescente internacionalização das empresas brasileiras torna mais nítida as diferenças entre as culturas e a necessidade de se desenvolver uma gestão multicultural. Pesquisas indicam que a América Latina continua sendo o principal destino das transações internacionais praticadas por empresas brasileiras, chegando a ser mais da metade. E por quê? Porque esta é uma tendência típica das fases iniciais do processo de internacionalização, já que reflete a influência da proximidade geográfica e cultural na redução dos custos envolvidos no processo de expansão para o | 26 | CARLOS ARAÚJO exterior. Não estou dizendo que um argentino e um brasileiro são iguais. Não, não são. O que quero dizer é que é mais fácil para uma empresa exportar para um país que está aqui do lado, em que culturas podem ser parecidas ou convergentes, e isto facilita o meu processo de aprendizagem comercial e de entender e atender as demandas necessárias. Os estudos indicam que o processo de internacionalização encontra enormes desafios entre as diferentes culturas, que estão incluídas as variações de idiomas, costumes, bem como práticas de negócios, desenvolvimento industrial, e do fluxo comércio entre países. Para vencer estas barreiras, a maior parte das empresas procura iniciar o seu processo de exportação com agentes mais próximos (fisicamente). Em seguida, a partir da aprendizagem resultante do processo de internacionalização, e que dependendo do grau dessa distância pode ocorrer uma interferência no fluxo de informações entre países e novos mercados, é que se buscam novos desafios. Em outras palavras: começo pelo que é mais fácil, e depois de ganhar aprendizado, caminho para o mais difícil.ABC DA EXPORTAÇÃO | 27 | O processo de internacionalização acontece de forma evolutiva e não homogênea, e a aquisição de experiências nestes mercados regionais traz inúmeros subsídios (e também implicações), que irão auxiliar como indicadores de sucesso para a empresa. Gargalos no processo de internacionalização Internacionalizar uma empresa pressupõe uma série de decisões que envolvem uma definição clara das estratégias de negócios da empresa. Não podem ficar de fora, o modelo de governa corporativa e também o modelo de gestão. Inserir a sua empresa e o seu produto no exterior deve ser resultado de um minucioso planejamento estratégico focado no mercado externo, que deve envolver alguns elementos chaves: • Capacidade exportadora da empresa: física, de recursos humanos e tecnológicos; • Definição do que exportar; • Identificação e análise do mercado alvo, inclusive dos possíveis concorrentes; • Avaliação da situação atual do mercado e das suas perspectivas; • Definição de estratégias mercadológicas; • Formação de preço para a exportação. | 28 | CARLOS ARAÚJO Quais são os desafios da internacionalização? Mas quais são os desafios, principalmente para a pequena e média empresa? A comunidade acadêmica e os órgãos de apoio aos negócios concordam que as empresa de porte pequeno e médio ainda tem um longo caminho a percorrer para chegar ao mercado internacional. Boa parte desta dificuldade é resultante da burocracia estatal, e neste ponto o poder público tem função primordial. Só ele pode colaborar para que empresas de tamanhos diversos possam experimentar o mercado externo. De uma forma bem resumida, estes são alguns dos entraves encontrados no processo de internacionalização: • Fata de continuidade do processo de exportação, principalmente quando o mercado interno está aquecido; • Falta de investimentos permanentes no mercado externo, inclusive oferecendo um nível mínimo de serviço pós- venda; • Falta de conhecimento, no mínimo o essencial, sobre os entraves aduaneiros e cambiais do mercado destino; • Falta de conhecimento sobre embalagens, etiquetagem e requisitos sanitários/fitossanitários vigentes para o produto no mercado pretendido; ABC DA EXPORTAÇÃO | 29 | • A distribuição local naquele país está nas mãos de amadores, que não tem conhecimento sobre uso, a forma de abordagem e outras informações importantes do produto na ponta de venda; • Erro na formulação do preço de exportação; • Aguardar, ansiosamente, por resultados rápido (este é o pior de todos!). A lista de problemas poderia resultar em um livro, mas em meu entendimento é necessário se preocupar com os aspectos relevantes (mais do que todos) que a empresa aspirante ao mercado externo não pode deixar de ser preocupar. Para um processo de internacionalização ser bem sucedido, é preciso que ele esteja alicerçado em três pilares: • Posição doméstica sólida • Estratégia de entrada eficiente • Capacidade de execução O que é isso? Calma, que irei explicar. Uma posição forte no mercado interno significa que ou você é líder de mercado, ou está próximo dele. Uma empresa que sequer consegue liderar o seu mercado, certamente não terá sucesso lá fora. O Core Business e a Expertise que ela desenvolveu junto aos seus players vai servir de combustível para enfrentar os concorrentes lá fora. | 30 | CARLOS ARAÚJO Nicola Minervini costuma dizer que uma empresa que não consegue colocar os seus produtos no melhor shopping do seu estado ou país não está preparada para vencer os desafios que o mercado externo exige. E eu concordo com esta afirmação. Sabe por quê? Porque as expansões internacionais necessitam de investimentos para estruturar as operações até que elas sejam autossuficientes, e a fonte de recurso desta operação será o mercado interno. Então como ter sucesso lá fora se vai faltar combustível ($$) antes que ele amadureça? Um segundo ponto importante nesta análise e a Estratégia Eficiente de Entrada. Já dissemos que um dos primeiros entraves ao processo é a distância cultural (ou distância psíquica, como alguns chamam), que envolve elementos como distância geográfica, cultura, língua, nível educacional, nível de desenvolvimento econômico, dentre outros. Mas não é só isso. O sucesso da expansão internacional também depende de outros elementos. O primeiro deles é a escolha do(s) mercado(s) alvo(s). ABC DA EXPORTAÇÃO | 31 | Para escolha deste quesito, deve-se levar em consideração além do tamanho do mercado, o lucro gerado disponível e a concorrência interna. Muitos autores recomendam que o começo deva ser por aqueles em que estou menos vulnerável, considerando a dinâmica da indústria local. Uma vez escolhido o mercado a ser atingido, deve-se decidir a forma de entrada. Ela pode acontecer por intermédio de exportação (direta ou indireta), escritórios comerciais de vendas de produtos ou serviços, licenciamento, franchising ou a construção ou compra de plantas industriais naquele mercado. Uma vez decidido como entrar, agora é colocar a mão na massa. É ter capacidade de execução do processo de internacionalização. E como isto vai acontecer? Agora não tem mais jeito, a organização está comprometida com o novo mercado (ou então tempo e