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1 Análise de Cenários Econômicos Aula 5 Prof. Joaquim Israel Ribas Pereira 2 Conversa Inicial Olá! O objetivo desta aula será apresentar uma visão geral do mercado financeiro e de capitais, abordando principalmente o funcionamento dos principais produtos financeiros e seus mercados. Essencialmente, apresentaremos o funcionamento básico dos mercados (títulos, renda fixa, ações), permitindo que você se familiarize com a nomenclatura. Além disso, o conhecimento do mercado financeiro permite que tanto você quanto a empresa em que você trabalha façam escolhas mais racionais de alocação de investimentos. Além disso, pode-se acrescentar que o mercado financeiro, por sua grande importância, utiliza-se de metodologias e análises que são extremamente úteis para uma análise de cenários econômicos. Contextualizando O objetivo desta aula é levar o aluno a conhecer o funcionamento básico de várias subdivisões do mercado financeiro, como os mercados de câmbio, monetário, de crédito, de capitais e derivativos. Veremos, inicialmente, como o mercado financeiro surgiu, e como essas subdivisões passaram a existir. Posteriormente, ele será apresentado à famosa taxa Selic, e saberá como esta funciona como referência para as demais taxas. Vamos explicar também as taxas Cetip e DI, que são base para os rendimentos em renda fixa. Em seguida, vamos adentrar o mercado de títulos públicos e explicar que não existe somente um tipo de título. Explicaremos, também, o mercado de renda fixa e seus principais produtos, como o Certificado de Depósito Bancário (CDB), a Letra de Crédito (LC) e a Letra do Crédito Agropecuário (LCA), entre outros. Por fim, vamos estudar o mercado primário e secundário de ações, e os indicadores que é necessário estudar para saber quais ações apresentam melhores rendimentos. 3 Pesquise Antes de começarmos nossos estudos, pesquise sobre índices de confiança, projeções econômicas e análises setoriais. Leia sobre as perspectivas apontadas e como elas interagem com o mercado doméstico e externo. Tema 1 – Estrutura do Mercado Financeiro Originalmente, os mercados de negociação, geralmente localizados em pontos centrais das cidades, transacionavam somente os excedentes de produção, de modo que produtores e consumidores realizavam trocas de produtos. Posteriormente, a evolução do sistema comercial permitiu o surgimento de um sistema bancário. A presença do sistema bancário deu origem à intermediação financeira, ou seja, trocas de valores entre os indivíduos, principalmente entre os detentores de reservas monetárias e os deficitários, isto é, aqueles sem liquidez para consumo e investimento. Segundo Lopes e Rossetti (2005, p. 407), houve três importantes motivos que impulsionaram a intermediação financeira: Superação de uma economia baseada no escambo; Criação de bases institucionais para o funcionamento do mercado de intermediação financeira; Existência de agentes econômicos (famílias, empresas) deficitários e superavitários, dispostos a buscar segurança e rentabilidade para sua poupança e financiar seus investimentos. Em síntese, o terceiro fator é o mais importante, pois demonstra que os intermediários financeiros, principalmente os bancos, só existem porque encontram agentes que desejam gastar mais do que seus rendimentos, concomitantemente com outros que possuem poupanças. 4 O crescimento da intermediação financeira foi possível graças às suas vantagens. A primeira delas é que instituições financeiras tendem a se especializar, fornecendo melhores informações e produtos aos que tomam empréstimos e aos que investem. A segunda, que os bancos e outros agentes podem abranger diferentes setores e regiões, fornecendo, portanto, mais opções e diluição dos riscos. A terceira vantagem é que um agente deficitário tem maiores chances de encontrar um financiamento via intermediários do que teria via financiamento direto. Por exemplo, pedir emprestado 100 mil reais em um banco, que capta dinheiro de várias pessoas, é mais fácil do que emprestá- los diretamente