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dos EUA, empenhado em reafir- mar a auto-imagem da América no mundo que lhe escapa, depara- se com um processo de integração, nos campos da economia, com a Mercado Comum Europeu (CEE), e da energia nuclear, com a Co- munidade Européia de Energia Nuclear (CEEA), de uma Europa que, atingindo sua recuperação econômica, enfrenta as contradições, então explicitadas, e avança em direção ao processo de unificação já iniciado desde o Tratado de Paris em 1951. Essa é, então, uma Europa onde, por um lado, a França, conta- bilizando grandes perdas coloniais, 41 abre uma crise na Otan e avança em seu esforço de obter uma força militar independente, realizando, em 1960, seu primeiro teste atômico, e conseguindo ainda, ao longo de toda essa década, excluir a Inglaterra de suas iniciativas em direção à unificação. E, por outro lado, uma Europa onde a Alemanha, ao despontar como uma força econômica, não só motiva acordos pelos quais se estabelecem o seu rearmamento e sua admissão na Otan, mas também reorganiza suas estruturas institucionais de ajuda ao desenvolvimento econômico, educacional e cultural, as quais atuarão também em conjunto com a UNESCO.42 41 De 1953 a 1955, ocorre o processo de independência do Camboja ; em 1954, termina a Guerra da Indochina, com a derrota da França em Dien Bien Phu; em 1956 e 1957, respectivamente, sob pressão dos nacionalismos locais e da política convergente dos EUA, da URSS e da ONU, a França reconhece a independência da Tunísia e doMarrocos; em 1958, a Guiné Francesa declara sua independência, fora dos quadros da Comunidade Francesa; em 1960, Camarões, Togo, Senegal, Mali, Costa do Marfim, Daomé, Alto Volta, Níger, República Central Africana, Congo, Gabão, Chade tornam-se repúblicas independentes e membros da ONU, e da UNESCO, mantendo, porém, a cooperação com a França; em 1962, novamente por pressão política convergente dos EUA, da URSS e da ONU, a França reconhece a independência da Argélia, após quase oito anos de sangrenta luta dos argelinos pela libertação do jugo colonial. 4 2 Cf. BAHIANA, Henrique Paulo. Política alemã de auxílio ao desenvolvimento. Rio de Janeiro: Olímpia, 1966; ALEMANHA OCIDENTAL/FKA/ISI. IV 48 A esses fatos se acrescentam os acontecimentos econômi- co-político-culturais na América Latina, assim como as incursões da URSS no continente africano e no Oriente Médio. Ressaltam- se, nesse período, as realizações das indústrias eletro-eletrônica e espacial, pelas quais multiplica-se o poder de informação e modifi- ca-se a face da realidade mundial, não só em razão das possibilida- des acrescentadas às relações de produção, e às novas formas de divisão do trabalho, mas também em virtude do processo de dester- ritorialização do capital, mercadorias e das gentes e de redimensi- onamento da realidade espacial e temporal. Alguns dos acontecimentos, contemporâneos da ampliação da composição da UNESCO, terão seus desdobramentos nas acomodações e rupturas posteriores. No conjunto, expressam sobretudo as tensões dos e entre os nacionalismos diversos, no contexto de uma economia em processo de crescente transnacionalização;43 contribuem ainda para a retomada da estratégia da Guerra Fria, após o breve período de détente; finalmente, dão expressão sobretudo a mudanças na ordem econômica, pondo em cheque o sistema criado em BrettonWoods e prenunciando as novas configurações mundiais dos anos 80 e 90, nas quais uma civilização mundial assimila, interroga, recria, subsume, recobre a ocidentalidade. A civilização ocidental, não obstante tudo isso, continua se autopercebendo como um em si para os outros. Entre esses fatos é possível destacar, em primeiro lugar, a emergência do então chamado Terceiro Mundo, cujas iniciativas de Seminário Latinoamericano para Directores de Teleducación. Doc.140,México, 1970. Esse seminário realiza-se por ação conjunta do Instituto de Solidariedade Internacional da Fundação Konrad Adenauer e do Instituto Latino-americano de Comunicação Educativa da UNESCO (Ilce), sediado no México. A respeito da ajuda alemã ao desenvolvimento cf. tambémEVANGELISTA, E. G. S. Educação e mundialização. Goiânia: Ed. da UFG, 1997. 