dinheiro foram jogados no lixo!). Para ter sucesso nesta empreitada, toda a empresa precisa por em prática uma das mais importantes etapas: ter um modelo de negócio que possa ser replicado no mercado o mercado alvo. | 32 | CARLOS ARAÚJO Não esotu querendo dizer que a internacionalização só vai funcionar se for aplicado a padronização dos mercados. Nem sempre isto é possível, e na maioria das vezes é necessário fazer adaptações ao gosto e a cultura local. A chamada Glocalização (um neologismo resultante da fusão dos termos globalização e localização. Refere-se à presença da dimensão local na produção de uma cultura global). Mas é saudável ter um modelo de negócios que pode ser replicado em vários mercados também ajuda. Poder repetir uma fórmula de sucesso do seu mercado local em vários países facilita em vários fatores, mas nem sempre isto é possível, salvo exemplos clássicos como o da Avon, que cresceu em vários mercados emergentes entre 1994 e 2004. Em outras palavras, empresas com estrutura organização flexíveis têm altos índices de sucesso no processo de internacionalização. | 34 | CARLOS ARAÚJO Ninguém discute que a exportação é importante. A exportação representa o primeiro passo da internacionalização, e é uma alternativa muito utilizada, já que requer um grau reduzido de riscos e comprometimento por parte da organização. Basta que haja interessados do outro lado, e aqui cumpriremos as formalidades processuais e enviaremos o produto. Certo? Nem tanto, mas podemos dizer que sim. O problema é que algumas perguntas precisam ser respondidas para que isto aconteça. Vamos lá! A primeira delas: o que é a exportação? Pode parecer repetitivo (e está sendo), mas esta definição passar por alguns fatores estruturais dentro da empresa. Antes de tudo, a exportação é um compromisso com a qualidade, o profissionalismo e método, o que nos obriga a improvisar menos e usar mais método durante este processo. Estes quesitos são fundamentais na mentalidade exportadora da empresa. Antes de decidir exportar, a organização deve se perguntar: qual a sua motivação em partir para o mercado externo? Esta decisão está intimamente ligada com a capacidade empreendedora dos seus dirigentes, que envolve seus pontos fracos e pontos fortes. ABC DA EXPORTAÇÃO | 35 | Em outras palavras, a exportação não pode ser uma aventura para alguém que acordou e leu a notícia de que o dólar está valorizado epor isto vender lá fora vai lhe trazer mais receita. Este é um dos principais pecados. É sabido que o ato de exportadar, quando bem planejado, pode resultar em uma série de fatores positivos, como maiores lucros, ampliação do mercado, melhor utilização da capacidade instalada e aprimoramento da qualidade, dentre outros. Entretanto, se este processo não levar em conta as metas e objetivos empresariais, certamente energias, recursos materiais e financeiros serão desperdiçados. Em suma, acredite, nem todo mundo pode ou deve exportar. Para algumas empresas, o mercado interno está bom demais. Por que exportar? Já dissemos anteriormente, mas é preciso reforçar, a exportação é algo que precisa estar alinhado com a estratégia da empresa. Não pode ser o desejo de um gestor porque as vendas internas estão baixas, ou porque o dólar está em franca expansão. A exportação não se começa da noite para o dia. Normalmente, aventureiros tem poucos resultados posivitos, e somente as empresas que apostam num projeto de longo prazo é que tem sucesso. | 36 | CARLOS ARAÚJO É preciso compreender que o mercado não aceita bem o fornecedor ´por oportunidades (aquele apenas se move por intermédio daquelas oportunidades momentâneas, como a variação do dólar.) Somente terão sucesso na exportação aquelas empresas que tem um projeto estruturado e de longo prazo (mais de cinco anos). Só assim vai descobrir que pode ser vantajoso exportar, mesmo que um dólar não esteja a seis reais. O que exportar? Esta é a pergunta de um milhão de dólares. A crença popular indica que todo mundo compra alguma coisa, e o seu produto pode entrar no radar destes compradores, desde que observados alguns fatores. Mas é claro que o ´desvio padrão´ de um produto pode resultar em negócios mais rápidos ou preços melhores. O diferencial que transforma um produto comum em algo que interessa a diversos mercados pode ser o custo, a adaptação, cuidados com a embalagem ou as exigências daquele mercado local escolhido. Não imagine que seu principal diferencial estratégico vai ser o preço. Há muitas empresas mais maduras, que tem preços melhores do que o seu. Pense em exportar qualidade, inovação, design e serviço pós-venda. ABC DA EXPORTAÇÃO | 37 | Exportação Direta A exportação direta é caracterizada por aquela em que o envio da mercadoria ao exterior é feito sem a participação de uma trading no mercado local. Nem todas as empresas iniciantes têm à sua disposição recursos materiais, tecnológicos, humanos e expertise para proceder sozinho com uma operação. Note que não estou falando das exigências do mercado destino, mas das questões operacionais e burocráticas exigidas em seu país. No Brasil, por exemplo, qualquer empresa que esteja se preparando para exportar precisar estar atendo a questões importantes como: • Tributária – Emissão de Notas Fiscais, de ter certificados digitais específicos para esta emissão, controles contábeis específicos e completos; • Operacionais - Habilitação no Radar, emissão do Registro de Exportação, da Declaração de Exportação, Emissão de Fatura Comercial, Packing List, Conhecimento de Embarque e Certificados de Origem; • Logísticos/Aduaneiros – cuidar dos trâmites burocráticos aduaneiros, do embarque da carga, da emissão dos documentos e das obrigações cambiais. Pode parecer que este processo é simples, mas requer alguma preparação inicial, que irá tomar tempo. | 38 | CARLOS ARAÚJO Exportação Indireta Já para aquelas empresas que optam por não errar logo na primeira operação, e não dispõe de recursos financeiros para contratar uma consultoria especializada para lhe assessorar, ou mais ainda, a primeira venda externa já aconteceu, então elas podem optar por fazer uma exportação indireta. Uma exportação indireta significa que haverá a intermediação de uma trading entre o produtor e o comprador no exterior. A principal vantagem de operar nesta modalidade de exportação é que a obrigatoriedade de conhecimento das normas e trâmites burocráticos, ou até mesmo obrigações acessórias exigidas localmente, são de responsabilidade deste intermediário, não necessitando o fabricante de uma estrutura própria. Para onde exportar? Dissemos anteriormente que qualquer produto pode ser vendido (em tese), porém nem tudo pode ser exportador para aquele país que você escolheu. Inicialmente, é necessário conhecer os riscos e obrigatoriedade de cada país. Muitos países impõem controles de ordem sanitárias, burocráticas e documentais, e neles