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O papel da profissão veterinária e do médico veterinário Módulo 12 Objetivos de aprendizagem No fim desta seção você deve: -Entender o papel da profissão veterinária em questões éticas e de bem-estar animal -Entender as estruturas apropriadas para a tomada de decisões éticas na prática -Estar ciente de algumas questões éticas e de bem-estar encontradas na prática veterinária Sumário do conteúdo O papel da profissão veterinária no bem-estar animal Tomada de decisões éticas na prática veterinária Atitudes de médicos veterinários e de estudantes em relação a questões éticas/de bem-estar Alguns exemplos de questões éticas e de bem-estar na prática O papel da profissão veterinária no bem-estar animal Muitas vezes sacralizada num juramento A classe profissional pode estar envolvida em: -Fazer política profissional -Influenciar a legislação -Ser porta-voz do bem-estar animal -Assegurar a qualidade dos médicos veterinários que podem praticar em seu país O juramento profissional -Varia com cada grupo profissional -Usualmente inclui referência ao bem-estar animal: Por exemplo, o juramento do Royal College of Veterinary Surgeons (Reino Unido) inclui a declaração “meu empenho constante será assegurar o bem-estar dos animais sob meus cuidados” -Possíveis contradições -Integridade profissional O pretendido papel em bem-estar animal do médico veterinário pode ser formalmente adotado pelos membros da profissão quando eles fazem o juramento. Esta é uma boa forma de se enfatizar, tanto dentro quanto fora da profissão, o compromisso com o bem-estar. O juramento também pode incluir partes sobre avanço do conhecimento, promoção de saúde pública, etc. Diferentes partes do juramento podem ser contraditórias. Por exemplo, o avanço do conhecimento pode ser feito a expensas do bem-estar. Quando ocorre uma contradição com respeito a dois aspectos do juramento numa dada situação deve ser dada orientação quanto à prioridade. O juramento pode também servir para lembrar os médicos veterinários de suas obrigações para com a profissão como um todo. Geralmente, inclui uma seção que se compromete a não denegrir a reputação da profissão. Estabelecer regras profissionais em bem-estar e ética -Os membros devem seguir certas regras -Sanções podem incluir o “desligamento” -Seguir as regras talvez nem sempre resulte na ação correta -Diretrizes podem ser produzidas para auxiliar em questões éticas profissionais Regras profissionais são uma forma de regular o comportamento dos membros de uma profissão. Por exemplo, pode haver uma regra profissional que indique que os membros devem obter o consentimento dos clientes para realizar necropsias em seus animais. Políticas profissionais geralmente refletem as opiniões da maioria na profissão. Deve haver um caminho para os membros darem sua opinião contrária às regras ou tentarem alterar as regras existentes. É importante ter uma estrutura disciplinar efetiva para fiscalizar a aplicação das regras. As sanções serão provenientes do próprio conselho profissional e podem variar de um aviso até a suspensão do direito de atuar como médico veterinário. Por exemplo, um médico veterinário pode considerar que a atitude correta seja realizar um procedimento diferente/eletivo durante o plano anestésico de um animal. Entretanto, se o médico veterinário não tem o consentimento do cliente para tanto, ele pode estar desrespeitando uma regra profissional. Influenciar a legislação sobre bem-estar -Dar consultoria especializada independente para o governo -Comentar sobre legislação proposta -Sugerir legislação futura A profissão não deve estar vinculada de maneira alguma a nenhum partido político. Desta forma ela pode oferecer consultoria independente para órgãos governamentais sobre saúde animal e questões de bem-estar. Há muitas áreas da legislação futura em que a profissão veterinária é a mais qualificada para comentar. É dever da profissão transmitir este discernimento único para o governo. Por exemplo, a profissão veterinária tem um interesse especial em áreas de bem-estar animal, tais como assegurar que a eutanásia seja realizada de forma humanitária quando da necessidade de se matar um animal. A profissão também pode ser proativa, sugerindo novas leis para os governos. Pode portanto funcionar como uma força motriz para mudanças em vez de somente reagir a propostas de outrem. Porta-voz do bem-estar animal -A profissão está numa posição única para promover o bem-estar animal -Órgão regulador deve divulgar políticas éticas