Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO ALEXANDRA CEMIN A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO NA VISÃO DA ESCOLA ESTADUAL SANTA CATARINA DE CAXIAS DO SUL - RS CANOAS, 2011 ALEXANDRA CEMIN A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO NA VISÃO DA ESCOLA ESTADUAL SANTA CATARINA DE CAXIAS DO SUL - RS Orientador: Prof. Dr. Balduíno Antonio Andreola. CANOAS, 2011 Dissertação de mestrado apresentada à banca examinadora do Curso de Mestrado em Educação do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. ALEXANDRA CEMIN A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO NA VISÃO DA ESCOLA ESTADUAL SANTA CATARINA DE CAXIAS DO SUL - RS Aprovada pela banca examinadora em 25 de fevereiro de 2011. BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________________ Prof. Dr. Balduíno Antonio Andreola UNILASALLE ____________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Catelli UCS - RS ____________________________________________________ Prof. Dr. Miguel Alfredo Orth UNILASALLE ___________________________________________________ Prof. Dr. Luis Eduardo Alvarado Prada UNILASALLE Dissertação de mestrado aprovada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle. Aos meus pais, Ladir e Leonice, incansáveis incentivadores, embora distantes dos olhos, muito próximos ao meu coração. Aos meus irmãos: Fabiana, Fabrício, Cristiano e Elias que compreenderam a minha ausência; aos meus sobrinhos: Henrique, Bruno e Leonardo pela doçura. E a mais nova integrante da família, a Mel, com seu jeitinho todo especial. Dedico, em especial, a Paula minha eterna amiga e companheira, que me suportou com muito amor e carinho. AGRADECIMENTOS Agradeço: A Deus, minha grande inspiração; Aos meus pais, Ladir e Leonice, por todo apoio, pelos ensinamentos, pelo amor e, acima de tudo, pelo incentivo. Ao meu segundo pai Zanatta, que, com todo o seu carinho, tornou os meus dias mais belos; Aos meus irmãos, Fabiana, Fabrício, Cristiano e Elias, por compreenderem a minha ausência e sempre me apoiarem; Aos meus cunhados, Vilson, Elisete e Nara, pela admiração ao meu trabalho; isso possibilitou a realização de alguns sonhos. Aos meus sobrinhos, Henrique, Bruno e Leonardo, pelo carinho demonstrado ao longo da minha trajetória; Aos meus avós, Victório (in memorian), Antônio (in memorian) e Matilde por ensinarem-me o verdadeiro valor da vida; Aos meus amigos, pelos momentos de descontração, risos e trocas de experiências, em especial, a Clê, a Kika, a Taba, a Mana, a Renata, a Laura, a Su, a Fabi, ao Lucas, ao meu compadre Eleandro e a minha comadre Geane; Aos meus colegas de curso e professores, em especial a Maria Delfina, pela verdadeira amizade e pela simpatia; Ao grande amor da minha vida por estar presente em todos os momentos, os bons e os ruins, pela compreensão, amabilidade e paciência; A gatinha mais linda e doce já vista por mim, a Mel, pela sua carinha afável e seu infinito amor desprendido nos momentos difíceis. Atualmente, o Nick, seu novo maninho, que com um jeitinho lindo faz-me sentir muita paz; Ao meu orientador Prof. Dr. Balduíno Antônio Andreola (Baldô) pelo seu carinho e apoio, pela sua compreensão e dedicação e infinita sabedoria. Um agradecimento especial aos professores do curso de mestrado da Unilasalle pelas valiosas contribuições; A Débora Brandalise, estagiária de psicologia, pela disponibilidade e interesse em ajudar a comunidade escolar; Aos meus alunos, o verdadeiro motivo da minha pesquisa, foram o suporte e o motivador diário para a realização desse trabalho; Ao amigo Prof. Mauro Jacob Olsen pela sua dedicação e fantástica ajuda para a conclusão dessa dissertação; E, por fim, agradeço a todas as pessoas que, por algum motivo, colaboraram com a realização desta dissertação e contribuíram com o meu projeto de vida. “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. As pessoas transformam o mundo”. (Paulo Freire) RESUMO Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo sobre os alunos que abandonam a escola, com a intenção de compreender os motivos que os levam a desistirem da escola. A população pesquisada é da educação básica, 1ª séries do ensino médio do noturno de uma escola estadual, localizada em Caxias do Sul – RS, nessa série constata-se que o problema se mostra mais grave. O ensino de matemática entra em questão pela opção de pesquisa, a pesquisa-ação, ciências exatas é a área de atuação dessa professora que vos escreve. A fundamentação teórica é embasada em Freire, D’Ambrósio, Skovsmose, Patto, dentre outros. A evasão escolar no Brasil e a educação para a cidadania de jovens trabalhadores irão nortear alguns pontos dessa pesquisa. A presente pesquisa tem a pretensão de desestabilizar os leitores para repensarem o ensino. Os dados apontados são reveladores, pois mostram o número real da evasão escolar, com uma amostra de uma das melhores escolas estaduais da cidade; a realidade de muitos jovens que ficam expostos à violência enquanto não estão frequentando um banco escolar. Palavras-chave: Ensino de matemática. Evasão escolar. Educação cidadã. ABSTRACT This work aims to make a study about students leaving school and to understand the reasons that lead them to drop out of school. The target population is the first grade of elementary education, (equivalent to GCSE in British Education) in a public school, in a night shift, located in Caxias do Sul – RS. The problem in this grade appears to be even more worsening. The teaching of mathematics comes into question by the choice of research, the action-research and also because exact science is the area of performance of this teacher who writes. The theoretical framework is based on Freire, D'Ambrosio, Skovsmose, Patto, among others. The school dropout rate in Brazil and citizenship education of young workers will guide some points of this research. The current study has the intention of destabilizing readers to rethink education. The data pointed here are revealing because they show the actual number of dropouts, considering the sample of one of the best public schools in the city; and the reality of many young people who are exposed to violence as a result for not have been attending school. Word-key: Education of mathematics. School evasion. Education citizen. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 – Percentual de Evasão Escolar das 1ª séries do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina de 1969 a 2010 ................................................................ 64 Gráfico 2 – Percentual de Evasão Escolar das 1ª séries do Noturno da Escola Estadual SantaCatarina de 1969 a 2010 ................................................................ 65 Figura 1 – Evasão Escolar no Brasil ........................................................................ 66 Gráfico 3 – Idade dos Alunos do Ensino Médio do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 .......................................................................................... 68 Gráfico 4 – Situação Conjugal dos Pais dos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ................................................................ 69 Gráfico 5 – Número de Irmãos dos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ................................................................................ 69 Gráfico 6 – Dados Domiciliares dos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ................................................................................ 70 Gráfico 7 – Dados Escolares dos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ............................................................................... 70 Gráfico 8 – Motivos de Repetência Apontados pelos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ..................................................... 71 Gráfico 9 – Dados Profissionais dos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ................................................................................ 72 Gráfico 10 – Cursos Profissionalizantes Realizados pelos Alunos, E. M., do Noturno da Escola Estadual Santa Catarina no ano de 2010 ................................................ 72 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Matriz dos cursos vigentes da 1ª série, E.M./ Noturno da Escola Estadual Santa Catarina de 1969 à 2010. .............................................................. 24 Tabela 2: Principais Características de cada um dos enfoques do ensino de Ciências ................................................................................................................................... 29 Tabela 3 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1969 ............................... 56 Tabela 4 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1970 ............................... 57 Tabela 5 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1975 ................................ 