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.. .' .. .•, r' ;. " 3.1. ALGO TÃO ANTIGO QUANTO A HUMANIDADE 3.I. Algo tão antigo quanto a humanidade . 3.2. As formas de ajuda social na ldtuie Média européia. 3.3. O tratada do "Socorro dos pobres" de Luis VIves, como primeira sistematização do moda de agir na ajuda aos: necessitados. '. 3.4. A ação oenéfico-assistencial e a filantropia. como fonnas precursoras da assistência social. • 3.5. F010S e circunstâncias que criam a necessidade de uma nova profISsão: o surgimento da política social ea criação das sociedndl!..f de organização dD caridadt:. Bem sabemos que a ajuda aos necessitados é tão antiga quanto a humanidade, ou ao menos desde o momento que se tem notícias da presença do homem na terra. Nas sociedades primitivas'a ajuda aos necessitados e desvalidos era assumida pela família, a tribo ou o clã, como uma face do apoio mútuo que prestavam uns aos outros. Não há dúvida que os vínculos que uniam a família, linhagem, tribo ou clã constituíam a principal motivaÇão para a ajuda mútua e o seu âmbito de realização. Depois os seres humanos agiram movidos por impulsos humanitários e religiosos que os faziam oferecer socorro àque- les que não pertenciam ao seu círculo imediato. Muito mais adiante na história da humanidade, com o aparecimento das grandes religiões 'Qudaísmo, islamismo e cristianismo), são estabelecidas nonnas morais e religiosas, na, quajs~n~.ontra,,!:",-'.'~:::: _ ".";,._. ~sC:~as.primeiras e mais rudimentares fonnas.de' ãJúda:.-( de .-:','00-;, ••."'; '""::,". . assistência aos necessitados e carentes. ..~•..... ~::_ :._~. _,.e~-:'~! 67. ,JrJ<,;v -"~-q~(..-J~.I c. \~p Nos capítulos anteriores vimos que os profissionaL< do trabalho social fazem determinadas coisas efazem-nas de determinada maneira. Pois bem. o que nos interessa agora é averiguar como nasceu esta profissão. A ajuda aos necessitados vem desde data muito antiga. porém, a panir do fim do século XlX. não todas e sim cenas formas de ajuda transformaram-se em uma profissãó: Como isso aconteceu? Quais são osf01os ou circunstânCias fundamentais que dão origem ao nascimento do trabalho social profissional? Como e por que configura-se uma profISsão cuja tarefa específica é ajudar os neceJsitados? .. Esras são as questões básicas que pretendemos tratar neste capítulo. Obviamente. longe de podermos respondê-Ias, nem nas mais dé 500 páginas do livro História "o trabalho social conseguimos chegar peno desse objetivo. Desse livro, este capítulo é menos do que Ul7Ul síntese da primeira pal1e; apenas assinalamos alguns marcos fundamentais : Capítulo 3 COMO O ATO DE AJUDAR _ TRANSFORMOU-SE EM PROFISSAO 66 r ( o ~~ [ o ';.v...v " '1 I . .., ..0. cf Co< ~\\............,.. ..••..•••.OO-~ ~ \..v-.t. ..6.~~ - . - ._.~-_._------- -_ ..- ----, ..---- .' '\ ".'• r fI'~ " J:" " I. .. " I 8)1 I I t 1J. , 1 ; :;,:: r ./." " ', , "", I ... , _o. r .,1;.I ,., :, •.... i I I '. !' I I I i ;, I I I I obtidas em parte por meio do pagamento de ingressos aos estádios, assembléias, teatros, etc. Um antecedente interessante de ajuda.aos necessitados é o sistema alimentício instituído em Roma pelo imperador Marco Nerva, em fins do século I. Este sístema pretendia ajudar as camadas mais pobres da população romana e garantir a boa nutrição das crianças. Posteriormente foram estabelecidas em Roma outras instituições de beneficência e existiram os que Porém, não s6 'nas grandes religiões foram cO,nfi~do-" hoje teria.mos por responsáveis ou agentes da beneficência. < da da ai chamados questores alimentorum; talvez estes administrado-se o que hoje chamariamos de "proto-lorm~ aJu soc' : eXI'stem outros precedentes, como o CódIgo de Hamurabl res tenham sido os mais longínquos antecessores dos aluah I trabalhadores sociais.