e de bem-estar para o público em geral -Fornecer comentários sobre questões específicas A profissão médico veterinária tem uma posição única para comentar sobre o bem-estar animal. Os médicos veterinários podem ter um treinamento extensivo nesta área – seja formal ou informalmente – e estão freqüentemente em contato direto com animais ou situações de utilização de animais. A profissão veterinária também precisa ser reconhecida como de direito nesta situação única, do contrário todo o conhecimento de seus membros pode ser desperdiçado e a aceitação pública dessa situação pode ser baixa. Isto pode ser alcançado através de uma boa comunicação com o público em geral. Deve-se tomar cuidado para que o público não encare a profissão como estando primariamente interessada só em ganhos financeiros. A profissão também pode fazer declarações à imprensa sobre questões de bem-estar animal para promover o entendimento do público quanto ao seu posicionamento. Por exemplo, no caso de uma epidemia com risco proveniente de alimentos, o público se volta para os médicos veterinários como uma fonte segura de informação. Assegurar a qualidade dos médicos veterinários -Devem promover o bem-estar animal -Pode ser realizado através de: -Exigência de qualidade do curso de medicina veterinária -Exigência de um exame para o ingresso na profissão -Controle independente e rigoroso Um bom médico veterinário estará mais apto a promover o bem-estar animal, ex.: através de melhores aptidões cirúrgicas, maior conhecimento médico, etc. A profissão pode ter um regulamento formal sobre quem está capacitado a ingressar nela, desta forma assegurando a alta qualificação de seus membros. É essencial que o processo de aprovação seja independente e transparente. Treinamento médico veterinário Além de ensinar habilidades práticas veterinárias, os médicos veterinários devem engajar seus alunos em discussões sobre bem-estar animal e ética. Mesmo o ensino de procedimentos cirúrgicos de rotina dá margem à discussão sobre bem-estar e ética. O papel do médico veterinário: tomada de decisão na prática veterinária -Dimensão ética a quase toda ação veterinária -Mais que simples sentimento -Necessidade de raciocínio lógico, robusto e consistente -Seguir uma base estrutural pode ser útil Médicos veterinários estão diariamente envolvidos em um processo ético de tomadas de decisões. Por exemplo, ao prescrever tratamento para um animal, ele deve considerar o benefício do tratamento em comparação com o custo dos efeitos colaterais ou do método de administração ou o custo financeiro para o proprietário do animal. Para garantir que a decisão correta seja tomada, é necessário raciocínio lógico. Este pode refletir uma impressão generalizada de uma dada situação. Porém se deve tomar cuidado para evitar a tendência de simplesmente seguir uma opinião generalizada, sem o devido julgamento racional de questões de bem- estar animal. Utilizar uma base estrutural estabelecida para auxiliar na tomada de decisão pode ajudar a garantir umaabordagem lógica. Uma base estrutural para tomada de decisão ética -Identificar os possíveis cursos de ação -Estabelecer os interesses das partes afetadas -Identificar as questões éticas envolvidas -Estabelecer a situação legal do dilema -Escolher um curso de ação -Minimizar o impacto da decisão Estes seis passos são uma base estrutural apropriada para garantir que uma decisão apropriada seja tomada quanto a casos clínicos difíceis. Identificar os possíveis cursos de ação -Deve ser abrangente -Estágio desprovido de valor moral -As opções podem incluir o seguinte: -Nenhum tratamento -Tratamento paliativo -Tratamento ativo -Diagnóstico mais profundo -Consultar outras opiniões -Eutanásia O primeiro passo é identificar todos os possíveis cursos de ação. Se uma opção for ignorada neste estágio, seu mérito potencial não poderá ser considerado. Nenhum curso de ação tem valor moral neste estágio. É meramente um exercício factual. Os valores serão utilizados posteriormente para se decidir sobre o curso de ação. As opções de um caso clínico podem incluir aquelas listadas acima. Entretanto, há muitas outras situações em veterinária que não envolvem um caso clínico, como formular uma regra de conduta. Por exemplo, ao se considerar a eutanásia de uma cadela com incontinência urinária que provou não responder à terapia médica, os possíveis cursos de ação podem incluir: eutanásia da cadela, nenhuma ação ou consulta a um centro especializado para a realização de uma nova técnica cirúrgica. Estabelecer os interesses