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TAT Teste de Apercepção Temática cap25

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PSICODIAGNÓSTICO – V 399
25
TAT – Teste de Apercepção Temática,
conforme o modelo interpretativo de Murray
Neli Klix Freitas
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Escrever sobre o manejo clínico de um teste
projetivo complexo como o TAT representa um
desafio. Por um lado, é necessário lembrar pre-
missas teóricas do autor do teste, Henry Mur-
ray, que formulou uma teoria da personalida-
de. Existe, pois, uma teoria da técnica do TAT.
Por outro lado, é indispensável expor como se
analisa e se interpreta o teste, sem correr o ris-
co de repetir, simplesmente, o que consta do
manual. A tarefa reveste-se de importância.
Após vinte anos ininterruptos de emprego do
TAT na clínica e em pesquisa, seguindo o mo-
delo de Murray, pode-se oferecer algumas con-
tribuições importantes na sistematização dos
dados, na análise clínica e no emprego do tes-
te em pesquisas.
Murray, em sua teoria, a Personologia, ex-
plica a dinâmica da personalidade alicerçada
na dualidade das necessidades e pressões (ne-
eds – press). Sua obra Explorations in persona-
lity (1938) expõe a teoria, que deve ser estuda-
da pelos técnicos que se aventuram a empre-
gar o TAT. Seus principais conceitos podem ser
encontrados em manuais de teorias da perso-
nalidade (vide, por exemplo, Hall e Lindzey,
1973; Schultz e Schultz, 1992). Para proceder
ao manejo clínico do TAT, é indispensável rever
alguns princípios teóricos de Murray.
Para ele, é tão importante o passado, ou a
história do indivíduo, como o presente e seu
meio. Como a psicanálise, considera que as vi-
vências infantis são determinantes decisivos
para a conduta do adulto. Outra semelhança
com a posição psicanalítica está na considerá-
vel importância atribuída à motivação incons-
ciente e no profundo interesse pela verbaliza-
ção, subjetiva ou livre, do indivíduo, inclusive
pelas produções da sua imaginação.
Dá, pois, ênfase à motivação. Seu esquema
de conceitos motivacionais tem sido ampla-
mente usado. Insistiu na importância da des-
crição pormenorizada como um preliminar
necessário à formulação diagnóstica. Corrobo-
rando esse ponto de vista, encontra-se seu pro-
fundo interesse pela taxonomia e as classifica-
ções exaustivas que estabeleceu para muitos
aspectos da conduta.
Murray fez sérios esforços para estabelecer
um acordo entre as exigências, muitas vezes
conflitantes, da complexidade clínica e da in-
vestigação. Criou meios de representar a di-
versidade da conduta humana e, ao mesmo
tempo, dedicou-se à tarefa de organizar ope-
rações para avaliar as variáveis que ocupam
uma função central no seu esquema teórico.
Essa dupla ênfase resultou numa maior apro-
ximação entre a prática clínica e a pesquisa
psicológica.
MÓDULO X – Técnicas de Contar Histórias
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400 JUREMA ALCIDES CUNHA
Com base nessas questões teóricas, surgiu
o TAT (Teste de Apercepção Temática). Murray
partiu da pressuposição de que pessoas dife-
rentes, frente à mesma situação vital, experi-
mentá-la-ão cada uma ao seu modo, de acor-
do com sua perspectiva pessoal. Essa forma
pessoal de elaborar uma experiência revela a
atitude e a estrutura do indivíduo frente à rea-
lidade experienciada. Expondo-se o sujeito a
uma série de situações sociais específicas, pos-
sibilitando a expressão de sentimentos, ima-
gens, idéias e lembranças vividas em cada uma
dessas confrontações, pode-se ter acesso à
personalidade subjacente. A Personologia de
Murray procura considerar o indivíduo naqui-
lo que tem de mais próprio na sua relação con-
sigo e com o mundo. Essa singularidade é o
que o TAT procura revelar. Trata-se, pois, de
um teste projetivo.
Desde o surgimento do TAT, diferentes au-
tores têm se dedicado a estudos e pesquisas
sobre o seu manejo, como Balken (1940), Be-
llak (1954), Dana (1959), Hartmann (1954),
Rapaport et alii (1965) e Shentoub (1954).
Em sua grande maioria, tem sido dada uma
ênfase especial a aspectos estritamente quali-
tativos. Mas houve esforços para o desenvolvi-
mento de sistemas de escores, ou de normas
formais, a partir do material produzido (Lanyon
e Goodstein, 1982). Não obstante, conforme o
ponto de vista de Exner (1983), nenhuma des-
sas tentativas chegou ao ponto de “estabele-
cer uma base empírica vigorosa para o teste.
Dessa maneira, parece adequado identificar o
TAT como sendo fundamentalmente uma téc-
nica projetiva” (p.71).
O TAT tem sido empregado no psicodiag-
nóstico prévio à psicoterapia breve, onde uma
compreensão dinâmica do paciente é impres-
cindível ao bom andamento do processo tera-
pêutico. Em uma pesquisa com 30 mães enlu-
tadas pela perda de um filho (Freitas, 1997;
Freitas, no prelo), aplicaram-se quatro lâminas
do TAT no início do tratamento dos sujeitos: 1,
2, 5 e 7MF. As mesmas lâminas foram aplica-
das em sessões de follow-up, três meses após
o término do tratamento. O TAT é um instru-
mento clínico por natureza. Revela a ocorrên-
cia de insight na psicoterapia, constituindo-se
em um instrumento importante para avaliar a
eficácia do tratamento em situações estressan-
tes da vida.
ADMINISTRAÇÃO DO TAT
O TAT compreende 30 lâminas com gravuras e
uma em branco. Dessas, onze são considera-
das universais, no sentido de que são aplicá-
veis a todos os sujeitos: 1, 2, 4, 5, 10, 11, 14,
15, 16, 19 e 20. Para homens adultos, acres-
centam-se as seguintes: 3RH, 6RH, 7RH, 8RH,
9RH, 12H, 13H, 17RH e 18RH. Para mulheres
adultas, além das universais, são indicadas as
lâminas 3MF, 6MF, 7MF, 8MF, 9MF, 12F, 13HF,
17MF e 18MF.
Para jovens do sexo masculino, são recomen-
dadas as lâminas: 3RH, 6RH, 7RH, 8RH, 9RH,
12RM, 13R, 17RH e 18RH. Para jovens do sexo
feminino, são relacionadas as seguintes: 3MF,
6MF, 7MF, 8MF, 9MF, 12RM, 13M, 17MF e 18MF.
Desta forma, tradicionalmente, a adminis-
tração abrange 20 lâminas para cada sujeito,
o que inclui as 11 chamadas universais e mais
uma série de nove, selecionadas conforme o
sexo e a faixa etária.
Pode-se recorrer a formas abreviadas do TAT,
para testar determinadas hipóteses diagnósti-
cas. Recomenda-se recorrer ao manual do tes-
te (Murray, 1977).
Cada uma das lâminas tem um significado
e explora questões específicas. Selecionar as
lâminas pelo significado é uma forma. Outra
forma de seleção abreviada consiste em supri-
mir lâminas que proporcionam dados equiva-
lentes.
Recomenda-se o uso de formas abreviadas
somente após um período de treinamento com
a forma completa. No caso da forma comple-
ta, pode-se empregar duas sessões para a apli-
cação.
No que se refere às instruções propriamen-
te ditas, deve ser dada ênfase à criatividade do
sujeito, que é solicitado a inventar uma histó-
ria. As instruções têm certo caráter de flexibili-
dade, no sentido de levar em conta a idade, o
nível intelectual e outras características do su-
jeito. Assim, quando é possível pressupor cer-
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PSICODIAGNÓSTICO – V 401
to grau de inteligência e nível cultural, bem
como com adolescentes, aconselha-se que a
tarefa seja apresentada como um teste de ima-
ginação. Mas, de um modo geral as instruções
básicas são as seguintes: “Este é um teste que
consiste em contar histórias. Aqui tenho algu-
mas lâminas que vou lhe mostrar. Quero que
me conte uma história sobre cada uma. Você
me dirá o que aconteceu antes, e o que está
acontecendo agora. Explique o que sentem e
pensam os personagens, e como terminará.
Pode inventar a história que quiser” (Murray,
1977, p.102).
É importante que o psicólogo tenha em
mente que, ao expor o sujeito a uma ampla
variedade de representações de situações so-
ciais, pretende chegar à exploração da estru-
tura de sua personalidade subjacente, levan-do-o a comunicar imagens, sentimentos, idéias
e lembranças vividas diante de cada um desses
enfrentamentos.
Basicamente, Lanyon e Goodstein (1982)
acham que existem duas pressuposições ori-
entadoras no trabalho de Murray. Em primeiro
lugar, “os atributos do herói, ou do persona-
gem principal, na história, representam tendên-
cias da própria personalidade de quem respon-
de”, e, em segundo lugar, “as características
do ambiente do herói representam aspectos
significantes do próprio ambiente do respon-
dente” (p.60). Dessa maneira, a pressuposição
básica é de que o sujeito se identifique com o
herói. Com a liberdade que consegue, através
do relato de uma história dramática completa,
espera-se que comunique a sua experiência,
que inclui aspectos perceptivos, mnêmicos,
imaginativos e emocionais. Tudo provém da
memória, ou, melhor, da experiência passada,
tanto os personagens descritos, como as ati-
tudes atribuídas às ações referidas nas histó-
rias. Os personagens, reais ou fantasiados, já
tiveram algum papel importante na vida do
sujeito, talvez por um longo tempo, ou mes-
mo recentemente. As atitudes, os sentimentos
e as ações também se relacionam com tais ex-
periências (Rapaport,1965).
Bem, em princípio, isso é o que espera o
psicólogo. Na verdade, muitas vezes, o sujeito
foge dos conflitos, mascara, nega, se defende
ou “só expressa indiretamente seus conteúdos
ideacionais essenciais”, e, assim, sua resposta
nem sempre “constitui necessariamente o ma-
terial essencial e vital da vida do sujeito” (Ra-
paport,1965, p.262).
