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LETRAS ETAPA 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br LETRAS EM FOCO UNIASSELVI 2016 Organização Elisabeth Penzelien Tafner Autoria Iara de Oliveira Reitor da Uniasselvi Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Revisão Final Harry Wiese José Roberto Rodrigues Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci 1LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1 ESTUDOS LINGUÍSTICOS -------------- [ APRESENTAÇÃO ] --------------- Todo aquele que abraça uma profissão sabe que um dos fatores primordiais para seu sucesso é dominar o máximo de aspectos que envolvem a carreira escolhida. Aqueles que optam pelas licenciaturas têm um desafio duplo: dominar seu objeto profissional e ensiná-lo, ajudando outros na construção de seus conhecimentos. Os licenciados em Letras têm a língua, materna e/ou estrangeira, como seu objeto de estudo e precisam aprofundar seus conhecimentos nela para não apenas dominar suas nuances, mas ensiná-las nas diversas instâncias da educação. Ao longo do curso de Letras, os conhecimentos sobre a língua portuguesa vão se consolidando, mas é natural que, em virtude de uma série de fatores que passam não apenas pela questão temporal, muitas vezes, tenhamos que retomar alguns aspectos, relembrar alguns conteúdos, rememorar temas que necessitam de maior atenção. Assim, o primeiro capítulo deste caderno de estudos faz uma revisão dos conteúdos que envolvem o estudo da língua portuguesa. Nele relembraremos como nossa língua se formou, quais as visões que cada teoria linguística atribuiu, ao longo dos tempos, para a língua, os níveis de análise, as variações linguísticas, os aspectos distintivos do português do Brasil, as teorias de aquisição de linguagem e os gêneros discursivos. O estudo se consolida com o propósito de alcançar os seguintes objetivos: identificar os principais aspectos de formação da língua portuguesa; comparar as diferentes concepções de língua nas teorias linguísticas; reconhecer os níveis de análise da língua; analisar as variantes linguísticas; identificar os aspectos distintivos do português do Brasil; avaliar as teorias de aquisição da linguagem oral e escrita; analisar os gêneros discursivos. Você é nosso convidado para participar dos desafios presentes neste primeiro capítulo. Vamos em frente! Profª. Iara de Oliveira 2 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA O latim, língua da qual surgiu a Língua Portuguesa, deriva de um grupo denominado indo-europeu. “Desse antigo tronco comum derivou a maior parte das línguas atualmente faladas na Europa e grande parte das faladas na Ásia, hoje representadas em todos os continentes”. (FURLAN, 2006, p. 19). Os historiadores, de modo geral, afirmam que algumas tribos nômades do leste da Europa, falantes do indo-europeu, teriam, por volta de 3000 a.C., migrado para o oeste e o sul. Por volta de 1400 a 1000 a.C., uma parte destas tribos dirigiu-se para o centro da, hoje, Itália, passando a falar o itálico. Dele originaram-se o osco, o úmbrio, o falisco e o latim, língua falada no Lácio – região central da Itália, na qual, em 753 a.C., foi fundada a cidade de Roma (FURLAN, 2006). A língua latina era a forma de expressão de um povo rústico, porém empreendedor e guerreiro. “Com efeito, o latim nasceu na boca de gente prática e utilitarista, de instinto guerreiro, empreendedor e de grande tino político, menos inclinada a devaneios poéticos do que à administração e à elaboração de conceitos, normas e princípios legais”. (FURLAN, 2006, p. 20). No entanto, sabe-se que ele foi pouco a pouco se adaptando também à literatura e à erudição, principalmente após seu contato com a cultura grega, de quem recebeu grande influência. O povo do Lácio, como mencionamos anteriormente, era organizado e empreendedor. Logo assumiu uma postura expansionista que fez com que seu território adquirisse dimensões imensas. Esse processo teve início na guerra contra os samnitas, 326 a 295 a.C., iniciando a conquista da parte meridional da Península Itálica, chegando à Mesopotâmia, em 107 d.C. (CUNHA; CINTRA, 2008). É possível visualizar a extensão do Império Romano no mapa a seguir: 3LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. FIGURA 1 – MAPA DO IMPÉRIO ROMANO FONTE: Disponível em: <https://clionainternet.files.wordpress.com/2013/02/mapaimprom.jpg>. Acesso em: 4 abr. 2016. À medida que expandiam o território, os romanos também se fixavam nas terras conquistadas, impondo seus hábitos, sua cultura, transplantando suas instituições e fazendo com que os nativos tivessem que falar a língua de seus conquistadores: o latim. É importante relembrar que havia um latim conhecido como popular, corrente ou vulgar, entendido como o latim falado pela população; um latim conhecido como literário, aquele utilizado nos documentos escritos; e o chamado latim clássico, utilizado nas produções artístico-estético-literárias. Os soldados usavam o latim vulgar, a maioria não dominava a escrita, portanto, era o latim popular que se impunha nos territórios conquistados. “Foi esse matizado latim vulgar que os soldados, colonos e funcionários romanos levaram para as regiões conquistadas e, sob o influxo de múltiplos fatores, diversificou-se com o tempo nas chamadas línguas românicas”. (CUNHA; CINTRA, 2008, p. 11). Pense na seguinte situação: os romanos conquistavam as cidades, as quais já possuíam seus costumes, sua cultura, sua língua, e impunham novos hábitos, cultura, língua. Isso não acontecia da noite para o dia. Havia, inicialmente, uma mistura desses dois ou mais falares para que se desse a comunicação. Além disso, dada a extensão territorial e as muitas demandas, não havia uma cobrança em relação à correção no falar ou no falar apenas o latim “sem mistura”. Fica fácil, a partir daí, entender o que aconteceu: cada lugar desenvolveu uma forma de falar que deu origem aos falares neolatinos, conhecidos como romances ou romanços. 4 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Essa “derivação” das línguas neolatinas do latim é explicada por Furlan (2006, p. 25-26, grifos do autor): A derivação processou-se em dois períodos: a) o que vai, aproximadamente, de 200 a.C. (expansão do Império para fora da Itália) até ao fim do século V d.C. (invasão da Itália por tribos germânicas em 476), quando os falares regionais já teriam estado mais próximos dos idiomas modernos do que o latim; b) o que vai desde o fim do século V, quando esses falares regionais se manifestaram como romances ou romanços, até o momento em que eles passaram a apresentar traços gerais de línguas neolatinas faladas. Ainda é importante destacar que, no caso específico da Península Ibérica, houve a invasão, em 409 d.C., de um grupo de povos germânicos: vândalos, suevos e alanos. Dos três povos, foram os suevos que se fixaram na região da Galícia e da Lusitânia, mas foram logo incorporados pelos visigodos, os quais já mantinham contato com os romanos. Estes logo se fundiram à população românica e deixaram marcas de sua língua em palavras de nosso idioma, como: albergue, bramar, elmo, espora, guerra, trégua, espeto, etc. A seguir, foi a vez dos árabes ocuparem a Península, em 711 d.C. Eles acabaram casando-se com mulheres da região ou tomando-as como escravas, o que permitiu uma nova adaptação da língua. Como foram fomentadores das ciências e das artes, contribuíram com vocabulários que representavam os novos conhecimentos trazidos.Cunha e Cintra (2008) afirmam que a estimativa é de que 400 a 1000 termos de nossa língua tenham sua origem nos idiomas árabes, como, por exemplo, alface, alfafa, alfazema, algodão, berinjela, aduana, armazém, quintal, alfaiate, também, álgebra, álcool, cifra etc. Segundo Teyssier (1982, p. 14): É durante o período que se segue à invasão muçulmana (711) que vão aparecer outras inovações específicas de que resultará o isolamento dos falares do Noroeste da Península, não apenas dos seus vizinhos do Leste, leonês e castelhano, mas também dos dialetos moçárabes que se desenvolvem no Sul. Surgirá, assim, nos séculos IX a XII, o galego-português, cujos primeiros textos escritos aparecerão somente no século XIII. (TEYSSIER, 1982, p. 14). Os primeiros escritos em galego-português surgiram quando Portugal já havia se constituído como reino autônomo e seu território praticamente todo reconquistado. Separado de Leão, futura Espanha, e da Galícia, o reino foi expandindo-se para o sul, retomando terras que estavam nas mãos dos mouros (árabes). “Com a tomada de Faro (1249), o território nacional atingiu os limites que, com algumas pequenas modificações, correspondem às fronteiras de hoje”. (TEYSSIER, 1982, p. 20). Os reis deixaram de instalar- se em Guimarães para estabelecer a sede do governo em Lisboa. Durante esse processo, o galego-português foi seguindo a reconquista e se fixando como língua de Portugal. Com o surgimento dos primeiros textos redigidos em galego-português (século XIII), iniciou-se, de fato, a língua portuguesa, que passou por diversos estágios até chegar ao idioma que conhecemos e praticamos atualmente. Cunha e Cintra (2008, p 18-19), apoiados em uma periodização defendida pelo linguista Vasconcelos, no ano de 1926, apresentam as seguintes etapas de evolução da língua portuguesa: 5LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. a) latim lusitânico, língua falada na Lusitânia, desde a implantação do latim até o século V; b) romance lusitânico, língua falada na Lusitânia, do século VI ao século IX, da qual, como da fase anterior, não temos nenhum documento