Buscar

MEDICINA LEGAL

Prévia do material em texto

1 
 
MEDICINA LEGAL 
 
1. MEDICINA LEGAL - CONCEITO E APLICAÇÃO NO DIREITO 
 
A Medicina Legal é uma ciência extremamente diferente de todas as demais 
porque, enquanto a maioria das ciências apresenta a especialização, a Medicina 
Legal funciona somando, englobando conhecimentos. Ex.: se for fazer um laudo 
sobre estupro vai se valer dos conhecimentos de Ginecologia; se for sobre a 
capacidade vai se valer dos conhecimentos de Psiquiatria. 
A Medicina Legal é uma síntese das ciências que se somam analiticamente, 
formando-a. 
O Direito, em inúmeras passagens, está alicerçado em princípios 
eminentemente médicos. O simples enunciado “matar alguém” envolve o 
diagnóstico de que alguém morreu. Na grande maioria das áreas do direito, estão 
embutidos os conceitos de medicina. 
 
1.1. Conceito 
 Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos, jurídicos, psíquicos 
e biológicos que servem para informar a elaboração e execução de normas que 
dela necessitam. Utiliza conceitos não apenas para aplicação de leis, mas também 
para sua elaboração. 
A Medicina Legal se relaciona com uma série de ciências: sociologia, 
filosofia, botânica, zoologia e outras ciências, principalmente com o direito em 
todas as suas áreas. 
A importância desse estudo é a repercussão da Medicina Legal na vida das 
pessoas. Tudo o que se fala em Medicina Legal tem uma importância decisiva na 
vida das pessoas. Outro aspecto da importância da Medicina Legal é que, enquanto 
a Medicina comum se limita à vida da pessoa, a Medicina Legal não se restringe à 
pessoa humana enquanto viva: começa na fecundação e não termina nunca; 
enquanto houver vestígios, pode-se encontrar dados relativos à vida e à morte do 
indivíduo. 
O campo de atuação da Medicina Legal é muito amplo, pois transcende a vida 
do indivíduo, de forma geral e especial. 
 
1.2. Medicina Geral 
 
 
 2 
Estuda deontologia e diceologia, que são fundamentalmente os parâmetros 
de atuação profissional do médico. 
Deontologia define todos os parâmetros dos deveres profissionais e 
diceologia define os direitos profissionais. Os crimes que mais crescem em 
porcentagem são os chamados erros médicos. Diceologia e deontologia 
fundamentam direitos e deveres profissionais. Os direitos e deveres do médico 
constam do Código de Ética Médica. 
 
1.3. Medicina Especial 
Estuda o homem em geral: antropologia, traumatologia, asfixiologia, 
tanatologia, toxicologia, infortunística, psicologia, psiquiatria, sexologia, 
criminologia e vitimologia. 
 
1.3.1. Antropologia 
Estudo do ser humano, da sua forma. Ex.: pela forma do crânio pode-se saber 
o sexo, a raça do indivíduo; pelo osso fêmur pode-se saber a idade do indivíduo. A 
antropologia visa identificar restos, fragmentos. 
 
1.3.2. Traumatologia 
Estudo dos traumas. Trauma é tudo aquilo que, afetando o corpo humano, o 
vulnere. Pode ser provocado por agentes mecânicos (atropelamento), físicos (calor, 
frio, eletricidade), químicos (tóxicos, venenos, ácidos), mistos (bactérias), psíquicos 
(chantagem, ameaças que afetam a saúde física). 
 
1.3.3. Asfixiologia 
Todas as hipóteses em que o indivíduo, submetido à uma ação exterior, tem 
prejudicado a oxigenação dos tecidos. 
 
1.3.4. Sexologia 
Atentado ao pudor, sedução, infanticídio, estupro, aborto, gravidez e algumas 
hipóteses de anulação do casamento. 
 
1.3.5. Tanatologia 
Estudo da morte: se aconteceu, quando aconteceu e o que lhe deu causa. 
 
 
 3 
 
1.3.6. Toxiologia 
Tóxicos e venenos; estuda os casos de envenenamento. 
 
 
1.3.7. Infortunística 
Noções de medicina do trabalho, das doenças profissionais e dos acidentes 
de trabalho. 
 
1.3.8. Psicologia 
Valor da confissão, do testemunho, da negativa, para extrair a verdade. 
 
1.3.9. Psiquiatria 
Patologia médico-forense; entendimento da teoria da imputabilidade. 
 
1.3.10. Criminologia 
Estudo do crime, do criminoso, da sociedade, da vítima e de todas as 
condições capazes de explicar como e por que ocorreu o crime. 
 
1.3.11. Vitimologia 
Estudo da vítima; ninguém é totalmente isento de participação no crime que 
foi cometido contra ele. Saber como, por que e quando foi cometido o crime contra 
determinada vítima. 
 
2. PERÍCIAS E PERITOS 
 
2.1. Perícia 
É o conjunto de procedimentos visando à elaboração de um documento para 
demanda jurídica. É o conjunto de procedimentos executados para esclarecer fato 
de interesse legal. 
 
 
 4 
Quem faz a perícia são os peritos. 
 
2.2. Peritos 
São pessoas qualificadas para fazer as perícias. Podem ser oficiais (peritos 
criminais e médicos legistas) e não oficiais (peritos nomeados pela autoridade 
judiciária, que têm a liberdade de aceitar ou não a nomeação.). 
Em alguns países a atividade pericial está ligada ao Poder Judiciário. 
O objetivo da perícia é atender às necessidades da comunidade. 
Elaborado o processo de perícia, surgem os documentos médico-legais. 
 
3. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS 
 
3.1. Atestado Médico 
É o mais simples dos documentos médico-legais. É no atestado que o médico 
afirma ou nega, sem maiores considerações, um fato médico. Gera também todos 
os efeitos jurídicos, com efeito legal. O documento não exige na sua definição 
nenhum esclarecimento maior, basta que o médico afirme que “fulano de tal não 
pode comparecer”. Não há necessidade de nenhuma outra afirmação. O médico 
afirma ou nega um fato de natureza médica. 
 
3.2. Laudo Médico 
É o documento que se elabora após a primeira perícia, descrevendo-a 
detalhadamente. O laudo deve conter: 
• identificação: identificação completa da pessoa ou coisa a ser periciada; 
• histórico: descrição do quê, quando e como aconteceu o fato; 
• exame externo: é o exame visual, macroscópico; 
• exame interno: no cadáver é a autópsia; na pessoa viva pode ser biópsia, 
radiologia, coleta de material etc.; 
• discussão e conclusão: discute-se o que pode ou não pode ser (ex.: quantos 
tiros, se houve defesa ou não) Discute-se o aspecto jurídico da lesão e dá-se a 
conclusão; 
• respostas aos quesitos: os quesitos podem ser oficiais ou formulados pela 
autoridade requisitante. 
 
 
 5 
Quesitos: 
•••• Houve morte? 
•••• Qual a sua causa? 
•••• Qual o instrumento ou meio que a causou? 
•••• Foi empregada asfixia, fogo etc.? 
Os quesitos podem variar de acordo com o crime. Ex: no crime de sedução, 
os quesitos serão: 
•••• É virgem a paciente? 
•••• Era virgem a paciente? 
As autoridades requisitantes freqüentemente solicitam quesitos extras após 
o laudo pericial. Ex.: no exame interno é colhido material e o laudo só será 
completado após o resultado desse exame dado pelo laboratório. 
 
3.3. Auto Médico-Legal 
O auto médico-legal é feito por legistas após a perícia. O auto médico-legal é 
semelhante ao laudo, porém, elaborado no decorrer da perícia. Está limitado à 
exumação de cadáveres. A exumação é a primeira perícia com características 
peculiares. O perito depende muito de outra pessoa para a realização do seu 
trabalho. Requisitada a primeira exumação de cadáver, marca-se dia e hora e 
convoca-se: Delegado de Polícia, escrivão, pessoas interessadas, advogados, 
médico legista, auxiliar de autópsia, atendente de necrotério etc. O auto médico-
legal tem a mesma estrutura do laudo médico. A diferença entre o laudo e o auto 
consiste na época em que é feito. 
• Laudo: após a perícia. 
• Auto: durante a perícia 
 
3.4. Parecer Médico-Legal 
Numa situação de dúvida ou de desencontro de perícia, podem as partes ou o 
Magistrado se socorrerem de um parecer. É necessário que ele seja elaborado por 
alguém que tenha certas características aceitas pelas partes, que seja uma pessoa 
de notável saber, cujasabedoria seja pertinente ao trabalho a ser realizado. 
Nenhum Juiz está adstrito a laudo. 
No cível, um perito é indicado pelo Magistrado. As partes podem contratar 
assistentes técnicos, indicando-os ao Juiz. 
 
 
 6 
Ainda que contratado por uma parte, o assistente técnico está preso às 
regras, deveres e direitos da função de perito. 
O Código de Processo Civil dispõe que o perito, o assistente e o Juiz podem 
realizar a perícia conjuntamente, elaborando um mesmo laudo, caso as partes 
concordem. 
No campo penal faz-se necessária a existência de dois peritos. 
 
4. ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL 
 
Antropologia é o estudo do ser humano, suas características, seu 
comportamento, seu aspecto biológico. 
 
4.1. Identidade do Indivíduo 
É o conjunto de traços e características que diferencia, que individualiza uma 
pessoa ou coisa. São as características e atributos que tornam a pessoa única. 
 
4.2. Identificação 
É o conjunto de procedimentos que se faz buscando as características 
individuais. É o processo, a tecnologia que se adota para se chegar à identidade, 
permitindo uma comparação prática. 
 
4.3. Praticabilidade 
Procedimento que seja prático, de baixo custo e fácil. 
Exemplos: 
a) Classificação de ossos – Os ossos possuem canais (canais de Havers) por 
onde passa o sangue. Os canais dos ossos humanos são completamente diferentes 
de qualquer outro vertebrado. 
b) A forma do crânio das principais raças (caucasianos, indianos, negróides, 
orientais) é uma das características da raça. Pelo formato do crânio, pode-se 
determinar a raça do indivíduo. 
 