de um indivíduo só. A evolução da intermediação financeira e a oferta de produtos financeiros deram origem aos mercados financeiros. Estes, como o nome já indica, são locais — não propriamente físicos — em que se negocia ativos financeiros, como moedas estrangeiras, títulos públicos, debêntures, certificados de depósitos, entre outros. Para facilitar o entendimento, o mercado financeiro pode ser dividido em segmentos. Neste caso, vamos utilizar a classificação proposta por Kerr (2011), ressalvando, porém, que esta é uma divisão didática, e que muitas vezes as instituições financeiras operam em vários mercados ao mesmo tempo. Mercado Monetário: boa parte desse mercado é operado pelo Banco Central. Nele são realizadas operações de negociação de títulos públicos, de redesconto e depósitos compulsórios, que visam essencialmente a controlar a liquidez da moeda na economia; Mercado de Crédito: operado por instituições financeiras bancárias, destina-se basicamente a suprir as necessidades de capital de giro das empresas, abrangendo empréstimos, financiamento e depósitos à vista. Mercado Cambial: onde se realiza a compra e venda de moeda estrangeira. Mercado de Capitais: nele são realizadas operações de longo prazo, 5 geralmente por bancos de investimentos. Aplicação em ações e debêntures são exemplos da atuação desse mercado. Mercado de derivativos: são operações com ativos cujos valores representam uma parcela de outro ativo, daí o nome de derivativos. Destina-se, principalmente, à administração de risco. A existência e a importância relativa de cada segmento do mercado financeiro dependem do grau de desenvolvimento econômico do país, podemos citar como exemplo o mercado secundário de imóveis ou hipotecas nos Estados Unidos, que movimenta bilhões de dólares lá, enquanto no Brasil ainda estamos evoluindo nesse setor. Qual a importância desse conhecimento para a análise de cenários econômicos? É de suma importância para qualquer analista observar as contrações e expansões de mercado de crédito, acionário e de títulos e, assim, entender o que essas variações indicam. Por exemplo, se observarmos as ações das siderúrgicas no ano de 2015, veremos uma queda brusca das ações dessas empresas negociadas na bolsa de valores. Pesquisando mais a fundo, vemos que esse fato revela-se um indicativo da queda do patrimônio líquido e de uma crise no mercado de aço nacional. O mercado de ações, o de títulos públicos e o de renda fixa, e como eles auxiliam na análise de mercado, serão objeto de estudo dos próximos temas. Tema 2 – Mercado Monetário: Títulos Públicos Federais O mercado monetário diz respeito à circulação de moeda ou dinheiro em um país. Estão compreendidas nesse mercado as operações de compra e venda de títulos públicos e privados. Título é uma forma de tomar dinheiro emprestado, mediante a emissão de um certificado de direito a pagamento futuro, com juros. Os títulos, se emitidos pelo governo, permitem financiar a dívida pública, gerar receitas para gastos públicos e também controlar a 6 liquidez da economia. Como exemplos de títulos privados podemos citar os certificados de depósitos interfinanceiros (CDI), o certificado de depósito bancário (CDB) e os debêntures. Os títulos são controlados e custodiados por dois sistemas eletrônicos: Selic e Cetip. Selic – Sistema Especial de Liquidação e Custódia– Foi desenvolvido pelo Banco Central em 1979, com o propósito de operar os títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. O sistema tem por finalidade gerenciar as operações de compra e venda e manter sua custódia. Cetip – Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos – teve início em 1986 como um sistema semelhante ao Selic, só que gerenciando os títulos privados — CDB, CDI etc. — e providenciando sua custódia. Ambos os sistemas de liquidação e custódia (Selic e Cetip) têm como objetivo promover o gerenciamento, a segurança e a autenticidade dos títulos negociados. Tanto a Selic quanto a Cetip divulgam de maneira periódica taxas de juros que funcionam como referência para os