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1 Análise de Cenários Econômicos Aula 3 Prof. Joaquim Israel Ribas Pereira 2 Conversa Inicial Vimos, na aula anterior, o que é macroeconomia, qual o conceito de PIB e quais são os itens que o compõem. Vamos, agora, avançar no estudo da macroeconomia. Uma análise de cenários bem feita deve, além de identificar as variáveis importantes, entender quais são as consequências para cada mudança. Por exemplo, quando o governo lança um pacote de investimentos na infraestrutura, qual o efeito que ele espera obter? Antecipar os movimentos da economia, considerando a dificuldade de fazer estimativas, é de suma importância para uma tomada de decisão racional. Teremos como objetivo nesta aula entender as variações no PIB, na inflação e no índice de desemprego. Contextualizando O que veremos adiante são teorias e modelagens que auxiliam no estudo das flutuações do produto, e também na determinação do nível de preços e da taxa de inflação. Entendendo essas ferramentas, será possível saber por que a economia se desvia de uma trajetória de crescimento e compreender quais são as políticas disponíveis para o governo reduzir o desemprego e aumentar o produto. Vamos trabalhar com definições simplificadas de demanda e oferta agregada, e de relação entre nível de emprego e inflação, as quais, entretanto, fornecem-nos respostas robustas sobre os efeitos desses fatores sobre a economia. Exemplo: para o crescimento de longo prazo, a economia depende de alterações no lado da oferta e não da demanda. Veremos, também, o papel das expectativas e como elas são formadas. Você entenderá como as expectativas futuras — ou como os cenários futuros — fazem parte da tomada de decisão. O conceito de inflação será apresentado, e você verá que existe mais de 3 um indicador de preços, e que cada um deles serve para uma finalidade diferente. Pesquise Procure saber sobre previsões econômicas, tente achar relatórios que mostrem estimativas para o próximo ano, veja se você consegue compreender as informações contidas neles. Tema 1 – Oferta Agregada e Demanda Agregada, Parte I Vamos, agora, apresentar o modelo de oferta e demanda agregadas, que é umas das análises essenciais em macroeconomia, para entender as flutuações do produto, assim como a determinação do nível geral de preços e da taxa de inflação. Utilizaremos esse modelo para compreender por que a economia se distancia de sua trajetória ‘natural’ de crescimento ao longo do tempo e para explorar as políticas governamentais destinadas a aumentar o crescimento ou a reduzir o desemprego. Deslocamentos das curvas de demanda e oferta fornecem-nos respostas que permitem entender por que os preços subiram mais em um ano do que em outros; por que a oferta de empregos cresce em certos anos, e o que as políticas públicas podem fazer para impedir períodos de queda da renda e aumento do desemprego. O primeiro passo que daremos aqui é apresentar as definições simplificadas dos conceitos de oferta e demanda agregada, segundo Dornbusch, Fischer e Startz (2013, p. 95): Curva de oferta agregada: essa curva descreve, para cada nível de preços, a quantidade de produtos que as empresas estão dispostas a fornecer. A curva é positivamente inclinada porque as empresas estão dispostas a ofertar mais produtos a preços maiores. 4 Curva de demanda agregada: essa curva mostra as combinações do nível de preços e do nível de produto, em relação aos quais o mercado de bens e o mercado monetário estão simultaneamente em equilíbrio. A curva tem inclinação negativamente porque os preços mais elevados reduzem o valor da oferta monetária, que por sua vez reduz a demanda por produto. Fique tranquilo, aluno, se você não conseguiu compreender essas definições neste primeiro momento, pois iremos, por meio de gráficos e de exemplos, que serão apresentados a seguir, ajudá-lo a entender. Vamos começar pela curva de demanda agregada. Ela indica a quantidade de bens e serviços