O MANEJO DO TAT
O manejo clínico do TAT, ou a sua elaboração,
é um processo que consta de análise, interpre-
tação, síntese dinâmica e diagnóstico.
Análise
Analisar um TAT consiste em destacar as mo-
dalidades do discurso que precedem à cons-
trução das diversas narrativas, produzidas a
partir das diferentes lâminas. A forma como
os relatos são construídos e comunicados ao
clínico possibilita o acesso aos mecanismos de
defesa do ego. Através da sua análise, pode-se
obter informações acerca da normalidade, ou
da patologia, nas diferentes organizações da
personalidade, e, também, tem-se o acesso à
problemática de cada sujeito, a sua conflitiva,
a sua subjetividade, que o torna único, em re-
lação com o outro e com o meio.
Na análise do TAT, o psicólogo deve exami-
nar as histórias do sujeito e a sua conduta du-
rante a testagem. A história representa o con-
teúdo manifesto e subentende um conteúdo
latente, que reflete os dinamismos subjacen-
tes da personalidade do sujeito (Rapaport,
1965). A partir de ambos, da história e da con-
duta do sujeito durante a testagem, é possível
abstrair dados significativos.
Pela análise de conteúdo, o psicólogo des-
membra cada história nos conteúdos expres-
sos no tema central, chegando à identificação
do herói, ao reconhecimento de seus motivos,
tendências e necessidades, à exploração de seus
estados interiores, ao exame das pressões am-
bientais e do desfecho.
Identificação do herói: Segundo Murray
(1977), o primeiro passo, na análise de uma
história, é a identificação do herói. Este é o
personagem com quem o sujeito se identifica.
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Highlight
402 JUREMA ALCIDES CUNHA
Ele é, também, via de regra, o mais parecido
com o sujeito, não só quanto ao sexo e faixa
etária, como no que se refere a sentimentos,
motivos, dificuldades e emoções.
Na maioria das vezes, o herói é representa-
do por um personagem. Contudo, pode ocor-
rer que o sujeito se identifique com mais de
um personagem. Isso pode se verificar de dife-
rentes formas.
Em primeiro lugar, a identificação do sujei-
to pode modificar-se no decorrer da história,
com o aparecimento de diversos heróis: primei-
ro, segundo, etc.
Em segundo lugar, pode haver heróis com-
petidores (por exemplo, um policial e um la-
drão). Neste caso, um deles pode estar repre-
sentando forças do superego (o policial que
faz cumprir a lei) contra impulsos anti-sociais
(ladrão). É a expressão de uma situação confli-
tiva interna, configurando um conflito entre
duas instâncias da personalidade, projetado no
conteúdo manifesto da verbalização.
Em terceiro lugar, o sujeito pode narrar uma
história que contenha outra: o herói conta uma
história, em que observa outro herói, com
quem simpatiza e a quem admira, e que, nesta
história, desempenha um papel principal. Por
exemplo, na lâmina 7MF, um sujeito do sexo
feminino pode narrar uma história sobre uma
mulher que, por sua vez, conta uma história
sobre outra, que cuida de uma criança, que é
uma mãe amiga, etc. Neste caso, há um herói
primário (a mulher que conta uma história) e
um secundário (a outra mulher, que cuida de
uma criança).
Eventualmente, aparece apenas um herói,
mas o sujeito se identifica com um persona-
gem do sexo oposto, expressando deste modo
essa parte de sua personalidade.
As características demográficas (sexo, ida-
de, etc.) e físicas (aparência, etc.) do herói su-
gerem aspectos da imagem – real ou ideal –
que o sujeito tem de si mesmo. Outros perso-
nagens podem representar identificações múl-
tiplas do sujeito. As relações que se estabele-
cem entre o herói e os demais personagens
podem refletir atitudes conscientes ou incons-
cientes do sujeito frente aos mesmos, bem
como podem revelar os papéis que estes de-
sempenham (de frustração, de estimulação,
etc.). Quando não são introduzidas relações
interpessoais, pode-se levantar a hipótese de
pobreza quanto à sociabilidade e às relações
objetais.
Em relação ao herói, é importante identifi-
car traços e tendências, bem como atitudes
frente à autoridade. Em termos de traços e ten-
dências, é possível se relacionar: a) superiori-
dade (capacidade, prestígio, poder); b) inferio-
ridade (incapacidade, desprestígio, debilidade);
c) extroversão; d) introversão. Algumas das
atitudes frente à autoridade, facilmente iden-
tificáveis, são: a) domínio, submissão; b) de-
pendência, independência; c) medo, agressão;
d) gratidão, ingratidão; e) orgulho, humilda-
de, etc.
Motivos, tendências e necessidades do(s)
herói(s): As necessidades podem ser expressas
como impulsos, desejos ou intenções ou, ain-
da, como traços de conduta manifestos nas
histórias.
A necessidade é um constructo que repre-
senta uma força, de modo a transformar uma
situação insatisfatória existente. A necessida-
de gera um estado de tensão que conduzirá à
ação, reduzindo a tensão inicial e restabelecen-
do o equilíbrio. Pode ser produzida por forças
internas ou externas, sendo sempre acompa-
nhada por um sentimento ou emoção (Mur-
ray, 1977).