das partes afetadas -Explicar o motivo de certas posições -Os motivos são razoáveis? -As partes envolvidas incluem: -Animal -Proprietário -Médico veterinário -Conflitos entre as partes são em geral o centro do dilema -Questões econômicas são muitas vezes um fator significativo Estabelecer os interesses das partes afetadas pode ser difícil, porém permitirá a consideração dos motivos subjacentes para se definir se os mesmos são razoáveis. Por exemplo, é justo o proprietário de um animal dizer que ele é inconveniente? Exemplo: inconveniência de diarréia na casa. Pode haver partes mais amplas a serem consideradas além das diretamente envolvidas, tais como “a profissão” e “a sociedade”. Muito freqüentemente estes conflitos entre as partes são a causa do dilema. Se todos estiverem de acordo, então geralmente não há dilema. Usando o mesmo exemplo da cadela com incontinência urinária – o seu proprietário está interessado em manter a casa sem urina, a cadela basicamente não é afetada pela incontinência, desde que não ocorra ardência, mas sofreria de dor a curto e longo prazo e estresse associados com a opção de cirurgia, e o médico veterinário pode sentir fortemente que a “eutanásia desnecessária” solicitada pelo proprietário é moralmente errada. É nesse ponto que as questões econômicas devem ser consideradas, uma vez que elas podem ter um efeito razoável ou exagerado sobre a decisão. Algumas pessoas podem argumentar que a motivação de um médico veterinário em gerar renda é um motivo não razoável e que não deve ser aceito dentro da decisão ética, enquanto o poder do proprietário de pagar o tratamento pode ser relevante. Algumas das partes interessadas O animal, o proprietário e o médico veterinário podem ter/terão todos um interesse no dilema ético. Identificar as questões éticas envolvidas -É essencial poder avaliar o dilema ético sem confusão com questões marginalmente relacionadas -Pode haver mais de uma questão ética contida no dilema Pode ser muito difícil identificar a questão ética central do dilema. Entretanto, é essencial para se poder avaliar somente a questão crucial. Algumas vezes situações complexas têm mais de um dilema ético e podem ser difíceis de serem resolvidas. Algumas das questões éticas no nosso exemplo incluem: deve um médico veterinário fazer sempre o que o cliente quer? A extensão da vida de um animal é importante? Estabelecer a situação legal do dilema -Espera-se que o médico veterinário aja de acordo com a lei -A classe profissional tem um regulamento? -Considere regras profissionais elaboradas para auxiliar em tais dilemas Espera-se que médicos veterinários ajam dentro da lei e dos regulamentos da profissão. Algumas vezes diretrizes profissionais ajudarão a estabelecer as regras. Entretanto, podem não dar amparo à ação “correta” após a avaliação ética. Em nosso exemplo pode haver diretrizes profissionais quanto à questão se um médico veterinário deve satisfazer o pedido do cliente para proceder eutanásia em seu animal. Veja a próxima projeção para orientação do RCVS (Royal College of Veterinary Surgeons). Exemplo: Guia do RCVS (Royal College of Veterinary Surgeons) 2000 1. “Nenhum médico veterinário é obrigado a matar um animal saudável….” 2. “A obrigação primordial do médico veterinário é aliviar o sofrimento de um animal, porém deve levar em consideração não somente a condição do animal, mas também o desejo de seu proprietário e as circunstâncias” 3. “Quando, em plena consciência, um médico veterinário não puder aceder ao pedido do proprietário para eutanásia de seu animal, deve reconhecer a extrema delicadeza da situação e redobrar esforços para direcionar o cliente para outras fontes alternativas de consulta.” Estas regras foram estabelecidas pelo RCVS como resultado da discussão na revista científica Veterinary Records, do Reino Unido, sobre o processo levado contra um médico veterinário que não realizou a eutanásia de um cão com incontinência urinária, desta forma indo contra os desejos de seu cliente. Escolha de um curso de ação -Use uma teoria ética lógica -Por exemplo, utilitarismo, deontologia -Esteja ciente das limitações da teoria que está utilizando -Ainda é a mais apropriada para este dilema? -Na prática uma combinação de teorias pode ser utilizada Através da utilização de uma teoria ética lógica para se decidir a seguir um determinado curso de ação, a base na qual a decisão é tomada será clara (ver Módulo 10 para uma explicação das teorias éticas). É importante entender-se a teoria que está sendo utilizada. Diferentes teorias podem ser mais apropriadas para certas situações. Utilizando nosso exemplo, pode-se seguir inicialmente uma regra deontológica, que não admite dor severa ou de longa duração ou estresse do animal. Neste caso, nenhuma das opções recai dentro desta categoria, portanto pode-se adotar uma análise utilitarista que pese os custos e benefícios para todas as partes envolvidas. Eutanásia: • Vantagens: melhor higiene da casa, anuir ao desejo do cliente • Desvantagens: vida mais curta para a cadela significando menor tempo de companhia para o proprietário, vai contra os valores do médico veterinário Nenhuma ação: • Vantagens: nenhuma, exceto potencialmente nenhuma dor para o animal • Desvantagens: má higiene da casa, frustração do proprietário com a situação e com o atendimento recebido Nova técnica cirúrgica: • Vantagens: melhor higiene da casa, interesse acadêmico para a profissão • Desvantagens: dor na cirurgia, etc., para o animal, custo financeiro e de tempo para o proprietário Minimizar o impacto da decisão -Freqüentemente denominado “refinamento’’ -O propósito é reduzir o dano causado pela decisão -Facilmente negligenciado Mesmo que uma decisão tenha sido tomada quanto a seguir um curso de ação, pode haver meios de se reduzir qualquer dano causado por esta situação. Isto pode incluir utilizar-se um regime analgésico melhor ou dar aconselhamento para proprietários contrariados. Essencialmente você estará refinando o impacto de bem-estar destadecisão. Este conceito de refinamento faz parte dos 3 Rs (substituição, redução e refinamento) que normalmente se aplicam a animais de laboratório (ver Módulo 25 para uma explicação adicional dos 3 Rs). No nosso exemplo, se a opção cirúrgica for escolhida, então se devem empregar medidas para minimizar a dor e o estresse do animal (tais como uma boa analgesia e cuidados pré e pós-operatórios) e as implicações de custo e tempo para o proprietário (tais como pagamento em parcelas). Princípios orientadores da ética médica -É útil a consideração destes princípios ao se tomar uma decisão ética: -Não-maleficência -Beneficência -Autonomia -Justiça Além de se utilizar a estrutura discutida anteriormente para se tomar uma decisão ética, também pode ser útil levar em conta os princípios orientadores da ética médica. Não-maleficência -Princípio de não causar dano -Assegurar isto antes de se dar o próximo passo -Pode ter de comparar dano a curto prazo com benefício a longo prazo Em primeiro lugar, o princípio de não causar nenhum dano deve ser seguido quando possível. Muitas vezes, em situações médicas ou médico-veterinárias, algum dano ocorrerá, porém pode ser equilibrado por um benefício a longo prazo ou geral. Por exemplo, a remoção cirúrgica de um tumor causará dano a curto prazo, devido ao potencial de dor e riscos cirúrgicos, porém, a longo prazo, o animal se beneficia, pois tem uma vida mais longa e sem dor. Beneficência -Princípio da promoção do bem -Segue-se à adoção da não-maleficência -Tenta promover o bem tanto a curto quanto a longo prazos Em segundo lugar, uma vez que o grau do dano seja minimizado, deve haver a promoção do bem em todas as situações relacionadas ao caso. Por exemplo, uma vez que se chegue a um diagnóstico, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível. Autonomia -A capacidade de pessoas ou animais de se autogovernarem -Podem surgir conflitos entre dois seres, humanos ou animais, autônomos -Por exemplo, médico veterinário e cliente, predador e presa -Para os animais, significa poder fazer escolhas em suas vidas - Por exemplo, quando comer ou dormir A autonomia é considerada muito importante na ética médica. Ela se aplica ligeiramente diferente a animais na medida em que eles são freqüentemente incapazes de se autogovernar completamente. Por exemplo, eles raramente podem escolher o tratamento que recebem. Dois seres autônomos podem ter direitos conflitantes que precisam ser harmonizados. Por exemplo, o direito de um pássaro canoro à vida versus o direito de um gato doméstico de desempenhar comportamento natural. Permitir a um animal fazer escolhas está relacionado com a Liberdade de Expressar Comportamento Normal. Justiça -Tratando todos os animais e pessoas de forma justa e igualitária -Dividir recursos: -Igualmente entre todos os indivíduos -De acordo com as necessidades -De acordo com o maior benefício Justiça se refere à igual consideração entre animais e seres humanos. Há três formas de se atingir justiça na prática. O método utilizado pode ser escolhido com base em princípios gerais ou examinando caso a caso. 1. Em primeiro lugar, qualquer recurso dado pode ser dividido de forma exatamente igual. Por exemplo, um abrigo de animais pode vermifugar todos os cães, mesmo não havendo medicamento suficiente para a correta dosagem para cada animal. 2. Se não há vermífugo em quantidade suficiente, pode ser administrado vermífugo somente para os animais que aparentam estar com vermes. 3. Se o caso fosse dar vermífugo aos animais que apresentassem maior benefício, então os animais com maior chance de serem adotados deveriam ser escolhidos a fim de evitar a infestação dos seres humanos. Alternativamente, talvez os de menor chance de adoção devessem ser vermifugados, pois os que fossem adotados poderiam receber vermífugos de seus novos proprietários. Atitudes: influência sobre a tomada de decisão -As atitudes podem ter um impacto positivo ou negativo no processo de tomada de decisão -Desta forma, as atitudes das partes envolvidas devem ser consideradas Há muito fatores que vão influenciar as atitudes dos médicos veterinários em relação ao bem-estar animal e à ética, tais como: • Idade, Sexo, Treinamento, Cultura, Pressão dos colegas, Legislação, Regulamentos de instituições profissionais Um indivíduo também pode mudar de opinião com o passar do tempo. Jovens veterinárias geralmente dão mais analgesia para os animais sob seus cuidados. O tipo de treinamento e os conceitos dos discentes podem influenciar os conceitos dos futuros médicos veterinários. A cultura e a pressão dos colegas podem estar correlacionadas, resultando numa grande influência nas atitudes dos médicos veterinários. A influência da legislação e dos regulamentos de instituições profissionais vai variar em cada país. Atitudes dos estudantes de medicina veterinária 1º Ano Último Ano Empatia crescente Sexo feminino Sexo masculino (Paul e Podberscek 2000) Num estudo no Reino Unido, as atitudes de estudantes de medicina veterinária foram avaliadas durante os cinco anos do curso através de questionários ao longo desse período: Durante o curso houve uma redução no grau de senciência atribuído pelos estudantes aos animais. Isto pode se dever ao fato de os estudantes chegarem com uma alta carga de simpatia pelos animais ou talvez de se tornarem menos sensíveis em relação às necessidades dos animais. Estudantes do sexo feminino não alteraram seu alto nível de empatia ao longo do curso. Estudantes do sexo masculino mostraram um declínio dramático de empatia durante o curso. Isto é algo que necessita ser reavaliado no treinamento de graduação. PAUL, E. S., e PODBERSCEK, A. L., 2000: “Veterinary education and students: attitudes towards animal welfare”. Veterinary Record 146, 269-272. Redução da empatia reduz os cuidados com animais -Estudantes do sexo masculino utilizaram menos analgésicos durante cirurgias rotineiras Uma mudança no nível de empatia também pode levar a uma redução nos cuidados com os animais. Por exemplo, outra pesquisa no Reino Unido mostrou que estudantes do sexo masculino utilizavam menos analgesia durante procedimentos rotineiros de esterilização. CAPNER, C. A., LASCELLES, B. D. X. e WATERMAN-PEARSON, A. E., 1999: “Current British veterinary attitudes to perioperative analgesia for dogs”. Veterinary Record 145, 95-99. Atitudes de médicos veterinários e de estudantes -Raciocínio ético lógico: -Reduzirá o efeito de atitudes tendenciosas em relação ao bem-estar animal -Permitirá a tomada de decisões corretas em vez de confiar na prática costumeira -Dará confiança nas suas decisões profissionais Atitudes tendenciosas em relação ao bem-estar animal podem resultar em tomadas de decisões insatisfatórias. Na realidade, pode ser difícil romper-se com práticas costumeiras. O raciocínio ético lógico servirá para dar apoio a essa prática costumeira ou se opor a ela, na escolha do curso de ação correto. Se o raciocínio ético for aplicado na prática, haverá uma maior satisfação pessoal ao se tomar o curso de ação correto. Também facilitará a justificativa da tomada de decisão para outras pessoas. Algumas questões éticas/de bem-estar na prática veterinária -Eutanásia de animais abandonados nas ruas -Confinamento de animais durante tratamento -Cirurgia de pacientes -Tratamento de animais silvestres -Tratamento de animais de proprietários de baixa renda É possível fazer uma lista de questões éticas na prática veterinária. Cada questão será tratada com mais detalhes nas projeções seguintes. Eutanásia de animais abandonados nas ruas -Alguns pontos a considerar:-Pode estar saudável ou doente -Pode causar transtorno