43 Sobre a reestruturação econômica, por meio da integração regional, em resposta às tensões e dilemas dos nacionalismos diante de uma economia em processo de globalização, ver IANNI, Octavio. Regionalismo e globalismo. In: A era do globalismo, 1996, p. 127-152. O contraponto nacionalismo, regionalismo e globalismo abala a economia e a sociedade, assim como a política e a cultura, tanto provocando distorções como abrindo horizontes (p. 128). 49 organização transnacional, por um lado, forçarão o seu reconheci- mento como força política e, por outro lado, evidenciarão a necessi- dade de rearticulações para a manutenção do poder estabelecido. Uma iniciativa nesse sentido ocorre em 1955, quando, respondendo à convocação da Indonésia, Índia, do Ceilão, Paquistão e da Birmâ- nia, 29 países afro-asiáticos se reúnem na Indonésia, na Conferência de Bandung. Nessa ocasião, esses países se pronunciam pelo socia- lismo, ressalvando, porém, sua posição de neutralidade em relação ao conflito capitalismosocialismo, e afirmam sua disposição de luta pela autodeterminação e independência dos povos, assim como pelo fim do racismo e da dominação colonialista.44 Em 1961, países dos três continentes África, Ásia e Améri- ca Latina reúnem-se em Belgrado, na Primeira Conferência de Cúpula dos Países Não-Alinhados, em busca de soluções para os problemas mundiais. Assumindo também uma postura eqüidistante em relação à polarização Leste-Oeste, esses países reivindicam a abertura do diálogo Norte-Sul, declarando-se em luta contra o impe- rialismo, o colonialismo, o neocolonialismo, o sionismo, o apartheid e todas as formas de racismo, assim como pela libertação econômica, política, social e cultural dos povos excluídos dos benefícios do desenvolvimento mundial capitalista. Essas idéias são aprofundadas em outras reuniões,45 e repercutem no Sistema das Nações Unidas, determinando a criação, em 1961, da Conferência das Nações Uni- das para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), foro cuja pri- meira reunião ocorre em 1964 e a partir do qual o Movimento dos Não-Alinhados se corporifica no G-77.46 44 Nesse ano, é elaborada porMalik Bennabi, argelino exilado no Cairo, a teoria do afro-asiatismo. MADRIDEJOS, M, 1979, p.106. 45 Acerca dessas reuniões, cf. GOSOVIC, Branislav e RUGGIE, John Gerard. Overview: origins and evolution of the concept. In: International Social Science Journal, v. XXVIII, n. 4, Paris: UNESCO, 1976, p. 639-646. 46 Em 1960 foi criada a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne Europa Ocidental, EUA, Canadá, Japão e Turquia. Em 1973, é criada a Comissão Trilateral que reúne empresas privadas dos EUA, da Europa e do Japão, tendo emvista o reordenamento da economiamundial em franco processo de transnacionalização das empresas japonesas e européias, sobretudo na Alemanha. Dois anos depois é criado o G-7, reunindo os sete países mais 50 Potencializadas na estratégia de controle do petróleo adotada pelos países árabes, após o desfecho da Guerra doYonKippur (1973) que obriga ao reconhecimento internacional da Organização para Libertação da Palestina (OLP) essas idéias serão traduzidas na então chamada Nova Ordem Econômica Internacional (Noei). Nessa ocasião é aprovada, na Assembléia Geral da ONU, a contragosto das maiores forças do capitalismo, uma declaração para a instauração dessa nova ordem, em nome da qual a ONU convoca suas agências especializadas a se reestruturarem, tendo em vista a obtenção de maior eficácia na mediação da cooperação internacional para o desenvolvimento.47 industrializados num novo diretório mundial. Cf. BERTRAND, Maurice. Os caminhos da paz. In: O Correio da UNESCO, ano 23, n. 12, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio