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Crime de Colarinho Branco - Sutherland

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Prévia do material em texto

Edwin H. Sutherland
CRIME DE 
COLARINHO BRANCO
Versão sem cortes
Editora Revan
Coleção Pensamento Criminológico
Edwin H. Sutherland
CRIME DE 
COLARINHO BRANCO
Versão sem cortes
Tradução, apresentação e notas: Clécio Lemos 
Auxiliares: Júlia Bragatto e Hélio Peixoto Júnior
Editora Revan
Direção
Prof. Dr. Nilo Batista
© 2012 Instituto Carioca de Criminologia
Rua Senador Dantas, 75 Cob. 2 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
Tel: (21) 3970-3383 – criminologia@icc-rio.org.br
Produção gráfica e distribuição
Editora Revan
Av. Paulo de Frontin, 163
CEP: 20260-010 – Rio de Janeiro – RJ
tel: (21) 2502 7495 fax: (21) 2273 6873
editor@revan.com.br – www.revan.com.br
Projeto de capa
Luiz Fernando Gerhardt
Revisão
Cristina Freixinho
Roberto Teixeira
Cip-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Rj 
S967c
Sutherland, Edwin H.
Crime de colarinho branco: versão sem cortes / Edwin H. 
Sutherland; tradução Clécio Lemos. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Revan, 
2015.
416 p. ; 21 cm.
Tradução de: Withe collar crime: the uncut version
ISBN 9788571065291
1. Corrupção na política. 2. Suborno. 3. Crime do colarinho 
branco. I. Título.
15-20496 CDU: 343.37
02/03/2015 03/03/2015
Sumário
APRESENTAÇÃO / 7
PARTE I – Introdução / 25
Capítulo 1: O problema do crime de colarinho branco / 27
PARTE II – Registros de setenta grandes empresas / 39
Capítulo 2: As estatísticas / 41
Capítulo 3: Histórias de três casos / 57
Capítulo 4: O “crime de colarinho branco” é crime? / 83
Capítulo 5: Restrição de comércio / 109
Capítulo 6: Rebates / 151
Capítulo 7: Patentes, marcas e direitos autorais / 159
Capítulo 8: Propaganda enganosa / 191
Capítulo 9: Violação de direitos trabalhistas / 209
Capítulo 10: Manipulações financeiras / 235
Capítulo 11: Crimes de guerra / 263
Capítulo 12: Diversas violações da lei / 289
6
PARTE III – Empresas prestadoras de serviço 
de utilidade pública / 297
Capítulo 13: Registros de quinze empresas de energia e 
luz / 299
PARTE IV – Interpretação / 331
Capítulo 14: Crime de colarinho branco como crime 
organizado / 333
Capítulo 15: Uma teoria dos crimes de colarinho 
branco / 351
Capítulo 16: Variações nos crimes empresariais / 377
NOTAS / 387
APRESENTAÇÃO
Fui convidado pelo professor Nilo Batista a realizar a 
tradução do livro White Collar Crime ainda no mês de março 
de 2012, quando ele e a querida Vera Malaguti Batista esta-
vam em Vitória por advento de uma mesa de palestras sobre 
criminologia que eu estava coordenando na Universidade 
Federal do Espírito Santo (UFES).
Nilo foi meu orientador de dissertação no mestrado 
em Direito Penal da Universidade do Estado do Rio de Janei-
ro (UERJ), e um convite de tal magnitude, vindo da minha 
maior referência acadêmica, foi absolutamente irrecusável. Já 
no final do ano de 2012 a Editora Revan sinalizou a autori-
zação para que fosse realizada a tradução, de forma que me 
pus a encarar o desafio.
Dada a complexidade da obra e da tradução, con-
videi dois dos meus melhores alunos da disciplina de Cri-
minologia para que realizassem o trabalho comigo. Assim 
foi que eu, Júlia Bragatto e Helio Peixoto Júnior passamos 
a compartilhar a grande responsabilidade de trazer ao pú-
blico brasileiro uma obra tão importante para a história dos 
pensamentos criminológicos. A tradução foi produzida ao 
longo dos anos de 2013 e 2014, tendo contado ainda com 
os auxílios fundamentais de Gabriel Rocha Venturim quanto 
aos termos de Economia.