58 Tabela 6 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1980 ................................ 59 Tabela 7 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1985 ................................ 60 Tabela 8 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1990 ................................ 61 Tabela 9 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 1995................................. 62 Tabela 10: Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 2000 ................................ 62 Tabela 11 - Matriz dos alunos da 1ª série do noturno da Escola Estadual Santa Catarina conforme: o curso vigente, o número de alunos, o gênero/sexo, número de alunos evadidos e o percentual de abandono no ano de 2004 a 2010..................... 63 LISTA DE ABREVIATURAS E. M. – Ensino Médio FEE - Fundação de Economia e Estatística GTR – Grupo de Trabalho em Rede IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais LDB – Lei de Diretrizes e Bases OSPB – Organização Social Política do Brasil PCN – Parâmetro Curricular Nacional PPT – Preparação para o Trabalho SOE – Serviço de Orientação Escolar SSE – Serviço de Supervisão Escolar SUMÁRIO 1 REFLEXÕES INICIAIS.................................................................................... 15 1.1 Trajetória acadêmica .................................................................................... 15 1.2 Pretensões e anseios .................................................................................... 18 2 CONTEXTO DO ESTUDO .............................................................................. 19 2.1 Caxias do Sul ................................................................................................ 19 2.1.1 Caxias do Sul em 1971 ................................................................................... 20 2.1.2 Caxias do Sul em 2010 ................................................................................... 20 2.2 Histórico da escola estadual Santa Catarina em sua fundação ............... 21 2.3 Histórico da escola estadual Santa Catarina na atualidade ..................... 22 2.4 Dados sócio - histórico, econômicos e políticos da escola ...................... 26 3 METODOLOGIA .............................................................................................. 32 4 EVASÃO ESCOLAR ....................................................................................... 35 5 O ENSINO DE MATEMÁTICA E A EVASÃO ESCOLAR ............................... 39 5.1 Como se ensina Matemática no ensino fundamental? ............................... 41 5.2 Como se ensina Matemática no ensino médio? .......................................... 47 6 EDUCAR PARA A CIDADANIA JOVENS TRABALHADORES ...................... 48 7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................... 56 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 76 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 79 ANEXOS ............................................................................................................ 85 ANEXO 1 – Termo de consentimento livre e esclarecido ................................... 85 ANEXO 2 – Modelo do questionário direcionado aos alunos pela estagiária de Psicologia Escolar ................................................................................................ 86 ANEXO 3 – Modelo do questionário direcionado aos professoresde matemática da escola .............................................................................................................. 89 ANEXO 4 – Resumo das atas da escola ............................................................ 90 ANEXO 5 – Termo de consentimento da direção da escola ............................. 97 15 1 REFLEXÕES INICIAIS Neste capítulo, apontarei dados sobre minha trajetória acadêmica (um pouco da história de vida), as pretensões e anseios - necessários para compreendermos um pouco sobre as colocações que estão carregadas de emoção, devido à paixão enraizada no meu cerne de ser docente, o que possibilitou a mudança de vida e a realização de muitos sonhos. 1.1 Trajetória acadêmica Tudo começou no dia 12 de setembro de 1982, por volta das 8h da manhã. Em um vale que não possuía energia elétrica e se vivia do cultivo de grãos, dentre outros, o milho plantado nas encostas dos rios e o plantio de fumo eram um dos sustentos de minha família. Fui recepcionada pela minha avó paterna, que cortou meu cordão umbilical: a minha pressa era tamanha de chegar a esse “mundo”, que nem esperei a parteira chegar. Meu pai estava pescando em um dos maiores rios da região, quando foram avisá-lo, largou todos os seus utensílios para verificar a minha chegada, na expectativa de ser um menino, pois eu possuía uma irmã um pouco mais velha, precisamente 10 meses e 12 dias (nove meses da gestação mais a quarentena1 e no 2º dia estava começando a minha formação biológica). Quando minha mãe conta essa história, salienta a felicidade de todos os meus familiares na minha chegada. Com intervenções da minha avó paterna, fiquei condicionada a um quarto durante quarenta dias. Não “conhecia” nem a cozinha da casa, motivo por que ela alegava preservação da saúde, pois minha irmã era “doentinha” (gripes, pneumonias, etc...); o que justificava as viroses pelo fato de 1 Quarentena ou resguardo são nomes populares para designar o puerpério, etapa da vida da mamãe que começa depois do nascimento do bebê. Além dos cuidados com o novo membro da família, a mamãe precisa também cuidar da sua recuperação pós-gestação e pós-parto. 16 terem tirado ela de casa muito cedo (ir a outros cômodos, ir à varanda, dentre outros lugares). Era nesse pequeno pedaço de chão que eu e minha irmã brincávamos. Varríamos o chão batido, dentre outras atividades domésticas que executávamos para ajudar nossa mãe. Ela, com apenas 17 anos de idade, não media esforços: também trabalhava na roça e cuidava dos meus avôs, fragilizados pela idade, principalmente, e em especial de meu avô. Nas lembranças de minha infância, acreditava que a vida era realmente muito difícil: o leite que servia de alimento não podia possuir açúcar, pois era escasso devido ao alto custo. Os doces ingeridos eram levados por meu avô que, nas “pipoquinhas” levadas para casa, alegravam tanto os nossos dias - algo divino. (Parei um pouco de escrever, pois não contive minhas lágrimas. Ah que saudade dele, gostaria de poder compartilhar as delícias da atualidade). O vale onde morávamos localizava-se a, aproximadamente, 1km da escola e, para chegarmos até lá, seria necessário passarmos por uma vegetação extremamente alta, denominada “mato” pelos moradores da região. Meu pai começou a construir uma casa na “vila”(centro do distrito) para ficarmos mais próximos à escola, pois minha irmã mais velha iria começar a estudar. No início do ano letivo escolar, tivemos que nos mudar às pressas, no chão batido e com apenas as laterais e o teto da casa, estávamos nossa família toda. Meu avô havia falecido, e a família era composta por: meu pai, minha mãe, minha irmã, minha avó e um tio mais velho de meu pai que possuía alguns comprometimentos em sua saúde. Nessa nova condição, minha irmã ingressou no ensino estadual de nossa cidade, eu não deixei por menos: chorava compulsivamente e mostrava o meu desejo em frequentar um banco escolar. No segundo dia de aula, estava eu indo à escola juntamente com minha irmã. Seguiram-se os oitos anos do ensino fundamental, em São Paulino, com direito à formatura e a festanças. Para cursarmos o ensino médio, deslocávamo-nos 48 km (ida e volta), diariamente, em direção à cidade de Ipê, entre os diversos buracos e muitos atolamentos na estrada de chão. A conclusão do ensino médio sucedeu-se e o meu desejo era ingressar no ensino superior, em uma das minhas paixões: matemática. Aos 17 anos de idade, vim à cidade grande, Caxias do Sul, prestei 17 vestibular e a aprovação mudaria a minha vida, pois eu teria que mudar o meu endereço. No meu primeiro ano de faculdade, morei com os meus tios: era babá da minha pequenina prima que, com menos de um ano de idade, suas primeiras palavras, seus primeiros passinhos tornavam meus dias mais felizes, pois a saudade de casa era enorme. Sentia a ausência dos meus amigos; enfim, tudo era muito novo. Após o segundo ano de faculdade, trabalhava como bolsista na universidade, e ainda morava em uma casa de família, onde trabalhava meio turno e dividia o restante do tempo para estudar e dar aulas na rede estadual de ensino da cidade de Caxias do Sul. A minha carga horária foi dividida em três escolas, uma um pouco mais afastada da cidade. Entre tanto trabalho, um pequeno cochilo, em algumas aulas, trazia o descanso ao meu corpo físico; o entusiasmo era tamanho que a minha mente nunca parava. Após a conclusão do curso Licenciatura Plena em Matemática, com Habilitação para o ensino de Física, ingressei na rede