escrito; c) português proto-histórico, língua falada na Lusitânia, do século IX até fins do século XII, e da qual podemos vislumbrar algumas características nas palavras intercaladas em textos do latim bárbaro; d) português arcaico, que vai de princípios do século XIII até a primeira metade do século XVI, quando a língua começa a ser codificada gramaticalmente; e) português moderno, que se estende da segunda metade do século XVI até os dias que correm. (CUNHA E CINTRA, 2008, p. 18-19). Observe a imagem que segue, pois ela faz um resumo do que vimos até o momento: FIGURA 2 – ÁRVORE GENEALÓGICA DA LÍNGUA PORTUGUESA FONTE: Disponível em: <http://linguaviva.zip.net/arch2011-04-03_2011-04-09.html>. Acesso em: 2 abr. 2016. A árvore genealógica mostra as línguas do eixo indo-europeu, entre as quais 6 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. destaca-se o itálico, do qual derivou-se o latim. Aponta, também, para os idiomas que se originaram do latim, destacando o português nas suas três ramificações (europeu, brasileiro e africano). Com as conquistas ultramarinas dos lusitanos, o português também foi levado para a África, Ásia e a América do Sul, como podemos ver no mapa a seguir. Estima-se que hoje haja aproximadamente duzentos milhões de falantes do português no mundo, o que o coloca como um dos dez idiomas mais falados. FIGURA 3 – PAÍSES QUE TÊM O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA OFICIAL FONTE: Disponível em: <http://ciberduvidas.iscte-iul.pt/assets/legacy/img/mapa-dos-paises- lusofonos-1.jpg>. Acesso em: 2 abr. 2016. Agora que relembramos como surgiu o português, podemos nos dedicar ao estudo da língua, começando por entender como foi conceituada pelas várias teorias linguísticas. 1.2 CONCEPÇÕES DE LÍNGUA NAS DIVERSAS TEORIAS LINGUÍSTICAS Se, como vimos no primeiro item, a língua, como elemento vivo e dinâmico, evoluiu do latim até chegar ao que conhecemos na atualidade, também os estudos sobre ela passaram por reformulações, ampliações e modificações. Não há como buscar entender a língua que falamos e escrevemos hoje fazendo uso apenas de teorias de dois séculos atrás. Por isso, vamos estudar como essas teorias foram avançando e procurando 7LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. contemplar as diversas nuances desse objeto tão dinâmico. Desde a Grécia antiga houve uma preocupação com o estudo da língua. No entanto, naqueles primeiros tempos, o interesse centrava-se em estabelecer normas que fossem seguidas pelos falantes e escreventes do idioma. As primeiras “gramáticas”, dessa forma, tiveram um caráter catalogador, estabelecedor de normas que obrigatoriamente deveriam ser seguidas para o bem falar e o bem escrever. Se pensarmos com mais profundidade na questão, chegaremos à conclusão de que as gramáticas tradicionais fazem isso: mais do que entender a língua, estabelecem regras sobre seu emprego adequado. A visão normativa da língua se estendeu até o início do século XX, quando foi publicado o livro Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, em 1916. Houve uma mudança de eixo porque o autor estabeleceu o princípio de que a língua é um conjunto de estruturas. Essa perspectiva foi denominada de Estruturalismo. IMPORTANTE Vale lembrar aqui que Saussure foi o autor das ideias do livro Curso de Linguística Geral, mas não o “escreveu” e publicou. Após sua morte, em 1913, dois de seus antigos alunos reúnem as anotações que o autor fez para os três cursos de Linguística Geral que ministrou em Genebra, entre os anos de 1907 e 1911, bem como os apontamentos de seus alunos, e transcrevem o curso. Saussure foi e é o “pai” da linguística moderna. 1.2.1 Teoria Estruturalista ou Estruturalismo Saussure foi o primeiro a chamar a organização interna da língua de sistema, mas foi Roman Jakobson o primeiro a chamar de estruturalismo um movimento maior, que abrangeria outras áreas das ciências humanas, norteado, no entanto, pela ideia de sistema do pensador francês. Na visão de Saussure (1996), a língua é um sistema de signos. Ao estabelecer tal defi nição, o autor destaca o fato de que o signo não pode ser visto isoladamente, mas como integrante de um sistema, no qual atua e com o qual se relaciona. Dito de outro modo, não é possível estudar a língua sem observar suas inter-relações. Ainda segundo o linguista, não se pode pensar em língua sem relacioná-la diretamente com linguagem. Para ele, a língua tem um caráter social, que lhe é primordial. Pensemos na questão central dos estudos de Saussure (1996): língua como sistema de signos. O que é o signo na visão do autor? O signo é entendido como aquele que “[...] une não uma palavra e uma coisa, mas um conceito e uma imagem acústica”. 8 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. (SAUSSURE, 1996, p. 80). Ao longo de seu estudo, o linguista chamará “conceito” de significado e “imagem acústica” de significante, ideias-chave em sua teoria. O signo (significante + significado) é arbitrário, ou seja, a palavra que nomeia determinado elemento não é uma representação dele. Vejamos: FIGURA 4 – ÁRVORE FONTE: Disponível em: <http://us.123rf.com/450wm/varunalight/varunalight1505/ varunalight150500080/40192467-%C3%A1rvore-isolada.jpg?ver=6>. Acesso em: 10 maio 2016. A imagem acima é representada pela palavra ÁRVORE. Note que a junção das vogais e consoantes A + R + V + O + R + E não tem qualquer associação com o objeto que está na imagem. Não há como olhar para a palavra e ver nela qualquer elemento que represente o objeto. Se compararmos com outras línguas, veremos que o objeto da imagem é representado por “tree” (em inglês), “árbol” (em espanhol), “arbre”(em francês), “albero” (em italiano), ou seja, cada idioma representa este objeto graficamente à sua maneira. No entanto, ao ouvirmos ou lermos a palavra “árvore” geramos em nosso cérebro uma imagem acústica que se associa aos conhecimentos que temos e se atrela ao significado, fazendo-nos imediatamente identificar sobre o que se está falando/ escrevendo. 9LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. IMPORTANTE Saussure também apresenta a distinção entre langue e parole. A primeira seria a língua e a segunda a fala. Esta última, a materialização da primeira. Além disso, o signo não pode ser alterado por um único falante, ou seja, um único falante não pode alterar a língua. As mudanças ocorrem dentro da coletividade. É a sociedade usuária de determinada língua que pode, ao longo do tempo, fazer alterações nela. O estudioso francês também afi rma que os signos se relacionam dentro do sistema. Não é possível falar ou escrever duas palavras ao mesmo tempo, falamos/escrevemos uma, depois outra, obedecendo a uma norma, que não a gramatical que conhecemos, mas uma norma estabelecida pela própria língua. Observe o seguinte enunciado: O menino caiu O + menino + caiu Ao dizermos/escrevermos esta frase, mesmo que não conheçamos as noções de sujeito, predicado, saberemos que “O” se liga diretamente a “menino”, que se conecta diretamente a “caiu”. Há uma relação sintagmática entre estes signos. Quando se pensa a língua como sistema de signos, as relações entre eles não são apenas sintagmáticas, uma palavra após a outra, em linearidade; mas também associativas. Podemos tomar uma palavra isolada e, em virtude de nossos conhecimentos acumulados de língua e de mundo, associar a ela um conjunto de outras palavras que não estabelecem uma linearidade. Note o seguinte exemplo: 10 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Quando você ouve ou lê a palavra “cidade”, no que pensa? Podemos pensar em: casas, edifícios, estradas, trânsito, congestionamento, poluição, ruído, pessoas etc. Ao associarmos uma série de palavras à palavra “cidade”, formamos um conjunto de representações. Saussure (1996) também afirma que há uma interdependência entre a relação sintagmática e a relação associativa. A primeira ajuda a construir a segunda e a segunda ajuda a entender, interpretar a primeira. Resumindo, Saussure (1996) traz uma grande contribuição aos estudos linguísticos ao apresentar a teoria de que a língua é um sistema de signos – constituídos de significante e significado – em que se verificam relações sintagmáticas e associativas. Após essa primeira renovação dos estudos linguísticos, novas dimensões surgiram com o aparecimento do Gerativismo. Ao associarmos uma série de palavras à palavra “cidade”, formamos um conjunto de representações. Saussure (1996) também afirma que há uma interdependência entre a relação sintagmática e a relação associativa. A primeira ajuda a construir a segunda e a segunda ajuda a entender, interpretar a primeira. Resumindo, Saussure (1996) traz uma grande contribuição aos estudos linguísticos ao apresentar a teoria de que a língua é um sistema de signos – constituídos de significante e significado – em que se verificam relações sintagmáticas e associativas. Após essa primeira renovação dos estudos linguísticos, novas dimensões surgiram com o aparecimento do Gerativismo. 1.2.2 Teoria Gerativista Após o surgimento dessa primeira perspectiva desenvolvida por Saussure, tida como estruturalista, desenvolveu-se a Teoria Gerativista, a qual teve em Noam Chomsky seu maior representante. A teoria de Chomsky revolucionou os estudos linguísticos ao afirmar que a linguagem é algo inato ao ser humano. Segundo ela, todo ser humano nasceu com um aparato que lhe permite fazer uso de linguagem para comunicar-se. Enquanto as demais teorias tinham, até então, fixado seu olhar para a língua, procurando entender sua organização e estruturação, a teoria gerativista dedicou-se a estudar a capacidade do ser humano de produzir linguagem. Com isso, surge o conceito de Faculdade da Linguagem. 11LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. IMPORTANTE A faculdade da linguagem, na visão chomskyana, seria uma área em nosso cérebro responsável pela aquisição e desenvolvimento da linguagem. Chomsky também apresenta a dicotomia entre competência e desempenho. O desempenho estaria relacionado ao uso concreto da linguagem, ideia bastante associada à de parole de Saussure. Competência estaria relacionada aos conhecimentos inconscientes da língua que nos são inatos por conta da Faculdade da Linguagem. DICA Chomsky esteve no Brasil e durante seu período de visita deu palestras e respondeu às perguntas, vindas de várias regiões do país. Leia as respostas que ele deu a duas delas: 1 Existe pensamento sem palavras? Em que momento ele se traduz em linguagem? Não há conhecimento científi co sobre essas questões. O que sabemos vem de introspecção, intuição e outras fontes semelhantes. A sua suposição vale tanto quanto a de qualquer outra pessoa. A minha própria suposição é a de que existe pensamento não verbal. A experiência comum é difícil de entender em outras bases. Para tomar um exemplo apenas, é comum a experiência de dizer alguma coisa para depois constatar que não era o que pretendíamos dizer, donde se conclui que devia haver algo que se pretendia dizer, mas não se disse. Às vezes é preciso tentar várias vezes até conseguir capturar o que se pretende; às vezes não se consegue mesmo, e temos consciência disso. Portanto, parece que estamos pensando alguma coisa de forma não verbal e tentando capturar isso em palavras. Os conceitos em si mesmos são de tal modo obscuros que é difícil formular questões que possam ser seriamente investigadas. Por exemplo, o que é pensamento? Algum dia, é possível que os pontos venham a ser esclarecidos. Mas por ora, é quase tudo mistério. 2 Como o senhor entende a relação entre processamento de linguagem e memória? O processamento de linguagem requer o acesso ao conhecimento da língua, mas evidentemente a muitas outras coisas mais. Pode envolver estratégias especiais de processamento que não são estritamente parte da língua (no sentido estrito de língua). E requer uma memória. Há muitos exemplos de falhas de processamento devidas à estrutura e limitações da memória, e permanece como um tópico de pesquisa descobrir o que é a memória, como é usada, se é específi ca para linguagem, e assim por diante. FONTE: Disponível em: <htt p://www.scielo.br/scielo.php?script=sciartt ex t&pid=S0102-44501997000300003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em: 10 maio 2016. Para ler o conteúdo de suas conferências e respostas a mais perguntas acesse: <htt p://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0102-445019970003&lng=pt&nrm=isso>. 12 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. A Teoria Gerativista, portanto, parte do pressuposto de que cada um de nós carrega uma espécie de gramática universal, que nos permite aprender e fazer uso da língua. É essa mesma gramática interna que possibilita a uma criança recém-falante dizer: “mamãe é bonita”, estabelecendo a ordem adequada das estruturas sem as ter estudado. Assim, para o teórico, a língua se organiza em torno dos sintagmas, os quais classifi cou em verbais e nominais. IMPORTANTE Na concepção de Chomsky, sintagmas são unidades da análise sintática compostas por um núcleo e por outros termos que se associam a ele. Existem os sintagmas verbais e os sintagmas nominais. Exemplo: Os meninos sapecas (sintagma nominal) leram um livro (sintagma verbal). Meninos é o núcleo do sintagma nominal, “os” e “sapecas” relacionam-se a ele; “leram” é o núcleo do sintagma verbal, “um” e “livro” se ligam a ele.Com os estudos gerativistas, novos campos na linguística foram abertos e, com eles, novas dimensões do estudo da língua e linguagem, como o Funcionalismo, que veremos a seguir. 1.2.3 Teoria Funcionalista ou Funcionalismo A Teoria Funcionalista concebe a língua como uma atividade social. Nesse sentido, os estudiosos dessa vertente debruçam-se menos nos aspectos internos e estruturais e mais sobre os aspectos funcionais, como a língua funciona no processo de interação social. Em um primeiro momento Buhler (1934 apud CASTILHO, 2009) apresentou, dentro desta teoria, a perspectiva de que a linguagem teria três grandes funções: (i) informar, ordenando e representando a realidade circunstante, donde a função representativa, em que predomina o assunto; (ii) manifestar estados da alma, exteriorizando nosso psiquismo, donde a função emotiva, em que predomina o falante; (iii) infl uir no comportamento do interlocutor, atuando sobre ele, donde a função apelativa, em que ressalta o ouvinte. (BUHLER 1934 apud CASTILHO, 2009, p. 21). Roman Jakobson (1969) desmembrou as funções de Buhler em seis, estudadas até hoje e presentes em todos os livros didáticos de língua portuguesa: função referencial, função emotiva, função conativa, função fática, função metalinguística e função poética. Por sua vez, Halliday (1970) procurou desenvolver as relações entre a necessidade 13LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. de comunicação e o sistema linguístico. Desse modo, ele concluiu que existem três macrofunções: ideacional (língua serve para informar); interpessoal (língua serve para relacionar-se com outros); textual (a língua estabelece o discurso). Ao voltar-se para a funcionalidade da língua, as teorias funcionalistas enfatizam a Pragmática (estudo dos atos da fala). Cunha (2008, p. 157) afirma que a teoria funcionalista “se preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas”, concebendo [...] a linguagem como instrumento de interação social, alinhando-se, assim, à tendência que analisa a relação entre linguagem e sociedade. Seu interesse de investigação linguística vai além da estrutura gramatical, buscando na situação comunicativa – que envolve os interlocutores, seus propósitos e o contexto discursivo – a motivação para os fatos da língua. Cunha (2008) acrescenta que a língua não pode ser vista como um conhecimento autônomo, mas como uma adaptação às diversificadas situações comunicativas. Ela está a serviço das intenções comunicativas do falante. Essa teoria também trabalha com a noção de gramaticalização, na qual se prega que a gramática não está pronta, acabada, em virtude das diversas relações que podem ser estabelecidas em um contexto comunicativo. Ou seja, de acordo com o contexto, com a escolha das palavras, elas podem assumir classes gramaticais diferentes (morfologia), funções diferentes (sintática), significados diferentes (semântica). Observe os exemplos: (1) Maria trouxe flores para sua prima. (2) Maria, para, por favor! A palavra “para” no exemplo (1) é uma preposição, já no exemplo (2) funciona como verbo. Isto é, em cada contexto a palavra se enquadrou em uma classe gramatical diferente. (1) A camisa tinha uma manga rasgada. (2) Joana não gosta de manga, prefere laranja. Note que a palavra é a mesma nos exemplos (3) e (4), mas no exemplo (3) significa uma parte da camisa e no exemplo (4) a fruta. Tivemos aqui uma palavra (manga) que teve significados diferentes em cada um dos contextos em que foi usada. (1) O livro caiu da estante. 14 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. (2) João pegou o livro da estante. No exemplo (5) livro atua como sujeito, no exemplo (6) como objeto direto. Já neste conjunto de exemplos, a palavra (livro) exerceu funções sintáticas diferentes em cada contexto de uso. Assim, podemos verificar as teorias linguísticas agrupadas em dois grandes eixos: o formal, que procurou entender a estrutura, a forma da língua, as questões internas à linguagem; o funcional, que analisa a língua dentro do contexto em que é usada e nas relações que estabelece nas situações comunicativas. O quadro a seguir ajuda a estabelecer as semelhanças e distinções dos dois grupos. QUADRO 1 - COMPARAÇÃO ENTRE AS TEORIAS FORMALISTAS E AS TEORIAS FUNCIONALISTAS FONTE: Albuquerque, Almeida, Ferreira. Revista Língua Portuguesa. 2015. Disponível em: <http:// linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/28/artigo210087-2.asp>. Acesso em: 3 abr. 2016. As noções de língua foram se modificando à medida que as teorias ampliaram os estudos linguísticos. Desse modo, não podemos conceber a língua como um todo homogêneo, mas como algo que se constitui em partes ou níveis, como veremos na sequência. Assista ao vídeo que trata um pouco da concepção de ensino de língua e resgata o que você estudou até aqui. Vamos analisar a Questão 33 do Enade (2011) que versa sobre o assunto: 15LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.3 NÍVEIS DE ANÁLISE DA LÍNGUA Quando pensamos em língua, temos que nos lembrar de que há nela diversos aspectos a serem observados. Esses aspectos dizem respeito aos níveis que a língua apresenta e que precisam ser observados. Esses níveis ou planos são: fônico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. Veremos, brevemente, cada um deles, a seguir. 