demandados a um dado nível de preço. Vejamos a Figura 1, que exemplifica uma curva de demanda e um deslocamento ao longo desta. Figura 1 – Curva de demanda agregada Fonte: Mankiw, 2005, p. 434. Podemos perguntar: por que uma queda no nível geral de preços aumenta a quantidade demandada de bens e serviços? Para responder isso, precisamos 5 lembrar da definição que aprendemos na aula anterior, segundo a qual o PIB (Y) ou Renda Interna é a conjunção dos fatores consumo (C), investimento (I), gastos do governo (G), e exportações (X) menos importações (M): Y = C + I + G + X – M Cada um desses elementos contribui para a demanda agregada por bens e serviços, e esta, por sua vez, depende do nível geral de preços. Vejamos as maneiras pela qual os preços afetam a demanda, conforme explica Mankiw (2005): Efeito riqueza: podemos entender o efeito riqueza com um exemplo prático bem simples. Considere todo o dinheiro que você possui em sua carteira e na sua conta bancária. A quantidade, nesse dado momento, é fixa, mas o seu valor real, não. Se os preços dos produtos caírem, você será capaz de comprar mais com o mesmo montante de dinheiro. Se você compra mais, o produto da economia aumenta. Efeito taxa de juros: assim como no exemplo anterior, se os preços dos produtos caíssem, você poderia manter a mesma cesta de consumo e utilizar o restante para colocar dinheiro na poupança. Se você lembrar da igualdade entre poupança e investimento, notará que um nível de poupança maior na economia implica um aumento dos investimentos. Os investimentos são reflexo da oferta de empréstimos e da taxa de juros, e um aumento na poupança permite que os bancos façam empréstimos com menores taxas de juros. Efeito taxa de câmbio: Uma queda no nível geral de preços permite que o governo diminua a taxa Selic, taxa de juros aplicada aos títulos públicos e utilizada como instrumento para diminuir a inflação. Uma 6 vez que os títulos públicos estejam rendendo menos, isso atrai menos investidores externos. Com menos dinheiro de investidores externos (dólares) a moeda fica mais rara, e a nossa moeda nacional, mais abundante, o que provoca sua depreciação. A depreciação da nossa moeda torna os produtos produzidos no Brasil mais baratos para os estrangeiros, o que, portanto, impulsiona nossas exportações. Mais exportações (↑M) aumentam nosso produto (↑Y). Até este momento, estamos vendo os motivos que levam aos deslocamentos na curva, principalmente porque estamos considerando que a quantidade de moeda na economia é fixa, ou seja, as alterações de preços levam a mudanças na quantidade de produto demandada mantendo a quantidade de moeda fixa na economia. O próximo passo é manter o nível de preços fixo e observar os fatores que deslocam a curva de demanda, alterando a quantidade de moeda. Devemos, de novo, ter em mente a fórmula do PIB, pois vamos mostrar os deslocamentos com base em cada componente dessa fórmula: Deslocamento do consumo: vamos imaginar que uma sociedade passe por um aumento na propensão a consumir, ou seja, diminua a porcentagem poupada da renda e aumente o consumo. Esse fenômeno já foi observado em alguns momentos da história, como ao fim da Segunda Grande Guerra, quando a população, influenciada pelo otimismo do momento, voltou a gastar em consumo. Outro motivo para que isso aconteça é quando o governo diminui a tributação, permitindoque mais renda permaneça com as famílias. Deslocamento do investimento: o aumento dos investimentos visto anteriormente considerava uma quantidade fixa de moeda, mas um 7 aumento dos investimentos pode ocorrer com um aumento da quantidade de moeda, o que facilita o acesso das empresas à tomada de crédito. Outra forma de aumentar o investimento é via crédito fiscal ou incentivos do governo. Uma última opção, também já observada na história: logo após grandes desastres naturais, países têm de aumentar os investimentos para se reconstruírem. Deslocamento dos gastos do governo: a forma mais fácil e usual de descolar a curva de demanda é via gastos do governo; por exemplo, quando o governo decide implantar um pacote de investimentos em estradas e rodovias. Deslocamento das exportações ou importações: considerando um dado nível de preços, o Brasil obteve um bom ano na agricultura e, portanto, exportou mais. Ou ainda, a Europa teve um crescimento na economia e comprou mais do Brasil. O efeito desses fatos seria um deslocamento para a direita na Curva de Demanda Agregada. Vejamos a Figura 2, que mostra descolamentos na curva de demanda agregada. 