privada de ensino que, além de contribuir muito para o meu aperfeiçoamento me ofertou um curso de pós-graduação em Psicopedagogia em Gestão Organizacional. Era mais uma das oportunidades que a vida me apresentava e que adiava um pouco mais um dos meus sonhos, o Mestrado. Antes do término do curso de pós, ingressei no programa da Unilasalle, no mestrado em educação. A minha escolha foi difícil, pois a primeira intenção era fazer mestrado em Matemática Computacional ou em Física. A minha atual escolha se deveu ao fato de estar trabalhando com a rede estadual de ensino e sentir-me insatisfeita com a atual situação de abandono por parte dos discentes e de alguns docentes. O meu problema de pesquisa começou a surgir devido à minha inquietação pelos fatos que ocorrem na sala de aula - os propulsores para chegar até aqui. 18 2.2 Pretensões e anseios O desejo em estudar não para por aqui, visto que um professor precisa estudar constantemente (foi um dos motivos pelos quais optei em ser professora). Em meio a esse curso de mestrado, concomitante a 26 horas/aula semanais na rede particular, mais 28 horas/aula na rede estadual de ensino, surge um curso de robótica educacional, ao qual fui convidada a participar. Atualmente, estou ministrando aulas de robótica educacional, trabalhando 53 horas/aula, entre ensino particular e público, escrevendo artigos e tentando publicá-los, apresentando-os e escrevendo minha dissertação de mestrado. Cabe ainda salientar que, fora da sala de aula, é necessário elaborar aulas, trabalhos, experimentos, projetos, avaliações, estratégias de estudos de recuperação, entre outras tarefas. Também ministro aulas em um cursinho preparatório para as forças armadas (sábados à tarde). Isso tudo não é uma reclamação; é uma possibilidade de mostrar que o desejo vai além do que aparentemente o tempo possa permitir. O que me motiva todos os dias para dar continuidade ao meu trabalho e repõemas minhas energias é o carinho recebido por meus alunos, é o prazer em contemplar a mágica do conhecimento se tornando efetivo, é perceber a educação como uma possibilidade - de dias melhores, de esperança e de sonhos a serem realizados. Afinal, contribuir para que alguns seres humanos em constante formação lutem por seus ideais é algo indescritível. O estudo apresentado parte dos meus anseios de professora, na busca de possibilitar aos adolescentes a oportunidade de permanecer em sala de aula. Refletir sobre a prática docente é um dos pontos primordiais para compreender a atual situação, apontar soluções não é intenção desse trabalho, mas mobilizar, desestabilizar e refletir sobre os conceitos: educação matemática, evasão escolar e educação cidadã. 19 2 CONTEXTO DO ESTUDO 2.1 CAXIAS DO SUL Nos “Boletins Memória e Ocorrência” (2010) consta que a história de Caxias do Sul começa antes dos italianos, ainda quando a região era percorrida por tropeiros e ocupada por índios, chamada "Campo dos Bugres". A ocupação por imigrantes italianos, em sua maioria camponesa da região do Vêneto (Itália), deu-se a partir de 1875, fixando-se em Nova Milano. Embora tivessem auxílio do governo, como ferramentas, alimentação e sementes, esse mesmo auxílio teve que ser reembolsado aos cofres públicos. Dois anos após, a sede da colônia do Campo dos Bugres recebeu a denominação de Colônia de Caxias. No dia 20 de junho de 1890 foi então criado o Município, e, a 24 de agosto do mesmo ano, foi efetivada a sua instalação. Vários ciclos econômicos marcaram a evolução do Município ao longo deste século. O primeiro deles está ligado ao traço mais forte da sua identidade: o cultivo da videira e a produção de vinho: num primeiro momento, para consumo próprio, e, mais adiante, para comercialização. É, através da uva e do vinho, que Caxias se notabilizou, sendo o berço do turismo do Estado, quando, em 1931, lançava a maior festa do sul: a Festa da Uva. Caxias do Sul é, hoje, o polo centralizador da região mais diversificada do Brasil, com seus laboriosos colonos, seus vastos parreirais, suas vinícolas, seu variado parque industrial, além de um comércio rico e dinâmico, dando a essa terra uma dimensão ainda maior, razão que faz de Caxias do Sul a "Capital da Montanha", a "Pérola das Colônias", a "Colmeia do Trabalho". É, pois, por si só, o polo centralizador da cultura italiana no sul do Brasil. Conhecida como Campo dos Bugres, por ser ocupada por índios e percorrida por tropeiros, Caxias do Sul começa a desenvolver-se em 1877, quando recebeu os primeiros imigrantes italianos. 20 Dentre os motivos da minha vinda a esta cidade, estava à busca por condições melhores de vida, Caxias do Sul possibilitou-me o trabalho e o investimento na educação. A diversificação de oportunidades nesta cidade para jovens trabalhadores é vasta. 2.1.1 CAXIAS DO SUL EM 1971 O município de Caxias do Sul possui uma área de 1.643,9 km², com densidade demográfica de 93,3 hab/km². O município de Caxias do Sul, no ano de 1971, de acordo com a Fundação de Economia e Estatística do Estado do RS (FEE, 2010), possuía uma população de 153 396 habitantes, sendo 29 663 deles na área rural, e 123 733 habitantes na área urbana. Nas Atas da Escola Estadual Santa Catarina constam 48 escolas estaduais, 171 municipais e 19 particulares. A escolha desse ano, 1971 ao invés de 1969, deve-se ao registro nas Atas da Escola Estadual Santa Catarina, quanto aos grupos escolares, e por ser o registro oficial mais próximo à data de fundação da escola. 2.1.2 CAXIAS DO SUL EM 2010 O município de Caxias do Sul não alterou sua área de extensão, com densidade demográfica de 264,9 hab/km². Atualmente possui população de 435 482 habitantes, sendo 16 161 na área rural e 419 321 na área urbana. Em torno de 40 anos, o número dos grupos escolares expandiu-se consideravelmente, conforme dados das Estatísticas da Educação (2009), da Secretaria Estadual de Educação, RS: há 214 escolas, sendo 53 estaduais, 85 municipais e 76 particulares; observa-se que, em 2010, deve entrar em funcionamento a primeira escola federal no município. 21 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a Cidade de Caxias do Sul, no item docentes por série, possui 2769 docentes no ensino fundamental, 293 docentes na pré-escola e 876 professores no Ensino Médio; no número de escolas por série aparecem 150 no fundamental, 103 na pré-escola e 38 no ensino médio; as matrículas, por série, somam, no fundamental, 57 589 alunos, na pré-escola, 3496 alunos e, no ensino médio, 15 436 alunos. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) o Censo Escolar de 2010 aponta que o Brasil tem 51,5 milhões de estudantes matriculados na educação básica pública e privada – creche, pré-escola, ensino fundamental e médio, educação profissional, especial e de jovens e adultos. Dos 51,5 milhões, 43,9 milhões estudam nas redes públicas (85,4%) e 7,5 milhões em escolas particulares (14,6%). No total, o ensino médio registra 8.357.675 alunos. Em 2009 eram 8.337.160. Como nos anos anteriores, a rede estadual é responsável por 85,9% das matrículas, enquanto a rede privada tem 11,8%. 2.2 Histórico da escola estadual Santa Catarina em sua fundação O Colégio Estadual Santa Catarina foi criado em 14-02-1968, conforme decreto nº: 18934, tendo como diretora Iró Nalinger Chiaradia. Situado no bairro Santa Catarina, da cidade de Caxias do Sul – Rio Grande do Sul, possuía os seguintes ambientes: 15 salas de aula, 10 sanitários masculinos e 6 femininos, laboratório, biblioteca, salão nobre, sala de direção, sala de professores e secretaria. A relação nominal do corpo docente em exercício constava 20 professores, que lecionavam as seguintes disciplinas: Desenho, Artes Industriais, Educação Artística, Geografia, Matemática, História, Inglês, Ciências, Português, Filosofia, História, Educação Física, Francês, Física, Biologia, Orientação Educativa, Estudos Sociais, Educação Moral e Religiosa, OSPB (Organização Social Política do Brasil). Algumas dessas disciplinas eram obrigatórias, outras complementares, e algumas eram optativas. 22 No ano de 1969, havia exame de admissão para ingressar na escola. Nesse ano foram oferecidas 150 vagas no diurno e 30 vagas no noturno; inscreveram-se 220 candidatos no diurno e 27 no noturno; foram reprovados 72 candidatos no diurno e seis no noturno, sendo que quatro não compareceram. A escola começou seu funcionamento com 147 alunos no diurno e 21 no noturno. A escola possuía o 1º ciclo e o 2º ciclo (dividido entre o clássico e o científico). A carga horária do ensino noturno era de 21h semanais. 