agentes econômicos: a taxa Cetip e a famosa taxa Selic. A taxa Selic funciona como principal referência para taxas de juros no mercado, pois indica os juros aplicados aos títulos públicos federais, e como não existe um investimento em larga escala com risco mais baixo que o dos títulos federais, estes funcionam como referência aos demais títulos públicos e privados. A Taxa Cetip, naturalmente, apresenta-se levemente mais elevada que a Selic, devido principalmente ao risco teoricamente um pouco maior, por se tratar de títulos privados. Os títulos federais, emitidos pelo Tesouro Nacional, não são homogêneos, ou seja, eles apresentam características de negociação 7 diferentes. Os principais papéis ofertados são: Letras do Tesouro Nacional (LTN), Notas do Tesouro Nacional (NTN) e Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Vejamos cada uma delas em mais detalhes: LTN – são títulos prefixados, ou seja, sua rentabilidade é conhecida no momento da compra. Possuem um fluxo de pagamento simples, isto é, o investidor faz uma aplicação e irá receber o valor do investimento somado à rentabilidade na data de vencimento do título. NTN – são títulos pós-fixados, ou seja, sua rentabilidade é estimada, mas sofre variações com o tempo. São, na sua maioria, indexados a uma taxa de inflação (IPCA), acrescida de juros definidos no momento da compra. Geralmente, possuem retornos a cada seis meses. LFT – são títulos pós-fixados, cuja rentabilidade está atrelada à taxa Selic, definida pelo Banco Central. Possui fluxo de pagamento simples, isto é, o investidor faz a aplicação e recebe o valor da rentabilidade no vencimento do título. Vejamos um quadro disponível no site do Banco do Brasil em abril de 2016, que indica os retornos de cada tipo de título público. 8 Quadro 1 – Títulos e retornos dos títulos públicos federais Fonte: Banco do Brasil, 2016. Podemos observar no quadro três tipos de títulos: indexados ao IPCA, prefixados e indexados à taxa Selic. Os títulos indexados ao IPCA, apresentam um retorno (taxa) acima de 6%, mais o IPCA do respectivo ano até o vencimento. Note que esse tipo de investimento protege a empresa ou o indivíduo da perda de poder de compra causada pela inflação, além de apresentar um retorno real acima de 6%. Os títulos prefixados já revelam qual será o retorno do título até o vencimento, variando entre 12,71% e 13,01%. Esse título irá apresentar uma vantagem sobre o título indexado ao IPCA, caso a inflação, somada aos juros de 6%, fique abaixo dos 12%. Por fim, temos o título indexado à Selic, cujo retorno, portanto, irá variar conforme as decisões do Conselho de Política Monetária (COPOM). Esse título terá certo risco, caso o COPOM seja leniente com a inflação, isto é, caso ele não suba os juros para conter um processo inflacionário, que levará a uma deterioração dos ganhos. Para finalizar o tema, qual a necessidade de conhecer os títulos públicos federais para a análise de cenários econômicos? Note que os títulos públicos são considerados os investimentos mais seguros oferecidos no mercado, e 9 portanto, funcionam como uma base mínima de rentabilidade. Numa tomada de decisão de investimento, a taxa Selic deverá ser observada. Por exemplo, se um investimento projeta um retorno de 10% ao ano e a taxa Selic está definida como 14% ao ano, não haverá lógica econômica para o investimento, tendo em vista que o retorno em títulos públicos será maior. Tema 3 – O Mercado de Renda Fixa Vamos apresentar neste tema os produtos financeiros que oferecem rendimentos fixos, ofertados por instituições financeiras (bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de desenvolvimento e bancos múltiplos). Nesse grupo de produtos financeiros estão incluídos os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), os Recibos de Depósitos Bancários (RDB), o Depósito Interbancário (DI), as Letras de Câmbio (LC), a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), entre outros. Todos os produtos financeiros têm basicamente o mesmo objetivo: captar recursos para as instituições financeiras, podendo