8 Figura 2 – Descolamento da curva de demanda agregada Fonte: Dornbusch; Fischer; Startz, 2013. Esperamos que, após essa primeira parte da nossa aula, você já seja capaz de explicar as três razões para a curva de demanda agregada ter inclinação negativa, e saiba quais são os fatores que poderiam deslocar essa curva. Tema 2 – Oferta Agregada e Demanda Agregada, Parte II A curva de oferta agregada nos diz qual será a oferta de bens e serviços da economia a um certo nível de preços. Diferentemente da curva de demanda agregada, que tem inclinação negativa, a de oferta apresenta uma inclinação que dependerá do horizonte que estamos analisando. Longo prazo – a curva de oferta será vertical. Curto prazo – a curva de oferta terá inclinação positiva. Para entendermos como será o comportamento das flutuações da economia, e como ela se comporta no curto e no longo prazo, precisaremos 9 examinar a curva de oferta agregada de longo prazo e de curto prazo. Vamos analisar primeiramente a de longo prazo. Essencialmente, a curva de oferta no longo prazo está relacionada com o conceito de produto potencial, ou seja, o produto no longo prazo depende da oferta de trabalho, do capital e da tecnologia disponível. Como o nível de preços não afeta esses determinantes no longo prazo, a curva de oferta torna-se vertical, como mostra a Figura 3. Figura 3 – Curva de oferta de longo prazo Fonte: Adaptado de Mankiw, 2005. Em suma, no longo prazo, o trabalho, o capital, os recursos naturais e a tecnologia é que determinam a quantidade ofertada de bens e serviços, independentemente de qual seja o nível de preços. Essa determinação é fundamentada na teoria macroeconômica clássica, que se baseia na hipótese de que as variáveis reais não dependem das variáveis nominais. O produto potencial também é chamado de produto de pleno emprego, pois indica o produto que a economia teria se todos os fatores estivessem em 10 plena utilização. É usual, também, defini-lo como taxa natural de produção, pois é o nível de produção em direção ao qual a economia gravita no longo prazo. A taxa natural de produção será deslocada por alterações nos quatro fatores (trabalho, capital, recursos naturais e tecnologia). Vejamos como cada um desses fatores pode deslocar a curva: Trabalho: imagine que o país sofra uma fuga de mão de obra. Como resultado, isso deslocaria a curva de oferta agregada para a esquerda. Ocorreria o mesmo se o governo facilitasse o acesso ao seguro desemprego, diminuindo a oferta de mão de obra no mercado. Capital: investimentos em máquinas e equipamentos, e também na qualificação da mão de obra, aumentam a produtividade da economia, fazendo a curva de oferta deslocar-se para a direita. Recursos naturais: a descoberta de um novo depósito de minério de ferro, por exemplo, descola a curva de oferta agregada de longo prazo para a direita. Alterações climáticas que dificultem a agricultura, descolam a curva de oferta agregada de longo prazo para a esquerda. Tecnologia: inovações tecnológicas, como o computador, permitem aumento na produtividade e, por consequência, deslocam a oferta de produto para a direita. Vimos que a curva de oferta agregada vertical está relacionada ao longo prazo. Entretanto, precisamos ver como ocorrem os desvios do produto natural no curto prazo. Para isso, vamos analisar a curva de oferta agregada de curto prazo que apresenta inclinação positiva. Vejamos a Figura 4, que apresenta a curva de oferta agregada no curto prazo. 