 
 
 
 7 
1. IDENTIFICAÇÃO 
 
A identificação pode ser efetuada quanto: 
 a) Espécie 
Entre animal e ser humano. Pode-se chegar a essa classificação pela análise dos 
ossos e dos canais de Havers. 
 b)Raça 
Há cinco tipos étnicos fundamentais: caucasiano, mongólico, negróide, indiano e 
australóide. A raça é identificada pelo índice cefálico (forma do crânio e ângulo facial). 
c)Sexo 
O sexo do indivíduo pode ser identificado das seguintes maneiras: 
• sexo cromossomial: avaliação dos cromossomos. Ex.: sexo masculino: quem 
tem cromossomo XY; sexo feminino: quem tem cromossomo XX; 
• sexo gonadal: os indivíduos humanos que têm ovário são do sexo feminino; os 
que têm testículos são do sexo masculino; 
• sexo cromatímico: com a aplicação, nas células humanas, de corante que se 
adere ao corpúsculo cromatino. A presença da cromatina indica o sexo 
feminino; sua ausência indica o sexo masculino. 
• sexo da genitália interna: quem tem útero e ovário é do sexo feminino; quem 
tem próstata é do sexo masculino; 
• sexo da genitália externa: quem tem vagina e clitóris é do sexo feminino; quem 
tem pênis e escroto é do sexo masculino; 
• sexo jurídico: é o sexo constante nos documentos do indivíduo. Pressupõe-se 
que alguém constatou o sexo do indivíduo; 
• sexo de identificação: é o sexo psíquico, sexo do comportamento, é a 
sexualidade do indivíduo. Na maioria das vezes, tem tudo a ver com o sexo 
físico. É o sexo que o indivíduo projeta no plano da sexualidade; 
• sexo pericial: é o sexo de avaliação, por meio de toda uma avaliação dá-se um 
laudo sopesando todos os aspectos. 
Legalmente, no Brasil, o que vale é o sexo físico. O judiciário não pode autorizar a 
mudança de sexo na documentação, pois poderia estar incorrendo em uma fraude. 
 
1.1. Idade 
 
 
 8 
Existem algumas faixas etárias juridicamente importantes: 13, 16, 18 e 21 anos. 
Especialmente a faixa dos 18 anos, que é a faixa da imputabilidade. 
Universalmente, hoje se aceita a Tabela de Grevlisch para determinar a idade das 
pessoas. Grevlich, ao radiografar os ossos dos braços das pessoas, chegou a um padrão 
de calcificação para determinar as faixas etárias jurídicas. Esse processo de calcificação 
dos osso se encerra com 21 (vinte e um) anos. Não é possível distinguir uma radiografia 
de uma pessoa com 25 (vinte e cinco) anos de outra com 35 (trinta e cinco) anos, porém, 
é possível identificar, pela radiografia, um indivíduo de 20 (vinte) anos e 9 (nove) meses 
de outro indivíduo de 21 (vinte e um) anos. 
 Os ossos do antebraço são o rádio e o úmero. Posição anatômica é a posição da 
pessoa voltada para a frente, com os braços voltados para a frente e as pernas 
ligeiramente afastadas. Sendo essa a posição anatômica, o rádio localiza-se no exterior 
do antebraço. 
 Ossos do punho: escalóide, semilunar, piramidal, psiforme, na primeira fileira. Na 
segunda fileira: trapézio, trapezóide, grande osso e ganchoso ou unciforme. 
 Os ossos da mão são cinco e chamam-se metacarpianos. 
 Dedos: indicador, polegar, médio, anular e mínimo. O polegar tem dois ossos, duas 
falanges, que recebem o nome de proximidal e distal. Os quatro outros dedos possuem 
três falanges: proximidal, medial e distal. Além disso, existem pequenas esferas ósseas 
que ajudam no processo de articulação, chamados semamóides. 
 Temos então 32 (trinta e dois) pontos de observação (ossos) para identificar a 
idade das pessoas. É por isso que se adota essa parte do corpo para proceder a 
identificação: pela quantidade de detalhes e variedade de pontos de observação. 
 
1.2. Altura 
Existem tabelas para que se possa verificar a altura do indivíduo. Ex.: se o fêmur 
mede 48,6 cm, o indivíduo vivo tinha 1,80 m. A tabela pode ser aplicada sobre vários 
ossos: fêmur, tíbia etc. 
 
1.3. Outros Tipos de Identificação 
Para ajudar numa identificação individual, são valiosos os seguintes sinais: 
a) sinais individuais: verrugas, manchas etc.; 
b) malformações: lábio leporino, desvio de coluna, consolidação viciosa de uma 
fratura etc.; 
c) sinais profissionais: calosidade de sapateiros, calo nos lábios de sopradores 
de vidro, de músicos de instrumentos de sopro etc.; 
 
 
 9 
d) cicatrizes: traumática (ação de agentes mecânicos, queimaduras), patológicas 
(vacinas) ou cirúrgicas. 
A identificação pelos dentes, no morto, é relevante. Porém, para que tal 
identificação seja possível, seria necessário dispor de uma ficha dentária fornecida pelo 
dentista da vítima. Uma cárie com restauração de determinado material, colocação de 
prótese, influem na identificação do indivíduo. Deve-se levar em conta, também, as 
alterações adquiridas pelos agentes mecânicos, químicos, físicos e biológicos (desgastes 
dos dentes, dentes manchados de fumo etc.). 
A identificação por fotografia não é um método de grande segurança. Ele será 
usado quando falhar os métodos mais significativos. Consiste na superposição de fotos 
do indivíduo tiradas em vida sobre a foto do esqueleto do crânio. 
 
1.4. Identificação Jurídica 
Jean de Vucetich, estudando as cristas que todo ser humano possui nas polpas 
digitais (pontas dos dedos), chegou à conclusão que nenhuma pessoa possui as 
impressões iguais às de outra, e também que a impressão das cristas em papel 
(impressão digital) poderia mudar de tamanho conforme a idade do indivíduo, mas jamais 
mudaria o desenho. 
Essa forma de identificação, embora fosse barata, esbarrava na dificuldade de se 
encontrar determinada impressão num arquivo imenso. 
Vucetich começou, então, a classificar as impressões por grupos. Essas cristas 
digitais consistem em uma série de linhas, mais ou menos horizontais, as quais Vucetich 
denominou de sistema basilar. No centro da polpa digital existe o sistema nuclear. 
Grande parte dos indivíduos possuem também o sistema marginal. 
Vucetich verificou que certas pessoas, na confluência dos três sistemas, formam 
uma figura chamada delta. O delta pode aparecer nas pessoas de diferentes maneiras: 
dois deltas, ausência de delta, só do lado interno ou só do lado externo. 
A figura de 2 (dois) deltas é chamada de verticilo (V). As pessoas que têm o delta 
só do ladoexterno, chamou-se de presilha externa (E). As que têm só do lado interno, 
presilha interna (I). As pessoas que não têm o delta, chamou-se de arco (A). 
Para seu estudo, Vucetich resolveu colher a impressão dos dez dedos das mãos. O 
sistema de letras fica restrito aos polegares; os demais dedos recebem a numeração 
seguinte: 
 
V (verticilo) = 4 
E (presilha externa) = 3 
I (presilha interna) = 2 
A (arco) = 1 
 
 
 10 
 
Todos os indivíduos de uma população a ser identificada que tiverem a forma 
A4214, A2421 ficam arquivados em conjunto, facilitando, dessa maneira, a identificação. 
As cristas não são lineares e formam inúmeros desenhos. Ex.: ao examinar 
determinada impressão, se encontrados 12 (doze) pontos de coincidência, pode-se 
identificar certamente o indivíduo. 
 A esse sistema de identificação dá-se o nome de sistema decadactilar 10 (dez) 
dedos. 
 A ciência que se propõe a identificar as pessoas fisicamente, por meio de 
impressões dos desenhos formados pelas cristas papilares, recebe o nome de 
datiloscopia. 
 
2. TRAUMATOLOGIA MÉDICO LEGAL 
 
A traumatologia estuda as formas de vulneração do corpo humano. Basicamente 
tudo aquilo que ofende a saúde é um trauma. O trauma produzido por energia pode ser 
físico ou psíquico. 
 A energia vulnerante é classificada em: mecânica, física, química, biológica e 
mista. 
 
 
2.1. Energia Mecânica 
 É a energia cinética, que atua sobre um corpo (E = M x V), isto é, (Energia = Massa 
x Velocidade). O que varia é a velocidade. Ex.: se colocar suavemente um tijolo sobre a 
cabeça de alguém, o mesmo não produzirá nenhum trauma. Porém, se o tijolo for atirado 
com força, pode provocar um corte ou até mesmo uma fratura de crânio. O tijolo (massa) 
é o mesmo; o que variou foi a velocidade. 
Existem alguns objetos cuja massa, por si só, já produzem energia suficiente para 
provocar um trauma. Ex.: um cofre de 3.000 Kg sobre a cabeça de alguém. 
O que determina a intensidade do trauma é o resultado M x V (massa x 
velocidade). 
 A energia pode atuar de várias maneiras: explosão, impacto, tração etc. 
 Existem três grupos de instrumentos: 
• que atuam num único ponto – ex.: perfurantes; 
• que atuam numa linha – ex.: cortantes; 
 
 
 11 
• que atuam num plano ou superfície – ex.: contundentes. 
a) Perfurantes 
São instrumentos punctórios, finos e pontiagudos. Atuam por pressão, 
afastando as fibras do tecido e, raramente, secionando-as. As feridas produzidas 
por esse tipo de instrumento recebem o nome de punctória ou puntiforme. 
Exemplo de objetos perfurantes: agulha, prego, picador de gelo, compasso etc. 
b) Cortantes 
São instrumentos que agem por um gume mais ou menos afiado, por 
mecanismo de deslizamento sobre os tecidos. A ferida causada por esse tipo de 
instrumento chama-se incisa. É errado falar “ferida cortante”: o instrumento é 
cortante, a ferida é incisa. Exemplo de objetos cortantes: faca, bisturi etc. 
c) Contundentes 
São instrumentos que agem por pressão, deslizamento, torção etc. Os 
instrumentos são como uma superfície plana que atua sobre o corpo humano. A 
lesão típica provocada por objeto contundente tem vários estágios, dependendo da 
força ou do objeto. Exemplo de instrumentos contundentes: martelo, soco, 
balaustre, veículo, escada etc. 
• Espécies de lesões contundentes 
− Eritema ou rubefação 
É a primeira lesão provocada por objeto contundente e a mais simples. Alguns 
penalistas não aceitam o eritema como lesão corporal. Não há lesão anatômica, 
somente uma mancha vermelha transitória que não deixa vestígios. É provocada por 
impacto de baixa densidade, produzindo uma dilatação dos vasos sangüíneos. 
Enquanto existir, retrata com fidelidade o instrumento que a causou. Ex.: tapa. 
− Equimose 
Se a lesão foi provocada com tal intensidade que chegou a romper alguns 
vasos sangüíneos, recebe o nome de equimose. São as famosas manchas roxas 
provocadas por ruptura de vasos capilares, que são vasos pouco expressivos, perto 
da superfície da pele. Não há sangramento, mas pequena infiltração de sangue entre 
as malhas do tecido. As manchas seguem uma evolução padronizada: mudam de cor 
até o décimo quinto dia, quando então desaparecem. 
− Hematoma 
Ocorre quando o instrumento contundente, atuando no tecido corporal, provoca 
ruptura de vasos importantes, produzindo o afastamento de tecidos; quando o 
instrumento bate mais pesado e chega a romper um vaso, provocando vazamento de 
sangue. 
 
 
 12 
− Escoriação 
É a lesão superficial de atrito (ralada) que rompe a epiderme, deixando a derme 
a descoberto. Não há sangramento e não deixa seqüelas. A escoriação é produzida 
quando o instrumento tangencia e produz um ralamento na epiderme. 
− Ferida contusa 
Produzida quando o instrumento age com muita violência que é capaz de rasgar 
os tecidos, formando uma lesão aberta. 
 
2.1.1. Feridas produzidas pelos instrumentos 
Com freqüência, os instrumentos misturam as seqüências da lesão. Ex.: instrumento 
perfuro-cortante, produzido por uma faca de ponta. 
Existem instrumentos que por sua velocidade, mais do que por sua forma, 
produzem lesões. Ex.: instrumento perfuro-contundente (projétil de arma de fogo), que 
atua perfurando e contundindo. 
Existe também uma combinação de instrumento que corta e que contunde: 
instrumento corto-contundente. O instrumento típico corto-contundente é o machado. 
Temos, então, 3 (três) instrumentos básicos (perfurantes, cortantes e 
contundentes) e 3 (três) formas combinadas (perfuro-cortante, perfuro-contundente e 
corto-contundente). 
A ferida produzida pelo instrumento perfuro-cortante é denominada perfuro-incisa. 
A lesão produzida pelo instrumento perfuro-contundente denomina-se perfuro-
concisa. 
A lesão típica produzida pelo instrumento corto-contundente, denomina-se corto-
contusa. 
 
Instrumentos básicos 
Instrumento Característica Ferida 
Perfurante Perfura Punctória 
Cortante Corta Incisa 
Contundente Contunde Eritema, equimose, 
hematoma, escoriação, 
ferida contusa 
 
 
 
 13 
Instrumentos combinados 
Instrumento Característica Lesão 
Perfuro-contundente Perfura e contunde Perfuro-concisa 
Perfuro-cortante Perfura e corta Perfuro-incisa 
Corto-contundente Corta e contunde Corto-contusa 
 
a) Feridas punctórias (produzidas por instrumentos perfurantes) 
Feridas punctórias são feridas produzidas por instrumentos perfurantes, porém 
apresentam características de corte, como a casa de um botão; em razão disso, surgem 
três leis a respeito das feridas punctórias: 
1.ª Lei: as feridas punctórias provocam, quando retirado o instrumento, a forma de casa 
de botão ou botoeira; 
2.ª Lei: feridas punctórias numa mesma região de linhas de tensão ou linhas de 
Languer, têm todas o mesmo sentido; 
3.ª Lei: diz respeito às feridas que acontecem coincidentemente numa mesma região de 
linhas de tensão, e diz respeito à forma que a lesão vai apresentar, ou seja, forma 
triangular. 
 As feridas na zona de confluência das linhas de força tomam a forma de triângulo. 
 A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal localiza-se no 
fato de serem esses instrumentos inoculares de infecção, pois as feridas produzidas, 
embora aparentemente pequenas, são profundas. 
 Esses instrumentos também têm uma propriedade do sinal do acordeão, ou sinal 
de Lacassagne, cuja ferida, em virtude de ser comprimida, apresenta uma extensão maior 
do que o instrumento que a produziu. 
 b) Feridas incisas (produzidas por instrumentos cortantes) 
 Características das feridas incisas: 
− regularidade das bordas (pois não foi rasgada); 
− regularidade do fundo da lesão; 
− ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida; 
− hemorragia abundante; 
− predominânciado comprimento sobre a profundidade; 
− afastamento das bordas da ferida, se o corpo é vivo, em razão da 
retratilidade da pele; 
 
 
 14 
− cauda de escoriação voltada para o lado em que terminou a ação do 
instrumento; 
− a extensão da ferida é quase sempre menor do que aquela que 
realmente foi produzida, em virtude da elasticidade dos tecidos; 
− as vertentes (encostas) da lesão são emparedadas (regulares) e serão 
verticais se o instrumento agiu perpendicularmente, e em forma de bizel se o 
instrumento agiu inclinadamente (oblíquo); 
− o centro da ferida é mais profundo que as extremidades. 
Nas feridas incisas, quando existem duas lesões cruzadas, é possível determinar 
qual a primeira e qual a segunda, pois a primeira foi feita sobre a pele íntegra e, na 
segunda, vai haver um degrau, porque foi feita sobre a lesão anterior. A esse “degrau” dá-
se o nome de Sinal de Chavigny: angulação que se verifica na segunda ferida, na 
hipótese de duas feridas se entrecortarem. 
 Algumas feridas incisas têm nome próprio: 
1. esgorjamento: ferida incisa na região anterior do pescoço; 
2. degolamento: ferida incisa no plano posterior do pescoço (nuca); 
3. decapitação: ferida incisa secionando todo o pescoço (guilhotina). 
c) Feridas produzidas por instrumento contundente 
• Rubefação ou eritema: No período em que é visível, tem uma grande 
importância, porque reproduz o instrumento que a produziu. Caracteriza-se por 
uma vermelhidão no local atingido. Há uma forte corrente dizendo que a 
rubefação não possui os requisitos de uma lesão corporal, pois não tem uma 
base anatômica e dura pouco tempo (em média, 15 minutos). 
• Escoriação: Abrasão, lixamento da pele. Só é escoriação a abrasão que 
se verifica na epiderme por atrito tangencial ou instrumento contundente. 
Quando a abrasão se estende em profundidade, pegando a segunda camada 
da pele, não se trata de escoriação. Não existe cicatriz de escoriação. Na 
escoriação há uma reconstrução integral da pele. Se houver cicatriz, trata-se de 
uma perda de substância e não de escoriação. 
• Equimose: Manchas roxas. A seqüência das cores da equimose permite 
estabelecer um diagnóstico cronológico da mesma. Outra característica da 
equimose é que, nos impactos, costumam haver equimoses exatamente na 
forma do objeto que as produziu. 
• Hematomas: São provocados por objetos contundentes. Consistem no 
extravasamento dos vasos sangüíneos. O sangue forma uma bolsa que 
caracteriza o hematoma. Independentemente dos hematomas superficiais, os 
instrumentos contundentes podem provocar hematomas de extrema gravidade. 
Podem provocar uma onda de choque que pode levar a uma lesão dentro do 
fígado ou do baço. Essa ruptura intra-baço, nos primeiros momentos, não 
produzem graves sintomas e podem passar desapercebidos num exame 
 
 
 15 
clínico. O sangue fica dentro da cápsula que envolve o baço, quando a cápsula 
se rompe, ocorre a hemorragia e o indivíduo entra em choque. Chama-se 
hematoma em dois tempos e é mais comum no baço e no fígado. Outra 
situação extremamente grave são alguns traumatismos no crânio. 
Ainda que não haja uma fratura ou ferida externa, pode ocorrer a ruptura de um 
pequeno vaso na parte externa do cérebro, que vai gotejando sangue e descolando a 
membrana que se expande até comprimir violentamente o cérebro, levando o indivíduo ao 
coma. É um hematoma extradural em dois tempos que leva à uma compressão do 
cérebro. Quando o impacto é maior e há um anteparo ósseo, prensando partes moles 
entre o instrumento e o osso, pode ser que a lesão se abra. Aí recebe o nome de ferida 
contusa. Ex.: soco no supercílio. 
d) Feridas contusas: 
É uma espécie de contusão. Suas características são: 
− bordas irregulares; 
− traumas nas proximidades das bordas; 
− vertentes e fundo irregulares; 
− entre uma lateral e outra pode haver ponte de tecido íntegro; 
− sangram menos; 
− são mais profundas do que compridas. 
Esses são os itens que permitem diferenciar uma ferida contusa de uma ferida 
incisa. 
 As contusões podem provocar também ruptura de órgãos internos. Existem órgãos 
que, por suas características, são mais sujeitos à ruptura, como o fígado e o baço. 
 Se o órgão é comprimido por aumento de pressão interna, ele se rompe no ápice 
da curvatura. Na medida em que se aumenta a pressão interna do órgão, por 
compressão, ele se rompe. 
 As contusões podem provocar ainda algumas lesões típicas. Ex.: martelada 
na cabeça provoca uma lesão característica que recebe o nome de ferida de 
Strassmann. Outra característica da pancada com martelo é o sinal de Carrara 
(pequenos círculos na região afetada). 
e) Empalamento 
O indivíduo é amarrado e suspenso. Coloca-se uma haste e o indivíduo é descido 
pela haste, que penetra na região perianal. Era uma prática utilizada como pena de morte. 
Acidentalmente podem ocorrer empalações. Ex: quedas a cavaleiro; quedas no campo da 
construção civil. 
f) Lesões produzidas por cinto de segurança 
 
 
 16 
Quando a colisão ultrapassa em energia a capacidade do cinto, ele passa a 
funcionar como instrumento contundente. Hoje existem três tipos de cinto: 
− pélvico: provoca lesão na bacia, luxações na coxa com relação ao 
quadril; 
− transverso toráxico: costumam provocar uma violenta projeção do 
pescoço e da cabeça; 
− cinto de três pontos: toráxico, diagonal e pélvico. Provocam o chicote 
cervical que provoca luxação cervical ou fratura com morte imediata. 
 
1. LESÕES COMBINADAS 
 
1.1. Feridas Perfuroincisas 
Essas feridas são provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando por um 
mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os 
planos superficiais e profundos do corpo da vítima. Agem, portanto, por pressão e por 
seção. 
 