estas oferecer crédito para diferentes fins (crédito para a casa própria, crédito para a agricultura etc.). O lucro dessas instituições virá pela diferença entre o custo do dinheiro captado entre os investidores em renda fixa e a receita auferida a partir do dinheiro emprestado. Como explica Fortuna (2007), o CDB é um título de crédito e o RDB é um recibo, sendo o que último não terá rendimento algum, caso o investidor queira retirar o recurso aplicado antes do prazo estipulado. Nos dois casos, as características são determinadas no momento da contratação: prazo final e taxa de rendimento são previamente definidos. A remuneração pode ser prefixada ou pós-fixada, indexada a algum índice, mas geralmente pela taxa DI definida pela Cetip. O Depósito Interfinanceiro (DI) é um título privado que visa a fornecer recursos aos bancos. É negociado somente entre os bancos, portanto não 10 pode ser vendido a outros investidores. As negociações entre os bancos têm como base a Taxa DI, geralmente muito próxima da Taxa Selic e referência para os demais produtos de renda fixa. A Letra de Câmbio (LC) é um instrumento de captação de recursos específico das sociedades de crédito e financeiras, e é sempre emitida com base numa transação comercial; ou seja, quando uma financeira empresa algum valor a alguém, essa pessoa saca uma LC contra a financeira, que a aceita e lança no mercado. Também pode ser emitida com taxa prefixada, flutuante ou pós-fixada, pelo prazo mínimo de 60 dias e máximo de 180 dias. A LCA é um título emitido por uma instituição financeira que visa a captar recursos para crédito na cadeia de produção do agronegócio. Uma das vantagens desse investimento é a isenção do imposto de renda. Apresenta baixo risco, dado que boa parte do investimento é garantida pelo Fundo Garantidor de Crédito. Quando uma empresa necessita de recursos, uma das suas opções é a emissão de debêntures, que somente podem ser emitidas por sociedades por ação, isto é, companhias de capital aberto com prévio registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A debênture dá ao credor da empresa direito a rentabilidade sobre o montante emprestado, em dado prazo e em condições preestabelecidas. Entre as vantagens para a empresa que emite as debêntures, podemos citar o maior prazo para pagamento; a possibilidade de captar recursos maiores; um menor custo de captação, visto que o risco é passado ao investidor e não a uma instituição financeira; maior liberdade sobre os prazos e formas de pagamento. Claramente, a pessoa que adquire uma debênture corre o risco de inadimplência da empresa emissora. Por isso, o mercado criou as empresas de rating ou análise de risco, que classificam os títulos com base no risco de calote. 11Existe ainda a Nota Comercial ou commercial paper, que funciona de maneira muito semelhante à das debêntures: é emitida por empresas de capital aberto ou fechado, mas com prazos inferiores a 360 dias. Podemos citar diversas outros produtos financeiros de renda fixa, mas os que foram aqui apresentados são os principais. Qual é a utilidade de conhecer esses investimentos? A primeira, sem dúvida, é a de uso pessoal, para a gestão do seu próprio dinheiro. A segunda é que, numa gestão financeira sólida, a empresa deve saber optar por seus investimentos e também conhecer outras fontes de recursos. Tema 4 – O Mercado de Ações Ações são, como explica Kerr (2011), a menor fração em que se divide o capital de uma empresa. O acionista é, portanto, participante ou proprietário de uma companhia, proporcionalmente à quantidade de ações que possui em relação ao total. Atualmente, as ações são escriturais, funcionando por meio de um registro eletrônico, no qual os valores são lançados a débito ou a crédito na conta dos acionistas, sem a necessidade de movimentação física de papéis. As empresas registradas como sociedades anônimas podem ser de capital fechado ou capital aberto. As de capital fechado, geralmente, são empresas familiares e com número restrito de sócios. Por outro lado, as empresas de capital aberto