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Unidade II JOGOS E BRINQUEDOS NA INFÂNCIA Profa. Dra. Maria Ephigênia de A. C. Nogueira Objetivos A construção da dimensão lúdica na infância. O jogo na creche. A formação do leitor por meio da atividade lúdica. Projetos temáticos lúdicos em Educação Infantil. Espaços lúdicos: a brinquedoteca. A dimensão lúdica da criança: Cultura lúdica. Qual é o conceito de cultura? Palavra lúdico Latim ludus = iludir, eludir, aludir – brincar. Latim jocus = brincadeiras verbais. Brougère defende a ideia da existência de uma cultura lúdica. Para Laraia, existem várias definições de cultura, dentro dos campos da antropologia, da filosofia e da sociologia. 1. “Complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade, hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.” 2. “Cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidades e regras sobre relações e modo de comportamento.” 3. “Pode ser chamado de cultura tudo aquilo que está ao redor do homem, tudo o que vê, ouve, compreende ao longo de sua vida, tudo o que aprende a conhecer por intermédio da sua relação com outros homens e em grande parte aquilo que o constitui.” Para Vygotsky (1989), Psicologia e Educação: Na cultura estão implicados os significados que o homem produz a partir das relações que ele estabelece na sua vida em sociedade. Portanto: A atividade humana é concebida como ato de interação e criação. Ato criador é possível: O homem é um ser de linguagem, a qual é responsável pela constituição da consciência humana. Linguagem é produção e expressão do ser humano, interage pela coletividade e pela cultura. Por meio da linguagem, compartilhamos conhecimentos, valores, crenças, regras de conduta e experiências. A cultura está ligada à possibilidade de criação do ser humano. A capacidade de significar o mundo ocorre a partir da linguagem. Portanto: A criança se constitui como ser humano ao participar da cultura – produz cultura ao se relacionar com as pessoas do seu ambiente. Dois eixos fundamentais ao pensar a relação da criança com a cultura: A cultura de cada grupo social: costumes, tradição, valores, seu saber, seu modo de educação, seu acervo de produções e artefatos culturais – música, dança, brinquedos e brincadeiras. O acervo cultural da humanidade: literatura, cinema, música. Para Vygotsky (1989), o ser humano é um ser histórico e social. Também os modos de produção são culturais, sociais e históricos. Qual é o significado para a criança das diferentes culturas? Os adultos, a partir da visão da criança, apresentam a mesma os diferentes modos de se relacionar e significar a realidade. A criança inserida em uma cultura é coadjuvante e coparticipante do processo cultural. Sua expressão é por meio das brincadeiras e dos brinquedos – produz a cultura lúdica. Vygotsky (1989, p. 138) destaca a aprendizagem como processo principal do desenvolvimento humano: “a zona de desenvolvimento proximal é o encontro do individual com o social, sendo a concepção de desenvolvimento abordada não como processo interno [...] como inserção socialmente compartilhada com outros [...].” Para Vygotsky: É no brinquedo que a criança aprende a agir na esfera cognitiva. A criança, quando brinca, comporta-se de maneira mais avançada do que nas atividades da vida real: tanto pela vivência da situação imaginária, quanto pela subordinação às regras da brincadeira. Definição de cultura lúdica para Brougère: Conjunto de procedimentos que permitem tornar o jogo possível, ou seja, ela é composta de um certo número de esquemas que permitem iniciar uma brincadeira. Para Brougère: Brincar é uma atividade dotada de uma significação social precisa que, como outras, precisa de aprendizagem. Para a criança: A experiência de construção da cultura lúdica ocorre pela participação das crianças em jogos com outros parceiros, pela observação de seus pares e pela manipulação cada vez maior dos objetos. Influenciam a experiência lúdica da criança: As ações de familiares e mestres. O espaço na