O autor relacionou 28 necessidades (ou ten-
dências), classificadas segundo a direção ou
objetivo (motivos). Essas necessidades são iden-
tificadas na conduta do herói, traduzindo-se
por: a) ações de iniciativa do herói, em relação
a objetos, situações e pessoas, ou b) reações
do herói às ações de outras pessoas.
As necessidades por ele relacionadas, defi-
nidas por suas manifestações na conduta do
herói, no manual, são as seguintes: realização,
aquisição, aventura, curiosidade, construção,
oposição, excitação, nutrição, passividade,
gozo lúdico, retenção, sensualidade, conheci-
mento, afiliação, agressão, domínio, exposição,
proteção, reconhecimento, rejeição, sexo, so-
corro, humilhação, autonomia, evitação da
culpa, deferência, evitação de dano e exibicio-
nismo.
PSICODIAGNÓSTICO – V 403
Estados interiores do herói: Neste item, é
importante a identificação dos estados interio-
res do herói, procurando examinar que tipos
de afetos se manifestam, em que direção e de
que forma. Também é preciso analisar como
surgem e como se resolvem. Além disso, é ne-
cessário analisar que estados interiores pare-
cem importantes. Como são as manifestações
de amor e de sentimentos de culpa? Que con-
flitos aparecem?
Os conflitostransparecem através da ação
de forças e/ou tendências opostas da persona-
lidade. Estas podem se expressar pela oposi-
ção entre as necessidades, pela presença de
heróis com traços opostos ou pelas oposições
manifestas nos personagens.
Refletem o choque de forças de diferentes
instâncias da personalidade e se evidenciam,
mais nitidamente, entre pares de opostos: pas-
sividade/atividade, dependência/independên-
cia, realidade/prazer, etc. Assim, o conflito
transparece na ação de forças conscientes e
inconscientes da personalidade, em busca de
objetivos incompatíveis. O conflito também
pode ocorrer entre os impulsos do sujeito, nor-
mas e valores do grupo social ao qual perten-
ce, que foram ou não internalizados. Se inter-
nalizados, vão aparecer como sanções do su-
perego. Senão, vão se manifestar como medo
de castigo, de perda da liberdade ou medo de
perda de outras condições importantes, mas
sem envolvimento de culpa.
A ação do superego pode ser identificada
nas expressões de culpa, ficando implícito que
um castigo é merecido, seja autocastigo, ou
não. Também pode surgir na forma de auto-
justificativa, em termos de aprovação e desa-
provação, crítica e na exigência de reparação.
A intensidade do conflito também precisa
ser avaliada. A vulnerabilidade a um conflito
costuma transparecer através de forte mobili-
zação afetiva, com a emergência de sinais de
ansiedade e/ou com o surgimento de defesas
para manejá-la, as quais podem ser eficazes,
ou não. Também é importante identificar o tipo
de ansiedade que se faz presente (persecutó-
ria? de separação, de abandono? outra?) e sa-
ber em que circunstâncias surge, como se ex-
pressa e se consegue ser resolvida.
Há, entretanto, outros tipos de manifesta-
ções afetivas que precisam ser analisados com
cuidado, para se chegar a um bom entendi-
mento dinâmico, que pode servir de subsídio
para o diagnóstico diferencial. Por exemplo, é
essencial estar atento para aspectos disfóricos
e maníacos, presentes no protocolo. Como
aparecem? Como se sucedem e se resolvem?
Pressões do ambiente: É essencial identifi-
car as pressões que o herói percebe como ad-
vindas do ambiente e os efeitos das mesmas.
As pressões são determinantes do meio ex-
terno, que podem facilitar ou impedir a satis-
fação da necessidade, representando a forma
como o sujeito vê ou interpreta seu meio. Para
Murray (1938), a personalidade é o agente or-
ganizador e administrador do indivíduo, cuja
função é a de integrar conflitos e pressões, vi-
sando à satisfação das necessidades.
Nas verbalizações do TAT, é essencial iden-
tificar as pressões que o herói percebe como
advindas do ambiente e os efeitos das mes-
mas.
Em primeiro lugar, é preciso examinar os
personagens ou outros elementos, justificados
pela realidade da lâmina, que são ou não apro-
veitados no contexto da história. Em segundo
lugar, é importante reconhecer aqueles presen-
tes no estímulo, mas que se apresentam de
forma distorcida. Em terceiro lugar, deve-se
identificar os personagens ou objetos, não sus-
citados pelos elementos de realidade da lâmi-
na, mas que são introduzidos pelo sujeito, jus-
tificados pela imaginação, mas freqüentemente
a serviço de objetivos defensivos. O ponto bá-
sico a ser considerado é se o sujeito percebe o
seu ambiente para dificultar, obstaculizar ou,
pelo contrário, para favorecer as necessidades,
os motivos ou as intenções do herói. Especial-
mente importantes parecem ser os elementos
utilizados, distorcidos ou acrescentados, com
o fim de obstruir o confronto com um deter-
minado estímulo ou conflito, bem como per-
ceber como tais pressões são enfrentadas, des-
viadas, negadas ou deformadas, enfim, che-
gar a uma compreensão dinâmica da situação.