são necessários cumprir exigências de certificação, ABC DA EXPORTAÇÃO | 39 | licenças prévias, adaptações ou documentos específicos, que dificultam a sua entrada naquele mercado. Como exemplo, o Brasil é campeão nestas barreiras. Somos uma das mais fechadas economias para o mercado externo. Uma das formas mais eficazes de conhecer estas barreiras, além de conhecer o mercado e a concorrência, é participar de missões empresariais e feiras internacionais. Procure conhecer qual é a feira mais importante do seu segmento, e qual o seu calendário oficial. Somente através da participação de uma feira é que você vai poder se medir em relação aos concorrentes e ao que o mercado demanda. Mas isto não quer dizer que você de imediato, e no primeiro momento, vai participar como expositor. Isto é um erro que pode custar dezenas de milhares de dólares e sem qualquer retorno prático. Vá como visitante e reserve tempo para conhecer os stands, participe dos workshops e rodadas de negócios que ela venha lhe oferecer. Vá também até os escritórios dos prospects que lá estão. Com muita frequência é possível fazer visitas técnicas a partir destas feiras, o que sem dúvida é uma excelente oportunidade comercial. ABC DA EXPORTAÇÃO | 41 | Eu costumo dizer que formar o preço é um dos elementos mais importante (se não o principal). Estou exagerando? Não, e vou explicar o porquê. A estratégia de preço precisa estar alinhada com as outras estratégias, e ela tem de condizer com o mercado alvo. Determinar o seu preço adequadamente é decisivo para assegurar as condições de competitividade do produto a ser vendido para o exterior. A fixação errônea do preço pode começar a gerar prejuízos bem antes de o produto ser entregue e sugere que a estabilidade do projeto não se sustentará por um quesito simples: não haverá lucro, nem no curto e tão pouco no longo prazo. Não precisaria repetir o mantra, mas entendo ser necessário, de que a formação do preço deverá ser precedida de um estudo detalhado dos custos de produção (no seu mercado de origem) e condições do mercado (destino). Assim como ocorre no mercado doméstico, o seu target precisa de um monitoramento constante para acompanhar as tendências, novos entrantes, as forças dos compradores, regras gerais que aquele mercado passou a adotar (públicas ou privadas) e as alterações de demanda. Um produto sucesso de venda hoje poderá sofrer alguma interferência futura dos concorrentes locais ou ser pressionado pelo governo local e deixar de ser competitivo. | 42 | CARLOS ARAÚJO Nestes quesitos estão incluídas as tarifas aduaneiras, regimes de licenciamento de importação, de cotas ou questões administrativas internas daquele país. O Brasil tem histórico recentes de mudnaças bruscas na administração das importações. De um momento para o outro, as regras para produtos importados mudaram radicalmente e o produto antes competitivo, deixava de ser por culpa dos entraves burocráticos. Fatores que influenciam o preço de exportação Dizer que a cotação da moeda estrangeira ou fatores logístico são os mais impactantes na formação do preço simplificar demais o processo. A formaçãode preço é uma condição multifatorial, em que não apenas um, mas vários itens são importantes na composição e cada caso passa a ser único. E há um conjunto de variáveis que precisam ser analisadas momento de definir o preço externo. São elas: • Competidores locais (e potenciais); • Comportamento dos consumidores; • Custos de produção na origem; • Despesas de exportação (que detalharemos adiante); • Esquemas de financiamento à exportação; Novas tecnologias (que podem reduzir o custo de produção); ABC DA EXPORTAÇÃO | 43 | • Preços praticados por concorrentes de outros países; • Tratamento tributário aplicável à exportação. Você pode determinar que o seu preço seja o mesmo (ou menor) praticado pelos seus principais concorrentes (locais ou de outros países que lá atuam). Mas sabe-se que empresas que não fazem análises multifatoriais na formação de preço não consegue sobrevir por muito tempo. O que são despesas de exportação? Por definição, são todas as importâncias indispensáveis, cobradas ou debitadas, do início até o desembaraço da mercadoria, ainda que venham a ser conhecidas somente após a liberação aduaneira. São aquelas oriundas das operações de transporte, deslocamento e armazenagem do produto, na qual se utilizam as instalações de porto e/ou aeroporto, ou ainda por serviços prestados por terceiros, que tenha ligação direta com o produto e/ou processo. Elas são calculadas unitariamente, ou por serviço, ou ainda pelo peso/volume. Algumas são pagas antecipadamente, já outras são pagas depois da mercadoria embarcar. | 44 | CARLOS ARAÚJO É importante frisar que responsabilidade destas despesas está diretamente ligada ao Incoterms pactuado. Os Incoterms na formação do preço Se fossemos falar de Incoterms (International Commercial Terms) neste material, deveríamos escrever centenas de páginas, sem esgotar o assunto. Mas aqui vamos citar alguns pequenos pontos, que julgamos necessários, para fazer compreender o motivo de algumas considerações sobre preços mudam radicalmente se o termo pactuado for diferente. Os Incoterms são termos de vendas internacionais, publicados pela Câmara Internacional de Comércio (ICC), organização de caráter privado, sediada em Paris, França. Na prática dos contratos de compra e venda de bens, permitem estabelecer, com exatidão, a divisão de tarefas, de custos e de riscos entre compradores e vendedores. E se a divisão dos custos pode mudar de acordo com o termo de venda pactuado, então temos a necessidade de descrever, antes de tudo, que o preço praticado está calculado sob a de um determinado Incoterms. ABC DA EXPORTAÇÃO | 45 | Não é muito difícil de compreender que de acordo com o Incoterms praticado na operação, algumas despesas serão direcionadas para o seu comprador (ou vice-versa), e não porque ela deixou de existir. Pela ótica destes termos, só existem duas figuras na operação de compra e venda: Exportador e importador. Assim, se uma despesa não for de uma parte, será da outra. Os Incoterms não falam apenas de custo, mas aqui, por questão de espaço e profundidade, vamos abordar somente esta particularidade. Para facilitar o entendimento neste material, a nossa formação de preço será calculada pelo Incoterms FOB. Também por definição, FOB (Free on Board) significa que o exportador se compromete a entregar a mercadoria livre a bordo do navio, ou seja, todas as despesas, desde a sua fábrica até o embarque da mercadoria, serão por conta de quem está vendendo. Dalí por diante, incluindo o frete e o seguro internacional, tudo será por conta do importador. Resumindo: no Preço FOB pactuado, o exportador se obriga a custear as seguintes despesas: • Coleta do contêiner e entrega no terminal de ovação (fábrica/armazém); • Embalagem de exportação; | 