são necessariamente registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sendo obrigadas a fornecer uma série de informações contábeis e de governança. As ações são classificadas em dois tipos: ordinárias e preferencias, conforme os direitos dos acionistas. Ações preferenciais – não atribuem a seu titular direito de voto nas assembleias, porém conferem duas preferências: prioridade no recebimento de dividendos e prioridade no reembolso do capital da 12 empresa em caso de dissolução. Ações ordinárias – atribuem ao seu possuidor os mesmos direitos e obrigações que os proprietários, ou seja, confere ao acionista o direito de voto, podendo ele participar das principais decisões da empresa. De acordo com Assaf Neto (2003), as ações podem ter seis valores diferentes, além daquele atribuído pelo mercado em determinado dia. Podemos reconhecer os seguintes valores monetários das ações: patrimonial, de mercado, de liquidação, nominal, intrínseco e de subscrição. O valor patrimonial da ação é entendido como o patrimônio líquido da empresa, dividido pelo número de ações. Por exemplo, se o patrimônio líquido de uma empresa for R$ 100 milhões e ela tiver 50 milhões de ações emitidas, determina-se um valor patrimonial de dois reais por ação. Essencialmente, essa é uma informação que indica valores acumulados no passado e não carrega expectativas sobre a empresa. Por outro lado, o valor de mercado representa o efetivo preço negociado da ação no mercado secundário. Não coincide, necessariamente, com seu valor patrimonial, pois é definido por percepções dos investidores e pelos ciclos de especulação na Bolsa de Valores, fato que explicaremos mais à frente. O valor de liquidação é, basicamente, quanto compete a cada ação no momento do encerramento da empresa. Um valor muito baixo indica excesso de passivos, como trabalhistas ou com fornecedores. Já o valor nominal, é aquele atribuído a cada ação, conforme previsto no estatuto social da empresa. Deve-se fazer a ressalva de que não existe obrigação de a empresa indicar esse valor no estatuto, sendo isso apenas uma opção. O valor intrínseco de uma ação é o valor presente dos retornos de caixa, descontado de uma taxa mínima de retorno, ou seja, o valor intrínseco indica o potencial de remuneração da ação. Por fim, o valor de subscrição, também chamado valor de emissão, é o preço definido no lançamento de ações em operações de expansão de capital 13 de uma empresa. Indica quanto cada ação está contribuindo para o capital social da empresa. Essencialmente, para o investidor, a ação de uma empresa oferece três formas de rendimentos: a própria valorização do preço de mercado da ação; os juros sobre o capital próprio, pagos aos acionistas com base nas reservas de lucros da empresa; os dividendos, que representam a distribuição de lucros auferidos pela empresa aos seus acionistas. O pagamento de juros sobre capital próprio apresenta benefícios fiscais para a empresa, quando comparado ao pagamento de dividendos. Por meio desse lançamento contábil, as empresas podem diminuir o valor pago em Imposto de Renda, repassando esse ônus ao investidor e também já descontando do pagamento mínimo obrigatório de dividendos. Outro fato importante que devemos comentar diz respeito aos dois momentos da negociação das ações: o mercado primário e o mercado secundário. O mercado primário, essencialmente, é quando as empresas lançam suas ações pela primeira vez, canalizando assim mais recursos para a empresa. O mercado secundário se resume às negociações entre os agentes econômicos das ações adquiridas no mercado primário. Os valores monetários negociados nesse mercado não são transferidos para a empresa, e ele funciona somente para dar liquidez ao mercado primário. O mercado de ações constitui-se num importante meio de fornecimento de recursos para empresas, e também numa importante opção de investimento. Conhecer essas opções é de extrema importância para qualquer agente econômico, principalmente para aqueles que desejam traçar a melhor estratégia possível. Tema 5 – O Mercado