(cerca de 2100 anos antes de Cristo), em que se eslJlbe ~m algumas normas sobre a ajuda ao necessitado e sobre a étIca '\r Não se pode duvidar que o cristianismo prOduz uma pro- das relações sociais:~::.~ntiga China. um ,traço comum das ,_ funda e radical revolução nas relações humanas: próximo passa especuJações religiosas e filos6fic~ tem Sido, des~e épocas ... a ser qualquer pessoa necessitada de ajuda.' o'amor-ao. próximo- muito remotas, a busca da harmoma totaJ com o umverso. O é a medida do amor a Deus e o parâmetro de vida cristã Este confucionismo e o taoísmo são a expressão mais apurada dessa amor não deve apenas abranger a família. os amigos e as busca E isso incidia nas relações com as outras pessoas, P~ !",sso~s do pr6prio país, mas há de atingir a todos os homens, Confúcio, a piedade para com os mais pobres é mais necess~a inclUSIve aos estrangeiros e doentes". Estas idéias e tudo o que do que a água e o fogo, e na esmola está a fo?te,da sa~on:,,- configura o pensamento cristão deram uma nova moldura e um Os ensinamentos de Confúcio e do seu dlsclpul0 Me!)clO novo impulso às difen'ntes formas de ajuda aos pobres. difundiram na China o ideal da beneficência. No cristianismo primitivo foram criados "serviços de as- a budismo - que não é u'ma religião, nem uma filosofia. sistência" chamados "diaconias", que tinham a missão de nem uma ciência, mas uma técnica para se livrarda ignorância, organizar e distribuir as esmolas e ajudas privadas, Faziam o do sofrimen\(), e conseguir a felicidade da mente -, não dá registro dos necessitados, organizavam coletas, recolhiam doa- muito espaço, na sua versão original e primeira, expressa nas çôes e oferendas e depois as distribuíam entre os pobres e oito vias indicadas por Buda. para a ajuda aos necessitados, doentes. Suplantando a inspiração inicial, o budismo do mahaiama (o Durante séculos, na Europa cristã. a doutrina do mérito grande veículo), propagado na China, no Japão e ~o ~bete, religioso da esmola influiu como incentivo paia a ajuda ao contém elementos que constiruem a base ou molIvaçao de necessitado e estimulou a fundação de hospícios, Não serviu ações de preocupação peJos outros. para resolver problemas humanos e sociais, mas aliviou muitos Na Grééia. 'sob a hegemonia de Atenas, a ajuda ao desva- sofrimentos e rÍünorou muitas fomes. ,.; -:..:: '. .. ,,~~... . _,. '. '." . :'-lido (doentes, inválidos, viúvas, 6rfãQ1;)f~i um~ prática esta- , )'ambé~'<i"i~lami;nió:'coriT'i=1iihã-'d~s'giâÍldêsC.réiig{õe~:-:'::' -=.~~~: beJecida pelo pr6prio Estado, quer fosse n~ forma de pensões pres . d . â .. .... _.. ' '''', .0. . .. ., (equivalentes ao necessário para o sustento), quer como forma nece~:~~~o s:~;~ f~~~d~~~';;:sX~~Ó~~sd~b;:l~~ ~~~~~ '~"''''õ'' .O~ de distribuição de pão, farinha, trigo, azeite e carne oferecidos dev eres que este coloca é o pagamento -do znkat. Trata-se de para os sacrifícios. As verbas para este tipo de ajuda eram um imposto arrecadado de aco;do com as posses da pessoa e . , II~@: jl • I !I I I! ~ 1 ! --'- t. .! que depois é distribuído entre diferentes classes de necessita- dos. Além desci esmola obrigatória, existe o Sada~at ~ue é um pagamento voluntário rido como altamente melltóllo corno testemunho da verdade da religião islâmica. 