46 | CARLOS ARAÚJO • Custos de carregamento na origem (fábrica/armazém); • Transporte local até o porto; • Seguro local da carga até o porto; • Despesas de recepção da carga no porto; • Pesagem / preparação de houver; • Procedimentos aduaneiros (despachante aduaneiro, emissão de ticket de pesagem, presença de carga, tributos se houver, dentre outros); • Liberação alfandegária; • Emissão de documentos (conhecimento de embarque, certificados); • Envio dos documentos ao exterior. Tratamento tributário na exportação Exportar não é um ato de enviar tributos (ou não deveria). De certa forma, os governos desoneram os encargos tributários sobre os produtos exportados, buscando criar competitividade nos mercados externo. E isto acontece por intermédio de eliminação dos impostos indiretos, inclusive aqueles incidentes nos insumos, mas que são incorporados aos produtos finais. Esta competitividade no mercado internacional é beneficiada por incentivos fiscais e tributários oferecidos pelo governo. ABC DA EXPORTAÇÃO | 47 | Estes benefícios são destinados a eliminar os tributos incidentes sobre os produtos nas operações normais de mercado interno. Os seguintes tributos não são recolhidos em uma operação de exportação: • IPI - Os produtos exportados não sofrem incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados; • ICMS - O Imposto Sobre circulação de Mercadorias e Serviços não incide sobre operações de exportações; • COFINS - As receitas decorrentes da exportação, na determinação da base de cálculo da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social são excluídas; • PIS - As receitas decorrentes da exportação são isentas da contribuição para o Programa de Integração Social; • IOF - As operações de câmbio vinculadas à exportação têm alíquota zero no Imposto sobre Operações Financeiras. Não existe outro tributo na exportação? Sim, o Imposto de Exportação (IE). Entretanto, ele só é cobrado para aqueles produtos em que o governo brasileiro não tem interesse em exportar, o que reduz drasticamente a sua incidência. Para todo o restante, a alíquota deste imposto é 0% (zero). | 48 | CARLOS ARAÚJO O IE é de competência da União e sua base de cálculo é o preço de venda pactuado na Fatura Comercial. Simulando um preço de exportação Utilizamos um modelo disponibilizado no site do Ministério do Desenvolvimento, que utiliza uma forma padrão adotada por muitos exportadores. Apesar de este modelo ser bem simplista, ele consegue captar muitas das variáveis existentes, e a título de aprendizado servirá de base do conhecimento que se pretende adquirir neste material. Para efeitos do cálculo deste exemplo, utilizamos o seguinte método: 1. Eliminam-se todos os componentes que se encontram agregados ao preço de mercado interno e que não ocorrerão na exportação do produto (tributos agregados ao preço de mercado interno, lucro e embalagem de mercado interno, despesas de propaganda e distribuição no mercado interno, dentre outros); 2. Adicionam-se ao resultado anterior todos os componentes que não faziam parte do preço interno, mas que deverão compor o preço de venda para o exterior (embalagem para exportação, transporte internacional, taxas aduaneiras, seguro internacional, dentre outros). ABC DA EXPORTAÇÃO | 49 | 3. Acrescenta-se o percentual do lucro desejado na exportação e a taxa cambial. 4. 4. Aqui, o lucro desejado na exportação é calculado sobre o PREÇO de exportação em moeda nacional e não sobre o CUSTO TOTAL (= Preço no mercado Interno sem IPI (-) Componentes do preço no mercado interno (+) Componentes do preço de Exportação), o que significa dizer que o PREÇO equivale a 100%. Isto é, o PREÇO (100%) = CUSTO TOTAL (X%) + LUCRO (Y%), onde X + Y = 100. Esse cálculo (“por dentro”) é feito mediante uma regra de três simples. Vamos aos números: | 50 | CARLOS ARAÚJO ABC DA EXPORTAÇÃO | 51 |ABC DA EXPORTAÇÃO | 53 | A década de 90 foi importante para a quebra de paradigma no comércio exterior brasileiro. Várias mudanças estruturais foram implementadas e a tentativa de diminuir (ou erradicar) a burocracia excessiva foi, finalmente, iniciada. E o ponto mais importante nesta nova arquitetura foi a criação de uma ferramenta eletrônica de gerenciamento das importações e exportações brasileiras. Em parceria com o Banco Central do Brasil, Receita Federal do Brasil e Secretaria de Comércio Exterior, foi criado o Siscomex (Sistema integrado de comércio exterior). Este sistema teve o objetivo de integrar as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio exterior, através de um fluxo único e computadorizado de informações. Trata-se de um sistema sem precedente no mundo, que engloba 100% das operações de importação e exportação no Brasil. O Siscomex foi instituído pelo Decreto nº 660, de 25 de setembro de 1992, é um sistema informatizado responsável por integrar as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de comércio exterior, através de um fluxo único e automatizado de informações. | 54 | CARLOS ARAÚJO O módulo de exportação foi posto em operação inicial em 1993 e reformulado em outubro de 2006, tendo suas informações disponibilizadas na internet. Resumidamente, destacam-se as seguintes vantagens do Sistema: 1. Agilidade na coleta e processamento de informações por meio eletrônico; 2. Ampliação dos pontos do atendimento; 3. Crítica de dados utilizados na elaboração das estatísticas de comércio exterior; 4. Diminuição significativa do volume de documentos; 5. Eliminação de coexistências de controles e sistemas paralelos de coleta de dados; 6. Harmonização de conceitos e uniformização de códigos e nomenclaturas; 7. Redução de custos administrativos para todos os envolvidos no sistema; 8. Simplificação e padronização de documentos. A título de curiosidade, até 1992 (na exportação) e até 1996 (na importação), quando um importador ou exportador precisava obter suas licenças, estas eram feitas por intermédio de formulários próprios para esse fim, gerando muitas vias, procedimentos burocráticos e um atraso que não combinaria com a dinâmica do comércio global na atualidade. ABC DA EXPORTAÇÃO | 55 | Hoje temos o Programa Portal Único de Comércio Exterior, uma iniciativa de reformulação dos processos de importação, exportação e trânsito aduaneiro, que foi possível estabelecer processos mais eficazes, harmonizados e integrados para com todos os intervenientes públicos e privados no comércio exterior. Com o Portal Único a demanda por serviços mais eficientes no comércio exterior brasileiro poderá ser atendida na sua plenitude, e o Siscomex vai continuar sendo a ferramenta que simplifica e integrar os negócios internacionais brasileiros, objetivos estes que foram traçados lá no início dos anos 90, com a abertura de mercado promovida pelo Governo Collor. Principais documentos emitidos pelo Siscomex Registro de Exportação (RE) Documento eletrônico em que o