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Curso Entre Letras: a formação do profissional de Língua Portuguesa (Apostila)

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LETRAS 
ETAPA 1
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br
LETRAS EM FOCO
UNIASSELVI 2016
Organização
Elisabeth Penzelien Tafner
Autoria
Iara de Oliveira
Reitor da Uniasselvi
Prof. Hermínio Kloch
Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância
Prof.ª Francieli Stano Torres
Pró-Reitor Operacional de Graduação a Distância
Prof. Hermínio Kloch
Revisão Final
Harry Wiese
José Roberto Rodrigues
Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci
1LETRAS
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1 ESTUDOS LINGUÍSTICOS
-------------- [ APRESENTAÇÃO ] ---------------
Todo aquele que abraça uma profissão sabe que um dos fatores primordiais para seu 
sucesso é dominar o máximo de aspectos que envolvem a carreira escolhida. Aqueles que optam 
pelas licenciaturas têm um desafio duplo: dominar seu objeto profissional e ensiná-lo, ajudando 
outros na construção de seus conhecimentos. Os licenciados em Letras têm a língua, materna 
e/ou estrangeira, como seu objeto de estudo e precisam aprofundar seus conhecimentos nela 
para não apenas dominar suas nuances, mas ensiná-las nas diversas instâncias da educação. 
Ao longo do curso de Letras, os conhecimentos sobre a língua portuguesa vão se 
consolidando, mas é natural que, em virtude de uma série de fatores que passam não apenas 
pela questão temporal, muitas vezes, tenhamos que retomar alguns aspectos, relembrar alguns 
conteúdos, rememorar temas que necessitam de maior atenção. Assim, o primeiro capítulo deste 
caderno de estudos faz uma revisão dos conteúdos que envolvem o estudo da língua portuguesa. 
Nele relembraremos como nossa língua se formou, quais as visões que cada teoria linguística 
atribuiu, ao longo dos tempos, para a língua, os níveis de análise, as variações linguísticas, os 
aspectos distintivos do português do Brasil, as teorias de aquisição de linguagem e os gêneros 
discursivos.
O estudo se consolida com o propósito de alcançar os seguintes objetivos:
	identificar os principais aspectos de formação da língua portuguesa;
 comparar as diferentes concepções de língua nas teorias linguísticas;
 reconhecer os níveis de análise da língua;
 analisar as variantes linguísticas;
 identificar os aspectos distintivos do português do Brasil;
	avaliar as teorias de aquisição da linguagem oral e escrita;
	analisar os gêneros discursivos.
Você é nosso convidado para participar dos desafios presentes neste primeiro 
capítulo. Vamos em frente!
Profª. Iara de Oliveira
2 LETRAS
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1.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
O latim, língua da qual surgiu a Língua Portuguesa, deriva de um grupo 
denominado indo-europeu. “Desse antigo tronco comum derivou a maior parte 
das línguas atualmente faladas na Europa e grande parte das faladas na Ásia, hoje 
representadas em todos os continentes”. (FURLAN, 2006, p. 19).
Os historiadores, de modo geral, afirmam que algumas tribos nômades do leste 
da Europa, falantes do indo-europeu, teriam, por volta de 3000 a.C., migrado para o 
oeste e o sul. Por volta de 1400 a 1000 a.C., uma parte destas tribos dirigiu-se para o 
centro da, hoje, Itália, passando a falar o itálico. Dele originaram-se o osco, o úmbrio, o 
falisco e o latim, língua falada no Lácio – região central da Itália, na qual, em 753 a.C., 
foi fundada a cidade de Roma (FURLAN, 2006).
A língua latina era a forma de expressão de um povo rústico, porém empreendedor 
e guerreiro. “Com efeito, o latim nasceu na boca de gente prática e utilitarista, de instinto 
guerreiro, empreendedor e de grande tino político, menos inclinada a devaneios 
poéticos do que à administração e à elaboração de conceitos, normas e princípios legais”. 
(FURLAN, 2006, p. 20). No entanto, sabe-se que ele foi pouco a pouco se adaptando 
também à literatura e à erudição, principalmente após seu contato com a cultura grega, 
de quem recebeu grande influência.
O povo do Lácio, como mencionamos anteriormente, era organizado e 
empreendedor. Logo assumiu uma postura expansionista que fez com que seu território 
adquirisse dimensões imensas. Esse processo teve início na guerra contra os samnitas, 
326 a 295 a.C., iniciando a conquista da parte meridional da Península Itálica, chegando 
à Mesopotâmia, em 107 d.C. (CUNHA; CINTRA, 2008). É possível visualizar a extensão 
do Império Romano no mapa a seguir:
3LETRAS
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FIGURA 1 – MAPA DO IMPÉRIO ROMANO
FONTE: Disponível em: <https://clionainternet.files.wordpress.com/2013/02/mapaimprom.jpg>. 
 Acesso em: 4 abr. 2016.
À medida que expandiam o território, os romanos também se fixavam nas terras 
conquistadas, impondo seus hábitos, sua cultura, transplantando suas instituições e 
fazendo com que os nativos tivessem que falar a língua de seus conquistadores: o latim. 
É importante relembrar que havia um latim conhecido como popular, corrente ou vulgar, 
entendido como o latim falado pela população; um latim conhecido como literário, aquele 
utilizado nos documentos escritos; e o chamado latim clássico, utilizado nas produções 
artístico-estético-literárias. Os soldados usavam o latim vulgar, a maioria não dominava 
a escrita, portanto, era o latim popular que se impunha nos territórios conquistados. “Foi 
esse matizado latim vulgar que os soldados, colonos e funcionários romanos levaram para 
as regiões conquistadas e, sob o influxo de múltiplos fatores, diversificou-se com o tempo 
nas chamadas línguas românicas”. (CUNHA; CINTRA, 2008, p. 11).
Pense na seguinte situação: os romanos conquistavam as cidades, as quais já 
possuíam seus costumes, sua cultura, sua língua, e impunham novos hábitos, cultura, 
língua. Isso não acontecia da noite para o dia. Havia, inicialmente, uma mistura desses dois 
ou mais falares para que se desse a comunicação. Além disso, dada a extensão territorial 
e as muitas demandas, não havia uma cobrança em relação à correção no falar ou no falar 
apenas o latim “sem mistura”. Fica fácil, a partir daí, entender o que aconteceu: cada lugar 
desenvolveu uma forma de falar que deu origem aos falares neolatinos, conhecidos como 
romances ou romanços.
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Essa “derivação” das línguas neolatinas do latim é explicada por Furlan (2006, p. 
25-26, grifos do autor):
A derivação processou-se em dois períodos: a) o que vai, aproximadamente, de 
200 a.C. (expansão do Império para fora da Itália) até ao fim do século V d.C. 
(invasão da Itália por tribos germânicas em 476), quando os falares regionais já 
teriam estado mais próximos dos idiomas modernos do que o latim; b) o que vai 
desde o fim do século V, quando esses falares regionais se manifestaram como 
romances ou romanços, até o momento em que eles passaram a apresentar traços 
gerais de línguas neolatinas faladas.
Ainda é importante destacar que, no caso específico da Península Ibérica, houve a 
invasão, em 409 d.C., de um grupo de povos germânicos: vândalos, suevos e alanos. Dos 
três povos, foram os suevos que se fixaram na região da Galícia e da Lusitânia, mas foram 
logo incorporados pelos visigodos, os quais já mantinham contato com os romanos. Estes 
logo se fundiram à população românica e deixaram marcas de sua língua em palavras de 
nosso idioma, como: albergue, bramar, elmo, espora, guerra, trégua, espeto, etc. A seguir, 
foi a vez dos árabes ocuparem a Península, em 711 d.C. Eles acabaram casando-se com 
mulheres da região ou tomando-as como escravas, o que permitiu uma nova adaptação da 
língua. Como foram fomentadores das ciências e das artes, contribuíram com vocabulários 
que representavam os novos conhecimentos trazidos.Cunha e Cintra (2008) afirmam que 
a estimativa é de que 400 a 1000 termos de nossa língua tenham sua origem nos idiomas 
árabes, como, por exemplo, alface, alfafa, alfazema, algodão, berinjela, aduana, armazém, 
quintal, alfaiate, também, álgebra, álcool, cifra etc. Segundo Teyssier (1982, p. 14):
É durante o período que se segue à invasão muçulmana (711) que vão aparecer 
outras inovações específicas de que resultará o isolamento dos falares do Noroeste 
da Península, não apenas dos seus vizinhos do Leste, leonês e castelhano, mas 
também dos dialetos moçárabes que se desenvolvem no Sul. Surgirá, assim, nos 
séculos IX a XII, o galego-português, cujos primeiros textos escritos aparecerão 
somente no século XIII. (TEYSSIER, 1982, p. 14).
 
Os primeiros escritos em galego-português surgiram quando Portugal já havia 
se constituído como reino autônomo e seu território praticamente todo reconquistado. 
Separado de Leão, futura Espanha, e da Galícia, o reino foi expandindo-se para o sul, 
retomando terras que estavam nas mãos dos mouros (árabes). “Com a tomada de Faro 
(1249), o território nacional atingiu os limites que, com algumas pequenas modificações, 
correspondem às fronteiras de hoje”. (TEYSSIER, 1982, p. 20). Os reis deixaram de instalar-
se em Guimarães para estabelecer a sede do governo em Lisboa. Durante esse processo, 
o galego-português foi seguindo a reconquista e se fixando como língua de Portugal.