Murray (1977) relacionou algumas das prin-
cipais pressões, reais ou fantasiadas, que o
sujeito recebe e que representariam as neces-
404 JUREMA ALCIDES CUNHA
sidades das pessoas com as quais ele se rela-
ciona: aquisição, afiliação, agressão, conheci-
mento, deferência, conformismo, respeito,
domínio, exemplo, exposição, proteção, rejei-
ção, retenção, sexo, socorro, carência, perigo
físico, ataque físico.
Desfecho: Qual o desenlace? Há vários des-
fechos possíveis, que vão indicar como o herói
resolve as suas dificuldades, os seus conflitos,
como trabalha com suas necessidades internas
e como enfrenta as pressões que provêm do
ambiente.
O examinador pode identificar o êxito ou o
fracasso na resolução das dificuldades, verifi-
cando qual a proporção existente entre os fi-
nais felizes e infelizes, claros e indecisos, oti-
mistas e pessimistas, mágicos e realistas ou,
ainda, convencionais. Pode-se examinar se o
herói demonstra insight das suas dificuldades,
se dissocia no desfecho, ou integra suas per-
cepções, conseguindo chegar a conclusões, ou
não.
O desfecho, além de permitir a avaliação
da adequação ou não à realidade, fornece al-
guns dados para a formulação das indicações
terapêuticas. Assim, por exemplo, nas verbali-
zações, se o herói demonstrar capacidade de
auto-observação, de flexibilidade para mudan-
ça de atitudes, de insight, de adaptação e, ain-
da, se suas relações interpessoais são basea-
das no diálogo e é um personagem ativo, pode-
se recomendar uma terapia de esclarecimen-
to. Ao contrário, se o herói é dependente, pre-
cisa ser orientado, a psicoterapia aconselhável
seria a de apoio. Contudo, nesta decisão de-
vem ser consideradas tanto a história do pa-
ciente como informações do exame das fun-
ções do ego (Freitas, 1997).
Tema: Portuondo (1977a) define tema como
“a ‘interação’ entre uma ‘necessidade’ (ou fu-
são de necessidades) do herói e uma ‘força’
(ou fusão de forças) do ambiente, unida ao
desfecho (triunfo ou fracasso do herói)” (p.23).
O tema pessoal pode adequar-se, ou não,
aos significados padronizados das lâminas. O
tema pessoal, não-padronizado, pode revelar
a linha de pensamento do sujeito.
Rapaport (1965) propôs três regras para a
avaliação do significado do tema nas histórias.
Em primeiro lugar, quanto mais uma história
se desvia do material padronizado, tanto mais
significativo e importante será o seu conteúdo
ideacional. Em segundo lugar, quanto maior
for o número de histórias que se desviam dos
significados padronizados, menor é a proba-
bilidade de que uma, em particular, expresse a
história interna do sujeito. Em terceiro lugar,
um grande número de histórias que se desvi-
am dos significados padronizados pode indi-
car a presença de patologia.
Exemplos de análise de conteúdo em ver-
balizações
Caso 1:
Informações básicas: Trata-se de um rapaz de
19 anos, solteiro, filho único, cujo pai é médi-
co. Refere ter namorada, de quem “gosta mui-
to” (sic). Durante o ensino médio, diversas ve-
zes manifestou a vontade de cursar Engenha-
ria Civil. Contudo, seus pais sempre desejaram
que fosse médico e que, após a graduação,
fosse se especializar no exterior. O jovem fez
vestibular para Medicina, sendo aprovado. Não
obstante, ao longo do primeiro semestre, sen-
tiu-se “desmotivado, tendo tirado notas bai-
xas”. Então, decidiu procurar uma psicóloga
para “conversar e descobrir o que estava acon-
tecendo com ele” (sic).
Lâmina l: “O jovem estuda música e gosta
de música desde pequeno. Certo dia, estudan-
do as partituras musicais, começou a tocar.
Parou logo... não conseguiu tocar mais. Estava
difícil. Os professores estavam observando e
insistiram para que ele tocasse. Ele ficou triste
e pensou: ‘Preciso ir em frente... O que vai me
acontecer, se não conseguir? Estão exigindo
muito de mim’. Ficou quieto, pensando no que
fazer. Por um lado, quer tocar, mas receia não
conseguir. E logo ele, que sempre foi tão estu-
dioso... E fica assim durante o tempo todo da
aula”.
Título: O jovem estudioso e o violino.
Herói: O jovem estudioso, com traços de
incapacidade e de introversão. É submisso, sen-
temedo, não tem confiança em si.
PSICODIAGNÓSTICO – V 405
Motivos, tendências e necessidades do he-
rói: O herói sente necessidade de realização
pessoal e de conhecimento. Quer pensar, re-
fletir, para resolver suas dificuldades.