8
Ler e traduzir a obra-prima de Sutherland significou 
também adentrar o mundo do autor. Logo, parece-me im-
portante situar historicamente a criatura e o criador, para o 
bem do próprio entendimento da genuína contribuição que 
o livro efetivamente realizou.
1. O autor e suas obras
Edwin Hardin Sutherland (1883-1950) iniciou seus 
estudos de graduação com o objetivo de se tornar um histo-
riador, sob nítida influência do fato de que seu próprio pai 
era professor de História. No ano de 1906 decidiu mudar o 
foco de estudo e conseguiu ingressar no prestigiado curso 
de Sociologia da Universidade de Chicago.
Sua atividade como docente teve o seguinte percur-
so: William Jewell College de Missouri (1913-1919), University 
of Illinois (1919-1926), University of Minnesota (1926-1929), 
University of Chicago (1930-1935) e Indiana University (1935-
1949), tendo sido também professor visitante em universida-
des de outros estados, tais como Kansas e Washington.*
O objeto de seus estudos científicos não tinha ini-
cialmente ligação com a questão criminal, bastando lembrar 
que sua tese de doutoramento foi sobre desemprego (Unem-
ployment and Public Employment Agencies), finalizada na 
Universidade de Chicago no ano de 1913.
Seu primeiro trabalho sobre sociologia da delinqu-
ência chamou-se “Criminologia” (Criminology – 1924), obra 
escrita a pedido do catedrático E. C. Hayes, quando já estava 
trabalhando em Illinois. Hayes era o editor-chefe dos livros 
de sociologia da J. B. Lippincott e foi o principal responsável 
* Disponível em: <http://www2.asanet.org/governance/suther-
land.html>. Acesso em: 27 fev. 2014. (N. do T.)
9
pela mudança do foco de estudo de Sutherland em direção 
à questão penal.*
No verão de 1930, Sutherland teve a experiência de 
visitar presídios na Europa (principalmente Inglaterra e pe-
nínsula escandinávia), o que acabou surtindo efeitos em seu 
pensamento e resultou em um artigo intitulado “A prisão 
como um laboratório criminológico” (The Prison as a Crimi-
nological Laborary – 1931). A comparação com a realidade 
dos presídios estadunidenses parece ter assumido grande 
relevância para seu entendimento político da realidade cri-
minal.
A obra que reúne suas principais concepções na 
tentativa de explicar os processos de formação delinquente 
recebe o nome de “Princípios de Criminologia” (Principles 
of Criminology), cuja primeira edição é de 1934. Havia ali 
nitidamente a semente do que seria sua grande teoria.
Os rumos de sua pesquisa passaram a se relacionar 
com a criminalidade dos ricos sobretudo a partir de um 
estudo biográfico, aparentemente influenciado pelo sucesso 
do livro The Jack-Roller (1930), escrito por Clifford R. Shaw. 
Em 1932 a Universidade de Chicago decide pagar US$ 100 
mensais, pelo período de três meses, para que Broadway 
Jones narrasse a Sutherland sua carreira criminosa. Sob o 
pseudônimo de Chic Conwell, as falas desse homem bem-
-vestido, portador da melhor etiqueta de sua sociedade e de 
oratória eloquente, seriam então a base para que Sutherland 
escrevesse o livro “O Ladrão Profissional” (The Professional 
Thief – 1937).
Sutherland anuncia seu interesse por uma investiga-
ção de maior fôlego sobre crimes das classes poderosas no 
momento em que assume a cadeira de presidente da Socie-
* Ver no site da Florida State University dedicado ao autor. Dis-
ponível em: <http://criminology.fsu.edu/ crimtheory/suther-
land.html>. Acesso em: 20 fev. 2014. (N. do T.)
10
dade Sociológica Americana (American Sociological Society), 
entidade máxima que congregava os sociólogos do país.* No 
momento de sua posse em 1939, o autor profere uma his-
tórica palestra perante seus pares sob o título “O criminoso 
de colarinho branco” (The White Collar Criminal), que seria 
publicada na forma de artigo no ano seguinte pela revista 
American Sociological Review com o nome de “Criminalida-
de de colarinho branco” (White-collar Criminality**).