11 Figura 4 – Curva de oferta de curto prazo Fonte: Adaptado de Mankiw, 2005. Como você deve ter reparado, no curto prazo os preços influenciam as variáveis reais da economia; isto é, uma alta ou baixa dos preços aumenta ou diminui o produto da economia, levando a curva a uma inclinação positiva. Segundo Mankiw (2005) existem três motivos principais para explicar a inclinação positiva, todos relacionados a imperfeições do mercado. Basicamente, a quantidade ofertada se desvia de seu nível natural ou de longo prazo, quando os preços se desviam do nível que as pessoas esperavam que prevalecesse. Vamos detalhar esses três motivos: 1) Salários rígidos: de acordo com essa teoria, os salários são ‘rígidos’ ou de difícil alteração no curto prazo. Exemplo: o contrato de trabalho é feito para algum período e alterado a cada 12 meses, portanto, não é ajustável dia a dia. Essa rigidez pode ser explicada por diversos motivos, 12 como normas sociais e trabalhistas, atuação de sindicatos e mobilidade da mão de obra. Imagine que você tenha contratado 100 pessoas para a sua empresa por um salário X, mas o preço do seu produto tenha caído no mercado. Infelizmente, você não pode ajustar os salários imediatamente a essa nova realidade; logo, você reduz a sua produção para compensar a queda de lucratividade. 2) Preços rígidos: outro motivo da inclinação da curva de oferta é a rigidez de preços. Alguns analistas usam como exemplo o custo de menu, isto é, a impossibilidade de imprimir e distribuir novos catálogos para qualquer alteração no preço de mercado. Exemplo: uma indústria oferece aos seus clientes equipamentos eletrônicos que são vendidos sob encomenda. Uma queda dos preços fará com que a empresa aceite menos encomendas, dada a queda na taxa de lucratividade, considerando que existe um risco de os custos subirem até a entrega do produto final. 3) Percepções equivocadas: como os agentes na economia dificilmente possuem todas as informações sobre o mercado, podem ocorrer percepções incorretas sobre alterações de preços. Exemplo: o preço de um produto pode estar subindo, mas isso pode ser reflexo não de uma valorização ou maior demanda do produto, e sim efeito da inflação, que faz com que todos os produtos aumentem. Em suma, pode haver modificações incorretas da produção devido a uma percepção equivocada das alterações de preços. Por fim, os deslocamentos na curva de oferta de curto prazo são resultados das mesmas alterações explicadas nos deslocamentos de longo prazo, ou seja, da oferta de trabalho, do capital, dos recursos naturais e da tecnologia. 13 Tema 3 – Entendendo a Inflação e Seus Efeitos A inflação deve ser entendida como um aumento contínuo egeneralizado no nível geral de preços. O conceito de inflação, entre os que vimos até o momento, é o menos controvertido e de fácil assimilação. Em virtude das suas consequências para empresas, famílias e governo, a inflação tornou-se assunto amplamente debatido. Apesar de ser um conceito simples, podemos destrinchar observações complementares, destinadas a revelar, com maiores detalhes, aspectos elementares dos processos inflacionários. A primeira coisa que devemos pensar é por que meio a inflação se revela. A resposta seria a quantidade de moeda. Não existe maneira de o nível geral de preços da economia aumentar sem que isso seja reflexo do aumento da quantidade de moeda circulando na economia. Embora ela seja teoricamente fácil de definir, a obtenção de indicadores de inflação perfeitos é praticamente impossível, do ponto de vista operacional. O que de fato acontece é a construção de índices a partir de amostras, cuja aderência à realidade sempre será discutível ou não ideal para a situação. Como explicam Rossetti e Lopes (2005, p. 309), a maioria dos índices de preços incorre em três tipos de erros: 1) Erros de fórmula: muitas vezes as alterações registradas na realidade não condizem com as séries tabuladas. Isso se deve à escolha da fórmula matemática a ser adotada. Algumas fórmulas consideram a quantidade no ano zero, outras, no ano 1. 