Com o surgimento dos primeiros textos redigidos em galego-português (século 
XIII), iniciou-se, de fato, a língua portuguesa, que passou por diversos estágios até chegar 
ao idioma que conhecemos e praticamos atualmente. Cunha e Cintra (2008, p 18-19), 
apoiados em uma periodização defendida pelo linguista Vasconcelos, no ano de 1926, 
apresentam as seguintes etapas de evolução da língua portuguesa:
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a) latim lusitânico, língua falada na Lusitânia, desde a implantação do latim até 
o século V;
b) romance lusitânico, língua falada na Lusitânia, do século VI ao século IX, da 
qual, como da fase anterior, não temos nenhum documento escrito;
c) português proto-histórico, língua falada na Lusitânia, do século IX até fins do 
século XII, e da qual podemos vislumbrar algumas características nas palavras 
intercaladas em textos do latim bárbaro;
d) português arcaico, que vai de princípios do século XIII até a primeira metade 
do século XVI, quando a língua começa a ser codificada gramaticalmente;
e) português moderno, que se estende da segunda metade do século XVI até os 
dias que correm. (CUNHA E CINTRA, 2008, p. 18-19).
Observe a imagem que segue, pois ela faz um resumo do que vimos até o momento:
FIGURA 2 – ÁRVORE GENEALÓGICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
FONTE: Disponível em: <http://linguaviva.zip.net/arch2011-04-03_2011-04-09.html>. Acesso em: 2 
abr. 2016.
A árvore genealógica mostra as línguas do eixo indo-europeu, entre as quais 
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destaca-se o itálico, do qual derivou-se o latim. Aponta, também, para os idiomas que 
se originaram do latim, destacando o português nas suas três ramificações (europeu, 
brasileiro e africano).
Com as conquistas ultramarinas dos lusitanos, o português também foi levado 
para a África, Ásia e a América do Sul, como podemos ver no mapa a seguir. Estima-se 
que hoje haja aproximadamente duzentos milhões de falantes do português no mundo, 
o que o coloca como um dos dez idiomas mais falados.
FIGURA 3 – PAÍSES QUE TÊM O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA OFICIAL
FONTE: Disponível em: <http://ciberduvidas.iscte-iul.pt/assets/legacy/img/mapa-dos-paises-
lusofonos-1.jpg>. Acesso em: 2 abr. 2016.
Agora que relembramos como surgiu o português, podemos nos dedicar ao 
estudo da língua, começando por entender como foi conceituada pelas várias teorias 
linguísticas.
1.2 CONCEPÇÕES DE LÍNGUA NAS DIVERSAS TEORIAS LINGUÍSTICAS
Se, como vimos no primeiro item, a língua, como elemento vivo e dinâmico, 
evoluiu do latim até chegar ao que conhecemos na atualidade, também os estudos 
sobre ela passaram por reformulações, ampliações e modificações. Não há como buscar 
entender a língua que falamos e escrevemos hoje fazendo uso apenas de teorias de dois 
séculos atrás. Por isso, vamos estudar como essas teorias foram avançando e procurando 
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contemplar as diversas nuances desse objeto tão dinâmico.
Desde a Grécia antiga houve uma preocupação com o estudo da língua. No 
entanto, naqueles primeiros tempos, o interesse centrava-se em estabelecer normas que 
fossem seguidas pelos falantes e escreventes do idioma. As primeiras “gramáticas”, dessa 
forma, tiveram um caráter catalogador, estabelecedor de normas que obrigatoriamente 
deveriam ser seguidas para o bem falar e o bem escrever. Se pensarmos com mais 
profundidade na questão, chegaremos à conclusão de que as gramáticas tradicionais 
fazem isso: mais do que entender a língua, estabelecem regras sobre seu emprego 
adequado.
A visão normativa da língua se estendeu até o início do século XX, quando foi 
publicado o livro Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, em 1916. 
Houve uma mudança de eixo porque o autor estabeleceu o princípio de que a língua é 
um conjunto de estruturas. Essa perspectiva foi denominada de Estruturalismo.
IMPORTANTE
Vale lembrar aqui que Saussure foi o autor das ideias do livro Curso de Linguística Geral, 
mas não o “escreveu” e publicou. Após sua morte, em 1913, dois de seus antigos alunos 
reúnem as anotações que o autor fez para os três cursos de Linguística Geral que ministrou 
em Genebra, entre os anos de 1907 e 1911, bem como os apontamentos de seus alunos, e transcrevem 
o curso. Saussure foi e é o “pai” da linguística moderna.
1.2.1 Teoria Estruturalista ou Estruturalismo
Saussure foi o primeiro a chamar a organização interna da língua de sistema, 
mas foi Roman Jakobson o primeiro a chamar de estruturalismo um movimento maior, 
que abrangeria outras áreas das ciências humanas, norteado, no entanto, pela ideia de 
sistema do pensador francês.
Na visão de Saussure (1996), a língua é um sistema de signos. Ao estabelecer tal 
defi nição, o autor destaca o fato de que o signo não pode ser visto isoladamente, mas 
como integrante de um sistema, no qual atua e com o qual se relaciona. Dito de outro 
modo, não é possível estudar a língua sem observar suas inter-relações. Ainda segundo 
o linguista, não se pode pensar em língua sem relacioná-la diretamente com linguagem. 
Para ele, a língua tem um caráter social, que lhe é primordial. 
Pensemos na questão central dos estudos de Saussure (1996): língua como sistema 
de signos. O que é o signo na visão do autor? O signo é entendido como aquele que 
“[...] une não uma palavra e uma coisa, mas um conceito e uma imagem acústica”. 
8 LETRAS
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(SAUSSURE, 1996, p. 80). Ao longo de seu estudo, o linguista chamará “conceito” de 
significado e “imagem acústica” de significante, ideias-chave em sua teoria.
O signo (significante + significado) é arbitrário, ou seja, a palavra que nomeia 
determinado elemento não é uma representação dele. 
Vejamos:
FIGURA 4 – ÁRVORE
FONTE: Disponível em: <http://us.123rf.com/450wm/varunalight/varunalight1505/
varunalight150500080/40192467-%C3%A1rvore-isolada.jpg?ver=6>. Acesso em: 10 
maio 2016.
A imagem acima é representada pela palavra ÁRVORE. Note que a junção das 
vogais e consoantes A + R + V + O + R + E não tem qualquer associação com o objeto 
que está na imagem. Não há como olhar para a palavra e ver nela qualquer elemento 
que represente o objeto. Se compararmos com outras línguas, veremos que o objeto 
da imagem é representado por “tree” (em inglês), “árbol” (em espanhol), “arbre”(em 
francês), “albero” (em italiano), ou seja, cada idioma representa este objeto graficamente 
à sua maneira. No entanto, ao ouvirmos ou lermos a palavra “árvore” geramos em 
nosso cérebro uma imagem acústica que se associa aos conhecimentos que temos e se 
atrela ao significado, fazendo-nos imediatamente identificar sobre o que se está falando/
escrevendo.
9LETRAS
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IMPORTANTE
Saussure também apresenta a distinção entre langue e parole. A primeira seria a língua e 
a segunda a fala. Esta última, a materialização da primeira.
Além disso, o signo não pode ser alterado por um único falante, ou seja, um 
único falante não pode alterar a língua. As mudanças ocorrem dentro da coletividade. 
É a sociedade usuária de determinada língua que pode, ao longo do tempo, fazer 
alterações nela.
O estudioso francês também afi rma que os signos se relacionam dentro do sistema. 
Não é possível falar ou escrever duas palavras ao mesmo tempo, falamos/escrevemos 
uma, depois outra, obedecendo a uma norma, que não a gramatical que conhecemos, 
mas uma norma estabelecida pela própria língua. Observe o seguinte enunciado:
O menino caiu
O + menino + caiu
Ao dizermos/escrevermos esta frase, mesmo que não conheçamos as noções de 
sujeito, predicado, saberemos que “O” se liga diretamente a “menino”, que se conecta 
diretamente a “caiu”. Há uma relação sintagmática entre estes signos.
Quando se pensa a língua como sistema de signos, as relações entre eles não 
são apenas sintagmáticas, uma palavra após a outra, em linearidade; mas também 
associativas. Podemos tomar uma palavra isolada e, em virtude de nossos conhecimentos 
acumulados de língua e de mundo, associar a ela um conjunto de outras palavras que 
não estabelecem uma linearidade. Note o seguinte exemplo:
10 LETRAS
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Quando você ouve ou lê a palavra “cidade”, no que pensa?
Podemos pensar em: casas, edifícios, estradas, trânsito, congestionamento, poluição, ruído, pessoas etc.
Ao associarmos uma série de palavras à palavra “cidade”, formamos um conjunto 
de representações. Saussure (1996) também afirma que há uma interdependência entre 
a relação sintagmática e a relação associativa. A primeira ajuda a construir a segunda 
e a segunda ajuda a entender, interpretar a primeira.
Resumindo, Saussure (1996) traz uma grande contribuição aos estudos 
linguísticos ao apresentar a teoria de que a língua é um sistema de signos – constituídos 
de significante e significado – em que se verificam relações sintagmáticas e associativas. 
Após essa primeira renovação dos estudos linguísticos, novas dimensões surgiram com 
o aparecimento do Gerativismo.
Ao associarmos uma série de palavras à palavra “cidade”, formamos um conjunto 
de representações. Saussure (1996) também afirma que há uma interdependência entre 
a relação sintagmática e a relação associativa. A primeira ajuda a construir a segunda 
e a segunda ajuda a entender, interpretar a primeira.
Resumindo, Saussure (1996) traz uma grande contribuição aos estudos 
linguísticos ao apresentar a teoria de que a língua é um sistema de signos – constituídos 
de significante e significado – em que se verificam relações sintagmáticas e associativas. 
Após essa primeira renovação dos estudos linguísticos, novas dimensões surgiram com 
o aparecimento do Gerativismo.
1.2.2 Teoria Gerativista
Após o surgimento dessa primeira perspectiva desenvolvida por Saussure, tida 
como estruturalista, desenvolveu-se a Teoria Gerativista, a qual teve em Noam Chomsky 
seu maior representante. A teoria de Chomsky revolucionou os estudos linguísticos ao 
afirmar que a linguagem é algo inato ao ser humano. Segundo ela, todo ser humano 
nasceu com um aparato que lhe permite fazer uso de linguagem para comunicar-se. 