3.2. AS FORMAS DE AJUDA SOCIAL NA IDADE rvtÉDIA EUROPÉIA Embora seja preciso estudar a forma em que, ao longo deste amplíssimo período. ocorreu uma mudança no tratamen- to da pobreza no mundo cristão e do que a presença da cultur:: arábico-muçulmana significou para a Europa (cultura que fOI a mais resplandecente durante o medievo. não só nos aspect~s filosóficos, científicos e artísticos, mas também n? q~e diZ resp.;iio -às relações sOCiais). nós cingiremos ~qU1o 110SS0 trabalho às principais formas de ajuda aos necessitados que, de alguma maneira, foram se institucionalizando. Três formas principais de ajuda e assistê~cia aos necessi- tados podem ser mencionadas: _ Aajuda pública fornecida principalmente a~ravés das 0r.dens religiosas ou. aind3.. atrayés dos. ho~pltalsqu~ aparecem quase simultaneamente com os pnmelf?s. moste,:os. ~ ~ar- tir do século XV. a ação das ordens rehglosas fOIdecISIVa, culminando de certa forma na obra de São Vicente. de Paul~ éc I xvn que com base nas obras de candade, dáno suo • • . novas formas e impulso às tarefas de assistência e ajuda. Também cabe incluir nesta categoria a ajuda e prote.ção social dos reis e senhores. Desde a primeira Idade Med~a, ganhou importância a idéia de que era obrigação do rei e dos senhores proteger os vassalos, servos e súditos •.atender às suas necessidades e olhar pelo bem de todos. O Impera- dor Carlos Magno, a quem o historiadqr René Sand cham?u de "imperador social", proclamou-se o alto protetor e legrs- lador da caridade pública. No ano de 806 estabelece~ u~ sistema que hoje seria chamaclo plano .~~-,,"neficencta 70 eclesiástico-eivil. Nele constava que parte das dádivas de piedade <.lossúditos destinava-soe aos pobres. Anos depois determinou que um décimo das esmolas auferidas nas igre- jas e mosteiros deveria destinar-se aos pobres. Prescreveu aos condes "cuidarem dos pobres" às suas próprias custas, e fez dos seus nobres "advocati" (defensores) dos desgra- çados. Por outro lado, quer que cada pessoa do seu império mantenha e auxilié não apenas aos membros da sua família, mas também a toda e qualquer pessoa que com ela ou na suá terra residir. Desta sorte, combina a intervenção pública com a ajuda rnlÍr113. - A ajuda mútua prestada nas Corporações entre os membros que as integravam. Dentro das Confratias das associações profissionais foram organizadas novas formas de assistên- cia social. O membro de uma Corporação de grêmios, seja qual fosse a sua categoria (mestre. companheiro ou apren- diz) •.era protegido pela própria Corporação. Esta proteção era extensiva à sua família em caso de morte. - A esmola. que era uma ação de caráter individual, praticada pelas pessoas como "dever religioso e meio de salvação", constituía-se na forma de ajuda mais difundida. A maneira de conceder esmolas podia apresentar duas modalidades diferentes: a entrega de ajuda (esmola) a um necessitado ou à sua família e a ajuda a instituições (asilos, hospitais. etc.) que prestavam serviços a pessoas internadas nelas. 3.3. O TRATADO DO ''SOCORRO DOS I,'OBRES" DE LUIS VIVES, COMO PRIMEIRA SISTEMATIZAÇÃO DO MODO DE AGIR NA AjUDA AOS NECESSITADOS '~-2:::.~;;_-", .r' •.'"':..t;':~~.;.,.:;":~.,.~-",_7. , r' o: 'CFalardo humanista espanhol luan Luis Vives (1492-1540), como o precursor da assistência social organizada e do trabalho social como forma de ação. tomou-se um lugar-comum em toda a referência à história ou aos antecedentes desta profissão. \ \ • . , / ~:: ./. , f. . ".' , " ,. .' i j ( f!I;... t".