cidade, nos lares. O ambiente. As condições materiais. A cultura veiculada pela mídia. Salta carneiro Fonte: NOGUEIRA, MEAC, 2005 Interatividade A construção da cultura lúdica infantil envolve muitas significações, entre elas: a) É definida como um conjunto de procedimentos que permitem tornar possível o jogo infantil. b) Está isolada dentro da sociedade. c) A escola é que produz a cultura lúdica. d) A cultura geral não interfere na cultura lúdica. e) Primeiro, a criança precisa aprender a cultura lúdica e depois brincar. Quem constrói a concepção de infância, lúdico e criança? É o adulto que expressa a concepção de criança, lúdico e infância. São as representações que integram brinquedos, jogos e brincadeiras e que os produtos expressam como desejos, preferências infantis. Profissional da Educação Infantil: Conhecer a relação entre o jogo e a possibilidade evolutiva da criança para fazer as escolhas que facilitem a construção da cultura lúdica infantil. A construção do espaço do jogo entre adulto e criança: o adulto como brinquedo. Criança Inicialmente, é o rosto humano que desperta o interesse: movimentos, expressões faciais diferem dos objetos. Bondioli (1998): O adulto é um objeto interessante capaz de responder de maneira ativa, adaptável e contingente às ações e às expectativas infantis. O adulto é o primeiro brinquedo – assume papel. Pode dominar e colocar sob seu controle. Primeiras brincadeiras infantis: Constituídas por situações felizes compartilhadas pelo adulto e pela criança. Jogo nesse período: Organização ritual de troca expressiva com linguagem gestual, constituída por sorrisos e vocalizações. Construção de um sistema de expectativas recíprocas com significados compartilhados. Bondioli: Capacidade interativa materna: depende da tendência de dar significado e intencionalidade à expressão infantil. Adulto possui a função mediadora. Diálogo a três: mãe, bebê e diálogo a três quando introduz o brinquedo. Possibilita a criança entrar na brincadeira. O corpo como brinquedo: da boca para a mão. “O mundo é algo a ser sugado.” (BONDIOLI, 1998) Jogo como fonte de prazer erótico envolvendo todo seu corpo, da mãe, quando amamenta. No início, a criança brinca com seu corpo nas rotinas diárias. Posteriormente: Novas combinações corporais, junto ao esquema de sucção que são inseridas pela experimentação da criança. Engatinhar. Arrastar-se. Segurar. Levar os objetos à boca. O interesse da boca para a mão. O interesse da boca para a mão. Possibilita um maior domínio da realidade exterior. Interesse pelas pessoas direciona-se aos objetos enquanto ocorre o diálogo da mãe com a criança. A criança presta atenção a tudo o que está ao alcance de sua mão e tudo o que pode fazer com as mãos. A descoberta do objeto. 4 a 8 meses: o bebê presta atenção a tudo aquilo que está ao alcance de suas mãos ou o que é possível fazer com elas. Jogo de curiosidade: predominante. Criança vivencia as propriedades dos objetos e o efeito de suas ações sobre eles. Importância do objeto não familiar:exploração. Bondioli: Descoberta da permanência do objeto e o uso do objeto como instrumento. Exemplo: Jogos de esconder e achar = Aparecer e desaparecer. O jogo na creche: Ambiente: espaço e tempo. Ambiente doméstico: diferente estruturação. Creche: Espaços mais amplos. Decoração. Variedade de brinquedos e materiais. Objetivo: enriquecer as habilidades e as experiências infantis. Espaço da creche transformado em ambiente: Deve ser organizado de acordo com a faixa etária da criança. Objetivo: propor desafios cognitivos e motores e avançar no desenvolvimento. Objetos que retratem a cultura e o meio social onde a criança está inserida. Interatividade O espaço da creche deve estar povoado com objetos que retratem a cultura e o meio social que a criança está inserida: a) Os objetos pelos quais a criança se interessa, explora, manipula, fazem parte de seu cotidiano, na escola e fora dela. b) Os objetos não estão imbuídos de seus significados e sentidos. c) O interesse infantil é dado pela