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O papel da profissão veterinária e do médico veterinário

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O papel da profissão veterinária e do médico veterinário 
Módulo 12 
 
Objetivos de aprendizagem 
No fim desta seção você deve: 
-Entender o papel da profissão veterinária em questões éticas e de bem-estar animal 
-Entender as estruturas apropriadas para a tomada de decisões éticas na prática 
-Estar ciente de algumas questões éticas e de bem-estar encontradas na prática veterinária 
 
Sumário do conteúdo 
O papel da profissão veterinária no bem-estar animal 
Tomada de decisões éticas na prática veterinária 
Atitudes de médicos veterinários e de estudantes em relação a questões éticas/de bem-estar 
Alguns exemplos de questões éticas e de bem-estar na prática 
 
O papel da profissão veterinária no bem-estar animal 
Muitas vezes sacralizada num juramento 
A classe profissional pode estar envolvida em: 
-Fazer política profissional 
-Influenciar a legislação 
-Ser porta-voz do bem-estar animal 
-Assegurar a qualidade dos médicos veterinários que podem praticar em seu país 
 
O juramento profissional 
-Varia com cada grupo profissional 
-Usualmente inclui referência ao bem-estar animal: 
 Por exemplo, o juramento do Royal College of Veterinary Surgeons (Reino Unido) inclui a 
declaração “meu empenho constante será assegurar o bem-estar dos animais sob meus 
cuidados” 
-Possíveis contradições 
-Integridade profissional 
O pretendido papel em bem-estar animal do médico veterinário pode ser formalmente adotado pelos 
membros da profissão quando eles fazem o juramento. Esta é uma boa forma de se enfatizar, tanto 
dentro quanto fora da profissão, o compromisso com o bem-estar. 
O juramento também pode incluir partes sobre avanço do conhecimento, promoção de saúde pública, 
etc. Diferentes partes do juramento podem ser contraditórias. Por exemplo, o avanço do conhecimento 
pode ser feito a expensas do bem-estar. 
Quando ocorre uma contradição com respeito a dois aspectos do juramento numa dada situação deve 
ser dada orientação quanto à prioridade. 
O juramento pode também servir para lembrar os médicos veterinários de suas obrigações para com a 
profissão como um todo. 
Geralmente, inclui uma seção que se compromete a não denegrir a reputação da profissão. 
 
Estabelecer regras profissionais em bem-estar e ética 
-Os membros devem seguir certas regras 
-Sanções podem incluir o “desligamento” 
-Seguir as regras talvez nem sempre resulte na ação correta 
-Diretrizes podem ser produzidas para auxiliar em questões éticas profissionais 
Regras profissionais são uma forma de regular o comportamento dos membros de uma profissão. Por 
exemplo, pode haver uma regra profissional que indique que os membros devem obter o 
consentimento dos clientes para realizar necropsias em seus animais. Políticas profissionais 
geralmente refletem as opiniões da maioria na profissão. Deve haver um caminho para os 
membros darem sua opinião contrária às regras ou tentarem alterar as regras existentes. 
É importante ter uma estrutura disciplinar efetiva para fiscalizar a aplicação das regras. As sanções serão 
provenientes do próprio conselho profissional e podem variar de um aviso até a suspensão do 
direito de atuar como médico veterinário. 
Por exemplo, um médico veterinário pode considerar que a atitude correta seja realizar um procedimento 
diferente/eletivo durante o plano anestésico de um animal. Entretanto, se o médico veterinário não 
tem o consentimento do cliente para tanto, ele pode estar desrespeitando uma regra profissional. 
 
Influenciar a legislação sobre bem-estar 
 
-Dar consultoria especializada independente para o governo 
-Comentar sobre legislação proposta 
-Sugerir legislação futura 
A profissão não deve estar vinculada de maneira alguma a nenhum partido político. Desta forma ela 
pode oferecer consultoria independente para órgãos governamentais sobre saúde animal e 
questões de bem-estar. 
Há muitas áreas da legislação futura em que a profissão veterinária é a mais qualificada para comentar. 
É dever da profissão transmitir este discernimento único para o governo. Por exemplo, a profissão 
veterinária tem um interesse especial em áreas de bem-estar animal, tais como assegurar que a 
eutanásia seja realizada de forma humanitária quando da necessidade de se matar um animal. 
A profissão também pode ser proativa, sugerindo novas leis para os governos. Pode portanto funcionar 
como uma força motriz para mudanças em vez de somente reagir a propostas de outrem. 
 