2) Erros de amostragem: além de a amostra ser passível de erros quanto ao seu tamanho em relação ao universo, podem também ocorrer vieses quanto ao levantamento. Exemplo: fazer uma pesquisa sobre aluguéis numa cidade de 2 milhões de habitantes e só buscar 50 imóveis similares, situados no mesmo bairro ou com a mesma configuração. 3) Erro de homogeneidade: ocorre quando não se toma o cuidado de observar a maior gama de itens possível, evitando abranger somente 14 produtos muito similares e que, portanto, sofrem com o mesmo efeito inflacionário. Cabe ainda observar que não há apenas um índice de inflação, mas vários, cada qual obtido por critérios próprios. Cada índice tem um objetivo diferente. Conhecer os diferentes índices permite que, quando você estiver fazendo sua análise de cenário, possa optar pelo mais condizente para a sua análise. O Quadro 1 apresenta os principais índices. 15 Quadro 1 – Principais índices de inflação no Brasil Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) O IPCA mede a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias, cujo rendimento varia entre 1 e 40 salários mínimos. As pesquisas são feitas nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e do município de Goiânia. Medido pelo IBGE. Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) Abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 (um) e 6 (seis) salários-mínimos, cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal e residente em áreas urbanas de diferentes regiões. Abrange as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, Brasília e município de Goiânia. Medido pelo IBGE. Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) Tem a finalidade de medir o comportamento de preços em geral na economia brasileira. É uma média aritmética, ponderada, dos seguintes índices: IPA, IPC e INCC. DI ou Disponibilidade Interna é a consideração das variações de preços que afetam diretamente as atividades econômicas localizadas no território brasileiro. Não se consideram as variações de preços dos produtos exportados. Medido pela FGV. Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) Índice utilizado para a correção de contratos de aluguel e como indexador de algumas tarifas, como energia elétrica. É calculado da mesma forma que o IGP-DI, porém enquanto aquele tem o fechamento no dia 30 de cada mês, este é fechado no dia 21. Medido pela FGV. Índice de Preços no Atacado (IPA) Seu propósito é medir o ritmo evolutivo dos preços praticados no comércio atacadista, ou seja, os que antecedem as vendas no varejo. Medido pela FGV. Índice Nacional do Custo de Construção (INCC) Apura a evolução dos custos no setor da construção, um dos termômetros do nível de atividade da economia. Atualmente, a coleta é feita em 7 capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília). Medido pela FGV. (continua) 16 (Quadro 1 – conclusão) Índice de Preços ao Consumidor (IPC) Mede a variação de preços de um conjunto fixo de bens e serviços componentes de despesas habituais de famílias com nível de renda situado entre 1 e 33 salários mínimos mensais. Sua pesquisa de preços se desenvolve diariamente. Atualmente a coleta é feita em 7 capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília. Medido pela FGV. Como você deve ter notado, existem diversos índices de inflação e cada um visa a um objetivo diferente. Além destes, diversos institutos de pesquisa formulam seus próprios índices com aprimoramentos. Na verdade, você também pode criar o seu índice particular de inflação. Se puder, reúna todos os bens e serviços que você consome, tabule todos os valores para algum mês, veja qual o peso do item em relação à sua renda. Refaça os passos no mês seguinte. Comparando os valores, você terá uma noção de como a inflação está afetando a sua renda, e de forma muito confiável. Tema 