Secundário de Ações O mercado secundário registra a transferência de titularidade das ações de empresas. Essas negociações ocorrem nas famosas bolsas de valores. As bolsas de valores têm como objetivo promover negociações seguras, 14 desenvolver um sistema de registro ágil e moderno e fiscalizar o cumprimento das regras entre seus membros. Atualmente, no Brasil, a única bolsa de valores é a BM&F-Bovespa, formada pela fusão, em 2007, da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). O local onde são realizadas as diversas transações de compra e venda de ações, mesmo sendo eletrônico, é denominado de pregão. Todos os agentes econômicos que participam da Bolsa de Valores devem ter amplo acesso às informações e fatos relevantes que possam influir sobre os preços das ações; portanto, é crime um diretor de empresa vender ou usar para si informações privilegiadas. Tendo isso em vista, resta ao investidor utilizar-se de seus conhecimentos e análises para prever o comportamento das ações no mercado secundário. Por que conhecer o comportamento do mercado secundário é importante para a análise de cenários econômicos? Prezado aluno, uma dica de grande valia aqui é saber que o mercado de ações é o que melhor antecipa as informações. Essa antecipação, e sua resposta no preço da ação, é chamada precificação, ou seja, informações que impactam a economia geralmente são repassadas ao preço no momento que a informação vem à tona para o mercado. Em síntese, o preço de uma ação carrega as informações do mercado. Essa afirmação, como explica Kerr (2011), é baseada na hipótese de mercado eficiente (EMH), segundo a qual um mercado é eficiente quando os preços se ajustam de maneira rápida à chegada de novas informações. Claro que existe polêmica sobre a eficiência do mercado. Podemos citar como exemplo contrário a essa eficiência a formação de bolhas no mercado de ações, como aconteceu nos casos do mercado imobiliário americano, em 2008; do mercado japonês, em 1991; da bolha da internet, em 2000. Usualmente, esses grandes movimentos de alta ou baixa são chamados de efeito manada, poisindicam uma disparada irracional para uma determinada tendência. 15 Podemos citar duas ferramentas mais comuns para tentar estimar o comportamento futuro das ações, e que podem e devem ser usadas na análise de cenários: a análise gráfica e a análise fundamentalista. A análise fundamentalista parte do pressuposto de que o valor de mercado da ação irá se comportar conforme os fatores internos e externos à empresa. Toma como fundamentação para a análise as demonstrações financeiras, as decisões de agências reguladoras etc. Podemos citar alguns índices úteis a esse tipo de análise: Lucro por ação (LPA) – índice que deriva do lucro total da empresa, dividido pelo número de ações. Payout – percentual do lucro líquido que será dividido entre os acionistas a título de dividendos. Dividend yield – razão entre os dividendos distribuídos por ação e o preço de mercado da ação. Índice preço/lucro – método mais utilizado, resulta da divisão entre o preço de mercado da ação e o LPA. O índice mostra quantos anos são necessários para recuperar o investimento. Quanto maior o índice, maior é o tempo para essa recuperação. A análise técnica ou gráfica, por sua vez, concentra-se principalmente no comportamento dos preços no passado para prever esse comportamento no futuro. Os analistas que trabalham nesse mercado geralmente observam os gráficos dos preços das ações para traçar linhas de tendência e pontos de suporte e resistência, a fim de prever cenários e preços mais prováveis no futuro. Trocando ideias Leia a reportagem do link a seguir e discuta que motivos — além de um aumento dos juros — levam a uma mudança do mercado de ações para os títulos públicos. 16 http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/investidores-vendem-acoes-na- africa-e-compram-divida-publica 1) O mercado de ações é mais rentável? 2) Qual o papel da confiança no governo? 