-h, . I ., E é com toda justiça que este ilustre valenciano é lembrado, tanto pela obra que realizou na cidade de Bruges, como pelo seu livro De subvenrione pauperum (Socorro dos pobres). Vives estudou em Valença e em Paris, mas passou quase toda a sua vida em Bruges (Bélgica), a não ser por uns anos em quc viveu na Inglaterra, onde por sinal escreveu o livro ao qual referimo-nos. Publicado em 1526. pode ser considerado como o primeiro livro de assistência ou trabalho social. Vives é a figura mais importante do humanismo na Espa- nha e uma das primeiras da Europa. Admirador e discípulo de Erasmo. eclético em filosofi~ preconiz.ou a utilização da ex- periência e da razão para abordar e resol ver os problemas. Uma das preocupações fundamentais da sua vida foi a do "agir bem" .__ .._- que, segundo ele dizia, devia estar aliccrçado em motivações religiosas e no conhecimento racional. Vives não foi apenas um precursor da pedagogia c da psicologia, como é reconheci- do nestas áreas profissionais, também o foi do trabalho social. Preocupado pelos pobres e deserdados, pensou e propôs formas de intervenção social pública e formas de tratamento técnico das situações de carência e pobreza; por isso dizemos que foi precursor da assistência social e das técnicas de trabalho social. No livro I ele mistura argumentações e fundamentos hu- manos e divinos para demonstrar por que é p,eciso socorrer os pobres, salvo no capítulo X em que os argumentos são exclu- sivamente teológicos. O livro TI do tratado de Vives é o que hoje denominaríamos a parte metodológica. embola lIão ~cja uma metodologia no sentido rigoroso (esta questão ainda não se colocava na Renascença), e nele aborda os problemas do que fazer e como fazer. Começa ressaltando a conveniência de que O governador da cidade cuide dos pobres; não se rrata já das obrigações de cada um isoladamente, Illas do que a cidade como coletividade deve fazer e da responsabilidade das autoridades no concer- nente ao atendimento dos pobres. S.co atendimento dos pobres ,for neg!igenciadoJ..RgJública corre perig~q~~u~ 'y. , premidos ~adeJQ!lbam, têm inyej;ulQs..ricos..in- dignam-se e se ressentem de ver quugunsJêmsuficiente.pa@ . "manter..hufossãcs.Jlle~trizes, mulas: cavalos, elefantes e que eles não tenham coisa a dar aos seus1ilhos pequenos, que..p~de, ~em fome". Estas siOJações p=S1!erras e desordens, Outro dano ocasionado pelo desleixo com os pobres é a propagação de doenças. o que por sua vez faz com que uma parte da cidade fique inútil: além do mais, quando há pobreza e necessidade, uns exercem o roubo, outros furtam às escondi- das. as moças caem na prostituição e as velhas dedicam-se à alcovitagem e às feitiçarias c as erianç3.::i:se lomam vagabundas e esmoleiras. Já no capítulo seguinte, Vives começa a explicar qual deve Ser o modus operandi do atendimento aos necessitados. Como se pode atender a tamanha multidão? Se houvesse caridade. ela bastaria, diz Vives, porém é preciso recorrer a remédios huma- nos. Depois de indicar onde os pobres estão (nos hospitais, nas ruas e nas casas), Vives mostra como chegar até eles. Explica depois como tratar dos pobreS' e mendigos e como há de se procurar que todos trabalhem. Fala do problema das crianças sem pais e do cuidado que se lhes deve prestar e consagra um capítulo ao que hoje se denomina problemas de financiamento dos serviços sociais, sob o título "Do dinheiro que basta para estes gastos"; c o faz descendo aos problemas muito concretos e práticos no contexto da sociedade e do tempo em que viveu. RCSUUliuúo,neste livro, Vives soube combinar a responsa- biiidade pública, a atividade da Igreja, a ajuda mútua primária e a ação individual. Tudo isso complementado tom propostas concretas de comu Jazer (os aspectos técnicos/operativos) e Com que fazer (os aspectos materiais e finãnceiros) ... Por isso pod~--seafirmar com justiça que o liv~o(je\r,~SioÜ.prirrLeira 'slstemati~ção.das formas.f!e ajuda aos necessi!ac!Qs,.ou me: Ihor, o prim~ilO--'iYJ:lLS.Q.brea ação social com a' e~pressa ~ntencionalidade de atentar para o problema da pobreza. 