escola. d) O professor escolhe o brinquedo. e) A criança brinca quando o adulto decide. O espaço: Deve oferecer liberdade de movimentos. Segurança. Socialização com o mundo e as pessoas. Vygotsky: O ser humano se torna humano no contato com as outras pessoas e com o mundo social. Ambiente estimulante: É ao mesmo tempo seguro e desafiador. Sente prazer de pertencer a ele. Identifica-se. Estabelece relações com seus pares. Deve ser planejado de forma a satisfazer as necessidades infantis. Deve ser acessível: objetos pessoais e brinquedos. Desenvolvimento para a autonomia: A disposição dos objetos e as possibilidades de atuação da criança permitirão o desenvolvimento da autonomia e da socialização. O educador vai compreender a maneira como a criança transpõe a realidade, os anseios e as fantasias. Para Bondioli: A condução do jogo infantil é complexa. Interagir de modo lúdico com as crianças exige que o adulto entre no jogo como um parceiro. Possibilitar a escolha livre de temas. Distribuição de papéis. Controle do andamento do jogo. Coator, coadjuvante. Cumplicidade ao brincar. Jogos de vestir Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Pie ter_Bruegel_the_Elder_-_Children%E2%80%99s_Games_- _Google_Art_Project.jpg Sugestões de brinquedos para a Educação Infantil: creche de 0 a 3 anos. Fonte: “O direito de brincar” – Editora Fundação ABRINQ. 3 meses: Chocalhos. Mordedores. Móbiles. Figuras enfiadas em cordão para instalar no berço ou no carrinho. 6 meses: Quadros com peças coloridas de formas diversas que correm em trilhos. 8 meses: Bolas. Cubos em tecido. Caixas com alça de música para puxar. 10 meses: Bonecos de tecido. Animais de tecido (não pelúcia), sem detalhes que possam ser arrancados. 1 ano: Cavalinhos de pau. Carrinhos de puxar e empurrar. Blocos de construção simples. Cadeiras de balanço. Jogos de areia. 2 anos: Veículos sem pedais, que se movem pelo impulso dos pés. Roupas de fantasia, super-heróis. Maquiagem. Máscaras. 3 anos: Veículos com pedais. Triciclos. Bonecas com pés e mãos articulados. Jogos de memória. Essas são algumas sugestões que devem ser acrescidas com os jogos próprios das culturas locais. A formação do leitor por meio da atividade lúdica: livros vivos. Aspecto lúdico, encaixando no campo dos brinquedos. Assumem a forma de jogos e brincadeiras. Estimulam o gosto pela leitura por trazer o mundo encantado, levando em consideração os sentidos e a imaginação das crianças. Páginas com surpresas. Interatividade A formação do leitor se dá por meio da atividade lúdica nessa faixa etária e isso é possível quando apresentamos às crianças: a) Livros vivos. b) Jogos tradicionais. c) Brinquedos de encaixe. d) Brincadeiras de roda. e) Jogos de tabuleiro. Modo como os livros vivos são apresentados: Aparência de brinquedos. Dramatização do ato de ler realça a qualidade lúdica e os tira das obrigações e contexto escolar. (PERROT, 2002) Os livros vivos: a leitura e o faz-de- conta, imagens são ferramentas e mediadores que apresentam o lúdico. O leitor desliza pelo prazer do texto. Tipos de história para cada faixa etária. Crianças de dois anos de idade: Histórias devem ser rápidas e curtas. Prestam atenção aos movimentos, ao tom da voz e não ao conteúdo que é contado. Contador de histórias deve relacionar os personagens da história com objetos concretos – fantoches, tecidos – aliados à entonação da voz. Para o manuseio da criança são ideais: Livros de pano, madeira, plástico. São simples, colorido atrativo. Há a necessidade de segurar e pegar a história, segurar o fantoche, agarrar o livro. Crianças de dois a três anos: As histórias ainda devem ser rápidas. Pouco texto. Enredo simples e vivo. Poucos personagens. Aproximando-os das vivências das crianças. Gravuras grandes. Com poucos detalhes prendem a atenção. Ritmo e entonação musical. Possibilitam que a história se transforme em algo real. Crianças de três a seis anos: Nessa fase há o predomínio absoluto da imagem. Gravuras, ilustrações, desenhos. Pouco texto escrito. Lidos ou dramatizados