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Secretário-Geral e revisto pelo ACABq. A Assembléia tem-se limitado a oferecer aos Estados membros a oportunidade de buscar esclarecimentos sobre aspectos específicos dos gastos das operações e reclamar pelos atrasos no pagamento dos reembolsos pela participação com pessoal e material. A CAPACIDADE NORMATIVA DA ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS A Assembléia Geral é o foro competente para consolidar regras e princípios vinculados às operações de manutenção da paz. Seu principal órgão de assessoramento é o Comitê Especial sobre Operações de Manutenção da Paz. Esse Comitê foi criado pela Resolução 2006(XIX), no bojo da crise institucional pela qual passava a Organização na sessão da AGNU de 1964-65, devido à recusa da URSS e de outros Estados membros de pagarem suas contribuições para o custeio da UNEF I e da ONUC. Seu objetivo é fazer uma “avaliação abrangente de toda a questão das operações de manutenção da paz em todos os seus aspectos”, ou seja, deliberar sobre aspectos gerais, tais como conceitos e princípios básicos, modalidades de financiamento, aspectos administrativos, organizacionais e de segurança dos integrantes das forças de paz e missões de observação. O Comitê reúne-se na sede da ONU, entre abril e maio de cada ano, quando 118 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA elabora relatório, dividido, grosso modo, em duas partes: resumo dos debates e recomendações. O tema é, subseqüentemente, apreciado pela AGNU, que aprova a resolução nº 51/136(1996), de endosso às propostas, recomendações e conclusões contidas naquele relatório, sem transcrevê-las, como era a praxe até 1994. É interessante observar que, até 1996, o Comitê só tinha 34 membros, mas, com o aumento da importância das operações de manutenção da paz, passou a haver pressão para a sua expansão. A prática então vigente era de que, além dos membros plenos, os demais Estados interessados poderiam participar de seus trabalhos na condição de observadores, mediante a apresentação, a cada sessão, de pedido específico para tomar parte das deliberações. Na medida em que o relatório era elaborado em bases consensuais, os membros do Comitê alegavam que, na prática, não havia distinção entre membros plenos e observadores, razão pela qual resistiam à idéia de aceitar a ampliação da composição desse foro. Diante do fato de que, em média, cerca de 80 países estavam contribuindo com pessoal para as operações de manutenção da paz, o Comitê acabou aprovando uma fórmula de conciliação pela qual os Estados membros que tinham contribuído ou estavam contribuindo com pessoal para as operações de manutenção da paz, bem como aqueles que tinham sido observadores na sessão de 1996 daquele Comitê, poderiam tornar- se membros a partir de 1997. A AGNU referendou a fórmula apresentada pelo relatório do Comitê Especial na forma da Resolução 51/136, de 13/ 12/96. Na 52a AGNU, o Comitê passou a contar com 97 membros. É duvidoso que a eficácia do Comitê Especial tenha sido comprometida por sua ampliação, pois, dada a natureza de seus trabalhos, é fundamental que seus resultados gozem de legitimidade. É importante construir uma agenda que permita aproximar os “principistas” (ou seja, os defensores ortodoxos dos princípios internacionais tradicionais, tais como os de não-intervenção e soberania), notadamente os membros do Movimento Não-Alinhado, e os “vanguardistas” (países inclinados a aceitar a relativização dos conceitos de não-intervenção e OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 119 soberania), sob pena de esvaziar o Comitê e afastar da AGNU as discussões sobre mecanismos para a manutenção da paz e segurança internacionais. Outros elementos também contribuem para que os avanços conceituais sejam morosos, tais como um suposto “dever de solidariedade internacional”, o desenvolvimento do conceito das “operações de apoio à paz” advogado pela OTAN e a própria atitude do CSNU de ampliar sua definição do que constitui uma “ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão”. Em outras palavras, os avanços vêm sendo lentos no Comitê não devido à ampliação de sua composição, mas por causa da sensibilidade dos temas nele tratados. Por fim, as decisões da AGNU sobre questões administrativas que concernem à Organização afetam também as operações de manutenção da paz ao fixarem, entre outras, regras sobre os níveis de remuneração dos funcionários civis, critérios de indenização por acidentes ocorridos no desempenho das funções no terreno, valores para os reembolsos por cessão de tropas e uso de equipamento por parte dos contingentes e os montantes das contribuições financeiras dos Estados membros. O SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS E O SECRETARIADO DA ORGANIZAÇÃO Os encargos mais pesados do planejamento e execução das operações de manutenção da paz recaem sobre o Secretário-Geral da Organização, que dispõe de um Secretariado e de pessoal qualificado nos países anfitriões para o ajudar na administração das diferentes tarefas atribuídas às missões de paz. Com efeito, o CSNU, ao criar uma nova operação, determina as incumbências do Secretário-Geral. Cabe-lhe, normalmente, realizar consultas necessárias com os países que contribuem com pessoal, assim como com as partes em conflito, para permitir a mobilização e a operacionalidade da missão de observação ou força de paz. Nos anos 90, certas providências passaram a ser levadas a cabo informalmente 120 PAULO ROBERTO CAMPOS TARRISSE DA FONTOURA pelo Secretariado antes mesmo da adoção de decisão formal pelo CSNU, tendo em vista a necessidade de acelerar a implementação da resolução. Além disso, o Secretário-Geral deve, após a aprovação da operação, manter o Conselho a par da evolução dos eventos no terreno, mediante a apresentação de relatórios periódicos, de cujo exame poderão resultar novas instruções. Na sede, o SGNU conta com a colaboração do conselheiro militar e de Subsecretários-gerais, especialmente do Departamento de Assuntos Políticos e do Departamento de Operações de Manutenção da Paz. Esse último Departamento foi criado em fins de 1992 e institucionalizado em 1993, em resposta ao número crescente de pedidos de auxílio e à complexidade das funções a serem assumidas pelos integrantes das novas operações. Seus quadros são formados por pessoal contratado pelas Nações Unidas e, até fevereiro de 1999, por militares cedidos temporariamente pelos Estados membros, sem ônus para a Organização. É importante elaborar sobre a questão dos militares cedidos temporariamente ao Departamento de Operações de Manutenção da Paz (os chamados gratis personnel ou officers on loan), pois eles têm formado, até agora, a espinha dorsal do DPKO e nada impede que, no futuro, voltem a ser empregados, dependendo das necessidades do Departamento para administrar as missões de paz. De fato, desde o início, o DPKO enfrentou carência de quadros especializados no Secretariado e a falta de recursos para contratá-los. Para suprir a crescente necessidade de funcionários, o então chefe do Departamento, Kofi Annan, passou a solicitar aos Estados membros a cessão de pessoal civil e militar sem custos para a Organização, em iniciativa endossada pelas Resoluções 45/258, 47/71 e 49/250 da AGNU78. 78 É bom esclarecer que o universo de gratis personnel das Nações Unidas abrange duas categorias distintas de pessoal: a categoria denominada Tipo II inclui os militares cedidos para o DPKO, e a categoria conhecida como Tipo I é constituída por peritos associados, peritos de cooperação técnica e consultores que trabalham basicamente em atividades de cooperação técnica e programas de financiamento voluntário. Em março de 1997, havia 334 funcionários on loan do Tipo II e 202 funcionários on loan de Tipo I, perfazendo um total de 536 funcionários on loan. OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ MULTIDISCIPLINARES 121 Esse procedimento, originalmente concebido como medida provisória, transformou-se