4 – Inflação e Desemprego Podemos considerar que a relação existente entre as taxas de inflação e o nível do emprego sempre foi um dos aspectos importantes da teoria macroeconômica. De maneira geral, a procura persistente por aumentos nos níveis de emprego acaba somente por induzir aumentos nominais da renda e não reais; por outro lado, a tentativa de manter um nível baixo de inflação conduz a aumentos nos índices de desemprego. A existência de uma relação histórica entre as taxas de desemprego e as variações no nível geral de preços foi proposta em 1958 pelo economista inglês A. W. Phillips, que se baseou em observações envolvendo os salários e o nível de desemprego no Reino Unido. Em síntese, a conclusão de Phillips foi que existe uma relação inversa não linear entre os níveis de emprego e as taxas de inflação. 17 Figura 5 – Curva de Phillips Fonte: Adaptação de Rossetti; Lopes, 2005. A taxa de desemprego é mostrada no eixo horizontal e a inflação, no vertical. A curva corta o eixo horizontal no ponto correspondente ao desemprego natural da economia (un). Se você estiver atento, aluno, já terá percebido que, se estamos falando de desemprego natural, este deve estar relacionado ao desemprego de longo prazo e, portanto, também ao produto natural da economia. Quais são as implicações dessa curva? A primeira delas é que tentativas de reduzir o desemprego para níveis inferiores a un provocam elevações na taxa de inflação. Por outro lado, a redução da taxa de inflação terá como custo social uma ampliação do índice de desemprego. Provavelmente, você irá perguntar: professor, por que então ocorrem situações de inflação alta e desemprego alto? Quando os agentes passam por longos períodos de inflação, a tendência é que isso seja incorporado, isto é, elesse acostumem a taxas de inflação maiores. Uma vez que níveis maiores de inflação tornam-se ‘normais’, a 18 tendência é que o desemprego gire em torno do desemprego natural, mas em níveis maiores de inflação. Graficamente isso será representado por um deslocamento para a direita na curva. Tema 5 – Expectativas e Reações Você deve ter notado que as expectativas são importantes para a economia. Teremos efeitos bem diferentes se esperarmos por uma inflação alta ou se formos surpreendidos por um choque na economia. Para o governo, será de suma importância saber as expectativas que as empresas e os consumidores possuem. Vamos mostrar a importância das expectativas por meio de um exemplo. Suponha que, no início de 2018, devido ao baixo desempenho da economia, o governo decida reduzir os impostos. A redução de impostos será estritamente temporária, uma vez que visa somente a manter a economia aquecida. Consideremos que, para essa redução dos impostos, tenhamos duas reações possíveis: Como a redução dos impostos será temporária, ela não afetará muito a renda no longo prazo e, portanto, não afetará o gasto. Nessa primeira possibilidade, a política será ineficiente e não atingirá os objetivos propostos. Uma segunda possibilidade seria que o público acreditasse que a redução dos impostos duraria mais que o previsto. Nesse caso, ele interpretaria a redução dos impostos como aumento na renda, elevando os gastos. Note a importância das expectativas, pois se o governo estiver errado em seu palpite sobre as reações dos consumidores, pode acabar provocando uma desestabilização. Existe outra consequência direta das decisões tomadas pelo governo: 19 elas afetam a formação das expectativas pelo público. Por exemplo, se o governo errar de maneira sistemática o controle da inflação, o público deixará de acreditar que ele se preocupa com a inflação. Nesse caso, se o governo anunciar que vai manter a inflação baixa, provavelmente não terá credibilidade, o que fará com que as medidas anti-inflacionárias não tenham eficiência. A economia tem dois importantes modelos que descrevem o comportamento das expectativas: expectativas adaptativas e expectativas racionais. Expectativas