2.3 Histórico da escola estadual Santa Catarina na atualidade Em 2010, 41 anos após ser criada, a Escola Santa Catarina acomoda 980 alunos no ensino médio, 487 do sexo masculino e 493 do sexo feminino. Dentre esses alunos, 225 reprovaram: os meninos somam o maior percentual de reprovados aproximadamente 61%; 33 cancelaram a matrícula, 55 abandonaram e 44 alunos foram transferidos. Na estatística por turno, na 1ª série do Ensino Médio do turno, 34 alunos aprovaram e 61 reprovaram, sem contar que cancelaram a matrícula outros 16 alunos, enquanto 30 alunos abandonaram a escola e 30 alunos foram transferidos. Nessa investigação, constatei que os alunos transferidos, em grande parte, vão cursar supletivos, pois, muitas vezes, ficam no ensino regularaté atingirem a idade mínima para fazerem essa modalidade de curso - possível apontamento para tamanha indisciplina. Eles mesmos relatam “tô aqui só esperando ter idade pra fazer supletivo”. A causa das reprovações é, em grande parte, devido à infrequência desses alunos, não comparecem nas aulas que julgam “chatas” e consequentemente reprovam, pois não atingem o mínimo de frequência, que é de 75%. Escuta-se, em sala de aula, diariamente: “ele (a) foi gazear aula, pulou o muro”, significa que está fora da sala de aula, em uma das ruas próximas a escola, pois não é permitido permanecer no pátio. Isso, de fato, mostra o quanto o problema é grave nessa série. É desanimador apontar os dados quantitativos, e é importante salientar que esses 23 dados devem ser avaliados qualitativamente. Afinal, o que está acontecendo com a educação escolar? Faz-se necessário tomarmos medidas com urgência, pois nossos adolescentes estão na rua desamparados, expostos a muitos riscos. . A Escola Santa Catarina possui atualmente 1.700 alunos na Educação Básica, 65 professores e 8 funcionários. O quadro de professores é composto pela sua maioria por profissionais com contrato emergencial, com carga horária superior a 40 horas semanais, distribuídas em duas, três, ou até quatro escolas distintas. A escola possui 15 salas de aula, laboratório multidisciplinar (Biologia, Física, Química e Matemática), laboratório de informática, biblioteca, duas salas de reuniões, sala dos professores, secretaria, sala de xerox, sala do Grêmio Estudantil, refeitório, um bar terceirizado, ginásio, e um belo pátio. O funcionamento da escola é distribuído da seguinte maneira: Manhã: apenas ensino médio, com três 1ª séries, sete 2ª séries e sete 3ª séries, com quinze disciplinas que contemplam a grade curricular: Matemática, Física, Química, Biologia, Sociologia, Filosofia, Ética, Língua Portuguesa, Literatura (neste ano juntou-se a Português), Inglês, Espanhol, Geografia, História, Educação Artística, Educação Física. Tarde: possui o ensino fundamental (séries iniciais e finais), apenas as 7ª séries e 8ª séries, com duas turmas de cada; o restante, com apenas uma série e implantação simultânea de anos, a partir do 3º ano. Gradativamente, as séries serão extintas e a escola possuirá nove anos no ensino fundamental, de acordo com a legislação vigente. No turno da tarde também funciona a 1ª série do ensino médio, num total de seis turmas com aproximadamente 35 alunos em cada sala. Noite: possui o ensino médio, com quatro turmas de 1ª série, sendo que, em duas delas, eu leciono a disciplina de Física, três turmas de 2ª série, em que ministro também a disciplina de Física, e três turmas de 3ª séries. A delimitação do meu campo de pesquisa são as primeiras séries do ensino médio, em que apontarei o número de alunos que abandonaram a escola desde a implantação da escola até a atualidade, intercalando-o de cinco em cinco anos, para fazer comparativos. Nos últimos seis anos, desde 2004, os registros são informatizados, o que facilitou a análise. A ênfase foi dada ao número de alunos que 24 cancelam a matrícula, aos evadidos ou à situação de abandono (atual nomenclatura). Como suporte à pesquisa, fez-se a leitura das atas da escola para verificar os dados, cujos apontamentos constam no capítulo Análise e Discussão dos Dados. Aliada aos apontamentos oficiais, a vivência que obtive em minha carreira docente nesta instituição, iniciou em 2004. Analisando os relatos dos alunos e dos professores, com o método da dialética, além da aplicação de questionários e experimentação das vivências de grupos distintos, pretendo apontar os motivos pelos quais os alunos e professores abandonam a escola, atendo-me, nessa pesquisa, aos alunos. O quadro geral de matrícula da escola pesquisada e a estatística de aproveitamento serão apresentados através de tabelas e gráficos comparativos para facilitar a visualização e percepção do número de alunos evadidos. Conforme mencionado, a atenção é voltada totalmente para as 1ª séries do ensino médio (atual nomenclatura) do turno da noite. O nome da série mudou, mas obedeceu-se à sua correspondência. A tabela possui os seguintes dados: ano de matrícula, curso vigente, sexo do aluno, número de alunos e o número de abandono, evasão ou desistência (palavras sinônimas no contexto analisado). Tabela 1 – Matriz dos cursos vigentes da 1ª série, E.M./ Noturno da Escola Estadual Santa Catarina de 1969 a 2010 Ano Curso Vigente 1969 2º ciclo- Clássico e 2º ciclo – Científico 1970 2º ciclo- Clássico e 2º ciclo – Científico 1975 2º grau- Auxiliar de Análises Químicas, 2º grau- Auxiliar de Escritório, 2º grau- Auxiliar Técnico de Mecânica, 2º grau- Auxiliar Técnico de Eletricidade, 2º grau- Desenhista de Arquitetura, 2º grau- Desenhista de Decoração e 2º grau- Educação Geral: Disciplinas Básicas 1980 2º grau- Auxiliar de Análises Químicas e 2º grau- Auxiliar de Escritório 1985 2º grau- Auxiliar de Análises Químicas e 2º grau- Auxiliar de Escritório 1990 2º grau- Auxiliar de Análises Químicas, 2º grau- Auxiliar de Escritório e 2º grau- Preparação para o Trabalho. 1995 2º grau- Preparação para o Trabalho 2000 2º grau- Preparação para o Trabalho 25 Ano Curso Vigente 2004 Ensino Médio 2005 Ensino Médio 2006 Ensino Médio 2007 Ensino Médio 2008 Ensino Médio 2009 Ensino Médio 2010 Ensino Médio Fonte: Autoria própria, com referências nas Atas da Escola Estadual Santa Catarina, 1969 a 2010. No ano de 1969 e 1970, os cursos vigentes das 1ª séries no ensino noturno eram: 2º ciclo – Clássico e 2º ciclo - Científico. Em 1975, houve o maior número de cursos técnicos oferecidos nos anos estudados; são eles: Auxiliar de Análises Químicas; Auxiliar de Escritório; Auxiliar Técnico de Mecânica; Auxiliar Técnico de Eletricidade; Desenhista de Arquitetura; Desenhista de Decoração; Educação Geral - Disciplinas Básicas. Nos anos de 1980 e 1985, reduziu-se para apenas dois cursos técnicos, com equivalência a 2º grau: o curso de Auxiliar de Análises Químicas e o curso Auxiliar de Escritório. Em 1990, incorporou-se, no 2º grau, o curso Preparação para o Trabalho. Nos anos de 1995 e de 2000, havia apenas o curso Preparação para o Trabalho. Nos anos que se sucedem, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010, a modalidade ofertada recebe o nome de Ensino Médio – E. M. A partir de 2004, devido à informatização, a coleta dos dados foi facilitada. Também foi neste ano que ingressei como docente na Escola Estadual Santa Catarina e a preocupação com o número de discentes que abandonam a escola foi um dos propulsores para fazer a presente pesquisa. 26 2.4 Dados sócio- históricos, econômicos e políticos da escola. Inicialmente, a escola atendia somente a comunidade do próprio bairro, atualmente os alunos são oriundos de diferentes bairros, com distâncias consideráveis em relação à escola. Em especial ao turno da noite, os jovens trabalham durante o dia, sendo esse um dos motivos pelos quais estudam à noite. Alguns alunos recebem Bolsa Família2, outros discentes procuram a escola pela sua valorização herdada de anos anteriores, uma vez que a comunidade salienta que “O Santa é uma das melhores escolas estaduais da cidade”. A escola atende classes econômicas bastante distintas, razão que motiva as cobranças por parte de toda comunidade educativa; os alunos desejam estudar no “Santa”, apelido dados por toda a comunidade educativa, por acreditarem na qualidade de ensino.Os professores que estão há mais tempo na escola tinham outra realidade: com alunos de nível econômico e social mais seletos e raramente com a convivência de jovens da periferia no ambiente escolar. Atualmente, com a Central de Vagas, a escola não pode mais “selecionar” através de provas ou notas seus novos alunos (como era feito até o ano de 1997), cuja tarefa ficou única e exclusivamente com a Central de Vagas que distribui os adolescentes de acordo com endereço. Na percepção da estagiária de psicologia que atua na escola, a realidade da escola já é outra, e alguns dos profissionais não estão sabendo lidar com ela. Observam-se professores decepcionados com as situações encontradas em sala de aula, fatos que, anteriormente, não faziam parte do cotidiano escolar: percebem a falta de expectativa desses adolescentes, a falta de interesse pelo conhecimento formal e chegam à escola culturalmente empobrecidos. Diante destas constatações, a psicologia escolar contribuiu, auxiliando os professores e a escola a conhecer os alunos. Para isso, desenvolveu-se um 2 O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia famílias em sua situação de pobreza e de extrema pobreza. O Programa integra a Fome Zero que tem como objetivo assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a egurança alimentar e nutricional e contribuindo para a conquista da cidadania pela população mais vulnerável à fome. Disponível:<http//www.mds.gov.br/bolsafamilia> Acesso: 16 de Out. 2010. 