Estados interiores: Está inseguro e quer
se sentir seguro quanto ao que é importante
em seus estudos. Sempre foi estudioso, aten-
dendo às suas expectativas e às dos profes-
sores (pais). Submissão e desejo de indepen-
dência. Quer se sentir seguro, confiante em
si, mas não consegue. Este é o seu conflito.
O afeto predominante é de tristeza. Mas há
também sinais de ansiedade: sente-se exigi-
do, pressionado e tem medo de não conse-
guir. Há ansiedade de perda de aprovação,
de amor (“O que vai me acontecer, se não
conseguir?”). As defesas mais evidentes são
repressão e negação. O superego é severo: é
exigente consigo mesmo.
Pressões do ambiente: Nas relações inter-
pessoais, sente pressões de aquisição, de co-
nhecimento, de afiliação, de respeito e de pro-
teção.
Desfecho: O herói não resolve seu conflito,
suas dificuldades. Reage às pressões com pas-
sividade (fica em silêncio, parado).
Tema: O tema é de um jovem inseguro dian-
te das pressões pessoais e sociais.
Lâmina 6MF: “Um jovem... é, é jovem. Ele
está muito triste, porque não está conseguin-
do um bom desempenho no trabalho. Não
compreende bem os livros que precisa ler, para
levar para a frente o trabalho, com precisão.
Fica calado. Aí chega a sua mãe. Ela vê o filho
quieto, andando de um lado para outro. Ela
pergunta o que é que está acontecendo. O jo-
vem pensa. Diz que não é nada. Mas não
agüenta e começa a chorar. A mãe pergunta
por que chora. ‘O que aconteceu?’. Ele diz: ‘Não
adianta, não consigo mais fazer nada bem fei-
to no trabalho. Quero sair do emprego’. E pede
a ela que avise o chefe de que não vai mais
trabalhar. A mãe diz que ele deve tentar. Mas
não adianta. Ele pede, ele implora que ela te-
lefone e avise seu chefe. Tem que estudar mui-
to, para trabalhar... É pesado demais! E a mãe
fica ali, calada, preocupada. O filho continua
sem saber o que fazer”.
Título: O jovem que não sabe o que fazer.
Herói: Um jovem, com traços de incapaci-
dade, de introversão, de submissão, de depen-
dência.
Motivos, tendências e necessidades do he-
rói: Sente necessidade de conhecimento, de
reconhecimento, de proteção e de socorro.
Estados interiores: Está em conflito, porque
se sente incapaz de um bom desempenho. Sen-
te-se exigido demais: o que pode dar não con-
diz com o que exigem dele. Não tem autono-
mia para resolver o problema e pede ajuda à
mãe. Há desejo de autonomia, mas há depen-
dência materna. O afeto predominante é tris-
teza. Mas há ansiedade: sente-se pressionado,
com medo. A ansiedade manifesta-se como
temor do fracasso, de perda de prestígio pela
incapacidade pessoal e de perda de aprovação.
Utiliza as defesas de repressão e negação. O
superego é severo, exigente consigo mesmo.
Pressões do ambiente: Agressão, conheci-
mento.
Desfecho: Não consegue resolver o confli-
to. Pede auxílio à mãe, mas nada ocorre.
Tema: O filho que comunica à mãe que não
consegue mais lidar com o seu ambiente. Pre-
cisa de ajuda.
Caso 2:
Informações básicas: Trata-se de uma mulher
adulta, com 45 anos, casada, com uma filha
viva (19 anos), e um filho falecido há três me-
ses, com 21 anos. Seu filho teve leucemia. Fo-
ram três anos de tratamento, mas morreu. Foi
encaminhada para atendimento psicológico em
um ambulatório hospitalar. Refere “sentir-se
angustiada, infeliz, com uma tristeza insupor-
tável (sic)”.
Lâmina 2: “Essa jovem mulher sai para es-
tudar. Uma vez, ela teve muitos sonhos: queria
casar, trabalhar fora, ter filhos. Ela deixou sua
família lá no interior e foi para a cidade estu-
dar. Mas os sonhos que se realizaram duraram
pouco: uma dor muito grande se atravessou, e
ela fez tudo para vencer a morte. Agora segue
só com sua dor. Está desesperada. Não tem
ninguém. E a dor é forte demais...será que ela
errou? Acho que esta história terminou”.
406 JUREMA ALCIDES CUNHA
Título: A mulher que teve seu sonho inter-
rompido.
Herói: Uma jovem mulher, com traços de
incapacidade, debilidade e introversão. Sente-
se dependente, sem perspectivas, com medo.
Motivos, tendências e necessidades do he-
rói: Sente necessidade de proteção, de socor-
ro, de evitação da culpa, de realização pessoal.
Estados interiores: Está desesperada, sen-
te-se culpada porque não conseguiu evitar uma
morte. Seus sonhos e projetos de vida desmo-
ronaram. Sente-se só, com muito medo de não
conseguir enfrentar a dor. Tenta fugir, negar (a
história terminou). Sente-se culpada (Será que
errou?). O superego é severo. É exigente con-
sigo. “Não conseguiu vencer a morte, e errou”.