adaptativas Implicam que os agentes da economia formam suas expectativas sobre o que irá acontecer no futuro somente com base nos resultados do passado. Exemplo: se o crescimento do PIB sempre girou em torno de 5%, com base na teoria das expectativas adaptativas, os agentes já esperam que no futuro o PIB cresça 5%. Expectativas racionais A hipótese defendida por essa teoria é que os agentes econômicos utilizam, além das informações do passado, previsões para o futuro, ou seja, eles buscam informações sobre o que vai ocorrer no futuro. A hipótese das expectativas racionais foi incorporada às teorias econômicas num período relativamente recente, a partir da década de 1970, sendo desde então utilizada largamente na proposição de modelos e na análise econômica. Vamos mostrar um exemplo: o crescimento do PIB sempre girou em torno de 5%, mas o agente buscou informações e previu que o crescimento para o próximo ano será de 6%. Entretanto, devido a um choque externo, o crescimento de fato atingiu 7%. Segundo as expectativas racionais, os agentes seriam surpreendidos com base na diferença entre o crescimento de 7% e o de 6% que haviam previsto, enquanto pelas expectativas adaptativas, o erro seria a diferença 20 entre os 7% verificados e os 5% do crescimento usual do PIB. Para finalizar, faça um exercício mental: se você fosse diretor de produção de uma indústria automotiva e o governo anunciasse uma redução do IPI para incentivar as vendas, como você agiria? Recomendaria o aumento da produção, pois as expectativas de vendas seriam positivas, ou recomendaria prudência, visto que em ocasiões anteriores os aumentos de vendas não ocorreram. Lembre-se que um erro de decisão pode custar milhões para a indústria. Trocando ideias Depois de ler a reportagem a seguir, discuta no fórum por que o cenário político afeta a economia. http://oglobo.globo.com/economia/retomada-do-crescimento-economico-exige- solucao-para-crise-politica-18802179 Qual é o papel das expectativas? Qual seria o efeito do ajuste final na economia? Ele afetaria a demanda ou a oferta? O aumento das exportações seria um meio de aumentar o crescimento? Na Prática Vamos fazer um exercício de análise de política econômica. Imagine que você é o responsável pelo departamento econômico de uma empresa. Seu trabalho será apresentar certas variáveis enumeradas, e explicar rapidamente o que está acontecendo. Apresente-as da melhor maneira possível, por meio de gráficos, linhas de tendência, tabelas, etc. Se precisar, transforme as variáveis em índice. Apresente os dados de 2012, 2013 e 2014 do índice IPCA de inflação, e também do INCC e PIB a preços de mercado e exportações. 21 Resolução do Caso 1) Primeiramente, encontre os dados: a. Para o PIB e as exportações, utilize o site do SIDRA IBGE. Procure por contas nacionais, sem ajuste sazonal. b. O IPCA também é calculado pelo IBGE; utilize o mesmo site de busca c. O INCC é medido pela FGV. No site do IBRE FGV não é possível obter a série histórica; entretanto, ela pode ser baixada via séries temporais do Banco Central. 2) Uma vez de posse dos dados tabulados em Excel, agrupe-os e apresente-os da melhor forma possível. 3) Preferencialmente, transforme tudo em índice na base 100 para facilitar o entendimento, 4) Note que as séries do PIB e de exportações são trimestrais, e as da inflação são mensais. Como só estamos fazendo um estudo, podemos repetir as análises trimestrais para compatibilizá-las com as séries mensais Resolução do Caso A tabela com os dados encontrados apresenta os seguintes valores: 22 Tabela 1 – Índices de inflação, PIB e exportação Data INCC INCC índice IPCA IPCA em índice PIB a preços de mercado Exportação de bens e serviços jan/12 0,45 100,00 0,56 100,00 163,05 243,22 fev/12 0,5 111,11 0,45 80,36 163,05 243,22 mar/12 0,32 71,11 0,21 37,50 163,05 243,22 abr/12 0,52 115,56 0,64 114,29 167,84 265,33 mai/12 0,35 77,78 0,36 64,29 167,84 265,33 jun/12 0,41 91,11 0,08 14,29 167,84 265,33 