27 exercício de pesquisa do perfil dos alunos do turno da noite da escola. O levantamento desse perfil contribuiu com a minha pesquisa, pois os alunos sentiam liberdade de falar sobre suas insatisfações com uma profissional que não os estava avaliando e que também não era nenhum de seus professores. A proposta pedagógica da escola tem como missão educativa promover as potencialidades do aluno, tornando-o um cidadão atuante e modificador da realidade cultural e comunitária e visão de acompanhar e participar da evolução do conhecimento, preparando pessoas íntegras e aptas para fazer o futuro. Na proposta pedagógica da escola, consta, na identificação o título: “Uma escola de qualidade para todos”. Fazem parte da equipe diretiva, a diretora e três vice-diretores, um para cada turno, (manhã, tarde e noite), três supervisoras e três orientadoras. O subtítulo da proposta pedagógica da escola Santa Catarina é “A escola que queremos”. Nela, estão redigidos os seguintes deveres da instituição: Ensinar, avaliar e auxiliar seus alunos no entendimento de questões recentes, conscientizando a importância de sua participação; Ser democrática e estar atenta a sugestões; Modernizar-se e propor aulas interativas; Preparar o aluno para saber avaliar um fato, ter uma opinião, aplicar seus conhecimentos, pois o vestibular é apenas uma prova, uma escolha. A função da Escola é ensinar o aluno a respeitar e conviver com os outros, facilitar a aprendizagem de muitos assuntos importantes que podem um dia ser úteis para sua vida. O projeto justifica-se considerando que uma das metas prioritárias da escola estadual de ensino médio Santa Catarina é incentivar a atualização e o aperfeiçoamento dos docentes, além de ser necessário encontrar uma metodologia que desenvolva o aluno como um todo, baseado em valores, que comprometa, pessoal e socialmente, os educadores para desenvolver o ato pedagógico como científico, profissional e humano. Tem como objetivo geral oferecer oportunidades para aprofundar conhecimentos, visando à linha nacional de educação, numa visão transformadora do conhecimento, oportunizando uma escola aberta, democrática e de qualidade. 28 Nos objetivos específicos, aparece a necessidade de oportunizar aos docentes a participação em cursos, reuniões de estudos, encontros, simpósios, seminários, congressos, e outras atividades que se apresentarem para aperfeiçoamento do grupo, bem como realização de atividades que despertem a motivação e o interesse dos docentes e discentes, acompanhamento e assessoramento às atividades desenvolvidas dentro e fora da escola e aceitação de sugestões da comunidade escolar. Consta das metas da proposta educativa: - Realizar reuniões por turma; - Construir um ensino de qualidade na escola, atendendo sugestões da comunidade escolar; - Diminuir o índice de repetência na escola, bem como a evasão na primeira série do ensino médio do noturno; (Grifo nosso) - Despertar o interesse e a motivação pelo estudo; - Adequar a metodologia, conforme a realidade escolar; - Incentivar a atualização dos docentes e do currículo da escola; - Trabalhar com projetos interdisciplinares, dentro dos temas transversais, de acordo com as necessidades de cada turma; - Implantação do laboratório de informática; - Reformular o laboratório de Química, Física e Biologia. A metodologia é feita através do incentivo à pesquisa da realidade: busca-se uma metodologia de construção social do conhecimento, resultando num processo de ensino-aprendizagem embasado na relação dialética entre prática e teoria; por meio da valorização da cultura da população local, criamos espaços de participação de todos os segmentos da vida de nossa Escola, tornando-os corresponsáveis no processo de construção do conhecimento. O ensino caracteriza-se pela construção de um processo participativo de tomada de decisões, com participação da comunidade, levando o aluno a um posicionamento crítico, frente aos meios de comunicação social e à construção de formas alternativas para seu acesso à informação. Fazendo uso da pesquisa, o aluno será estimulado a buscar novos conhecimentos, ampliando assim sua cultura. 29 O ensino das ciências, entre elas Química e Física, faz uso da Matemática como ferramenta para comprovar a existência de alguns fenômenos físicos ou para descrever as propriedades químicas. Como o ensino de ciências está vinculado ao ensino de Matemática, sendo professora de duas disciplinas, Física e Matemática, percebo que os enfoques dados assemelham-se. Na busca das principais características de cada um dos enfoques do ensino de ciências, a literatura que oferta uma distinção clara e objetiva é sintetizada na Tabela 1, que segue abaixo: Tabela 2: Principais Características de cada um dos enfoques do ensino de Ciências Pressupostos Critérios de sequenciamento Atividades de ensino Papel do professor Papel do aluno Tradicional Compatibilidade, realismo, interpretativo. A lógica da disciplina como um conjunto de fatos. Transmissão verbal. Proporcionar conhecimentos conceituais. Receber os conhecimentos e reproduzi-los. Descoberta Compatibilidade, realismo, interpretativo. A metodologia científica como lógica da disciplina. Pesquisa e descoberta. Dirigir a pesquisa. Pesquisar e procurar suas próprias respostas. Expositivo Compatibilidade, construtivismo(?). A lógica da disciplina como sistema conceitual Ensino por exposição. Proporcionar conhecimentos conceituais. Receber e assimilar os conhecimentos. Conflito cognitivo Incompatibilidade, construtivismo. Os conhecimentos prévios e a lógica da disciplina Ativação e mudanças de conhecimentos prévios. Apresentar conflitos e guiar para a solução. Ativar seus conhecimentos e construir outros. Pesquisa Incompatibilidade,construtivismo. A lógica da disciplina como solução de problemas Ensino por meio de resolução guiada de problemas. Apresentar os problemas e dirigir sua solução. Construir seu conhecimento por meio da pesquisa. Modelos Independência ou integração hierárquica, construtivismo. Os conteúdos disciplinares como meio para ter acesso às estruturas conceituais e modelos. Ensino por meio de explicação e contraste de modelos. Proporcionar conhecimentos, explicar e guiar o contraste de modelos. Diferenciar e integrar os diferentes tipos de conhecimentos e modelos. Fonte: Pozo & Crespo, 2009, p.282. 30 De acordo com Pozo e Crespo (2009) as características dadas aos enfoques do ensino de ciências possuem pressupostos, critérios de sequenciamento, atividades de ensino, papel do professor e papel do aluno. Na proposta pedagógica da escola pesquisada, parece que as atividades de ensino e aprendizagem seguem um enfoque de pesquisa, que possui pressupostos de incompatibilidade e de construtivismo; os critérios de sequenciamento é a lógica da disciplina como solução de problemas; as atividades de ensino por meio de resolução guiada de problemas; o papel do professor é apresentar os problemas e dirigir sua solução e o papel do aluno é construir seu conhecimento por meio da pesquisa. Na prática, o ensino e a aprendizagem estão direcionados para o expositivo, que possui pressupostos de compatibilidade e duvidoso construtivismo; a lógica da disciplina, como sistema conceitual; as atividades de ensino por exposição, o papel do professor é proporcionar conhecimentos conceituais, e do aluno é receber e assimilar os conhecimentos. (POZO & CRESPO, 2009) Na relação de ensino e aprendizagem, cabe ao professor ensinar e analisar crítica e profissionalmente a relação, compreendendo o seu aluno-parceiro, atendendo-o nas suas necessidades. Dessa forma, é de competência do professor buscar identificar as necessidades educacionais evidenciadas pelo aluno, planejando, intervindo, implantando e reajustando os passos, em função dos efeitos observados no desenrolar do processo de ensino-aprendizagem. O sistema de avaliação é realizado pela verificação do rendimento escolar de forma contínua e cumulativa do desempenho do aluno com predominâncias dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Consta no plano político pedagógica da escola pesquisada o sistema de avaliação, que caracteriza-se com os dados mencionados acima. Para o ensino médio, os resultados da avaliação do aproveitamento escolar são registrados em pontos numa escala anual de 0 (zero) a 100 (cem). A avaliação do 1º e 2º trimestres tem por valor máximo 30 (trinta) pontos cada, e a do 3º trimestre tem por valor máximo 40 (quarenta) pontos, totalizando 100 (cem) pontos anuais. Para obter o resultado final de aproveitamento escolar, somam-se os pontos obtidos pelo aluno nos 3 (três) trimestres. 