 
Porta-voz do bem-estar animal 
-A profissão está numa posição única para promover o bem-estar animal 
-Órgão regulador deve divulgar políticas éticas e de bem-estar para o público em geral 
-Fornecer comentários sobre questões específicas 
 
A profissão médico veterinária tem uma posição única para comentar sobre o bem-estar animal. Os 
médicos veterinários podem ter um treinamento extensivo nesta área – seja formal ou informalmente – 
e estão freqüentemente em contato direto com animais ou situações de utilização de animais. 
A profissão veterinária também precisa ser reconhecida como de direito nesta situação única, do 
contrário todo o conhecimento de seus membros pode ser desperdiçado e a aceitação pública dessa 
situação pode ser baixa. Isto pode ser alcançado através de uma boa comunicação com o público em 
geral. Deve-se tomar cuidado para que o público não encare a profissão como estando primariamente 
interessada só em ganhos financeiros. 
A profissão também pode fazer declarações à imprensa sobre questões de bem-estar animal para 
promover o entendimento do público quanto ao seu posicionamento. Por exemplo, no caso de uma 
epidemia com risco proveniente de alimentos, o público se volta para os médicos veterinários como 
uma fonte segura de informação. 
 
Assegurar a qualidade dos médicos veterinários 
-Devem promover o bem-estar animal 
-Pode ser realizado através de: 
-Exigência de qualidade do curso de medicina veterinária 
-Exigência de um exame para o ingresso na profissão 
-Controle independente e rigoroso 
Um bom médico veterinário estará mais apto a promover o bem-estar animal, ex.: através de melhores 
aptidões cirúrgicas, maior conhecimento médico, etc. 
A profissão pode ter um regulamento formal sobre quem está capacitado a ingressar nela, desta forma 
assegurando a alta qualificação de seus membros. 
É essencial que o processo de aprovação seja independente e transparente. 
 
Treinamento médico veterinário 
Além de ensinar habilidades práticas veterinárias, os médicos veterinários devem engajar seus alunos 
em discussões sobre bem-estar animal e ética. Mesmo o ensino de procedimentos cirúrgicos de rotina 
dá margem à discussão sobre bem-estar e ética. 
 
O papel do médico veterinário: tomada de decisão na prática veterinária 
-Dimensão ética a quase toda ação veterinária 
-Mais que simples sentimento 
-Necessidade de raciocínio lógico, robusto e consistente 
-Seguir uma base estrutural pode ser útil 
Médicos veterinários estão diariamente envolvidos em um processo ético de tomadas de decisões. Por 
exemplo, ao prescrever tratamento para um animal, ele deve considerar o benefício do tratamento em 
comparação com o custo dos efeitos colaterais ou do método de administração ou o custo financeiro 
para o proprietário do animal. 
Para garantir que a decisão correta seja tomada, é necessário raciocínio lógico. Este pode refletir uma 
impressão generalizada de uma dada situação. Porém se deve tomar cuidado para evitar a tendência de 
simplesmente seguir uma opinião generalizada, sem o devido julgamento racional de questões de bem-
estar animal. 
Utilizar uma base estrutural estabelecida para auxiliar na tomada de decisão pode ajudar a garantir umaabordagem lógica. 
Uma base estrutural para tomada de decisão ética 
-Identificar os possíveis cursos de ação 
-Estabelecer os interesses das partes afetadas 
-Identificar as questões éticas envolvidas 
-Estabelecer a situação legal do dilema 
-Escolher um curso de ação 
-Minimizar o impacto da decisão 
Estes seis passos são uma base estrutural apropriada para garantir que uma decisão apropriada seja 
tomada quanto a casos clínicos difíceis. 
Identificar os possíveis cursos de ação 
-Deve ser abrangente 
-Estágio desprovido de valor moral 
-As opções podem incluir o seguinte: 
-Nenhum tratamento 
-Tratamento paliativo 
-Tratamento ativo 
-Diagnóstico mais profundo 
-Consultar outras opiniões 
-Eutanásia 
O primeiro passo é identificar todos os possíveis cursos de ação. Se uma opção for ignorada neste 
estágio, seu mérito potencial não poderá ser considerado. 
Nenhum curso de ação tem valor moral neste estágio. É meramente um exercício factual. 
Os valores serão utilizados posteriormente para se decidir sobre o curso de ação. 
As opções de um caso clínico podem incluir aquelas listadas acima. Entretanto, há muitas outras 
situações em veterinária que não envolvem um caso clínico, como formular uma regra de conduta. 
Por exemplo, ao se considerar a eutanásia de uma cadela com incontinência urinária que provou não 
responder à terapia médica, os possíveis cursos de ação podem incluir: eutanásia da cadela, nenhuma 
ação ou consulta a um centro especializado para a realização de uma nova técnica cirúrgica. 
Estabelecer os interesses das partes afetadas 
-Explicar o motivo de certas posições 
-Os motivos são razoáveis? 
-As partes envolvidas incluem: 
-Animal 
-Proprietário 
-Médico veterinário 
-Conflitos entre as partes são em geral o centro do dilema 
-Questões econômicas são muitas vezes um fator significativo 
Estabelecer os interesses das partes afetadas pode ser difícil, porém permitirá a consideração dos 
motivos subjacentes para se definir se os mesmos são razoáveis. 
Por exemplo, é justo o proprietário de um animal dizer que ele é inconveniente? Exemplo: 
inconveniência de diarréia na casa. 
Pode haver partes mais amplas a serem consideradas além das diretamente envolvidas, tais como “a 
profissão” e “a sociedade”. 
Muito freqüentemente estes conflitos entre as partes são a causa do dilema. Se todos estiverem de 
acordo, então geralmente não há dilema. 
Usando o mesmo exemplo da cadela com incontinência urinária – o seu proprietário está interessado 
em manter a casa sem urina, a cadela basicamente não é afetada pela incontinência, desde que não 
ocorra ardência, mas sofreria de dor a curto e longo prazo e estresse associados com a opção de 
cirurgia, e o médico veterinário pode sentir fortemente que a “eutanásia desnecessária” solicitada pelo 
proprietário é moralmente errada. 
É nesse ponto que as questões econômicas devem ser consideradas, uma vez que elas podem ter um 
efeito razoável ou exagerado sobre a decisão. 
Algumas pessoas podem argumentar que a motivação de um médico veterinário em gerar renda é um 
motivo não razoável e que não deve ser aceito dentro da decisão ética, enquanto o poder do 
proprietário de pagar o tratamento pode ser relevante. 
 
Algumas das partes interessadas 
O animal, o proprietário e o médico veterinário podem ter/terão todos um interesse no dilema ético. 
 
Identificar as questões éticas envolvidas 
-É essencial poder avaliar o dilema ético sem confusão com questões marginalmente relacionadas 
-Pode haver mais de uma questão ética contida no dilema 
Pode ser muito difícil identificar a questão ética central do dilema. Entretanto, é essencial para se poder 
avaliar somente a questão crucial. 
Algumas vezes situações complexas têm mais de um dilema ético e podem ser difíceis de serem 
resolvidas. 
Algumas das questões éticas no nosso exemplo incluem: deve um médico veterinário fazer sempre o 
que o cliente quer? A extensão da vida de um animal é importante? 
Estabelecer a situação legal do dilema 
-Espera-se que o médico veterinário aja de acordo com a lei 
-A classe profissional tem um regulamento? 
-Considere regras profissionais elaboradas para auxiliar em tais dilemas 
Espera-se que médicos veterinários ajam dentro da lei e dos regulamentos da profissão. 
Algumas vezes diretrizes profissionais ajudarão a estabelecer as regras. Entretanto, podem não dar 
amparo à ação “correta” após a avaliação ética. 
Em nosso exemplo pode haver diretrizes profissionais quanto à questão se um médico veterinário deve 
satisfazer o pedido do cliente para proceder eutanásia em seu animal. Veja a próxima projeção para 
orientação do RCVS (Royal College of Veterinary Surgeons). 
Exemplo: Guia do RCVS (Royal College of Veterinary Surgeons) 2000 
1. “Nenhum médico veterinário é obrigado a matar um animal saudável….” 
2. “A obrigação primordial do médico veterinário é aliviar o sofrimento de um animal, porém deve 
levar em consideração não somente a condição do animal, mas também o desejo de seu 
proprietário e as circunstâncias” 
3. “Quando, em plena consciência, um médico veterinário não puder aceder ao pedido do proprietário 
para eutanásia de seu animal, deve reconhecer a extrema delicadeza da situação e redobrar 
esforços para direcionar o cliente para outras fontes alternativas de consulta.” 
Estas regras foram estabelecidas pelo RCVS como resultado da discussão na revista científica 
Veterinary Records, do Reino Unido, sobre o processo levado contra um médico veterinário que 
não realizou a eutanásia de um cão com incontinência urinária, desta forma indo contra os desejos 
de seu cliente. 
 
Escolha de um curso de ação 
-Use uma teoria ética lógica 
-Por exemplo, utilitarismo, deontologia 
-Esteja ciente das limitações da teoria que está utilizando 
-Ainda é a mais apropriada para este dilema? 
-Na prática uma combinação de teorias pode ser utilizada 
Através da utilização de uma teoria ética lógica para se decidir a seguir um determinado curso de ação, a 
base na qual a decisão é tomada será clara (ver Módulo 10 para uma explicação das teorias éticas). 
É importante entender-se a teoria que está sendo utilizada. Diferentes teorias podem ser mais 
apropriadas para certas situações. 
Utilizando nosso exemplo, pode-se seguir inicialmente uma regra deontológica, que não admite dor 
severa ou de longa duração ou estresse do animal. Neste caso, nenhuma das opções recai dentro desta 
categoria, portanto pode-se adotar uma análise utilitarista que pese os custos e benefícios para todas as 
partes envolvidas. 
Eutanásia: 
• Vantagens: melhor higiene da casa, anuir ao desejo do cliente 
• Desvantagens: vida mais curta para a cadela significando menor tempo de companhia para o 
proprietário, vai contra os valores do médico veterinário 
Nenhuma ação: 
• Vantagens: nenhuma, exceto potencialmente nenhuma dor para o animal 
• Desvantagens: má higiene da casa, frustração do proprietário com a situação e com o 
atendimento recebido 
Nova técnica cirúrgica: 
• Vantagens: melhor higiene da casa, interesse acadêmico para a profissão 
• Desvantagens: dor na cirurgia, etc., para o animal, custo financeiro e de tempo para o 
proprietário 
Minimizar o impacto da decisão 
-Freqüentemente denominado “refinamento’’ 
-O propósito é reduzir o dano causado pela decisão 
-Facilmente negligenciado 
Mesmo que uma decisão tenha sido tomada quanto a seguir um curso de ação, pode haver meios de se 
reduzir qualquer dano causado por esta situação. Isto pode incluir utilizar-se um regime analgésico 
melhor ou dar aconselhamento para proprietários contrariados. 
Essencialmente você estará refinando o impacto de bem-estar destadecisão. Este conceito de 
refinamento faz parte dos 3 Rs (substituição, redução e refinamento) que normalmente se aplicam a 
animais de laboratório (ver Módulo 25 para uma explicação adicional dos 3 Rs). 
No nosso exemplo, se a opção cirúrgica for escolhida, então se devem empregar medidas para 
minimizar a dor e o estresse do animal (tais como uma boa analgesia e cuidados pré e pós-operatórios) 
e as implicações de custo e tempo para o proprietário (tais como pagamento em parcelas). 
Princípios orientadores da ética médica 
-É útil a consideração destes princípios ao se tomar uma decisão ética: 
-Não-maleficência 
-Beneficência 
-Autonomia 
-Justiça 
Além de se utilizar a estrutura discutida anteriormente para se tomar uma decisão ética, também pode 
ser útil levar em conta os princípios orientadores da ética médica. 
Não-maleficência 
-Princípio de não causar dano 
-Assegurar isto antes de se dar o próximo passo 
-Pode ter de comparar dano a curto prazo com benefício a longo prazo 
Em primeiro lugar, o princípio de não causar nenhum dano deve ser seguido quando possível. Muitas 
vezes, em situações médicas ou médico-veterinárias, algum dano ocorrerá, porém pode ser equilibrado 
por um benefício a longo prazo ou geral. 
Por exemplo, a remoção cirúrgica de um tumor causará dano a curto prazo, devido ao potencial de dor e 
riscos cirúrgicos, porém, a longo prazo, o animal se beneficia, pois tem uma vida mais longa e sem dor. 
Beneficência 
-Princípio da promoção do bem 
-Segue-se à adoção da não-maleficência 
-Tenta promover o bem tanto a curto quanto a longo prazos 
Em segundo lugar, uma vez que o grau do dano seja minimizado, deve haver a promoção do bem em 
todas as situações relacionadas ao caso. 
Por exemplo, uma vez que se chegue a um diagnóstico, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido 
possível. 
Autonomia 
-A capacidade de pessoas ou animais de se autogovernarem 
-Podem surgir conflitos entre dois seres, humanos ou animais, autônomos 
-Por exemplo, médico veterinário e cliente, predador e presa 
-Para os animais, significa poder fazer escolhas em suas vidas 
- Por exemplo, quando comer ou dormir 
A autonomia é considerada muito importante na ética médica. Ela se aplica ligeiramente diferente a 
animais na medida em que eles são freqüentemente incapazes de se autogovernar 
completamente. Por exemplo, eles raramente podem escolher o tratamento que recebem. 
Dois seres autônomos podem ter direitos conflitantes que precisam ser harmonizados. Por exemplo, o 
direito de um pássaro canoro à vida versus o direito de um gato doméstico de desempenhar 
comportamento natural. 
Permitir a um animal fazer escolhas está relacionado com a Liberdade de Expressar Comportamento 
Normal. 
Justiça 
-Tratando todos os animais e pessoas de forma justa e igualitária 
-Dividir recursos: 
-Igualmente entre todos os indivíduos 
-De acordo com as necessidades 
-De acordo com o maior benefício 
Justiça se refere à igual consideração entre animais e seres humanos. 
Há três formas de se atingir justiça na prática. O método utilizado pode ser escolhido com base em 
princípios gerais ou examinando caso a caso. 
1. Em primeiro lugar, qualquer recurso dado pode ser dividido de forma exatamente igual. Por 
exemplo, um abrigo de animais pode vermifugar todos os cães, mesmo não havendo 
medicamento suficiente para a correta dosagem para cada animal. 
2. Se não há vermífugo em quantidade suficiente, pode ser administrado vermífugo somente para 
os animais que aparentam estar com vermes. 
3. Se o caso fosse dar vermífugo aos animais que apresentassem maior benefício, então os 
animais com maior chance de serem adotados deveriam ser escolhidos a fim de evitar a 
infestação dos seres humanos. Alternativamente, talvez os de menor chance de adoção 
devessem ser vermifugados, pois os que fossem adotados poderiam receber vermífugos de seus 
novos proprietários. 
Atitudes: influência sobre a tomada de decisão 
-As atitudes podem ter um impacto positivo ou negativo no processo de tomada de decisão 
-Desta forma, as atitudes das partes envolvidas devem ser consideradas 
Há muito fatores que vão influenciar as atitudes dos médicos veterinários em relação ao bem-estar 
animal e à ética, tais como: 
• Idade, Sexo, Treinamento, Cultura, Pressão dos colegas, Legislação, Regulamentos de 
instituições profissionais 
Um indivíduo também pode mudar de opinião com o passar do tempo. 
Jovens veterinárias geralmente dão mais analgesia para os animais sob seus cuidados. 
O tipo de treinamento e os conceitos dos discentes podem influenciar os conceitos dos futuros médicos 
veterinários. 
A cultura e a pressão dos colegas podem estar correlacionadas, resultando numa grande influência nas 
atitudes dos médicos veterinários. 
A influência da legislação e dos regulamentos de instituições profissionais vai variar em cada país. 
 
Atitudes dos estudantes de medicina 
veterinária
1º Ano Último Ano
Empatia
crescente Sexo feminino
Sexo masculino
(Paul e Podberscek 2000)
 
Num estudo no Reino Unido, as atitudes de estudantes de medicina veterinária foram avaliadas durante 
os cinco anos do curso através de questionários ao longo desse período: 
Durante o curso houve uma redução no grau de senciência atribuído pelos estudantes aos animais. Isto 
pode se dever ao fato de os estudantes chegarem com uma alta carga de simpatia pelos animais 
ou talvez de se tornarem menos sensíveis em relação às necessidades dos animais. 
Estudantes do sexo feminino não alteraram seu alto nível de empatia ao longo do curso. 
Estudantes do sexo masculino mostraram um declínio dramático de empatia durante o curso. Isto é algo 
que necessita ser reavaliado no treinamento de graduação. 
PAUL, E. S., e PODBERSCEK, A. L., 2000: “Veterinary education and students: attitudes towards animal 
welfare”. Veterinary Record 146, 269-272. 
Redução da empatia reduz os cuidados com animais 
-Estudantes do sexo masculino utilizaram menos analgésicos durante cirurgias rotineiras 
 
Uma mudança no nível de empatia também pode levar a uma redução nos cuidados com os animais. Por 
exemplo, outra pesquisa no Reino Unido mostrou que estudantes do sexo masculino utilizavam menos 
analgesia durante procedimentos rotineiros de esterilização. 
CAPNER, C. A., LASCELLES, B. D. X. e WATERMAN-PEARSON, A. E., 1999: “Current British veterinary 
attitudes to perioperative analgesia for dogs”. Veterinary Record 145, 95-99. 
Atitudes de médicos veterinários e de estudantes 
-Raciocínio ético lógico: 
-Reduzirá o efeito de atitudes tendenciosas em relação ao bem-estar animal 
-Permitirá a tomada de decisões corretas em vez de confiar na prática costumeira 
-Dará confiança nas suas decisões profissionais 
Atitudes tendenciosas em relação ao bem-estar animal podem resultar em tomadas de decisões 
insatisfatórias. 
Na realidade, pode ser difícil romper-se com práticas costumeiras. O raciocínio ético lógico servirá para 
dar apoio a essa prática costumeira ou se opor a ela, na escolha do curso de ação correto. 
Se o raciocínio ético for aplicado na prática, haverá uma maior satisfação pessoal ao se tomar o curso de 
ação correto. Também facilitará a justificativa da tomada de decisão para outras pessoas. 
Algumas questões éticas/de bem-estar na prática veterinária 
-Eutanásia de animais abandonados nas ruas 
-Confinamento de animais durante tratamento 
-Cirurgia de pacientes 
-Tratamento de animais silvestres 
-Tratamento de animais de proprietários de baixa renda 
É possível fazer uma lista de questões éticas na prática veterinária. Cada questão será tratada com mais 
detalhes nas projeções seguintes. 
 
Eutanásia de animais abandonados nas ruas 
-Alguns pontos a considerar:-Pode estar saudável ou doente 
-Pode causar transtorno para o público/risco de saúde 
-O animal tem direito à vida? 
-Tem direito a morte humanitária? 
-Que curso de ação vai promover um bem geral? 
Alguns destes pontos seguem um raciocínio deontológico, ex.: consideração do direito à vida ou a uma 
morte humanitária. 
Outros pontos são mais relacionados com um equilíbrio utilitarista entre os danos e benefícios da 
situação, ex.: os benefícios da eutanásia podem ser maiores quando os animais estiverem causando um 
transtorno para o público ou apresentando um risco de saúde pública ou quando eles próprios 
estiverem doentes. Entretanto, deve-se cuidar para garantir que todos os benefícios não privilegiem um 
grupo de indivíduos (tais como seres humanos) à custa de outro grupo de indivíduos (neste caso os 
animais abandonados). 
Confinamento de animais durante o tratamento 
-Alguns pontos a considerar: 
-Por quanto tempo? 
-Quanto estresse vai causar? 
-Quais são as alternativas? 
-Como podem ser minimizados os aspectos negativos do confinamento? 
É muito comum animais serem confinados para tratamento médico veterinário. 
Ponderação destes pontos vai auxiliar a determinar se isto é correto. 
Os fatores a serem avaliados podem incluir o tempo de confinamento, a possibilidade de estresse 
durante o confinamento e as alternativas práticas a esse confinamento. 
Mesmo se o confinamento for necessário, o dano causado pode ser minimizado (refinamento), ex.: 
colocação de um espaço para o animal se esconder. 
 