jul/12 0,51 113,33 0,43 76,79 173,52 276,87 ago/12 0,39 86,67 0,41 73,21 173,52 276,87 set/12 0,46 102,22 0,57 101,79 173,52 276,87 out/12 0,42 93,33 0,59 105,36 171,84 282,58 nov/12 0,25 55,56 0,6 107,14 171,84 282,58 dez/12 0,19 42,22 0,79 141,07 171,84 282,58 jan/13 0,63 140,00 0,86 153,57 167,63 231,5 fev/13 0,44 97,78 0,6 107,14 167,63 231,5 mar/13 0,48 106,67 0,47 83,93 167,63 231,5 abr/13 0,5 111,11 0,55 98,21 174,71 282,23 mai/13 0,64 142,22 0,37 66,07 174,71 282,23 jun/13 0,5 111,11 0,26 46,43 174,71 282,23 jul/13 0,4 88,89 0,03 5,36 178,31 285,73 ago/13 0,66 146,67 0,24 42,86 178,31 285,73 set/13 0,91 202,22 0,35 62,50 178,31 285,73 out/13 0,55 122,22 0,57 101,79 175,99 294,09 nov/13 0,24 53,33 0,54 96,43 175,99 294,09 dez/13 0,21 46,67 0,92 164,29 175,99 294,09 jan/14 0,54 120,00 0,55 98,21 172,94 239,09 fev/14 0,62 137,78 0,69 123,21 172,94 239,09 mar/14 0,57 126,67 0,92 164,29 172,94 239,09 abr/14 0,77 171,11 0,67 119,64 173,25 281,6 mai/14 0,57 126,67 0,46 82,14 173,25 281,6 jun/14 0,3 66,67 0,4 71,43 173,25 281,6 23 jul/14 0,34 75,56 0,01 1,79 176,38 298,86 ago/14 0,16 35,56 0,25 44,64 176,38 298,86 set/14 0,3373,33 0,57 101,79 176,38 298,86 out/14 0,37 82,22 0,42 75,00 174,79 262,51 nov/14 0,42 93,33 0,51 91,07 174,79 262,51 dez/14 0,18 40,00 0,78 139,29 174,79 262,51 Depois disso, montamos o gráfico. Figura 6 – Gráfico dos índices de inflação, PIB e exportação Podemos notar que existe uma relação de grande semelhança entre PIB, exportações e IPCA. Apesar de parecer simples, essa é uma conclusão importante, pois mostra que a dinâmica de crescimento do PIB está atrelada ao comportamento das exportações. Outro ponto importante: a inflação segue a mesma tendência do comportamento do PIB, o que indica que mais crescimento leva a maiores índices de inflação. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 INCC IPCA PIB a preços de mercado Exportação de bens e serviços 24 O INCC, que mede a inflação na construção civil, é a variável que apresentou maior deslocamento com o PIB. Períodos de queda do PIB e do IPCA não foram vistos da mesma forma no INCC; entretanto, no sentido contrário, períodos de alta no PIB e IPCA, também foram vistos no INCC. Síntese Começamos esta aula discutindo alguns fatos importantes acerca das flutuações de curto prazo na atividade econômica. Foi apresentado um modelo básico para explicar essas flutuações, chamado modelo de demanda e oferta agregada. A curva de demanda agregada sofrerá alterações em caso de mudanças no consumo, no investimento, nos gastos do governo, nas exportações ou nas importações. Por outro lado, a curva de oferta agregada é indiferente no longo prazo, deslocando-se apenas quando ocorre alteração nos fatores de produção (trabalho, capital, recursos naturais e tecnologia). No curto prazo, a curva de oferta agregada sofre alterações em relação aos preços devido à rigidez destes e dos salários. Apreendemos que a inflação é um aumento generalizado dos níveis de preços, e que ela tem uma relação de proporcionalidade inversa com o desemprego, demonstrada pela Curva de Phillips. Por fim, entendemos que, pela hipótese de expectativas racionais, o futuro também é importante, e que ele é incorporado pelos indivíduos na tomada de decisão. Referências CORREA, M. et al. Retomada do crescimento econômico exige solução para crise política. O Globo, Rio de Janeiro, 4 mar. 2016. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/retomada-do-crescimento-economico- exige-solucao-para-crise-politica-18802179> Acesso em: 4 set. 2016. 25 DORNBUSCH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. Tradução de João Gama Neto. 11. Ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. MANKIW, N. E. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. São Paulo: Campus Universitário, 2005. ROSSETTI, J. P.; LOPES, J. do C. Economia monetária. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2005.
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