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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Faculdade Nacional de Direito Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas “Revisão de Literatura” Professor José Roberto Xavier - Métodos e Técnicas de Pesquisa Ingrid Caroline Grandini Rodrigues Com o objetivo de analisar a existência dos manicômios judiciários, a forma como eram tratados os internos e como estes são realocados na sociedade, uma vez que os “loucos-criminosos” são incapazes de viver e estar imersos na sociedade, o trabalho em questão buscou relacionar três artigos científicos em seus pontos convergentes e em seus possíveis pontos divergentes. Os autores dos três artigos problematizam a existência dos manicômios judiciários, positivamente e negativamente, e o modo como estes reinserem os detentos na sociedade. Os artigos escolhidos foram: (i) “Manicômio Judiciário: é possível ao louco-criminoso resistir?” (IBRAHIM; VILHENA, 2014), (ii) “A alta progressiva como meio de reinserção social do paciente do manicômio judiciário” (MARAFIGA; COELHO; TEODORO, 2009) e (iii) “Por uma sociedade sem hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico” (SANTOS; FARIAS; PINTO, 2015). No primeiro texto, os autores defendem que o sujeito encarcerado, ou não, usa de diversos mecanismos não somente para inventar novas maneiras de viver, mas também para criar diferentes formas de resistência. De acordo com Ibrahim e Vilhena (2014) vivemos em um paradoxo, porque apesar de estarmos imersos em uma sociedade heterogênea, o que deveria ser vantajoso para o encontro de diferenças existentes, ocorre o contrário, uma vez que tais diferenças geram desconfianças e medos, uma vez que a sociedade não consegue decifrá-los. E é exatamente entre essas pessoas consideradas diferentes que os autores encaixam os encarcerados, seja nas prisões ou manicômios. Apoiados em Michel de Carteu e Michel Foucalt, acreditam que o sujeito tem a capacidade de criar e recriar o seu cotidiano em forma de resistência às imposições. A resistência do “louco” à opressão trazida pelo cárcere se traduz de diversas formas, entre elas a relutância em vestir uma roupa obrigatória pelo regulamento do hospital, questão recorrente às pacientes mulheres do, hoje fechado, Hospital Heitor Carrilo (os autores ressalvam que tal obrigação não cabia aos pacientes homens). Ainda em relação ao tratamento dentro dos manicômios judiciários, não são encontrados especialistas com o objetivo real de reinserir o interno na sociedade, mas a realidade para Ibrahim e Vilhena (2014) é que esses profissionais estão dispostos apenas a adquirir conhecimento e invocar uma suposta verdade sem participação nenhuma do detento como se o mesmo não tivesse voz. O segundo artigo traz o tema da alta progressiva (AP) e a reinserção do paciente do manicômio judiciário. “A alta progressiva é um beneficio concedido pela justiça a pacientes que estão cumprindo medida de segurança em manicômio judiciário. Trata-se de uma prática de desinternação que visa a reinserção social dos indivíduos considerados inimputáveis e que cometeram delitos.” (MARAFIGA; COELHO; TEODORO, 2009). As internações nos manicômios tiveram inicio, pois o doente mental causador de delito não pode ser considerado culpado por causa da sua psicopatologia e o estilo de prisão se dá pelo fato de os mesmos não terem sanidade mental ideal para dividir celas com prisioneiros comuns. Ainda em relação a isso, os detentos em manicômios possuem pena de caráter preventivo e pode ser renovada, enquanto a prisão comum tem caráter punitivo e tempo determinado. Os autores estudaram os internos do manicômio judiciário do estado do Rio Grande do Sul – Instituto Psiquiátrico Forense Dr. Mauricio Cardoso (IPF). Pelos relatos dos autores o instituto realiza um trabalho de reestabilização emocional e mental, uma vez que os detentos chegam com grave estado de desequilíbrio a AP é uma preparação para o interno numa futura ressocialização. Apesar de descordarem dos autores do primeiro texto, uma vez que defendem que o instituto em questão faz um bom trabalho com a pessoa inimputável, concordam com os mesmos uma vez que consideram que essas pessoas, sofreram, sofrem e sofrerão preconceitos, mesmo depois de cumprida a pena, pois para eles as palavras “doente mental” e “manicômio” já vêm carregadas de discriminação. Já o terceiro artigo entra em maior concordância com o primeiro e tem uma relação dispare com o segundo, uma vez que defende que os manicômios, sendo esses judiciários (punitivos) ou instituições de saúde (tratamento), não trazem reais benefícios para a saúde mental do paciente. O artigo conversa diretamente com a Lei antimanicomial (10216/2001) a partir da qual os manicômios foram progressivamente extintos junto à implantação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). De acordo com a Lei, a internação deve ser o ultimo recurso a ser utilizado, tento em vista a meta principal de tratar no território com a finalidade de manter os vínculos sociofamiliares. A ainda existência de manicômios judiciários, para os autores, se dá devido à prevalência de que o “maquinário institucional faz parte de uma engrenagem de saberes e poderes especializados no controle, social, por meio de legislação específica” (SANTOS; FARIAS; PINTO, 2015). Ainda ao encontro dos autores, é necessário que haja uma recomposição na formação matricial dos institutos, há necessidade de que se deixe de lado a necessidade da instituição de custódia para que se comece a realmente olhar para o sujeito com transtorno mental e sua doença. Além disso, no decorrer do artigo, Santos, Faria e Pinto denunciam o abandono do “louco” em troca de uma carreira institucionalizada, ou seja, os internos são deixados à própria sorte nos Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) existentes no Brasil. Em 2010, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária previu a substituição de todos os manicômios existentes para até 10 anos a partir daquela data. Segundo os autores, o desagrado da parte dos HCTP vem devido o dever de abrigar os desinternados para reinseri-los psicossocialmente, ou seja, o “abrigamento ou albergamento dos desinternos (...) sob os seus tetos, pela perda dos laços sociais, devido à institucionalização de longa permanência” deixaria ainda mais visível a falência institucional (SANTOS; FARIA; PINTO, 2015). Assim como Ibrahim e Vilhena (2014), Santos, Farias e Pinto (2015) defendem que o convívio social pleno na sociedade depende da reciprocidade entre os cidadãos que, quando não é automática, deve ser construída pelas instituições, uma vez que o “diferente” pode ser o aliado ou o adversário. Porém, tanto no primeiro quanto no terceiro artigo, os autores afirmam que a finalidade dos manicômios judiciários foram desviadas e deixam o interno a mercê enquanto no segundo, édefendido a existência do IPF – manicômio judiciário do Rio Grande Do Sul. Com a revisão de literatura aqui apresentada, pretendeu-se apresentar de forma concisa as questões de maior relevância em relação a questão dos detentos em Manicômios Judiciários e a efetividade, ou não, dos tratamentos para a reinserção deles na sociedade encontradas nos artigos. Estes contribuíram para que fosse adquirido maior conhecimento no que se referencia ao tema da existência e sobre os motivos (indiretamente relacionados) que teriam levado à criação da Lei Antimanicomial. O fato de como os internos são realocados socialmente, uma fez que são incapazes de viver na mesma, com a ação da alta progressiva do IPF ou com o descaso de outros institutos. Referências: IBRAHIM, Elza; VILHENA, Junia de. Manicômio Judiciário: é Possível ao Louco-Criminoso resistir?. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 34, n. 4, p. 879-893, dez. 2014 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932014000400879&lng=p t&nrm=iso>. Acessado em 12 de outubro de 2016. MARAFIGA, Caroline Velasquez; COELHO, Elizabete Rodrigues; TEODORO, Maycoln Leôni Martins. A alta progressiva como meio de reinserção social do paciente do manicômio judiciário. Mental, Barbacena, v.7, n 12, p. 77-95, jun. 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-4272009000100005&lng =pt&nrm=iso>. Acessado em 12 de outubro de 2016. SANTOS, Ana Luiza Gonçalves dos; FARIAS, Francisco Ramos de; PINTO, Diana de Souza. Por uma sociedade sem hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro , v. 22, n. 4, p. 1215-1230, Dec. 2015 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702015000401215&lng=e n&nrm=iso>. Acessado em 13 outubro de 2016.
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