1.1.1. Faca de ponta 
Na ponta da lesão há a perfuração; no trajeto, o tecido se rasga e, no fundo, há a 
incisão. Regiões de defesa: braço, antebraço, mão e dorso da mão. Para alguns 
doutrinadores, num ataque com faca, de acordo com as lesões provocadas nas regiões 
de defesa, já se convencionou no Tribunal do Júri que não existe o ataque de surpresa, 
pois as lesões comprovam a defesa e, portanto, conclui-se que não houve surpresa, 
desqualificando o homicídio. 
 
1.2. Feridas Perfurocontusas 
Essas lesões são produzidas por um mecanismo de ação que perfura e contunde. 
Na maioria das vezes, esses instrumentos são mais perfurantes do que contundentes. 
Esses ferimentos são produzidos quase sempre por projéteis de arma de fogo; no 
entanto, podem estar representados por meios semelhantes, como a ponta de um guarda-
chuva. 
 
1.2.1. Armas de fogo 
Acionam cartuchos com projétil, que é um instrumento característico da ferida 
perfurocontusa. Existem outros instrumentos que produzem esse tipo de ferida, mas não 
 
 
 17 
de uso tão freqüentes como as armas de fogo que, são caracterizadas como instrumentos 
perfurocontudente. 
As armas podem ser classificadas em: 
• mecânica: revólver; 
• semi-automática: pistolas; 
• automáticas: metralhadoras; 
• curtas: pistolas, revólveres; 
• longas: rifles, fuzis e cartucheiras; 
• projétil único: revólver, metralhadora, rifle; 
• projétil múltiplo: garrucha e cartucheira. 
 
Calibre é o diâmetro medido na saída do cano. Essa medida é o que dá o calibre 
em milímetros ou em centésimos de polegada. 
Nas armas de projétil múltiplo, o calibre é dado pelo peso. Ex.: calibre 12 – o 
cartucho dessa arma contém doze esferas de chumbo que, somadas, correspondem a 
uma libra. 
De uma maneira geral, o cartucho é composto de um cilindro com uma 
extremidade fechada e outra aberta. Dentro desse cilindro há a espoleta, impregnada por 
mercúrio, que, pelo atrito, produziz uma pequena chama. O cartucho é composto, ainda,de pólvora (enxofre+carvão+salitre). Esse combustível é tamponado por papel, papelão 
ou tecido, que recebe o nome de bucha. Finalmente, encravado no cartucho, há uma 
peça de metal, que é o projétil. 
A arma de fogo é o aparelho que coloca em ação o cartucho. Impactada pela 
espoleta, a pólvora é incendiada. A queima de uma carga padrão (calibre 38) gera gases 
que, aquecidos, são capazes de saturar 800 cm³, o que aumenta a pressão do 
compartimento e desentuba o projétil, imprimindo-lhe uma velocidade em torno de 600 a 
800 km/h. Isso nos projéteis chamados de baixa energia. 
Quando o projétil desentuba, ocorre a explosão do cartucho. Uma parte da pólvora 
não se queima, sendo lançada a uma distância de até 15cm, sob a forma de grãos. Junto 
com o projétil são lançados também restos da bucha, labareda, fumaça e eventuais 
sujeiras, como graxa. Atingem a ferida tudo o que estava no caminho do projétil (tecido da 
roupa, botão etc.). O projétil se “enxuga” e chega limpo ao destino. Essa área chama-se 
área de enxugo. 
O projeto é, então, composto de: 
• cartucho: estojo de latão, plástico ou papel prensado; 
• espoleta: fulminato de mercúrio ou fosfato de bário; 
 
 
 18 
• pólvora: carvão pulverizado, enxofre e salitre; 
• bucha: disco de feltro, metal ou papelão; 
• projétil: de chumbo, podendo ser revestido de níquel. 
O projétil é instrumento perfurocontundente. 
 
1.2.2. Tiros à queima-roupa 
Se o alvo estiver colocado a 10 cm da arma, o projétil, além de contundir e perfurar, 
queimará a pele, provocando uma zona de queimadura. 
O projétil, perfurando a pele, rompe pequenos vasos, formando a zona equimótica. 
O interior do cano das armas curtas, de projétil único, não é liso. A usinagem do 
cano possui cristas que recebem o nome de raia. A raia produz uma rotação do projetil a 
alta velocidade, o que propicia um alcance maior e uma direção mais precisa. 
As raias podem ser: 
• Destrogiras: imprimem um movimento no sentido horário. 
• Sinistrogiras: imprimem uma rotação no sentido anti-horário. 
Devido à rotação, o projétil provoca na pele uma escoriação. Onde o projétil 
perfurar, haverá uma zona de escoriação. Essa zona recebe o nome de zona de Fisch. 
Chegam também à ferida os detritos da bucha, que são retidos pela pele, que se 
chama zona de enxugo. Nessa zona de enxugo serão encontrados tudo o que o projétil 
leva pelo caminho (tecido, sujeiras etc.; coisas que estão interpostas entre o cano e a pele 
do indivíduo). 
A pólvora que chega junto com o projétil e que se aloja na pele, produz a zona de 
tatuagem. 
Por fora dessa zona, a fumaça: zona de esfumaçamento (é a mais periférica de 
todas). 
A característica da zona de esfumaçamento é que pode ser facilmente retirada com 
uma simples limpeza no local. Se traçarmos uma linha da zona de esfumaçamento, 
teremos a figura geométrica de um cone. Quanto maior a base do cone, maior a distância 
entre a arma e o alvo. 
É possível, a partir do exame da ferida, determinar a qual distância foi dado o tiro. 
A zona de Fisch alongada aponta na direção de onde veio o projétil. Nos orifícios 
ovais, a maior extensão da zona de Fisch indica a direção do projétil. 
São características do furo de entrada nos tiros à queima-roupa: 
• menor que o diâmetro do projétil, devido à elasticidade da pele; 
 
 
 19 
• forma circular se o disparo for perpendicular à pele, e forma ovalar se o disparo 
for tangencial; 
• a borda está voltada para dentro; 
• presença de orla de escoriações (zona de Fisch); 
• zona de enxugo; 
• zona de tatuagem; 
• zona de esfumaçamento periférico; 
• auréola equimótica; 
• zona de queimadura - a borda é ligeiramente queimada pelo calor do projétil; 
• zona de compressão de gases, vista apenas nos primeiros instantes. 
 
1.2.3. Tiros encostados 
Quando o orifício do cano está encostado à pele, não há espaço entre o cano e a 
pele. Acontece uma explosão interna: gases, pólvora, fumaça, fica tudo sob a pele. Essa 
ferida recebe o nome de zona de Hoffman. 
Após o disparo, a zona atingida fica estufada e crepita (sinal de crepitação). A área 
fica meio abaulada. Esse sinal só vale para os primeiros momentos após o disparo. 
O disparo encostado produz a impressão do cano quente na pele. Essa impressão 
recebe o nome de sinal de Werkgaertner. 
Existe uma outra hipótese, quando o revólver não está totalmente encostado à 
pele. Isso gera uma figura diferente, o sinal de Werkgaertner aparece pela metade, em 
forma de meia lua. 
Nos três tipos de disparos, as bordas da ferida estão voltadas para dentro. No ser 
humano vivo, os orifícios de entrada são menores que o diâmetro do projétil, por causa da 
elasticidade da pele. 
 
São características das feridas produzidas por tiro encostado: 
• orifício de diâmetro menor que o projétil; 
• marca quente, desenhando a boca do cano na pele (sinal de Werkgaertner); 
• a forma do orifício é irregular, denteada e com entalhes, devido à ação 
resultante dos gases que deslocam e dilaceram o tecido (sinal de Hoffmann); 
• em geral, não há zona de tatuagem e esfumaçamento, pois os elementos da 
carga penetram pelo orifício da bala. 
 
 
 20 
 
1.2.4. Tiros à distância 
São características do orifício de entrada: 
• forma arredondada ou ovalar, dependendo do disparo, se for perpendicular ou 
oblíquo em relação à vítima; 
• quando o tiro é dado em perpendicular, o diâmetro da ferida é menor que o 
projétil; 
• a orla de escoriações tem aspecto concêntrico nos orifícios arredondados e em 
crescente ou meia lua nos orifícios ovalares; 
• presença da auréola equimótica (ruptura de pequenos vasos localizados na 
vizinhança do ferimento); 
• bordas para dentro. 
 
São características de saída do projétil das feridas produzidas por arma de fogo: 
• o orifício de saída é maior que o de entrada; 
• a forma é de ferida estrelada (rasgada com as bordas voltadas para fora); 
• nunca tem zona de Fisch, nem qualquer outra lesão de pele, pela simples razão 
que em momento algum o projétil tocou a superfície da pele na saída, ele a 
vulnerou de dentro para fora; 
• pode haver zona de enxugo, pois o projétil pode levar tecidos, fragmentos de 
osso etc. 
 
De maneira geral, a linha reta que une o orifício de entrada e o orifício de saída 
representa o trajeto do projétil dentro do corpo. 
Em várias ocasiões, o projétil pode mudar de trajeto dentro do corpo, pode se 
fragmentar e pode, também, mudar de ângulo. 
Na cabeça, conforme o grau de impacto, pode ocorrer um fenômeno: O couro 
cabeludo é móvel, e sob o couro existe um tecido mole. Algumas vezes, o projétil passa 
pelo couro cabeludo e não penetra na cabeça, dando-se o nome de bala giratória. A bala 
faz o trajeto entre o couro cabeludo e o tecido que envolve o crânio. 
A localização do projétil de arma de fogo dentro do corpo humano é extremamente 
difícil sem o auxílio do raio X, pelo fato de o projétil mudar o seu trajeto dentro do corpo. 
Quando o projétil entra, forma um cone que recebe o nome de sinal de Bonnet, 
onde o orifício de entrada é menor que o de saída. Tem o formato de um funil e, na 
entrada, o diâmetro menor aponta a direção do projétil. 
 
 
 21 
 
 
1. ENERGIA DE ORDEM FÍSICA 
 
Vários são os agentes físicos: som, luz, frio, calor, radioatividade etc. 
 