possibilitam que a criança estabeleça a inter-relação entre o mundo real que a cerca e o mundo da palavra que nomeia esse real. É a nomeação das coisas que leva a criança a um convívio cognitivo, afetivo e profundo com a realidade circundante. A graça e o humor. Clima de expectativa ou mistério. Fatores essenciais para o pré-leitor. As crianças gostam de ouvir histórias. É a fase do “conte outra vez”. Esconde-esconde Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Pie ter_Bruegel_the_Elder_-_Children%E2%80%99s_Games_- _Google_Art_Project.jpg Os livros vivos, ou pop up: Possuem estratégias para atrair os não leitores. Aspecto lúdico: Diferenciam-se dos livros comuns, encaixando-se no campo dos brinquedos. Assumem a forma de jogos ou brincadeiras, realçando o gosto pela leitura. Prendem o leitor com o mundo encantado. Levam em consideração os sentidos e a imaginação pelas surpresas de suas páginas. O modo como os livros vivos são apresentados – brinquedo e a dramatização da leitura – fornecem a eles uma qualidade lúdica que os tira das obrigações escolares. Os livros vivos e as imagens são ferramentas e mediadores que entram no lúdico ajudando o leitor a “deslizar pelo prazer do texto”. Formação dos espaços no ambiente escolar: Imprescindível. Apresenta propósitos integrativos sociais e culturais para a criança. Prepara para a vida em grupo. A brinquedoteca surge como espaço alternativo e privilegiado que prioriza o resgate à brincadeira. Brinquedoteca: Espaço alternativo e privilegiado que prioriza o resgate da brincadeira. (Santos, 1997.) Objetivos da brinquedoteca: Possibilitar à criança um espaço de brincar. Estimula a capacidade de concentração e atenção. Favorece o equilíbrio emocional e o desenvolvimento das potencialidades. Auxilia o desenvolvimento da inteligência, da criatividade e da sociabilidade. Disponibilizar o acesso a um maior número de brinquedos, respeitando as preferências infantise assegurar seus direitos. Brinquedista: profissional com formação pedagógica que faz a mediação criança- brinquedo. Especialista em conhecimentos sobre a criança, o brinquedo, o jogo, a escola, o homem e a sociedade. Disponibiliza o acesso a um maior número de brinquedos, respeitando a criança e garantindo seu direito ao brincar. Na atualidade, há diferentes espaços sociais onde a brinquedoteca já está inserida: Escola, hospital, clubes, lojas. Há também as sucatotecas: materiais recicláveis. Brinquedoteca surge na década de 1930. Los Angeles: Depressão Americana – lojistas iniciam o empréstimo de brinquedos. 1960: Europa (Suécia) – ludoteca – emprestar brinquedos, orientar pais das crianças deficientes. 1967: Inglaterra – Toy Libraries – empréstimos de brinquedos. 1976: I Congresso de Brinquedotecas (Londres), muda perfil – além do empréstimo – espaço para brincar. Brasil: 1973 – ludoteca na APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). 1981: em São Paulo, criada a primeira brinquedoteca – empréstimo de brinquedos e espaço para brincar. Espalhou-se rapidamente, criando-se diferentes espaços lúdicos. Brinquedoteca hospitalar e clínica: suporte ao tratamento medicamentoso, estimulando a brincadeira. Brinquedotecas itinerantes, locais fixos, temporárias, virtuais. Universidades: passou a ser um local de pesquisa e laboratório de ensino para professores e alunos do Ensino Superior. As pernas de pau Fonte: https://upload.wikimedia. org/wikipedia/commons/ 1/1e/Pieter_Bruegel_the_ Elder_- _Children%E2%80%99s_ Games_- _Google_Art_Project.jpg Interatividade A brinquedoteca representa um espaço que possibilita a expressão lúdica infantil, pois: a) É um ambiente já esquematizado e controlado. b) A criança é livre para escolher jogos, brinquedos, brincadeiras e parceiros. c) Ambiente acolhedor e livre não possibilita a brincadeira. d) A presença dos diferentes tipos de brinquedos não permite a brincadeira livre e coletiva. e) O tempo é todo predeterminado dentro da brinquedoteca. ATÉ A PRÓXIMA!
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