Enquanto as demais teorias tinham, até então, fixado seu olhar para a língua, procurando 
entender sua organização e estruturação, a teoria gerativista dedicou-se a estudar a 
capacidade do ser humano de produzir linguagem. Com isso, surge o conceito de 
Faculdade da Linguagem.
11LETRAS
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IMPORTANTE
A faculdade da linguagem, na visão chomskyana, seria uma área em nosso cérebro 
responsável pela aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Chomsky também apresenta a dicotomia entre competência e desempenho. O 
desempenho estaria relacionado ao uso concreto da linguagem, ideia bastante associada à 
de parole de Saussure. Competência estaria relacionada aos conhecimentos inconscientes 
da língua que nos são inatos por conta da Faculdade da Linguagem.
DICA
Chomsky esteve no Brasil e durante seu período de visita deu palestras e respondeu às 
perguntas, vindas de várias regiões do país. Leia as respostas que ele deu a duas delas:
1 Existe pensamento sem palavras? Em que momento ele se traduz em linguagem?
Não há conhecimento científi co sobre essas questões. O que sabemos vem de introspecção, intuição 
e outras fontes semelhantes. A sua suposição vale tanto quanto a de qualquer outra pessoa. A 
minha própria suposição é a de que existe pensamento não verbal. A experiência comum é difícil 
de entender em outras bases. Para tomar um exemplo apenas, é comum a experiência de dizer 
alguma coisa para depois constatar que não era o que pretendíamos dizer, donde se conclui que 
devia haver algo que se pretendia dizer, mas não se disse. Às vezes é preciso tentar várias vezes 
até conseguir capturar o que se pretende; às vezes não se consegue mesmo, e temos consciência 
disso. Portanto, parece que estamos pensando alguma coisa de forma não verbal e tentando 
capturar isso em palavras.
Os conceitos em si mesmos são de tal modo obscuros que é difícil formular questões que possam 
ser seriamente investigadas. Por exemplo, o que é pensamento? Algum dia, é possível que os 
pontos venham a ser esclarecidos. Mas por ora, é quase tudo mistério.
2 Como o senhor entende a relação entre processamento de linguagem e memória?
O processamento de linguagem requer o acesso ao conhecimento da língua, mas evidentemente 
a muitas outras coisas mais. Pode envolver estratégias especiais de processamento que não são 
estritamente parte da língua (no sentido estrito de língua). E requer uma memória. Há muitos 
exemplos de falhas de processamento devidas à estrutura e limitações da memória, e permanece 
como um tópico de pesquisa descobrir o que é a memória, como é usada, se é específi ca para 
linguagem, e assim por diante.
FONTE: Disponível em: <htt p://www.scielo.br/scielo.php?script=sciartt ex
 t&pid=S0102-44501997000300003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>
 Acesso em: 10 maio 2016.
Para ler o conteúdo de suas conferências e respostas a mais perguntas acesse: <htt p://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0102-445019970003&lng=pt&nrm=isso>.
12 LETRAS
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A Teoria Gerativista, portanto, parte do pressuposto de que cada um de nós 
carrega uma espécie de gramática universal, que nos permite aprender e fazer uso da 
língua. É essa mesma gramática interna que possibilita a uma criança recém-falante 
dizer: “mamãe é bonita”, estabelecendo a ordem adequada das estruturas sem as ter 
estudado. Assim, para o teórico, a língua se organiza em torno dos sintagmas, os quais 
classifi cou em verbais e nominais. 
IMPORTANTE
Na concepção de Chomsky, sintagmas são unidades da análise sintática compostas por 
um núcleo e por outros termos que se associam a ele. Existem os sintagmas verbais e os 
sintagmas nominais.
Exemplo: 
Os meninos sapecas (sintagma nominal) leram um livro (sintagma verbal). Meninos é o núcleo do 
sintagma nominal, “os” e “sapecas” relacionam-se a ele; “leram” é o núcleo do sintagma verbal, 
“um” e “livro” se ligam a ele.Com os estudos gerativistas, novos campos na linguística foram abertos e, com 
eles, novas dimensões do estudo da língua e linguagem, como o Funcionalismo, que 
veremos a seguir.
1.2.3 Teoria Funcionalista ou Funcionalismo
A Teoria Funcionalista concebe a língua como uma atividade social. Nesse 
sentido, os estudiosos dessa vertente debruçam-se menos nos aspectos internos e 
estruturais e mais sobre os aspectos funcionais, como a língua funciona no processo 
de interação social.
Em um primeiro momento Buhler (1934 apud CASTILHO, 2009) apresentou, 
dentro desta teoria, a perspectiva de que a linguagem teria três grandes funções:
 
(i) informar, ordenando e representando a realidade circunstante, donde a 
função representativa, em que predomina o assunto; (ii) manifestar estados 
da alma, exteriorizando nosso psiquismo, donde a função emotiva, em que 
predomina o falante; (iii) infl uir no comportamento do interlocutor, atuando 
sobre ele, donde a função apelativa, em que ressalta o ouvinte. (BUHLER 1934 
apud CASTILHO, 2009, p. 21).
Roman Jakobson (1969) desmembrou as funções de Buhler em seis, estudadas até 
hoje e presentes em todos os livros didáticos de língua portuguesa: função referencial, 
função emotiva, função conativa, função fática, função metalinguística e função poética.
Por sua vez, Halliday (1970) procurou desenvolver as relações entre a necessidade 
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de comunicação e o sistema linguístico. Desse modo, ele concluiu que existem três 
macrofunções: ideacional (língua serve para informar); interpessoal (língua serve para 
relacionar-se com outros); textual (a língua estabelece o discurso). Ao voltar-se para a 
funcionalidade da língua, as teorias funcionalistas enfatizam a Pragmática (estudo dos 
atos da fala).
Cunha (2008, p. 157) afirma que a teoria funcionalista “se preocupa em estudar a 
relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos 
em que elas são usadas”, concebendo 
[...] a linguagem como instrumento de interação social, alinhando-se, assim, à 
tendência que analisa a relação entre linguagem e sociedade. Seu interesse de 
investigação linguística vai além da estrutura gramatical, buscando na situação 
comunicativa – que envolve os interlocutores, seus propósitos e o contexto 
discursivo – a motivação para os fatos da língua.
Cunha (2008) acrescenta que a língua não pode ser vista como um conhecimento 
autônomo, mas como uma adaptação às diversificadas situações comunicativas. Ela está 
a serviço das intenções comunicativas do falante.
Essa teoria também trabalha com a noção de gramaticalização, na qual se prega 
que a gramática não está pronta, acabada, em virtude das diversas relações que podem 
ser estabelecidas em um contexto comunicativo. Ou seja, de acordo com o contexto, com 
a escolha das palavras, elas podem assumir classes gramaticais diferentes (morfologia), 
funções diferentes (sintática), significados diferentes (semântica).
Observe os exemplos:
(1) Maria trouxe flores para sua prima. 
(2) Maria, para, por favor!
A palavra “para” no exemplo (1) é uma preposição, já no exemplo (2) funciona 
como verbo. Isto é, em cada contexto a palavra se enquadrou em uma classe gramatical 
diferente.
(1) A camisa tinha uma manga rasgada.
(2) Joana não gosta de manga, prefere laranja.
Note que a palavra é a mesma nos exemplos (3) e (4), mas no exemplo (3) significa 
uma parte da camisa e no exemplo (4) a fruta. Tivemos aqui uma palavra (manga) que 
teve significados diferentes em cada um dos contextos em que foi usada.
(1) O livro caiu da estante.
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(2) João pegou o livro da estante.
No exemplo (5) livro atua como sujeito, no exemplo (6) como objeto direto. Já 
neste conjunto de exemplos, a palavra (livro) exerceu funções sintáticas diferentes em 
cada contexto de uso.
Assim, podemos verificar as teorias linguísticas agrupadas em dois grandes eixos: 
o formal, que procurou entender a estrutura, a forma da língua, as questões internas 
à linguagem; o funcional, que analisa a língua dentro do contexto em que é usada e 
nas relações que estabelece nas situações comunicativas. O quadro a seguir ajuda a 
estabelecer as semelhanças e distinções dos dois grupos.
QUADRO 1 - COMPARAÇÃO ENTRE AS TEORIAS FORMALISTAS E AS TEORIAS FUNCIONALISTAS
FONTE: Albuquerque, Almeida, Ferreira. Revista Língua Portuguesa. 2015. Disponível em: <http://
linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/28/artigo210087-2.asp>. 
Acesso em: 3 abr. 2016.
As noções de língua foram se modificando à medida que as teorias ampliaram 
os estudos linguísticos. Desse modo, não podemos conceber a língua como um todo 
homogêneo, mas como algo que se constitui em partes ou níveis, como veremos na 
sequência. 
Assista ao vídeo que trata um pouco da concepção de ensino de língua e resgata 
o que você estudou até aqui.
Vamos analisar a Questão 33 do Enade (2011) que versa sobre o assunto:
15LETRAS
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1.3 NÍVEIS DE ANÁLISE DA LÍNGUA
Quando pensamos em língua, temos que nos lembrar de que há nela diversos 
aspectos a serem observados. Esses aspectos dizem respeito aos níveis que a língua 
apresenta e que precisam ser observados. Esses níveis ou planos são: fônico, morfológico, 
sintático, semântico e pragmático. Veremos, brevemente, cada um deles, a seguir.
1.3.1 Nível ou plano fônico
Valente e Alves (2009, p. 61) afi rmam que: 
O plano fônico está diretamente relacionado à consciência fonológica por ser 
esta uma habilidade do ser humano em refl etir, dentre outros aspectos, sobre 
os sons da língua. É o plano fônico, também, o primeiro nível de estruturação 
da língua, seja em termos de língua falada ou escrita.