Foi neste mesmo ano de 1939 que Sutherland lançou 
a terceira edição do seu livro “Princípios de criminologia”, 
obra que organiza as bases fundamentais da sua principal 
premissa científica: Teoria da Associação Diferencial. Os es-
tudos sobre a criminalidade dos poderosos produziram forte 
influência na sua mudança deperspectiva teórica, e desco-
brir o desvio criminoso em meio ao colarinho branco forçou 
uma remodelagem de sua visão geral da delinquência.
Finalmente, Sutherland lança para a comunidade 
científica o que seria seu último livro: “Crime de colarinho 
branco” (White Collar Crime – 1949). Resultado de 17 anos 
de pesquisa, o livro congregou dados cuidadosamente reco-
lhidos sobre as práticas criminosas das 70 maiores empresas 
norte-americanas da época. A larga coleta das evidências 
que deram suporte ao trabalho, tais como a pesquisa de 
decisões judiciais e administrativas, só foi possível mediante 
* Tal interesse de Sutherland teve forte influência em Thorstein 
Veblen, sociólogo que escreveu The Theory of Business En-
terprise (A teoria dos negócios comerciais – 1904). Este autor 
é inclusive citado logo no início do título 4 (Interpretação) do 
presente livro para estabelecer uma comparação entre empre-
sários criminosos e o ladrão clássico. (N. do T.)
** American Sociological Review, Vol. 5, Nº 1 (Feb., 1940), p. 1-12. 
(N. do T.)
11
a concessão de bolsas no valor de US$ 60,00 mensais pela 
Universidade de Indiana a alguns alunos da graduação.*
Um drama especial deve aqui ser destacado. Nas vés-
peras da tão esperada publicação da obra, a Editora Dryden 
Press convocou o autor e pediu para que a obra omitisse os 
nomes das empresas investigadas, naturalmente por conta 
do receio de ações judiciais. O mesmo pedido acaba vindo 
da Universidade de Indiana, supõe-se pelo medo de que a 
repercussão da obra pudesse afetar as doações privadas que 
custeavam a universidade.**
Por esse motivo, o autor se vê praticamente forçado a 
consentir com a censura, e a edição é publicada substituindo 
os nomes das empresas por números, ou por vezes sim-
plesmente suprimindo os nomes das empresas no corpo do 
texto, retirando alguns parágrafos e excluindo por completo 
o capítulo 3 (Three Case Histories).
Talvez para justificar tal supressão, consta na versão 
original da obra um breve prefácio do autor indicando su-
postamente dois motivos pelos quais os nomes das empre-
sas foram ocultados, são eles: 1) a necessidade de se ocultar 
em trabalhos científicos a identidade de delinquentes vivos; 
2) que o objetivo do livro era desenvolver a teoria da con-
duta delitiva, e tal intento seria mais bem alcançado sem 
dirigir atenção de forma acusatória contra as condutas das 
empresas analisadas.***
* Narro esse fato especialmente para que o leitor não esqueça 
que grandes obras geralmente possuem direta ligação com in-
vestimento econômico em pesquisa dentro das universidades, 
algo raro na Criminologia brasileira. (N. do T.)
** Ver na introdução da edição norte-americana de 1983, feita por 
Gilbert Geis e Colin Goff, p. 10. (N. do T.)
*** SUTHERLAND, Edwin H. White Collar Crime. Nova York: Dry-
den Press, 1949. (N. do T.)
12
Tal censura durou até o ano de 1983, quando a Yale 
University Press decide quebrar o sigilo e publicar “a versão 
sem cortes” (the uncut version), sobre a qual recai a presente 
tradução.
A versão completa é dividida em quatro partes: 1) 
Introdução; 2) Registros de setenta grandes empresas; 3) Em-
presas de utilidade pública; 4) Interpretação. Cerca de 75% 
do livro se concentram na Segunda e Terceira partes, que 
são justamente os responsáveis por indicar os números con-
cretos que comprovam o volume e o estilo da criminalidade 
de colarinho branco no país. A Quarta parte é uma conclu-
são teórica que invoca sua percepção sobre as mudanças de 
paradigmas às quais a Criminologia teria que se submeter a 
partir das constatações que ele estava apresentando.