1.3.1 Nível ou plano fônico Valente e Alves (2009, p. 61) afi rmam que: O plano fônico está diretamente relacionado à consciência fonológica por ser esta uma habilidade do ser humano em refl etir, dentre outros aspectos, sobre os sons da língua. É o plano fônico, também, o primeiro nível de estruturação da língua, seja em termos de língua falada ou escrita. Nesse plano estão incluídos e devem ser levados em consideração: fonema e grafema e suas relações; consoantes; vogais e semivogais; formação de sílabas e palavras; encontros consonantais; dígrafos; as aliterações e mesmo as rimas, porque elas constituem um aspecto fônico bastante importante na escrita poética, por exemplo. IMPORTANTE Ao mencionarmos os níveis de análise da língua, estamos considerando questões pertinentes ao ensino de nossa língua, visto ser esse o objetivo maior aqui. Por isso, destacamos o que envolve cada nível de análise, por mais elementar que possa parecer. Analisar os aspectos fônicos permite também associá-los ao contexto comunicacional e à própria recepção do texto, uma vez que uma troca de letras pode mudar o sentido da informação ou os recursos fônicos podem agregar mais elementos à interpretação. Além disso, vale destacar que quando nos ocupamos dos aspectos fônicos da língua, estamos no campo da fonética e da fonologia. A fonética é entendida como aquela que estuda os aspectos “acústico e fi siológico dos sons reais e concretos dos atos linguísticos: sua produção, articulação e variantes”. (BECHARA, 2009, p. 53). Já a fonologia se dedica ao estudo dos fonemas, considerados estruturas distintivas da língua. 16 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Observe a seguinte situação: No final do mês de abril de 2016 circulou nas redes sociais a imagem a seguir, supostamente a capa de um jornal de circulação regional (que se manifestou e mostrou que a imagem havia sido alterada na rede): FIGURA 5 - CAPA DO DIÁRIO DE IGUAÇU FONTE: Disponível em: <http://www.e-farsas.com/wp-content/uploads/diario.jpg>. Acesso: 12 maio 2016. A simples troca de uma letra “c” pelo “g”, transformando a palavra “vacina” na palavra “vagina”, desvirtuou totalmente o sentido da manchete e foi fonte de várias piadas, na internet e WhatsApp. 1.3.2 Nível morfológico O plano morfológico diz respeito à formaçãodas palavras, a que classe pertencem, que gênero e número representam. Aqui cabe analisar: flexão de substantivos, gênero, número e grau; flexão verbal, pessoa, tempo e modo; derivação. A unidade de estudo deste nível é o morfema, considerado o menor signo da língua, porque é uma unidade mínima significativa. Existem os morfemas gramaticais e os morfemas lexicais. Os primeiros têm um significado que se restringe ao campo linguístico. As flexões de gênero, número, grau, pessoas etc. são exemplos de morfemas 17LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. A menina chorou Em uma análise morfológica, temos: gramaticais. Já o segundo diz respeito aos morfemas que extrapolam o campo linguístico, possuindo um significado extralinguístico. As palavras, de modo geral, são exemplos de morfemas lexicais, porque possuem um radical + tema que lhes conferem um significado no mundo comunicativo. Observe o exemplo que segue: A: artigo definido feminino – (a) indicativo de classe gramatical – morfema gramatical. Menina: substantivo simples concreto feminino – (menin) radical + (a) vogal temática do nome e indicativo de feminino – morfema lexical (seu significado não está apenas no linguístico, mas transpõe às situações comunicativas). Chorou: verbo no pretérito perfeito do indicativo – (chor) radical + (ou) define modo indicativo, tempo pretérito perfeito – morfema lexical. Apenas para recordarmos, quando lidamos com o nível morfológico, precisamos nos lembrar das chamadas classes gramaticais, nas quais as palavras de nossa língua são distribuídas. São elas: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, consideradas classes gramaticais variáveis; e preposição, conjunção, interjeição e advérbio, tidas como classes gramaticais invariáveis. Que tal verificarmos o tratamento dado ao assunto na Questão 11 do Enade (2011)? 18 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Vejamos um exemplo de análise morfológica: Dias melhores se foram Ele a conhecera em uma praça. Estava sentada num banco de madeira verde- claro. Claro como seus olhos. Cabelos ondulados e dourados. Tinha um sorriso misterioso, mas ao mesmo tempo sincero. Jamais a esqueceria. Ela dava pedaços de pão para os passarinhos, e ele achava o máximo. Ela, sanduíche de pão integral com atum e suco de laranja. Ele, cachorro quente com refrigerante de groselha. Mas não era empecilho nenhum. Admirava tudo que ela fazia. Quantos dias de sol, quantos dias de chuva, quantos de vento. Foram anos. Cada dia era uma nova emoção, o coração batia mais forte quando a via. Lábios vermelhos carnudos. Nunca vira uma boca tão linda. Doía de tanto amar. Suspirava fundo. Hoje sentado no mesmo banco ainda se lembra do dia em que ela derramou suco no vestido florido e ficou rubra de vergonha. Ele tentou fingir não ver, mas não se conteve e os dois riram por um longo tempo. Ele está segurando com a mão trêmula um cachorro quente enquanto com os olhos banhados em lágrimas lança sua mão marcada pelo tempo num copo de suco de laranja. Lembrara daquele dia. E só se arrependera de uma coisa. Devia ter perguntado seu nome... FONTE: FREITAS, Fábio. Recanto das Letras, 2010. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com. br/cronicas/2574336>. Acesso em: 2 abr. 2016. Observando, única e exclusivamente, o nível morfológico, faríamos a seguinte classificação: Hoje (advérbio de tempo) sentado no (contração da preposição em + artigo o) mesmo (pronome) banco (substantivo simples concreto masculino) ainda (advérbio) se (pronome reflexivo) lembra (verbo presente do indicativo) do (contração da preposição de + artigo definido o) dia (substantivo simples masculino) em (preposição) que (pronome relativo) ela (pronome pessoal do caso reto) 19LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Note que, neste tipo de análise, observamos as palavras isoladamente, apenas classifi cando-as em conformidade com as classes gramaticais às quais pertencem. De acordo com Azeredo (2008, p. 127, grifos do autor): A unidade léxico-gramatical que chamamos de “palavra” é o fundamento da distinção tradicional entre morfologia – que analisa e explica a “transparência” (relação motivada entre forma e sentido) das palavras; e a sintaxe, que ana- lisa e explica a “transparência” (relação motivada entre forma e sentido) das orações. A palavra é o limite entre esses dois domínios: a morfologia vai até ela, a sintaxe começa nela e termina na oração. Em virtude da interdependência que pode existir entre esses dois níveis, convencionou-se chamar de morfossintaxe. (verbo de 1ª conjugação, pretérito perfeito do indicativo) suco (substantivo simples masculino) no (contração da proposição em + artigo defi nido o) vestido (substantivo simples masculino) fl orido (adjetivo masculino) e (conjunção aditiva) fi cou (verbo da 1ª conjugação, pretérito perfeito do indicativo) rubra (adjetivo feminino) de (preposição) vergonha (substantivo simples feminino). DICA Assista ao vídeo do professor Wallas Cabral, da USP, que faz uma boa introdução sobre o nível morfológico. Disponível em: <htt ps://www.youtube.com/watch?v=Ght_GZZmo_U>. 1.3.3 Nível sintático O nível sintático diz respeito à função que os termos (palavras e expressões) assumem em uma oração. Ele é o responsável pela organização das frases e discursos. Quando observamos este nível, devemos considerar a relação entre determinantes, substantivos e adjetivos; a organização do período simples; a organização do período composto; a organização do parágrafo; a coesão gramatical (conectores, referências, elipses). 20 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. O mapa conceitual, a seguir, permite revisarmos os principais elementos da análise sintática: Para compreendermos melhor o assunto, que tal assistirmos ao vídeo relativo à Questão 20 do Enade (2011)? FI G U R A 6 – M A PA C O N C E IT U A L D E A N Á L IS E S IN T Á T IC A FO N T E : D is p on ív el e m : < h tt p :// p ro fe ss or fa b io ce za r. b lo gs p ot .c om .b r/ >. A ce ss o em : 8 a b r. 2 01 6. 21LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Retomemos o período que analisamos anteriormente, no qual consideramos apenas os aspectos morfológicos. Vamos analisá-lo, agora, sob o ponto de vista sintático. Hoje sentado no mesmo banco ainda se lembra do dia em que ela derramou suco no vestido florido e ficou rubra de vergonha. Hoje (adjunto adverbial de tempo) sentado (predicativo do sujeito) no mesmo banco (adjunto adverbial de lugar) Ø (sujeito oculto “ele”) ainda (adjunto adverbial de tempo) se lembra (verbo transitivo indireto) + sujeito oculto ou desinencial (ele) do dia em que ela derramou (oração subordinada substantiva objetiva indireta) derramou (verbo transitivo direto) suco (objeto direto) no vestido florido (adjunto adverbial de lugar) e (conjunção aditiva) ficou (verbo de ligação) + sujeito oculto ou desinencial (ela) rubra de vergonha (predicado nominal) rubra (predicativo do sujeito) Note que, no nível sintático, não fizemos uma análise dos termos isoladamente, mas investigamos a função que cada elemento exerce no período. Além dele, há também o nível semântico. 