1.1. Ações Físicas da Temperatura 
 
1.1.1. Frio 
Os seres humanos são homeotérmicos (temperatura constante) e resistem a uma 
variação de temperatura pequena (abaixo de 42 graus centígrados e acima de 32 graus 
centígrados de seu próprio corpo). Para tanto, há mecanismos termoreguladores que 
mantêm a temperatura estável em aproximadamente 36 graus centígrados. 
O frio sistêmico faz diminuir as funções circulatórias e cerebrais. A ação do frio leva 
a alteraçõesdo sistema nervoso, sonolência, convulsões, delírios, perturbações dos 
movimentos, anestesias, congestão ou isquemia das vísceras, podendo advir a morte. 
Os cadáveres têm pele clara, extravasamento de sangue pelas vias respiratórias, 
resfriam rapidamente e demoram mais para entrar em putrefação. 
O frio pode atuar diretamente sobre o corpo. Podem ocorrer geladuras localizadas 
de vários tipos: 
a) Primeiro grau 
Área superficial pálida (ou rubefação), inchada e de aspecto anserino na pele. Dura 
algumas horas e depois cessam os efeitos, porém a pele descasca. 
b) Segundo grau 
Ação mais intensa do frio, que provoca a destruição da epiderme, com formação de 
bolhas de sangue que estouram e cicatrizam. 
c) Terceiro grau 
Quando a ação do frio é muito intensa, provocando o congelamento do local e 
levando à necrose dos tecidos moles por falta de circulação. Formam-se úlceras e, às 
vezes, são necessários enxertos. Causam deformidades permanentes. 
 
d) Quarto grau 
Quando o indivíduo permanece com os membros em contato direto com o frio. Um 
 
 
 22 
grande segmento do corpo gangrena e vai à necrose. Chama-se de trincheira. Hoje 
ocorre no alpinismo, nas indústrias com câmaras frias etc. 
 
1.1.2. Calor 
O calor pode atuar de duas formas: 
a) Calor difuso 
Calor sistêmico, tendo como conseqüência as temonoses: 
• insolação: exposição à natureza; 
• intermação: exposição a outras fontes de calor, ambiente confinado, lugares 
mal arejados. Pode ocorrer a degeneração das proteínas, desidratação, 
convulsão e morte. 
b) Calor direto 
Calor local tem como conseqüência as queimaduras, que podem ser causadas por 
chamas, gases, líquidos ou metais aquecidos. Os materiais em combustão são 
instrumentos para essa ação. Mais do que a profundidade da queimadura, interessa a sua 
extensão. Assim, queimaduras de qualquer grau que atinjam mais de 40% da superfície 
do corpo determinarão a morte do indivíduo. 
Em Medicina Legal, adota-se a classificação das queimaduras feita por Hoffmann: 
a) Primeiro grau 
Vermelhão, a pele apresenta-se inchada e quente, dolorida. Presença de eritema 
(sinal de Christinson). A epiderme descasca após 3 ou 4 dias (ex.: queimadura por raios 
solares). 
b) Segundo grau 
A superfície apresenta vesículas com líquido amarelado (sais e proteínas). 
Dependendo da área afetada, pode haver abalos no mecanismo, levando à morte. As 
bolhas (sinal de Chambert) podem infeccionar, produzindo manchas (ex.: queimadura em 
decorrência de gases, líquidos e metais aquecidos). 
c) Terceiro grau 
São as queimaduras produzidas, geralmente, por chama ou sólido superaquecido e 
determinam a queima da pele. A queimadura de terceiro grau incide até no plano 
muscular. Forma-se uma placa dura e preta que, retirada, resulta em úlcera, sendo 
necessário o enxerto. A pele fica retrátil, com cicatrizes chamadas sinéquias. 
d) Quarto grau 
É a carbonização do plano ósseo. Pode ser total ou generalizada. 
 
 
 23 
A carbonização total é rara e difícil de ser produzida. A carbonização generalizada 
reduz o volume do corpo por condensação dos tecidos. Corpos de adultos carbonizados 
chegam à estatura de 100 a 120 cm. O morto toma a posição de “boxer”, devido à 
retração dos músculos. A explosão de gases causa o rompimento da cavidade abdominal 
e do crânio. 
 
1.1.3. Importância médico-legal das queimaduras 
A observação das queimaduras propicia saber se o indivíduo já estava morto ou 
não no momento da carbonização. Se morreu no fogo, o sangue dos pulmões e coração 
possui alta taxa de óxido de carbono, há fuligem e fumaça nas vias respiratórias (sinal de 
Montalti); só fica na posição de “boxer” se foi carbonizado enquanto vivo ou logo após a 
morte por qualquer outra causa. 
Identificação do morto: é feita por meio da ausência de órgãos, disposição dos 
dentes, fratura óssea antiga e por meio de material genético. 
 
1.1.4. Temperaturas oscilantes 
Oscilações bruscas de temperatura podem diminuir a resistência, a imunidade do 
indivíduo (pneumonia, tuberculose etc.). Ocorrem em indivíduos que trabalham em 
câmara fria. 
 
1.2. Ações Físicas da Pressão Atmosférica 
Com a diminuição da pressão atmosférica, há a diminuição de oxigênio e de gás 
carbônico e o indivíduo passa mal. É o chamado mal das montanhas. 
Sofrem aumento da pressão atmosférica os mergulhadores, escafandristas e 
outros profissionais que trabalham debaixo d’água ou em túneis subterrâneos. Não 
correm só o perigo do aumento da pressão atmosférica, mas especialmente o da 
descompressão brusca, que pode causar lesões muito graves. Essa síndrome é 
conhecida como mal dos caixões. 
A natureza jurídica desse evento é quase sempre acidental e desperta interesse no 
estudo da infortunística (acidente de trabalho). 
1.3. Ações Físicas da Eletricidade 
A eletricidade natural e a artificial podem atuar como energia danificadora. 
A eletricidade natural, quando age letalmente (quando há óbito), denomina-se 
fulminação. Quando provoca apenas lesões corporais, chama-se fulguração (ex.: raios). 
A eletricidade industrial é a produzida pelo homem e tem como ação uma síndrome 
chamada eletroplessão. São assim chamadas todas as formas de lesões causadas por 
eletricidade industrial, com ou sem morte. Há, também, a eletrocussão, que é a pena de 
 
 
 24 
morte em cadeira elétrica. 
Há três hipóteses de morte causada por eletricidade: 
• a carga elétrica leva à contratura, podendo levar o indivíduo à asfixia 
(contratura dos músculos respiratórios); 
• a carga elétrica leva à desorganização dos batimentos cardíacos, provocando 
a contração fibrilar do ventrículo e a morte; 
• a carga elétrica leva à parada cerebral ocasionada por hemorragia das 
meninges, das paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal. 
Na fulguração, as lesões podem ser por queimaduras ou por alterações funcionais 
dos órgãos citados acima. Mas pode ser que haja resistência, levando ao calor, 
produzindo queimaduras (“auto-fritura”). É o chamado efeito Jaule. 
Às vezes, a morte é devida a outras causas sobrevindas de quedas ocasionadas 
pela eletricidade. Ao receber o choque elétrico, a vítima é precipitada ao solo, morrendo 
por ação de energia mecânica (contusão). 
 
2. ENERGIA DE ORDEM QUÍMICA 
 
Existem substâncias que, por ação química, física ou biológica, são capazes de 
causar danos à vida e à saúde. 
Quando a ação é de ordem externa, as substâncias recebem o nome de cáusticos. 
Quando a ação é de ordem interna, as substâncias recebem o nome de venenos. 
 
2.1. Ação Externa (cáusticos) 
Entre as substâncias químicas de ação externa, dois grupos são mais importantes: 
alcáles e ácidos. 
• Efeito coagulante: os cáusticos produzem lesão grave, afetando a pele 
violentamente, formando escaras (áreas enegrecidas). A evolução mostra que 
essa área deve ser retirada para que ocorra a cicatrização. O efeito coagulante 
desidrata os tecidos (ex.: nitrato de prata). 
• Efeito liquefaciente: a substância química atua desfazendo os tecidos. 
Produzem escaras moles (ex.: soda cáustica). 
• Vitriolagem: é um tipo de comportamento delinqüente, em que alguém joga 
sobre as pessoas uma substância cáustica. No século XVIII, quando a química 
começou a desenvolver-se, chamou a atenção dos químicos o ácido sulfúrico, 
que, na época, chamava-se óleo de vitríolo, daí o nome vitriolagem, dado à 
 
 
 25 
atitude de alguém que joga, dolosamente, uma substância química sobre as 
pessoas. 
Venenos são substâncias químicas que, atuando no organismo, vão desempenhar 
um efeito sistêmico. Veneno é qualquer substância que, introduzida no organismo, 
danifica a vida ou a saúde. Entende-se por envenenamento, portanto, a morte violenta ou 
o dano grave à saúde, ocasionados por determinadas substânciasde forma acidental, 
criminosa ou voluntária. 
 
2.2. Ação Interna (venenos) 
Os venenos apresentam-se em dois grupos: organofosforados e clorados. 
Tanto um grupo como o outro, principalmente os organofosforados, podem ser 
causadores de envenenamento por contato com a pele, ingestão e inalação. A morte 
ocorre por parada respiratória e edema pulmonar. O indivíduo fica cianótico (roxo), o que 
é um sinal de que está havendo má respiração dos tecidos. 
Os clorados são menos perigosos, porém podem envenenar o sistema nervoso 
central (ex.: formicida, gás metano, combustíveis, dependendo da quantidade). 
As noções do veneno, necessariamente, passam pela consideração de ordem 
quantitativa. 
Não basta, apenas, a qualidade da substância, é preciso que haja uma certa 
quantidade. 
Essa noção de quantidade passa a envolver praticamente todas as substâncias. 
Existem substâncias que, em quantidade muito pequena, podem produzir a morte 
(ex.: estricnina – 1mg pode causar convulsão, contratura e morte); porém, 1 milésimo de 
miligrama pode servir como remédio. 
A mesma cocaína que excita, numa quantidade maior, pode ocasionar a morte, 
num efeito inverso. A variação da quantidade pode inverter o efeito da substância. 
 
1. ASFIXIAS 
 
Todo e qualquer mecanismo que intervenha na correta oxigenação dos tecidos 
humanos constitui uma asfixia. 
Asfixias são todas as formas de carência ou ausência de oxigênio, vital para o ser 
humano, todas as anormalidades no processo respiratório. 
• Hipóxia: situação em que está ocorrendo uma diminuição da oxigenação dos 
tecidos. 
 