Cabe alertar o leitor de que o conceito de “crime de 
colarinho branco” proposto pelo autor não está exclusiva-
mente relacionado a crimes econômicos. A definição por ele 
apresentada é composta por dois elementos cumulativos: a 
condição pessoal do agente (deve ser “pessoa de respeita-
bilidade e alto status social”) e o caráter do ato criminoso 
(deve ser praticado “no curso de sua atividade”).*
Sutherland faleceu em 1950, no ano posterior à pu-
blicação da 1ª edição da presente obra, deixando um claro 
legado para os criminólogos do porvir.
2. O legado de Sutherland para a Criminologia
Segundo os autores da apresentação da versão norte-
-americana de 1983, o presente livro trouxe três grandes 
* Na introdução da edição norte-americana, os autores recordam 
que Sutherland chegou a indicar num artigo denominado “Cri-
me e Negócios” (Crime and Business, 1941) que um homicí-
dio praticado por um empresário em certo conflito envolvendo 
greve em sua empresa também poderia ser considerado crime 
de colarinho branco (p. 19). (N. do T.)
13
contribuições para o campo criminológico: 1) ajudou a re-
finar o conceito de crime de colarinho branco a partir das 
novas descobertas; 2) atraiu a atenção de estudiosos para 
investigar essa nova área de pesquisa; 3) trouxe um vigoroso 
debate sobre as causas da criminalidade, elevando o nível 
de sofisticação das teorias sobre a conduta criminosa.*
Inegavelmente, foi Sutherland quem tornou popular 
a expressão “crime de colarinho branco”, e isso por si só já 
pode ser considerado uma contribuição, na medida em que 
trouxe ao público (pesquisadores ou não) uma percepção 
que não poderia ser mais ignorada sobre as práticas perpe-
tradas pelos poderosos.
O autor não indica na obra, nem nos artigos que 
o precederam o motivo da expressão “colarinho branco”. 
Todavia, historicamente sabe-se que as indústrias possuíam 
uma divisão entre os portadores de colarinho azul (trabalha-
dores braçais, operários) e os de colarinho branco (trabalha-
dores intelectuais, da classe social mais privilegiada). Assim, 
a linguagem cotidiana passou a relacionar tais cores como 
representação das duas classes envolvidas.
Os estudos sobre crimes de colarinho branco foram 
os principais responsáveis pela modificação de alguns limi-
tes da mais famosa teoria sociológica de Sutherland. Na 4ª 
edição da obra Princípios de Criminologia** (1947), Edwin Su-
therland reformou suas considerações sobre o aprendizado 
criminoso, dando vazão aos seus famosos nove princípios 
da Teoria da Associação Diferencial:
* Introdução da edição norte-americana de 1983, feita por Gil-
bert Geis e Colin Goff, p. 29. (N. do T.)
** A obra atualmente se encontra na 11ª edição, contando com 
a contribuição também de David F. Luckenbill, publicada pela 
Editora General Hall. (N. do T.)
14
1. A conduta criminosa se aprende, como qualquer outra 
atividade.
2. O aprendizado se produz por interação com outras pes-
soas em um processo de comunicação.
3. A parte mais importante do aprendizado tem lugar den-
tro dos grupos pessoais íntimos;
4. O aprendizado do comportamento criminoso abrange 
tanto as técnicas para cometer o crime, que às vezes 
são muito complicadas e outras, muito simples, quanto 
a direção específica dos motivos, atitudes, impulsos e 
racionalizações.
5. A direção específica dos motivos e impulsos se aprende 
de definições favoráveis ou desfavoráveis a elas.
6. Uma pessoa se torna delinquente por efeito de um exces-
so de definições favoráveis à violação da lei, que predo-
minam sobre as definições desfavoráveis a essa violação.
7. As associações diferenciais podem variar tanto em frequ-
ência como em prioridade, duração e intensidade.
8. O processo de aprendizagem do comportamento cri-
minoso por meio da associação com pautas criminais 
e anticriminais compreende os mesmos mecanismos 
abrangidos por qualquer outra aprendizagem.
9. Se o comportamento criminoso é expressão de necessi-
dades e valores gerais, não se explica por estes, posto 
que o comportamento não criminoso também é expres-
são dos mesmos valores e necessidades.*
 A teoria é altamente impactante na comunidade cri-
minológica. Se fosse possível sintetizarsua contribuição, de-
veríamos afirmar que o mesmo enfrentou basicamente dois 
grandes paradigmas das ditas “causas patológicas” da crimi-
* SUTHERLAND, Edwin. Principles of criminology. 4th ed. Fila-
délfia: Lippincott, 1947. (N. do T.)