exportador informa os dados de natureza comercial, cambial e fiscal. O RE é a licença de exportação que apresenta, de forma detalhada, como a transação será realizada. Em linhas gerais, ele deve ser obtido antes do despacho aduaneiro, e poucas operações são dispensadas deste documento. Dependendo da categoria do produto, a análise, crítica e deferimento desta licença acontece automaticamente pelo sistema. | 56 | CARLOS ARAÚJO Registro de Exportação Simplificada (RES) O RES é a simplificação do RE (Registro de Exportação), criado para facilitar algumas operações que não ultrapassem US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares americanos), com cobertura cambial e para embarque imediato para o exterior. Não são todos os produtos/operações que são contemplados com esta sistemática, e o exportador deverá conhecer a relação de produtos fornecidas pelo SECEX. O RES tem grande utilidade para as pequenas e médias empresas que estão iniciando no comércio exterior. Registro de Crédito (RC) Documento emitido quando a exportação for financiada, ou seja, quando o prazo de pagamento for acima de 360 dias. Assim, o Registro de Crédito (RC) é o documento eletrônico que contempla as condições definidas para as exportações financiadas e, como regra geral, deve ser preenchido previamente ao RE. ABC DA EXPORTAÇÃO | 57 | Registro de Venda (RV) Alguns produtos que são negociados em bolsas internacionais de mercadorias ou de commodities, possuem características comerciais específicas e precisam ter documentos eletrônicos exclusivos emitidos no Siscomex. Entre os produtos, podemos destacar soja em grão, óleo e farelo, açúcar demerara, cristal e refinado. O RV é o conjunto de informações que caracterizam uma operação de commodities e assegura ao exportador os parâmetros fixados no momento da venda. O preenchimento do RV é prévio ao RE e, por consequência, ao embarque. Declaração de Exportação (DE) O despacho aduaneiro de uma mercadoria na exportação é o momento em que a fiscalização aduaneira verifica a exatidão das informações prestadas pelo exportador quando a natureza comercial, fiscal, tributária e administrativa, quanto aos documentos apresentados, à carga e à legislação específica. Se tudo estiver de acordo com os procedimentos legais exigidos, a mercadoria será desembaraçada e a sua saída para o exterior será autorizada. E o documento em que o exportador declara estas informações e inicia esse procedimento aduaneiro é a Declaração de Exportação (DE). Essas informações são inseridas eletronicamente no Siscomex, tendo a si vinculadas | 58 | CARLOS ARAÚJO um ou mais Registros de Exportação, e dependendo do caso poderá ser simplificado (DSE). Declaração Simplificada de Exportação (DSE) Idêntico ao RES, em que é facilitado ao exportador o processo de liberação aduaneira, a Declaração Simplificada de Exportação é o documento alternativo a DE, em quem algumas situações, o interessado pode optar pelo despacho aduaneiro simplificado. São exemplos de exportações passíveis do uso de DES, as mercadorias cujo valor total seja igual ou inferior a US$ 50,000.00, exportação temporária, reexportação, contidos em remessa postal internacional (Exporta Fácil) e bagagem desacompanhada de viajantes. A DSE é uma operação que apresenta uma configuração de poucos procedimentos e de fácil formulação, alavancando os negócios de exportação das pequenas e médias empresas. Comprovante de Exportação (CE) Uma vez em que a mercadoria já foi desembaraçada pela autoridade aduaneira no Siscomex, e a averbação e confirmação do embarque também lançada no sistema, será fornecido ao exportador, quando solicitado, o Comprovante de Exportação (CE). O CE sintetiza todos os dados e registros vinculados a uma exportação. | 60 | CARLOS ARAÚJO Nas transações internacionais, seja na importação ou na exportação, os documentos desempenham uma importante função de negociação. São eles que descrevem o que está sendo vendido, transportados ou atestam a qualidade do produto feita através de um laboratório ou de uma instituição credenciada de renome internacional. Fatura Proforma O primeiro existente em uma transação comercial internacional é a fatura proforma (ou proforma invoice). Este documento é emitido pelo exportador para o importador e formaliza e confirma a negociação internacional. Muitos entendem que este é o primeiro contrato entre as partes, apesar de não gerar obrigações de pagamento por parte do importador. É uma tomada de preço internacional, onde o interessado (importador) busca detalhes daquilo que está disposto a comprar.Contrato Internacional Contratos internacionais são manifestações de vontades entre as partes, comprador e vendedor ou demais partes, que visam criar relações patrimoniais ou de serviços. ABC DA EXPORTAÇÃO | 61 | Estas relações estarão sujeitas mais de um sistema jurídico, e tal como a documentação que embasa a negociação comercial, o contrato é parte fundamental na regulação dos direitos e deveres entre as partes. Mas alguém pode dizer, “e os Incoterms, não ditam direitos e deveres entre exportador e importador? E eu ainda estou obrigado a ter um contrato internacional?”. Sim, está, porque os Incoterms ditam as relações de direitos e deveres com relação aos custos e responsabilidades no processo logístico, no que tange a condição de entrega de uma mercadoria, mas não fala nada sobre o processo comercial na sua totalidade. Os contratos internacionais apresentam especificidades, como: a) alcance, b) submissão, c) idioma, d) Lei aplicável e foro, e e) jurisdição competente, já que ficam a escolha das partes. De modo a garantir a certeza para a execução do negócio, um contrato internacional deve abordar, dentre outras coisas, os seguintes tópicos: 1. Qualificação das partes 2. Delimitação clara do que está sendo comercializado entre as partes, descrevendo suas características de forma detalhada; 3. Qual a modalidade e forma de pagamento internacional; | 62 | CARLOS ARAÚJO 4. Qual Incoterms pactuado; 5. Quanto a mercadoria estará pronta para ser entregue e em que local; 6. Quais os documentos deverão ser apresentados pelo exportador; 7. A forma como as partes se comunicarão; 8. Quais idiomas conterão no contrato; 9. Certificações necessárias para a operação, para a carga e para a empresa exportadora; 10. Qual a embalagem necessária para o transporte da mercadoria; 11. Qual o meio de solução de controvérsias. A prática usual no comércio internacional dispensa o uso de contrato internacional, em que elas são realizadas sem a formalização documental. Porém, sabemos também que uma vez iniciado uma controvérsia, a solução fica difícil para ambos os lados. Por isto recomenda-se formalizar todas as operações internacionais com um contrato de compra e venda, mesmo que as relações comerciais já sejam antigas e duradoras. Assim, é possível evitar dúvidas e confusões sobre