31 Considera-se aprovado (A) o aluno que, ao final do período letivo, obtiver aproveitamento escolar igual ou superior a 60 (sessenta) pontos; caso contrário será considerado R (Reprovado). Os alunos com necessidades educacionais especiais inclusos em classes comuns possuem legislação própria, de acordo com a lei maior. O regime escolar adota o seriado anual para o ensino médio, admitindo a possibilidade de cursar uma série ao longo de mais de um ano letivo para os alunos com necessidades educacionais especiais. Na concepção do currículo escolar, aparece sua construção de forma interdisciplinar, integrando as áreas de conhecimento, por meio de propostas pedagógicas construídas a partir da realidade. A escola possui os planos de estudos e os planos de trabalho do professor, ambos elaborados de forma coletiva, professores e equipe diretiva. A escola oportuniza a matrícula de alunos em regime de Progressão Parcial no Ensino Médio, em 01(um) componente curricular. O regime de Progressão Parcial permite ao aluno que não teve êxito, em 01(um) componente curricular, ser promovido à série seguinte, sem prejuízo da sequência curricular, com atendimento específico à série que irá cursar. Para alunos da 3ª série do Ensino Médio são oferecidos os Estudos de Recuperação prolongados, somente para os alunos que não obtiveram êxito em até (um) componente curricular. Durante o ano letivo são oportunizados os estudos de recuperação que propiciam ao aluno a oportunidade de superar dificuldades surgidas no decorrer do processo de ensino e de aprendizagem. A equipe diretiva da escola tem como função: coordenar, assessorar, apoiar e supervisionar o trabalho e os membros da comunidade de realizar atividades práticas com o corpo docente e discente da escola. Os recursos materiais e financeiros são oriundos da comunidade escolar e verbas do estado. 32 3 METODOLOGIA O estudo desenvolveu-se com a utilização da pesquisa qualitativa. Optei pela pesquisa-ação, pois se adaptou às minhas necessidades. O convívio diário com o problema pesquisado surgiu à necessidade de buscar soluções para minimizar o problema da evasão, e a escolha dessa metodologia foi feita para interagir e modificar a atual situação. Para isso, analisou-se o número de alunos evadidos, bem como a observação das situações vivenciadas na minha prática docente. A escuta, na tentativa de compreender as necessidades dos alunos, foi um método utilizado, a percepção de uma professora de matemática que acredita que o aluno é um ser participante no processo de construção da aprendizagem, e fazendo uso da dialética, escuta os problemas enfrentados pelos alunos e procura ajudá-los a perceberem o meio onde estão inseridos. Houve interação com toda a comunidade escolar. Fez-se uso de um questionário para analisar os motivos pelo qual os alunos abandonam a escola. A releitura da minha prática docente como pesquisadora foram suportes metodológicos para a realização desse trabalho. Além de estar ancorada nos seguintes autores: Paulo Freire, Ole Skovsmose, Ubiratan D’Ambrósio, entre outros. Segundo Bogdan e Biklen: O objetivo dos investigadores qualitativos é o de melhor compreender o comportamento e experiência humana. Tentam compreender o processo mediante o qual as pessoas constroem significados e descrever em que consistem estes mesmos significados. [...] Alguns investigadores que se dedicam ao estudo de pessoas marginalizadas têm, também, como objetivo, a intenção de contribuir para as condições de vida dos seus sujeitos (Roman e Apple, 1990; Lather, 1988). Estabelecem diálogos com os sujeitos relativamente ao modo como estes analisam e observam os diversos acontecimentos e atividades, encorajando-os a conseguirem maior controle sobre as suas experiências. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.70) Em relação às estatísticas oficiais e outros dados quantitativos, os autores Bogdan e Biklen salientam que “os dados quantitativos podem ter utilizações convencionais em investigação qualitativa [...] os dados quantitativos são muitas 33 vezes incluídos na escrita qualitativa sob a forma de estatística descritiva.” (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.194) Para a realização do estudo, de cunho qualitativo, a pesquisa-ação atendeu as minhas expectativas, já que busquei, além da compreensão do problema que me preocupava, discutir ações que pudessem contribuir para a sua superação. Thiollent afirma que: A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreitaassociação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2002, p.14) Não se tratou apenas de um levantamento de dados, mas de uma pesquisa na qual as pessoas implicadas tinham algo a dizer e a fazer - o papel ativo de quem fez a pesquisa é muito importante para apontar os dados e equacionar os problemas encontrados. Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 112) definem a pesquisa-ação como um tipo especial de pesquisa participante em que “[...] o pesquisador se introduz no ambiente estudado não só para observá-lo e compreendê-lo, mas, sobretudo, para mudá-lo em direções que permitam a melhoria das práticas e maior liberdade de ação e de aprendizagem dos participantes”. Trata-se de um processo investigativo de intervenção em que prática investigativa, prática reflexiva e prática educacional andam juntas, ou seja, ao ser investigada, a prática educativa produz compreensões e orientações que são utilizadas em sua própria transformação, gerando novas situações de investigação. O planejamento de uma pesquisa-ação, ao contrário de outros tipos de pesquisa, é bastante flexível. Segundo Thiollent, há um constante vaivém entre as preocupações de organizar um seminário, escolher um tema, colocar um problema, coletar dados, colocar outro problema, cotejar o saber formal dos especialistas com o saber informal dos “usuários”, colocar outro problema, mudar de tema, elaborar um plano de ação, divulgar resultados, etc. (THIOLLENT, 2002, p.47) Primeiramente, levantei dados que a escola disponibilizou sobre o número de alunos evadidos. O ponto de partida foi exploratório, analisei o perfil dos 34 adolescentes que abandonam a escola, como primeiro levantamento da situação, dos problemas e das possíveis ações. O problema da pesquisa foi constatado pela comunidade escolar e o papel assumido de um educador consiste em ajudar todo o grupo. René Barbier definiu que a pesquisa-ação [...] reconhece que o problema nasce, num contexto preciso, de um grupo em crise. O pesquisador não o provoca, mas constata-o, e seu papel consiste em ajudar a coletividade a determinar todos os detalhes mais cruciais ligados ao problema, por uma tomada de consciência os atores do problema numa ação coletiva. (BARBIER, 2004, p.54) A pretensão de pesquisar alternativas metodológicas para o ensino da Matemática, alertando a comunidade escolar e visando a qualificar a ação pedagógica e possíveis mudanças no contexto social. Quanto a isso Barbier salienta que: Se por muito tempo o papel da ciência foi descrever, explicar e prever os fenômenos, impondo ao pesquisador ser um observador neutro e objetivo, a pesquisa-ação adota um caminho oposto pela sua finalidade: servir de instrumento de mudança social. (BARBIER, 2004, p.53) Na diversidade dos tipos de pesquisa-ação, André Lévy, em colaboração com Jean Dubost (1987), estabeleceu classificações dessa forma de pesquisa, sendo a de melhor adequação ao meu trabalho a ação-pesquisa. O cerne do problema nessa forma de pesquisa-ação é a mudança intencional. “O pesquisador intervém de modo quase militante no processo, em função de uma mudança cujos fins ele define como estratégia.” Através de acompanhamentos, de análises e de reflexões é possível compreender e interpretar as condições. “Se o processo é induzido pelos pesquisadores, em função de modalidades que eles propõem, a pesquisa é efetuada pelos atores em situação e sobre a situação destes.” (BARBIER, 2004). O trabalho do docente em sala de aula pode viabilizar o exercício e a construção da cidadania, quando redimensionar a prática educacional. “Como profissionais da educação, acreditamos que a investigação-ação possa possibilitar o planejamento da ação educativa.” (MION & BASTOS, 2001). 35 É importante salientar que nem sempre é fácil mudar, mas abrir espaço para uma concepção de elaboração teórica e de novas práticas coletivas valerá o investimento de pesquisar. E, por fim, faz-se necessário tornar as experiências conhecidas. 