Nesse plano estão incluídos e devem ser levados em consideração: fonema 
e grafema e suas relações; consoantes; vogais e semivogais; formação de sílabas e 
palavras; encontros consonantais; dígrafos; as aliterações e mesmo as rimas, porque 
elas constituem um aspecto fônico bastante importante na escrita poética, por exemplo.
IMPORTANTE
Ao mencionarmos os níveis de análise da língua, estamos considerando questões pertinentes 
ao ensino de nossa língua, visto ser esse o objetivo maior aqui. Por isso, destacamos o que 
envolve cada nível de análise, por mais elementar que possa parecer.
Analisar os aspectos fônicos permite também associá-los ao contexto comunicacional 
e à própria recepção do texto, uma vez que uma troca de letras pode mudar o sentido da 
informação ou os recursos fônicos podem agregar mais elementos à interpretação. Além 
disso, vale destacar que quando nos ocupamos dos aspectos fônicos da língua, estamos 
no campo da fonética e da fonologia. A fonética é entendida como aquela que estuda 
os aspectos “acústico e fi siológico dos sons reais e concretos dos atos linguísticos: sua 
produção, articulação e variantes”. (BECHARA, 2009, p. 53). Já a fonologia se dedica ao 
estudo dos fonemas, considerados estruturas distintivas da língua.
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Observe a seguinte situação:
No final do mês de abril de 2016 circulou nas redes sociais a imagem a seguir, 
supostamente a capa de um jornal de circulação regional (que se manifestou e mostrou 
que a imagem havia sido alterada na rede):
FIGURA 5 - CAPA DO DIÁRIO DE IGUAÇU
FONTE: Disponível em: <http://www.e-farsas.com/wp-content/uploads/diario.jpg>. Acesso: 
12 maio 2016.
A simples troca de uma letra “c” pelo “g”, transformando a palavra “vacina” na 
palavra “vagina”, desvirtuou totalmente o sentido da manchete e foi fonte de várias 
piadas, na internet e WhatsApp. 
1.3.2 Nível morfológico
O plano morfológico diz respeito à formaçãodas palavras, a que classe pertencem, 
que gênero e número representam. Aqui cabe analisar: flexão de substantivos, gênero, 
número e grau; flexão verbal, pessoa, tempo e modo; derivação.
A unidade de estudo deste nível é o morfema, considerado o menor signo da 
língua, porque é uma unidade mínima significativa. Existem os morfemas gramaticais 
e os morfemas lexicais. Os primeiros têm um significado que se restringe ao campo 
linguístico. As flexões de gênero, número, grau, pessoas etc. são exemplos de morfemas 
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A menina chorou
Em uma análise morfológica, temos:
gramaticais. Já o segundo diz respeito aos morfemas que extrapolam o campo linguístico, 
possuindo um significado extralinguístico. As palavras, de modo geral, são exemplos de 
morfemas lexicais, porque possuem um radical + tema que lhes conferem um significado 
no mundo comunicativo.
Observe o exemplo que segue:
A: artigo definido feminino – (a) indicativo de classe gramatical – morfema 
gramatical.
Menina: substantivo simples concreto feminino – (menin) radical + (a) vogal temática 
do nome e indicativo de feminino – morfema lexical (seu significado não está apenas 
no linguístico, mas transpõe às situações comunicativas).
Chorou: verbo no pretérito perfeito do indicativo – (chor) radical + (ou) define modo 
indicativo, tempo pretérito perfeito – morfema lexical. 
Apenas para recordarmos, quando lidamos com o nível morfológico, precisamos 
nos lembrar das chamadas classes gramaticais, nas quais as palavras de nossa língua 
são distribuídas. São elas: substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, 
consideradas classes gramaticais variáveis; e preposição, conjunção, interjeição e 
advérbio, tidas como classes gramaticais invariáveis.
Que tal verificarmos o tratamento dado ao assunto na Questão 11 do Enade (2011)?
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Vejamos um exemplo de análise morfológica:
Dias melhores se foram
Ele a conhecera em uma praça. Estava sentada num banco de madeira verde-
claro. Claro como seus olhos. Cabelos ondulados e dourados. Tinha um sorriso 
misterioso, mas ao mesmo tempo sincero. Jamais a esqueceria. Ela dava pedaços de 
pão para os passarinhos, e ele achava o máximo. Ela, sanduíche de pão integral com 
atum e suco de laranja. Ele, cachorro quente com refrigerante de groselha. Mas não 
era empecilho nenhum. Admirava tudo que ela fazia. Quantos dias de sol, quantos 
dias de chuva, quantos de vento. Foram anos. Cada dia era uma nova emoção, o 
coração batia mais forte quando a via. Lábios vermelhos carnudos. Nunca vira uma 
boca tão linda. Doía de tanto amar. Suspirava fundo.
Hoje sentado no mesmo banco ainda se lembra do dia em que ela derramou 
suco no vestido florido e ficou rubra de vergonha. Ele tentou fingir não ver, mas 
não se conteve e os dois riram por um longo tempo.
Ele está segurando com a mão trêmula um cachorro quente enquanto com 
os olhos banhados em lágrimas lança sua mão marcada pelo tempo num copo de 
suco de laranja. Lembrara daquele dia. E só se arrependera de uma coisa. Devia ter 
perguntado seu nome...
FONTE: FREITAS, Fábio. Recanto das Letras, 2010. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.
br/cronicas/2574336>. Acesso em: 2 abr. 2016.
Observando, única e exclusivamente, o nível morfológico, faríamos a seguinte 
classificação:
Hoje (advérbio de tempo) 
sentado no (contração da preposição em + artigo o) 
mesmo (pronome) 
banco (substantivo simples concreto masculino) 
ainda (advérbio) 
se (pronome reflexivo) 
lembra (verbo presente do indicativo) 
do (contração da preposição de + artigo definido o) 
dia (substantivo simples masculino) 
em (preposição) 
que (pronome relativo) 
ela (pronome pessoal do caso reto) 
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Note que, neste tipo de análise, observamos as palavras isoladamente, apenas 
classifi cando-as em conformidade com as classes gramaticais às quais pertencem. De 
acordo com Azeredo (2008, p. 127, grifos do autor): 
A unidade léxico-gramatical que chamamos de “palavra” é o fundamento da 
distinção tradicional entre morfologia – que analisa e explica a “transparência” 
(relação motivada entre forma e sentido) das palavras; e a sintaxe, que ana-
lisa e explica a “transparência” (relação motivada entre forma e sentido) das 
orações. A palavra é o limite entre esses dois domínios: a morfologia vai até 
ela, a sintaxe começa nela e termina na oração.
Em virtude da interdependência que pode existir entre esses dois níveis, 
convencionou-se chamar de morfossintaxe.
(verbo de 1ª conjugação, pretérito perfeito do indicativo) 
suco (substantivo simples masculino)
 no (contração da proposição em + artigo defi nido o) 
vestido (substantivo simples masculino) 
fl orido (adjetivo masculino) 
e (conjunção aditiva) 
fi cou (verbo da 1ª conjugação, pretérito perfeito do indicativo) 
rubra (adjetivo feminino) 
de (preposição) 
vergonha (substantivo simples feminino).
DICA
Assista ao vídeo do professor Wallas Cabral, da USP, que faz uma boa introdução sobre o 
nível morfológico. Disponível em: <htt ps://www.youtube.com/watch?v=Ght_GZZmo_U>.
1.3.3 Nível sintático
O nível sintático diz respeito à função que os termos (palavras e expressões) 
assumem em uma oração. Ele é o responsável pela organização das frases e discursos. 
Quando observamos este nível, devemos considerar a relação entre determinantes, 
substantivos e adjetivos; a organização do período simples; a organização do período 
composto; a organização do parágrafo; a coesão gramatical (conectores, referências, 
elipses).
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O mapa conceitual, a seguir, permite revisarmos os principais elementos da 
análise sintática:
Para compreendermos melhor o assunto, que tal assistirmos ao vídeo relativo à 
Questão 20 do Enade (2011)?
FI
G
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R
A
 6
 –
 M
A
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01
6.
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Retomemos o período que analisamos anteriormente, no qual consideramos 
apenas os aspectos morfológicos. Vamos analisá-lo, agora, sob o ponto de vista sintático.
Hoje sentado no mesmo banco ainda se lembra do dia em que ela derramou suco 
no vestido florido e ficou rubra de vergonha.
Hoje (adjunto adverbial de tempo)
sentado (predicativo do sujeito) 
no mesmo banco (adjunto adverbial de lugar)
Ø (sujeito oculto “ele”)
ainda (adjunto adverbial de tempo)
se lembra (verbo transitivo indireto) + sujeito oculto ou desinencial (ele)
do dia em que ela derramou (oração subordinada substantiva objetiva indireta)
derramou (verbo transitivo direto) 
suco (objeto direto)
no vestido florido (adjunto adverbial de lugar)
e (conjunção aditiva)
ficou (verbo de ligação) + sujeito oculto ou desinencial (ela)
rubra de vergonha (predicado nominal)
rubra (predicativo do sujeito)
Note que, no nível sintático, não fizemos uma análise dos termos isoladamente, 
mas investigamos a função que cada elemento exerce no período. Além dele, há também 
o nível semântico.
1.3.4 Nível semântico
O nível semântico diz respeito aos sentidos atribuídos às organizações textuais. 
Quando um texto é produzido, espera-se que haja uma harmonia entre as partes que 
permitam a atribuição de significados, de sentidos, ao todo. Dessa forma, quando se 
analisa este nível, leva-se em consideração o sentido e a adequação dos vocabulários; 
Coesãolexical; Coerência.
A coesão e a coerência foram tema da Questão 15 do Enade (2011). Assista ao 
vídeo para melhor compreendê-las. 
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No plano semântico, destacam-se três propriedades: sinonímia (palavras que 
apresentam mesma significação); antonímia (palavras que apresentam significações 
distintas ou opostas); polissemia (palavras que possuem múltiplos significados, ou seja, 
podem variar de significado de acordo com o contexto comunicativo). 