15
nalidade: 1) as patologias sociais, e 2) as patologias pessoais 
(biológica ou psicológica).
As descobertas advindas de seus estudos sobre cri-
mes de colarinho branco foram o toque final na produção 
de sua teoria da conduta criminosa, que pretendia explicar 
os motivos da adesão a todo e qualquer tipo de crime. Por 
isso, investigar o criminoso de alto status social proporcio-
nou um giro necessário nas pesquisas tradicionais, que es-
tavam restritas aos crimes praticados por pessoas da classe 
socioeconômica mais desfavorecida.
Uma das primeiras constatações que ele apresenta 
no livro é que seu estudo sobre a prática criminosa não 
ficaria limitado às pessoas efetivamente processadas e con-
denadas, tal como o senso jurídico exige. Era preciso fugir 
do perigo que é vincular o estudo do criminoso ao estudo 
dos selecionados pelo sistema, pois obviamente a prática 
criminosa existe mesmo quando o agente permanece fora 
das estatísticas oficiais.
Aliás, tal propósito de explorar a cifra oculta é um 
grande mérito da obra de Sutherland, possibilitando a refle-
xão sobre os processos de criminalização. O autor descobre 
que a criminalidade dos poderosos era tão ou mais frequen-
te que a criminalidade dos pobres, produzindo-se em regra 
de forma contínua e organizada. Organizada a ponto de ter 
uma série de maneiras de escapar das garras do sistema 
penal.
A pobreza era um dado constante em todas as pes-
quisas da gênese criminosa. Mesmo os estudos ecológicos 
da Escola de Chicago, que já tinham a vantagem de superar 
as clássicas pesquisas envolvendo os reclusos do sistema 
penitenciário, ainda sustentavam o fato de que a criminali-
dade era bem mais frequente nos cinturões de pobreza das 
grandes metrópoles. Preservavam, de alguma forma, a ideia 
de patologia social.
16
A quebra de tais perspectivas só foi possível com 
uma mudança metodológica. A pesquisa de Sutherland utili-
zou também como base de dados os acordos extrajudiciais, 
as decisões administrativas, os processos extintos sem jul-
gamento de mérito, os comunicados internos das empresas, 
enfim, todas aquelas informações que levavam à existência 
de práticas criminosas mesmo que não oficialmente declara-
das por meio de sentenças definitivas.
Logo ele percebeu que havia uma longa estratégia 
de poder que excluía o colarinho branco da etiqueta penal. 
A começar pela forma com que são elaboradas as leis, pas-
sando pela atuação parcimoniosa das atividades policiais, 
até chegar à análise diferenciada do poder judiciário. Os 
dados não podiam levar a outra conclusão senão a de que 
o sistema como um todo funcionava para tratar de forma 
completamente distinta o criminoso das altas cifras. O crime 
da “high-society” não era objeto de censura social e oficial, 
ainda que sua atuação fosse formalmente criminosa e afe-
tasse de forma bem relevante a organização econômica e 
ética do país.
Fugindo dos estudos criminológicos que sempre gra-
vitaram em torno de crimes patrimoniais, tráfico de drogas 
e homicídios, o autor se concentra principalmente em sete 
tipos de crimes: restrição de comércio, uso de rebate, viola-
ção de direitos autorais, propaganda enganosa, violação de 
direitos trabalhistas, manipulação financeira e violação das 
leis de guerra.
Nenhum desses crimes está relacionado com con-
dições econômicas negativas. Muito pelo contrário, tais 
condutas conduziram as empresas investigadas ao ápice do 
sucesso no mercado, e foram praticadas por pessoas que 
não passavam por penúria financeira ou qualquer necessi-
dade especial de dinheiro. Era o fim, portanto, da relação 
etiológica entre crime e pobreza.
17
Mas a pesquisa também afronta o paradigma crimi-
nológico da patologia pessoal. Veja-se que todos os crimi-
nosos envolvidos representavam o mais alto status pessoal 
desejado, tidos como figuras de alta performance perante 
o povo estadunidense. Enfim, não apresentavam traços de 
inferioridade moral ou déficit biopsicológico.
No livro em que Sutherland foi escolhido como um 
dos 50 principais pensadores da história da Criminologia, 
ressalta-se que ele se preocupava especialmente com a 
necessidade de superar as tentativas de explicação da cri-
minalidade por meio da patologia nata, tendo escrito dois 
artigos sobre a questão: “Deficiência mental e crime” (1931) 
e “As leis do psicopata sexual” (1950). Ambos os trabalhos 
reforçam o pressuposto sociológico do autor, fixando suas 
premissas de que a debilidade mental não pode ser o fator 
determinante das práticas criminosas.*
Algumas crenças em torno da patologia pessoal, tí-
picas do positivismo criminológico, eram tão presentes na-
quela época (quiçá ainda hoje) que o autor chegou mesmo 
a testar a hipótese de variações entre os tipos de homens 
de negócios e os tipos de condutas criminosas praticadas 
pelas empresas. Suas conclusões sobre esse ponto são bem 
claras: 1) empresas praticavam certos crimes e se abstinham 
de outras práticas criminosas a variar com o ramo em que 
atuavam, mesmo quando seus gestores eram exatamente os 
mesmos; 2) executivos com personalidades distintas acaba-
vam praticando os mesmos crimes quando estavam num 
mesmo ramo empresarial. Conclusão: as variações entre os 
crimes praticados estavam relacionadas principalmente com 
a posição que a empresa ocupava na estrutura econômica, e 
não com os tipos de pessoas que estavam na sua dianteira.
* Hayward, Keith; Shadd, Maruna; Mooney, Jayne (org.). Fifty key 
thinkers in criminology, Nova York: Routledge, 2010, p. 69. (N. 
do T.)
18
Nenhum homem de negócios é reconhecido como 
portador de desvio de caráter, seja nato ou adquirido, eis 
que ocupa posição de alta aceitação social e é valorizado 
como alguém profundamente capaz no mercado de traba-
lho. Todavia, segundo os dados de Sutherland, raros eram 
aqueles que não praticavam crimes no exercício de suas ati-
vidades rotineiras.
A demonstração do alto volume de crimes praticados 
pela classe alta, e o consequente corte no amálgama entre 
pobreza e gênese criminosa, também repercutiu nas teorias 
da patologia pessoal, pois o imaginário em torno da figura 
delinquente não raro indicava que a pobreza era propria-
mente uma decorrência de condições individuais inferiores. 
Em outras palavras, faz parte dos discursos legitimantes po-
sitivistas certa relação de causalidade entre sucesso profis-
sional e perfil biológico, de maneira que o sujeito em tese 
só se encontra na condição de penúria financeira justamente 
porque não traz consigo uma estrutura nata que o torne ca-
paz de se destacar no mercado.
Enfim, a descoberta de Sutherland faz cair por terra 
mais um dos capítulos do ideário capitalista do estilo “que 
vença o melhor”, segundo o qual a mão invisível do merca-
do produz a seleção natural das mentes mais socialmente 
úteis. Os mais ricos da sociedade também estavam inteira-
mente implicados em atos criminosos, e a divulgação de tal 
evidência eliminava a ligação entre delinquência – fracasso 
profissional – inferioridade pessoal.
Vale lembrar que uma das principais premissas da 
teoria de Sutherland está em que o comportamento ilícito 
é aprendido exatamente da mesma forma que o comporta-
mento lícito (teses nº 8 e 9). Assim sendo, nada há no campo 
estritamente individual que possa diferenciar o criminoso do 
não criminoso, pois ambos partem dos mesmos mecanis-
19
mos humanos, apenas assumindo papéis em conformidade 
com as influências comunicativas que recebem.*
Há vários indicativos ao longo do livro informando 
que os crimes de colarinho branco geravam graves conse-
quências na organizaçãosocial dos EUA. São citados crimes 
cujo valor isolado do prejuízo causado ao Estado ou a uma 
empresa representava cifra superior à somatória de todos 
os crimes patrimoniais ordinários (roubos, furtos, extorsões, 
estelionatos) cometidos no mesmo ano. Considerando que a 
criminologia tradicional explicava tais delitos clássicos como 
decorrentes de perversões advindas de uma insensibilidade 
para com a vítima ou a sociedade, como então explicar que 
a maioria dos homens de negócios estampados nas capas 
das revistas também trazia em si tal “germe criminoso”?
A investigação dos mecanismos relacionados às prati-
cas aceitas dentro das principais empresas norte-americanas 
permitiu verificar que seus agentes compartilhavam defi-
nições e técnicas favoráveis ao crime que não guardavam 
relação com qualquer qualidade intelectual, histórico fami-
liar, fator genético ou algo do estilo. Logo, não cabia mais 
a tentativa de relacionar práticas criminosas com quaisquer 
patologias natas.
Tal superação patológica é também destacada no 
longo prólogo da atual edição espanhola escrito por Fer-
nando Álvarez-Uría, o qual indica que Sutherland foi o mais 
proeminente sociólogo do desvio do século XX, uma vez 
* Destaca Alessandro Baratta: “Deste último ponto de vista, a 
teoria das subculturas constitui não só uma negação de toda 
teoria normativa e ética da culpabilidade, mas uma negação do 
próprio princípio de culpabilidade, ou responsabilidade ética 
individual, como base do sistema penal.” BARATTA, Alessan-
dro. Criminologia critica e crítica do direito penal. 3. Ed. Rio 
de Janeiro: Revan, 2002, p.76. (N. do T.)
20
que produziu um giro definitivo do paradigma individual 
para o paradigma coletivo na teoria do delito.*
Mas há ainda outro legado de Sutherland para a Cri-
minologia, apesar de ele aparentemente não ter assim decla-
rado. Recordemos que sua pesquisa englobou as 70 maiores 
empresas dos EUA naquele momento, concluindo rigorosa-
mente que todas elas só haviam chegado a esse nível de 
poder econômico à custa da prática reiterada de crimes. Não 
foi à toa que seu livro teve de ser censurado, tal afirmação 
era uma duro golpe ao “american dream” na medida em que 
demonstrava que os maiores ícones do sucesso capitalista 
estavam todos envolvidos com ilicitudes penais.
Sutherland mostrou que todas as 70 grandes empre-
sas reproduziam o discurso em defesa da livre concorrência 
e livre iniciativa, enquanto suas práticas rotineiras visavam 
justamente o contrário. São descritos no livro inúmeros cri-
mes nesse sentido, confirmando o fato de que ao mercado 
oculta em si uma ética não declarada, e não tende natural-
mente a uma autorregulação.
Talvez aí encontremos uma das mais fundamentais 
críticas produzidas por Sutherland. Se os detentores do “big 
business” são todos criminosos, significa que o próprio siste-
ma é produzido por uma simbiose normalizada entre o lícito 
e o ilícito. Há, portanto, um jogo cujas regras pressupõem 
uma quota alta e constante de práticas criminosas aceitas 
pelo sistema, jogo este que não admite o reconhecimento 
público da conexão entre “ordem” e “crime”.
O silêncio do autor sobre essa óbvia crítica ao pró-
prio sistema político é o que mantém sua fala limitada, na 
* A tradução da 1ª edição (censurada) para a língua espanhola 
foi feita no ano de 1969 por Rosa del Olmo, servindo de base 
para as edições posteriores. Para ler o prólogo da versão atual: 
SUTHERLAND, Edwin H. El delito de cuello blanco. Tradução 
de Rosa del Olmo. Madrid: La Piqueta, 1999. (N. do T.)
21
medida em que não situa expressamente o fenômeno numa 
perspectiva macrossociológica e estrutural. O autor não se 
refere ao conflito de classes ou à presença de qualquer atu-
ação funcional nesse sistema de gestão de ilicitudes. É uma 
das mais potentes contribuições surgidas no século XX so-
bre a questão criminal, ainda que não possa ser incluída de 
forma clara no que denominamos Criminologia Crítica.
A tentativa de elaborar uma “Teoria Geral do Com-
portamento Criminoso”, a princípio, denuncia sua crença em 
poder alcançar algo comum entre os criminosos. Todavia, 
sua própria afirmação de que os processos de aprendizado 
são idênticos para atos criminosos e atos não criminosos in-
dica que ele conseguiu extrapolar a criminologia positivista 
e encontrar explicações que poderiam ser mais bem desig-
nadas como “Teoria Geral do Comportamento Humano”.
A abertura para investigar os crimes da elite só pode 
ser compreendida pelo especial enredo histórico envolvido. 
O choque provocado pela crise de 1929 gerou um clima de 
insatisfação popular entre os empresários e feriu a crença de 
que o poder econômico em vigor poderia conduzir a uma 
sociedade melhor.
O início do Estado de Bem-Estar Social (Welfare Sta-
te) também permitiu um ambiente de maior sensibilidade 
com a questão social; há o despertar de uma preocupação 
com a acumulação de riqueza nas mãos das empresas e a 
afetação dos direitos dos trabalhadores.* Entretanto, o pró-
prio autor denuncia no final da obra que toda tentativa de 
política social inclusiva era fortemente rejeitada pelos ho-
mens de negócios, que as taxavam de “burocratas” ou “co-
munistas”.
* ANITUA, Gabriel Ignacio. Histórias dos pensamentos crimino-
lógicos. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminolo-
gia, 2008, p. 494. (N. do T.)
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Aqui vai uma advertência: a leitura de Sutherland não 
deve conduzir o leitor ao pecado da “esquerda punitiva”.* 
Atrair atenção para os crimes da elite não pode servir de 
suporte a uma tentativa de incremento punitivo contra as 
classes poderosas. A experiência neoliberal tem demonstra-
do quotidianamente que, ainda quando o Estado cria tipos 
penais de colarinho branco e fortalece seus mecanismos de 
fiscalização, o sistema penal permanece recaindo de forma 
drasticamente preferencial sobre a classe pobre, politica-
mente mais fraca.**
Além disso, os corredores forenses já foram suficien-
temente claros em demonstrar que o frágil aumento das pu-
nições a empresários e políticos nas últimas décadas não faz 
mais que criar “bodes expiatórios” para que o grande abra-
ço punitivo continue seu volume retumbante de segregação 
dos consumidores falhos. Como se a punição de meia dúzia 
de poderosos pudesse legitimar uma suposta isonomia do 
sistema. Considerando que o sistema punitivo é sempre um 
reflexo da estrutura de poder que recai sobre determinada 
sociedade, fica claro que a premissa da punição igualitária é 
mera retórica para continuar alimentando o Estado de Polí-
cia com sua dieta tradicional.
É preciso muita atenção para não cair na cilada de 
acreditar que o aumento da punição aos crimes de colari-
nho branco é capaz de produzir uma sociedade mais justa 
e igualitária. Como foi assinalado, os altos índices de delin-
* Sobre a questão, vale conferir: KARAM, Maria Lúcia. A esquer-
da punitiva. In: Discursos Sediosos, ano 1, nº 2. Rio de Janeiro: 
Instituto Carioca de Criminologia, 1996. CARVALHO, Salo de. 
A política criminal de drogas no Brasil. 5. Ed. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2010, p. 99. (N. do T.)
** ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejan-
dro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro: primeiro vo-
lume. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 488. (N. do T.)
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quência dos poderosos são estruturais de nossa organização 
política, de maneira que não se pode crer no uso do Estado 
(sistema penal) para minar o grupo que controla o próprio 
Estado. É uma promessa não factível, verdadeiramente irre-
alizável.
Se é verdade que punição e estrutura social* estão 
sempre imbricados, fica fácil concluir que não há caminho 
para uma organização mais igualitária por meio da sanção 
penal. Enquanto o desejo por uma sociedade mais justa não 
decidir abrir mão do próprio quadro socioeconômico, o sis-
tema penal continuaráfuncionando como um duplo “feti-
che”, segundo o qual: 1) os problemas da sociedade estão 
individualizados nos criminosos (paradigma do consenso), e 
2) punindo-os estaríamos construindo uma realidade mais 
pacífica (paradigma da defesa social).
Para finalizar, gostaria de destacar que, para além 
das contribuições teóricas acerca da conduta delinquente e 
da seletividade do sistema, a história do presente livro mere-
ce nossas palmas principalmente pela coragem desafiadora 
que ele representa. Demonstrar a volumosa criminalidade 
das maiores empresas do líder capitalista planetário, em ple-
na Guerra Fria, é façanha sem precedentes, típica de um 
pensador comprometido a todo custo com a sua ciência.
Eis algumas indicações para que o leitor tenha me-
lhor proveito da brilhante obra que segue. Com os nossos 
cumprimentos.
Vitória, 25 de agosto de 2014. 
Clécio Lemos
* RUSCHE, George; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura 
social. 2. Ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004. (N. do T.)

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