os pontos acordados durante as negociações, mas que não tenham sido fixados por escrito. ABC DA EXPORTAÇÃO | 63 | Purchase Order A Purchase Order (PO) é emitida pelo importador e endereçada ao exportador, e representa um compromisso formal de compra. A partir do envio da PO, o exportador já assume as providências de preparação do material a ser exportado, e que já foi descrito em trocas de mensagens anteriormente, como fatura proforma e/ou contrato internacional. É o start do processo que terminará com o embarque da mercadoria. Às vezes, a condição de pagamento exige a transferência de alguma quantidade de recursos antecipadamente, e isto também fica condicionado ao envio de recursos financeiros. Entretanto, a partir do recebimento da PO, o exportador já sabe que terá um compromisso de entrega no prazo combinado. Enquanto a Fatura Proforma indica a cotação do exportador para com o importador, em que várias mudanças podem ser feitas, na PO o importador e exportador concordam que aquela será a descrição final do que será embarcado, contendo as condições gerais, como preço, quantidade, tipo, forma de pagamento, prazo de entrega e local de embarque, entre outros, elaborado e firmado entre ambos. | 64 | CARLOS ARAÚJO Reserva de Praça (Ou booking). Obter uma Reserva de Praça, ou fazer um booking, ou ainda ´bookar´ uma carga, é solicitar junto à companhia de transporte um espaço para a carga a ser embarcada. Ela pode ser feita pelo exportador ou importador, dependendo do Incoterms negociado (e de quem será o responsável pelo pagamento do frete), e realizada com a maior antecedência possível. Na prática, com a chegada do booking pelo transportador significa que a mercadoria já está reservada para aquele navio indicado no documento, principalmente no transporte marítimo. Transportadores reservam espaços para aquela carga, baseada em algumas condições enviadas por aquele que solicitou a serva. Para a reserva de um booking é necessário enviar informações ao transportador, tais como: 1. Porto de Embarque e Desembarque da mercadoria; 2. Embarcador e consignatário da carga; 3. Navio/viagem ou data pretendida de saída; 4. Descrição resumida da carga a ser embarcada; 5. Peso bruto e metragem cúbica da carga; ABC DA EXPORTAÇÃO | 65 | 6. Tipo de equipamento (quando for embarcada em contêineres); 7. Incoterms; 8. Condição de Pagamento do Frete; 9. Indicar se a mercadoria é perigosa ou se detém condições especiais de transporte. Os principais desafios da operação são o equacionamento da data de embarque, deadlines (prazo final para conclusão) informados pelo armador com a disponibilidade da carga para ser estufada e entregue no porto. Em outras palavras, ter um booking em mãos significa que o prazo para embarque já está previsto, e com isto a carga também deverá estar pronta para embarcar. Por outro lado, não se podem ignorar etapas importantes, como o pagamento (ou parte dele) e as obrigações aduaneiras que o exportador precisa vencer para que a carga seja colocada no mar/ar. A isto tudo se dá o nome de Logística Aduaneira. Não estamos falando neste momento da cotação do frete. Entendemos que esta etapa deveria ter sido vencida anteriormente, e não no momento em que a carga já está quase pronta para embarcar. | 65 | CARLOS ARAÚJO Instrução de Embarque (IE) na exportação Este é o momento mais importante de toda a operação de exportação. Daqui pra frente, é crucial que todos os passos logísticos e operacionais da exportação sejam conduzidos por uma instrução enviada pelo importador. A este documento damos o nome de Instrução de Embarque (ou Shipping Instructions). A Instrução de Embarque (IE) é a um documento que relaciona cada passo a ser seguido na exportação, principalmente no que concerne aos documentos a serem emitidos. Se você pensar que uma exportação é um conjunto de passos a serem seguidos (interno, administrativo, tributário e logístico) dentro do seu país, certamente terá conhecimento de tudo que precisa ser feito. Porém, é preciso ter em mente que do outro lado, no país do seu comprador, estas ações sofrerão influência das regras comerciais e aduaneiras de lá, e é preciso estar em sintonia com tudo que será preciso, ou seu importador poderá ter problemas para liberar a carga. ABC DA EXPORTAÇÃO | 66 | Assim, a IE consiste na preparação correta dos documentos de embarque (faturas comerciais, romaneios, certificados de origem, certificados de inspeção, conhecimentos marítimos, aéreos, ferroviários e rodoviários) e o envio destes, dentro do prazo, para o destino correto. E “emitir corretamente” significa também preencher de acordo com o que a legislação daquele país determina. Ficou confuso? Então vamos lhe dar exemplos práticos. Se você fosse um vendedor americano, e fosse fazer a sua primeira exportação para o Brasil, deveria saber que a fatura comercial para o nosso país precisa ser assinada de próprio punho, que tem que ser original, sem rasuras e precisa conter a identificação do signatário. Além disso, o conhecimento de embarque necessita ter o CNPJ do Importador no campo consignatário e precisa ter a identificação da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul). Quer mais? Se o produto for pneus, o exportador precisa estar cadastrado no Inmetro, e cada operação precisará da certificação deste órgão para serautorizado a sua liberação. E mesmo o exportador americano tendo vários anos de experiência no ramo, ele só saberá das peculiaridades desta operação se alguém lhe disser. Para isto existe a Instrução de Embarque, em que o Importador envia e detalha como | 67 | CARLOS ARAÚJO cada documento deverá ser emitido e quais informações deverão conter. Não existe modelo padrão para IE e cada empresa deverá adaptar de acordo com a sua necessidade. É por isto que não se recomenda que o exportador interfira em modelos ou informações contidas, ou então ele poderá assumir responsabilidades desnecessárias. Porém, em qualquer IE é comum ter um conjunto de informações, que giram em todos do seguinte: 1. Informações para o preenchimento da Fatura Comercial; 2. Informações para o preenchimento do Packing List; 3. Informações especiais caso a mercadoria seja embarcada em embalagens de madeira, e suas exigências internacionais de tratamento (fumigação); 4. Informações Especiais para etiquetagem da mercadoria; 5. Informações gerais, como endereço do consignatário, dados bancários e dados do agente de carga ou companhia de transporte que fará o processo logístico do envio. Fique atento para receber esta instrução antes de iniciar qualquer processo de embarque. Você pode se surpreender com o nível de exigência de cada país, e em alguns deles nem será possível avançar por falta de competência interna da sua organização. ABC DA EXPORTAÇÃO | 68 | Este não é um documento oficial, e sim uma simples instrução que pode facilitar a vida do exportador, e o