438 pág.

Pré-visualização | Página 4 de 50
para a diplomacia brasileira na sua vertente de integração física da América do Sul, a partir dos antecedentes remotos e imediatos relativos ao tema da navegação fluvial na Bacia do Prata, e colocar em evidência as origens e o desenvolvimento do chamado projeto Hidrovia6, bem como os interesses que nele têm o Brasil e os demais países platinos. A monografia partiu da hipótese de que a valorização da Hidrovia como eixo de caráter longitudinal marcou mudança de 5 Ver em BOSCOVICH, Nicolás. Geoestrategia para la Integración Regional. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1999. p. 91; FRAGA, Jorge Alberto. El Sistema del Plata – visión geopolitica. In: Boletín del Centro Naval: La Hidrovía Paraguay-Paraná – factor de integración, Buenos Aires, año 110, v. 109,suplemento n. 763 G 11, pp.77- 83, invierno, 1991; ROMANO, Alfredo Hector Rizzo. Hidrovia Paraguay-Paraná – aspectos jurídicos y geopolíticos. In: Boletín del Centro Naval: La Hidrovíia Paraguay- Paraná – factor de integración, Buenos Aires, año 110, v.109, suplemento n. 763 G 11, p.104, invierno 1991; SORIANO, Carmelo. La Cuenca Del Plata: geopolítica y desarrollo socioeconómico. In: Boletín del Centro Naval: La Hidrovía Paraguay-Paraná – factor de integración, Buenos Aires, año 110, v. 109, suplemento n. 763 G 11, pp. 137 e 138, invierno 1991. 6 A iniciativa dos cinco países platinos de reunir esforços para melhorar as condições de navegabilidade da Hidrovia Paraguai-Paraná foi incorretamente denominada “Projeto Hidrovia”. A expressão cunhada e de uso corrente não reflete a natureza real da iniciativa, que é manter as características naturais da via fluvial, com intervenções mínimas em alguns pontos críticos de seu curso, para garantir a manutenção das boas condições de navegação ininterrupta, diurna e noturna, ao longo de todo o ano, suficiente para embarcações adaptáveis ao rio. Ao contrário, a expressão tem contribuído para gerar interpretações errôneas de que se trata de abrir uma grande pista fluvial, por meio de obras de engenharia de grande envergadura. ELIANA ZUGAIB20 paradigma geopolítico, em que a antiga lógica de antagonismos que caracterizou as relações na Bacia do Prata, até o fim da década de 1970, foi substituída por esforços de instauração do modelo de cooperação e complementação que dinamizou o processo de integração regional, de que é exemplo expressivo o Mercosul. Buscou-se desenvolver a argumentação de que essa mudança de paradigma geopolítico, embora real, tem alcance relativo, sobretudo em função de visões diferenciadas sobre a utilização da Hidrovia e de seus benefícios. O Brasil, por exemplo, sustenta que a Hidrovia é um corredor fluvial navegável que se encontra, em quase todo seu percurso, em condições naturais, devendo-se buscar o equilíbrio que permita sua melhor utilização com o menor impacto ambiental. Outros países chegariam a buscar maiores vantagens econômicas do uso da Hidrovia, com a realização de obras, que esbarrariam em diferentes limitações, seja de caráter ambiental, seja de caráter econômico-financeiro. Sustentou-se o ponto de vista de que: (i) existe um valor intrínseco da Hidrovia para o Brasil como meio de transporte que pode beneficiar sobretudo a economia da região Centro-Oeste, cujo desenvolvimento acelerado e crescente vinculação internacional exigem soluções inovadoras e competitivas e (ii) a via fluvial serve de importante instrumento de integração regional sul-americana. Sua função, porém, não deveria ser magnificada isoladamente porque a melhoria das condições de navegabilidade no sistema fluvial Paraguai-Paraná não diminui o papel de outros eixos e projetos de infra-estrutura, sejam longitudinais, sejam transversais, de interesse para a integração sul- americana. Procurou-se demonstrar que a iniciativa de revalorização da Hidrovia, anterior à instituição do próprio Mercosul, viria a assumir a condição de projeto capaz de contribuir