3) Como funciona a nota de classificação dos títulos? Na Prática Vamos aumentar nosso conhecimento sobre investimentos. Procure dados dos últimos 12 meses acerca de três ações de setores diferentes: celulose, siderurgia e bancos. Apresente os dados de Lucro Por Ação (LPA), Dividend Yield, Preço sobre Lucro Por Ação (P/L) e explique o que cada um significa. Inclua também a alta das ações nos últimos 12 meses. Mostre, já no começo, a taxa Cetip e a inflação acumulada nos últimos 12 meses (IPCA). Por fim, tire uma conclusão sobre qual das empresas apresentou o melhor resultado para o investidor. Mostre os dados comparativamente aos resultados médios da renda fixa (Cetip) e da inflação. Passo a passo 1) Devemos primeiramente encontrar os dados. A taxa Cetip pode ser encontrada no próprio site da Cetip. 2) A inflação acumulada nos últimos 12 meses é possível encontrar em sites especializados de economia. 3) Devemos selecionar três empresas, uma de casa setor. Neste exemplo, vou utilizar Suzano (celulose), Usiminas (siderurgia) e Bradesco (Bancos). 4) Para encontrar os dados sobre aumento das ações nos últimos 12 meses, e também os dados sobre LPA, Dividend Yield, e P/L, devemos procurar num site especializado como Exame, Infomoney, Bastter ou 17 Fundamentus. 5) Por fim, devemos compilar e apresentar os resultados. Resolução do caso Taxa Cetip vigente 14,13% IPCA últimos 12 meses 9,38% SUZANO (SUZB5) USIMINAS (USIM5) Bradesco (BBDC4) LPA -0,84 -3,10 3,10 Dividend Yield 1,9% 1,4% 4,4% P/L -16,18 -0,77 8,35 Valorização Ação último ano -5,12% -58,76% -7,91% Lucro Por Ação (LPA) é, basicamente, o lucro líquido dividido pelo número de ações no mercado. Neste caso, somente o Bradesco apresentou lucro líquido e, portanto, LPA positivo. Dividend Yield representa o dividendo pago por ação sobre o preço da ação. Seria algo como uma renda obtida no investimento. Neste caso, o Bradesco apresentou o melhor retorno, 4,4%, embora bem abaixo dos juros pagos na renda fixa (14,13%). Preço por LPA (P/L) – Indica o número de anos necessários para que o LPA atinja o preço de mercado da ação. Somente o Bradesco apresentou resultado positivo, indicando 8,35 anos. Nenhuma dessas ações apresentou valorização positiva no último ano, 18 sendo o pior caso o das ações da Usiminas, devido principalmente à situação do mercado de aço. Nos casos analisados, o melhor cenário para manter o investimento foi na renda fixa, devido aos retornos negativos das ações analisadas. Outras análises devem ser feitas para ver se existe a possibilidade de alta dessas ações. Síntese Vimos, ao longo desta aula, como o mercado financeiro surgiu e como está dividido. As instituições financeiras geralmente operam em mais de um mercado; bancos operam tanto no mercado cambial quanto no de crédito e de capitais. Aprendemos que a taxa Selic, definida pelo Banco Central, funciona como a taxa básica da economia, e, portanto, como referência para todas as demais. Da mesma forma, vimos que a taxa Cetip funciona como referência para o mercado de renda fixa. Em relação ao mercado de renda fixa, aprendemos sobre CDB, LC e LCA. Na renda variável, fizemos a diferenciação entre mercado primário e mercado secundário, e vimos como analisar uma ação por meio do lucro por ação (LPA), do preço por LPA e do dividend yield. Esses conhecimentos são úteis para qualquer gestor de empresa, mas também serão úteis para as suas finanças pessoais. Além disso, as análises utilizadas dentro do mercado financeiro são extremamente válidas para uma análise profissional de cenários econômicos. Referências ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2003. 19 FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. KERR, R. Mercado financeiro e de capitais. São Paulo: ABDR, 2011. LOPES, J. do C.; ROSSETTI, J. P. Economia monetária. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2005. POTELWA, X. Investidores vendem ações na África e compram dívida pública. Revista Exame. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/investidores-vendem-acoes-na- africa-e-compram-divida-publica> Acesso em: 5 set. 2016.
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