4 EVASÃO ESCOLAR Alguns autores apontam a criança e a família como responsáveis pelo fracasso escolar, mas Fukui ressalta a responsabilidade da escola afirmando que: O fenômeno da evasão e repetência longe está de ser fruto de características individuais dos alunos e suas famílias. Ao contrário, refletem a forma como a escola recebe e exerce ação sobre os membros destes diferentes segmentos da sociedade. (IN. BRANDÃO ET AL, 1983) Nessa afirmação de Fukui, a escola possui responsabilidade dos discentes continuarem a frequentar as aulas. Consequentemente, os professores são corresponsáveis pelos números de alunos evadidos. Cabe, nesse momento, buscar estratégias para minimizar esses dados, visto que, na atualidade, a escola auxilia no controle social, e tem como finalidade apenas a aprendizagem. Um exemplo disso é a estratégia por mim criada e adotada: um aluno que não faltasse às minhas aulas, sem uma justificativa plausível, teria o direito de usar o caderno para auxiliá-lo em uma das minhas avaliações do trimestre. Isso fez com que a ausência de minhas aulas se tornasse ínfima em relação às demais disciplinas. Agregado a isso estava minha preocupação em saber onde estavam naquele determinado momento, que não na aula. Essa percepção como educadora foi reconhecida por muitos deles, que passaram a entender que minha preocupação era não somente com o aproveitamento escolar e sim com a vida deles. Essa estratégia foi utilizada no 1° e 2° trimestre. No início do 3° trimestre, o Serviço de Supervisão Escolar (SSE) - chamou-me para conversar, pois, de acordo com as normas estabelecidas, essa ação deveria constar nos documentos 36 elaborados no início do ano letivo e não poderia ter sido usado como uma ferramenta individual - deveria haver unidade de ação. A evasão escolar pode possuir diferentes percepções, a do aluno, a dos pais, a dos professores. É necessário conversar com toda a comunidade educativa para avaliar as diferentes opiniões e juntamente ao grupo propor estratégias para aumentar a permanências dos docentes em sala de aula. Discutir a questão do fracasso escolar é muito mais do que apontar um ou outro responsável. Como salienta Charlot, a problemática remete para muitos debates que tratam: [...] sobre o aprendizado, obviamente, mas também sobre a eficácia dos docentes, sobre o serviço público, sobre a igualdade das "chances", sobre os recursos que o país deve investir em seu sistema educativo, sobre a "crise", sobre os modos de vida e o trabalho na sociedade de amanhã, sobre as formas de cidadania. (CHARLOT, 2000, p.14) Para Charlot (2000), não existe o fracasso escolar, ou seja, não existe o objeto fracasso escolar, mas, alunos em situações de fracasso. Alunos que não conseguem aprender, que possuem dificuldades, que não desenvolvem conhecimentos ou competências. Enfim, histórias escolares não bem sucedidas, e são essas situações e essas histórias denominadas pelos educadores e pela mídia de fracasso escolar é que devem ser estudadas, analisadas, e não algum objeto misterioso, ou algum vírus resistente, chamado “fracasso escolar”. Algumas explicações sobre a produção do fracasso escolar são claramente expostas por Maria Helena Souza Patto, que os rebate: Teorias do déficit e da diferença cultural precisam ser revistas a partir dos conhecimentos escolares produtores de dificuldades de aprendizagem. Ensina-se para o alunoideal, aquele que não possui problemas e limitações, além da inadequação do sistema de avaliação e a precariedade das condições de trabalho. O fracasso escolar é o resultado inevitavelmente de um sistema educacional congenitamente gerador de obstáculos à realização de seus objetivos. Patto salienta que o fracasso da escola elementar é administrado por um discurso científico que, escudado em sua competência, naturaliza esse fracasso aos olhos de todos os envolvidos. Por fim, a 37 autora afirma que a convivência de mecanismos de neutralização dos conflitos com manifestações de insatisfação e rebeldia faz a escola um lugar propício à passagem ao compromisso humano-genérico (PATTO,1993). Em concordância frisa-se que as colocações da autora são atuais, embora tenha analisado um contexto de quase duas décadas atrás. A autora aponta a exclusão dos discentes, nestes termos: A escola pública de 1º grau falha na sua tarefa básica de alfabetização das crianças das camadas populares, excluindo-as precocemente de seu interior, através de mecanismos de rejeição que opera duplamente, pois a escola não aceita a criança como ela é, e a criança não aceita a escola tal como ela funciona. (PATTO,1993) O contexto da educação, na atualidade parece que pouco mudou, quando é comparado à leitura da produção do fracasso de duas décadas atrás. Criaram-se leis, mas não estão sendo suficientes para minimizar o fracasso escolar. A quantidade de adolescentes que abandonam a escola é relevante: poder-se-ia, nos dias atuais, reescrever a frase de Patto: em vez de escola de 1º grau, 1ª série do ensino médio do noturno. Em uma conversa que aconteceu no dia 27 de abril de 1988, entre Moacir Gadotti e Paulo Freire sobre a educação do fim do século, Freire diz: “Quando a gente compreende educação como possibilidade, a gente descobre que a educação tem limites.” (GADOTTI, 1991, p.138). Essa frase, juntamente com as colocações de Maria Helena Patto, perturba-me de tal maneira, que a descoberta em pesquisar o tema apresentado instiga-me diariamente e faz-me crer que é possível lutar pela educação. Conclui-se, então, nas afirmações de Patto (2004, p. 60-61), que a concepção do fracasso escolar apresenta-se em quatro fases: 1. O fracasso escolar como um problema psíquico: a culpabilização das crianças e de seus pais. 2. O fracasso escolar como um problema técnico: a culpabilização do professor. 38 3. O fracasso escolar como questão institucional: a lógica excludente da educação escolar. 4. O fracasso escolar como questão política: cultura escolar, cultura popular e relações de poder. Sabemos que o fracasso escolar está intimamente ligado à evasão escolar, que ambas não são temas novos, e que vários são os argumentos para explicá-los; entretanto, faz-se necessário refletirmos sobre o assunto, e ampliar o tema para toda a comunidade escolar, para, possivelmente, apontar um norte, um novo rumo que a educação deva tomar. Compreender o contexto escolar por parte dos seus sujeitos, explicando-o como um todo e não apenas como uma pessoa ou como uma parte é necessária e poderia ser visto como uma urgência educativa. Analisar juntamente com esse perfil o espaço físico da escola, tendo como objetivo verificar o ambiente físico, projetos e propostas a fim de se constatar quais são as condições de permanência e de promoção da aprendizagem dessas crianças. As mudanças na forma de gestão políticas públicas no Brasil são necessárias, segundo Gómez, o contexto escolar está [...] defasado em relação aos processos educativos com as novas tecnologias; com falta de qualidade dos serviços oferecidos; com falta de relação entre os currículos e a realidade social; com iniquidade de acesso e permanência nas escolas. (GÓMEZ,1999, p.35-7) O cumprimento da cidadania se efetiva quando a família exige da escola o cumprimento de suas obrigações e participa do cotidiano da instituição, exercendo seus direitos, como cidadã. É primordial repensar a relação entre as duas instituições, promovendo mudanças significativas. O trabalho é árduo, pois existem inúmeros mecanismos de exclusão que rechaçam não somente as vontades e os desejos de mudanças, como os pais que não valorizam a interação com as escolas de seus filhos, ou a escola que, mantendo o tradicionalismo, impede maior aproximação entre eles. 39 Toda a comunidade deve investir na educação, seja motivando os alunos a estudar, seja mostrando a escola como uma possibilidade de sucesso, ou valorizando os profissionais que trabalham nessa tarefa de educar. Os professores pesquisados tiveram dificuldades de responder a questão sobre os motivos que o levam a continuar na profissão. O problema sobre a evasão escolar vem sendo discutido por outras escolas do território brasileiro. A exemplo disso, o GTR (Grupo de Trabalho em Rede), de várias regiões do Paraná, propôs aos professores participantes que pesquisassem junto as turmas do período noturno (especialmente as primeiras série do ensino médio), a situação em que se encontravam as turmas de 2009 relativamente à evasão escolar, no final do primeiro bimestre. A questão proposta foi a seguinte: Sabemos que são muitos os motivos da evasão no período noturno. E esta tem raízes profundas na educação brasileira. Infelizmente, 2009 não está sendo diferente dos últimos anos. No final do primeiro bimestre já existe um número considerável de desistência ou de alunos que só se matricularam e ainda os que comparecem esporadicamente. Pesquise na escola que você trabalha a porcentagem de alunos que não estão frequentando as aulas em relação aos alunos matriculados (DELAI, 2009). Constata-se que o problema sobre evasão escolar não é um fato isolado, mas um problema que aflige a educação nacional, com situações que se agravam com o passar dos anos, como bem se pode ver nas pesquisas mostradas por revistas e pelo IBGE. 5 O ENSINO DE MATEMÁTICA E A EVASÃO ESCOLAR As ciências exatas são apontadas pelos alunos como sendo as disciplinas em que eles