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Direito Penal Simbólico e Feminicídio

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Curso de Direito, campus Poços de Caldas 
 
 
 
 
 
 
 
Frank de Oliveira Marques 
 
 
 
 
DIREITO PENAL SIMBÓLICO E FEMINICÍDIO: 
análise da Lei n. 13.104/15 à luz do Simbolismo Penal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poços de Caldas 
2016 
 
 
 
Frank de Oliveira Marques 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL SIMBÓLICO E FEMINICÍDIO: 
análise da Lei n. 13.104/15 à luz do Simbolismo Penal 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas 
Gerais, campus Poços de Caldas, como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Professor Orientador: José Carlos Trinca 
Zanetti 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poços de Caldas 
2016 
 
 
 
Frank de Oliveira Marques 
 
 
DIREITO PENAL SIMBÓLICO E FEMINICÍDIO: 
análise da Lei n. 13.104/15 à luz do Simbolismo Penal 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 
campus Poços de Caldas, como requisito parcial 
para obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________________________________________ 
Prof. José Carlos Trinca Zanetti – PUC Minas 
 
 
 
 
Examinador(a) - PUC Minas 
 
 
 
 
 
Examinador(a) - PUC Minas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Poços de Caldas/MG, ____ de ____________ de 2016. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço a todos os professores que passaram na minha vida e plantaram a 
semente do conhecimento e em especial o meu orientador pelo emprenho dedicado 
na elaboração deste trabalho. 
Agradeço meus pais que proporcionaria a melhor estrutura familiar que uma 
pessoa pode ter. 
Por último, mas não menos importante, agradeço a Deus ter dado saúde e 
felicidades a toda minha família e por não ter me deixado desistir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei 
para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria 
ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”. 
(Marthin Luther King) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O estudo ora apresentado visa estudar a figura típica do feminicídio sob o prisma do 
Direito Penal Simbólico. A referida figura típica, trazida para o ordenamento jurídico 
pátrio com o advento da Lei n. 13.104/15, suscitou inúmeros questionamentos de 
ordem doutrinária e prática, dentre eles, destaca-se a correlação com o denominado 
Direito Penal Simbólico, uma vez que, para determinados autores, a tipificação em 
questão não possui qualquer valor prático, se apresentando com uma lei penal 
meramente simbólica. O enfoque do trabalho é, portanto, analisar se o feminicídio se 
apresenta como uma representação do direito penal simbólico, especialmente por 
sua similaridade com a figura do homicídio qualificado por motivo torpe ou fútil, já 
existente no ordenamento jurídico brasileiro há muito tempo. 
 
Palavras-chave: Direito Penal Simbólico. Simbolismo Penal. Feminicídio. 
Aplicabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7 
 
1 DO SIMBOLISMO PENAL ................................................................................... 9 
1.1 Da política criminal ....................................................................................... 11 
1.2 Da influência midiática na política criminal ................................................ 16 
1.3 Do Direito Penal Midiático ............................................................................ 25 
 
2 DA LEI Nº 13.104/15, O FEMINICÍDIO .............................................................. 27 
2.1 Conceito ........................................................................................................ 27 
2.2 Justificativa do Projeto de Lei 292/13 ......................................................... 33 
 
3 ANÁLISE DA LEI N. 13.104/15 À LUZ DO SIMBOLISMO PENAL ................... 37 
3.1 Argumentos favoráveis à tipificação do feminicídio ................................. 37 
3.2 Argumentos contrários à tipificação do feminicídio ................................. 42 
 
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 49 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Atualmente, a violência contra a mulher é um tema amplamente debatido 
tanto no meio acadêmico quanto mídias sociais e televisivas. Os vários tipos de 
debates promovidos nos trabalhos acadêmicos tendem a criar um consenso e 
pacificar a figura do feminicídio. Ademais por ser um tema novo, cada pesquisa e 
abordagem teórica é valida para entender os vários posicionamentos dos 
pesquisadores do direito. 
Assim, o presente estudo monográfico objetiva analisar o feminicídio sob a 
ótica da teoria do Direito Penal Simbólico, considerando, por oportuno, se tratar de 
alteração legislativa recente, visto que ocorrida no ano de 2015. 
A aprovação da Lei Nº 13.104, de 9 de março de 2015 traz alterações no 
Código Penal Brasileiro, que são significativas e necessárias de aprofundamento 
teórico doutrinário e jurisprudencial para o profissional que estuda a ciência do 
direito. 
Para tanto, após a referida introdução, o primeiro capítulo abordará a teoria 
do Simbolismo Penal, conceituando-a de maneira clara e concisa. No aludido 
capítulo, a temática da política criminal também será analisada, passando pelo 
debate acerca da influência midiática no processo penal, culminando na análise do 
Direito Penal Simbólico, tendo como fonte primordial a obra de Luiz Flávio Gomes, 
“Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito penal crítico”. 
Posteriormente, o segundo capítulo analisará mais detidamente a Lei n. 
13.104/15, começando com a análise conceitual do feminicídio, suas origens 
jurídicas e fáticas, assim como seus principais desdobramentos. Por fim, o referido 
capítulo analisará a justificativa do Projeto de Lei que deu ensejo ao instrumento 
jurídico ora estudado. 
No que atine aos desdobramentos do feminicídio, o terceiro capítulo tratará 
dos mesmos, vez que a principal questão repousa na real necessidade da tipificação 
em estudo. Neste ponto, as principais posições favoráveis ao feminicídio serão 
elencadas, com vistas em uma análise do instituto em estudo. Após, serão trazidas à 
baila as principais posições contrárias ao feminicídio. 
Buscar-se-á responder a seguinte questão: a Lei n. 13.104/15, responsável 
por inserir no ordenamento jurídico vigente a figura típica do feminicídio, resultante 
do homicídio praticado contra mulheres em razão do gênero feminino, se apresenta 
8 
 
 
como fruto de um dispensável simbolismo penal que em nada melhorará a vida das 
mulheres? 
A presente monografia, de caráter dedutivo, adota a metodologia de 
pesquisa bibliográfica. Na abordagem sobre o tema, realizar-se-á primeiramente o 
fichamento bibliográfico das obras por ordem de classificação por interesse temático 
e por ordem cronológica, após. 
É de se anotar, contudo, que emse tratando de alteração legislativa datada 
do ano de 2015, a doutrina ainda é escassa sobre a temática central, assim como os 
principais doutrinadores de direito penal ainda analisam os primeiros passos do 
instituto do feminicídio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
1 DO SIMBOLISMO PENAL 
 
A inovação legislativa, representada pela criação de novos tipos 
incriminadores, é algo que se encontra presente no cotidiano brasileiro. Sendo 
assim, é necessário que se analise os conceitos relativos ao que a doutrina chama 
de “simbolismo penal”. 
Inicialmente, Rogério Greco chama a atenção para os recorrentes casos de 
crimes abordados pela mídia, fazendo com que grande parcela da sociedade fique 
revoltada, clamando para que haja um Direito Penal mais rigoroso, ou seja, para que 
as leis endureçam suas punições. 1 
Este clamor social faz com que o legislador se sinta da obrigação de dar 
uma resposta para a sociedade, dando ensejo à criação de leis que, por vezes, não 
atendem aos objetivos que se propõem. 
Segundo Gunter Jakobs e Manuel Cancio Meliá, o que se denomina “direito 
penal simbólico” nasce, primeiramente, com a neocriminalização. Tal instituto pode 
ser entendido como a criação de tipos penais que, na prática, não atingem os 
resultados esperados, sendo, pois, “simbólicos”. 2 
Este direito penal simbólico, como cediço, não é capaz de cumprir com as 
finalidades precípuas a que foi criado, assim como também não logra êxito em 
proteger o bem jurídico tutela, função primordial do Direito Penal. 
Neste diapasão, o simbolismo é perceptível uma vez que a norma exercerá 
efeitos que são apenas temporários, vindo a perder sua efetividade e até mesmo 
sua confiabilidade com o passar do tempo, haja vista que não desempenha 
fielmente as funções a que se propôs. 3 
Luiz Flávio Gomes aborda o simbolismo penal relacionando-o com o 
discurso populista punitivsta, da seguinte forma: 
 
O chamado direito penal simbólico tem estreito vínculo com o discurso 
populista punitivista, que reivindica (explorando a emotividade da reação ao 
 