Antes de prosseguirmos, vejamos o tratamento da polissemia na Questão 13 do 
Enade (2014).
Observe os exemplos:
A garota invadiu a sala do diretor.
A jovem invadiu a sala do diretor.
Note que garota e jovem funcionam como sinônimos.
Agora:
A jovem invadiu a sala do diretor.
A idosa invadiu a sala do diretor.
Perceba que jovem e idosa são opostos, funcionando como antonímias.
Ainda:
O menino me entregou a bola.
O menino não deu bola ao que eu estava dizendo.
Veja que, nesse caso, bola assume significados diferentes. Na primeira oração, 
bola é o objeto e na segunda, tem o sentido de importância. Analisemos a questão 
14 do Enade 2014 para entender como algumas palavras podem assumir diferentes 
significados, conforme o contexto em que são utilizadas.
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Ainda em relação ao significado, veja como algumas construções na língua 
portuguesa necessitam de atenção. A questão 9 do ENADE (2011) ilustra bem como as 
motivações semânticas interferem na criação de novas palavras.
Há, ainda, a possibilidade da ambiguidade, quando uma palavra ou grupo de 
palavras possuírem mais de um significado, podendo ser compreendida de diversas 
formas pelo receptor da informação.
Observe:
O menino viu o incêndio do prédio
Neste exemplo, tanto podemos entender que o menino viu um prédio incendiar-
se, quanto podemos interpretar que o menino estava em um prédio de onde viu o 
incêndio. 
Agora, vejamos o tratamento da ambiguidade na questão 19, retirada do Enade 
(2014).
Por fim, há um último nível a ser considerado, o pragmático.
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1.3.4 Nível pragmático
O plano pragmático refere-se ao uso da linguagem nas situações comunicativas. 
Nesse caso, observa-se: quem fala/escreve; para quem; sobre o quê; quando; como; onde. 
A pragmática dedica-se a estudar o significado que as palavras adquirem no contexto 
comunicacional em que são proferidas, levando em consideração os diversos aspectos 
da cadeia comunicativa (enunciador, enunciatário, mensagem, intenção, contexto etc.). 
Em outras palavras:
Isso equivale a ir além do significado das palavras e da estrutura sintática e 
do valor de verdades das sentenças para incluir os elementos contextuais que 
fazem com que o significado, em uma acepção pragmática, dê conta de mais 
do que explicitamente dito na interação linguística e torne possível a análise 
dos atos realizados por meio da linguagem. (MARCONDES, 2005, p. 27).
Observe a seguinte situação:
Um grupo de pessoas entra em uma sala e uma delas diz:
- Como está escuro aqui!
Alguém se dirige à parede em que está o interruptor e 
acende a luz.
Note que ficou implícito no comentário o desejo de que a luz fosse acesa. Todos 
entenderiam da mesma forma. “Como está escuro aqui!” permite que façamos uma 
análise pragmática, pois ao considerarmos o contexto comunicacional, inferimos a 
necessidade de trazer luz ao local escuro.
Saiba mais sobre os níveis de língua. Assista ao vídeo que trata do assunto na 
questão 25 Enade (2014). 
Além dos níveis, nossa língua também apresenta variações as quais demonstram 
sua dinamicidade e adaptabilidade. Vamos estudá-las!
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1.4 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Durante muito tempo, quando se pensou na língua, de modo específico, na 
língua portuguesa, utilizou-se uma visão dicotômica de certo e errado. A norma culta, 
pregada nos manuais e gramáticas, era a forma correta de usar a língua e qualquer outra 
possibilidade era vista como erro. Nas escolas, estudava-se apenas a norma culta, num 
esforço de aplicá-la tanto na fala quanto na escrita.
Os estudos linguísticos mudaram a forma de conceber a língua e, ao fazer isso, 
demonstraram que as situações comunicativas exigem que o falante/escrevente adapte 
a língua para aqueles contextos específicos. Gostamos muito da metáfora do guarda-
roupa: procuramos ter uma roupa para cada ocasião. Se vamos à praia, colocamos 
biquíni ou calção. Se vamos a uma formatura, um vestido de festa ou um terno. Não 
saímos de casa em um dia de sol com destino à praia, vestidos como quem vai a uma 
formatura. Igualmente, não vamos a uma formatura vestidos apenas de biquíni ou 
calção. Com a língua, a perspectiva é a mesma: escolhemos um “tipo” de linguagem 
para cada ocasião. Se estamos em casa, reunidos à mesa do café, conversando com os 
familiares ou entre amigos, e queremos pedir a manteiga, certamente vamos dizer algo 
como: “Passa a manteiga, aí” ou “A manteiga...”. Se estivermos em um café de negócios, 
que exige formalidade, diremos algo como “Pode, por gentileza, passar a manteiga” 
ou “Por favor, passe-me a manteiga”. Se invertemos as linguagens, estaremos usando 
o biquíni na formatura, o que não é adequado.
Desse modo, nossa língua apresenta uma diversidade de variáveis, as quais 
denominamos de variantes linguísticas, utilizadas em nosso cotidiano, permitindo que 
adequemos nossa linguagem às diferentes situações comunicativas. Como a diversidade 
de variantes é grande, destacamos aquelas mais comuns ou mais recorrentes.
Antes de conhecê-las, vamos analisar uma questão 9 do Enade (2014) sobre o 
assunto:
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ATENÇÃO
O ramo da linguística que se dedica ao estudo das variantes é a sociolinguística. 
Variantes diafásicas: variantes que ocorrem em virtude do contexto comunicativo. 
Nesse caso específi co, podemos falar de nível formal e nível informal de linguagem.
Veja a situação a seguir:
FIGURA 7 - NÍVEIS DE LINGUAGEM FORMAL E INFORMAL
FONTE: Disponível em: <htt ps://redacaoressucat.wordpress.com/2010/02/04/situacao-
formal-e-informal/>. Acesso em: 2 abr. 2016.
No primeiro quadrinho, temos o uso de uma linguagem formal e, no último, uma 
linguagem bem informal, cada uma revelando o contexto em que se insere. A primeira 
é o início de uma conversa entre dois estranhos (barman e cliente) e a segunda, entre 
pai e fi lho, duas pessoas que têm uma relação de proximidade.
Em relação aos usos da língua, especialmente aqueles considerados inadequados, 
confi ra este vídeo acerca da Questão 19 do Enade (2011).
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Variante histórica: a língua, assim como a sociedade, vai sofrendo modificações 
ao longo do tempo, adequando-se às exigências sociais. As mudanças de grafia das 
palavras, as abreviações etc. são exemplos dessas modificações. Palavras escritas com ph 
que agora são escritas com f, você (hoje nas redes sociais e comunicadores instantâneos 
já é vc) que é uma redução de Vossa Mercê etc.
Para ilustrar, observe:
FIGURA 8 - VARIANTE HISTÓRICA
FONTE: Disponível em: <http://linguaarteira.blogspot.com.br/2011/08/tirinha-evolucao-da-lingua-
portuguesa_15.html>. Acesso em: 2 abr. 2016.
Note que a tirinha apresenta uma mesma situação comunicativa em épocas 
distintas, evidenciando as mudanças que a linguagem sofre no decorrer do tempo.
Variante diatópica ou regional: cada região apresenta uma forma de falar 
diferente (os sotaques) e vocabulários próprios. Lembre-se de como falam os gaúchos, 
os baianos, os cariocas, os catarinenses do litoral etc. Ou, ainda, que há regiõesem que 
falamos aipim, em outras, mandioca, em outras, macaxeira.
Que tal assistirmos a um vídeo sobre a questão 10 do Enade (2014), que abarca 
essa temática?
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DICA
Para conhecer de forma bem-humorada um pouco das variantes regionais, assista a um 
fragmento da entrevista de Nelson Freitas ao programa do Jô Soares. Disponível em: <htt ps://
www.youtube.com/watch?v=VEr3tsI08Ns>.
Variações diatrásticas: variantes ocorridas em virtude dos grupos sociais. 
Enquadram-se neste grupo os jargões técnicos, as gírias, a linguagem popular (caipira) 
e os falares típicos de grupos, tais como os surfi stas, os policiais, os jornalistas, os punks, 
os roqueiros etc.
FIGURA 9 - LINGUAGEM POPULAR
FONTE: Disponível em: <htt p://letrasmarques2013.blogspot.com.br/2013/08/regionalismos.html>. 
Acesso em: 2 abr. 2016.
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A tirinha ilustra a variante conhecida como popular ou “caipira”. Veja, ainda, 
outro exemplo:
FIGURA 10 - LINGUAGEM DE GRUPO SOCIAL - INTERNET 
FONTE: Disponível em: <http://letrasmarques2013.blogspot.com.br/2013/08/regionalismos.
html>. Acesso em: 2 abr. 2016.
Note que na tirinha de GRUMP temos a linguagem típica dos usuários da internet 
e seus comunicadores instantâneos, caracterizando um grupo com uma variante que lhe 
é própria.
Vale destacar que nenhuma das variantes apresentadas é melhor ou pior que a outra. 
Todas são válidas e utilizadas nas situações comunicativas que as exigem. Lembre-se do 
que mencionamos no início deste item: nossa preocupação deve centrar-se em adequar a 
linguagem aos diversos contextos comunicativos, estabelecendo as inter-relações necessárias 
para as trocas de sentido.
Você pode compreender melhor o assunto assistindo ao vídeo que trata das variedades 
da língua. O assunto foi contemplado na questão 12, na prova do ENADE em 2011.
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As variantes linguísticas são traços que ajudam a caracterizar nossa língua, mas 
não são os únicos. Vamos aproveitar, a seguir, para estudar um pouco sobre quais são 
os traços distintivos de língua portuguesa falada/escrita no Brasil.