1.3.4 Nível semântico O nível semântico diz respeito aos sentidos atribuídos às organizações textuais. Quando um texto é produzido, espera-se que haja uma harmonia entre as partes que permitam a atribuição de significados, de sentidos, ao todo. Dessa forma, quando se analisa este nível, leva-se em consideração o sentido e a adequação dos vocabulários; Coesãolexical; Coerência. A coesão e a coerência foram tema da Questão 15 do Enade (2011). Assista ao vídeo para melhor compreendê-las. 22 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. No plano semântico, destacam-se três propriedades: sinonímia (palavras que apresentam mesma significação); antonímia (palavras que apresentam significações distintas ou opostas); polissemia (palavras que possuem múltiplos significados, ou seja, podem variar de significado de acordo com o contexto comunicativo). Antes de prosseguirmos, vejamos o tratamento da polissemia na Questão 13 do Enade (2014). Observe os exemplos: A garota invadiu a sala do diretor. A jovem invadiu a sala do diretor. Note que garota e jovem funcionam como sinônimos. Agora: A jovem invadiu a sala do diretor. A idosa invadiu a sala do diretor. Perceba que jovem e idosa são opostos, funcionando como antonímias. Ainda: O menino me entregou a bola. O menino não deu bola ao que eu estava dizendo. Veja que, nesse caso, bola assume significados diferentes. Na primeira oração, bola é o objeto e na segunda, tem o sentido de importância. Analisemos a questão 14 do Enade 2014 para entender como algumas palavras podem assumir diferentes significados, conforme o contexto em que são utilizadas. 23LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Ainda em relação ao significado, veja como algumas construções na língua portuguesa necessitam de atenção. A questão 9 do ENADE (2011) ilustra bem como as motivações semânticas interferem na criação de novas palavras. Há, ainda, a possibilidade da ambiguidade, quando uma palavra ou grupo de palavras possuírem mais de um significado, podendo ser compreendida de diversas formas pelo receptor da informação. Observe: O menino viu o incêndio do prédio Neste exemplo, tanto podemos entender que o menino viu um prédio incendiar- se, quanto podemos interpretar que o menino estava em um prédio de onde viu o incêndio. Agora, vejamos o tratamento da ambiguidade na questão 19, retirada do Enade (2014). Por fim, há um último nível a ser considerado, o pragmático. 24 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.3.4 Nível pragmático O plano pragmático refere-se ao uso da linguagem nas situações comunicativas. Nesse caso, observa-se: quem fala/escreve; para quem; sobre o quê; quando; como; onde. A pragmática dedica-se a estudar o significado que as palavras adquirem no contexto comunicacional em que são proferidas, levando em consideração os diversos aspectos da cadeia comunicativa (enunciador, enunciatário, mensagem, intenção, contexto etc.). Em outras palavras: Isso equivale a ir além do significado das palavras e da estrutura sintática e do valor de verdades das sentenças para incluir os elementos contextuais que fazem com que o significado, em uma acepção pragmática, dê conta de mais do que explicitamente dito na interação linguística e torne possível a análise dos atos realizados por meio da linguagem. (MARCONDES, 2005, p. 27). Observe a seguinte situação: Um grupo de pessoas entra em uma sala e uma delas diz: - Como está escuro aqui! Alguém se dirige à parede em que está o interruptor e acende a luz. Note que ficou implícito no comentário o desejo de que a luz fosse acesa. Todos entenderiam da mesma forma. “Como está escuro aqui!” permite que façamos uma análise pragmática, pois ao considerarmos o contexto comunicacional, inferimos a necessidade de trazer luz ao local escuro. Saiba mais sobre os níveis de língua. Assista ao vídeo que trata do assunto na questão 25 Enade (2014). Além dos níveis, nossa língua também apresenta variações as quais demonstram sua dinamicidade e adaptabilidade. Vamos estudá-las! 25LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.4 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Durante muito tempo, quando se pensou na língua, de modo específico, na língua portuguesa, utilizou-se uma visão dicotômica de certo e errado. A norma culta, pregada nos manuais e gramáticas, era a forma correta de usar a língua e qualquer outra possibilidade era vista como erro. Nas escolas, estudava-se apenas a norma culta, num esforço de aplicá-la tanto na fala quanto na escrita. Os estudos linguísticos mudaram a forma de conceber a língua e, ao fazer isso, demonstraram que as situações comunicativas exigem que o falante/escrevente adapte a língua para aqueles contextos específicos. Gostamos muito da metáfora do guarda- roupa: procuramos ter uma roupa para cada ocasião. Se vamos à praia, colocamos biquíni ou calção. Se vamos a uma formatura, um vestido de festa ou um terno. Não saímos de casa em um dia de sol com destino à praia, vestidos como quem vai a uma formatura. Igualmente, não vamos a uma formatura vestidos apenas de biquíni ou calção. Com a língua, a perspectiva é a mesma: escolhemos um “tipo” de linguagem para cada ocasião. Se estamos em casa, reunidos à mesa do café, conversando com os familiares ou entre amigos, e queremos pedir a manteiga, certamente vamos dizer algo como: “Passa a manteiga, aí” ou “A manteiga...”. Se estivermos em um café de negócios, que exige formalidade, diremos algo como “Pode, por gentileza, passar a manteiga” ou “Por favor, passe-me a manteiga”. Se invertemos as linguagens, estaremos usando o biquíni na formatura, o que não é adequado. Desse modo, nossa língua apresenta uma diversidade de variáveis, as quais denominamos de variantes linguísticas, utilizadas em nosso cotidiano, permitindo que adequemos nossa linguagem às diferentes situações comunicativas. Como a diversidade de variantes é grande, destacamos aquelas mais comuns ou mais recorrentes. Antes de conhecê-las, vamos analisar uma questão 9 do Enade (2014) sobre o assunto: 26 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. ATENÇÃO O ramo da linguística que se dedica ao estudo das variantes é a sociolinguística. Variantes diafásicas: variantes que ocorrem em virtude do contexto comunicativo. Nesse caso específi co, podemos falar de nível formal e nível informal de linguagem. Veja a situação a seguir: FIGURA 7 - NÍVEIS DE LINGUAGEM FORMAL E INFORMAL FONTE: Disponível em: <htt ps://redacaoressucat.wordpress.com/2010/02/04/situacao- formal-e-informal/>. Acesso em: 2 abr. 2016. No primeiro quadrinho, temos o uso de uma linguagem formal e, no último, uma linguagem bem informal, cada uma revelando o contexto em que se insere. A primeira é o início de uma conversa entre dois estranhos (barman e cliente) e a segunda, entre pai e fi lho, duas pessoas que têm uma relação de proximidade. Em relação aos usos da língua, especialmente aqueles considerados inadequados, confi ra este vídeo acerca da Questão 19 do Enade (2011). 27LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Variante histórica: a língua, assim como a sociedade, vai sofrendo modificações ao longo do tempo, adequando-se às exigências sociais. As mudanças de grafia das palavras, as abreviações etc. são exemplos dessas modificações. Palavras escritas com ph que agora são escritas com f, você (hoje nas redes sociais e comunicadores instantâneos já é vc) que é uma redução de Vossa Mercê etc. Para ilustrar, observe: FIGURA 8 - VARIANTE HISTÓRICA FONTE: Disponível em: <http://linguaarteira.blogspot.com.br/2011/08/tirinha-evolucao-da-lingua- portuguesa_15.html>. Acesso em: 2 abr. 2016. Note que a tirinha apresenta uma mesma situação comunicativa em épocas distintas, evidenciando as mudanças que a linguagem sofre no decorrer do tempo. Variante diatópica ou regional: cada região apresenta uma forma de falar diferente (os sotaques) e vocabulários próprios. Lembre-se de como falam os gaúchos, os baianos, os cariocas, os catarinenses do litoral etc. Ou, ainda, que há regiõesem que falamos aipim, em outras, mandioca, em outras, macaxeira. Que tal assistirmos a um vídeo sobre a questão 10 do Enade (2014), que abarca essa temática? 28 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. DICA Para conhecer de forma bem-humorada um pouco das variantes regionais, assista a um fragmento da entrevista de Nelson Freitas ao programa do Jô Soares. Disponível em: <htt ps:// www.youtube.com/watch?v=VEr3tsI08Ns>. Variações diatrásticas: variantes ocorridas em virtude dos grupos sociais. Enquadram-se neste grupo os jargões técnicos, as gírias, a linguagem popular (caipira) e os falares típicos de grupos, tais como os surfi stas, os policiais, os jornalistas, os punks, os roqueiros etc. FIGURA 9 - LINGUAGEM POPULAR FONTE: Disponível em: <htt p://letrasmarques2013.blogspot.com.br/2013/08/regionalismos.html>. Acesso em: 2 abr. 2016. 29LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. A tirinha ilustra a variante conhecida como popular ou “caipira”. Veja, ainda, outro exemplo: FIGURA 10 - LINGUAGEM DE GRUPO SOCIAL - INTERNET FONTE: Disponível em: <http://letrasmarques2013.blogspot.com.br/2013/08/regionalismos. html>. Acesso em: 2 abr. 2016. Note que na tirinha de GRUMP temos a linguagem típica dos usuários da internet e seus comunicadores instantâneos, caracterizando um grupo com uma variante que lhe é própria. Vale destacar que nenhuma das variantes apresentadas é melhor ou pior que a outra. Todas são válidas e utilizadas nas situações comunicativas que as exigem. Lembre-se do que mencionamos no início deste item: nossa preocupação deve centrar-se em adequar a linguagem aos diversos contextos comunicativos, estabelecendo as inter-relações necessárias para as trocas de sentido. Você pode compreender melhor o assunto assistindo ao vídeo que trata das variedades da língua. O assunto foi contemplado na questão 12, na prova do ENADE em 2011. 30 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. As variantes linguísticas são traços que ajudam a caracterizar nossa língua, mas não são os únicos. Vamos aproveitar, a seguir, para estudar um pouco sobre quais são os traços distintivos de língua portuguesa falada/escrita no Brasil. 