 
Cirurgia de pacientes 
-Alguns pontos a considerar: 
-O animal vai passar por uma quantidade de dor inaceitável? 
-Qual é a perspectiva a longo prazo após a cirurgia? 
-O médico veterinário tem domínio suficiente do procedimento? 
-Quais são os interesses das partes envolvidas? 
A cirurgia é, intrinsecamente, uma experiência negativa para os animais – medo e dor quase certamente 
estarão envolvidos. Entretanto, os benefícios a longo prazo ainda assim podem justificá-la. 
Pode ser útil o estabelecimento de um limite de severidade para procedimentos cirúrgicos que não deva 
ser ultrapassado, independentemente da situação. 
A destreza do cirurgião tem um papel muito importante na minimização da dor. 
As partes interessadas incluem o animal, o proprietário e o médico veterinário. Cada um pode ter 
interesses diferentes que necessitam ser avaliados comparativamente. 
 
 
Tratamento de animais silvestres 
Alguns pontos a considerar: 
-Pode ser mais adversamente afetado pelo tratamento médico veterinário 
-Algumas espécies podem ter status legal especial 
-Muitos animais silvestres são considerados pestes 
-As necessidades do animal podem ser satisfeitas a curto ou longo prazo? 
A justiça poderia prescrever que um animal silvestre fosse tratado com o mesmo respeito que um 
animal doméstico. Entretanto, as necessidades de cada um deles podem ser diferentes. 
Por exemplo, um pombo silvestre pode ficar mais estressado com o confinamento do que um pássaro 
doméstico. Isto vai portanto influir na escolha do melhor tipo de tratamento para cada animal, mesmo 
que ambos estejam sofrendo do mesmo mal 
(ver Módulo 29 para maiores detalhes.) 
Tratamento de animais de proprietários de baixa renda 
Alguns pontos a considerar: 
-A prática veterinária tem uma política sobre este aspecto? 
-O conselho profissional tem uma política sobre este aspecto? 
-Quais são as alternativas? 
-Qual ação vai promover o maior bem? 
A prática e o conselho profissional podem ter regras de conduta individuais neste assunto. Por exemplo, 
uma diretriz pode ser que tratamento emergencial seja fornecido independentemente da habilidade de 
pagar, e o tratamento subseqüente poderia ser pago em prestações. Isto pode ser útil, uma vez que 
talvez não seja promovido o maior bem se todos os proprietários de baixa renda tivessem tratamento 
gratuito e o médico veterinário abrisse falência. 
 
Conclusões/Sumário 
-A profissão veterinária e o médico veterinário têm um papel na melhoria do bem-estar animal 
-Muitos fatores podem influenciar as atitudes para com o bem-estar animal 
-Raciocínio ético consistente vai assegurar a identificação do correto curso de ação 
 
Bibliografia: 
MULLAN, S. e MAIN, D., 2001: “Principles of ethical decision making in veterinary practice”. In Practice 
July/August 2001, 394-401. 
PAUL, E. S. e PODBERSCEK, A. L., 2000: “Veterinary education and students: attitudes towards animal 
welfare. Veterinary Record 146, 269-272. 
ROLLIN, B. E., 1999: An introduction to veterinary medical ethics. Iowa State University Press. 
TANNENBAUM, J., 1995: Veterinary ethics. Mosby.

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