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16 Afecc;oes do Sistema Nervoso 16.1. Constitui~ao e considera~oes gerais. o sistema nervoso dos ani- mais superiores e composto par um extenso e complexo meca- nismo de controle capacitado para receber e transmitir pra- cessas reacionais, quando ocar- re qualquer alterac;:ao no am- biente externo e interno do or- ganismo animal. Para poder cumprir ordena- damente suas func;:6es,a siste- ma nervoso e composto par uma extensa rede de tecido especi- alizado em recepc;:aoe transmis- sao de "sinais" necessarios para que a animal esteja perfeitamen- te integrado ao seu meio. o sistema nervoso e com- posta pelo Sistema Nervoso Central, formado pelo cerebra, cerebelo, bulbo e medula espi- nhal. 0 Sistema Nervoso Cen- tral encontra-se seguramente protegido.O cerebra, a cerebe- 10e a bulbo estao alojados no interior do crania, e a medula espinhal esta situada em um canal flexrvel farm ado pelas ver- tebras cervicais, toracicas, lom- bares, sacrais e coccigeas. Os 6rgaos au estruturas que constituem a Sistema Nervoso Central encontram-se envoltos par tres membranas conjuntivas que sao as meninges. A mem- brana externa, denominada dura- mater, esta fusionada ao peri6s- tea na cavidade craniana, nao existindo esta fusao no canal espinhal, a que permite a livre movimentac;:ao de flexao dorsal, ventral e lateral do canal verte- bral sem que ocorra qualquer dano a medula. 0 espac;:ocom- preendido entre a peri6steo ver- tebral e a dura-mater e chama- do de espac;:oepidural e e utili- zado em algumas tecnicas anes- tesicas para insensibilizar a re- giao posterior do animal. A mem- brana media e a aracn6ide, e a mais interna, intensamente vas- cularizada e delicada que envol- ve diretamente a cerebra, e a pia-mater. Entre a aracn6ide e a pia-mater existe um espac;:o preenchido par tecido "espon- joso" conhecido como espac;:o subaracn6ideo par onde circu- la, contralado par um metabo- lismo complexo, a Irquido cefa- lorraquidiano. o cerebra e a parte mais importante do Sistema Nervo- so Central par constituir a gran- de centro de recepc;:ao e con- trale de todos as "impulsos" re- cebidos. E formado par dais he- misferios que se ligam entre sl e em cujo interior encontram-se duas cavidades chamadas de ventrrculos cerebrais, onde se forma grande parte do Irquido cefalorraquidiano. E constiturdo de varias regi6es especializadas responsaveis par todo a siste- ma de comando nervoso do or- ganismo. Do encefalo (cerebra, cerebelo e bulbo) partem e che- gam fibras nervosas que cons- tituem 12 pares de nervos cra- nianos encarregados de promo- ver a visao (nervo 6tico); a olfa- to (nervos 0Ifat6rios); a audic;:ao (nervo acustico) e todos as mo- vimentos da musculatura que faz parte da cabec;:ae as sen- sac;:6esdessa regiao (tato, ca- lor, frio, dor). Pares de nervos cranianos I. 0lfat6rio. II. Optico. III. Oculomotor. IV. Troclear. V. Trigemio. VI. Abducente. VII. Facial. VIII. Vestlbu lococlear. IX. Glossofarrngeo. X. Vago. XI. Acess6rio. XII. Hipoglosso. A medula espinhal se pralon- ga desde a porc;:aoposterior do encefalo ate a porc;:aofinal do canal medular. Basicamente e constiturda par nervos ventrais, responsaveis pelas func;:6esmo- toras dos musculos e pelas se- crec;:6es, e rarzes dorsais que sao constiturdas pelos nervos sensoriais encarregados de tra- zer ao Sistema Nervoso Central as sensac;:6esde tato, calor, frio e dor do carpo do animal. Todas as rarzes nervosas cerebrais, constiturdas pelos 12 pares de nervos cranianos, e as rarzes medulares formam a conjunto denominado de Siste- ma Nervoso Periferico, existindo, entretanto, neste conjunto, um sistema nervoso cujo funciona- menta independe da conscien- cia e da vontade, sendo par este motivo denominado de Sistema Nervoso Autonomo. Para que a cavalo possa realizar um movimento pela ac;:ao muscular, galopar, relin- char, mastigar a alimento au obedecer a uma ordem de co- mando, e preciso que 0 animal receba 0 estlmulo necessario que caminha atraves das vias sensitivas, chega ao Sistema Nervoso Central e desencadeia uma res posta voluntaria para que 0 movimento possa ser realizado. Por outro lado, 0 co- mando visceral vegetativo, co- mo batimento cardfaco, respi- rac;:ao,produc;:ao de saliva, mo- vimentos intestinais e as res- postas reflexas saDcontrol ados e produzidos pelo Sistema Ner- voso Aut6nomo. o Sistema Nervoso Aut6no- mo funciona de maneira inde- pendente da consciencia e von- tade e e formado por grupos de nervos de ac;:aoantag6nica. Um grupo constitui os nervos sim- paticos, que possuem fibras de ac;:aoestimulante, sendo con- trolado pelos ganglios nervosos localizados junto a medula es- pinhal. 