1.5 ASPECTOS DISTINTIVOS, LINGUÍSTICOS E EXTRALINGUÍSTICOS, DO 
PORTUGUÊS DO BRASIL
Ao estudarmos, no primeiro item deste capítulo, a formação da língua portuguesa, 
vimos que ela é hoje língua oficial em países da América, Europa, Ásia e África. Cada 
um desses países possui uma trajetória histórico-social-cultural própria que lhe atribui 
características específicas. Nada mais natural que essas “marcas” também se evidenciem 
no português que cada um deles fala/escreve, afinal, a língua portuguesa foi influenciada 
pelos falares locais, pelos processos miscigenatórios etc.
Desse modo, podemos verificar que há diferenças entre o português falado 
e escrito no Brasil e o português falado e escrito em Portugal. Tais distinções são 
perceptíveis principalmente nos níveis semântico, fonético e sintático.
No que se refere à semântica, há uma gama de palavras que são utilizadas no 
português do Brasil e não no de Portugal e vice-versa. Outras têm significado diferente 
em cada uma delas. 
Assista ao vídeo da Questão 18 do ENADE de 2014, que aborda as particularidades 
do português brasileiro que o distinguem do português europeu.
O quadro a seguir ilustra as diferenças de vocabulário entre a língua destes dois 
países:
31LETRAS
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QUADRO 2 – DIFERENÇAS DE VOCABULÁRIO ENTRE BRASIL 
E PORTUGAL
Brasil Portugal
Apontador Afia-lápis
Aposentadoria
R e f o r m a /
pensão
Bunda Rabo
Camiseta Camisola
Esparadrapo Adesivo
Parada Paragem
Privada Retrete
Sorvete Gelado
Terno Fato
Trem Comboio
FONTE: Disponível em: <https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/
consultorio/perguntas/20-palavras-semanticamente-
diferentes-em-portugal-e-no-brasil/14050>. Acesso em: 10 
abr. 2016.
Já no aspecto fonológico, é possível perceber a diferença na pronúncia. No Brasil, 
o português adquire um ritmo mais “lento” no qual as vogais, tanto tônicas quanto 
átonas, são claramente pronunciadas. Em Portugal, é comum a eliminação das vogais 
átonas, pronunciando-se apenas as tônicas. Por exemplo: 
Brasil Portugal
Pedaço p’daço
Esperança Esp’rança
Guimarães (2005, p. 26) apresenta a questão da distinção das vogais de forma 
mais aprofundada:
a) Na posição tônica, o português do Brasil apresenta 7 vogais: /a/ (entrada); 
/é/ (deve), /ê/ (medo), /i/ (viga); /ó/ (avó), /ô/ (avô), /u/ (urubu). Note-se que a 
vogal /a/ é pronunciada, com timbre aberto, com a língua em repouso embaixo, 
na boca; que as vogais /é/, /ê/, /i/ são anteriores, elas são pronunciadas com um 
movimento da língua para frente; e as vogais /ó/, /ô/, /u/ são posteriores, pro-
nunciadas com um movimento da língua para trás. Em Portugal (8), além dessas 
vogais, há também um /ä/, que não é aberto como o /a/. Este /ä/ é pronunciado 
com uma certa elevação da língua, diferentemente do /a/ aberto pronunciado 
com língua em repouso, embaixo na boca. Assim é que, na língua falada, se 
distingue /falämos/, presente do indicativo, de /falamos/ passado perfeito (9).
b) Na posição átona final, no português do Brasil, de modo geral, há três vo-
gais /a/ (casa), /i/ (barbante, pronunciado [barbãti]), /u/ (menino, pronunciado 
[meninu] e mesmo [mininu]). Em Portugal são também três vogais, /ä/, /ë/ e 
/u/. Assim, diferentemente do Brasil, /ä/ é pronunciado com a língua mais alta, 
com timbre mais fechado, /ë/ é pronunciado fechado, mas numa posição mais 
posterior do que o /ê/ do Brasil. O /u/ tem as mesmas características fonéticas 
do /u/ brasileiro.
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c) Na posição pretônica, há no português do Brasil, em geral, 5 vogais, /a/, /ê/, 
/i/, /ô/, /u/, enquanto que em Portugal mantêm-se as 8 vogais da posição tônica, 
com a diferença de que o /ê/ passa a /ë/, numa pronúncia mais central: /a/, /ä/; 
/é/, /ë/, /i/; /ó/, /ô/, e /u/.
No que se refere à sintaxe (falada), podemos observar que no português do Brasil 
é comum:
a) O uso do pronome oblíquo em início de frases. “Me telefone, ok?”, “Te aviso 
quando chegar”. 
b) O uso de gerúndio nas locuções verbais, ao invés de preposição e infi nitivo. 
“Estou fazendo o café” (Brasil), “Estou a fazer o café” (Portugal). 
c) O emprego da preposição “em” com o verbo ir: “vou na padaria” (Brasil), 
“vou à padaria” (Portugal).
Em relação ao paradigma pronominal brasileiro, veja este vídeo sobre a Questão 
20 do Enade (2014).
No entanto, Possenti (2013), em artigo para a Revista Língua Portuguesa, afi rma 
que há mais elementos a serem observados:
Mas há mais. Mesmo se fi carmos exclusivamente na questão da colocação dos 
pronomes, pode-se ver que não é tão simples. 
Charlott e Galves, sintaticista da Unicamp, observa que há mais coisas além do 
mero fato de nossa ênclise e da próclise deles (ver "A gramática do português 
brasileiro", in: Línguas e instrumentos linguísticos (1). Campinas: Pontes). Há 
detalhes, como o de que no português do Brasil o pronome está sempre junto 
ao verbo principal, enquanto que no de Portugal esses elementos podem estar 
separados (compare "não tinha me lembrado" a "não me tinha lembrado").
DICA
Para saber mais sobre as diferenças entre o Português do Brasil e o Português de Portugal, 
leia o artigo de Eduardo Guimarães, “A língua portuguesa no Brasil”, disponível em:<htt p://
cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200015&script=sci_artt ext>.
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Mais uma vez, vamos ilustrar o que acabamos de estudar com a questão 10 do 
Enade 2011:
1.6 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ORALE ESCRITA
Existem várias correntes teóricas que procuram explicar os mecanismos de 
aquisição da linguagem oral e da escrita. Centraremos nossos estudos em quatro delas: 
a corrente inatista, a corrente comportamentalista, a corrente cognitivista e a corrente 
humanista.
1.6.1 Teoria inatista
Essa linha de estudo da aprendizagem defende que já trazemos as condições 
biopsicológicas necessárias para a aquisição da linguagem em nossa constituição. Dito 
de outro modo, adquirir a linguagem é algo inato no ser humano porque ele possui 
um sistema fonador: pulmões, laringe, faringe, cavidade bucal e fossas nasais e um 
sistema cerebral preparados para este processo. À medida que estes sistemas maturam, 
a aquisição da linguagem ocorre.
Pela teoria inatista, somos “programados” para aprender a linguagem. Já 
nascemos com esta condição. Ela se desenvolve conosco. Você, certamente, se lembra de 
Chomsky, estudioso que se pautava na perspectiva inatista em seus estudos linguísticos. 
Segundo ele, já trazemos a linguagem conosco, temos internalizada uma gramática (que 
ele chamou de Gramática Universal) a qual é acionada sempre que nos comunicamos. 
Por isso, as crianças, mesmo sem serem alfabetizadas, já conseguem fazer construções 
sintáticas e semânticas complexas.
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1.6.2 Teoria comportamentalista ou ambientalista ou behaviorista
Se a primeira vertente defende a ideia de que já nascemos com as condições 
necessárias para desenvolver a linguagem, tendo que esperar apenas a maturação 
física e intelectual, a teoria comportamentalista segue em direção contrária. Segundo 
esta vertente, são os estímulos ambientais que condicionam a aquisição da linguagem. 
Sob este viés, o ser humano recebe estímulos que, ao serem insistentemente 
repetidos, promovem a aquisição da linguagem oral ou escrita. Desse modo, a repetição 
de letras, palavras e estruturas gramaticais seria elemento-chave em um processo de 
ensino e aprendizagem da língua. Caberia aos pais, no trato com as crianças nos primeiros 
anos, e aos professores, estabelecerem os comportamentos a serem condicionados e os 
estímulos que reforçariam tais comportamentos. Nesse sentido, a criança aprenderia a 
falar e a escrever porque receberia estímulos que condicionariam sua aprendizagem.
Dito de outro modo, na teoria comportamentalista, cujo maior representante é 
John Broadus Watson, o comportamento humano é apreendido por uma relação de 
estímulo-resposta que se estabelece no meio em que o indivíduo se insere. Dá ênfase ao 
reforço porque ele é o responsável pela assimilação do condicionamento. Seus principais 
pressupostos educacionais são a aprendizagem que acontece por meio da repetição e os 
reforços positivos e negativos infl uenciam a formação dos hábitos desejados. Para uma 
aprendizagem adequada, as atividades devem ser graduadas, aumentando a intensidade 
ou complexidade à medida que são assimiladas.
DICA
Para saber um pouco mais sobre essa vertente, assista ao bem-humorado vídeo. 
Disponível em: <htt ps://www.youtube.com/watch?v=-wAceVuAbxY&nohtml5=False>.
IMPORTANTE
A teoria comportamentalista se baseia nos estudos de Pavlov e Skinner, por isso, se quiser 
saber um pouco mais sobre estes estudiosos, acesse o link disponível em: <htt p://www.
psicologiamsn.com/2013/03/behaviorismo-de-watson-e-skinner.html>.
1.6.3 Teoria cognitivista
O cognitivismo, como o próprio nome sugere, enfatiza a cognição, o ato de 
conhecer, como o ser humano conhece o mundo. Sua preocupação centra-se em como 
o homem desenvolve seu conhecimento sobre o mundo que o rodeia. Essa vertente 
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1.6.3.1 Construtivismo
Buscando estabelecer um equilíbrio entre o inato e o estímulo interno, a teoria 
construtivista trabalha com a perspectiva de que a aquisição da linguagem ocorre nas 
relações do homem com seu meio. Sob este viés, o homem recebe estímulos do ambiente 
e, agindo sobre eles, constrói e organiza seu próprio conhecimento.