1.5 ASPECTOS DISTINTIVOS, LINGUÍSTICOS E EXTRALINGUÍSTICOS, DO PORTUGUÊS DO BRASIL Ao estudarmos, no primeiro item deste capítulo, a formação da língua portuguesa, vimos que ela é hoje língua oficial em países da América, Europa, Ásia e África. Cada um desses países possui uma trajetória histórico-social-cultural própria que lhe atribui características específicas. Nada mais natural que essas “marcas” também se evidenciem no português que cada um deles fala/escreve, afinal, a língua portuguesa foi influenciada pelos falares locais, pelos processos miscigenatórios etc. Desse modo, podemos verificar que há diferenças entre o português falado e escrito no Brasil e o português falado e escrito em Portugal. Tais distinções são perceptíveis principalmente nos níveis semântico, fonético e sintático. No que se refere à semântica, há uma gama de palavras que são utilizadas no português do Brasil e não no de Portugal e vice-versa. Outras têm significado diferente em cada uma delas. Assista ao vídeo da Questão 18 do ENADE de 2014, que aborda as particularidades do português brasileiro que o distinguem do português europeu. O quadro a seguir ilustra as diferenças de vocabulário entre a língua destes dois países: 31LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. QUADRO 2 – DIFERENÇAS DE VOCABULÁRIO ENTRE BRASIL E PORTUGAL Brasil Portugal Apontador Afia-lápis Aposentadoria R e f o r m a / pensão Bunda Rabo Camiseta Camisola Esparadrapo Adesivo Parada Paragem Privada Retrete Sorvete Gelado Terno Fato Trem Comboio FONTE: Disponível em: <https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/ consultorio/perguntas/20-palavras-semanticamente- diferentes-em-portugal-e-no-brasil/14050>. Acesso em: 10 abr. 2016. Já no aspecto fonológico, é possível perceber a diferença na pronúncia. No Brasil, o português adquire um ritmo mais “lento” no qual as vogais, tanto tônicas quanto átonas, são claramente pronunciadas. Em Portugal, é comum a eliminação das vogais átonas, pronunciando-se apenas as tônicas. Por exemplo: Brasil Portugal Pedaço p’daço Esperança Esp’rança Guimarães (2005, p. 26) apresenta a questão da distinção das vogais de forma mais aprofundada: a) Na posição tônica, o português do Brasil apresenta 7 vogais: /a/ (entrada); /é/ (deve), /ê/ (medo), /i/ (viga); /ó/ (avó), /ô/ (avô), /u/ (urubu). Note-se que a vogal /a/ é pronunciada, com timbre aberto, com a língua em repouso embaixo, na boca; que as vogais /é/, /ê/, /i/ são anteriores, elas são pronunciadas com um movimento da língua para frente; e as vogais /ó/, /ô/, /u/ são posteriores, pro- nunciadas com um movimento da língua para trás. Em Portugal (8), além dessas vogais, há também um /ä/, que não é aberto como o /a/. Este /ä/ é pronunciado com uma certa elevação da língua, diferentemente do /a/ aberto pronunciado com língua em repouso, embaixo na boca. Assim é que, na língua falada, se distingue /falämos/, presente do indicativo, de /falamos/ passado perfeito (9). b) Na posição átona final, no português do Brasil, de modo geral, há três vo- gais /a/ (casa), /i/ (barbante, pronunciado [barbãti]), /u/ (menino, pronunciado [meninu] e mesmo [mininu]). Em Portugal são também três vogais, /ä/, /ë/ e /u/. Assim, diferentemente do Brasil, /ä/ é pronunciado com a língua mais alta, com timbre mais fechado, /ë/ é pronunciado fechado, mas numa posição mais posterior do que o /ê/ do Brasil. O /u/ tem as mesmas características fonéticas do /u/ brasileiro. 32 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. c) Na posição pretônica, há no português do Brasil, em geral, 5 vogais, /a/, /ê/, /i/, /ô/, /u/, enquanto que em Portugal mantêm-se as 8 vogais da posição tônica, com a diferença de que o /ê/ passa a /ë/, numa pronúncia mais central: /a/, /ä/; /é/, /ë/, /i/; /ó/, /ô/, e /u/. No que se refere à sintaxe (falada), podemos observar que no português do Brasil é comum: a) O uso do pronome oblíquo em início de frases. “Me telefone, ok?”, “Te aviso quando chegar”. b) O uso de gerúndio nas locuções verbais, ao invés de preposição e infi nitivo. “Estou fazendo o café” (Brasil), “Estou a fazer o café” (Portugal). c) O emprego da preposição “em” com o verbo ir: “vou na padaria” (Brasil), “vou à padaria” (Portugal). Em relação ao paradigma pronominal brasileiro, veja este vídeo sobre a Questão 20 do Enade (2014). No entanto, Possenti (2013), em artigo para a Revista Língua Portuguesa, afi rma que há mais elementos a serem observados: Mas há mais. Mesmo se fi carmos exclusivamente na questão da colocação dos pronomes, pode-se ver que não é tão simples. Charlott e Galves, sintaticista da Unicamp, observa que há mais coisas além do mero fato de nossa ênclise e da próclise deles (ver "A gramática do português brasileiro", in: Línguas e instrumentos linguísticos (1). Campinas: Pontes). Há detalhes, como o de que no português do Brasil o pronome está sempre junto ao verbo principal, enquanto que no de Portugal esses elementos podem estar separados (compare "não tinha me lembrado" a "não me tinha lembrado"). DICA Para saber mais sobre as diferenças entre o Português do Brasil e o Português de Portugal, leia o artigo de Eduardo Guimarães, “A língua portuguesa no Brasil”, disponível em:<htt p:// cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200015&script=sci_artt ext>. 33LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Mais uma vez, vamos ilustrar o que acabamos de estudar com a questão 10 do Enade 2011: 1.6 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ORALE ESCRITA Existem várias correntes teóricas que procuram explicar os mecanismos de aquisição da linguagem oral e da escrita. Centraremos nossos estudos em quatro delas: a corrente inatista, a corrente comportamentalista, a corrente cognitivista e a corrente humanista. 1.6.1 Teoria inatista Essa linha de estudo da aprendizagem defende que já trazemos as condições biopsicológicas necessárias para a aquisição da linguagem em nossa constituição. Dito de outro modo, adquirir a linguagem é algo inato no ser humano porque ele possui um sistema fonador: pulmões, laringe, faringe, cavidade bucal e fossas nasais e um sistema cerebral preparados para este processo. À medida que estes sistemas maturam, a aquisição da linguagem ocorre. Pela teoria inatista, somos “programados” para aprender a linguagem. Já nascemos com esta condição. Ela se desenvolve conosco. Você, certamente, se lembra de Chomsky, estudioso que se pautava na perspectiva inatista em seus estudos linguísticos. Segundo ele, já trazemos a linguagem conosco, temos internalizada uma gramática (que ele chamou de Gramática Universal) a qual é acionada sempre que nos comunicamos. Por isso, as crianças, mesmo sem serem alfabetizadas, já conseguem fazer construções sintáticas e semânticas complexas. 34 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.6.2 Teoria comportamentalista ou ambientalista ou behaviorista Se a primeira vertente defende a ideia de que já nascemos com as condições necessárias para desenvolver a linguagem, tendo que esperar apenas a maturação física e intelectual, a teoria comportamentalista segue em direção contrária. Segundo esta vertente, são os estímulos ambientais que condicionam a aquisição da linguagem. Sob este viés, o ser humano recebe estímulos que, ao serem insistentemente repetidos, promovem a aquisição da linguagem oral ou escrita. Desse modo, a repetição de letras, palavras e estruturas gramaticais seria elemento-chave em um processo de ensino e aprendizagem da língua. Caberia aos pais, no trato com as crianças nos primeiros anos, e aos professores, estabelecerem os comportamentos a serem condicionados e os estímulos que reforçariam tais comportamentos. Nesse sentido, a criança aprenderia a falar e a escrever porque receberia estímulos que condicionariam sua aprendizagem. Dito de outro modo, na teoria comportamentalista, cujo maior representante é John Broadus Watson, o comportamento humano é apreendido por uma relação de estímulo-resposta que se estabelece no meio em que o indivíduo se insere. Dá ênfase ao reforço porque ele é o responsável pela assimilação do condicionamento. Seus principais pressupostos educacionais são a aprendizagem que acontece por meio da repetição e os reforços positivos e negativos infl uenciam a formação dos hábitos desejados. Para uma aprendizagem adequada, as atividades devem ser graduadas, aumentando a intensidade ou complexidade à medida que são assimiladas. DICA Para saber um pouco mais sobre essa vertente, assista ao bem-humorado vídeo. Disponível em: <htt ps://www.youtube.com/watch?v=-wAceVuAbxY&nohtml5=False>. IMPORTANTE A teoria comportamentalista se baseia nos estudos de Pavlov e Skinner, por isso, se quiser saber um pouco mais sobre estes estudiosos, acesse o link disponível em: <htt p://www. psicologiamsn.com/2013/03/behaviorismo-de-watson-e-skinner.html>. 1.6.3 Teoria cognitivista O cognitivismo, como o próprio nome sugere, enfatiza a cognição, o ato de conhecer, como o ser humano conhece o mundo. Sua preocupação centra-se em como o homem desenvolve seu conhecimento sobre o mundo que o rodeia. Essa vertente 35LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.6.3.1 Construtivismo Buscando estabelecer um equilíbrio entre o inato e o estímulo interno, a teoria construtivista trabalha com a perspectiva de que a aquisição da linguagem ocorre nas relações do homem com seu meio. Sob este viés, o homem recebe estímulos do ambiente e, agindo sobre eles, constrói e organiza seu próprio conhecimento. Jean Piaget é o estudioso mais reconhecido dessa vertente e seus estudos apresentaram que o conhecimento se constrói em um processo de assimilação, acomodação e interação. A assimilação é a forma como o indivíduo depreenderá o objeto e o encaixará nos seus conhecimentos prévios. A acomodação é a modificação, o ajuste dos conhecimentos prévios para melhor compreender o objeto de sua aprendizagem. Esses dois elementos constituem a interação, processo no qual o ser humano está em constante construção de conhecimento. desmembrou-se em diversas ramificações, das quais destacamos o Construtivismo e Interacionismo. 