Pressões do ambiente: Sente-se só, com
pressões de rejeição, carência e perigo.
Desfecho: O herói não resolve seu conflito:
“Não tem ninguém”. Foge do enfrentamento
da realidade. “A história terminou”. Está sem
perspectiva.
Tema: O tema é o de uma jovem mulher que
se sente só diante da dor da morte.
Lâmina 7 MF: “Uma mulher... ela senta no
sofá e lembra da sua criança pequena... Eu se-
gurava ela no colo e era a mais feliz das mu-
lheres. Ninguém me contou que isso ia termi-
nar. Mas terminou... Não cuidei direito da crian-
ça. Ela se foi... Estou desesperada... Só ficou
um brinquedo, um sofá vazio, tão vazio como
meu coração. É que eu só tinha esse sonho, o
de ter a criança, e não ficou nada... A mulher
do sofá espera a sua mãe... Mas não foi boa
filha, e a mãe não chega. Vai levar sua vida só
de formalidades daqui para frente... sem
sonhar...sem sofrer. Deu...”
Título: A mulher sofredora e formal.
Herói: Uma mulher sozinha, com traços de
incapacidade e de introversão; sem confiança
em si.
Motivos, tendências e necessidades do he-
rói: O herói, a mulher, sente necessidades de
afiliação, de proteção, de socorro, de evitação
da culpa e de reconhecimento. Precisa de aju-
da, para vencer sua dor e diminuir sua culpa.
Estados interiores: Está desesperada porque
perdeu sua criança. Dedicou-se ao seu sonho
de ser mãe, com exclusividade. Mas sente cul-
pa, acha que falhou: falhou como mãe e como
filha. Quer ser ajudada, mas não se acha mere-
cedora da ajuda. Este é o seu conflito. O afeto
é a tristeza, o desespero. Sente ansiedade e
solidão.
O superego é severo: a culpa é intensa. As
defesas predominantes são a negação e a ra-
cionalização. É muito exigente consigo mes-
ma. Há ansiedade de perda do amor e de apro-
vação.
Pressões do ambiente: Sente pressões de
afiliação, proteção, perigo, rejeição.
Desfecho: O herói não resolve seu conflito.
Não tem com quem compartilhar sua dor.
Nega. “Vai viver só de formalidades.” A confli-
tiva persiste. Reage às pressões com confor-
mismo.
Tema: O tema é o de uma mulher desespe-
rada e sozinha diante das pressões e da dor da
perda.
Análise formal: Segundo Murray (1977), a
análise formal do TAT deve considerar os se-
guintes itens:
a) atitude frente ao teste: disponibilidade
ou não; tranqüilidade; temor;
b) atitude frente ao psicólogo: colaboração;
hostilidade; críticas ao psicólogo e ou ao tes-
te; boa vontade;
c) atitude frente às lâminas: o sujeito cum-
pre as instruções ou não; ajusta a história ao
que a lâmina explora ou não; produz omis-
sões, adições ou distorções dos estímulos da
lâmina; e
d) manifestações de conduta: linguagem;
tempo de reação; velocidade na voz ou lenti-
dão; pausas, hesitações; desejos de fumar, de
sair da sala; transpiração; tiques; clareza da lin-
guagem; tipo de vocabulário, etc.
Interpretação
A análise das verbalizações do sujeito permite
o reconhecimento de dados significativos, sen-
do possível a interpretação dos mesmos. Inter-
pretar, conforme Murray (1977), significa “tra-
duzir os motivos (problemas, necessidades,
pressões, etc.), encontradosno repertório das
histórias, em termos dos fatores internos e ex-
PSICODIAGNÓSTICO – V 407
ternos da personalidade do sujeito (sentimen-
tos, tendências e atitudes íntimas subjacentes;
ambiente, pessoas, objetos que operam sobre
ele)” (p. 61). Desta maneira, a postura inter-
pretativa deve orientar-se para o conhecimen-
to da dinâmica da personalidade do sujeito.
Exige do psicólogo conhecimentos sólidos da
psicologia dinâmica e experiência clínica (Ra-
paport, 1965).
Além disso, para interpretar o TAT, é indis-
pensável o conhecimento da história pessoal
do caso, porque a precisão e a riqueza das con-
clusões do teste têm uma correlação direta com
este material.
Por outro lado, para chegar à compreensão
da personalidade, é necessário o exame do re-
pertório completo de histórias, para avaliar a
consistência entre os conteúdos.
Na interpretação do TAT, o psicólogo não
deve buscar, apenas, a comprovação da parti-
cipação do sujeito nas formas de conduta do
grupo normativo ou, ainda, verificar se há des-
vio significativo dos mesmos. Importa obter a
gestalt do conjunto das respostas, relacionan-
do as coincidências e os desvios das normas
aperceptivas e temáticas.
Cada dado significativo deve ser compre-
endido no conjunto dinâmico, incluindo o
que o antecede, sua intensidade e suas con-
seqüências.