 
 26 
• Anóxia: ausência de oxigenação. 
Toda e qualquer situação que interfira nas vias respiratórias, na caixa toráxica, nos 
pulmões, caracteriza asfixia. 
A caixa toráxica é um sistema fechado. Em seu lado inferior está localizado o 
músculo do diafragma. Há um espaço entre a parede interna da caixa toráxica e o 
pulmão: o espaço pleural. A pressão nesse espaço é maior que a pressão atmosférica. A 
lesão corporal que perfure expressivamente a caixa toráxica vai provocar uma abrupta 
entrada de ar, que recebe o nome de pneumotórax, que “cola” o pulmão e o indivíduo não 
consegue respirar. 
O ser humano oxigena em ambiente gasoso, com determinadas características. 
Não respiramos quando o meio gasoso é muito alterado, quando o ar é composto por 
outros gases, nem em meio líquido e nem em meio sólido. 
 
1.1. Classificação das Asfixias 
 
1.1.1. Por modificação do meio ambiente 
• Confinamento 
• Soterramento 
• Afogamento 
 
 
1.1.2. Por obstrução das vias aéreas 
• Enforcamento 
• Estrangulamento 
• Esganadura 
 
1.1.3. Por impedimento da expressão do tórax 
• Sufocação indireta 
• Afundamento de tórax 
 
1.1.4. Por paralisação dos músculos respiratórios 
 
 
 27 
• Paralisia espástica – eletroplessão, estricnina 
• Paralisia flácida – curare 
 
1.1.5. Por parada respiratória central ou cerebral 
• Eletroplessão 
• Traumatismo crânio-cefálico 
 
1.1.6. Por paralisia central 
• Depressão do sistema nervoso central – tóxicos 
 
1.2. Sinais Gerais de Asfixia 
 
1.2.1. Manchas de hipóstase 
O indivíduo morre e, em conseqüência da morte, o coração não bate. O sangue 
contido nos pequenos vasos próximos à pele, com a morte, acumula-se, por força 
gravitacional, nas regiões de maior declive. Se o morto está em pé (enforcado), o sangue 
vai para as extremidades (mãos, pés, pernas). Se o morto está deitado, as manchas 
tendem a se formar nas costas, se ele estiver em decúbito dorsal, ou no tórax, se ele 
estiver em decúbito ventral. Nas regiões de apoio, o sangue não chega, portanto, não se 
formam as manchas nessas regiões. Essas manchas começam a se formar 1 ou 2 horas 
depois da morte. Nos casos de asfixia, as manchas hipostásicas são mais marcadas 
(pronunciadas) e mais precoces, porque o sangue está sem oxigênio, com gás carbônico. 
O sangue venoso (com gás carbônico) é mais escuro, por isso que as manchas 
hipostásicas são mais visíveis nos asfixiados. São, também, mais precoces, porque, em 
decorrência do aumento da pressão, há um acúmulo muito maior de sangue nas 
extremidades. 
 
1.2.2. Cianose 
Face, rosto, parte alta do pescoço nos asfixiados são cianóticos. Em todos os 
casos de asfixia, percebe-se, na face, o sinal de cianose (roxidão). 
 
1.2.3. Equimose 
Manchas na pele e em algumas vísceras; em conseqüência do aumento da 
pressão, os vasos se rompem formando as manchas equimóticas. No pulmão, recebem o 
nome de Manchas de Tardieu. Alguns casos são também visíveis no coração (em 
 
 
 28 
crianças de pouca idade). 
 
1.2.4. Sangue não coagulado 
O sangue tende a não coagular, a permanecer fluido. 
 
1.2.5. Maior quantidade de sangue nos órgãos 
Órgãos que normalmente contêm sangue, como o fígado, ficam muito cheios. Esse 
mesmo aumento da pressão, durante a asfixia, pode provocar um aumento de sangue 
nos alvéolos dos pulmões e pode ocorrer ruptura de vasos dos alvéolos; por isso é 
comum a secreção sanguinolenta nos casos de asfixia. 
 
1.3. Asfixias por Modificação do Meio Ambiente 
 
1.3.1. Confinamento 
A modalidade mais comum de confinamento é o das pessoas que, num ambiente 
compartimentado, têm o sangue enriquecido por monóxido de carbono. Ex.: num comboio 
de trem a carvão, fechado sem oxigênio, o indivíduo morre asfixiado. 
A cor da hemoglobina é mais avermelhada. O sangue não tem a coloração forte 
das outras asfixias, porque não foi asfixiado com gás carbônico, mas com monóxido de 
carbono. 
Confinamentos podem ocorrer com grupos de pessoas num compartimento onde 
não há renovação do ar. As pessoas se asfixiam com o próprio gás carbônico: é a asfixia 
clássica. 
O confinamento pode se dar em ambientes em que a mistura atmosférica é pobre 
em oxigênio: confinamento por inadequação da mistura oxigenatória (ex.: cabine de 
avião). 
O confinamento em ambiente com gás também é outra causa de asfixia. 
 
1.3.2. Soterramento 
Soterramento é a asfixia no meio terroso. 
É uma asfixia clássica. Ocorre a sufocação direta, indireta, mais a imersão em meio 
não respirável (sólido). 
É possível , também, o soterramento em grãos (soja, trigo etc.). 
 
 
 29 
 
1.3.3. Afogamento 
Afogamento é a asfixia no meio líquido: pode ser água, tanque de coca-cola, álcool, 
gasolina etc. 
Num primeiro momento, o afogado tem a fase de surpresa: fica agitado e segura ao 
máximo a respiração. Quando não agüenta mais, respira profundamente inundando os 
pulmões de água. Entra em concussão e morte aparente. Após isso, o coração bate por 
mais ou menos 9 minutos. 
a) Sinais externos do afogamento 
• Baixa temperatura da pele: a temperatura da pele dos afogados é 
precocemente mais baixa (mais fria). 
• Pele anserina: a pele tem um aspecto chamado anserino - arrepiada pelo 
mecanismo pilo-eretor. Recebe o nome de Sinal de Bernt. 
• Contração de determinadas partes do corpo: os mamilos, a bolsa escrotal, 
pênis e clitóris são contraídos. 
• Maceração da pele palmar e plantar: a pele das mãos e dos pés ficam 
maceradas (enrugadas). A pele chega a descolar e permanece tão perfeita, 
destacada com tanta precisão (como uma luva), que é até possível colher as 
impressões digitais. 
• Máscara equimótica: o rosto fica preto, devido à quantidade de sangue 
acumulado. 
• Cogumelo de espuma: espuma branca ou rosada que sai da boca e dos 
orifícios nasais. A presença de cogumelo de espuma no cadáver, por si só, não 
confirma o diagnóstico da morte por afogamento. Nos casos de pneumonia, 
também pode ocorrer o cogumelo de espuma. 
• Lesões por animais aquáticos: são comuns nos afogamentos. Os animais têm 
predileção pelos lábios, pálpebras e nariz. O cadáver atacado pela fauna 
aquáticatem um aspecto mais ou menos uniforme. Esses sinais são bem 
característicos. 
b) Sinais internos de afogamento 
• Inundação das vias aéreas com líquido: as pessoas se afogam em vários tipos 
de líquido. A presença desses líquidos não deve ser, apenas, uma constatação 
pericial. Por meio do líquido pode-se analisar o meio aquático em que o 
indivíduo se afogou. Ex.: o indivíduo pode ter sido morto em uma banheira e ter 
o seu corpo jogado no mar. A presença do líquido serve, também, para 
esclarecer, exatamente, o lugar onde ocorreu o afogamento. Mesmo se 
tratando de afogamento em água doce com posterior remoção do cadáver para 
um rio, também de água doce, há diferenciação entre os líquidos. 
 
 
 30 
• Lesão dos pulmões: apresenta um pontilhado de manchas chamadas de 
manchas de Tardieu. Quando o processo de afogamento é mais demorado, 
essas manchas podem ser grandes, recebendo o nome de manchas de Pautalf. 
Quando o indivíduo aspira uma grande quantidade de água, rompem-se os 
alvéolos e o líquido passa pelo espaço intra-alveolar. Os pulmões, então, 
enchem-se de água, inchando-se. Isso se chama enfisema aquoso ou sinal de 
Brouardel. Nas mortes agônicas, os pulmões tornam-se extremamente 
estendidos. O pulmão adquire um volume maior, às expensas do líquido que 
está nas vias. A distensão dos pulmões não se dá só em virtude do líquido que 
está dentro dele, mas também porque o pulmão ainda estava cheio de ar. 
Forma-se, então, uma mistura borbulhante de água e ar. Isso explica o fato de 
que, ao retirar o cadáver da água, forma-se um cogumelo de espuma. A 
pressão atmosférica age na mistura de ar e água, formando o cogumelo. 
• Presença de líquidos no aparelho digestivo: o indivíduo também engole água, 
além de inspirá-la. A trompa de Eustáquio liga a faringe ao ouvido médio; nos 
afogamentos, há presença de líquido no ouvido médio, que chegou até lá pela 
trompa de Eustáquio. 
 
Um cadáver dentro da água, pela sua densidade, tende a afundar. Durante as 
primeiras 24 horas, o cadáver fica submerso, depois disso ele vem à tona, porque o 
processo da putrefação humana, na sua segunda fase, produz uma enorme quantidade 
de gases (fase gasosa). Esses gases fazem com que o cadáver venha para a superfície. 
Em um cadáver putrefato, a certeza de que ocorreu o afogamento é dada pela 
análise comparativa do sangue da aurícula direita e esquerda do coração. O sangue com 
oxigênio vai para a periferia. Num afogamento, a água passa para a pequena circulação e 
mistura-se com o sangue. Se for retirado sangue do lado direito do coração e sangue do 
lado esquerdo, que veio do pulmão, o sangue mais diluído será o da aurícula esquerda, 
que é aquele que veio da pequena circulação. O sangue que veio da aurícula direita será 
mais concentrado. Isso dará a certeza se houve ou não afogamento. 
Resumindo: se o sangue da aurícula esquerda estiver mais diluído, com certeza 
ocorreu o afogamento. 
Pela análise do sangue, pode-se, também, dizer em qual tipo de líquido ocorreu o 
afogamento. 
c) Mecanismos jurídicos da morte por afogamento 
Acidente, suicídio e homicídio. 
A hipótese de afogamento por acidente configura a maior parte dos casos. 
Tecnicamente, não existe suicídio por afogamento. É comum encontrar nesses 
afogados sinais de luta pela sobrevivência. Esses casos recebem o nome de suicídio 
acidental. 
Permanecido na água o morto por afogamento, quando retirado, há uma 
violentíssima aceleração do processo de putrefação. 
 