75 5 2£ pelo governo da cidade. Isto, que hoje chamaríamos de ação social ao nível municipal, tinha as seguintes características: - era sustentado através de impostos.e doações - era feito um estudo permanente da situação dos pobres, mediante métodos de estuào hoje denominados ""técnicas de observação panicipante~ - havia pessoas respOnsáveis pela realiz:Jçãodo trabalho social (que, obviamente, não era chamado assim);tr3tava-sede volun- tários que moravam nos bairros dos pobres,hÚOImavarn-sea respeito das condições de vida destes e Vigiavarn-n<><- A todas estas experiências que;o~ ~criarn as condições para O aparecimento de uma nova profissão como a dC!trabalho.__ . social, temos que acrescentar os estudos e a ação do casal Webb, de Toynbee e Dawson na Inglaterra, cujas pesquisas e ações impulsionaram novas formas de ação socia1e as legislações de cunho social (embora no caso da Inglatena a Lei de Pobres remontasse ao ano de 1601). Todavia, é na Reforma da Lei de __ . Pobres de 1834, quandoforam dados alguns passos e ocorreu importante evolução na organização da beneficência, partindo de novas idéias relativas à natureza da pobreza e do próprio papel do . Estado no que diz respeito à sua função benéfico-assistencial. A legislação fabril inglesa (1802-1845) e a criação dos primeiros segurOssociais na Alemanha de Bismarck, bem como as propos- tas de Louis Blanc na França, o revisionismo socialista ou a doutrina social da Igreja. foram outros elementos deflagrado,""" ou coadjuvantes do futuro Estado de bem-estar. Outro fato importante que irá contribuir para a necessidade de uma nova profissão é O surgimento da política social como V'3.5. FATOS E CIRCUNSTÂNCIAS QUE ~ A NECESSIDADE DE lil\-lANOVAPROFISSÃO: O SURGIMENTO DA POLÍTICA SOCIAL E A CRIAçÃO , .•' DAS SOCIEDADES DE ORGANIZAÇÃO DA CARIDADE 3.4. AAÇÃO BENÉFICÓ-ASSrSTÊNCIALE A FILANTROPIA, COMO FOAAIAS PRECURSORAS DAASSlSTÊNCIA SOCIAL 74 As transformações econômicas do mercantilism'o que vi- rão a configurar a economia capitalista, a revolução científico- tecnol6gica, a revolução burguesa, o Estado liberal, os novos problemas sociais, o surgimento do proletariado e do movi- mento sindicalista e a contestação ao novo estado de coisas vinda do anarquismo e du socialismo nascente, configuram .uma nova situação, na qual surgem novas instituições de ajuda e as primeiras legislações de cunho social para atender aos problemas da pohrl'za. Na Idade Moderna, com a progressiva seCUlarização da sociedade e o auge do individualismo, rompidos os modelos de -- ãjuda mútua nos grêmios: a orgànizãçãõdãSõbras' de "ajuda deixa de ser exclusiva da Igreja. Já no século IX houvera uma certa =ularização das obras de ajuda, porém é no século XIX quando as intervenções públicas adquirem maior importância e significa- ção. Durante este período vai ocorrendo uma evolução em que a beneficência e a ftlantropia substituem a caridade; entretanto, a ação social por motivações religiosas de inspiração cristã conti- nua a desempenhar Um papel muito importante. Novas congre- gações religiosas que atenlam para os problemas que decorrem da nova situação social irrompem na Igreja Cat6lica, como por exemplo