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afastado da prática democrática. RICUPERO, Rubens, 1989. op. cit., p. 207. 26 Ricupero, Rubens, 1989, op. cit., p.207. 39A VISÃO DA INFRA-ESTRUTURA FÍSICA DA AMÉRICA DO SUL de América Latina, em decorrência do surgimento das forças contraditórias da globalização e da regionalização, contexto em que a dimensão geoeconômica adquiriu importância vital nos esforços de integração. Em função dessa nova dinâmica internacional, aumentou o grau de interdependência do México, da América Central e do Caribe com os Estados Unidos, em contraste com a América do Sul, cujas relações regionais e internacionais são mais diversificadas, o que lhe confere especificidade no âmbito latino-americano27. As tentativas de organização do espaço sul-americano de maneira a favorecer a paz e o desenvolvimento, vertente amalgamada à ação externa brasileira a partir do início do século XX, foram construídas sob o lastro da identidade histórico-cultural, dos valores democráticos dos países que compõem a região e das particularidades que a singularizam em meio a outros contornos geográficos de dimensões continentais. De fundamental importância têm sido, nesse sentido, o distanciamento da região da linha de frente das tensões prevalecentes no centro do sistema internacional e a leitura compartilhada que fazem os países sul-americanos da dinâmica do sistema internacional, fato que se reflete na prioridade atribuída a pontos comuns de suas agendas externas, sobretudo o da estratificação internacional e o do desafio do desenvolvimento28, indutores, em certa medida, dos esforços de integração regional29. 27 FRAGA, Rosendo. América do Sul: história e identidade. [Palestra proferida]. In: IEPES/IRBr/IPEA/BID. Seminário sobre a América do Sul. A organização do Espaço Sul-americano: seu significado político e econômico. (2000: Brasília, DF). . p. 63. Menção ao artigo América Latina frente al cambio de siglo, de Abraham F. Lowenthal, publicado no Journal of Democracy, em abril de 2000. 28 JAGUARIBE, Hélio. Mercosul e a nova ordem mundial. In: HUGUENEY FILHO, Clodoaldo, CARDIM, Carlos Henrique (Orgs.). Grupo de Reflexão Prospectiva sobre o Mercosul. Brasília: FUNAG/IPRI/SGIE/BID, 2002. p.177. 29 Na década de sessenta, a exemplo do que ocorrera na Europa, os países latino- americanos, para poderem crescer e desenvolver-se, recorreram a políticas e modelos de cooperação regional, em busca do bem-estar de suas populações por meio da liberalização do comércio. A integração passava a ser, assim, considerada instrumento do crescimento econômico, da elevação do nível de vida das comunidades e da superação dos limites do ELIANA ZUGAIB40 A regionalização da América Latina insere-se hoje no contexto da atual etapa do processo de globalização que está vinculada à revolução tecnológica e engloba todas as áreas da civilização atual, dentre as quais as da inter-relação dos mercados e das estratégias competitivas. Nessa linha do processo de integração da América Latina, surge, como primeiro ponto de apoio, o Mercosul, cuja consolidação e possibilidades de projetar-se para o resto da América do Sul assentam suas bases sobre os fundamentos históricos e culturais latino-americanos30. Embora haja diferenças claras entre os países da América do Sul, não são elas antagônicas e seu reconhecimento viabiliza o aproveitamento das sinergias31 e permite transformá-las em complementaridades. A projeção no espaço sul-americano faz-se todavia mais viável ao agregar o Mercosul pólos de desenvolvimento conectados por eixos viários e econômicos, conformados por zonas caracterizadas pela densidade demográfica e pela concentração de capital financeiro e de atividade industrial. O Mercosul relaciona-se, por meio da ALADI, com o processo de integração mais amplo com o resto da América Latina, e insere-se no quadro mais abrangente de integração e cooperação econômica na sub-região meridional latino-americana, por mecanismos multilaterais e bilaterais, a maioria de caráter setorial, dentre “estado nação”, condição imprescindível para enfrentar os desafios da globalização. No entanto, esses processos de regionalização encontrariam seu momento de crise nos anos 80 para então renascer no início da década de 90, na forma do chamado novo regionalismo. No novo regionalismo, o conceito de integração compreende o reforço do aspecto econômico e supõe ao mesmo tempo o surgimento e a manutenção de relações políticas e sociais, cujo aprofundamento se transforma em uma espécie de “identidade regional”. Ver em INSTITUTO DE INVESTIGACIONES ECONÓMICAS (I.I.E.). El Balance de la Economía Argentina. Alianzas Inter-Regionales. Córdoba, Argentina: Talleres Gráficos de Ediciones Eudecor SRL, 2003. pp. 52-55. 30 WILLIAN RAMIREZ, José Cláudio. América do Sul no atual sistema internacional. [Palestra proferida]. In: IEPES/IRBr/IPEA/BID. Seminário sobre a América do Sul. A organização do Espaço Sul-americano: seu significado político e econômico. (2000: Brasília, DF).pp. 42 e 43. 31 SALAZAR PAREDES, Fernando. América do Sul: eixos sinérgicos. [Palestra proferida]. In: IEPES/IRBr/IPEA/BID. Seminário sobre a América do Sul. A organização do Espaço Sul-americano: seu significado político e econômico. (2000: Brasília, DF). . pp. 152 e 153. 41A VISÃO DA INFRA-ESTRUTURA FÍSICA DA AMÉRICA DO SUL os quais cabe mencionar, sem dúvida, o Tratado da Bacia do Prata, que abarca seus quatro membros plenos e a Bolívia32, e em cujo âmbito geográfico e econômico se desenvolve um dos projetos de integração física mais interessantes, o da Hidrovia Paraguai-Paraná (HPP). Ao iniciar-se o século XXI, o processo de globalização resultava na tendência à cristalização do sistema internacional em torno de grandes blocos ou países continentais, o que fez do Mercosul e de sua ampliação o principal instrumento para assegurar a proteção de interesses regionais no sistema internacional e preservar, no longo prazo, as identidades nacionais dos países membros33. Nessas condições, a conformação de um sistema regional sul-americano é hoje a um só tempo imperativo e consenso e o Mercosul reúne condições para exercer a função de força política e econômica aglutinadora, constituindo seu núcleo organizador34. A ampliação do Mercosul para um sistema de integração sul-americana poderá vir a conferir aos países da região: (...) uma oportunidade única de elevarem, dentro das condições favorecedoras desse mercado ampliado, a competitividade de seus sistemas produtivos. E lhes asseguraria um poder internacional de negociação incomparavelmente superior ao que pudessem ter individualmente, abrindo-lhes condições para terem acesso, no quadro da estratificação internacional do poder, ao patamar de países relativamente autônomos. A viabilidade de formação desse sistema, sem 32 PEÑA, Félix. Momentos y Perspectivas. La Argentina en el mundo y en América Latina. Buenos Aires: Editorial de la Universidad Nacional de Tres de Febrero, septiembre, 2003. pp. 169-171. 33 JAGUARIBE, Hélio,Mercosul e a nova ordem mundial. In: HUGUENEY FILHO, Clodoaldo, CARDIM, Carlos Henrique (orgs.). Grupo de Reflexão Prospectiva sobre o Mercosul. Brasília: FUNAG/IPRI/SGIE/BID, 2002. p. 173. 34 SILVA, Luiz Inácio Lula da. Discurso proferido por ocasião da cerimônia de encerramento do Seminário “Integração da América do Sul: Desafios e Oportunidades”. Buenos Aires. 16 out. 2003. Texto disponível em <www.mre.gov.br>. Acesso em 05 jun. 2004. ELIANA ZUGAIB42 35 JAGUARIBE, Hélio. América do Sul no atual sistema internacional. [Palestra proferida] In: IEPES/IRBr/IPEA/BID. Seminário sobre a América do Sul. A organização do Espaço Sul-americano: seu significado político e econômico. (2000: Brasília, DF). pp. 34 e 35. 36 O Programa de Integração e Cooperação (PICE), de 1986, bem como o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento de 1988, que o consolidou, seguia método