principal motivo é não incorrerem em multas ou penalidades por falta de informações. Com esta IE em mãos, o próximo passo é enviar por e-mail ao comprador tudo aquilo que você emitir, com a devida antecedência e cobrar dele um prazo para lhe responder. De preferência, antes da saída da mercadoria para que se possa conferir e analisar, e se houver erros ou discrepâncias, então que seja devidamente retificado e uma nova análise seja solicitada. E aqui a dica de um milhão de dólares: se alguém envolvido na operação reclamar que este tipo de documento pode atrasar ou burocratizar o processo, lembre-os de que estamos lidando com empresas de outros países e por isso os profissionais daqui não possuem conhecimento das obrigações legais de lá, e o que pode parecer óbvio para eles, não é tão assim à outra parte. Falhas em cumprir os prazos expostos e instruções podem colocar o embarque em atrasos desnecessários e gerando custos adicionais. Ou seja, sem IE a exportação não deve andar. | 69 | CARLOS ARAÚJO O Draft do BL e as etapas seguintes do embarque Antes de falar do documento em si, precisamos falar da operação e dos prazos envolvidos em todas as cadeias. A operação marítima, principalmente, é algo complexo que envolve centenas de pessoas e/ou órgãos, e um navio parado por falha no planejamento pode significar centenas de milhares de dólares por dia. Com isto, os transportadores estipulam prazos em que a carga de exportação deve estar completamente liberada, e os documentos de embarque (conhecimento de embarque) já confeccionados. A este prazo estipulado damos o nome de deadline. Este deadline é o prazo limite para a aceitação de carga seca e refrigerada pelo armador, considerando os fatores limitadores do terminal e com a capacidade de embarque pelo transportador. Mesmo estando com o seu booking confirmado, é necessário que você cumpra este prazo ou então sua mercadoria não embarcará. E um dos elementos a serem cumpridos neste deadline é o draft do BL (chamado de deadline documental). Já dissemos que o conhecimento de embarque é um dos documentos mais importantes no comércio exterior, e o principal na navegação. E para embarcar a mercadoria, o ABC DA EXPORTAÇÃO | 70 | transportador exige o preenchimento de um modelo enviado pelo exportador, chamado de draft de BL. Neste draft o exigem-se as seguintes informações: 1. Informações do embarcador 2. Informações do navio e da viagem 3. Dados do Consignatário 4. Do notificado 5. Porto de Embarque e Porto de Descarga 6. Dados gerais da Mercadoria 7. Dados do contêiner (se a carga for embarcada neste) 8. Dados do Lacre 9. Peso Bruto e Líquido 10. Forma de pagamento do frete 11. Número da RE e DE (exigências brasileiras) 12. Identificação da NCM (exigência também brasileira) O draft é uma obrigação que o exportador tem com o transportador, mesmo que ele não tenha contratado o frete. A falta de envio do documento pode ensejar no cancelamento do embarque, ou no pagamento de uma multa que será arcada pelo embarcado. Note que nem sempre é possível enviar este draft para o importador para ser revisado. Por isto, busque estas informações necessárias na Instrução de Embarque enviada pelo comprador, conforme dissemos anteriormente. | 71 | CARLOS ARAÚJO Fatura Comercial Após a discussão dos termos contratuais da fatura proforma, e depois das condições pactuadas do pagamento, a operação é concretizada através do aceite (assinatura) de alguma proposta ou na própria fatura proforma, e o exportador irá emitir a fatura comercial (ou commercial invoice). Este documento representa que a operação já foi consumada e que daqui por diante, o exportador deverá cuidar dos trâmites operacionais de envio da mercadoria para o país comprador. Packing List Outro documento tão importante nos procedimentos logístico de embarque é o Packing List (ou romaneio de embarque). Trata-se de uma relação dos produtos embarcados, indicando os tipos de volumes, quantidade, dimensões, peso líquido e bruto, além dos seus respectivos conteúdos. Não se trata de um relatório que substitua a fatura comercial, mas apenas uma lista detalhada do que está sendo enviado ao importador e que serve de roteiro para a conferência aduaneira no país de destino. ABC DA EXPORTAÇÃO | 72 | Apesar de muitos considerarem o packing list um documento meramente burocrático, este é fundamental para as autoridades aduaneiras efetuarem uma correta e rápida conferência da carga no país destino, quanto para o importador poder recepcionar os produtos comprados em seu armazém. Conhecimento de Embarque O próximo documento pode ser considerado o mais importante do comércio exterior. Trata-se do conhecimento de embarque, e que recebe denominações de acordo com o meio de transporte utilizado. Este documento é emitido pela companhia transportadora, ou através do seu agente ou representante. É ao mesmo tempo um contrato de transporte, um recibo de que a mercadoria foi entregue para o transporte e um documento de propriedade, definindo assim um título de crédito. O senso comum chama o conhecimento de embarque (ou de carga ou de transporte) de BL (de Bill of Lading). Na verdade o BL é apenas para quando o modal de transporte for o marítimo. Quando esta modalidade for aérea, o nome para este documento será AWB (de Airway Bill). Para o transporte rodoviário, o nome utilizado será CRT (de conhecimento rodoviário de transporte). | 73 | CARLOS ARAÚJO E por último, quando o meio de transporte for o ferroviário, o nome será TIF (Conhecimento de Carga Ferroviário). Além destes quatro importantes documentos, ainda há os certificados diversos que sua necessidade varia de acordo com o produto e/ou com o tipo de operação. Certificados Diversos Para começar, temos os certificados de origem. Este documento é imprescindível para o importador, quando o produto e o país exportador são beneficiários de acordos internacionais que permitem a isenção ou a redução do imposto de importação. Além do benefício tributário, o certificado de origem também é exigido em decorrência de disposições previstas na legislação internado país. Dependendo do acordo internacional, existem vários modelos de certificado de origem. No Brasil, o Certificado de Origem Mercosul e o Certificado de Origem Aladi são documentos muito utilizados para importações originárias de países da América do Sul. ABC DA EXPORTAÇÃO | 74 | Nota Fiscal de Exportação A Nota de Exportação será utilizada quando for efetuada uma venda de mercadoria para fora do Brasil. Ou seja, se o seu cliente é estrangeiro. Por força da legislação brasileira, essa exportação é acobertada pela não incidência do ICMS, bem como pela imunidade do IPI, devendo ser emitida nota fiscal referente a essa mercadoria sem destaque desses impostos, e há um destaque de informações no documento que precisa ser atentado pelo exportador. Por isto, destaca-se, é importante que se