1.6.3.2 Interacionismo Outra vertente bastante conhecida do Cognitivismo, cujo representante é Vygotsky, é o chamado Interacionismo. Embora se aproxime bastante da perspectiva construtivista, esta corrente baseia-se no conceito de mediação. Segundo ela, a aprendizagem ocorre nas interações entre os seres humanos e entre os seres humanos e o contexto em que se inserem. Mas para que haja essa construção, há uma série de sistemas simbólicos que fazem a mediação entre os novos saberes e os que já temos. Não descarta a questão de que temos um aparato fonológico inato que nos habilita para a linguagem, mas defende que só ele não é suficiente. As interações são as verdadeiras responsáveis pelo aprendizado. Somos seres sociais e, por conta disso, interagimos com nosso meio social, cultural, econômico, histórico, geográfico. Essas interações promovem a construção dos conhecimentos linguísticos que promovem a aquisição da linguagem oral e escrita. Assim, o entorno (com todos os seus aspectos) é elemento importante na construção do conhecimento. Para entender mais sobre a aquisição da linguagem, assista a este pequeno vídeo, acerca da Questão 34 do ENADE (2011). 36 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. 1.6.4 Teoria humanista A abordagem humanista enfatiza que a base da aprendizagem está na autorrealização do aprendiz. No Brasil, essa perspectiva ficou bastante conhecida pelo termo Escola Nova ou escolanovista. Ela destaca que, para que ocorra a aprendizagem, deve haver uma associação do cognitivo, do motor e do afetivo, buscando, desse modo, trabalhar o indivíduo de forma global. O maior representante desta corrente, o norte-americano Carl Rogers, afirmou em seus estudos que os aprendizes estão motivados para a aprendizagem quando identificam coerência entre os conteúdos e suas expectativas. Assim, a escola deixa de ser um espaço de imposição e amedrontador, para ser espaço estimulante de autoaprendizagem. Outra questão apontada por Rogers é a de que o aprendiz deve ser confrontado com situações experimentais, para que possa aprender, na prática, sendo agente de sua formação. O quadro a seguir estabelece uma comparação entre as três principais teorias, facilitando a compreensão. 37LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. QUADRO 3 – COMPARAÇÃO ENTRE BEHAVIORISMO, COGNITIVISMO E HUMANISMO FONTE: Disponível em: <http://wwwsementesdoamanha11.blogspot.com.br/2012/01/teorias-da- aprendizagem.html>. Acesso em: 9 abr. 2016. As teorias de aprendizagem mais atuais enfatizam a perspectiva de que o processo de construção de conhecimento ocorre pelas interações entre sujeitos e sujeitos e o meio. No campo dos estudos sobre a linguagem, sabemos que as interações entre os sujeitos ocorrem sob a forma de textos, os quais concretizam os discursos. Assim, convém estudarmos um pouco sobre os gêneros discursivos, já que são as formas textuais de interação pela linguagem. 1.7 GÊNEROS DISCURSIVOS Como já é de nosso conhecimento, a comunicação entre os seres humanos ocorre por meio de textos. Neles é possível identificar uma estrutura e uma função. Assim,existem os tipos de textos (classificados levando em consideração questões linguísticas e estruturais) e os gêneros textuais ou discursivos (estabelecidos em virtude do contexto em que são produzidos, do público a que se destinam, da finalidade com que são produzidos, do meio por onde circulam, etc.). Os tipos textuais constituem-se como conjuntos de enunciados organizados em uma estrutura predefinida, identificável por caraterísticas preponderantes a cada 38 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. tipo. Os mais usuais tipos de texto ou tipos de composição são: narração, exposição, argumentação, descrição e injunção. a) Narração: sua principal característica enfatiza o “ato de contar” algo, uma história, real ou ficcional, situada em um tempo e espaço específicos, com personagens e aquele que se responsabiliza por “contar a história”, o narrador. Gêneros como o romance, o conto, as fábulas, as crônicas, as biografias, etc. valem-se deste tipo de composição. Cuidado com o que se deseja [...] Um belo fim de tarde, logo depois da escola, Pedro estava caminhando pela rua quando se deparou com uma garrafa de formato anormal em cima do meio-fio; abaixou-se, pegou-a e, como era afobado, em vez de admirar o peculiar acabamento da garrafa, começou a sacudi-la para ver se havia algo dentro. Porque não ouviu nenhum som, concluiu que deveria estar vazia. Quando estava prestes a jogá-la fora, percebeu ranhuras no casco, que era feito de vidro fosco, e levantou a garrafa contra a luz. Forçando a vista, percebeu alguns sinais que aos poucos foram se convertendo em letras. Pôde ler então a mensagem: “Abra-me!” [...] FONTE: Disponível em: <http://www.letraseeartes.com.br/2011/01/tres-bons-exemplos-de-textos- narrativos.html>. Acesso em: 8 abr. 2016 Facilmente reconhecemos no fragmento um exemplo de narração. Há uma espécie de entidade que conta a história (narrador), situando-a em um tempo (fim de tarde), um espaço (rua), com a interação de personagens (Pedro). b) Exposição: caracteriza-se por apresentar informações sobre um objeto ou uma situação, valendo-se de uma linguagem clara e objetiva. Os gêneros que mais utilizam esse tipo de composição são: reportagem, resumo, fichamento, artigos científicos, seminários, entre outros. O telefone celular A história do celular é recente, mas remonta ao passado – e às telas de cinema. A mãe do telefone móvel é a austríaca Hedwig Kiesler (mais conhecida pelo nome artístico Hedy Lamaar), uma atriz de Hollywood que estrelou o clássico Sansão e Dalila (1949). Hedy tinha tudo para virar celebridade, mas pela inteligência. Ela foi casada com um austríaco nazista fabricante de armas. O que sobrou de uma relação 39LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/texto-expositivo.htm>. Acesso em: 8 abr. 2016. desgastante foi o interesse pela tecnologia. Já nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, ela soube que alguns torpedos teleguiados da Marinha haviam sido interceptados por inimigos. Ela ficou intrigada com isso, e teve a ideia: um sistema no qual duas pessoas podiam se comunicar mudando o canal, para que a conversa não fosse interrompida. Era a base dos celulares, patenteada em 1940. O texto apresenta informações sobre determinado objeto, nesse caso, o telefone móvel. Ele o faz de forma clara, objetiva. Expõe os dados (o quê? Telefone móvel; quando? 2ª Guerra Mundial? Como? Sistema em que duas pessoas pudessem conversar sem que fossem interrompidas). Note que o autor não emitiu sua opinião, ou apresentou argumentos para convencer o leitor de que o telefone móvel é benéfico ou maléfico, ele apenas trouxe para seu público os dados que dizem respeito ao objeto em questão. c) Argumentação: também conhecida como texto dissertativo-argumentativo. Caracteriza-se como um texto que apresenta a opinião do escritor, o qual, valendo-se de estratégias de argumentação, tenta provar seu ponto de vista e convencer o leitor com seus argumentos. Esse tipo de composição é comum em gêneros como o editorial, carta do leitor, ensaio, dissertação-argumentativa, artigo de opinião etc. Não é de hoje que a sociedade brasileira sofre com os tormentos ocasionados pela disseminação da violência. Esse fato estarrecedor gera debates e mais debates, na tentativa de sanar, ou ao menos coibir, os sérios impactos sociais que as ações violentas representam para a coletividade. Para esse fim, seria a redução da maioridade penal um componente de primeira grandeza? Constata-se que o envolvimento de jovens infratores em graves delitos pode não ser uma exclusividade dos tempos modernos; no entanto, é inegável o aumento de casos envolvendo crianças e adolescentes em situações deploráveis, como furtos, roubos e, em muitos contextos, homicídios. Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o declínio de dois anos nas contas da maioridade penal. Para os mais inconformados com a realidade, aqueles tomados pelo afã do “justiceiro implacável”, não parecem existir outras saídas. Todavia, nem sempre o que se revela aparentemente óbvio o é. Há fatores envolvidos nas estatísticas da criminalidade covardemente camuflados por alguns setores governamentais, bem como por áreas específicas da sociedade civil. Se reduzir a idade mínima penal tivesse consequências positivas imediatas para a diminuição dos índices criminais, essa certamente já seria uma medida 40 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. adotada por todas as nações. Fatores bem mais importantes, como priorização efetiva dos investimentos em educação e cultura, bem como distribuição de emprego e renda, inserindo o jovem no universo acadêmico ou técnico, indubitavelmente aplacariam com mais rapidez e eficácia os deploráveis números. A participação de menores infratores em crimes hediondos não deve ser ignorada, é inegável; diminuir a idade base para a criminalização de seus atos pode ser uma saída, mas necessita, ainda, de discussões e argumentos mais convincentes. De concreto, fica a certeza de que só um programa capaz de incluir crianças, adolescentes e jovens nos interesses mais prioritários do país terá a força suficiente para contornar quadro tão desfavorável. FONTE: SAMPAIO, Eduardo. Disponível em: <http://www.normaculta.com.br/texto-dissertativo- argumentativo/>. Acesso em: 8 abr. 2016. O autor ao longo do texto vai apresentando argumentos que subsidiam seu ponto de vista e tentam convencer o leitor a aceitá-los. No primeiro e no segundo parágrafos expõe o tema (maioridade penal) e apresenta dados que, inicialmente, parecem apoiar a diminuição da maioridade (Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o declínio de dois anos nas contas da maioridade penal). No entanto, no final do terceiro parágrafo, começa a transparecer o ponto de vista que defenderá (Todavia, nem sempre o que se revela aparentemente óbvio o é) e inicia sua argumentação, apresentando os elementos que fortalecem a tese de que diminuir a maioridade penal não será a solução para a violência. Para isso ele argumenta que: as estatísticas são camufladas e não revelam o verdadeiro índice de jovens infratores; se a redução fosse uma boa alternativa já teria sido adotada em outros países; investimentos em educação, cultura e redistribuição de empregos e renda seriam mais eficazes no combate à violência juvenil. No parágrafo final, volta a afirmar que a diminuição pode ser uma saída, desde que devidamente discutida e refletida, mas reforça que o melhor é fazer reformas educacionais, sociais e econômicas. d) Descrição: caracteriza-se por descrever o objeto ou a situação de forma objetiva ou subjetiva, dependendo do propósito. É comum encontrar este tipo de composição em gêneroscomo ata, relatório, relato de viagem, laudo etc. 41LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Campo dos sonhos – fragmento [...] O caminho que leva ao portão de entrada da instituição técnica já é uma doce recepção da natureza aos futuros sargentos brasileiros. Uma estrada bem- pavimentada, cercada de plantas de vários tipos que se alternam com coqueiros e pequenas palmeiras, sentinelas de nossas aspirações. Uma belíssima escultura de um avião de caça, imponentemente montado sobre um pedestal, defende a guarita na qual se encontram os soldados. Como estamos num vale, ao redor e ao longe, destacam- se verdes encostas, elevando-se acima de todas as outras a Serra da Mantiqueira, essa gigantesca e antiga muralha natural. Ao longo de toda a alameda que conduz aos galpões, alojamentos e prédios que compõem a escola, enfileiram-se painéis de azulejo, nos quais reproduções de pinturas conhecidas, paisagens e cenas históricas remetem ao universo aeronáutico de nosso país. [...] FONTE: Disponível em: <http://www.letraseeartes.com.br/search/label/Descri%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 8 abr. 2016. O fragmento descreve com detalhes a paisagem que cerca a instituição objeto do texto. Esse é o relato de uma visita a uma escola da Aeronáutica. O autor vai mostrando detalhes de como é o lugar, formando uma imagem que vai se consolidando por meio das palavras: “caminho leva ao portão de entrada da instituição técnica; estrada bem-pavimentada, cercada de plantas de vários tipos que se alternam com coqueiros e pequenas palmeiras, escultura de um avião de caça, próxima à guarita na qual se encontram os soldados; destacam-se verdes encostas, elevando-se acima de todas as outras a Serra da Mantiqueira; ao longo de toda a alameda que conduz aos galpões, alojamentos e prédios que compõem a escola, enfileiram-se painéis de azulejo, nos quais reproduções de pinturas conhecidas, paisagens e cenas históricas”. Essa, no entanto, é uma descrição de caráter subjetivo, porque há nela uma série de impressões que o cenário causa no autor. Ao longo do fragmento, lemos expressões como “doce recepção”, “sentinelas de nossas aspirações”, “belíssima escultura”, “gigantesca e antiga”, todas indicativos do estado de contemplação e entusiasmo do escritor. Compare a descrição do exemplo acima com a que mostramos a seguir: 42 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. Sabe-se que, ao mudar o meio em que a luz se propaga, alteram-se também o comprimento de onda e a propagação. Tendo como referência as características apresentadas pela luz no vácuo, o parâmetro chamado "índice de refração" mede essas alterações e permite ainda caracterizar a absorção de luz pelo material. No entanto, com a descoberta do laser, tornou-se possível constatar que esse índice não é propriedade invariável dos materiais, pois depende também da intensidade da luz incidente. Recentemente se tornaram conhecidos novos materiais que apresentam uma variação apreciável do índice de refração mesmo para campos luminosos pouco intensos. Essas descobertas apresentam grande variedade de aplicações, seja na amplificação de imagens ópticas, no reconhecimento de formas (usados na robótica) etc. FONTE: Hologramas Dinâmicos e Espelhos Conjugados. Revista Ciência Hoje, n. 22, p. 16. Disponível em: <http://redafacil.blogspot.com.br/2010/01/7-descricao-tecnica-o-relatorio- e-o.html>. Acesso em: 15 maio 2016. Note que neste fragmento também há o detalhamento de um objeto, mas a descrição é totalmente objetiva, restringindo-se a descrever o fenômeno sem que o autor se envolva com ele. e) Injunção: este tipo de composição tem por característica dar instruções, valendo-se, desse modo, dos verbos no imperativo. Utilizam-se deste tipo de composição os gêneros receitas culinárias, bulas, editais, manuais de instruções etc. FIGURA 11 – CARTAZ DE COMBATE AO AEDES AEGYPTI FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/_portalebc2014/files/styles/full_colunm/ public/atoms_image/zika.png?itok=nYe5ZkJC>. Acesso em: 8 abr. 2016. 43LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. O cartaz dá instruções de como proteger as crianças das doenças transmitidas pelo mosquito. Note que além de instruir (o que pode e o que não pode), utiliza o modo imperativo em “Proteja as crianças do mosquito”. ATENÇÃO Os tipos textuais, embora marcados por características próprias, não são grupos fechados. Há a possibilidade de produzir gêneros textuais que se valem de mais de um tipo de texto. Por exemplo: textos narrativo-descritivos, textos descritivo-argumentativos, e assim por diante. Observe: Vou contar uma história, disse ele, e vocês façam a composição. Mas usando as palavras de vocês. Quem for acabando não precisa esperar pela sineta, já pode ir para o recreio. O que ele contou: um homem muito pobre sonhara que descobrira um tesouro e fi cara muito rico; acordando, arrumara sua trouxa, saíra em busca do tesouro; andara o mundo inteiro e continuava sem achar o tesouro; cansado, voltara para a sua pobre, pobre casinha; e como não tinha o que comer, começara a plantar no seu pobre quintal; tanto plantara, tanto colhera, tanto começara a vender que terminara fi cando muito rico. Eram quase dez horas da manhã, em breve soaria a sineta do recreio. Aquele meu colégio, alugado dentro de um dos parques da cidade, tinha o maior campo de recreio que já vi. Era tão bonito para mim como seria para um esquilo ou um cavalo. Tinha árvores espalhadas, longas descidas e subidas e estendida relva. Não acabava nunca. Tudo ali era longe e grande, feito para pernas compridas de menina, com lugar para montes de tijolo e madeira de origem ignorada, para moitas de azedas begônias que nós comíamos, para sol e sombras onde as abelhas faziam mel. Lá cabia um ar livre imenso. E tudo fora vivido por nós: já tínhamos rolado de cada declive, intensamente cochichado atrás de cada monte de tijolo, comido de várias fl ores e em todos os troncos havíamos a canivete gravado datas, doces nomes feios e corações transpassados por fl echas; meninos e meninas ali faziam o seu mel. Eu estava no fi m da composição e o cheiro das sombras escondidas já me chamava. Apressei-me. Como eu só sabia "usar minhas próprias palavras", escrever era simples. Apressava-me também o desejo de ser a primeira a atravessar a sala – o professor terminara por me isolar em quarentena na última carteira – e entregar-lhe insolente a composição, demonstrando-lhe assim minha rapidez, qualidade que me parecia essencial para se viver e que, eu tinha certeza, o professor só podia admirar. Entreguei-lhe o caderno e ele o recebeu sem ao menos me olhar. Melindrada, sem um elogio pela minha velocidade, saí pulando para o grande parque. FONTE: LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977. p. 15-16. No primeiro parágrafo predomina a narrativa: o narrador conta uma história, apresentando personagens (professor, aluna), ambiente (sala de aula, escola), tempo (uma manhã), enredo (escrever sobre a história contada pelo professor). Já no segundo, há o destaque para a descrição. O narrador vai detalhando como era o pátio da escola e as impressões que tinha dele. Assim, os gêneros textuais podem constituir-se por um, dois ou mais tipos textuais, dependendo da situação em que se insiram e do que pretendam comunicar. Se os tipos textuais são estruturas com marcas e características, os gêneros relacionam-se diretamente com as situações de uso. [...] os gêneros é que constituem textos empíricos, é que constituem textos reais em 44 LETRAS Copyright © UNIASSELVI 2017. Todos os direitos reservados. circulação, os quais são regulados também por tipos de sequências sintáticas e relações lógicas. [...] São definidos por propriedades sociodiscursivas, diferen- temente, portanto,
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