186 pág.

Pré-visualização | Página 39 de 50
e saneamento no meio rural de Mo- çambique. Por um lado, questiona as formas de organização e funcionamento dos Fórum Locais na implementação dos pro- gramas de abastecimento de água e, por outro lado, interroga se a forma de participação das comunidades locais permite um empoderamento das mesmas e um maior envolvimento nas ac- ções de promoção da saúde. Com base na análise bibliográfica e, de algumas experiências de campo, procuramos discutir as formas de implementação dos projectos de água e saneamento num período atravessado pela promoção dos direitos humanos bem como o da promoção da saúde na comunidade. Palavras-chave: promoção da saúde, poder decisório, mu- dança de mentalidade, comunidades locais LOCAL COMMUNITIES IN HEALTH PROMO- TION: REFLECTIONS ON THE IMPLEMENTATION OF DECENTRALIzATION MEASURES IN THE WATER AND SANITATION RURAL SECTOR IN MOzAMBIQUE Abstract: In this article, we examine the participation of local communities at implementing the measures and procedures for de- centralization of the water supply and sanitation sector in Mozambique rural area. On the one hand, we question local forums organization and operation in the implementation of programs for water supply; and, on the other hand, we question whether the participation of local communities Rehana Dauto Capurchande Comunidades locais na Promoção da Saúde: reflexões em torno da implementação de medidas de descentralização no sector rural de águas e saneamento em Moçambique 132 allows their empowerment and a greater involvement in health promotion. Based on literature review and on some field experiments, we discuss ways of imple- menting water and sanitation projects over a period traversed by human rights promotion, as well as by the promotion of community’s health. Keywords: Health promotion, decision-making power, change of mind, local communities Rehana Dauto Capurchande Comunidades locais na Promoção da Saúde: reflexões em torno da implementação de medidas de descentralização no sector rural de águas e saneamento em Moçambique 133 Introdução O acesso à água potável e saneamento básico nas zonas rurais de Moçambique constitui uma das questões sociais centrais nos debates das arenas política e científica. Se, por um lado, coloca-se em questão a exclusão e a violação dos direitos humanos no que con- cerne à satisfação das necessidades básicas, por outro lado, questiona-se o consumo da água imprópria e seu impacto na qualidade de vida dos membros das comuni- dades, sobretudo num período atravessado pelos debates sobre a promoção do exercício dos direitos humanos bem como o da promoção de saúde1. Desde o reconhecimento do Relatório Lalonde na década 70, da contribuição da Conferência de Alma Ata na década 90 e da promulgação da Carta de Ottawa na década 802, ao nível internacional, ampliou-se o conceito de pro- moção da saúde através da incorporação dos determinantes sociais, culturais e políticos no campo da saúde. Em Moçambique, a promoção da saúde como campo conceptual e prático tem vindo a ganhar relevo nas últimas décadas. O tema tem suscitado debates políticos e científicos propiciando quer diferentes abordagens sobre os problemas que afectam as populações, quer ainda sob diversas iniciativas que permitem adicionar a qualidade de vida das colectividades. Assim, a evolução dos actuais debates tem colocado em causa não somente os determinantes sociais, culturais e económicos da saúde mas também a necessidade de políticas públicas e empoderamento das comunidades locais. Para tal, uma das medidas tomadas no Plano Económico e Social3 (PES) de 2009, no campo da promoção da saúde, consiste no reforço do envolvimento comunitário para a saúde e na ênfase no saneamento do meio e promoção da higiene4. 1 Nos últimos tempos, a promoção da saúde tornou-se um tema de interesse em várias arenas. As discussões têm se polarizado em termos de desafios que se colocam sobretudo no campo das políticas públicas e o da participação social. 2 De referir que a Carta de Ottawa promulgada em 1986 define a Promoção da saúde como processo de ca- pacitação da comunidade para actuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde. A mesma dá ênfase do impacto a nível económico, social, cultural e político sobre os fenómenos de saúde e propõe um conjunto de estratégias, a saber, a criação de políticas públicas para a promoção de saúde, reorientação dos serviços de saúde e ao reforço das acções comunitárias em prol da melhoria da qualidade de vida, (WHO, 1984). 3 O Plano Económico e Social é um documento produzido anualmente pelo Governo de Moçambique para cada sector de intervenção cujo objectivo é implementar intervenções que visam alcançar metas definidas pelo Programa Quinquenal do Governo (PQG) e Metas do Desenvolvimento do Milénio. Assim, o PES materializa para além do PQG e das Metas do Desenvolvimento do Milénio, o Plano Estratégico de cada um dos sectores, podendo estes ser, o da saúde, água e saneamento, agricultura, entre outros. 4 Para além destas acções foram definidas como prioridades, melhorar a capacidade de análise de águas e o reforço da segurança de alimentos. Estas acções são complementadas pelo reforço da capacidade do Serviço Nacional de Saúde com atenção especial para o desenvolvimento de recursos humanos, de infra-estruturas e respectivo apetrechamento, (PES, 2009). Rehana Dauto Capurchande Comunidades locais na Promoção da Saúde: reflexões em torno da implementação de medidas de descentralização no sector rural de águas e saneamento em Moçambique 134 É deste modo que a preocupação central do Governo de Moçambique na área de Saúde centra-se em “promover a saúde e o bem-estar dos moçambica- nos, com especial atenção para os grupos vulneráveis através de intervenções inovativas e prestar cuidados de Saúde de boa qualidade e sustentáveis, tornando-os gradualmente acessíveis a todos os moçambicanos com equidade e eficiência”. (PES, 2009). Se, por um lado, é dever do Estado promover as condições indispensáveis ao exercício dos direitos do ci- dadão à saúde, por outro, não se excluem os deveres das comunidades locais e da sociedade civil de participação em acções sustentáveis e tomada de responsabilidades no desenvolvimento local. Com efeito, desde o início da década 90 que o Governo de Moçambique e seus parceiros interna- cionais tem vindo a implementar programas no âmbito da Governação, Água e Saneamento. Uma das medidas tomadas como prioridade, consistiu na recuperação dos serviços básicos de água, em particular, o abastecimento de água em todas as regiões do país: rurais, urbanas, peri-urbanas. Em particular nas zonas rurais, e como resultado das reformas e medidas de descentralização em vigor no país, foi introduzido o Princípio da Procura com vista a assegurar a sustentabilidade dos sistemas novos ou reabilitados. De acordo com este princípio, na planificação das actividades definidas no âmbito dos projectos de abastecimento de águas, as comunidades locais solicitam a fonte e acompanham os custos de investimento como forma de garantir a sustentabilidade das infra-estruturas, (MOPH, 2001). Paralelamente, o Governo de Moçambique definiu como priori- dades as acções de mobilização e de envolvimento das comunidades na promoção e defesa da sua saúde. É neste contexto que o presente artigo se debruça, sobre o envolvimento das comunidades locais na implementação dos programas e das medidas de descentralização do sector de águas e saneamento básico na comunidade questionando em que medida a participação das comunidades locais permite um empoderamento das mesmas e um envolvimento nas acções de pro- moção da saúde. O Distrito como Pólo de Desenvolvimento O Governo de Moçambique tem vindo a implementar desde o início dos anos 90 um conjunto de programas e reformas