possuem o maior grau de dificuldade, mas, em contraponto, as pesquisas revelam que elas não são responsáveis pela evasão escolar. No livro “O Professor Refém”, Zagury (2006) aponta a opinião de 1172 professores, em pesquisa realizada ao longo de três anos, envolvendo escolas públicas e particulares da Educação 40 Básica, e apontou os seguintes dados quanto aos principais problemas encontrados pelos professores em sala de aula: - Manter a disciplina (22%); - Motivar os alunos (21%); - Avaliar de forma adequada (19%); - Manter-se atualizado (16%); - Escolher a metodologia adequada (10%); É perceptível que manter a disciplina é um dos grandes problemas encontrados em sala de aula. Há amostra feita com os professores de Matemática da escola pesquisada, os docentes apontam a disciplina como 50% dos problemas encontrados em sala de aula; em segundo, vêm a motivação dos alunos, com 30%, e os 20% restantes para os outros problemas mencionados acima. Esses dados reforçam a ideia de que a disciplina interfere significativamente para a decisão de abandonar a escola. A revista Nova Escola3 fez uma pesquisa para levantar dados sobre os problemas encontrados em sala de aula. É notável que os principais problemas do dia-a-dia, dentro da sala de aula, são três: a não participação dos pais no dia-a-dia da escola, a desmotivação dos alunos e a indisciplina dentro da classe. Um fator importante é que todos os problemas levantados estão diretamente relacionados com a atuaçãodo professor. Se compararmos a formação dos professores de Matemática na escola estadual com os dados levantados na revista, há contradições. Enquanto é apontado que os professores tiveram uma formação inconsistente ou a continuam tendo, bem como a falta de tempo e de recursos financeiros, os professores de Matemática cursaram licenciaturas de cinco anos, a maioria possui pós-graduação e atualização permanentes. É o caso da escola pesquisada. O que coincide nas duas pesquisas é a falta de tempo e os recursos financeiros: todos os professores pesquisados têm, no mínimo, dois empregos, alguns trabalham em quatro escolas, outros trabalham em consultórios durante o dia 3 Pesquisa realizada perla Revista Nova Escola, com 500 professores das redes públicas municipais, estadual e federal, entre 25 a 55 anos, realizada de 20 de junho a 19 de julho de 2007 e, publicada na edição n.º 207 de Novembro de 2007. 41 e ministram aulas durante a noite. Como dizem, “faço um bico para ganhar uns trocos”. 5.1 Como se ensina matemática no ensino fundamental? A referência adotada na escola é o livro didático, que é proveniente da escolha dos professores da escola. Além de direcionar e elencar os conteúdos a serem trabalhados durante o ano letivo, o livro didático é um dos fatores determinantes da aprendizagem dos alunos das séries iniciais. É de grande valia retornar às séries iniciais para compreender como se ensina Matemática, ou como deveria ser “ensinada”. Esse retorno auxiliará na compreensão do estudo para o ensino médio. Dar atenção aos PCNs e os fundamentos das propostas pedagógicas sugeridas pelos autores dos livros didáticos foram de grande valia para ampliar a compreensão da educação matemática nas séries iniciais e posteriormente no ensino médio, o objeto de estudo dessa pesquisa. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN 1-4) propõem uma série de objetivos para a aprendizagem da Matemática para as séries iniciais, que são, simplificadamente: - Reconhecer, no conhecimento matemático as características de: instrumento para compreender o mundo e agir sobre ele e jogo intelectual que desperta interesse, curiosidade e desenvolve a capacidade de resolver problemas; - Desenvolver estratégias, raciocínios e trabalhar com situações-problemas; - Levantar, analisar e selecionar dados, usando as várias formas do conhecimento matemático para extrair, apresentar e interpretar relações a partir de dados; - Comunicar-se matematicamente, estabelecer relações e conexões com outras ideias matemáticas; - Desenvolver autoconfiança no emprego de recursos matemáticos, trabalhar coletivamente na busca de soluções e respeitar os diferentes modos de pensar. Selecionei um livro aleatoriamente de Matemática das séries iniciais do ensino fundamental, esse livro possui um manual do professor, em que me detive na leitura 42 e compreensão nos fundamentos da proposta pedagógica e nas orientações ao professor. O livro é utilizado pela escola como apoio ao processo ensino- aprendizagem. O livro didático de matemática, Fazendo e compreendendo matemática (Sanchez, 2008), no manual do professor, aponta os seguintes fundamentos da proposta pedagógica: A realização da coleção buscou duas orientações: atuais pesquisas em Educação e Alfabetização matemática e relatos de professores sobre a sua prática pedagógica. A elaboração do material foi de acordo aos avanços tecnológicos e a responsabilidade da escola na formação do cidadão consciente, crítico e criativo. Ênfase na construção do conhecimento e domínio das linguagens e códigos. Qual concepção de aprendizagem? Processo construtivo. Estimular o aluno a refletir e discutir sobre seu processo de construção do conhecimento. Aceitar a troca com os colegas, fazer conjecturas e simulações e dominar códigos e linguagens. Utilização de dados e de informações do cotidiano e contextualização do conhecimento matemático. Atividades significativas habilitam o aluno a resolver problemas do cotidiano. São princípios estimular as relações entre teoria e prática, reflexão e ação. Resolução de problemas: um método e um objetivo. Fixação da aprendizagem de conteúdos formais. Análise, formulação, comparações, levantamento de possibilidades, comparação de resultados, verificação e compreensão de conceitos. Forma reflexiva de aprendizagem (mais eficaz e prazerosa). Prioriza a contextualização do conhecimento matemático. Formação de atitudes e valores. Atitude como tendência individual que se manifesta na forma de agir de uma pessoa. Atitudes fundamentadas em valores como: cooperação, competição, solidariedade, reflexão, disciplina, organização, respeito, dentre outros sugeridos pela escola. Atitudes e valores são frutos da aprendizagem. Utilizar recursos racionais que mobilizem a afetividade do educando, como a persuasão, a consciência e a recompensa. 43 Trabalho em grupo: um valor e uma competência. Aprender com os outros, discutir, aceitar regras, encontrar estratégias, defender ponto de vista. O ser humano é essencialmente social e a formação de opiniões se dá pela interação entre pessoas. É função da escola possibilitar à criança o desenvolvimento das habilidades de participação de argumentação e de respeito pelos colegas e por suas ideias. A história da matemática e a formação do aluno são resultados do esforço e criação humana. Percepção do conhecimento: científico, tecnológico ou artístico. Heranças herdadas que foram criadas para atender as necessidades da humanidade. Ampliação do conhecimento. Valor do exercício no processo de aprendizagem. A abstração, a precisão e o rigor lógico são características básicas do conhecimento matemático. A abstração se dá pela grande variedade de exemplos, de contraexemplos e pela exercitação. A precisão e o rigor lógico são conquistados por meio da leitura e de interpretação de textos matemáticos. O jogo como forma de aprendizagem. Forma surpreendente de aprendizagem. Jogos influenciam na tomada de decisões e nas estratégias, além da interação social. Lição de casa: tarefa que o aluno pode fazer sozinho. Tem o objetivo vincular o aluno ao trabalho desenvolvido em classe e promover o exercício de fixação e de memorização. Ênfase no cálculo mental, na estimativa e na variabilidade de técnicas operatórias. As estimativas requerem domínio de cálculo mental e compreensão dos significados das técnicas operatórias. Maior flexibilidade de raciocínio, mais competência na resolução de problemas, além da autonomia e motivação na aprendizagem de novos cálculos. Uso da calculadora. Utilizar de forma criativa e construtiva. Compreensão de que é um instrumento valioso, mas deve ser capaz de calcular sem ela. O uso do caderno, do rascunho e do papel quadriculado. Organização. Uso de material concreto e laboratório de matemática. Diversificar as estratégias de ensino. Um dos objetivos da Matemática é desenvolver a capacidade de abstração, por isso preciso tratar das diferentes formas de concretização e da relação entre concreto e abstrato. 44 O uso de material concreto favorece o processo de abstração, desenvolve habilidades de visualização, de representação no espaço e desenvolve habilidades de utilização de materiais do cotidiano. Examinando outro livro de Matemática para as séries iniciais, tem-se que a aprendizagem matemática no ensino fundamental visa formar indivíduos capazes de: - Usar processos matemáticos para compreender e para modificar seu mundo, selecionando
Compartilhar