a obra de José B. Cottolcngo e os saJ",,;anos de Dom João Bosco. No protestantismo ~be lembrar especialmente o pastor Thomas Chalmers que introduziu a necessidade de reaJlzar estudos prévios antes da ação e organizou o trabalho de assistência aos pobres, mediante a ajuda dos vizinhos e a ação pessoal. Também foi significativa a ação de William Booth, fundador do Exército da Salvação (1878), .cuja ação continua na atualidade. Da mesma forma chegou até as últimas décadas do século XX a obra criada por Frederico Ozanarn par-. a ajuda aos pobres: as conferéncias de São Vicenle de Paulo. Mas é em Elberfeld (1853) onde pela primeira vez - segundo propusera Vives mais de dois séculos antes - desen- volve-se 'um programa de ajuda aos necessitados assumido , I I , ./, em I '. à.' J, r " " nova responsabilidade do Estado. Na década de 80, na Alema- nha, sanciona-se a primeira legislação sobre seguros sociais, de doença, de invalidez e velhice, e acidentes de trabalho ... Em que pese não ternascido ainda, naquela época, o trabalho social profissional, todas estas normas e novos âmbitos de interven- ção do Estado preparam o terreno para o nascimento de uma nova profissâo. No entanto, é a criaçâo e desenvolvimento das Sociedades de Organização da Caridade, conhecidas por sua sigla em inglês COS (Charity Organization Society), o que podemos considerar como último mareo que levou à institucionalização do trabalho social como profissão. Na Inglaterra da década de 60 do século passado, existia um estado de opinião bastante desfavorável à ajuda governamental para atender aos pobres. Em plena vigência das idéias liberais e das do darwinismo social ao estilo spenceriano que, por razões de seleção, propu- nha pouco merios que deixar os pobres morrerem, não se concebia que o Estado assumisse responsabilidades quanto à ajuda aos necessitados. Na época, as criticas às formas de ajuda ao necessitado focalizavam duas questões fundamentais: uma, que es!;lva se criando uma classe de mendigos, uma vez que determinadas pessoas se acostumavam a viver de esmolas, e outra, que a maneira de fornecer a ajuda constituía um verdadeiro esbanja- mento de dinheiro, por ser fcita sem controle. Nesse contexto e preocupado em princípio com as tarefas de assistência social, em 1868 o pastor Henry Solly recomendou que fosse criado um conselho de coordenação de atividades de ação benéfica, tanto no âmbito da ação pública como no da ação privada. Levando em conta esta recomendação, foi criada no ano se- guintc a "Sociedade para a organização do socorro caritativo e a repressão da mendicidade". Logo mudou de nome e transfor- mou-se na cOSo A sua criação foi um dos passos mais impor- tantes na concepção e organização das práticas assistenciais. Na sua ccncevÇãu e início de funcionamento. desempenharam um papel importantíssimo Octavia HiU, Edward Denison e Sir Charles Loch que foi seu sccn:lário-geral durante 39 anos. Na COS convergem as experiências precedentes e as idéias de 76 Vives, Vicente de Paulo, Ozanam e, sobretudo, de Thomas Chalmers e o "sistema Elberfeld". Quanto às orientações básicas das .cos, estas foram resu- midas em oito itens que constituem outro marco na pro.fissio- nalização do trabalho social: I. Cada caso passará por um levantamento escrito. 2. Este levantamento será apresentado à comissão que decidirá quais as medidas a serem tomadas. 3. Não serão dados socorros temporários, mas uma ajuda metódica e demoroda até que o imlivfduo ou a família voltem às condições normais. 