1 GRECO, Rogério. A quem interessa uma justiça penal sobrecarregada? Disponível em 
<http://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/121819867/a-quem-interessa-uma-justica-penal-
sobrecarregada>. Acesso em: 31 ago. 2016. 
2 JAKOBS, Gunter; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. 
(Organizado e Traduzido por: CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José). 2. Ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 55. 
3 JAKOBS, Gunter; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. 
(Organizado e Traduzido por: CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José). 2. Ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 55. 
10 
 
 
delito) a produção de leis penais novas cada vez mais severas, com a 
ciência de que essas leis, sob a roupagem de uma atuação política 
instrumental e eficaz, na verdade, em nada alteram (ao menos a médio e 
longo prazos) a realidade da proteção dos bens jurídicos (ou da tutela da 
segurança pública), limitando-se, nesse campo, somente a emitir 
mensagens (imediatistas) de tranquilização coletiva ou de preocupação com 
o tema. 4 
 
Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Perangeli asseveram que a referida 
função simbólica de algumas normas penais não propiciam a solução direta do 
problema existente, ou seja, não protegem efetivamente os bens jurídicos. Lado 
outro, causam apenas uma falsa sensação de tranquilidade para a sociedade e, de 
certo modo, iludindo-a. 5 
Ademais, a consequência lógica da existência de simbolismo penal em 
demasia é a perda da confiabilidade nas normas, que se tornam incapazes de 
protegerem o bem jurídico doravante tutelado. 
Sobre a referida perda de confiabilidade, Gunter Jakobs e Manuel Cancio 
Meliá ressaltam que o excesso de simbolismo nas normas penais gera enorme 
descrédito perante a sociedade, especialmente partindo do pressuposto que a 
criminalização de uma conduta deveria ter função pedagógica, objetivo impossível 
de se alcançar com uma norma meramente simbólica. 6 
Do ponto de vista punitivo, importa mencionar que uma norma penal que 
possua função simbólica não encontra guarida em um sistema garantista. Ora, como 
manter custodiada determinada pessoa que cometeu conduta cuja tipificação não 
protege efetivamente um bem jurídico? 
Louk Hulsman e Jacqueline Bernat de Celis questionam, ademais, que na 
ocorrência de uma sanção não cumprir sua função pedagógica e de prevenção, 
possuindo apenas função simbólica, a mesma será inconstitucional, haja vista a 
ausência de pressuposto para sua aplicação. 7 
Neste interim, Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Perangeli coadunam 
com tal posicionamento, ressaltando que a pena igualmente possui uma função 
 
4 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 22. 
5 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 9. 
Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 80. 
6 JAKOBS, Gunter; MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. 
(Organizado e Traduzido por: CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José). 2. Ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 55. 
7 HULSMAN, Louk. CELIS, Jacqueline Bernat de. Penas Perdidas: O sistema penal em questão. 
(Tradução: KARAM, Maria Lúcia). 1. ed. Rio de Janeiro: Luam, 1993, p. 12. 
11 
 
 
simbólica, porém, se apenas esta função for cumprida, não haverá justificativa para 
a imposição de qualquer sanção ao suposto infrator. 8 
Anote-se, por derradeiro, que o simbolismo ora em estudo não é exclusivo 
apenas das leis penais, existindo em todas as searas do direito. Porém, no que diz 
respeito às normas penais, estas tendem a trazer consigo maior grau de simbolismo, 
haja vista serem mandamentos de proibições que deveriam, em tese, efetivar a 
proteção a determinado bem da sociedade. 9 
Sendo assim, é possível analisar a relação do simbolismo penal com a 
política criminal que permeia o ordenamento jurídico brasileiro, objetivando traçar as 
linhas introdutórias para a temática centra da presente monografia, que é o 
confronto da Lei do Feminicídio com o supracitado simbolismo penal. 
 
1.1 Da política criminal 
 
A política criminal pode ser inicialmente conceituada como sendo a arte 
legislativa que transpõe o direito penal da teoria para a prática, demonstrando os 
meios que o legislador pode utilizar para proteger o direito natural da sociedade 
(bem coletivo) e, consequentemente, prevenir o crime. 10 
Para entender as noções de política criminal é necessário, primeiramente, 
trabalhar alguns pontos, ainda que de forma sucinta, sobre a criminologia. 
Etimologicamente, criminologia vem do latim crimino, que significa “crime”, 
assim como do grego logos, significando “estudo”. Assim, pode ser entendida como 
“estudo do crime”. 
Entretanto, Sérgio Salomão Schecaira ressalta que a criminologia não 
estuda apenas o crime, mas também as circunstâncias sociais, a vítima, o criminoso, 
o prognóstico delitivo, entre outros fatores. 11 
De outro lado, a palavra “criminologia” foi pela primeira vez usada em 1883 
por Paul Topinard e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em seu livro 
Criminologia, no ano de 1885. 12 
 
8 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 9. 
Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 31. 
9 JAKOBS, Gunter;MELIÁ, Manuel Cancio. Direito Penal do Inimigo: noções e críticas. 
(Organizado e Traduzido por: CALLEGARI, André Luís; GIACOMOLLI, Nereu José). 2. Ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 56. 
10 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 14/28. 
11 SCHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 17. 
12 
 
 
João Farias Júnior entende ser a criminologia uma ciência empírica13 e 
interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do 
comportamento delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas. 14 
Por ser eminentemente empírica, o objeto de estudo da criminologia (crime, 
criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos 
valores, como ocorre com o direito, que é uma ciência mais normativa e valorativa. 
Ademais, trata-se de ciência cuja interdisciplinaridade advém de sua própria 
consolidação histórica como ciência dotada de autonomia, tendo em vista a 
influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, 
o direito, a medicina legal etc. 
Dito isso, verifica-se que a política criminal possui como base a própria 
criminologia, podendo ser vislumbrada como o conjunto de princípios do conteúdo 
sistemático e garantista que visam a investigação científica sobre as causas do 
crime e da eficácia da sanção penal, através da qual o Estado deve utilizar para a 
batalha contra a criminalidade. 15 
No entender de Luiz Flávio Gomes, a política criminal é uma ciência cujo 
campo é extremamente amplo, de muitas possibilidades, inclusive a tarefa de, 
através da atividade legislativa, auxiliar na prevenção da criminalidade e na proteção 
da sociedade. 
Sendo assim, pode-se entender que a política criminal se debruça sobre os 
meios de combate ao crime, depois deste ter sido cometido, verificando como as leis 
em vigência podem se adequar ao fenômeno em questão. 
A título de complementação, há quem adote a posição de que as ciências 
relacionadas ao fenômeno do crime e suas adjacências se dividem em: Direito 
Penal; Política Criminal e Criminologia. 
A primeira se apresenta como a ciência jurídica metódica. A segunda, como 
a investigação dos elementos eficazes para garantir os fins previstos pelo Direito 
Penal, ao passo que a terceira se apresenta como uma ciência especulativa, 
indicando teoricamente os fenômenos e fatores sociais do crime. 16 
 
12 SCHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 17. 
13 Empírica: baseada na observação e na experiência. 
14 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. 4. ed. Curitiba: Ed. Juruá, 2009, p. 76-88., p. 76. 
15 MOLINA, Antônio Garcia Pablos. Criminologia: introdução e seus fundamentos teóricos. Trad. 
Luís Flávio Gomes. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 33. 
16 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 11. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2012, p. 101. 
13 
 
 
Entretanto, Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli asseveram 
que a política criminal possui um escopo mais amplo do que o tradicionalmente 
cunhado. Para os referidos doutrinadores, a mesma pode ser uma disciplina de 
observação, definindo quais os objetivos do sistema penal e como serão 
alcançados, assim como a tarefa de legislar corretamente, objetivando obter os mais 
eficazes resultados no embate contra a criminalidade. 17 
Com base na finalidade da política criminal trazida pelos doutrinadores 
supracitados, importante mencionar que a Constituição Federal de 1988 determina a 
competência para legislar sobre o processo de criminalização ou descriminalização 
de determinadas condutas, sobrelevando, pois, os bens jurídicos que necessitam de 
maior cuidado. 
Tais competências fazem com que o legislativo tenha a responsabilidade de 
criar a descrição das condutas socialmente reprovadas, com tese nos anseios da 
coletividade, assim como as sanções que serão cominadas para aqueles que 
violarem a lei. 
Neste diapasão, a atividade legislativa deveria ser, em tese, precedida de 
uma análise sob o escopo das políticas criminais aplicáveis a cada caso concreto, 
de modo a dar a efetiva e devida resposta ao problema da criminalidade, sem que 
existam excessos ou lacunas na lei, impossibilitando sua efetividade. 18 
De outro lado, a política criminal também analisa todos os fenômenos que 
circundam a problemática da criminalidade, como, por exemplo, a marginalidade 
social e a desigualdade de renda. 
Assim, Luiz Flávio Gomes chama a atenção para a necessária autonomia 
que a política criminal deve ter, não se apresentando como ciência meramente 
auxiliar do Direito Penal e da Criminologia. 19 
Corroborando com o pensamento supra, João Farias Júnior entende que a 
política criminal deve ser o fundamento do discurso social e legal da 
descriminalização ou criminalização de condutas, moldando seus comandos com 
base nos interesses sociais previstos na Constituição. 20 
 
17 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 9. 
Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 50. 
18 SCHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 20. 
19 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 20-31. 
20 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. 4. ed. Curitiba: Ed. Juruá, 2009, p. 76-88., p. 32. 
14 
 
 
Contudo, a aplicação do direito penal depende de vários fatores, a serem 
analisados em cada caso concreto, através da integração da norma na realidade 
prática, atitudes que não mais dependem do legislador, mas sim dos órgãos 
responsáveis pelo julgamento (Poder Judiciário). 21 
A política criminal também lança seus olhares para o que se denomina 
“prevenção delitiva”, ou seja, um conjunto de ações que objetivam evitar a 
ocorrência do delito. 22 
Ressalta-se que a noção de prevenção delitiva não é algo novo, passando 
por inúmeras transformações com o passar dos tempos em função da influência 
recebida de várias correntes doutrinárias. 
Sedimentando tal temática, Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique 
Pierangeli asseveram que o Estado de Direito, o qual deveria prevenir atos nocivos e 
consequentemente manter a paz e harmonia social, por muitas vezes mostra-se 
insuficiente. Para tanto, faz-se necessário a existência de dois tipos de medidas: 
uma atingindo indiretamente o delito e outra, diretamente. 23 
Em resumo, vez que não se trata da temática central do presente trabalho, 
as medidas indiretas objetivam analisar as causas do crime, sem, contudo, atingi-lo 
imediatamente. Trata-se de ação que demanda um campo de atuação intenso e 
extenso, buscando todas as causas possíveis da criminalidade, próximas ou 
remotas, genéricas ou específicas. 24 
Assim, as ações indiretas focalizam em dois caminhos básicos: o indivíduo e 
o meio em que ele vive. 
Sobre o indivíduo, é analisado seu aspecto pessoal, seu caráter e 
temperamento, objetivando moldar e motivas a sua conduta, ao passo que o meio 
social é analisado sob enfoque múltiplo, conjugando como as medidas sociais, 
políticas e econômicas podem proporcionar uma sensível melhoria de vida ao ser 
humano. 25 
 
21 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. 4. ed. Curitiba: Ed. Juruá, 2009, p. 76-88., p.76-
88. 
22 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 14-88. 
23 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 9. 
Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 71-98. 
24 SCHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 27-60. 
25 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. 4. ed. Curitiba: Ed. Juruá, 2009, p. 76-88. 
15 
 
 
Ressalta-se, contudo, que da mesma forma que o meio pode levar o homem 
à criminalidade, também pode ser um fator estimulante de alteração comportamental 
positiva. Nesse aspecto, a urbanização das cidades, o fomento de empregos e 
reciclagem profissional, a educação pública, gratuita e acessível a todos, dentre 
outras políticas públicas, podem claramente imbuir o indivíduo de boas ações e 
oportunidades. 
Já as medidas diretas de prevenção criminal direcionam-se para a infração 
penal que já ocorreu ou que está em formação. Para tanto, grande valia possuem as 
medidas de ordem jurídica, dentre as quais se destacam aquelas atinentes à efetiva 
punição de crimes graves, como nos casos dos delimitados no rol de crimes 
hediondos. 
Sobre a atuação direta em questão, Luiz Flávio Gomes traz alguns 
exemplos: atuação da polícia ostensiva em seu papel de prevenção, manutenção da 
ordem e vigilância; aparelhar e treinar as polícias judiciárias para a repressão delitiva 
em todos os segmentos da criminalidade; repressão jurídico-processual, além de 
medidas de cunho administrativo, contra o jogo, a prostituição, a pornografia 
generalizada etc.; elevação de valores morais, com o culto à família, religião, 
costumes e ética, além da reconstrução do sentimento de civismo. 26 
Portanto, além de delimitar as fronteiras da punibilidade, a política criminal é 
responsável por ditar quais normas são eficazes para o ordenamento jurídico 
vigente, revogando ou alterando aquelas que não sejam, complementando-as, se 
necessário. 
Não se trata de seara imutável, estagnada, pelo contrário: deve estar em 
constante mutação, acompanhando os anseios e as vontades da sociedade, sob as 
quais se constroem a valoração dos bens jurídicos. 27 
Entretanto, importa mencionar que a política criminal, por vezes, atropela 
suas próprias finalidades, criando tipos penais, normas incriminadoras que 
representam um anseio social momentâneo ou que não atingem o objetivo 
primordial, que seria a proteção de bem jurídico determinado. 
Tais atropelos ocorrem, muitas vezes, por influência de órgãos ou camadas 
da sociedade que não deveriam exercer tanta influência como efetivamente 
 
26 GOMES, Luiz Flávio. Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito penal 
crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 14-88. 
27 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. 4. ed. Curitiba: Ed. Juruá, 2009, p. 76-88.. 
16 
 
 
exercem. Para o caso em tela, explanar-se-á um pouco acerca da influência 
midiática na elaboração de políticas criminais e consequente criminalização de 
condutas, conforme se passa a expor adiante. 
 
1.2 Da influência midiática na política criminal 
 
A palavra mídia é de origem latina (plural de médium, que quer dizer meio), 
a qual é muito utilizada nos dias atuais, porém não é fácil encontrar uma definição 
para o termo, pois muitas vezes é utilizada como uma “designação genérica dos 
meios, veículos e canais de comunicação, como, por exemplo, jornal, revista, rádio, 
televisão, outdoor, etc.”28 
É notável que desde os primórdios a curiosidade sempre foi uma 
característica da população, suscitando assim a vocação dos contadores de história, 
que iam desde os aedos gregos aos troveiros da Idade Média, os quais cumpriam 
uma função de comunicação. 
Na Antiguidade e na Idade Média há a figura dos mensageiros, os quais 
pertenciam a uma rede de coleta e difusão de informação, que se fazia de forma oral 
ou por escrito. Essas notícias eram levadas ao conhecimento de um público, por 
diversas vias, do pregoeiro ao cartaz-edital29. 
A partir do século XV ocorreu uma série de fatores que contribuíram para o 
aumento da sede por notícias no Ocidente, sendo eles políticos, econômicos e 
intelectuais, dados pelo Renascimento, as Reformas, os processos de trocas 
bancárias e comerciais30. 
Na metade do século XX, os meios de comunicação dão um grande salto no 
quesito proporção, com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento de novas 
mídias, tal como a televisão. Foi na década de 30 que ocorreu na Alemanha, a 
primeira transmissão oficial de televisão e rádio, com o uso de ondas curtas, 
transformou-se em um grande instrumento de propaganda política, ideológicas e 
 
28 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da 
língua portuguesa. 14. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2010. 
29 BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: Do Discurso Punitivo à corrosão simbólica do 
Garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. p. 57. 
30 BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: Do Discurso Punitivo à corrosão simbólica do 
Garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. p. 57. 
17 
 
 
comercial. Na década seguinte, começam a serem produzidos filmes especiais para 
a televisão. Porém a grande revolução veio mesmo com o surgimento da internet31. 
Na década de 70, com o desenvolvimento dos meios de comunicação “a 
mídia começava a deixar o papel de mero veículo de informação, com efeitos 
limitados e de curto prazo, para se transformar em agente construtor de realidades 
na vida dos indivíduos” 32. 
Atualmente, os meios de comunicação deixaram de ser entendidos como 
meros canais, passando a serem vistos como grandes responsáveis para a 
formação da opinião pública interferindo na maneira de como as pessoas formam 
sua convicção. 
Observa-se também nesse novo paradigma “a ampliação quantitativa e 
qualitativa do conhecimento, objeto dos meios de comunicação de massa e fator 
condicionante da inovação técnica e do crescimento econômico” 33. 
 Assim, na década de 90, o termo mídia passa a ser amplamente utilizado, 
tendo como a melhor definição defendida por Luana Magalhães de Araújo Cunha e 
Venício Arthur de Lima, que assim lecionam: 
 
O conjunto de instituições que utiliza tecnologias específicas para realizar a 
comunicação humana. Vale dizer que a mídia implica na existência de um 
intermediário tecnológico para que a comunicação se realize. A 
comunicação passa, portanto, a ser uma comunicação midiatizada. Este é 
um tipo específico de comunicação que aparece tardiamente na história da 
humanidade e se constitui em um dos importantes símbolos da 
modernidade. Duas características da mídia são a sua unidirecionalidade e 
a produção centralizada e padronizada de conteúdos. Concretamente, 
quando falamos de mídia, estamos nos referindo ao conjunto das emissoras 
de rádio e de televisão (aberta e paga), de jornais e de revistas, do cinema 
e das outras diversas instituições que utilizam recursos tecnológicos na 
chamada comunicação de massa.34 
 
Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli35 consideram “os meios 
de comunicação de massa uma verdadeira fábrica de realidades, capaz de construir 
 
31 PEREIRA, André Luiz Gardesani. Júri, Mídia e Criminalidade: Proposta tendente a evitar a 
influência da mídia sobre a soberania dos veredictos. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 102, 
n.928, fev. 2013. 
32 CUNHA, Luana Magalhães de Araújo. Mídia e Processo Penal: A influência da imprensa nos 
julgamentos dos crimes dolosos contra a vida à luz da Constituiçãode 1988. Revista Brasileira de 
Ciências Criminais, São Paulo, v.20, n. 94, p.202, jan./fev. 2012. 
33 BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: Do Discurso Punitivo à corrosão simbólica do 
Garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. p. 57. 
34 LIMA, Venício Artur de. Mídia: teoria e política. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2011. 
35 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 9. 
Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 71-98. 
18 
 
 
a realidade mediante a projeção de imagens e discursos que produzem efeitos reais 
sobre situações definida como reais”. 
Nos termos supracitados, incumbiria ao Estado prevenir e combater a 
criminalidade de várias formas, destacando, para o presente estudo, a utilização da 
política criminal para indireta ou diretamente atingir o referido objetivo. Sendo assim, 
o interesse público é fator determinante no momento de confecção de determinada 
lei. 
Luiz Flávio Gomes36 conceitua o Interesse público como sendo o interesse 
de uma coletividade vista em sua totalidade, personificando o próprio Estado. Trata-
se do interesse da preservação constante dos valores transcendentais da 
sociedade. Não se trata do interesse de um ou de alguns, nem mesmo é o interesse 
só do Estado, enquanto pessoa jurídica empenhada na consecução de seus fins. É 
o interesse de todos, na acepção abrangente e abstrata. 
É evidente que exista um interesse público que não prejudique as questões 
judiciais, contudo, a desenfreada influência de interesses esparsos ou momentâneos 
na elaboração de leis pode gerar certo transtorno, de ordem prática e teórica. 
Apenas a título ilustrativo, importa trazer o pensamento de Ana Lúcia 
Menezes Vieira, que considera que a opinião pública não é construída livremente, 
sendo, porém, o reflexo da opinião dos próprios meios de comunicação, uma vez 
que a mídia seleciona os assuntos, ouve os especialistas que quiser, faz a matéria 
e, após sondagens de opinião, divulga as reações do público que ela mesma 
provocou.37 
Diante disso, a imprensa opera com a emoção, em busca de aumentar os 
índices de audiência, enquanto que o processo legislativo subordina-se, em tese, ao 
procedimento previsto em lei, inclusive na Constituição Federal. 
Ademais, a mídia em razão de sua facilidade de chegar até a população, 
possui intenso poder de influenciar a vida cotidiana das pessoas. De acordo com 
André Luiz Gardesani Pereira, “a consciência social, como argila na mão de um 
 
36 GOMES, Luiz Flávio. Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 14-88. 
37 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e mídia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. 
19 
 
 
artesão, pode muito bem ser formada e deformada pelos meios de comunicação de 
massa.” 38 
Pelo magistério de Raphael Boldt, a mídia difunde e legitima a ideia de que 
“todo bandido deveria morrer”, de que “temos que aumentar as penas dos crimes”, 
“criar leis mais rígidas”, “instituir a pena de morte”, entre outras assertivas, as quais, 
possivelmente influenciarão o processo legislativo atual. 39 
Os principais questionadores do excesso de influência que a mídia influi nos 
processos legislativos, afirmam que a existência de uma sociedade informada é 
realmente importante, porém, não se pode permitir que o excesso de informação 
sirva como meio de manipulação, gerando mais desinformação do que informação, 
colocando o indivíduo como mera marionete. 40 
Arrematando a temática, assevera Cesare Beccaria: 
 
[...] é melhor prevenir os crimes do que ter que puni-los; e todo legislador 
sábio deve procurar antes de impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa 
legislação não é senão a arte de proporcionar aos homes o maior bem-estar 
possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam causar, 
segundo o cálculo dos bens e dos males desta vida.41 
 
Especificamente sobre a temática central do presente estudo, o feminicídio, 
importa trazer à baila alguns apontamentos acerca da influência midiática nos crimes 
contra a vida, partindo do pressuposto que esta exerce forte influência na opinião 
pública em face de crimes considerados mais graves. 
De imediato, salutar que se observe o ensinamento de Flávio Cruz Prates e 
Neusa Felipim dos Anjos Tavares: 
 
Crimes dolosos contra a vida, via de regra, têm atraído o sensacionalismo 
da mídia, induzindo muitas vezes o Conselho de Sentença a fazer valer a 
opinião pública em detrimento de sua livre convicção. Tornando-se assim 
prejudicada a exortação contida no texto do art. 466 do CPP realizada pelo 
Juiz aos Jurados: “Em nome da lei, concito-vos a examinar com 
 
38 PEREIRA, André Luiz Gardesani. Júri, Mídia e Criminalidade: Proposta tendente a evitar a 
influência da mídia sobre a soberania dos veredictos. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 102, 
n.928, fev. 2013. 
39 BOLDT, Raphael. Criminologia Midiática: Do Discurso Punitivo à corrosão simbólica do 
Garantismo. Curitiba: Juruá, 2013. p. 57. 
40 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito penal 
crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 14-88. 
41 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das Penas. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 
193. 
20 
 
 
imparcialidade esta causa e a proferir a vossa decisão, de acordo com a 
vossa consciência e os ditames da justiça”. 42 
 
Assim, a transparência da mídia não pode ser confundida com possibilidade 
de que se altere a verdade dos fatos, porquanto a publicidade deve permear a 
atuação midiática, sem que com isso se altere a opinião pública. 
Antes mesmo de qualquer diligência necessária para processar e julgar os 
acusados de terem supostamente cometido crimes contra a vida, especialmente se 
dolosos, por muitas vezes a mídia se apresenta no papel de “justiceira”, causando 
sérios transtornos ao deslinde do processo. Francesco Carnelluti, citado por Flávio 
Cruz Prates e Neusa Felipim dos Anjos Tavares assevera que “para saber se é 
preciso punir, pune-se com o processo”43. 
Do aludido magistério, infere-se que é o processo o instrumento hábil para 
dizer se o indivíduo é ou não culpado pela suposta prática delituosa. Sendo assim, o 
principio da presunção da inocência chega a ser violado pela influência dos meios 
de comunicação quando desde o início do processo apontam o acusado como 
culpado. 
Pierre Bourdiei, citado por Flávio Cruz Prates e Neusa Felipim dos Anjos 
Tavares, aduz que os instrumentos do campo midiático se sujeitam às exigências do 
mercado, seja dos leitores/ouvintes ou até mesmo dos anunciantes/patrocinadores, 
os quais exercem influência sobre os próprios jornalistas que, por sua vez, influência 
diferentes campos de produção cultura, inclusive o campo jurídico44. 
 
42 PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões do 
conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: 
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
43 CARNELLUTI, Francesco. apud PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A 
influência da mídia nas decisões do conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 
2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: 
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
44 BOURDIEU,Pierre apud TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões 
do conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: 
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
21 
 
 
A influência midiática começa quando valores éticos e morais são colocados 
em contraposição à aplicação da lei, ressalvando que alguns fatos ocorridos, 
especialmente crimes contra a vida, causam tanta repercussão e comoção que 
chegam a ultrapassar os limites do bom senso humano, tendo em vista sua 
hediondez. 
É sabido que o mundo hodierno encontra-se submerso na chamada era da 
comunicação em massa, graças aos programas de rádio, televisão, jornais, internet, 
dentre outros meios. Em face de um acontecimento relevante para a sociedade, esta 
última busca uma solução célere para os eventuais conflitos surgidos, o que muitas 
vezes, atropela a investigação pela busca da verdade real dos fatos45. 
A tarefa da mídia é árdua: transmitir à população as informações oriundas de 
julgamentos, processos judiciais, com linguagem simples e acessível, haja vista que 
o principio do acesso à justiça por parte do povo nem sempre atinge seu objetivo 
principal. Todavia, tal facilitação na retransmissão das informações, por vezes, 
acaba por alterar a realidade dos fatos, chegando até mesmo a ofender alguns 
princípios do direito processual penal. 
O papel da mídia é exatamente fazer com que a noticia chegue às pessoas 
de forma objetiva, para que assim possam realmente entender os fatos da maneira 
como realmente são. Mas para isso é necessário que a mídia tenha um pouco de 
conhecimento da justiça, pois não se pode falar daquilo que não se conhece46. 
Neste passo, como é inerente ao ser humano, algumas informações já são 
suficientes para que a grande massa concretize uma tese de condenação ou 
absolvição do acusado, que por vezes nem fora indiciado ainda47. 
Sendo assim, haja vista que os meios de comunicação se fundamentam na 
liberdade de expressão e pensamento, bem como estão diretamente ligados com o 
princípio da publicidade, a importância que estes exercem na sociedade é grande. 
 
45 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013. 
46 CARLIN, Volnei Ivo. A justiça e a mídia. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, Bauru, n. 
23, p. 23-29, ago./nov. 1998. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/ 
2011/20177/A%20justi%C3%A7a%20e%20a%20m%C3%ADdia.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 
set. 2016. 
47 PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões do 
conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: 
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
22 
 
 
De outra banda, em contraposição à referida publicidade, encontra-se a 
proteção constitucional da divulgação de informações inverídicas, que possam 
causar algum dano à pessoa, seja ele de ordem material ou moral, ressalvando que 
a Constituição Federal garante a reparação na proporção do agravo sofrido. 
Tomando como exemplo o inquérito policial, é patente a existência de 
determinado acusado, o qual, por muitas vezes, já é visto pela mídia como culpado 
pelo crime. Somado a isso, subsiste a própria justiça, que por não atender de 
imediato aos anseios da sociedade em puni-lo, tendo em vista os procedimentos a 
serem realizados, já é vista como injusta e desacreditada48. 
Acerca da necessária cautela neste momento, atesta Fernando Capez que 
“a finalidade do inquérito policial é tão somente a apuração de fato que configure 
infração penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às 
previdências cautelares”49. 
Fica evidente que, ocorrido o fato supostamente criminoso, a investigação 
acontecerá, sendo posteriormente enviada ao juízo, que dará início ao procedimento 
próprio, que dentre suas peculiaridades, garantirá ao acusado o exercício do 
contraditório e da ampla defesa. 
Neste passo, a mídia eufórica, quase sempre por lucrar com a venda das 
informações em questão, divulga fatos que muitas vezes são inverídicos, não foram 
devidamente pesquisados antes de serem ventilados, assim como laudos facilmente 
contestáveis, bem como opiniões de supostos especialistas no caso. 
A opinião pública constrói uma versão até o momento no qual o acusado é 
levado a julgamento, seja perante o juiz singular ou perante o Tribunal do Júri, fato 
que, por mais remoto que esteja, com certeza irá contaminar a decisão a ser 
proferida. 
A mídia, neste ponto, pode se apresentar como uma pressão necessária da 
qual a justiça precisa para apurar os fatos corretamente, sendo que tal pressão é 
 
48 PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões do 
conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: 
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
49 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 11. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2016, v. 4. 
23 
 
 
assimilada pela sociedade, que ao notar a ausência de celeridade e efetividade no 
julgamento, passam a enxergar a justiça da forma como a mídia apresenta50. 
Contudo, a mídia também se apresenta positivamente na busca pela 
verdade real, em alguns casos, bem como na ajuda à persecução penal. Por vezes, 
a mídia ajuda a diminuir a criminalidade, pois é ela quem noticia os casos que violam 
os valores sociais, fazendo uma pressão para que as autoridades competentes 
tomem as devidas providências51. 
Negativamente, ressalta-se que a ausência de formação específica de 
alguns jornalistas, no que tange à ciência do direito, pode levar à distorção de fatos, 
evidencias e acontecimentos, chegando até mesmo a confundir as funções dos 
poderes, ou questões inerentes à dosimetria da pena52. 
É inegável que o excesso de influência da mídia dentro do processo penal 
resultará em prejuízo, haja vista que a sociedade verá o Poder Judiciário da maneira 
como a mídia retratar e não como ele realmente é. 
Nesta toada, Ana Lúcia Menezes Vieira assevera: 
 
É comum como também, os meios de comunicação noticiam uma prisão 
temporária ou cautelar de uma determinada pessoa, elevando o provimento 
jurisdicional a categoria definitiva. Verificada a necessidade do arresto 
cautelar a noticia de liberdade do suspeito ou acusado gera na opinião 
publica uma descrença da atividade da justiça. Dai surgirem os chamados 
clichês “a policia prende a justiça solta”, “só pobre vai para a cadeia”, “o 
crime compensa”, entre outros. Sem dizer desde logo, dos resultados da 
opinião pública, ameaçados a dignidade do preso. 53 
 
Ana Lúcia Menezes Vieira ainda divide em quatro as influências que o juiz 
pode sofrer por parte da mídia, sendo elas: a) Simples influência: quando a mídia 
noticia os fatos de forma fictícia, mas sem aumenta-los; b) Influência ficta: onde a 
mídia se manifesta apresentando como deve o magistrado agir e julgar; c) Influência 
 
50 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direitopenal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013. 
51 CARLIN, Volnei Ivo. A justiça e a mídia. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, Bauru, n. 
23, p. 23-29, ago./nov. 1998. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/ 
2011/20177/A%20justi%C3%A7a%20e%20a%20m%C3%ADdia.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 
set. 2016. 
52 PRATES, Flávio Cruz ; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões 
do conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: 
<http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
53 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p 
109. 
24 
 
 
real expressa: através dos meios de comunicação, a sociedade exige uma resposta 
do Poder Judiciário, de forma célere e efetiva; d) Influência real tácita: quando a 
mídia veicula informas que indiretamente, pressionam as atitudes do juiz54. 
Apenas á título de complementação, transcreve-se abaixo quatro casos 
famosos cujos julgamentos foram fortemente influenciados pela mídia, através da 
televisão, da internet do rádio e de outros meios que atingem toda a população. 
 
1. Suzane Von Richthofen, Daniel e Cristian Cravinhos, foram condenados 
por matar os pais de Suzane, na casa que a família morava em São Paulo, 
em 2002. A pena foi de 39 anos para os dois primeiros e 38 anos para 
Cristian. 
2. Missionária Dorothy Stang, assassinada em fevereiro de 2005, às 
proximidades do município de Anapú, que atuava no trabalho com 
camponeses e na luta contra grileiros de terra tomou proporções nacionais 
e até mesmo internacionais por se tratar de missionária estrangeira e de 
pessoas poderosas da região. Neste caso foram condenados o fazendeiro 
Witalmiro Bastos a 30 anos e mais 4 pessoas envolvidas. 
3. Isabella Nardoni, criança de 5 anos de idade que sofreu queda do 6º 
andar do Edifício London em São Paulo, em 2009. Foram acusados do 
assassinato e o pai Alexandre Nardoni e madrasta Anna Carolina Jatobá. 
Condenados por homicídio triplamente qualificado. Ele a uma pena de 31 
anos, 1 mês e 10 dias, e ela a uma pena de 26 anos e 8 meses. 
4. Caso dos irmãos Naves: o fato ocorreu em Araguari – Minas Gerais. 
Sebastião Naves com 32 anos de idade e Joaquim Naves com 25 anos de 
idade, ambos condenados a 25 anos e 6 meses pela suposta morte de 
Benedito Pereira Caetano, que desaparecera em 29 de Novembro de 1937. 
No entanto, o suposto morto, reapareceu vivo em 1952. Inocentes os 
acusados. 55 
 
Pelos casos supracitados, infere-se acerca do grande poder de manipulação 
e convencimento que a mídia exerce na população, influência esta, que irá mesmo 
indiretamente, ser levada em consideração pelos julgadores. Infere-se, ainda, pelos 
casos em questão, que as penas atribuídas aos réus cujos casos foram 
acompanhados pela mídia são bem superiores a casos similares onde não houve 
participação tão forte dos meios de comunicação. 
Portanto, com base na influência midiática em questão, surgem conceitos 
como o do direito penal midiático, adiante sublinhado e de importante valia para este 
trabalho monográfico. 
 
 
54 VIEIRA, Ana Lúcia Menezes. Processo Penal e Mídia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. 
55 PRATES, Flávio Cruz; TAVARES, Neusa Felipim dos Anjos. A influência da mídia nas decisões do 
conselho de sentença. Direito & Justiça, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 34, jul./dez. 2008. Disponível 
em: http://verum.pucrs.br/F/JSQ4PEMN6HVE7KCYJHB8GS8FUR81FEN1HCNXX41GKETDVK5L4B- 
37826?func=full-set-set&set_number=004325&set_entry=000002&format=999>. Acesso em: 10 set. 
2016. 
25 
 
 
1.3 Do Direito Penal Midiático 
 
Conforme esposado em tópico pretérito, a influência da mídia resulta na 
formação da opinião das massas, moldando tais opiniões quase sempre a uma ideia 
de vingança e de justiça punitiva. 
Para o professor Luiz Flávio Gomes56, a influência em questão é 
extremamente prejudicial para o verdadeiro combate à criminalidade, vez que os 
pré-conceitos então formados não pactuam necessariamente com os princípios 
proclamados na Constituição Federal, especialmente no que diz respeito à 
presunção de inocência. 
Tal fato leva ao que o professor Alexandre Morais da Rosa intitulou de 
“McDonaldização do Processo Penal”. Nas palavras do referido autor: 
 
George Ritzer denominou de McDonaldização a racionalização extrema, em 
protocolos previsíveis e controlados, para a produção de bens e/ou 
produtos, inspirado na cadeia de lojas do McDonald, cujo efeito colateral, 
porém, é a irracionalidade. No Brasil, Jacinto de Miranda Coutinho há muito 
denuncia a maneira pela qual o discurso da eficiência, inclusive princípio 
constitucional, para os incautos de plantão, embrenhou-se pelo processo 
penal em busca da sumarização dos procedimentos, da redução do direito 
de defesa, dos recursos, enfim, ao preço da democracia. A razão eficiente 
que busca a condenação fast-food implicou nos últimos anos na 
“McDonaldização” do Direito Processual Penal: sentenças que são 
prolatadas no estilo “peça pelo número”. A estandardização da acusação, 
da instrução e da decisão. Tudo em nome de uma “McPena-Feliz”. Nada 
mais cínico e fácil de ser acolhido pelos atores jurídicos, de regra, 
“analfabetos funcionais” 57. 
 
Com espeque no conceito supracitado, chama-se a atenção para o chamado 
“ator jurídico analfabeto funcional”, ou seja, aquele indivíduo que não obstante saber 
ler todas as leis e códigos, não consegue interpretá-los, vez que defasado do ponto 
de vista filosófico e hermenêutico. 
O resultado desta figura, segundo Alexandre Morais da Rosa, é que 
aproximadamente 60% (sessenta por cento) dos juristas são incapazes de 
 
56 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito penal 
crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 14-88. 
57 ROSA, Alexandre Morais da. McDonaldização do Processo Penal e os jus analfabetos funcionais – 
Por Alexandre Morais da Rosa. Empório do Direito, jul. 2016. Disponível em: 
<http://emporiododireito.com.br/mcdonaldizacao-do-processo-penal-e-os-jus-analfabetos-funcionais-
por-alexandre-morais-da-rosa/> Acesso em 20 set. 2016. 
26 
 
 
compreender o que fazem, limitando-se apenas a reproduzir um conceito 
previamente aprendido, sem maiores questionamentos58. 
Anote-se, contudo, que estamos tratando de pessoas que laboram 
diretamente com o Direito, as quais se transformam e se misturam na mesma massa 
que é facilmente influenciada pela mídia. 
Lado outro, o direito penal midiático traz uma ideia extremamente 
equivocada, notadamente ao reivindicar maior eficiência da persecução penal com 
base no corte de direitos constitucionais. Segundo Luiz Flávio Gomes59, “não se 
pode cobrir um corpo descobrindo outro, quando há cobertor para os dois”. 
Alexandre Morais da Rosa, coadunando com o posicionamento supra, 
complementa que: 
 
[...] o problema fundamental reside no fato de que a justificativa para a 
exceção encontra-se encoberta ideologicamente”. Acredita-se, muito de 
boa-fé, a maioria, de que se está realizando o bem. Salvando a sociedade 
de um “terrorista social”. Esqueceu-se de que para o uso do poder existem 
pelo menos dois limites: o processo e o ético. [...] É preciso resgatar a 
Constituição Originária, na linha de Paulo Bonavides, exercitar o controle de 
constitucionalidade difuso e deixar de fazer como todo mundo faz. Porque 
assistir de camarote o que se passa com as vítimas do sistema penal não 
exclui nossa responsabilidade ética com as mortes: somos coautores, donosso lugar, por omissão. Por isso que ao se defender garantias 
constitucionais, hoje, o sujeito pode ser preso em flagrante, sem liberdade 
provisória diante dos “maus antecedentes” 60. 
 
Sedimentando tais noções introdutórias, pode-se passar para a análise da 
Lei n. 13.104/15, o Feminicídio, de modo a preparar o solo para a posterior 
discussão acerca da efetividade da referida Lei, sob o prisma do simbolismo penal e 
da política criminal, acima mencionados. 
 
 
 
 
 
58 ROSA, Alexandre Morais da. McDonaldização do Processo Penal e os jus analfabetos funcionais – 
Por Alexandre Morais da Rosa. Empório do Direito, jul. 2016. Disponível em: 
<http://emporiododireito.com.br/mcdonaldizacao-do-processo-penal-e-os-jus-analfabetos-funcionais-
por-alexandre-morais-da-rosa/> Acesso em 20 set. 2016. 
59 GOMES, Luiz Flávio Populismo penal midiático: caso mensalão, mídia disruptiva e direito 
penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 51. 
60 ROSA, Alexandre Morais da. McDonaldização do Processo Penal e os jus analfabetos funcionais – 
Por Alexandre Morais da Rosa. Empório do Direito, jul. 2016. Disponível em: 
<http://emporiododireito.com.br/mcdonaldizacao-do-processo-penal-e-os-jus-analfabetos-funcionais-
por-alexandre-morais-da-rosa/> Acesso em 20 set. 2016. 
27 
 
 
2 DA LEI Nº 13.104/15, O FEMINICÍDIO 
 
A Lei n. 13.104, promulgada em 10 de março de 2015, trouxe para o 
ordenamento jurídico pátrio a figura do feminicídio, baseando-se, primeiramente, em 
dados e estatísticas oriundas de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, 
instituída em 2013 para analisar as inúmeras formas de violência contra as 
mulheres. 
A título de complementação, no referido relatório, consta que quarenta e três 
mil e setecentas mulheres foram assassinadas no Brasil entre os anos de 2000 e 
2010, sendo que 41% delas foram mortas em suas residências, por pessoas com 
quem mantinham relações domésticas, de coabitação ou de afeto. 
Assim, passemos para a análise do conceito do feminicídio, tendo como 
base a doutrina pátria, sobre a qual, salienta-se que ainda pode ser considerada 
como recente, tendo em vista a criação do instituto em análise ter ocorrido em 2015, 
há pouco mais de um ano. 
 
2.1 Conceito 
 
Em linhas introdutórias, é possível encontrar o termo “femicídio” como 
sinônimo do feminicídio. Contudo, deve-se ressaltar que são termos distintos, vez 
que o primeiro se refere ao homicídio de mulher em razão do gênero e o segundo é 
o homicídio de qualquer mulher61. 
Apesar de soarem como idênticos, principal diferença entre os termos 
supracitados está no fato de que no feminicídio deve existir um sentimento de ódio, 
raiva, desprezo pela simples condição da vítima ser mulher, conforme se mostrará 
adiante, qualificando, pois, a figura do homicídio. 
Ressalta Carmen Hein de Campos62 que vários países da América Latina 
tipificaram o feminicídio, citando, como exemplo, os casos de Costa Rica, Chile e 
Peru, nos quais as legislações punem de maneira mais severa o homicídio cometido 
por alguém que tenha mantido ou mantenha relacionamento íntimo, tal qual cônjuge 
e companheiro. 
 
61 ANDRADE, Léo Rosa. Feminicídio, monogamia, violência contra mulheres. Disponível em: 
http://leorosa.jusbrasil.com.br/artigos/172692529/feminicidio-monogamia-violencia-contra-mulheres. 
Acesso em 02 out. 2016. 
62 CAMPOS, Carmen Hein de. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal & 
Violência, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 103-115, jan-jun. 2015. 
28 
 
 
A referida autora ainda destaca que em El Salvador, Guatemala e no 
México, o homicídio de mulheres é punido de forma autônoma caso o delito tenha 
ocorrido em razão do gênero63. 
O feminicídio é uma das muitas formas qualificadas do crime de homicídio, 
constando no parágrafo 2º do artigo 121 do Código Penal, notadamente no inciso VI. 
Tem-se a referida figura típica quando o crime é praticado contra mulher por razões 
de diferença de gênero, quando envolve violência doméstica e familiar ou 
menosprezo e discriminação à condição de mulher. 
Ademais, a previsão de pena para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos 
de reclusão, para além de ter integrado o rol de crimes hediondos (art. 1º, Lei 
8072/90), tornando-se insuscetível de fiança, graça ou indulto. 
No mesmo timbre, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até 
a metade, se o crime for praticado durante a gestação ou nos três meses posteriores 
ao parto; contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 ou pessoa com deficiência; 
e na presença de descendente ou ascendente da vítima. 
Sendo assim, o feminicídio pode ser considerado com o assassinato de 
mulheres em razão do seu gênero, especialmente se houver discriminação, 
menosprezo etc. 
Neste diapasão, o homicídio será qualificado quando praticado contra a 
mulher por razões da condição de sexo feminino, considerando que tais razões 
estarão presentes quando o crime envolver violência doméstica e familiar; 
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Vejamos o dispositivo legal ora 
apresentado para estudo: 
 
Art. 121. Matar alguém: 
[…] 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
[...]VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o 
crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
 
Pela letra da lei, acima retratada, a simples qualidade de “mulher” atribuída 
ao sujeito passivo do homicídio não enseja necessariamente a existência do 
 
63 CAMPOS, Carmen Hein de. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal & 
Violência, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 103-115, jan-jun. 2015. 
29 
 
 
feminicídio. Para a configuração deste, deve coexistir uma violência em razão do 
gênero, de modo que o agressor adota uma atitude de suposto “exercício de posse” 
sobre a vítima, subjugando-a pelo seu gênero64. 
Conforme ensinamento de Carmen Hein de Campos65, não será qualquer 
homicídio de mulher que se enquadrará no tipo penal do feminicídio. Para tanto, o 
crime deverá se enquadrar nas hipóteses dos artigos 5º e 7º da Lei Maria da Penha, 
já mencionada, ou quando houver discriminação ou desprezo da mulher meramente 
em razão de seu gênero. 
Anote-se que os referidos artigos da Lei Maria da Penha consideram que 
são várias as modalidades de violência doméstica contra a mulher, ressaltando o 
fato de o artigo 7º menciona expressamente que tais formas de violência elencadas 
na Lei são meramente exemplificativas, podendo existir outras. Portanto, alguns 
apontamentos específicos sobre os artigos 5º e 7º, supramencionados, podem ser 
realizados adiante. 
Primeiramente, a violência em estudo pode ocorrer em qualquer local no 
qual a agredida resida ou até mesmo fora da residência, desde que seja praticada 
por determinado sujeito que viva ou tenha vivido com a ofendida, mesmo que sem 
vínculo familiar. Ainda, pode ocorrer se realizada por familiares, unidas por laços 
naturais, de afinidade, ou mesmo por vontade expressa. 
Sobre as formas de violência, estas podem ser corporais, psicológicas, 
morais, patrimoniais ou sexuais, podendo, inclusive, serem cometidas por omissão, 
desde que embasada no gênero. 
Para Fernando Capez66, uma das inovações da legislação protetiva às 
mulheres repousa no fato de que as mesmas são consideradas em situação de 
vulnerabilidade ou hipossuficiência. 
O crime de feminicídio terá sua pena aumentada de um terço até a metade 
se o delito for cometido durantea gestação ou nos três meses posteriores ao parto; 
contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência; na presença 
 
64 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Feminicídio: mais um capítulo do Direito Penal Simbólico 
agora mesclado com o Politicamente Correto. Disponível em 
<http://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/159300199/feminicidio-mais-um-capitulo-do-direito-
penal-simbolico-agora-mesclado-com-o-politicamente-correto>. Acesso em 30 set. 2016. 
65 CAMPOS, Carmen Hein de. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal & 
Violência, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 103-115, jan-jun. 2015. 
66 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 11. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2016, v. 4. 
30 
 
 
de descendente ou de ascendente da vítima, a rigor do que preconiza o parágrafo 7º 
do referido artigo 121. 
Exemplificando as hipóteses supramencionadas, haverá o agravamento da 
pena quando o delito for praticado durante o período de gravidez, ou mesmo após o 
nascimento da criança, no interstício de três meses posteriores ao parto. Se ocorrer 
durante o período de gravidez, poderá ensejar: a morte do feto e da vítima; a 
sobrevivência do feto com a morte da vítima; o falecimento do feto e a sobrevivência 
da vítima; feto e vítima sobrevivem67. 
Sublinham-se tais hipóteses tão somente para mencionar que independente 
dos resultados, ou seja, da morte ou sobrevivência da vítima e do feto, a pena 
deverá ser agravada. 
No mesmo passo, a pena será aumentada quando o crime for cometido nos 
três meses posteriores ao parto, partindo do pressuposto que neste período a mãe 
ainda encontra-se combalida pelos procedimentos do parto, ao passo que a criança 
ainda é muito dependente da mãe. 
A idade da vítima também é causa de aumento da pena, vez que a 
legislação determina o aumento caso a referida vítima seja menor de 14 (quatorze) 
anos ou maior de 60 (sessenta) anos. Também haverá o aumento de pena se a 
mesma for portadora de deficiência. 
Fundamenta-se a existência da majorante em razão da idade pelo fato de 
que estas pessoas merecem maior proteção do direito penal em face da tenra ou 
avançada idade, além de considerarem que a conduta do agente é mais reprovável 
nos casos em questão68. 
Já sobre a deficiência, tendo em vista que o dispositivo legal é omisso, pode-
se entender que se trata de toda e qualquer espécie de deficiência que seja hábil a 
diminuir a possibilidade de resistência da vítima69. 
 
67 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 11. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2016, v. 4. 
68 PEREIRA, Jeferson Botelho. Breves apontamentos sobre a Lei nº 13.104/2015, que cria de 
crime feminicídio no Ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em 
<http://jus.com.br/artigos/37061/breves-apontamentos-sobre-a-lei-n-13-104-2015-que-cria-de-crime-
feminicidio-no-ordenamento-juridico-brasileiro#ixzz3XL6hUNSJ>. Acesso em 30 set. 2016. 
69 PEREIRA, Jeferson Botelho. Breves apontamentos sobre a Lei nº 13.104/2015, que cria de 
crime feminicídio no Ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em 
<http://jus.com.br/artigos/37061/breves-apontamentos-sobre-a-lei-n-13-104-2015-que-cria-de-crime-
feminicidio-no-ordenamento-juridico-brasileiro#ixzz3XL6hUNSJ>. Acesso em 30 set. 2016. 
31 
 
 
O crime cometido na presença de ascendente ou descendente da vítima 
também é motivo para o agravamento da pena, partindo do pressuposto que tal 
atitude causará um enorme abalo psicológico a quem assiste o delito, especialmente 
por se tratar de ascendente ou descendente70. 
As particularidades da lei nos levam ao raciocínio de que o julgador deverá 
considerar cada caso concreto no momento da dosimetria da pena. A ocorrência de 
uma ou mais de uma causa de aumento, a idade da vítima, o resultado em relação 
ao feto, por exemplo, são situações que podem ser levadas em consideração pelo 
Juiz para dosar o aumento da pena dentro do limite legal, que é de um terço até a 
metade71. 
Como anteriormente mostrado, o feminicídio se enquadra como uma forma 
de homicídio qualificado, o qual é definido como crime hediondo. Assim, as 
circunstâncias que qualificam o homicídio são mais complexas e variadas que 
aquelas que o privilegiam. 
Para Léo Rosa Andrade72 o bem jurídico protegido pelo feminicídio é o 
direito à vida, o qual está consagrado no art. 5.º, caput, da Constituição Federal 
como direito fundamental do ser humano. Trata-se de direito inerente a todos os 
homens e aceito por todas as nações, imprescindível para a manutenção e para o 
desenvolvimento da pessoa humana. E, se não bastasse a previsão expressa pelo 
art. 5.º, caput, o direito à vida teve sua proteção constitucional reforçada pelos 
artigos. 22773, caput, e 23074, caput. 
No tocante à competência, salvo o homicídio culposo, cuja ação penal 
tramita perante o juízo singular, todos os demais crimes são julgados pelo Tribunal 
 
70 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 11. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2016, v. 4. 
71 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 11. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2016, v. 4. 
72 ANDRADE, Léo Rosa. Feminicídio, monogamia, violência contra mulheres. Disponível em: 
http://leorosa.jusbrasil.com.br/artigos/172692529/feminicidio-monogamia-violencia-contra-mulheres. 
Acesso em 02 out. 2016. 
73 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao 
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. 
74 Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, 
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida. 
32 
 
 
do Júri, em atendimento à regra prevista no art. 5.º, inciso XXXVIII, alínea “d” 75, da 
Constituição Federal, incluindo, pois, o feminicídio. 
E a ação penal, em decorrência lógica da indisponibilidade do direito à vida, 
sempre será pública incondicionada, circunstância que não impede, em caso de 
inércia do Ministério Público, a utilização da ação penal privada subsidiária da 
pública, garantida pelo art. 5.º, inciso LIX, da Constituição Federal76. 
Importante observar que o feminicídio não se restringe a clássicos conceitos 
de “mulher”, biologicamente falando. Assim, Jeferson Botelho Pereira77 assevera 
que um homossexual, tanto masculino como feminino, e até mesmo um transgênero 
podem figurar como vítimas do tipo penal em estudo, desde que o crime tenha sido 
provocado por razões de gênero. 
Em contraposição ao pensamento exposto acima, Eduardo Luiz Santos 
Cabette78 entende que a vítima do feminicídio só poderá ser mulher, ao passo que o 
autor em geral será homem, mas nada obstará que uma mulher atue como coautora 
ou partícipe. 
Nesta linha de raciocínio, continua o referido autor: 
 
Além disso, tendo por base a Lei 11.340/06 não é totalmente afastável a 
hipótese de que uma mulher possa ser sujeito ativo do crime de 
“Feminicídio”, desde que esteja atuando em uma relação de “violência de 
gênero” contra a vitimada. Por exemplo, se uma mãe mata a própria filha 
porque não quer permitir que esta estude e pretende lhe impor um papel 
social estritamente feminino segundo uma visão que divide de forma 
estanque as funções sociais de homens e mulheres (inteligênciado artigo 
5º. E seu Parágrafo Único da Lei11.340/06 que, aliás, não exclui da 
violência de gênero as relações homoafetivas) 79. 
 
75 Art. 5º. [...] XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, 
assegurados: 
a) a plenitude de defesa; 
b) o sigilo das votações; 
c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; 
76 Art. 5º. [...] LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada 
no prazo legal. 
77 PEREIRA, Jeferson Botelho. Breves apontamentos sobre a Lei nº 13.104/2015, que cria de 
crime feminicídio no Ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em 
<http://jus.com.br/artigos/37061/breves-apontamentos-sobre-a-lei-n-13-104-2015-que-cria-de-crime-
feminicidio-no-ordenamento-juridico-brasileiro#ixzz3XL6hUNSJ>. Acesso em 30 set. 2016. 
78 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Feminicídio: mais um capítulo do Direito Penal Simbólico 
agora mesclado com o Politicamente Correto. Disponível em 
<http://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/159300199/feminicidio-mais-um-capitulo-do-direito-
penal-simbolico-agora-mesclado-com-o-politicamente-correto>. Acesso em 30 set. 2016. 
79 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Feminicídio: mais um capítulo do Direito Penal Simbólico 
agora mesclado com o Politicamente Correto. Disponível em 
33 
 
 
 
Ainda, Léo Rosa de Andrade80 concorda com tal posicionamento e destaca 
que a violência tida como doméstica ou familiar só pode ter como vitima a mulher, 
não importando, porém, sua preferência sexual ou suas condições pessoais. 
No que diz respeito ao sujeito ativo do feminicídio, tendo em vista a omissão 
legislativa, infere-se que qualquer um pode cometer tal delito, não importando se é 
mulher ou homem. 
Carmen Hein de Campos81 assevera que é plenamente possível que uma 
mulher esteja em situação de vulnerabilidade para com outra mulher, bem como 
nutra um sentimento de ódio, discriminação ou menosprezo em relação ao sexo 
feminino, caracterizando, pois, o feminicídio. 
Somente para fins de conceituação teórica, Vinicius Rodrigues Arouck82 
aduz que há três tipos de feminicídio: o íntimo, ocorrido quando determinado homem 
assassina uma melhor que teve algum tipo de relação íntima, ainda que sejam 
apenas amigos; o não íntimo, que ocorre quando inexistia um vínculo de 
proximidade entre o agressor e a vítima; e o feminicídio por conexão, entendido 
quando um homem almeja matar uma mulher mas, por erro, acaba assassinando 
outra. 
 
2.2 Justificativa do Projeto de Lei 292/13 
 
A Lei do Feminicídio surgiu após recomendação de uma Comissão 
Parlamentar Mista de Inquérito que investigou a violência contra as mulheres nos 
diversos estados brasileiros, no período compreendido entre março de 2012 a julho 
de 2013. 
Segundo consta na exposição dos motivos da referida lei: 
 
 
<http://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/159300199/feminicidio-mais-um-capitulo-do-direito-
penal-simbolico-agora-mesclado-com-o-politicamente-correto>. Acesso em 30 set. 2016. 
80 ANDRADE, Léo Rosa. Feminicídio, monogamia, violência contra mulheres. Disponível em: 
http://leorosa.jusbrasil.com.br/artigos/172692529/feminicidio-monogamia-violencia-contra-mulheres. 
Acesso em 02 out. 2016. 
81 CAMPOS, Carmen Hein de. Feminicídio no Brasil: uma análise crítico-feminista. Sistema Penal & 
Violência, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 103-115, jan-jun. 2015. 
82 AROUCK, Vinicius Rodrigues. Feminicídio, uma alteração legislativa necessária? Disponível em 
<http://jus.com.br/artigos/36988/comentarios-acerca-do-feminicidio-uma-abordagem-
critica#ixzz3Z5tvOSQH>. Acesso em 30 set. 2016. 
34 
 
 
Uma das principais proposições apresentadas pela CPMI da violência 
Contra a Mulher foi a que cria a qualificadora do feminicídio, pois introduz 
na lei uma conduta que está visível em nossa sociedade o assassinato de 
mulheres apenas por serem mulheres. Não podemos reduzir este crime 
apenas àquele que ocorre em violência doméstica e familiar, há muitas 
mulheres que são assassinadas com requintes de crueldade apenas por 
serem mulheres e nada tem a ver com violência doméstica e familiar83. 
 
Ainda de acordo com a justificação apresentada no Senado Federal: 
 
Antes de buscar criar uma nova penalização, esta emenda pretende 
evidenciar este crime que não pode e não deve ser confundido com o 
homicídio comum, uma vez que o feminicídio tem características próprias, é 
perfeitamente observável em seu contorno cruel e misógino, e que não se 
encerra apenas na morte da vítima, tem outros atos que buscam subjugar a 
vítima, até mesmo após a morte, como mutilações e violações diversas, 
sempre reafirmando a superioridade e a força do homem como se fosse um 
direito seu concretizar aquele ato84. 
 
Importa mencionar, ainda, que na justificação do aludido projeto de lei, o 
relatório final mencionou que no país, entre 2000 e 2012, 43,7 mil mulheres foram 
assassinadas. Desta monta, 41% foram mortas em suas próprias casas, pelas mãos 
de companheiros ou ex-companheiros. Já entre 1980 e 2010, o número de 
assassinatos dobrou, indo da escala de 2,3 assassinatos por 100 mil habitantes para 
4,685. 
O feminicídio é tido como um crime de ódio contra as mulheres, pelo simples 
fato de serem mulheres, o qual é justificado pelo contexto social e cultural, em uma 
história de submissão da mulher ao homem, somado à impunidade nestes casos, 
como bem vivenciado por Maria da Penha. 
Submetido a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o Projeto de 
Lei teve parecer favorável, destacando o apontamento acerca da relevância da 
tipificação, objetivando dar maior visibilidade ao crime cometido contra a mulher pelo 
simples fato de ser mulher. 
 
83 Justificativa ao Projeto de Lei do Senado nº 292, de 2013. Altera o Código Penal, para inserir o 
feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Disponível em: 
<http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/113728> Acesso em 05 out. 2016. 
84 Justificativa ao Projeto de Lei do Senado nº 292, de 2013. Altera o Código Penal, para inserir o 
feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Disponível em: 
<http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/113728> Acesso em 05 out. 2016. 
85 Justificativa ao Projeto de Lei do Senado nº 292, de 2013. Altera o Código Penal, para inserir o 
feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Disponível em: 
<http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/113728> Acesso em 05 out. 2016. 
35 
 
 
O foco da figura típica do feminicídio é a situação em que a morte da mulher 
ocorre em circunstância doméstica ou familiar, somado a grande impunidade nesses 
crimes. 
A importância de tipificar o feminicídio seria, portanto, a de reconhecer, na 
forma da lei, que mulheres estão sendo mortas pela razão de serem mulheres, 
expondo a fratura da desigualdade de gênero que persiste na sociedade. 
De outro lado, pela Justificativa do Projeto de Lei em estudo, visava-se 
combater a impunidade, evitando que os sujeitos ativos do homicídio praticado 
contra mulheres, em razão de gênero, sejam beneficiados por interpretações 
jurídicas anacrônicas e moralmente inaceitáveis, como o de terem cometido “crime 
passional” 86. 
Outrossim, entendeu-se que a tipificação em questão enviaria uma 
mensagem positiva à sociedade, no sentido de que o direito à vida é universal e de 
que não haverá impunidade,

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