para o público/risco de saúde -O animal tem direito à vida? -Tem direito a morte humanitária? -Que curso de ação vai promover um bem geral? Alguns destes pontos seguem um raciocínio deontológico, ex.: consideração do direito à vida ou a uma morte humanitária. Outros pontos são mais relacionados com um equilíbrio utilitarista entre os danos e benefícios da situação, ex.: os benefícios da eutanásia podem ser maiores quando os animais estiverem causando um transtorno para o público ou apresentando um risco de saúde pública ou quando eles próprios estiverem doentes. Entretanto, deve-se cuidar para garantir que todos os benefícios não privilegiem um grupo de indivíduos (tais como seres humanos) à custa de outro grupo de indivíduos (neste caso os animais abandonados). Confinamento de animais durante o tratamento -Alguns pontos a considerar: -Por quanto tempo? -Quanto estresse vai causar? -Quais são as alternativas? -Como podem ser minimizados os aspectos negativos do confinamento? É muito comum animais serem confinados para tratamento médico veterinário. Ponderação destes pontos vai auxiliar a determinar se isto é correto. Os fatores a serem avaliados podem incluir o tempo de confinamento, a possibilidade de estresse durante o confinamento e as alternativas práticas a esse confinamento. Mesmo se o confinamento for necessário, o dano causado pode ser minimizado (refinamento), ex.: colocação de um espaço para o animal se esconder. Cirurgia de pacientes -Alguns pontos a considerar: -O animal vai passar por uma quantidade de dor inaceitável? -Qual é a perspectiva a longo prazo após a cirurgia? -O médico veterinário tem domínio suficiente do procedimento? -Quais são os interesses das partes envolvidas? A cirurgia é, intrinsecamente, uma experiência negativa para os animais – medo e dor quase certamente estarão envolvidos. Entretanto, os benefícios a longo prazo ainda assim podem justificá-la. Pode ser útil o estabelecimento de um limite de severidade para procedimentos cirúrgicos que não deva ser ultrapassado, independentemente da situação. A destreza do cirurgião tem um papel muito importante na minimização da dor. As partes interessadas incluem o animal, o proprietário e o médico veterinário. Cada um pode ter interesses diferentes que necessitam ser avaliados comparativamente. Tratamento de animais silvestres Alguns pontos a considerar: -Pode ser mais adversamente afetado pelo tratamento médico veterinário -Algumas espécies podem ter status legal especial -Muitos animais silvestres são considerados pestes -As necessidades do animal podem ser satisfeitas a curto ou longo prazo? A justiça poderia prescrever que um animal silvestre fosse tratado com o mesmo respeito que um animal doméstico. Entretanto, as necessidades de cada um deles podem ser diferentes. Por exemplo, um pombo silvestre pode ficar mais estressado com o confinamento do que um pássaro doméstico. Isto vai portanto influir na escolha do melhor tipo de tratamento para cada animal, mesmo que ambos estejam sofrendo do mesmo mal (ver Módulo 29 para maiores detalhes.) Tratamento de animais de proprietários de baixa renda Alguns pontos a considerar: -A prática veterinária tem uma política sobre este aspecto? -O conselho profissional tem uma política sobre este aspecto? -Quais são as alternativas? -Qual ação vai promover o maior bem? A prática e o conselho profissional podem ter regras de conduta individuais neste assunto. Por exemplo, uma diretriz pode ser que tratamento emergencial seja fornecido independentemente da habilidade de pagar, e o tratamento subseqüente poderia ser pago em prestações. Isto pode ser útil, uma vez que talvez não seja promovido o maior bem se todos os proprietários de baixa renda tivessem tratamento gratuito e o médico veterinário abrisse falência. Conclusões/Sumário -A profissão veterinária e o médico veterinário têm um papel na melhoria do bem-estar animal -Muitos fatores podem influenciar as atitudes para com o bem-estar animal -Raciocínio ético consistente vai assegurar a identificação do correto curso de ação Bibliografia: MULLAN, S. e MAIN, D., 2001: “Principles of ethical decision making in veterinary practice”. In Practice July/August 2001, 394-401. PAUL, E. S. e PODBERSCEK, A. L., 2000: “Veterinary education and students: attitudes towards animal welfare. Veterinary Record 146, 269-272. ROLLIN, B. E., 1999: An introduction to veterinary medical ethics. Iowa State University Press. TANNENBAUM, J., 1995: Veterinary ethics. Mosby.
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