busque a orientação de um contador experiente, evitando erros e multas. Via de regra, este documento é emitido depois da aprovação do RE (Registro de Exportação), que documento acompanha a mercadoria desde a saída do estabelecimento até o efetivo desembaraço físico na Receita Federal do Brasil, e tem apenas circulação interna. Registro de Exportação Documento eletrônico em que o exportador informa os dados de natureza comercial, cambial e fiscal. O RE é a licença de exportação que apresenta, de forma detalhada, como a transação será realizada. | 75 | CARLOS ARAÚJO Em linhas gerais, o RE deve ser obtido antes do despacho aduaneiro, e poucas operações são dispensadas deste documento. Dependendo da categoria do produto, a análise, crítica e deferimento desta licença acontece automaticamente pelo sistema. Registro de Exportação Simplificada (RES) O RES é a simplificação do RE (Registro de Exportação), criado para facilitar algumas operações que não ultrapassem US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares americanos), com cobertura cambial e para embarque imediato para o exterior. Não são todos os produtos/operações que são contemplados com esta sistemática, e o exportador deverá conhecer a relação de produtos fornecido pelo SECEX. O RES tem grande utilidade para as pequenas e médias empresas que estão iniciando no comércio exterior. Registro de Exportação (RC) Documento emitido quando a exportação for financiada, ou seja, quando o prazo de pagamento for acima de 360 dias. ABC DA EXPORTAÇÃO | 76 | Assim, o Registro de Crédito (RC) é o documento eletrônico que contempla as condições definidas para as exportações financiadas e, como regra geral, deve ser preenchido previamente ao RE. O RC é o documento eletrônico em que o Banco Central autoriza a concessão de prazo maior que 360 dias de pagamento da exportação. Esta autorização não acontece de forma eletrônica e automática no sistema, mas através de uma análise do órgão competente. Registro de Venda (RV) Alguns produtos que são negociados em bolsas internacionais de mercadorias ou de commodities, possuem características comerciais específicas e precisam ter documentos eletrônicos exclusivos emitidos no Siscomex. Entre os produtos, podemos destacar soja em grão, óleo e farelo, açúcar demerara, cristal e refinado. O RV é o conjunto de informações que caracterizam uma operação de commodities e assegura ao exportador os parâmetros fixados no momento da venda. O preenchimento do RV é prévio ao RE e, por consequência, ao embarque. | 77 | CARLOS ARAÚJO Declaração de Despacho de Exportação (DDE) O despacho aduaneiro de uma mercadoria na exportação é o momento em que a fiscalização aduaneira verifica a exatidão das informações prestadas pelo exportador quando a natureza comercial, fiscal, tributária e administrativa, quanto aos documentos apresentados, à carga e à legislação específica. Se tudo estiver de acordo com os procedimentos legais exigidos, a mercadoria será desembaraçada e a sua saída para o exterior será autorizada. E o documento em que o exportador declara estas informações e inicia esse procedimento aduaneiro é a Declaração de Despacho de Exportação (DDE). Essas informações são inseridas eletronicamente no Siscomex, tendo a si vinculadas um ou mais Registros de Exportação, e dependendo do caso poderá ser simplificado (DSE). Declaração Simplificada de Exportação (DSE) Idêntico ao RES, em que é facilitado ao exportador o processo de liberação aduaneira, a Declaração Simplificada de Exportação é o documento alternativo a DDE, em quem algumas situações, o interessado pode optar pelo despacho aduaneiro simplificado. ABC DA EXPORTAÇÃO | 78 | São exemplos de exportações passíveis do uso de DES, as mercadorias cujo valor total seja igual ou inferior a US$ 50,000.00, exportação temporária, reexportação, contidos em remessa postal internacional (Exporta Fácil) e bagagem desacompanhada de viajantes. A DSE é uma operação que apresenta uma configuração de poucos procedimentos e de fácil formulação, alavancando os negócios de exportação das pequenas e médias empresas. Comprovante de Exportação (CE) Uma vez em que a mercadoria já foi desembaraçada pela autoridade aduaneira no Siscomex, e a averbação e confirmação do embarque também lançada no sistema, será fornecido ao exportador, quando solicitado, o Comprovante de Exportação (CE). O CE sintetiza todos os dados e registros vinculados a uma exportação. Romaneio de embarque Já falamos anteriormente sobre o Packing list e qual a sua importância no comércio exterior. Agora vamos falar sobre o Romaneio de Embarque, que muito se assemelha ao documento internacional. | 79 | CARLOS ARAÚJO Este documento é cobrado pelos terminais antes do embarque da carga, especificamente para acontecer a liberação aduaneira. O Romaneio contém um conjunto de informações sobre a carga, como booking, navio/viagem, número do contêiner, lacre, tara, peso bruto e líquido, quantidade de volumes e tipo. Tem também o número da RE e da DE, além de uma descrição sumaria sobre a mercadoria a ser embarcada. Os terminais utilizam este documento para lançar e controlar as informações do embarque, fazer a presença de carga no Siscomex, acompanhamento da fiscalização, e também quando o processo aduaneiro de exportação é parametrizado no canal laranja ou vermelho. Este também não é um documento em que exista modelo oficial, e cada empresa adapta o seu padrão e a sua necessidade. Alguns terminais também exigem informações personalizadas, e é preciso conhecer as necessidades locais de cada unidade de embarque, e assim evitará problemas na liberação aduaneira. Ticket de Pesagem Este é um documento emitido pelo terminal de embarque da mercadoria, que controla o peso bruto da carga, descontando a tara do contêiner. ABC DA EXPORTAÇÃO | 80 | Com esta informação, todos sabem o peso real da carga embarcada, e isto tem implicações diretas em vários lugares por onde a carga vai passar. Várias estradas no exterior tem limitação de tráfego de peso, e o exportador aqui precisa conhecer esta limitação e evitar problemas com as fiscalizações locais. Mas apesar de muito importante durante muito tempo, conhecer o peso real da carga tornou-se importante em 2016, com a obrigação VGM (Verified Gross Mass / Peso Bruto Verificado). A Solas (do inglês Safety of Life at Sea, ou Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar) tornou obrigatório aplicação da norma de pesagem de contêineres em 01/07/2016, e todo armador deverá passar a receber, com antecedência, a pesagem certificada para autorizar ou não o embarque dos containers. Sendo assim, o peso do recipiente e da carga nele contida deve ser documentado (pesos estimados não são permitidos). Como funcionaria o VGM? Ele é uma nova exigência para que os armadores solicitem dos embarcadores
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