438 pág.

Pré-visualização | Página 14 de 50
que compõem a região passou a depender, em grande medida, da habilidade de os governos incrementarem o comércio regional e aumentarem sua participação no mercado internacional. A transposição para esse patamar pressupõe, hoje, sobretudo, a ação coordenada dos governos dos países da região e a adoção de padrões de eficiência e de competitividade de custos dos fatores que sustentam o comércio, inter alia, as matérias-primas, a energia envolvida em sua produção e as redes de comunicação e transportes67. Impunha-se, portanto, no início do século XXI, mudança substantiva do paradigma de desenvolvimento da infra-estrutura então vigente. O novo paradigma passaria, assim, a fundamentar-se na perspectiva geoeconômica e nos princípios básicos da eficiência e da sinergia, implícitos no conceito dos eixos de integração e desenvolvimento. A eficiência, por sua vez, está ligada ao conceito de corredores multimodais68. Tendo presente que a maximização da eficiência pode ser alcançada por meio da redução dos custos, adquiriu relevância o aproveitamento de corredores já existentes, tendo como foco a complementaridade, o que levou a reforçar o “compromisso de atribuir prioridade política ainda maior às iniciativas nacionais, bilaterais ou sub-regionais já em curso, com vistas à modernização e ao desenvolvimento da rede de infra-estrutura”69, de que é exemplo a HPP. 67 Batista da Silva, op. cit., p. 18. 68 Comunicado de Brasília, op. cit., parágrafo 41. 69 Comunicado de Brasília, op, cit., parágrafo 45. 57A VISÃO DA INFRA-ESTRUTURA FÍSICA DA AMÉRICA DO SUL O outro pilar do novo paradigma, o princípio da sinergia, pressupõe o conceito da simultaneidade aplicado ao desenvolvimento dos sistemas de macro-logística, energia e telecomunicações, cujo planejamento deve pautar-se pelo princípio da precaução70, com vistas a evitar danos ao meio ambiente. A adesão ao desenvolvimento sustentável, com eqüidade social, reveste-se hoje de acrescida importância, uma vez que constitui uma das condições da concessão de financiamento. Abriam-se, dessa maneira, oportunidades de redução dos custos de investimentos, ao maximizar-se a eficiência, e de minimização dos impactos adversos ao meio-ambiente, ao fundamentarem-se os projetos de infra-estrutura em estudos prévios de viabilidade. Ao contrário do que ocorria no antigo paradigma, esses estudos passaram a anteceder a aprovação dos projetos, o que assegura sua sustentabilidade e maior retorno dos investimentos. Pode-se afirmar, portanto, que a característica central do novo paradigma traduz-se no processo de planejamento que contempla o equilíbrio de três dimensões complementares, a perspectiva geoeconômica, a sustentabilidade ambiental e os parâmetros de máxima eficiência econômica, ambiental e social71. A infra-estrutura é determinante do desenvolvimento sustentável e este último, por sua vez, elemento fundamental do novo paradigma, o que justifica a ênfase atribuída, no setor de transportes, às vias fluviais, importantes instrumentos de integração, sob essa ótica, porque constituem modo de transporte competitivo em termos de custos e agente de menor 70 O consenso multilateral em torno do “princípio da precaução” foi alcançado por ocasião da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, e encontra-se refletido no Princípio 15 da Declaração do Rio, que estabelece: “where there are threats of serious or irreversible damage, lack of scientific certainty shall not be used as a reason for postponing cost-effective measures to prevent environmental degradation”. AZEVEDO, Maria Nazareth Farani. O princípio da precaução e o Acordo sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da OMC – as implicações para o processo de reforma agrícola. 2001. 185 f. Tese (Curso de Altos Estudos) - Instituto Rio Branco, Brasília, 06 de julho de 2001. p.19. 71 Batista da Silva, op. cit., p. 18. ELIANA ZUGAIB58 impacto sobre o meio ambiente72. Portanto, no caso das vias fluviais, a aplicação do novo paradigma parte da premissa de que o projeto de navegação deveria ser desenhado de forma a se adequar ao ciclo hidrológico natural do ecossistema a que pertencem os rios73. As potencialidades de desenvolvimento sustentável da América do Sul, à luz da nova perspectiva que se abre para a região com a adoção do paradigma que se pode dizer da “eco-eficiência”, traduzem- se na visão estratégica do espaço sul-americano como unidade geoeconômica, incorporada à IIRSA: South America, although not today a major global economic unit, has the potential to become an economic unit even more innovative than the European Union or NAFTA. It already has sub-continental units such as the Andean Pact and MERCOSUR. Further, with its abundant natural resources and still-low population density, South America has the potential to be a model of regional integration and sustainable development. South America can be the first continent to implement the new paradigm of sustainable development by applying preventive rather than corrective planning74. 4. A PRIORIDADE ATRIBUÍDA À INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA NO GOVERNO LULA O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando da assunção da liderança do País, atribuiu então acrescida relevância à integração continental, coerente com a linha de ação anunciada durante a campanha eleitoral, em que foi firme em proclamar sua intenção de fortalecer 72 CORPORACIÓN ANDINA DE FOMENTO, CAF. Los ríos nos unen. Integración Fluvial Suramericana.. Santa Fé de Bogotá, D.C., Colômbia: Editora Guadalupe Ltda., noviembre 1998, p. 33. 73 Batista da Silva, op. cit., p 46. 74 Idem. p. 4. 59A VISÃO DA INFRA-ESTRUTURA FÍSICA DA AMÉRICA DO SUL ainda mais as relações com os vizinhos sul-americanos, ao afirmar que “deveremos dar ênfase à relação com nossos vizinhos, em especial a Argentina; nossa aliança com esse país é vital para o futuro do continente”. Ao aludir a “uma nova convergência de países da América do Sul”, visando a “uma negociação mais equilibrada com os Estados Unidos”, defendeu a necessidade de se avançar na “definição e implementação de mecanismos de controvérsias e preparar a formação de um parlamento regional(...)”75. Uma vez mais, prevalecia o fio condutor da política sul- americana do Brasil traçada por Rio Branco, cujos elementos fundamentais incluem a promoção da paz, a igualdade entre os parceiros76 e a necessidade de promover a diminuição do diferencial de poder da região frente às nações e blocos mais poderosos: A integração da América do Sul é um objetivo primordial da política externa do Presidente Lula (...). Concebemos essa integração como meio de assegurar um papel influente da região no sistema global (...). Preconizamos, assim, a América do Sul como região de paz, maior prosperidade e desenvolvimento econômico e social, o que constitui um dos objetivos mais importantes da política externa do governo do Presidente Lula77. Fiel a essa linha de ação, o discurso do então candidato à Presidência da República já deixava claro seu firme propósito de dar 75 Os trechos citados foram extraídos de SILVA, Luiz Inácio Lula da. Presença soberana no mundo. In: Carta Internacional, ano X, n. 114, agosto de 2002. 76 Esclarece o Chanceler Celso Amorim que o fato de o Brasil ser a maior economia implica sua maior responsabilidade em fazer com que o processo de integração seja “saudável”, benéfico para todos os países, e não lhe imprime sentido hegemônico, como interpretam alguns. Entrevista concedida a Aloisio Milani, Spensy Pimentel e André Deak. Brasília, em 01 abr. 2004. A transcrição da íntegra do texto encontra-se disponível no sítio <www.radiobras.br>. Acesso em 05 jun. 2004. 77 SOARES, Luiz Filipe de Macedo. Política Geoeconômica da América do Sul. [Palestra proferida] [S.d. S.l.], p.1. ELIANA ZUGAIB60 substância, a partir do Mercosul, a política