para dar conteúdo à nova política de integração, que começou a ser gestada no final da década 21INTRODUÇÃO de 1980 e se expressa hoje na prioridade atribuída pelo Governo brasileiro à América do Sul. Para melhor compreender essas vertentes do projeto Hidrovia, procurou-se inseri-lo no âmbito das estratégias de fortalecimento e ampliação da infra-estrutura regional, sub-regional e nacional e na perspectiva histórica da utilização dos rios da Bacia do Prata e de suas implicações geopolíticas em que prevalecia o conflito dos eixos “transversais” e “longitudinais”, com o objetivo de monopolizar a circulação do tráfego e da produção a partir das áreas interiores. O projeto foi, assim, focalizado como exemplo de transição daquele paradigma de confrontação para outro de complementação e cooperação regional. O trabalho visou, principalmente, ao enfoque diplomático, a partir do qual buscou realçar o significado da participação do Brasil no projeto Hidrovia como instrumento da política de integração física e econômica regional e situá-lo como uma das iniciativas que concorrem para os objetivos da política externa brasileira na América do Sul. Atribuiu-se ênfase aos aspectos econômicos e comerciais pelo que representam para as potencialidades de crescimento da região e aos de caráter ambiental, tendo em conta constituírem elementos-chave do posicionamento brasileiro nas negociações no âmbito do Comitê Intergovernamental da Hidrovia (CIH) e de seus futuros desdobramentos. A pesquisa seguiu o método dedutivo, tendo como ponto de partida a consideração dos interesses do Brasil na Bacia do Prata e evoluiu para a discussão dos aspectos particulares do transporte e da navegação fluvial que se relacionam com a HPP. Tratou-se de abordar dois temas específicos, a Hidrovia e a integração da América do Sul, de maneira a identificar sua inter-relação e inferir dessa abordagem os elementos de relevância para o estudo. Trabalharam-se fontes já conhecidas sob ótica diferenciada, com o intuito de chegar a novos patamares de interpretação acerca de pontos debatidos. Foi realizada análise documental e bibliográfica. ELIANA ZUGAIB22 Para responder à hipótese, intentou-se observar, registrar e analisar os seguintes argumentos: (a) o projeto HPP representa mudança das visões geopolíticas que tanto condicionaram os esforços de integração regional e, portanto, do modelo de relacionamento do Brasil com seus vizinhos da Bacia do Prata; (b) nesse sentido, a HPP tornou- se opção de infra-estrutura de transporte eficiente, competitiva e capaz de impulsionar o processo de integração e de desenvolvimento sustentável regionais; (c) a vocação natural do complexo Paraguai- Paraná é servir de via de passagem para a integração regional e poderá viabilizar o propósito do Mercosul de agilizar a circulação de mercadorias, bens e serviços, com redução dos custos de transporte e de seguros; (d) para que a HPP possa cumprir plenamente a função de via interior do Mercosul é imprescindível que sua navegabilidade seja assegurada em condições suficientes com vistas a incrementar a eficiência do comércio regional e sua competitividade no mercado internacional; (e) a questão ambiental tem forte incidência sobre o tema da HPP e representa elemento de complexidade no trato diplomático da Hidrovia; e (f) a continuidade do projeto tem importância para os esforços empreendidos no âmbito da IIRSA, que resultou da I Reunião de Presidentes da América do Sul, realizada em Brasília no ano 2000, e ganhou acrescida importância na política de integração sul-americana preconizada pelo Governo do Presidente Lula. O trabalho sustenta-se em oito capítulos. O primeiro deles trata da integração da América do Sul como condição essencial para o desenvolvimento sustentável da região. Para crescer de maneira harmônica, objetivo básico do Tratado da Bacia do Prata, os países que a compõem devem integrar suas economias, aumentando o intercâmbio comercial, financeiro e tecnológico,