4. O assistido será agente da sua própria readaptação, assim como os seus parentes, vizinhos e amigos .. - 5. SoJicitar-se-á ajuda a instituições adequadas em favor do assistido. ó. Os agentes destas obras receberão instruções gerais escritas e se formarão por meio de leituras e práticas. 7. As instituições de caridade enviarão a lista dos seus assisti- dos para formar um arquivo central a fim de evitar abusos e repetição de levantamentos. 8. Formar-se-á um repertório de obras de beneficência que permita organizá-las convenientemente. Com esta tecnificação e organização da ajuda social que Se pretendia cientificamente fundamentada, vai aparecendo um agente que prefigura o que viria a ser depois o trnbalhador ~ocial; chamaram-nos "charity workers" e 'friendly visitors". A medida que as COS expandiam-se, evidenciou-se a necessi- dade de contar com pessoal capacitado para este tipo de tarefas. . Neste contexto resultou irrecusável a institucionalização da assistência social e a criação de institutos encarregados da formação de pessoal para realizar estas tarefas. 77 . ••! i.s -!l, ".! J -!l 1 < , . ~J~ . """% J ~ ~ " E ,S3 .~.' ~i. :E"'< ~,- --!l•• 0_ ] ~e ~~••8 l' o .•~~ ,;, ~ .!! ", ~ "'tp 1; i<~ 1 "''''''t .~. ..,~~... Desde os primeiros curs~~ (1873) devidos à iniciativa de Octavia Hill, até a criação da primeira escola de trabalho social em Amsterdã (1899), mais de vinte anos se passaram. Já em 1897, Mary Richmond propusera a criação de uma "Escola de filantropia"; ela afirmava comO fundamento desta necessidade que as boas intenções e o senso comum não eram suficientes para que a ajuda aos necessitados fosse prestada de maneira eficaz.. Após a criação da Escola de Amsterdã, começaram a funcionar as escolas de trabalho social de Nova York e Boston, em 1903, e em 1908 as de Chicago e Berlim. Na história, como na sociedade e na natureza, não existe fenômeno ou fato algum """"ionado por uma s6 causa. O desenvolvimento do processo histórico é tão complexo, que as árvores genealógicas - se fosse possível realizá-las sobre as profissões e as ciência~:- revelar-nos-iama sua policausalida- de. Não há, portanto, Uma cadeia evoliitiva IrneM. Entretanto, dentro desta trama é possível assinalar alguns marcos funda- mentais como nóS tentamos fazer. Porém, neste enceJ'TIlmento da sucinta informação histórica que proporcionamos para res- ponder à questão inicial, como Oato de ajudar transformou-se em uma projissiúJ, seria injusto não mencionar de forma explí- cita uma autora e um livro que constituem o referencial funda- mentai do trabalho social profissional e institucionalizado. Trata-se de Mary Richmond e do seu livro'Social diagnosis, publicado em 1917, tido como a primeira sistematização do método de intervenção do trabalho social. Em vista do prócesso-todo, nesse momento histórico po- demos dizer. W'1f#:l nova profusão insticucionalizou-se. O que antes a família e o meio faziam de maneira espontânea e depois foi realizado por pessoas impulsionadas por sentimentos hu- manitários e religiosos, ou até por simples destaque social, acabou sendo uma profissão institucionalizada. Nos anos vinte começa a aparecer, em diferentes países, o que os ingleses chamam de "gente paga para se pre-ocupar com outra gente" ("people paid to wor'Y abOUlother people "). Isto significa que ajudar. certas formas de ajuda, se romaram uma profissão ... O trabalho social nasceu. 7. , i 1 •..- , I I I i I' I"o' I ., " :1 I I ~::,( I ~i., I,, ., I, " I ('tI I I I I ! I I l " .'êo 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007
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