Jean Piaget é o estudioso mais reconhecido dessa vertente e seus estudos 
apresentaram que o conhecimento se constrói em um processo de assimilação, 
acomodação e interação. A assimilação é a forma como o indivíduo depreenderá o objeto 
e o encaixará nos seus conhecimentos prévios. A acomodação é a modificação, o ajuste 
dos conhecimentos prévios para melhor compreender o objeto de sua aprendizagem. 
Esses dois elementos constituem a interação, processo no qual o ser humano está em 
constante construção de conhecimento.
desmembrou-se em diversas ramificações, das quais destacamos o Construtivismo e 
Interacionismo.
1.6.3.2 Interacionismo
Outra vertente bastante conhecida do Cognitivismo, cujo representante é 
Vygotsky, é o chamado Interacionismo. Embora se aproxime bastante da perspectiva 
construtivista, esta corrente baseia-se no conceito de mediação. Segundo ela, a 
aprendizagem ocorre nas interações entre os seres humanos e entre os seres humanos 
e o contexto em que se inserem. Mas para que haja essa construção, há uma série de 
sistemas simbólicos que fazem a mediação entre os novos saberes e os que já temos. 
Não descarta a questão de que temos um aparato fonológico inato que nos habilita para 
a linguagem, mas defende que só ele não é suficiente. As interações são as verdadeiras 
responsáveis pelo aprendizado.
Somos seres sociais e, por conta disso, interagimos com nosso meio social, 
cultural, econômico, histórico, geográfico. Essas interações promovem a construção 
dos conhecimentos linguísticos que promovem a aquisição da linguagem oral e escrita. 
Assim, o entorno (com todos os seus aspectos) é elemento importante na construção 
do conhecimento.
Para entender mais sobre a aquisição da linguagem, assista a este pequeno vídeo, 
acerca da Questão 34 do ENADE (2011).
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1.6.4 Teoria humanista
A abordagem humanista enfatiza que a base da aprendizagem está na 
autorrealização do aprendiz. No Brasil, essa perspectiva ficou bastante conhecida pelo 
termo Escola Nova ou escolanovista. Ela destaca que, para que ocorra a aprendizagem, 
deve haver uma associação do cognitivo, do motor e do afetivo, buscando, desse modo, 
trabalhar o indivíduo de forma global.
O maior representante desta corrente, o norte-americano Carl Rogers, afirmou 
em seus estudos que os aprendizes estão motivados para a aprendizagem quando 
identificam coerência entre os conteúdos e suas expectativas. Assim, a escola deixa 
de ser um espaço de imposição e amedrontador, para ser espaço estimulante de 
autoaprendizagem. Outra questão apontada por Rogers é a de que o aprendiz deve ser 
confrontado com situações experimentais, para que possa aprender, na prática, sendo 
agente de sua formação.
O quadro a seguir estabelece uma comparação entre as três principais teorias, 
facilitando a compreensão.
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QUADRO 3 – COMPARAÇÃO ENTRE BEHAVIORISMO, COGNITIVISMO E HUMANISMO
FONTE: Disponível em: <http://wwwsementesdoamanha11.blogspot.com.br/2012/01/teorias-da-
aprendizagem.html>. Acesso em: 9 abr. 2016.
As teorias de aprendizagem mais atuais enfatizam a perspectiva de que o processo 
de construção de conhecimento ocorre pelas interações entre sujeitos e sujeitos e o meio. 
No campo dos estudos sobre a linguagem, sabemos que as interações entre os sujeitos 
ocorrem sob a forma de textos, os quais concretizam os discursos. Assim, convém 
estudarmos um pouco sobre os gêneros discursivos, já que são as formas textuais de 
interação pela linguagem.
1.7 GÊNEROS DISCURSIVOS
Como já é de nosso conhecimento, a comunicação entre os seres humanos ocorre 
por meio de textos. Neles é possível identificar uma estrutura e uma função. Assim,existem os tipos de textos (classificados levando em consideração questões linguísticas 
e estruturais) e os gêneros textuais ou discursivos (estabelecidos em virtude do contexto 
em que são produzidos, do público a que se destinam, da finalidade com que são 
produzidos, do meio por onde circulam, etc.).
Os tipos textuais constituem-se como conjuntos de enunciados organizados 
em uma estrutura predefinida, identificável por caraterísticas preponderantes a cada 
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tipo. Os mais usuais tipos de texto ou tipos de composição são: narração, exposição, 
argumentação, descrição e injunção.
a) Narração: sua principal característica enfatiza o “ato de contar” algo, uma história, 
real ou ficcional, situada em um tempo e espaço específicos, com personagens e aquele 
que se responsabiliza por “contar a história”, o narrador. Gêneros como o romance, 
o conto, as fábulas, as crônicas, as biografias, etc. valem-se deste tipo de composição.
Cuidado com o que se deseja
[...]
Um belo fim de tarde, logo depois da escola, Pedro estava caminhando pela 
rua quando se deparou com uma garrafa de formato anormal em cima do meio-fio; 
abaixou-se, pegou-a e, como era afobado, em vez de admirar o peculiar acabamento 
da garrafa, começou a sacudi-la para ver se havia algo dentro. Porque não ouviu 
nenhum som, concluiu que deveria estar vazia. Quando estava prestes a jogá-la fora, 
percebeu ranhuras no casco, que era feito de vidro fosco, e levantou a garrafa contra 
a luz. Forçando a vista, percebeu alguns sinais que aos poucos foram se convertendo 
em letras. Pôde ler então a mensagem: “Abra-me!”
[...]
FONTE: Disponível em: <http://www.letraseeartes.com.br/2011/01/tres-bons-exemplos-de-textos-
narrativos.html>. Acesso em: 8 abr. 2016
Facilmente reconhecemos no fragmento um exemplo de narração. Há uma espécie 
de entidade que conta a história (narrador), situando-a em um tempo (fim de tarde), 
um espaço (rua), com a interação de personagens (Pedro).
b) Exposição: caracteriza-se por apresentar informações sobre um objeto ou uma 
situação, valendo-se de uma linguagem clara e objetiva. Os gêneros que mais utilizam 
esse tipo de composição são: reportagem, resumo, fichamento, artigos científicos, 
seminários, entre outros.
O telefone celular
A história do celular é recente, mas remonta ao passado – e às telas de cinema. 
A mãe do telefone móvel é a austríaca Hedwig Kiesler (mais conhecida pelo nome 
artístico Hedy Lamaar), uma atriz de Hollywood que estrelou o clássico Sansão e 
Dalila (1949).
Hedy tinha tudo para virar celebridade, mas pela inteligência. Ela foi casada 
com um austríaco nazista fabricante de armas. O que sobrou de uma relação 
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FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/texto-expositivo.htm>. 
Acesso em: 8 abr. 2016.
desgastante foi o interesse pela tecnologia.
Já nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, ela soube que 
alguns torpedos teleguiados da Marinha haviam sido interceptados por inimigos. Ela 
ficou intrigada com isso, e teve a ideia: um sistema no qual duas pessoas podiam se 
comunicar mudando o canal, para que a conversa não fosse interrompida. Era a base 
dos celulares, patenteada em 1940.
O texto apresenta informações sobre determinado objeto, nesse caso, o telefone 
móvel. Ele o faz de forma clara, objetiva. Expõe os dados (o quê? Telefone móvel; quando? 
2ª Guerra Mundial? Como? Sistema em que duas pessoas pudessem conversar sem 
que fossem interrompidas). Note que o autor não emitiu sua opinião, ou apresentou 
argumentos para convencer o leitor de que o telefone móvel é benéfico ou maléfico, 
ele apenas trouxe para seu público os dados que dizem respeito ao objeto em questão.
c) Argumentação: também conhecida como texto dissertativo-argumentativo. 
Caracteriza-se como um texto que apresenta a opinião do escritor, o qual, valendo-se 
de estratégias de argumentação, tenta provar seu ponto de vista e convencer o leitor 
com seus argumentos. Esse tipo de composição é comum em gêneros como o editorial, 
carta do leitor, ensaio, dissertação-argumentativa, artigo de opinião etc.
Não é de hoje que a sociedade brasileira sofre com os tormentos ocasionados 
pela disseminação da violência. Esse fato estarrecedor gera debates e mais debates, 
na tentativa de sanar, ou ao menos coibir, os sérios impactos sociais que as ações 
violentas representam para a coletividade. Para esse fim, seria a redução da 
maioridade penal um componente de primeira grandeza?
Constata-se que o envolvimento de jovens infratores em graves delitos pode 
não ser uma exclusividade dos tempos modernos; no entanto, é inegável o aumento 
de casos envolvendo crianças e adolescentes em situações deploráveis, como furtos, 
roubos e, em muitos contextos, homicídios.
Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o declínio de dois 
anos nas contas da maioridade penal. Para os mais inconformados com a realidade, 
aqueles tomados pelo afã do “justiceiro implacável”, não parecem existir outras 
saídas. Todavia, nem sempre o que se revela aparentemente óbvio o é. Há fatores 
envolvidos nas estatísticas da criminalidade covardemente camuflados por alguns 
setores governamentais, bem como por áreas específicas da sociedade civil.
Se reduzir a idade mínima penal tivesse consequências positivas imediatas 
para a diminuição dos índices criminais, essa certamente já seria uma medida 
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adotada por todas as nações. Fatores bem mais importantes, como priorização efetiva 
dos investimentos em educação e cultura, bem como distribuição de emprego e renda, 
inserindo o jovem no universo acadêmico ou técnico, indubitavelmente aplacariam 
com mais rapidez e eficácia os deploráveis números.