 
 31 
Nos cadáveres cuja pele não está íntegra, não há compartimentação de gases e é 
mais difícil de se encontrar o cadáver. 
 
1.4. Asfixia por Obstrução das Vias Aéreas 
 
1.4.1. Enforcamento 
Enforcamento é a constrição do pescoço por um instrumento chamado laço e a 
força que constrange é a do próprio indivíduo. 
No enforcamento, a força constritiva é o próprio peso do indivíduo. 15 kg são 
suficientes para que ocorra o enforcamento. 
No enforcamento e no estrangulamento, o laço que circunda o pescoço, levando o 
indivíduo à morte por asfixia, deixa uma marca característica, que se chama sulco. É uma 
marca, em baixo relevo, do material utilizado no laço que provocou o enforcamento, que 
desenha o instrumento que constringiu o pescoço, caracterizando o sulco. 
Além do sulco, embaixo da pele há lesões: hemorragias e fraturas em cartilagens, 
ruptura de vasos, nervos achatados e secção da artéria carótida, que recebe o nome de 
sinal de Amussat. 
Há dois tipos de enforcamento: 
a) Suspensão completa 
Quando há uma distância considerável entre o corpo e o chão. O corpo, 
verticalizado, fica solto no espaço, sem contato com o plano de sustentação. 
b) Suspensão incompleta 
Quando o corpo não fica inteiramente pendurado. Ex.: amarrar o laço numa janela. 
Nas asfixias por enforcamento, o mecanismo é misto, pois, além da constrição das 
vias respiratórias, constringe-se, também, a circulação sanguínea e o sistema nervoso 
que comanda a respiração e os batimentos cardíacos. 
c) Fases da morte por enforcamento 
• Fase da resistência: agitação; o indivíduo tem alucinações, visão turva, torpor, 
perda da consciência (quase coma). Essa fase dura de 40 a 80 segundos. 
• Fase da agitação: ausência de consciência, convulsões intensas, alterações na 
cor da pele, língua protusa, olhos esoftalmos. Essa fase dura de 3 a 5 minutos. 
• Fase de prostração ou morte aparente: o coração bate e essa fase pode durar 
até 10 minutos. 
No enforcamento, o sulco é oblíquo ascendente, tem profundidade variável, é 
interrompido no nó, fica por cima da cartilagem tireóidea. 
 
 
 32 
 
1.4.2. Estrangulamento 
No estrangulamento, que também é uma constrição por um laço, a força constritiva 
é externa. O que constringe é o laço, acionado por uma força externa, geralmente 
homicida. 
Para determinar se a causa da morte foi enforcamento ou estrangulamento, é 
necessária a análise das características do sulco deixado pelo laço. 
No estrangulamento, o sulco é horizontal, tem profundidade uniforme, não é 
interrompido e fica no meio do pescoço. 
 
1.4.3. Esganadura 
Esganadura é a constrição do pescoço por um membro do corpo humano: mãos, 
pés, cotovelos, joelhos. 
A esganadura é sempre um homicídio, porque a força constritiva será sempre um 
segmento do corpo humano. 
Na esganadura, sempre há disparidade de forças entre os sujeitos. 
 
1.5. Asfixias por Impedimento da Expansão do Tórax 
 
1.5.1. Sufocação indireta 
Diz respeito a todo e qualquer fenômeno que comprima o tórax, impedindo a sua 
expansão (ex.: acidente de veículos, homicídio, estouro de pessoas contra a parede, 
morte por pisoteamento contínuo entre os seres humanos). 
Há uma compressão do tórax, que impede a respiração, provocando a asfixia. 
 
1.5.2. Afundamento de tórax 
Fraturas múltiplas nas costas que bloqueiam a respiração, provocando a morte por 
asfixia. 
 
1.6. Asfixias por Paralisação dos Músculos Respiratórios 
 
1.6.1. Paralisia espástica 
 
 
 33 
É a contratura dos músculos. Ocorre nos casos de morte por eletroplessão. 
Alguns tóxicos também podem levar a esse estado. 
O tétano é também outra causa da paralisia espástica. 
Um veneno que leva a essa paralisia é a estricnina. 
1.6.2. Paralisia flácida 
A paralisia flácida é causada por substância vegetal, utilizada pelos índios da 
Amazônia, de nome curare. O curare é utilizado, também, nas anestesias. 
Outra hipótese remota, mas que também pode ocasionar paralisia flácida, é o 
traumatismo de medula (raquimedular). 
 
1.7. Asfixias por Parada Respiratória Central ou Cerebral 
 
1.7.1. Traumatismo crânio-encefálico 
O traumatismo crânio-encefálico pode ser ocasionado por uma pancada violenta na 
cabeça, que afunda o cérebro. Esse traumatismo lesa os centros de comandoe o 
indivíduo pára de respirar. 
 
1.7.2. Eletroplessão 
A carga elétrica leva à parada cerebral ocasionada por hemorragia das meninges, 
das paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal. 
 
1.8. Asfixias por Paralisia Central 
 
1.8.1. Depressão do sistema nervoso central 
É ocasionada por drogas que levam o sistema nervoso a parar. O modelo 
clássico inclui as substâncias barbitúricas, álcool e overdose por cocaína (asfixia 
por depressão do sistema nervoso central). 
Outras substâncias que podem produzir esse mesmo efeito são alguns 
tranqüilizantes. 
 
 
 
34 
 
1. LESÃO CORPORAL 
 
A lei penal distingue lesões corporais em três tipos: leves, graves e 
gravíssimas. 
As lesões classificam-se pelo resultado, não importando o seu lugar, o que as 
produziu ou qual sua extensão. Do ponto de vista médico-legal, as lesões são 
classificadas pelo resultado. 
A lei dispõe “se da lesão corporal resulta (...)” e relaciona quatro resultados que 
definem as lesões graves e cinco resultados que definem as lesões gravíssimas. Por 
exclusão, as lesões não definidas pela lei são consideradas leves. 
 
1.1. Lesões Corporais Graves 
 
1.1.1. Se da lesão corporal resultar incapacidade para as habitualidades ocupacionais por 
mais de trinta dias 
Ocupação habitual é tudo o que a pessoa faz, desde o nascimento até a morte. É 
mais do que o trabalho, embora também o inclua. O exame que comprova a incapacidade 
deve ser realizado no 30.º dia após a lesão. A incapacidade não precisa necessariamente 
ser absoluta. 
 
1.1.2. Se da lesão corporal resultar perigo de vida 
É a lesão que causa uma quase morte, que provoca uma periclitação vital. Não 
existe, legalmente, a expressão “risco de vida”. Risco é prognóstico e não existe em 
medicina legal. Perigo de vida é um momento, um instante, em que uma função vital 
periclitou (ex.: parada cardíaca, estado de coma, parada cerebral etc.). 
 
1.1.3. Se da lesão corporal resultar debilidade permanente de membro, sentido ou 
função 
• Membros: são os braços, antebraços, cotovelos, mãos, dedos, coxas, pernas e 
pés. 
• Sentidos: são a visão, audição, olfato, paladar e tato. 
• Função: é o conjunto de atividades de um ou mais órgãos, sistema ou aparelho 
que conduz a uma atividade padrão (ex.: função digestiva, função respiratória). 
• Debilidade: não é anulação da atividade, mas sim uma expressiva redução da 
mesma. 
• Permanente: quando cessam os meios habituais de tratamento ou recuperação. 
Meios habituais de tratamento são os meios rotineiros. 
 
 
 
35 
Exemplos: 
• debilidade permanente de membro: traumatismo no nervo do braço, devido ao qual 
o indivíduo fica com uma expressiva diminuição da força; 
• debilidade permanente de sentido: redução da audição por poluição sonora 
violenta; traumatismo ocular que produza descolamento da retina e o indivíduo 
tenha reduzida sua visão; 
• debilidade permanente de função: espancamento no rim, que ocasiona 
diminuição da função renal. 
 
1.1.4. Se da lesão corporal resultar antecipação do parto 
A lei protege o direito da mãe de gestar durante 40 semanas, ou do feto 
permanecer em gestação por 40 semanas. Se provocar antecipação e, 
conseqüentemente, a perda desse direito, a lesão corporal é considerada grave. 
 
1.2. Lesões corporais gravíssimas 
 
1.2.1. Se da lesão corporal resultar incapacidade permanente para o trabalho 
Permanente é a incapacidade que sobrevém no instante em que cessam os meios 
habituais de tratamento. A lei diz claramente que a incapacidade diz respeito a qualquer 
tipo de trabalho, e não somente para o trabalho especificamente exercido pela vítima. 
 
1.2.2. Se da lesão corporal resultar enfermidade incurável 
Incurável é aquilo que é definitivo, em face de processos normalmente utilizados 
para a cura. 
Enfermidade é uma anomalia, patologia permanente, resultante de um trauma 
externo (ex.: ferida penetrante no tórax que ocasiona lesão grave da pleura, produzindo 
uma aderência do pulmão à caixa torácica e diminuindo, assim, a capacidade 
respiratória do indivíduo). Quando resulta de fator interno, é chamada de doença. 
 
1.2.3. Se da lesão corporal resultar perda ou inutilização de membro, sentido ou 
função 
Nesse caso a graduação é maior do que na debilidade permanente (lesão 
grave). Perda é o zeramento das funções de um órgão, sua retirada, amputação, 
extração. 
Exemplos: 
• perda de membro: amputação de quaisquer dos quatro membros; 
• perda de sentido: enucleação (extração) do globo ocular; 
• perda de função: pancada no rosto que arranca todos os dentes, perdendo a 
função mastigadora; 
 
 
 
36 
• inutilização de membro: traumatismo sob o plexo braquial 
(embaixo do braço), com secção de nervo, inutilizando o braço; 
• inutilização de sentido: cegueira dos dois olhos; 
• inutilização de função: traumatismo em bolsa escrotal que inutilize a função 
reprodutora. 
A questão da visão tem uma outra conotação. Quando o indivíduo enxerga com os 
dois olhos, não apenas enxerga o que tem que enxergar, como também possui uma 
especialização na função da visão, chamada de função estereostática (visão em 
profundidade). Alguns peritos admitem que a cegueira total de um só olho não é somente 
uma debilidade do sentido da visão, mas constituiria uma inutilização da função 
estereostática. A surdez total unilateral retira do indivíduo a audição estereofônica: ele 
não consegue direcionar exatamente de onde vem o som. Alguns peritos admitem que a 
surdez total unilateral constitui uma inutilização da audição espacial, do sentido direcional 
da audição. 
No caso de órgãos duplos – mas independentes dos sentidos (como os rins) –,se 
somente um deles é atingido, mesmo que resulte em extração, entende-se como lesão 
grave que causa debilidade, e não como lesão gravíssima. 
 
1.2.4. Se da lesão corporal resultar deformidade permanente 
Duas coisas estão envolvidas: o caráter permanente e a aparência. O conceito 
enfocado é o de gerar repugnância pela perda de harmonia e não pelo feio ou bonito. 
Esse conceito varia de pessoa para pessoa, de acordo com o sexo, idade, profissão, 
cultura. A questão da aparência há que ser vista no contexto cultural em que o indivíduo 
vive. Cicatrizes, alterações de formas, desvios, claudicações expressivas, tudo isso 
poderá constituir uma deformidade permanente, desde que seja aparente e afete o modo 
de vida da pessoa. A deformidade permanente pode ter um resultado devastador na vida 
do indivíduo, pois estigmatiza, deforma a personalidade, a conduta e o comportamento de 
seu portador. 
 
1.2.5. Se da lesão corporal resultar aborto 
Aborto é a morte fetal. Se da lesão corporal resultar aborto, independentemente da 
intenção (dolo ou culpa), é lesão corporal de natureza gravíssima. Tudo aquilo que 
provoca a destruição, a partir do instante da fecundação até o minuto que antecede o 
parto, constitui aborto. 
 
1.3. Concausas 
Para todas as hipóteses de lesão exige-se uma clara e inequívoca relação de 
causalidade entre o agente determinante e o resultado. 
Nem sempre isso ocorre, podendo acontecer as concausas, que modificam o 
resultado ao arrepio da vontade do autor. 
Concausa é o conjunto de fatores, preexistentes ou supervenientes, suscetíveis de 
modificar o curso natural do resultado de uma lesão.37 
 
1.3.1. Concausas preexistentes 
São aquelas que já existiam antes da lesão e são capazes de modificar o 
resultado. As concausas preexistentes são classificadas em anatômicas, fisiológicas e 
patológicas. 
a) Concausas preexistentes anatômicas 
São anomalias congênitas (má formação), como a patologia cistus inversus (órgãos 
do lado contrário). 
b) Concausas preexistentes fisiológicas 
Referem-se ao estado de funcionamento, no momento da lesão, de determinado 
órgão (ex.: o sujeito está com a bexiga cheia; se houver trauma pode estourar a bexiga, 
ao passo que se ela estivesse vazia, esse mesmo trauma não a afetaria; mudança de 
resultado em razão de uma concausa preexistente de origem fisiológica. Gravidez: no 
início é impossível saber). 
c) Concausas preexistentes patológicas 
São os casos de hemofilia, diabetes, aneurisma etc. 
 
1.3.2. Concausas supervenientes 
Ocorrem depois, com o agravamento. Podem envolver imperícia, negligência, 
imprudência, infecções etc. 
 
 
1. SEXOLOGIA CRIMINAL 
 
Em vários pontos do Código Civil, do Código Penal ou Código de Processo Penal 
aparecem alguns aspectos ligados à sexologia humana e, em muitos desses aspectos, está 
embutida a questão pericial. 
 
1.1. Conceito Médico-Legal de Mulher Virgem 
Mulher virgem é aquela em relação à qual não se prova experiência sexual anterior. 
Dispõe o art. 217 do Código Penal: “Seduzir mulher virgem, menor de 18 (dezoito) anos 
e maior de 14 (catorze) e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência 
ou justificável confiança. Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos”. 
Inexperiência quer dizer alheamento, falta de conhecimento do que seja conjunção 
carnal. 
Para que haja justificável confiança, deve existir uma relação suficientemente longa e 
duradoura, estável e equilibrada, sobre a qual possa ser expedida uma sensação de confiar no 
parceiro a ponto de se ter com ele uma conjunção carnal. 
 
1.2. Conjunção Carnal 
Conjunção carnal é a cópula vagínica, a contactação pênis/vagina (intromissio penis). O 
que envolve aspectos da libido não faz parte do crime de sedução, configurando os atos 
libidinosos, que são diferentes da conjunção carnal. A prova da conjunção carnal é definitiva 
para a tipificação do crime. 
 
1.2.1. Prova da conjunção carnal 
A prova da conjunção carnal é feita por meio da observação de ruptura ou não do 
hímen. 
A anatomia feminina, vista de frente, na região perineal, envolve estrutura composta de 
pequenos lábios, grandes lábios, intróito vaginal, fúrcula vaginal, orifício uretral, clitóris e, 
implantada na parede da vagina, a presença de uma película membranosa ou rugosa chamada 
hímen. Essa membrana tem uma anatomia extremamente variável nos seres humanos. Há 
desde mulheres que, congenitamente, nascem com ausência de hímen, até mulheres que têm 
himens que fecham a cavidade vaginal. 
Existem vários tipos de himens: 
• anular: tem uma borda que se implanta na vagina, chamada borda vaginal; 
 
 
• semilunar: orifício labiado, bilabiado, com duas fendas cribiformes (pequenos 
orifícios). 
 
Em cada tipo temos himens com óstio ou orifício pequeno, médio ou grande. 
Na maioria das vezes a borda tem certas ondulações, de tal modo que o diâmetro do 
óstio, em repouso, sem ser tracionado, é um; uma vez tracionado, ele se apresenta maior. O 
diâmetro do orifício, devido a sua ondulação, apresenta-se de uma maneira; se forem esticadas 
todas as ondulações, esse diâmetro se apresentará de maneira diferente. 
Em 80% dos casos, nas mulheres com himens mais comuns, tendo havido uma 
penetração com o pênis, há rompimento da membrana. 
O diâmetro, pela ruptura, torna-se suficientemente largo, permitindo o acesso do pênis 
no interior da vagina. Face às características da irrigação sanguínea do hímen, ele se rompe e 
permanece roto, cicatrizando-se a borda da ruptura, mas não se refazendo. Até o 15.º dia da 
conjunção, as bordas sangram; após esse tempo, as bordas se cicatrizam. 
O tecido vai se atrofiando até que, após algum tempo, os fragmentos são reduzidos a 
meros nódulos na parede vaginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As rupturas 
estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. Em alguns livros podemos encontrar a 
terminologia “ruptura incompleta”, que significa que o hímen rompeu, mas a ruptura não foi até 
a borda vaginal. 
Em algumas mulheres pode haver uma configuração do hímen que se apresenta com o 
óstio bastante irregular, cujas ondulações se aproximam bastante da borda vaginal. Quando 
essas ondulações são mais pronunciadas, recebem o nome de “entalhes”. 
Na medida em que os entalhes se estendem até muito próximo da borda vaginal, 
quando nos deparamos com rupturas himenais já totalmente cicatrizadas, poderá surgir a 
necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial entre o que é ruptura e o que é entalhe. 
 
1.2.2. Diferenças entre entalhes e ruptura de hímen 
O diagnóstico é feito de três maneiras: 
• os entalhes não se estendem até as bordas da vagina, as rupturas, sim; 
• as bordas da ruptura se coaptam (se encaixam); as bordas do entalhe não se 
coaptam porque jamais pertenceram a um mesmo plano; 
• as bordas da ruptura apresentam uma cicatriz; as bordas dos entalhes são do 
mesmo tecido do hímen. Sob luz ultravioleta, as que forem bordas cicatriciais 
(ruptura) apresentar-se-ão pálidas; as que forem bordas de entalhes apresentar-se-
ão mais vermelhas, tendo em vista a maior irrigação. 
 
 
Essas três diferenças são fundamentais para diferenciar ruptura de entalhe. 
 
1.2.3. Local de ruptura 
É muito importante, num laudo pericial, que qualquer pessoa que leia o laudo possa 
saber em que parte do hímen ocorreu a ruptura. Existem alguns parâmetros para identificar 
em que parte do hímen se encontram as rupturas. 
Antigamente, adotava-se a nomenclatura do mostrador de relógio (ex.: ruptura 2 horas). 
Hoje, divide-se a cavidade vaginal em quatro quadrantes – superior direito, superior esquerdo, 
inferior direito e inferior esquerdo. Pelos quadrantes, tem-se oito pontos para descrever o local 
da ruptura no laudo (quatro quadrantes e quatro junções). 
A preocupação em descrever o local da ruptura é importante, pois, em 97% dos casos, 
quando os parceiros se encontram em posição normal, as rupturas ocorrem nos quadrantes 
inferiores ou na junção dos dois quadrantes inferiores. 
As rupturas em quadrantes superiores, em princípio, podem ser produto de 
manipulação, de trauma, ou de coitos com o parceiro em posição vertical. Rupturas por 
manobras masturbatórias só ocorrem nos quadrantes superiores. 
 
1.2.4. Tempo da ruptura 
• Recentíssima: ocorreu há poucas horas, as bordas estão sangrantes. 
• Recente: em cicatrização, ocorreu até 15 dias atrás. 
• Não recente: ocorreu há mais de 15 dias. 
 
1.2.5. Razões para não ocorrer a ruptura após a conjunção carnal 
Até 22% das mulheres podem ter conjunção carnal sem apresentar o fenômeno da 
ruptura; isso recebe o nome de complacência. 
Poderá ocorrer ainda: 
• Ausência de hímen (casos muito raros). 
• Óstios himenais de grande diâmetro. 
• Hímen dotado de muitos entalhes que, quando submetidos a uma tensão, produzem um 
diâmetro significativo que permite a cópula. 
• Himens dotados de extraordinária elasticidade, ainda que sem óstio grande. 
 
 
• O estado de lubrificação vaginal, que aparece no estado de excitação pré-conjunção. A 
lubrificação também reduz o atrito e diminui a perspectiva de ruptura do hímen. Podem 
ocorrer situações em que a mulher tem uma vivência sexual ativa sem a ruptura do hímen 
e, quando vítima de uma situação de estupro, pela situação de estresse causada, não 
havendo lubrificação, ocorre a ruptura. O que leva à ruptura não é a violência em si, mas a 
ausência de lubrificação.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes