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1 1 INTRODUÇÃO Os analgésicos e antitérmicos (AA) estão entre os medicamentos mais utilizados no ocidente (MANOUKIAN e CARSON,1996; HOLLANDER, 1994). No cenário terapêutico nacional, a dipirona e o paracetamol são os mais consumidos. A dipirona é o principal analgésico da terapêutica brasileira ocupando 45% do mercado, o paracetamol 35% e o AAS em terceiro lugar, com 20% (GAZETA MERCANTIL, 22/05/2001). Os AA constituem importante causa de hospitalização (2% a 9%), prolongamento das internações e aumento de gastos, além de serem responsáveis também por um grande número de intoxicações (HUIC et al.1994; FIGUERAS et al.1994). De 1993 a 1996, foram registrados no Brasil, pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), 217.512 casos de intoxicação humana (BORTOLETTO e BOCHNER,1999). De acordo com dados da OMS, os hospitais gastam de 15% a 20% de seus orçamentos para lidar com os problemas relacionados ao mau uso de medicamentos, que podem levar a importantes agravos à saúde dos pacientes, com relevantes repercussões econômicas e sociais e sendo considerado atualmente um importante problema de saúde pública (BORTOLETTO e BOCHNER, 1999). O paracetamol, amplamente utilizado no Brasil, é um fármaco pertencente à classe dos antiinflamatórios não-esteroidais (AINEs), usado principalmente como analgésico e antipirético, apresenta uma baixa atividade antiinflamatória, mas tem provado eficácia clínica no alívio temporário de dores leves a moderadas associadas a resfriado comum, dor de cabeça, dor de dente, dores musculares, dor nas costas, dores leves de artrite, cólicas menstruais e redução da febre, sendo eficaz em bebês, crianças e adultos (FLOWER E VANE, 1972). Um dos mecanismos atualmente descritos sobre a enzima cicloxigenase (COX) pode estar relacionado à inibição do radical livre tirosil, presente na prostaglandina endoperóxido sintase (PGES). (KULMACZ et al. 1991). No entanto, este fármaco em doses elevadas pode desenvolver danos hepáticos e/ ou renal e óbito em três a cinco dias após a ingestão (MITCHELL et al.1973; BLACK, 1984). As pirazolonas são amplamente utilizadas em muitas partes do mundo, incluindo o Extremo Oriente, África e América do Sul (CHAN et al. 1996) como analgésico, antitérmico, antiinflamatório, uricosúrico, antiartrítico e antioxidante, 2 alcançando um volume de venda anual em torno de kilotoneladas, principalmente a dipirona, propilfenazona (isopropilantipirina) e fenilbutazona (BENTUR et al. 2004). Em particular a dipirona, constitui o agente analgésico e antipirético mais utilizado no Brasil e é comercializada principalmente na forma sódica em diferentes formulações farmacêuticas, tais como: soluções orais, comprimidos, injetáveis e supositórios (PEREIRA et al. 2002). Seu mecanismo farmacológico de ação não está elucidado completamente, mas sabe-se que envolve a inibição da isoenzima cicloxigenase, com conseqüente inibição da síntese de prostaglandinas e tromboxanos em plaquetas (BENTUR et al. 2004). Infelizmente em diversos casos, o uso das pirazolonas dipirona e aminopirina, mais especificamente, foi seguido por uma diminuição severa no número de neutrófilos da circulação sanguínea, conhecido como agranulocitose (IBÁÑEZ et al. 2005). Por causa deste risco, elas foram proibidas ou retiradas do mercado em vários países. Porém, estas drogas estão ainda disponíveis em alguns países como na Europa que inclui Alemanha, França, Espanha e Portugal (HEDENMALM et al. 2002). Conseqüentemente, a busca por fármacos mais seguros é uma questão de saúde pública de fundamental importância, bem como a elucidação dos mecanismos bioquímicos relacionados com a toxidade induzida por fármacos. A busca por fármacos mais seguros, no que se refere à especificidade, potência e baixa toxidade, tem evoluído muito graças aos avanços nos métodos e técnicas utilizados, através do emprego de metodologias mais racionais, que envolvem um planejamento de todas as fases necessárias para sua obtenção. A modelagem molecular é uma ferramenta para o estudo e planejamento de novos fármacos, a qual permite a construção de relações estrutura-atividade (REA) a fim de elucidar mecanismos de ação farmacológicos ou toxicológicos, utilizando gráficos computacionais tridimensionais e valores numéricos (CARVALHO et al. 2003). Portanto, nosso interesse baseia-se na aplicação de métodos teóricos para elucidação das propriedades físico-químicas e de reatividade, de novos derivados propostos análogos do paracetamol e derivados de pirazolonas, que possam ser importantes para a elucidação do mecanismo de ação destas moléculas realizando o estudo da relação estrutura-atividade e toxidade, bem como seleção de parâmetros físico-químicos fundamentais para o planejamento racional de novos derivados e de novos candidatos a fármacos, com maior atividade e baixa toxidade. 3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Paracetamol 2.1.1 PROPRIEDADES DO PARACETAMOL O paracetamol (PAR), acetaminofeno ou N-acetil-p-aminofenol, foi introduzido na terapêutica depois de uma descoberta acidental da acetanilida, ao mesmo tempo em que os salicilatos eram descobertos. É utilizado desde 1878 até hoje em muitos países como analgésico e antipirético, comercializado sozinho ou associado, no alívio de sintomas relacionados a processos virais, dores crônicas e odontológicas, sendo ainda bastante difundido em pediatria (FLOWER e VANE, 1972). PAR NH CH3O OH FIGURA 1: Fórmula estrutural do paracetamol O PAR é um pó branco e cristalino, solúvel em água, álcool etílico, clorofórmio, glicerina e fracamente solúvel em éter etílico. Apresenta uma fórmula molecular C8H9O2 e peso molecular igual a 151,16g/mol. O pka do paracetamol a 25oC é 9,51 e em solução permanece estável entre pH 4 e 7 a 25oC. O composto é estável à temperatura, luz e umidade (MERCK, 1976). 2.1.2 FARMACODINÂMICA O PAR é uma droga analgésica e antipirética, apresentando pouca ou nenhuma ação anti-inflamatória e seu mecanismo de ação não está completamente elucidado, mas parece produzir analgesia por elevação do limiar da dor (FLOWER e VANE, 1972; STRAAT et al. 1988; LISTER e MCLEAN, 1997), sendo capaz de bloquear a cicloxigenase (COX) em locais com baixos teores de peroxidases, como o hipotálamo, o que possivelmente explica a fraca atividade antiinflamatória do paracetamol, uma vez que a região da inflamação geralmente contém 4 concentrações elevadas de peróxidos gerados pelos leucócitos. Estes resultados não excluem o PAR como um membro da classe dos AINEs e explicam a sua fraca inibição pela COX, particularmente a cicloxigenase-2 (COX-2), uma isoenzima que produz menor efeito colateral, com um percentual de 30% de inibição máxima por AINEs (STRAAT et al.1986), pois sua atividade inibitória sobre a ciclooxigenase pode estar relacionada a sua capacidade de inibir o radical tirosil presente na PGES (KULMACZ et al. 1991). O PAR demonstrou inibir a ação de pirógeno endógeno no centro termo- regulador por bloqueio da produção e liberação de prostaglandina no sistema nervoso central. A febre ocorre quando a PGE elevada atua na área pré-óptica do hipotálamo anterior, resultando em diminuição da perda de calor e aumento do ganho de calor (STOYANOVSKY E CEDERBAUM,1999; FERNANDO et al.1980; HARVISON et al.1988). 2.1.3 TOXIDADE A toxidade induzida pelo PAR ocorre pelo uso de sobre-dose, deficiências enzimáticas, doenças hepáticas ou renais e interações medicamentosas, sendo mais grave quando por múltiplos fatores. A intoxicação hepática grave pode levar à morte de três a cinco diasapós a ingestão de dose alta de PAR, pois a via de conjugação é saturada, aumentando a quantidade do produto oxidado N-acetil p- benzoquinona imina (NAPQI). Após esgotar as reservas de glutationa reduzida (GSH), a NAPQI passa a reagir com moléculas de proteínas hepáticas séricas ou tissulares contendo grupamentos ricos em elétrons, com a capacidade de reagir nas posições 3 e 5 por adição ao sistema Michael (Esquema 1), acarretando com isso danos às células hepáticas e sanguíneas, problemas alérgicos e o metabólito oxidado pode formar adutos com bases nitrogenadas, apresentando alterações a nível de DNA e RNA (LISTER e MCLEAN, 1997; STRAAT et al.1986). NAPQI N O CH3 O N H O CH3 HO RS1 2 3 4 5 6 RSH + Aduto ESQUEMA 1: Reatividade do Intermediário reativo NAPQI com nucleófilos 5 A superdosagem do paracetamol, quando devidamente diagnosticada, é tratada com a administração de N-acetilcisteína, que atua como substituto da glutationa, neutralizando os derivados oxidados reativos. Há, porém, casos e comportamentos de riscos mais difíceis de serem tratados, a auto-medicação, interações medicamentosas, utilização em pediatria ou geriatria, insuficiências hepáticas ou renais não diagnosticadas e deficiências enzimáticas, o que para os países de terceiro mundo, onde a produção industrial de medicamentos é descarregada e disponibilizada à consumidores de medicamentos desprovidos de um sistema de farmacovigilância eficaz, acaba expondo uma parcela de sua população, que além do baixo controle de consumo de medicamentos, também não há notificações médica em caso de intoxicações (SKORPEN et al. 1998; STOYANOVSKY e CEDERBAUM,1999), aliado a isso a escassez de conhecimento sobre mecanismo de ação e farmacodinâmica por parte dos profissionais de saúde contribui para tal risco. Estes fatos justificam a busca de novos derivados do paracetamol mais seguros. 2.1.4 ESTRUTURA E ATIVIDADE DE DERIVADOS DO PARACETAMOL A toxidade do paracetamol fomentou o desenvolvimento de homólogos e análogos mais seguros. Muitos derivados foram desenvolvidos na tentativa de diminuir sua toxidade, no entanto mantendo suas propriedades terapêuticas. Estes estudos, muito contribuíram para a obtenção de dados da relação estrutura e atividade do paracetamol. 2.1.4.1 Homológos Monometilados: Nelson e col. (1991) estudaram três derivados monometilados do PAR, nos quais esperavam modificar a conjugação do grupo acetil com o anel benzênico e impedir a ligação com o Citocromo P450. As moléculas foram avaliadas quanto a seu potencial citotóxico e analgésico. Os resultados mostraram uma diminuição tanto da atividade analgésica, quanto do potencial citotóxico, quando comparados o paracetamol (1) e 3-metilparacetamol (2) na dose de 750 mg/kg, demonstrando que estas atividades estão diretamente relacionadas. Foi observado também, que o composto 2-metilparacetamol (3) possui atividade muito menor e que o N- 6 metilparacetamol (4) é praticamente inativo, estando em harmonia com a prova de função hepática, medida pela transaminase (ALT). 1 NH CH3 O OH 2 NH CH3 O OH 3 NH CH3 O OH 4 NH3C CH3 O OH H3C H3C FIGURA 2: Paracetamol e derivados monometilados. Os resultados expostos na tabela 1 mostraram que estas duas atividades são dependentes da formação do intermediário NAPQI. Quimicamente o N-metil não pode formar o derivado quionônico, o que explica sua baixa atividade, enquanto que os derivados 2 e 3-metil modificam a reatividade de suas formas quinona-imida, quando comparados com o PAR, sendo que no composto 2-metil um dos locais de reação de adição de nucleófilos ao sistema quinona-imina está impedido. TABELA 1: Atividade biológica e toxidade de derivados monometilados do paracetamol. Composto Atividade Analgésica DE 50 mg/kg Dose Mg/kg Necrose Hepática ALT plasma 24 h – Um/ml paracetamol (1) 84,3 (27-108) 750 3,25 ± 0,25 4030 ± 501 2-metilparacetamol (2) 94,6 (77-116) 750 2,75 ± 0,25 3251 ± 905 3-metilparacetamol (3) 177,1 (138-195) 750 0,80 ± 0,25 690 ± 189 N-metilparacetamol (4) 200 1000 0 32 ± 8 Adicionalmente, como a atividade antiinflamatória ocorre pela oxidação do ácido araquidônico, o metabolismo do paracetamol para a formação de NAPQI é uma reação de oxidação. A propriedade anti-oxidante do PAR e seus derivados foi avaliada para explicar sua capacidade de formar o intermediário reativo NAPQI, através de voltametria cíclica em diferentes condições de pH para aproximar do sistema biológico. Os resultados do potencial de oxidação descritos na tabela 2 mostraram uma boa relação com a potência citotóxica e atividade analgésica, exceto para o composto 3. 7 TABELA 2: Potencial redox de derivados monometilados do paracetamol. Composto Variação do Potencial de Redox (V) em pH 0 3 6 7,4 9 12 paracetamol (1) 0,72 0,61 0,46 0,39 0,33 0,22 2-metilparacetamol (2) 0,75 0,63 0,54 0,45 0,39 0,26 3-metilparacetamol (3) 0,67 0,53 0,43 0,36 0,38 0,10 N-metilparacetamol (4) 0,84 0,78 0,74 0,68 0,63 0,53 2.1.4.2 Homológos Dimetilados: O mecanismo de toxidade do paracetamol foi estudado usando compostos dimetilados nas posições 2,6 e 3,5. O trabalho de reatividade do sistema quinona imina foi realizado por Fernando e col (1980). A capacidade de reação foi avaliada através de derivados análogos dimetilados oxidados do paracetamol com nucleófilos. 5 NH CH3 O OH 6 NH CH3 O OH H3C H3C CH3 CH3 FIGURA 3: Paracetamol e derivados dimetilados. Os compostos 2,6-dimetilacetaminofeno (5) e 3,5-dimetilacetaminofeno (6) foram oxidados com tetraacetato de chumbo para formar N-acetil-2,6-dimetil-p- benzoquinona imina (5a) e N-acetil-3,5-dimetil-p-benzoquinona imina (6a), respectivamente. A reação do composto 5a com etanol, etanotiol e anilina formou os adutos tetraédricos (5b, 5c e 5e), resultante da adição ao carbono ipso da imina, enquanto que a reação com ácido clorídrico formou um produto de adição no carbono C3, o 3- cloro-2,6-dimetil-4-hidroxi-acetanilida (5d). Surpreendentemente, produtos desta reação mostraram uma maior reatividade no carbono C1 do que via adição de Michael. De fato, a reação com água levou a formação de um derivado dimetil-p- benzoquinona (5f). Estas reações estão descritas no esquema 2. 8 NH CH3 O OH N CH3 O O O O CH3 CH3 NH CH3 O OH ClPb(AcO)4 AcOEt H3CH3C CH3 CH3H3C 5g 5a 5d 5f 5e CH3 HCl EtOEt H2O PhNH2 O SCH2CH3 NHCOCH3 CH3 CH3 O OCH2CH3 NHCOCH3 CH3 CH3 5c5b EtSHEtOH O NHC6H5 NHCOCH3 CH3 CH3 ESQUEMA 2: Reatividade do Intermediário reativo 2,6-DM-NAPQI com nucleófilos De forma semelhante, o esquema 3 mostra que o composto 6a reagiu com água e anilina também na posição C1, produzindo os compostos dimetil-p- benzoquinona (6c) e 3,5-dimetil-N-fenil-p-benzoquinona imina (6d), enquanto que o etanotiol reagiu no carbono C3 formando o composto 3,5-dimetil-2-tioetil-4-hidroxi- acetanilida (6b). Como os resultados diferiram da proposição original, é possível que as condições reacionais não foram encontradas ou realmente a reatividade molecular de NAPQI no carbono carbonílico é maior que no carbono do alceno. NH CH3 O OH CH3CH3 N CH3 O O CH3CH3 N O CH3 CH3 O O CH3 CH3 NH CH3 O OH CH3CH3 Pb(AcO)4 AcOEt H3CH2CS 6 6a 6b 6c6d EtSH H2OC6H5NH2 ESQUEMA 3: Reatividade do Intermediário reativo 3,5-DM-NAPQI com nucleófilos 9 Adicionalmente, a hepatotoxidade e anefrotoxidade, foi avaliada através do grau de necrose celular em ratos e camundongos. Os compostos foram administrados pelas vias intraperitoneal (IP) e intragástrica (IG). Os valores descritos na tabela 3 mostram que compostos 3,5 substituídos (6) e paracetamol (1) apresentaram maior toxidade em doses crescentes, quando comparados com derivados 2,6 substituídos (5) e N-metilparacetamol (4). TABELA 3: Hepatotoxidade e a nefrotoxidade de derivados dimetilados Composto Concentração Necrose Celular Ratos Camundongos IP IG IP IG paracetamol (1) 2 mM + 0 +++ ++ 5 mM – + – +++ 10 mM – +++ – ++++ N-metilparacetamol (4) 2 mM 0 – 0 – 2,6-dimetilparacetamol (5) 2 mM – 0 – 0 5 mM – 0 – 0 10 mM – + – 0 3,5-dimetilparacetamol (6) 2 mM – + – ++ 5 mM – ++ – +++ 10 mM – ++ – ++++ Estes resultados demonstram que provavelmente, junto com a reatividade química, ocorre a diminuição da formação da aceto-imida-p-benzoquinona, uma vez que as posições 2 e 6 estão impedidas estericamente pelas reações de adição, tanto quanto a posição 3 e 5, e que o efeito estérico não deve ser o único responsável pela formação de derivados tóxicos. 2.1.4.3 Derivados Mono e Dialquilícos: A importância do efeito estérico foi observada no estudo de oito derivados 3- mono e 3,5-disubstituídos do paracetamol, com grupo alquila de tamanho variável. A toxidade foi correlacionada com o parâmetro de lipofilicidade usando o coeficiente de partição óleo/água (Log P). 10 Os resultados (tabela 4) mostram que os derivados contendo os substituintes volumosos, com maior valor de LogP, diminuem a oxidação primeiramente e secundariamente ao ataque a aceto-imida-p-benzoquinona pelo maior impedimento estérico. Outros prováveis mecanismos são pela redução dos níveis de NADPH e GSH. Compostos monosubstituídos são mais reativos, enquanto que compostos disubstituídos são menos reativos (Esquema 4). Tabela 4: Valores de toxidade e LogP de derivados 3,5-dialquilados do paracetamol. N H H3C O HO R1 R2 Compostos R1 R2 Controle % Tratados % Log P 1 H H 28 6 60 6 0,311 3 CH3 H 20 7 54 4 0,793 13 CH2CH3 H – – 1,306 14 CH(CH3)2 H – – 1,707 15 C(CH3)3 H – – 2,357 6 CH3 CH3 14 4 17 3 1,108 16 CH2CH3 CH2CH3 – – 1,870 17 CH(CH3)2 CH(CH3)2 – – 2,671 18 C(CH3)3 C(CH3)3 11 4 15 2 3,180 NH O CH3 HO R N O CH3 O R NH O CH3 HO R Cit P450 2GSH NADPH/O2 NH O CH3 HO R R N O CH3 O R R NH O CH3 HO R R Cit P450 2GSH NADPH/O2 NH O CH3 HO R GS GSH Esquema 4: Mecanismos de redução de mono e dissubstituídos análogos do paracetamol. 11 2.1.4.4 Análogos Fluorados: O efeito eletrônico é outro fator que pode afetar a reatividade química do paracetamol. As ações hepatotóxica e analgésica do paracetamol foram comparadas com seis análogos fluorados 7–12 (figura 4). As moléculas foram avaliadas através dos modelos de inflamação e toxidade, pela contorção abdominal induzida pela p-benzoquinona em camundongos e dosagem dos níveis de alanina aminotransferase (ALT), respectivamente. Os resultados biológicos foram comparados com o pKa e potencial de oxiredução (Redox), obtido através da voltametria cíclica (V) por Barnard e col. (1993). 7 8 NH CH3 O OH 9 F F NH CH3 O OH F NH CH3 O OH FF 10 11 NH CF3 O OH 12 NH CF3 O OH F NH CH3 O OH F F FF FIGURA 4: Derivados fluorados do paracetamol. Os compostos não mostraram nenhuma atividade analgésica em ratos, exceto os compostos 11 e 12, que se mostraram 3,5 – 5 vezes mais ativo que o paracetamol, e ao mesmo tempo mostraram um potencial de necrose hepática menor do que o paracetamol. Significativamente, dos compostos avaliados nestes modelos, duas moléculas foram mais ativas e quatro apresentaram menor efeito tóxico que o PAR. Os resultados mostram que a molécula 12 é a mais ativa, a molécula 10 é a menos ativa. Quanto a toxidade, a molécula 9 é a menos tóxica e 11 é a mais tóxica. Os resultados são mostrados na tabela 5. 12 TABELA 5: Propriedades dos derivados fluorados do paracetamol Comp pKa Redox (V) AB DE50 (mM/kg) ToxDE50 (mM/kg) 1 9,53 1,14 2,08 3,38 7 8,10 1,24 2,53 3,96 8 7,00 1,33 4,18 4,01 9 9,05 1,52 4,28 5,88 10 4,75 1,74 4,48 3,23 11 9,14 1,37 0,48 1,42 12 8,40 1,47 0,38 – 2.1.4.5 Análogos 3,5-dissubstituídos: Outro estudo eletrônico comparado com o paracetamol, 3,5-dialquil (6) e 3,5- difluoro (8), foi realizado pela introdução de oxigênio (19), enxofre (20) e outros halogênios, tais como cloro (21), bromo (22) e iodo (23) nas posições 3 e 5. TABELA 6: Propriedades dos derivados análogos 3,5-dissubstuídos do paracetamol. N H H3C O HO R R Compostos R p.f. POx IC 50 (mM) LDH (%) 1 H – 0,28 V 0,35 0,08 50,6 2,8 6 CH3 162 0C 0,21 V 0,16 0,00 15,0 0,9 19 OCH3 141 0C 0,12 V 0,20 12,4 0,5 20 SCH3 135 0C 0,12 V 0,14 0,03 14,5 1,2 8 F 180 0C 0,32 V 1,14 0,07 42,3 0,9 21 Cl 157 0C 0,34 V 0,56 0,13 36,0 3,5 22 Br 171 0C 0,32 V 0,48 0,07 26,1 3,2 23 I 188 0C – 1,11 0,16 14,7 1,4 Branco – – – 8,2 1,0 13 Os resultados da tabela 6 mostram que substituições de grupo elétron doador nas posições 3,5 decrescem o potencial de ionização, aumentam a inibição da ciclo- oxigenase e diminuem a toxidade, enquanto que com grupos elétron atraentes não alteram a toxidade e diminuem a atividade biológica, demonstrando que o parâmetro eletrônico responsável pela atividade é o potencial de ionização. Bessems e col.(1995) estudaram estes compostos por método ab initio, mostrando que a saída do hidrogênio ligado ao oxigênio é muito mais favorecida, do que do hidrogênio ligado ao N em 125 kJ/mol, sendo confirmado experimentalmente através do espectro de ressonância magnética de spin. Na análise de densidade de spin da semiquinona, foi observada uma alta concentração de carga no oxigênio de aproximadamente 85%. Estes resultados explicam parcialmente a reatividade do PAR e seus derivados, deixando ainda claro que devem ser elucidados, através de outros métodos de cálculo molecular e experimentais. Estudos realizados por Diniz e col. (2004) usando cálculos de química quântica no nível de teoria B3LYP acoplado com o conjunto de base 6-31G(d), foram empregados na obtenção da energia, potencial de ionização (PI), energia de dissociação da ligação OH (EDLOH) e NH (EDLNH) e distribuição da densidade de spin para o paracetamol e seus análogos 3,5-dissubstituídos. Os cálculos de densidade de spin foram realizados para o radical formado pela abstração do grupo hidroxila fenólico. Os resultados mostram que o elétron desemparelhado está localizado principalmente no oxigênio fenólico (0,31-0,40), carbonos C3 (0,17-0,27) e C5 (0,21- 0,21) localizados nas posições orto e carbono C1 (0,25-0,33) localizado na posição para. A correlação entre a atividade analgésica, a citotoxidade e as propriedades eletrônicas, obtidas usando matriz de correlação mostraram que o PI e a EDLOH são significativamente relacionadas com a inibição in vitro da ciclo-oxigenase, com uma correlação de 0,88 e 0,75, respectivamente. Enquanto que a EDLOH, EDLNH e o PI têm uma correlação significativa com a citotoxidade (LDH), com valores de 0,90, 0,87 e 0,86, respectivamente. 2.1.4.6 Derivados Acil-Éter do Paracetamol: As propriedades teóricas calculadas para os derivados fenólicos e éter, funcionalizados com grupos alquílicos (Figura 5) foram relacionadoscom sua 14 atividade analgésica medida pelo número de contorções induzidas por ácido acético comparados com a aspirina, realizados por Duffy e col. (2001). NH O OH NH CH3 O O NH CH3 O O H3C CH3 24 25 26 27 28 29 CH3 CH3 NH O O CH3 CH3 CH3 NH CH3 O O H3CH2C CH2CH3 CH3 NH CH3 O O (H3C)2HC CH(CH3)2 CH3 NH CH3 O O Cl Cl 30 31 32 NH CH3 O OCH3 H3CH2C CH2CH3 NH O OCH3 33 34 35 NH CH3 O O NH CH3 O OH CH3 36 37 38 OH3C O C6H5 NH CH3 O OH NH CH3 O OH (H3C)3C C(CH3)3 CH3H3C NH CH3 O O H3C CH3 CH3 COOH FIGURA 5: Estrutura de derivados fenóis-éteres do paracetamol. 15 Muitas drogas do grupo dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) comercializadas atualmente, produzem severos efeitos colaterais gastrotóxicos. Os benefícios de produzir AINEs sem estes efeitos colaterais são óbvios, particularmente para pacientes que requerem terapia a longo prazo. A meta desta investigação era produzir novos AINEs, baseado no paracetamol, exibindo pequeno ou nenhum efeito gastrotóxico. A extensão deste trabalho inclui, o projeto, a síntese e o teste de 13 candidatos a novos fármacos. A atividade analgésica e a potência anti-inflamatória dos candidatos à droga, foram avaliados no ensaio de contorção abdominal de rato induzida por ácido acético e edema de pata de rato, respectivamente. TABELA 7: Propriedades dos derivados éteres e fenóis do paracetamol. Compostos Analgésico DE50 Anti-Inflamatório DE30 Gastro Toxidade LogP 24 0,00024 inativo 1,4 2,03 25 0,00035 0,00036 1,2 1,85 26 0,00021 inativo 1,7 3,27 27 0,00019 0,000116 1,2 1,92 28 0,00051 0,00017 1,6 2,71 29 0,00042 0,00019 2,3 3,37 30 0,00011 0,00033 2,1 2,02 31 0,00039 inativo 1,1 2,56 32 0,00037 0,00040 1,8 2,37 33 inativo inativo 1,3 - 34 0,00014 0,00033 1,3 2,69 35 - - 1,5 - 36 0,00024 0,00038 - - 37 0,000049 0,00021 2,6 3,87 38 0,00094 0,0011 9,5 1,24 Os compostos preparados e estudados por Duffy e col. (2001) são outro grupo de moléculas, que comparados a aspirina exibiram maior atividade analgésica, antinflamatória e gastrotoxidade (Tabela 7). Os estômagos dos ratos foram examinados pós-morte, para avaliar a gastrotoxidade das drogas. Das 13 16 combinações descritas neste trabalho, 11 demonstraram possuir atividade analgésica 2-10 vezes comparado a potência da aspirina. Todas as combinações mostraram uma baixa gastrotoxidade significativa, quando comparadas com a aspirina. Neste grupo de moléculas não foi possível definir através de métodos de química quântica e quais as propriedades químicas e físico-químicas responsáveis pela resposta biológica, mas os resultados do cálculo de logP indicaram que o aumento da lipofilicidade aumenta a atividade anti-inflamatória, mas não é possível se obter uma boa correlação entre os compostos, o que indica que os fatores eletrônicos são determinantes para a atividade entre todos os parâmetros de QSAR. 2.2 Pirazolonas 2.2.1 PIRAZOLONAS COMO ANTI-INFLAMATÓRIOS O desenvolvimento de fármacos para uso como analgésicos e antiinflamatórios durante o século XIX concentrou-se nos derivados da pirazolona devido à fácil obtenção sintética, rica atividade biológica e alta estabilidade química (PARK et al. 2005). Dentre as várias substâncias das pirazolonas dotadas de propriedades analgésicas, a antipirina 39 foi sintetizada na Alemanha em 1884. Anos mais tarde, em 1897 surgia a isopropilantipirina 40 e a aminopirina 41. Em 1913, a Hoechst AG, uma empresa químico-farmacêutica alemã desenvolvia o primeiro composto injetável da família, a dipirona 42, denominada inicialmente de melubrina (HEDENMALM et al. 2002). 39 NNH3C H3C O 40 NNH3C H3C O 41 NNH3C H3C N O H3C CH3 H3C CH3 42 NNH3C H3C N O H3C SO3 Na FIGURA 6: Estruturas químicas de derivados de pirazolona. 17 Posteriormente, em 1921, era introduzida no mercado farmacêutico alemão a primeira pirazolona de uso clínico, que na realidade era um produto composto por 50% dipirona e 50% aminopirina. A indicação terapêutica foi como analgésico e antiespasmódico, apesar de ter sido testado até para o tratamento da tuberculose (HEDENMALM et al. 2002). No Brasil, a dipirona, quimicamente conhecida como ácido 1-fenil-2,3-dimetil- 5-pirazolona-4-metilaminometano-sulfônico foi introduzida em 1922, pela Hoechst AG, com o nome de Novalgina®. Coincidentemente, no mesmo ano, Schultz descrevia o primeiro caso de agranulocitose medicamentosa induzida por pirazolonas (JOSEPH, 1959). No entanto, a propriedade analgésica desta família é relevante, a qual é perfeitamente exemplificada pela dipirona que constitui o analgésico antipirético mais utilizado no Brasil (PEREIRA et al. 2002). O mecanismo de ação farmacológica das pirazolonas não é compreendido completamente, mas sabe-se que envolve a inibição de isoenzimas da cicloxigenase, da síntese do tromboxano nas plaquetas e da síntese dos prostanóides (BENTUR et al. 2004). 2.2.2 PIRAZOLONAS E AGRANULOCITOSE O risco de agranulocitose associada ao uso de medicamentos derivados da pirazolona, em doses terapêuticas por curto período de tempo, foi considerado muito baixo (IBÁÑEZ et al. 2005). Entretanto, pouca atenção foi dada à possível lise de neutrófilos e o seqüestro de espécies reativas de oxigênio (ERO) em neutrófilos mediadas por estes compostos. Tal efeito poderia ser benéfico, por exemplo, no aumento de números de neutrófilos, no entanto, pode também ser altamente prejudicial se o número de neutrófilos circulantes já estiver diminuído. Nesse sentido, Costa e col. (2006) avaliaram a capacidade dos derivados de pirazolonas como antipirina 39, isopropilantipirina 40, aminopirina 41 e dipirona 42, na inibição do metabolismo de neutrófilos humanos e sua atividade seqüestrante contra os potenciais radicais livres, tais como superóxido (O2●-), peróxido de hidrogênio (H2O2), radical hidroxil (HO●), lipoperóxido (ROO●) e ácido hipocloroso (HOCl) em neutrófilos. Os resultados obtidos por Costa e col. (2006), mostraram que a aminopirina e a dipirona inibem o metabolismo em neutrófilos induzidos pelo 12-miristato-13-acetato 18 de forbol com elevada eficiência, enquanto a isopropilantipirina teve pouco efeito e a antipirina não teve nenhum efeito. A dipirona e a aminopirina foram sequestrantes altamente potentes do radical HO● e HOCl, enquanto a isopropilantipirina teve pouco efeito e a antipirina não teve nenhum efeito contra espécies reativas de oxigênio. No entanto, nenhumas destas pirazolonas estudadas se mostraram capazes de seqüestrar o O2●- ou H2O2. Porém, a dipirona se mostrou mais reativa contra o radical ROO●. Estes resultados, no entanto, não elucidaram o mecanismo químico de atuação destes compostos na resposta inflamatória induzida em neutrófilos. Todavia, quanto aos aspectos químicos da agranulocitose, diversos estudos têm mostrado forte evidência de que derivados de pirazolona são biologicamente oxidadas em compostos intermediários reativos que reagem com os neutrófilos (UETRECHT et al.1995). 2.2.2.1 Função dos Neutrófilos Neutrófilos são leucócitos polimorfonucleares (PMNs), sendo os mais abundantes na circulação sanguínea. Essas células participam ativamente na resposta inata de defesa do hospedeiro. Durante esta resposta, PMNs e outras células fagocíticas são mobilizadas para os locais do ferimento ou infecção onde fagocitam e matam os microorganismos invasores. São os primeiros tipos de células a chegarao local da inflamação, onde tem um papel principal nos danos teciduais, e em doenças não infecciosas, tais como, artrite, doença inflamatória de Bowel e lesão tissular com reperfusão isquêmica (ABBAS et al. 1995). O neutrófilo tem sido implicado como um mediador central da lesão tissular em, virtualmente, todo sistema orgânico susceptível à lesão de reperfusão (SECCOMBE e SCHAFF, 1994). Certamente, esta célula sangüínea participa de uma série de mecanismos que são capazes de causar grave destruição tissular. No entanto, tem sido muito difícil demonstrar um papel causal direto para o neutrófilo na lesão de reperfusão. É possível que neutrófilos ativados estejam presentes em tecidos reperfundidos, como uma resposta celular, normal e inespecífica, causada pelos variados tipos de lesão endotelial (TSAO et al.1990). Uma vez ligados à superfície endotelial, os neutrófilos aceleram a disfunção destas células e destruição tissular através de uma variedade de mecanismos citotóxicos. Além disso, na oclusão de capilares e pequenas arteríolas, os neutrófilos 19 ativados liberam uma série de substâncias incluindo: radicais livres de oxigênio, enzimas citotóxicas e citocinas. Muitas destas substâncias também recrutam leucócitos adicionais e aumentam a sua adesividade ao endotélio vascular. Estes eventos não são restritos à superfície endotelial. Com o agravamento da lesão, os neutrófilos infiltram os tecidos onde enzimas e radicais do oxigênio podem causar lesão tecidual (TSAO et al.1990). Os PMNs têm uma predisposição extraordinária como armas microbicidas, dependentes ou independentes de oxigênio, para destruir e remover agentes infecciosos (ABBAS et al. 1995). Os mecanismos dependentes de oxigênio envolvem a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO), enquanto que os mecanismos independentes de oxigênio incluem, entre a maioria das funções do neutrófilo, quimiotaxia, fagocitose, desgranulação, liberação de enzimas líticas e de peptídeos bactericidas (UETRECHT et al. 1995). Quando são ativados pelo contato ou pela ingestão de materiais estranhos pelos fagossomos, inicia-se uma “queima respiratória” consumindo o oxigênio molecular (O2), tendo por resultado a formação do radical superóxido (O2●-) através da ação da NADPH-oxidase presente na membrana plasmática. (DRÖGE, 2002) A função da NADPH-oxidase nos neutrófilos é fornecer a espécie reativa de oxigênio que ataca os organismos invasores. O O2●- é importante como produto preliminar, mas é convertido rapidamente a H2O2 espontaneamente ou pela enzima superóxido dismutase (SOD). O H2O2 não é um composto inerentemente reativo. Entretanto, H2O2 pode ser transformado em produtos altamente reativos e deletérios: i) As interações de H2O2 com O2●- ou com níveis baixos de metais de transição podem conduzir à formação dos radicais hidroxil (HO●). ii) A mieloperoxidase (MPO), uma oxidoredutase do peróxido de hidrogênio, encontrada especificamente em leucócitos granulócitos de mamíferos, incluindo neutrófilos, monócitos, basófilos e eosinófilos, contribui consideravelmente para a potencialidade bactericida destas células através da formação de HOCl a partir de H2O2 e de íons cloreto. (DRÖGE, 2002; HALLIWELL e GUTTERIDGE, 2007). Embora a resposta dos neutrófilos às diferentes circunstâncias estimuladas por patógenos sejam geralmente benéficas para a defesa do hospedeiro, também podem ser deletérias ao organismo se estas células forem ativadas de maneira imprópria. Neste sentido, a superprodução de radicais livres e 20 enzimas proteolíticas, usadas no mecanismo de defesa contra as bactérias e outros microorganismos, podem ser altamente tóxicas às células e aos tecidos circunvizinhos. (PELLETIER et al. 2001) A possível responsabilidade das pirazolonas sob circunstâncias pró- oxidantes requer um estudo intensivo da reatividade destas drogas com as ERO produzidas pelos neutrófilos. 2.3 Problemas Relacionados ao Medicamento (PRM) Os medicamentos exercem um papel central nas práticas de saúde na sociedade contemporânea, de tal forma que a maioria das intervenções terapêuticas envolve a utilização de pelo menos um medicamento. Em conseqüência, pode-se afirmar que os medicamentos estão presentes em todos os domicílios, já que os tratamentos, de forma geral, não se esgotam nos cenários hospitalar, ambulatorial ou no consultório médico. Em função disso surgem os problemas de saúde relacionados a medicamentos, que são entendidos como resultados clínicos negativos e produzidos por diversas causas. A automedicação é uma das principais causas de PRM podendo levar a outros problemas como reações adversas graves e à intoxicação (2º CONSENSO DE GRANADA SOBRE PRM, 2002). Entre os medicamentos, certamente, os analgésicos constituem um dos grupos de uso mais amplo e um dos mais procurados, por serem utilizados para o alívio da dor, facilmente acessíveis para a aquisição e, parte deles, de venda livre. Destaca-se a sua disponibilidade fora de estabelecimentos farmacêuticos, como bares, armazéns e mercearias (SCHENKEL et al.1988), contrariando disposições legais. Existe ainda a sistemática indução ao uso, pelas propagandas nos veículos de comunicação de massa, especialmente rádio e televisão (HEINEK et al.1998). Uma revisão sistemática sobre os atendimentos de emergência relacionados ao uso de medicamentos considerou dados de oito ensaios retrospectivos e quatro prospectivos. Os resultados indicaram que 28% de todos os atendimentos de emergência estão relacionados aos medicamentos. Destes atendimentos, 70% diziam respeito a situações evitáveis e 24% deles resultaram em internação hospitalar. (PATEL e ZED, 2002) No Brasil, os medicamentos são os principais agentes capazes de causar intoxicação. Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas 21 (SINITOX) os apontam como os principais agentes de intoxicações em seres humanos, com 28,5% dos casos registrados (BORTOLETTO e BOCHNER,1999). Além do impacto dos medicamentos nas intoxicações humanas, deve-se ressaltar a ausência de dados sobre outros eventos decorrentes do uso inadequado de medicamentos, como a ocorrência de reações adversas e inefetividade de tratamentos, eventualmente decorrentes da ausência de conhecimento dos pacientes sobre os medicamentos (TIERLING et al. 2004) aliado a pobre informação usadas pelos profissionais de saúde, em sua maioria bulários ou propaganda médica fornecida pela industria farmacêutica. No entanto, os riscos associados à terapêutica podem ser minimizados pelo investimento na pesquisa de medicamentos mais seguros no que se refere à potência e toxidade e na qualificação do conhecimento do profissional da área da saúde o que interfere diretamente na qualidade da prescrição e dispensação de medicamentos. Além disso, é possível considerar o uso apropriado e inteligente dos medicamentos, através da atenção farmacêutica, como tecnologia altamente custo-efetiva, uma vez que pode influenciar, de modo substancial, a utilização do restante do cuidado médico necessário durante o tratamento. 2.4 Modelagem Molecular O planejamento de fármacos assistido por computador utiliza programas computacionais como ferramentas para a descoberta, planejamento e estudo de fármacos, atuando em conjunto com outras áreas como química, bioquímica, farmacologia e toxicologia, formando um campo mais vasto de atuação conhecido como química medicinal (WERMUTH, 1996). A modelagem molecular compreende a investigação das estruturas e propriedades moleculares usando a química computacional e as técnicas de visualização gráfica, que fornecem uma representação tridimensional(CARVALHO et al. 2003). Os programas computacionais utilizados auxiliam na investigação das interações químicas de um ligante com seu receptor e na exploração dos fatores estruturais que estão relacionados ao efeito biológico. Como conseqüência, os mecanismos de ação molecular dos fármacos podem ser compreendidos. (CARVALHO et al. 2003). Segundo Thomas (2003) a atividade biológica é compreendida pelas interações químicas entre o ligante e seu receptor, e os 22 grupamentos químicos contribuem para a formação do complexo fármaco-receptor, portanto, é possível combinarmos os grupos funcionais responsáveis pela ação biológica e retirarmos os fragmentos responsáveis pela toxidade. Atualmente, os parâmetros farmacocinéticos e toxicológicos devem ser considerados nas primeiras etapas do desenho e desenvolvimento de novos fármacos. Em conseqüência, os estudos de ADMET (absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade) constituem hoje uma area de pesquisa essencial da Química Medicinal. Deve ressaltar que os fármacos utilizados na terapêutica, considerados clássicos foram licenciados há muitos anos, não passando por estes estudos. Com este propósito, pretende-se aprofundar o estudo das propriedades farmacocinéticas e toxicidades associados ao desenvolvimento químico e uso racional de fármacos, observando as várias estratégias ou metodologias de aplicação de conceitos de ADMET no planejamento e utilização de fármacos seguros. Estes estudos podem ser melhorados com os cálculos das propriedades físico-químicas responsáveis pela farmacocinética, bem como pela reatividade química dos compostos químicos. Nestes estudos, podemos relacionar a formação de intermediários reativos durante a fase de metabolismo de fármacos. Adicionalmente, serão apresentadas estratégias para integrar propriedades de ADMET na descoberta de fármacos (BORGES, 2007). O projeto busca estruturas com atividade ou aplicação definidas, reduzindo a toxidade, tempo e custos financeiros. Os métodos computacionais são ferramentas que têm como objetivo entender e prever o comportamento de sistemas reais, usados para desenhar, descrever e prever estruturas moleculares, propriedades do estado de transição e equilíbrio de reações, propriedades termodinâmicas, eletrônicas, conformacionais e de solubilidade. Os métodos abrangem estudos de minimização de energia, análise conformacional, extração de propriedades geométricas e estruturais, de reatividade e simulações de dinâmica molecular, cujos parâmetros podem ser aperfeiçoados aos métodos estatísticos (BORGES, 2007). Neste sentido, a busca por fármacos mais seguros derivados do paracetamol e pirazolonas fomenta esta pesquisa na tentativa de encontrar drogas estruturalmente simples com menos efeitos adversos, diminuição da toxidade e que sejam economicamente viáveis e eficazes, bem como contribuir para elucidação dos mecanismos de ação farmacológicos destes fármacos. 23 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Estudar a relação estrutura química e atividade biológica e toxidade de derivados do p-aminofenol e pirazolonas. 3.2 Específicos Obter os parâmetros físico-químicos teóricos eletrônicos, estéricos e de solubilidade de derivados do p-aminofenol e pirazolonas; Diferenciar os níveis de correlação nos estudos de REA usando métodos de avaliação in vivo e in vitro, já descritos na literatura, de derivados do paracetamol; Estudar os mecanismos da capacidade seqüestrante de radicais livres dos derivados de pirazolonas; Determinar que parâmetros são relevantes para explicar a reatividade química com a atividade biológica e a toxidade química nestes compostos; Demonstrar a importância do estudo de relação estrutura e atividade na atenção farmacêutica e na promoção do uso racional de medicamentos. 24 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Modelagem Molecular Os parâmetros teóricos para derivados acil-éter do paracetamol e pirazolonas foram calculados no Laboratório de Química Farmacêutica Computacional (LQFC) do Núcleo de Estudos e Seleção de Biomoléculas da Amazônia (NESBAm) da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Pará, usando o método semi- empírico PM3 (Terceira Parametrização) (STEWART, 1990). Somente as conformações moleculares mais estáveis foram utilizadas. As propriedades físico-químicas podem determinar os sítios ou formas de interação da molécula com receptores biológicos, a reatividade química e os fatores que podem afetar as propriedades de ADMET (absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxidade), tais como logaritmo do coeficiente de partição octanol/água (CLogP) e energia de hidratação (EH) (ALEXANDER et al. 2003). Os cálculos foram realizados usando os pacotes computacionais Hyperchem 7.5 (2002) e ChemOffice (2005) em sistema operacional Windows Vista e processador Pentium IV, Duo-Core e Core-2Duo. Os cálculos de propriedades eletrônicas tais como orbital molecular ocupado de maior energia (HOMO), orbital molecular desocupado de menor energia (LUMO), potencial de ionização (PI), energia de dissociação de ligação fenólica (EDLOH) e densidades de spin, foi realizado usando os pacotes Gaussview e Gaussian 2003 (FRISCH et al. 2004), usando teoria do funcional de densidade (TFD), no nível B3LYP (PARR et al. 1989) com o conjunto de base 6-31 G* (HEHRE, 1986). 4.2 Logaritmo do Coeficiente de Partição (Clog P) O Logaritmo do Coeficiente de Partição (CLog P) é um parâmetro que expressa a solubilidade da molécula, representado como o logaritmo da razão entre a solubilidade de uma molécula em solvente orgânico (octanol) e em solução aquosa. Esta propriedade relaciona a capacidade da molécula vencer as barreiras biológicas e mover-se nas diferentes biofases. Valores positivos de CLogP indicam maior lipofilicidade, enquanto que os valores próximos de zero ou negativos indicam maior hidrofilicidade. 25 Ele representa um importante parâmetro para estimar e compreender os fenômenos da absorção e distribuição dos compostos em um modelo de estudo comparativo com compostos conhecidos (EISENBERG e MCLACHLAN, 1986). 4.3 Energia de Hidratação (EH) Este parâmetro está relacionado com a capacidade da molécula absorver ou liberar energia, quando em contato com solvente aquoso, sendo importante para inferir sobre o transporte e distribuição pelas diferentes biofases plasmáticas, bem como pela atração e interação do fármaco com seu receptor ou mudança de fase. Os valores de EH são expressos em kilocalorias por mol (kcal/mol), onde valores negativos indicam uma reação exotérmica, enquanto que valores positivos indicam uma reação endotérmica. Representa um importante parâmetro complementar para a compreensão dos comportamentos ligante com um receptor e de um componente que precisa vencer as barreiras biológicas em comparação com outras moléculas com propriedades farmacocinéticas conhecidas (MIYAMOTO & KOLLMAN, 1993). 4.4 Energia dos Orbitais de Fronteira (HOMO E LUMO) O HOMO está relacionado com a capacidade doadora de elétrons, caracterizando a molécula como nucleofílico. Altos valores de HOMO indicam maior nucleofilicidade. Enquanto que o LUMO está relacionado com a capacidade aceptora de elétrons, caracterizando a molécula como eletrófilo. Baixos valores de LUMO indicam maior eletrofilicidade. Seus valores são expressos em elétron-volt (eV) (KOROLKOVAS, 1978). Estes parâmetros estão relacionados com as regiões em que a estrutura química do fármaco pode ser atraída por pontos específicos do receptor biológico como regiões ricas oudeficientes em elétrons. É um importante parâmetro que contribui para uma maior compreensão da reatividade química de um candidato a ligante em um conjunto de moléculas em estudo (KUBINYI, 2002). 4.5. Conjunto de Compostos Estudados 26 4.5.1 DERIVADOS DO PARACETAMOL As moléculas em estudo receberam a numeração de P1 até P14 (Figura 7), e foram selecionados de estudos anteriores descritos por Duffy e col. (2001). NH O OH NH CH3 O O NH CH3 O O H3C CH3 P1 P2 P3 P4 P5 P6 CH3 CH3 NH O O CH3 CH3 CH3 NH CH3 O O H3CH2C CH2CH3 CH3 NH CH3 O O (H3C)2HC CH(CH3)2 CH3 NH CH3 O O Cl Cl P7 P8 P9 NH CH3 O OCH3 H3CH2C CH2CH3 NH O OCH3 P10 P11 P12 NH CH3 O O NH CH3 O OH CH3 P13 P14 PAR NH CH3 O OH C6H5 NH CH3 O OH NH CH3 O OH (H3C)3C C(CH3)3 CH3H3C NH CH3 O O H3C CH3 CH3 FIGURA 7: Compostos 3,5-disubstituídos análogos acil-éter do paracetamol 27 4.5.2 DERIVADOS DE PIRAZOLONA As moléculas derivadas de Pirazolona foram denominadas, antipirina P15, isopropilantipirina P16, aminopirina P17 e dipirona DIP (Figura 8), de acordo com os trabalhos de Costa e col. (2006). NNH3C H3C O NNH3C H3C O NNH3C H3C N O H3C CH3 H3C CH3 NNH3C H3C N O H3C SO3 Na P15 P16 P17 DIP FIGURA 8. Estrutura dos derivados de pirazolona. 4.6 Atividade Biológica A atividade biológica in vivo do paracetamol utilizada neste trabalho foi selecionada de estudos anteriores de Duffy e col. (2001), bem como a atividade in vitro selecionada a partir do trabalho de Diniz e col. (2004). A atividade biológica dos derivados de pirazolonas foi utilizada a partir dos trabalhos de Costa e col. (2006). 4.7 Cálculos do Potencial de Ionização (PI) O potencial de ionização foi calculado a partir das energias de retirada de um elétron. O cálculo do potencial de ionização foi realizado pela diferença entre a energia da molécula neutra e o respectivo cátion radical para o paracetamol e seus derivados (Equação 1) e derivados de pirazolonas (Equação 2). PI = EPAR•+ – EPAR (Eq. 1) PI = EPir•+ – EPir (Eq. 2) 28 4.8 Cálculos da Energia de Estabilização (Eiso) A energia de estabilização (∆Eiso) foi usada para a previsão da atividade como modelo de interação entre o radical Tirosil usando tirosil-glicina (TirO•), um modelo simplificado do sitio ativo da prostaglandina endoperóxido-sintase (PGES) e os derivados acil-éter do paracetamol. O ∆Eiso foi calculado como a diferença de energia entre tirosil neutra (ETirOH) somada aos cátions radicais livres do paracetamol e derivados (EPAR•+), menos o cátion radical tirosil (ETIrOH•+) somado ao paracetamol e derivados neutros ( EPAR) , como demonstrado na Equação 3. ∆Eiso = (ETirOH + EPAR•+) – (ETIrO•+ + EPAR) (Eq. 3) 4.9 Mapas do Potencial Eletrostático Molecular As superfícies dos mapas dos potenciais eletrostáticos moleculares (MEPs) foram extraídas usando o CUBEGEN presente no Gaussian 03 (FRISH et al. 2004), aplicado às geometria otimizadas de todas as moléculas. Esta superfície tem valores numéricos classificados por cores que fornecem uma medida do tamanho total da molécula assim como a posição de potenciais eletrostáticos negativos ou positivos. As regiões de potencial eletrostático positivo indicam o excesso de carga positiva, conduzindo a repulsão da provável carga positiva de outra molécula, enquanto que as regiões de potencial negativo indicam as áreas de excesso de carga negativa, conduzindo à atração da carga positiva. A visualização de todos os resultados dos cálculos quânticos foi executada com o pacote computacional Molekel 4.2 (PORTMANN e LÜTHI, 2000). Os mapas foram montados no programa Paint da Microsoft. 4.10 Cálculos dos Parâmetros Estéricos Moleculares No estudo de correlação entre os efeitos estruturais com as propriedades químicas e físicas é necessária uma diferenciação entre os efeitos estéricos e efeitos eletrônicos em relação à atividade biológica estudada. Nos estudos 29 tradicionais de compostos químicos existem publicações onde teorias e protocolos são avaliados na separação quantitativa destes efeitos, desde os primeiros trabalhos desenvolvidos pela Equação de Taft (TAFT, 1956; CHAPMAN e SHORTER, 1972; SHORTER, 1973; WILLIAMS, 2003). Propriedades como volume, superfície, polarizabilidade e refratividade influenciam tanto o aspecto conformacional, quanto a solubilidade ou reatividade, sendo importante para determinar o melhor desempenho de uma molécula como um ligante de uma proteína em estudo. 30 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Derivados do Paracetamol As geometrias moleculares de P1–P14 e do paracetamol foram otimizadas pelo método B3LYP/6-31G(d) são apresentadas na figura 9. As análises de geometria molecular indicam que os compostos apresentam um efeito de ressonância no grupo amida, exceto para o composto 3,5-diclorado (P7), indicando um possível aumento da carga negativa no oxigênio carbonílico. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 FIGURA 9: Geometria molecular de derivados acil-éter do paracetamol. 31 P9 P10 P11 P12 P13 P14 PAR FIGURA 9: Geometria molecular de derivados acil-éter do paracetamol (continuação). Estes resultados são importantes para um estudo de relação estrutura e atividade, uma vez que as moléculas devem ter certo grau de homologia, permitindo que a atividade biológica seja produzida por um mesmo mecanismo de interação química entre o fármaco e o receptor, embora outras propriedades possam variar, principalmente aquelas relacionadas com os parâmetros farmacocinéticos, tais como a solubilidade. Portanto, para uma maior avaliação do potencial molecular, uma 32 análise de cargas moleculares e do mapa do potencial eletrostático (MEPs) podem ser utilizados. O mapa do potencial eletrostático para o paracetamol e seus 14 derivados acil-éter esta descrito na figura 10. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 FIGURA 10: MEPs de derivados acil-éter do paracetamol. 33 P9 P10 P11 P12 P13 P14 PAR FIGURA 10: MEPs de derivados acil-éter do paracetamol (continuação). 34 De fato, as mesmas características geradas pelo deslocamento eletrônico foram observadas para os mapas do potencial eletrostático para o paracetamol e seus derivados, pois os mapas de potencial eletrostáticos 3D (MEPS) tanto do paracetamol quanto de seus respectivos derivados, mostrados na figura 11, apresentam duas regiões vermelhas onde altas cargas negativas são esperadas, ao qual representam melhor probabilidade de ataque eletrofílico. No entanto, podemos observar uma assimetria entre as duas regiões, onde a região carbonílica se apresenta mais eletrofílica do que a região de éter ou fenol. Por outro lado, a região azul, representa a área a qual a carga positiva é predita de ocorrer maior probabilidade de ataque nucleofílico, presente principalmente nos grupamentos amida e fenol. A nucleofilicidade do sistema aromático p-aminofenol é influenciado pelos grupamentos elétron doadores ligados nas posições 3,5, seja alquílicos, fenílicos ou benzílicos. O potencial também é alterado pela presença de grupos alquil volumosostanto na amida quando no éter. Porém, uma avaliação quantitativa da carga molecular pode ser obtida usando o método do potencial eletrostático. As cargas moleculares do oxigênio da carbonila estão descritas na tabela 8 e serão usadas nos estudos de QSAR. O orbital molecular ocupado de maior energia (HOMO) é um importante parâmetro eletrônico da estrutura molecular. Os coeficientes das regiões de HOMO representam as regiões com capacidade doadora de elétrons, os sítios de interação com um receptor eletrofílico e revela os grupos responsáveis pelo deslocamento de elétrons na estabilização de um radical livre em uma provável reação de transferência de elétrons. Como visualizado na figura 11, são identificadas as regiões nucleofílicas dos derivados estudados, onde as estruturas de ressonâncias indicam que a participação do grupo amida e do fenol ou fenóxido são essenciais para a formação do sistema de elétrons. A participação dos grupos metila ou metileno é mais efetiva quando estão ligados ao éter do que no grupo amida. Além disso, tanto grupos alquil quanto fenil são muito efetivos como doadores de elétrons. As mesmas propriedades são observadas para todos os compostos. 35 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 FIGURA 11: HOMO de derivados acil-éter do paracetamol. 36 P11 P12 P13 P14 PAR FIGURA 11: HOMO de derivados acil-éter do paracetamol (continuação) Após este estudo de relação estrutura e atividade qualitativa, alguns parâmetros teóricos que descrevem as propriedades eletrônicas, estéricas e de solubilidade foram selecionadas para o estudo da relação estrutura e atividade quantitativa (QSAR) usando valores das atividades analgésicas e anti-inflamatórias de derivados acil-éter do paracetamol. Estes valores são mostrados na tabela 8. 37 Um estudo de QSAR foi realizado pela correlação entre valores de atividade analgésica e propriedades teóricas, usando os parâmetros eletrônicos, estéricos e solubilidade, através da matriz de correlação, que está apresentada na tabela 9. O potencial de ionização (PI) representa a facilidade da doação do elétron do PAR e seus derivados acil-éter 3,5 dissubstituídos. Toda a alteração estrutural onde o grupo acetamida foi convertido em butilamida observa-se pequena redução do valor do PI e as moléculas mostraram-se menos ativas como analgésico nas doses estudadas. Não obstante, quando o grupo hidroxil foi convertido às funções éter, o valor do PI diminuiu e a atividade antiinflamatória aumentou somente para o grupo etoxi, mas não para o grupo benziloxi. Ao contrário, nas outras substituições na posição éter, tais como os grupos metoxi e t-butoxi, houve aumento do valor do PI e a atividade foi reduzida. Logo, podemos observar que o grupo etoxi tem um melhor ajuste na cavidade formada pela interação fármaco-receptor. Adicionalmente, substituintes elétron-doadores ou grupos alquil ou aril nas posições 3,5 (–CH3, – CH2CH3, –CH(CH3)2, –C(CH3)3, –C6H5 e –CH2C6H5) diminuíram o valor do PI resultando na melhor inibição da atividade inflamatória, enquanto elétron- retiradores, como substituintes halogênicos (-Cl) aumentou o valor do PI e diminuiu a capacidade de inibição inflamatória. Os resultados estão de acordo com trabalhos anteriores, onde o HOMO e LUMO tiveram uma boa correlação para a atividade anti-inflamatória para o método in vitro de avaliação biológica para análogos 3,5-dissubstituídos do paracetamol (DINIZ et al. 2004). Geralmente, moléculas com baixos valores de LUMO e altos valores de HOMO são mais ativas. Nos compostos P1 e P3 , onde o grupo acetamida foi substituído pelo butilamida e t-butoxi, o valor do HOMO teve um pequeno aumento, enquanto que o valor de LUMO diminuiu. Logo, nestes compostos, a atividade analgésica diminuiu. Além disso, moléculas onde o grupo fenol foi substituído pelo grupo éter, os compostos são mais eficazes como drogas anti-inflamatória. Nos compostos P12 e P14, grupos elétron-doadores, tais como - OCH2CH2CH2CH3, -C6H5, e -CH2C6H5 substituídos no fenol ou em posições 3,5, o valor de HOMO aumentou, resultando na melhor inibição inflamatória. Por outro lado, átomos de halogênio (-Cl) elétron-retiradores diminuíram o valor de HOMO, resultando em diminuição da capacidade de inibição inflamatória para P7. 38 39 Estes resultados estão de acordo com o mecanismo hipotético proposto para a atividade biológica do paracetamol e análogos 3,5-dissubstituídos, através da via radicalar com conseqüente perda de elétron ou de hidrogênio. Conseqüentemente, o mecanismo de inibição da produção de prostaglandina começa pela doação de um átomo de hidrogênio ou um elétron no sitio ativo da PGES, onde um grupo tirosil é o responsável pela etapa inicial de oxidação do ácido araquidônico ou na reação de produção do álcool endoperóxido cíclico PGH2, como mostrado na figura 12. Como os derivados fenólicos podem reagir com o tirosil, passam para a forma de semiquinona ou cátion radical livre, respectivamente. Portanto, a potência anti- inflamatória pode estar relacionada a capacidade de oxidação dos derivados fenólicos, sugerindo uma ligação entre capacidade antioxidante dos derivados fenólicos na inibição da COX (DUFFY et al. 2001). O O OH OH H N HN N NH HO Tir-348 Tir-385 Ser-530 His-207 His-388 Heme Araquidonato Hidroperóxido N N N N Fe O O H R FIGURA 12: Reação do ácido araquidônico com tirosil-385 da COX e peroxidase. Os resultados obtidos para o potencial de ionização mostrou um valor de correlação de 0,48 para avaliação in vivo. Este valor de correlação para esta propriedade é mais baixo do que o encontrado, uma vez que quando o método de avaliação da atividade foi in vitro o nível da correlação foi de 0,88 (DINIZ et al. 2004). Todavia, muitos fatores devem ser considerados, tais como a diferença no número de moléculas entre os dois estudos, tendo o método in vivo o dobro de moléculas, assim como o efeito de solubilidade. Não obstante, como o potencial de ionização teve boa correlação com o teste biológico, expressando a relação com a saída do elétron para derivados acil-éter do paracetamol, outro modelo de interação deve ser pesquisado e a solubilidade deve ser considerada. 40 Tabela 9. Matriz de correlação para atividade anti-inflamatória. DE30 PI HOMO LUMO EH CLogP Sup Vol Ref Pol DE30 1 PI 0,48 1 HOMO -0,39 -0,96 1 LUMO -0,00 -0,34 0,38 1 EH 0,02 0,53 -0,65 -0,12 1 CLogP -0,41 -0,21 0,07 0,17 0,58 1 Sup -0,17 -0,27 0,21 0,35 0,47 0,86 1 Vol -0,39 -0,46 0,30 0,35 0,29 0,88 0,82 1 Ref -0,38 -0,44 0,23 0,19 0,21 0,75 0,59 0,94 1 Pol -0,37 -0,44 0,24 0,19 0,21 0,76 0,62 0,94 0,99 1 Um modelo hipotético que demonstra a variação de interação entre o paracetamol e seus derivados acil-éter foi baseado no cálculo de energia de estabilização resultante da transferência de elétrons entre duas espécies cátion radical livre. A energia de estabilização (Eiso) é usada como um simples método de predição da habilidade dos derivados acil-éter do paracetamol atuarem como candidatos a AINEs através do seqüestro do radical tirosil (Tir-385). Os maiores valores negativos demonstram a maior efetividade da reação. Os valores de Eiso são mostrados na tabela 10. De acordo com estes valores é possível estabelecer a seguinte estabilidade relativa para os radicais em posições específicas: um aumento no tamanho do grupo alquila aumenta ovalor de Eiso, devido ao fato que o aumento no número de átomos de carbono no grupo fenóxido, na acilamida, ou nas posições 3 e 5, são responsáveis pela doação de elétrons tipo ou e indicam uma estabilidade do cátion radical formado. Entretanto, moléculas que apresentaram diversas formas de ressonância foram mais estáveis do que o efeito indutivo, aumentando o valor de Eiso. Ao contrário, substituições com halogênio nas posições 3 e 5 decresceram o valor de Eiso e mostraram menor valor de atividade anti-inflamatória. Entretanto, a presença de grupos fenila nas posições 3 e 5 mostrou o maior valor de Eiso. Este derivado pode estabilizar o radical livre formado durante a oxidação, pelo aumento da conjugação via efeito de ressonância, contribuindo para o aumento de Eiso. Não obstante, esta molécula não foi avaliada. 41 Este resultado demonstra que o paracetamol e derivados poderão inibir a síntese de prostaglandina pela destruição do radical livre tirosil da COX, mais especificamente, uma reação competitiva entre as espécies, radical tirosil e hidrogênio metilênico do ácido araquidônico, no sítio ativo da PGES, não havendo correlação entre os resultados obtidos teoricamente e a resposta biológica. TABELA 10: Energia de estabilização entre derivados acil-éter do paracetamol e tirosil radical. NH O R1 OR2 R4R3 N H OH + H NO O N H O R1 OR2 R4R3 N H OH + H NO O Eiso Compostos PhOH (H) PhOH●+ (H) Eiso (kcal/mol) Tirosil -761,591953 -761,2992197 0 1 -633,4223125 -633,1515817 (-13,81) 2 -672,7330409 -672,4691400 (-18,09) 3 -790,6747292 -790,4136509 (-19,86) 4 -672,7351882 -672,4670831 (-15,45) 5 -751,3626157 -751,0927409 (-14,34) 6 -829,9850986 -829,7192455 (-16,87) 7 -1513,287917 -1512,996105 (-0,58) 8 -746,5245430 -746,2620415 (-18,97) 9 -712,0436422 -711,7723825 (-13,47) 10 -864,4711598 -864,2014707 (-14,46) 11 -785,8472473 -785,5825341 (-17,58) 12 -977,5917150 -977,3390327 (-25,13) 13 -672,7340761 -672,4588306 (-10,97) 14 -829,9819826 -829,7255462 (-22,76) PAR -515,4799833 -515,2078459 (-12,92) 42 NH O OH NH O O NH O O T1 T2 T3 T4 T5 T6 NH O O NH O O NH O O NH O O Cl Cl T7 T8 T9 NH O O NH O O T10 T11 T12 NH O O NH O OH T13 T14 NH O OH NH O OH0.15 0.05 0.04 0.21 0.08 0.28 0.02 0.03 0.16 PAR NH O OH NH O O 0.14 0.07 0.03 0.20 0.10 0.22 0.04 0.02 0.22 0.19 0.03 0.21 0.10 0.18 0.07 0.06 0.19 0.19 0.08 0.06 0.20 0.09 0.19 0.03 0.20 0.08 0.06 0.18 0.10 0.33 0.09 0.19 0.05 0.08 0.19 0.10 0.36 0.09 0.21 0.08 0.05 0.01 0.19 0.10 0.34 0.09 0.01 0.22 0.06 0.08 0.34 0.10 0.14 0.09 0.22 0.05 0.06 0.18 0.11 0.36 0.11 0.21 0.03 0.08 0.30 0.09 0.15 0.08 0.18 0.16 0.02 0.02 0.18 0.06 0.19 0.09 0.04 0.21 0.13 0.11 0.07 0.17 0.08 0.23 0.21 0.16 0.08 0.08 0.20 0.11 0.27 0.07 0.22 0.14 0.10 0.05 0.14 0.07 0.28 0.04 0.08 0.13 0.02 0.02 0.04 0.20 0.15 0.02 0.04 0.22 0.10 0.20 0.03 0.07 0.21 0.03 0.03 0.02 FIGURA 13: Contribuição de densidade de spin para o paracetamol e derivados. Além disso, o cálculo da densidade de spin para uma abstração inicial do elétron nos derivados acil-éter do paracetamol (figura 13) mostra contribuição P P P P P P P P P P P P P P 43 principalmente no átomo oxigênio fenólico O7 (13-15%), nos átomos de carbono C3 e C5 da posição orto (2-7%) e do carbono C1 na posição para (13-34%). A posição fenóxido substituídos por grupos -CH3, -CH2CH3 ou -C(CH3)3 mostraram uma contribuição de 5-8%. Entretanto, quando fenóxido está substituído por grupos -CH2CH2CH2CH3 a contribuição aumenta (15-18%), no entanto, quando é o grupo -CH2C6H5 a contribuição diminui para 3%. A contribuição do nitrogênio da amida é 14-22%, enquanto que do oxigênio carbonílico é 7-11%. As outras posições são quase na mesma ordem de valores maior para os menos ativos, e menor para os mais ativos. Estes resultados são similares aos obtidos nos estudos com análogos 3,5- dissubstituídos (DINIZ et al. 2004). A menor contribuição do elétron desemparelhado nas posições fenóxido, amida e carbonila explicam a maior atividade anti-inflamatória para os derivados P4, P5 e P6 e P14. Entretanto, a maior contribuição do elétron desemparelhado destas posições esclarece a atividade anti-inflamatória ineficaz para os derivados P1, P2 e P3. Os parâmetros de solubilidade foram utilizados buscando a correlação com fenômenos de absorção e transporte das moléculas. O coeficiente do logaritmo de partição (ClogP) e a energia da hidratação (EH) foram calculados para os derivados acil-éter do paracetamol. A potência anti-inflamatória dentro desta série aumenta com valores de ClogP e EH. Substituintes alquila ou arila aumentam o ClogP e diminuem valores de EH. O aumento do tamanho do substituinte aumenta a hidrofobicidade. Esta hidrofobicidade dos grupos alquila ou arila aumentam na ordem para acilamida: (–NHCOCH3 < –NHCOCH2CH2CH2CH3 < –NHCOC6H5), enquanto que, tanto para alcóxido, quanto para posições 3 e 5 substituídos a ordem é a seguinte: (–CH3 < –CH2CH3 < –CH(CH3)2 < –C(CH3)3 < –CH2CH2CH2CH3 < –C6H5 < –CH2C6H5). Estes resultados estão de acordo com Duffy e col. (2001) para o logP . A baixa correlação pode ser devido aos altos valores de ClogP e baixos valores de EH que modificam substancialmente as propriedades de ADME (absorção, distribuição, metabolismo e excreção) ou aumentam o efeito estérico no sítio receptor. De fato, um aumento de propriedades estéricas, tais como o volume, superfície, refratividade e polarizibilidade, diminui a atividade anti-inflamatória. Logo, diferente dos métodos in vitro, métodos in vivo são dependentes das propriedades de ADME. 44 Não obstante, ao contrário de estudos previamente realizados por métodos in vitro, pouca ou nenhuma correlação foi estabelecida entre as propriedades eletrônicas ou de solubilidade calculadas e a atividade anti-inflamatória in vivo, como mostrado na tabela 9. Isto sugere que outros fatores, tais como hidrofobicidade e efeitos estéricos sejam mais significativos em determinar a atividade dentro desta série de compostos. A posição de grupos volumosos pode ser responsável pelo impedimento estérico, preferencialmente as interações entre os grupos fenóxido, alquila ou arila nas posições 3 e 5. Além disso, é possível que a avaliação da atividade anti-inflamatória, usando o ensaio do edema da pata de rato induzido por carragenina, não descreva a maior tendência entre a estrutura e a atividade para estes derivados acil-éter do paracetamol, por causa da lipofilicidade elevada destes compostos, o que é justificado pelos resultados alcançados, com moléculas incalculadas ou inativas, onde o índice de inibição inflamatória foi somente a DE30. Além disso, os resultados mostram também que o método in vitro (BESSEMS et al. 1995; DINIZ et al. 2004) pode ter mais correlação com descritores teóricos do que métodos clássicos de avaliação biológica. 5.2 Derivados de Pirazolona O estudo de relação estrutura e toxidade de moléculas derivadas da pirazolona, antipirina P15, isopropilantipirina P16, aminopirina P17 e dipirona DIP (Figura 11) foram selecionas de acordo com os trabalhos de Costa e col. (2006). NNH3C H3CO NNH3C H3C O NNH3C H3C N O H3C CH3 H3C CH3 NNH3C H3C N O H3C SO3 Na P15 P16 P17 DIP 1 2 3 4 5 6 7 1' 6' 5' 4' 3' 2' FIGURA 14: Estrutura e numeração dos derivados de pirazolona. As propriedades teóricas observadas no atual estudo são demonstradas na tabela11. Nossos resultados revelam que a toxidade está associada com algumas 45 variáveis como valores de PI e de HOMO. Outros parâmetros foram estudados, mas seus resultados não descreveram a toxidade e modo de ação na agranulocitose. A energia do orbital de fronteira é um parâmetro importante da reatividade por doação ou acepção elétrons na estrutura molecular. Se a molécula tem o valor mais baixo do HOMO tem a capacidade de doação fraca do elétron. Ao contrário, o valor mais elevado do HOMO implica que a molécula é um bom doador de elétron (QUEIROZ et al. 2009). A disposição do HOMO de derivados pirazolonas pode indicar o sítio ativo de seqüestro de radicais livres qualitativamente por transferências de elétron. Enquanto o potencial de ionização (PI) representa a facilidade de doação do elétron de derivados das pirazolonas. Moléculas com hidrogênio ou alquila na posição 4 mostraram valores do HOMO de -5,62 eV para a antipirina e -4,88 eV para o propilfenazona (PORTMAN e LUTHI, 2000). Uma substituição do grupo hidrogênio ou alquila por grupo amino aumentou os valores de HOMO. De fato, o valor do HOMO é -5,06 eV para o aminopirina (QUEIROZ et al. 2009) e -1,67 eV para o dipirona (DIP). Conseqüentemente, o resultado indica que compostos com nitrogênio na posição C4 têm maior capacidade doadora de elétrons. De acordo com os resultados, a dipirona é o composto mais nucleofilico, teoricamente. TABELA 11: Propriedades teóricas e biológicas de derivados da pirazolonas. Compostos HOMO (eV) PI (kcal/mol) Atividade Sequestrante Toxidade O2•- H2O2 HO• HOCl ROO• P15 -5,62 170,49 – – + + – – P16 -4,88 168,69 – – ++ ++ – – P17 -5,06 157,13 – – ++++ ++++ + + DIP -1,67 76,89 – – ++++ ++++ ++ + Como o PI representa a doação de elétron dos derivados de pirazolona e a abstração de elétron é o primeiro mecanismo antioxidante, os valores de PI foram considerados. Os valores de PI são 170,49 kcal/mol para antipirina (15), 168,69 kcal /mol para a propilfenazona (16), 157,13 kcal/mol para aminopirina (17) e 76,89 kcal/ mol para a dipirona (DIP). Assim, moléculas com menores valor de PI tem maior caráter elétrons doador. Portanto, os substituintes por grupos elétron-doadores na posição 4 (-N(CH3) ou -N(CH3)CH2SO3) são importantes, pois diminuem os valores 46 do PI, resultando em melhor propriedade antioxidante, enquanto fracos substituintes elétron-doadores (-H ou -C(CH3)2) aumentam o valor do PI, resultando na diminuição da capacidade antioxidante. Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos por Costa e col. (2005). Em seu estudo, tanto a aminopirina quanto a dipirona impediram o “burst” de neutrófilo induzido por 12-miristato-13-acetato de forbol com elevada eficiência, enquanto que a isopropilantipirina teve pouco efeito e a antipirina não teve nenhum efeito. Geralmente, a inibição da ativação do neutrófilo pode ser devida à inibição de enzimas produtoras de ERO ou pelo efeito sequestrante direto sobre as ERO. Levando em consideração que a principal ERO produzida por neutrófilo é mediada pela NADPH-oxidase, gerando ânion superóxido (O2•-), com formação subseqüente de peróxido de hidrogênio (H2O2), radical de hidroxil (HO•), lipoperóxido (ROO•) e ácido hipocloroso (HOCl) produzido por MPO (XIA e ZWEIER, 1997). Portanto, é de grande interesse investigar os mecanismos do efeito sequestrante das pirazolonas estudados frente a estas espécies reativas. No trabalho atual, os valores de HOMO e PI de derivados pirazolonas foram estudados. Nossos resultados mostraram aumento da capacidade sequestrante de radical livres em correlação com os valores de HOMO e PI na seguinte ordem: antipirina (15) < propilfenazona (16) < aminopirina (17) < dipirona (DIP). Estes valores estão de acordo e mostraram uma correlação entre a atividade sequestrante e propriedades antioxidantes. Os resultados mostram claramente que aminopirina e dipirona são sequestrantes altamente poderosos de HO• e HOCl, de acordo com resultados do “burst” de neutrófilos, a isopropilantipirina teve pouco efeito e a antipirina mostrou somente um efeito residual frente a estas duas ERO. Todavia, nenhuma das pirazolonas estudadas foi capaz de sequestrar O2•- ou H2O2, enquanto que a dipirona se mostrou mais reativa frente ao radical ROO•. Estes resultados podem estar relacionados com seus valores de HOMO e PI. A observação de uma correlação na reatividade das pirazolonas pela doação de elétron frente à produção de EROs por neutrófilos pode ajudar a compreender sua possível contribuição com a agranulocitose. Dois tipos principais de agranulocitose induzidos por drogas foram descritos, um do tipo imunológico, o qual é causado por anticorpos induzido por droga, e outra do tipo tóxico, onde a droga causadora e/ou seus metabólitos suprimem a produção de célula na medula (PATTON e DUFFUL, 1994). 47 No que diz respeito às pirazolonas analisadas no trabalho atual, a aminopirina por muito tempo tem sido associado com uma incidência elevada de agranulocitose (UETRECHT et al.1995) e é a droga melhor caracterizada no que diz respeito a sua reatividade química e biológica. Certamente, diversos estudos encontraram fortes evidências, indicando que o mecanismo da aminopirina induzindo agranulocitose envolve um anticorpo anti-neutrófilo droga-dependente que exige ligação covalente da droga, ou, o mais provavelmente, um derivado reativo da droga interagindo no neutrófilo (UETRECHT et al. 1995). Conseqüentemente, a geração de um derivado aminopirina-reativo pode ser realizado pela sua oxidação. Isto é possível por causa de seus mais baixos valores de HOMO e de PI. De fato, no estudo atual, observou- se que a aminopirina e a dipirona são altamente reativas com HO•, ROO• e HOCl porcausa de seus altos valores de HOMO e baixos valores de PI. O HOMO (Figura 15) e o LUMO (Figura 16) são os principais orbitais usados em um estudo de reatividade química. P15 P16 P17 DIP FIGURA 15: Gráfico da distribuição de elétrons no HOMO de derivados da pirazolona. 48 A energia de HOMO que caracteriza a capacidade de doação de elétron é apropriada para representar a eficiência das pirazolonas em seqüestrar os radicais livres porque o processo para inibir a oxidação do radical pode incluir a transferência de elétron. O HOMO e LUMO são orbitais do tipo π, cujos elétrons estão deslocalizados nos anéis fenil ou pirazolona. Considerando a disposição do HOMO, as moléculas tóxicas mostraram sua contribuição no anel pirazolona por causa do grupo amino, enquanto que as moléculas não-tóxicas mostraram sua contribuição no anel fenil. P15 P16 P17 DIP FIGURA 16: Gráfico da distribuição de elétrons no LUMO de derivados da pirazolona. Ao contrário, considerando a disposição do LUMO, as moléculas tóxicas mostraram a contribuição principal no anel fenil por causa do grupo amino, enquanto que as moléculas não-tóxicas mostraram sua contribuição no anel pirazolona. Estes resultados mostraram que o grupo nitrogênio da posição 4 pode ser atacado 49 facilmente por qualquer um dos agentes eletrofílicos, tais como radicais livres ou íons metálicos, gerando intermediários reativos na agranulocitose. De fato, a oxidação da aminopirina ou dipirona por HOCl gerado por MPO de neutrófilo
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