A participação de menores infratores em crimes hediondos não deve ser 
ignorada, é inegável; diminuir a idade base para a criminalização de seus atos pode 
ser uma saída, mas necessita, ainda, de discussões e argumentos mais convincentes. De 
concreto, fica a certeza de que só um programa capaz de incluir crianças, adolescentes 
e jovens nos interesses mais prioritários do país terá a força suficiente para contornar 
quadro tão desfavorável.
FONTE: SAMPAIO, Eduardo. Disponível em: <http://www.normaculta.com.br/texto-dissertativo-
argumentativo/>. Acesso em: 8 abr. 2016.
O autor ao longo do texto vai apresentando argumentos que subsidiam seu ponto 
de vista e tentam convencer o leitor a aceitá-los. No primeiro e no segundo parágrafos 
expõe o tema (maioridade penal) e apresenta dados que, inicialmente, parecem apoiar 
a diminuição da maioridade (Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o 
declínio de dois anos nas contas da maioridade penal). No entanto, no final do terceiro 
parágrafo, começa a transparecer o ponto de vista que defenderá (Todavia, nem sempre 
o que se revela aparentemente óbvio o é) e inicia sua argumentação, apresentando os 
elementos que fortalecem a tese de que diminuir a maioridade penal não será a solução 
para a violência. Para isso ele argumenta que: as estatísticas são camufladas e não revelam 
o verdadeiro índice de jovens infratores; se a redução fosse uma boa alternativa já teria 
sido adotada em outros países; investimentos em educação, cultura e redistribuição de 
empregos e renda seriam mais eficazes no combate à violência juvenil. No parágrafo 
final, volta a afirmar que a diminuição pode ser uma saída, desde que devidamente 
discutida e refletida, mas reforça que o melhor é fazer reformas educacionais, sociais 
e econômicas.
d) Descrição: caracteriza-se por descrever o objeto ou a situação de forma objetiva ou 
subjetiva, dependendo do propósito. É comum encontrar este tipo de composição em 
gêneroscomo ata, relatório, relato de viagem, laudo etc.
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Campo dos sonhos – fragmento
[...]
O caminho que leva ao portão de entrada da instituição técnica já é uma 
doce recepção da natureza aos futuros sargentos brasileiros. Uma estrada bem-
pavimentada, cercada de plantas de vários tipos que se alternam com coqueiros e 
pequenas palmeiras, sentinelas de nossas aspirações. Uma belíssima escultura de um 
avião de caça, imponentemente montado sobre um pedestal, defende a guarita na qual 
se encontram os soldados. Como estamos num vale, ao redor e ao longe, destacam-
se verdes encostas, elevando-se acima de todas as outras a Serra da Mantiqueira, 
essa gigantesca e antiga muralha natural. Ao longo de toda a alameda que conduz 
aos galpões, alojamentos e prédios que compõem a escola, enfileiram-se painéis de 
azulejo, nos quais reproduções de pinturas conhecidas, paisagens e cenas históricas 
remetem ao universo aeronáutico de nosso país. [...]
FONTE: Disponível em: <http://www.letraseeartes.com.br/search/label/Descri%C3%A7%C3%A3o>. 
Acesso em: 8 abr. 2016.
O fragmento descreve com detalhes a paisagem que cerca a instituição objeto do 
texto. Esse é o relato de uma visita a uma escola da Aeronáutica. O autor vai mostrando 
detalhes de como é o lugar, formando uma imagem que vai se consolidando por 
meio das palavras: “caminho leva ao portão de entrada da instituição técnica; estrada 
bem-pavimentada, cercada de plantas de vários tipos que se alternam com coqueiros 
e pequenas palmeiras, escultura de um avião de caça, próxima à guarita na qual se 
encontram os soldados; destacam-se verdes encostas, elevando-se acima de todas as 
outras a Serra da Mantiqueira; ao longo de toda a alameda que conduz aos galpões, 
alojamentos e prédios que compõem a escola, enfileiram-se painéis de azulejo, nos quais 
reproduções de pinturas conhecidas, paisagens e cenas históricas”. Essa, no entanto, 
é uma descrição de caráter subjetivo, porque há nela uma série de impressões que o 
cenário causa no autor. Ao longo do fragmento, lemos expressões como “doce recepção”, 
“sentinelas de nossas aspirações”, “belíssima escultura”, “gigantesca e antiga”, todas 
indicativos do estado de contemplação e entusiasmo do escritor.
Compare a descrição do exemplo acima com a que mostramos a seguir:
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Sabe-se que, ao mudar o meio em que a luz se propaga, alteram-se também 
o comprimento de onda e a propagação. Tendo como referência as características 
apresentadas pela luz no vácuo, o parâmetro chamado "índice de refração" mede 
essas alterações e permite ainda caracterizar a absorção de luz pelo material. No 
entanto, com a descoberta do laser, tornou-se possível constatar que esse índice 
não é propriedade invariável dos materiais, pois depende também da intensidade 
da luz incidente. 
Recentemente se tornaram conhecidos novos materiais que apresentam uma 
variação apreciável do índice de refração mesmo para campos luminosos pouco 
intensos. Essas descobertas apresentam grande variedade de aplicações, seja na 
amplificação de imagens ópticas, no reconhecimento de formas (usados na robótica) 
etc.
FONTE: Hologramas Dinâmicos e Espelhos Conjugados. Revista Ciência Hoje, n. 22, p. 16. 
Disponível em: <http://redafacil.blogspot.com.br/2010/01/7-descricao-tecnica-o-relatorio-
e-o.html>. Acesso em: 15 maio 2016.
Note que neste fragmento também há o detalhamento de um objeto, mas a 
descrição é totalmente objetiva, restringindo-se a descrever o fenômeno sem que o autor 
se envolva com ele.
e) Injunção: este tipo de composição tem por característica dar instruções, valendo-se, 
desse modo, dos verbos no imperativo. Utilizam-se deste tipo de composição os gêneros 
receitas culinárias, bulas, editais, manuais de instruções etc.
FIGURA 11 – CARTAZ DE COMBATE AO AEDES AEGYPTI
FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/_portalebc2014/files/styles/full_colunm/
public/atoms_image/zika.png?itok=nYe5ZkJC>. Acesso em: 8 abr. 2016.
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O cartaz dá instruções de como proteger as crianças das doenças transmitidas 
pelo mosquito. Note que além de instruir (o que pode e o que não pode), utiliza o modo 
imperativo em “Proteja as crianças do mosquito”.
ATENÇÃO
Os tipos textuais, embora marcados por características próprias, não são grupos fechados. 
Há a possibilidade de produzir gêneros textuais que se valem de mais de um tipo de texto. 
Por exemplo: textos narrativo-descritivos, textos descritivo-argumentativos, e assim por diante. 
Observe: Vou contar uma história, disse ele, e vocês façam a composição. Mas usando as palavras de 
vocês. Quem for acabando não precisa esperar pela sineta, já pode ir para o recreio.
O que ele contou: um homem muito pobre sonhara que descobrira um tesouro e fi cara muito rico; 
acordando, arrumara sua trouxa, saíra em busca do tesouro; andara o mundo inteiro e continuava 
sem achar o tesouro; cansado, voltara para a sua pobre, pobre casinha; e como não tinha o que comer, 
começara a plantar no seu pobre quintal; tanto plantara, tanto colhera, tanto começara a vender que 
terminara fi cando muito rico.
Eram quase dez horas da manhã, em breve soaria a sineta do recreio. Aquele meu colégio, alugado 
dentro de um dos parques da cidade, tinha o maior campo de recreio que já vi. Era tão bonito para 
mim como seria para um esquilo ou um cavalo. Tinha árvores espalhadas, longas descidas e subidas 
e estendida relva. Não acabava nunca. Tudo ali era longe e grande, feito para pernas compridas de 
menina, com lugar para montes de tijolo e madeira de origem ignorada, para moitas de azedas begônias 
que nós comíamos, para sol e sombras onde as abelhas faziam mel. Lá cabia um ar livre imenso. E 
tudo fora vivido por nós: já tínhamos rolado de cada declive, intensamente cochichado atrás de cada 
monte de tijolo, comido de várias fl ores e em todos os troncos havíamos a canivete gravado datas, 
doces nomes feios e corações transpassados por fl echas; meninos e meninas ali faziam o seu mel.
Eu estava no fi m da composição e o cheiro das sombras escondidas já me chamava. Apressei-me. Como 
eu só sabia "usar minhas próprias palavras", escrever era simples. Apressava-me também o desejo 
de ser a primeira a atravessar a sala – o professor terminara por me isolar em quarentena na última 
carteira – e entregar-lhe insolente a composição, demonstrando-lhe assim minha rapidez, qualidade 
que me parecia essencial para se viver e que, eu tinha certeza, o professor só podia admirar.
Entreguei-lhe o caderno e ele o recebeu sem ao menos me olhar. Melindrada, sem um elogio pela 
minha velocidade, saí pulando para o grande parque. 
FONTE: LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977. p. 15-16.
No primeiro parágrafo predomina a narrativa: o narrador conta uma história, 
apresentando personagens (professor, aluna), ambiente (sala de aula, escola), tempo 
(uma manhã), enredo (escrever sobre a história contada pelo professor). Já no segundo, 
há o destaque para a descrição. O narrador vai detalhando como era o pátio da escola 
e as impressões que tinha dele.
Assim, os gêneros textuais podem constituir-se por um, dois ou mais tipos 
textuais, dependendo da situação em que se insiram e do que pretendam comunicar.
Se os tipos textuais são estruturas com marcas e características, os gêneros 
relacionam-se diretamente com as situações de uso. 
[...] os gêneros é que constituem textos empíricos, é que constituem textos reais em 
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circulação, os quais são regulados também por tipos de sequências sintáticas e 
relações lógicas. [...] São definidos por propriedades sociodiscursivas, diferen-
temente, portanto,

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