Quando o psicólogo encontra um motivo,
uma seqüência dinâmica em uma história, deve
examinar a possibilidade de sua repetição nas
demais. Para esclarecer esta afirmação, tome-
mos como exemplo verbalizações ao TAT de
uma jovem de 22 anos. Na Lâmina 2, sua res-
posta foi: “A moça olha para a mulher do cam-
po e pensa que talvez esta seja feliz, vivendo
para o lar e para os filhos”. Na Lâmina 7MF,
disse: “A mãe, bem jovem, conta uma história
para a sua filha, em que a boneca-mãe estu-
dou muito, mas ficou feliz mesmo quando cui-
dou da boneca-filha”. Na Lâmina 5, sua verba-
lização foi de que: “A mãe saiu correndo do
trabalho para a sua casa, porque sabia que era
ali que estava a sua felicidade. Abriu a porta e
até se emocionou de alegria”. Neste caso, e ape-
nas após o exame desta seqüência, pode-se afir-
mar que essa jovem, indecisa entre a escolha do
estudo ou da profissão e a vida no lar, junto aos
filhos, optou pela segunda alternativa.
Reafirma-se, portanto, que um dado é sig-
nificativo quando fica corroborado por duas
ou mais histórias. No mesmo sentido, devem
ser avaliadas as distorções, omissões e/ou as adi-
ções de personagens e/ou de outros elementos.
Elaboração da síntese
Após o procedimento de análise, levando-se
em consideração aspectos da observação, e da
história, deve-se elaborar uma síntese, que tra-
duza a dinâmica da personalidade do indiví-
duo testado (Freitas, 1996). Uma análise em
seqüência permite ao profissional a constru-
ção gradativa de um quadro mais abrangente.
Isso requer uma certa prática. Pode-se recorrer
a um esquema de interpretação como, por
exemplo temas abordados, características e
necessidades dos heróis, que são reveladoras
da auto-estima do sujeito. Pode-se identificar
as possibilidades de ação na busca de resolu-
ção das tramas do herói. É importante a análi-
se do ambiente externo, saber que tipo de re-
lações procura estabelecer, como reage às pres-
sões externas. Aborda-se, também, relaciona-
mentos específicos, tais como figuras paren-
tais, relações sociais, heterossexuais, etc. A se-
guir, importa relatar os conflitos do herói nas
diversas lâminas; a presença da ansiedade per-
turbadora e dos mecanismos de defesa comu-
mente empregados. Finalmente, importa en-
focar como ocorre a elaboração dos conflitos,
que indica a disponibilidade do indivíduo po-
der entrar em contato com seus conteúdos in-
ternos; suas possibilidades de mudança e de
crescimento pessoal. Para isso, os desfechos das
histórias são particularmente reveladores da
integração do ego (Freitas, 1995).
Concluindo, a síntese deve descrever uma
pessoa real e não uma coleção de itens isolados.
Diagnóstico
Pela própria natureza da técnica, o TAT é es-
sencialmente indicado para o entendimento
408 JUREMA ALCIDES CUNHA
dinâmico da personalidade. Assim, só secun-
dariamente, oferece subsídios para a classifi-
cação nosológica.
Quando se pretende o entendimento dinâ-
mico, a análise dos dados deve ser enfocada
de modo a apresentar “um quadro global do
mundo interno do indivíduo” (Rapaport, 1965,
p.283), ou seja, é preciso compreender o sujei-
to em função de suas principais áreas vitais,
em suas relações familiares, em suas relações
hetero ou homossexuais (com referência à sua
vida afetiva, sexual e/ou matrimonial), em suas
relações sociais (e anti-sociais) e com o traba-
lho. Murray (1977) apresenta a orientação de
Tomkins, para chegar a uma análise “do com-
portamento da personalidade frente às princi-
pais regiões existenciais” (p.101). Recomenda-
se, sobretudo ao psicólogo iniciante, um estu-
do cuidadoso desse material, para experiência
no manejo dos dados, até que possa chegar
ao seu próprio entendimento da dinâmica pes-
soal do sujeito.
Em relação a informações básicas para che-
gar a um diagnóstico nosológico, se compa-
rarmos os subsídios de Murray (1977), com
base também em outros autores, e os de Ra-
paport (1965) e de Portuondo (1970), podere-
mos verificar que cada um dos autores se apóia
na experiência dos demais, de maneira que uma
tentativa de síntese incorrerá numa repetição
de conteúdos. Por outro lado, tais informações
são pouco sistemáticas. Ora esclarecem aspec-
tos dinâmicos, ora são descritivas em termos
das verbalizações de sujeitos que apresentam
determinados estados afetivos, ora pretendem
apontar indicadores diagnósticos para certo
nível de funcionamento ou relacionam mani-
festações encontradas em algum quadro clíni-
co. São, portanto, bastante vagas, se levarmos
em conta os critérios diagnósticos específicos,
incluídos nas classificações nosológicas mais
recentes. Assim, os subsídios encontrados nas
obras citadas podem eventualmente auxiliar a
corroborar outros achados.
Não obstante, o TAT pode oferecer uma
contribuição importante em termos de diag-
nóstico, se considerarmos que refinamentos
no entendimento dinâmico podem servir de
subsídios básicos para um diagnóstico dife-
rencial.

Outros materiais