0 outro grupo e deno- minado de Parassimpatico e possui como func;:ao inibir a ati- vidade do Simpatico. 0 princi- pal ramo de rafzes dos nervos parassimpaticos provem do nervo craniano conhecido co- mo vago. Do perfeito equillbrio entre estes dois sistemas antag6ni- cos e que deriva 0 bom fun- cionamento do organismo, ba- tendo bem a um s6 ritmo 0 co- rac;:ao,a frequencia respirat6ria e estavel, 0 est6mago e os in- testinos funcionam em um ritmo suficiente para que os sucos e as enzimas digestivas atuem sobre 0 alimento. Portanto, nos e simples com- preender que 0 comportamen- to, a fisiologia, a capacidade de percepc;:ao,e as qualidades ffsi- cas primarias saDcaracterfsticas de cada especie e dependem basicamente do nfvel de funcio- namento do organismo como um todo, controlado pelo gran- de e complexo computador que e 0 Sistema Nervoso. 16.2. Como~ao e contusao cerebral. A comoc;:aocerebral cons is- te em uma alterac;:ao geral do cerebro ocasionada por um trauma, cuja ac;:aomecanica nao promova lesao direta ao tecido cerebral, seja macrosc6pica ou mesmo microsc6pica. Por outro lado, na contusao cerebral ob- servamos danos macrosc6pi- cos, geralmente focais, produ- zindo sintomas neurol6gicos que variam conforme 0 local le- sado e a intensidade do trauma. As causas podem ser multi- plas, como quedas, coices na regiao frontal ou na testa do ca- valo, colisao entre animais e pan- cadas voluntarias, com pedac;:os de madeira, produzidas pelos domadores ou tratadores, uma verdadeira agressao ao animal. Ouase sempre os sintomas manifestam-se por quadros en- cefalicos gerais, surgindo ime- diatamente ap6s 0 traumatismo ou, no mais tardar, em 15 minu- tos ate cerca de 12 horas. Os sintomas de comoc;:aore- fletem um estado de edema ce- rebral, observando-se letargia e perda da capacidade de respos- ta ao meio ambiente com nftida diminuic;:aodos reflexos. Nos ca- sos de maior gravidade, pode ocorrer que 0 animal entre em coma, permanecendo em decu- bito lateral, diminua a frequencia cardfaca e a respirat6ria, elimine involuntariamente fezes e urina, apresente opist6tomo, nistagmo e movimentos de "pedalagem". o exame exterior do cavalo nao revela nenhuma lesao cu- tanea na cabec;:a,que possa ser- vir na avaliac;:ao da gravidade dos sinais. Ocasionalmente po- de ocorrer fratura ou fissura nos ossos correspondentes a regiao traumatizada, sem, contudo par- ticiparem diretamente da gravi- dade dos sinais. A contusao, corresponden- do a traumatismos abertos, de maneira geral ocasiona sinais de foco ou multifocais com le- soes do tecido cerebral focal ou difusa. 0 animal pode apresen- tar paralisia unilateral, hemiple- gias alternadas, inclinac;:ao ou flexao lateral da cabec;:a(torci- colo), cegueira e quedas invo- luntarias por perda de equillbrio. Tanto nos quadros de como- c;:aoquanto nas contusoes, saD frequentes os derrames san- gufneos por ruptura de capila- res do cere bro. Nestas condj- c;:oes,quando ha derrame san- gufneo, mesmo que 0 animal se recupere do estado de coma, permanecerao sequelas mais ou menos graves, dependendo do foco da hemorragia,que po- dem inutilizar 0 cavalo. Nas contusoes par quedas laterais, em que 0 cavalo bata a regiao temporal ao solo, freqLien- temente podem ser constatadas hemorragias subdurais alem de derrames sangLiineos atraves do ouvido, refletindo graves conse- qLiencias encefaJicas. Obviamente 0 diagn6stico deve ser realizado atraves de exames neurol6gicos e, se pos- sivel, por radiografias, avaliando- se a extensao dos danos e a gra- vidade das lesoes, para assim se instituir 0 tratamento adequado para cada caso. o progn6stico depende das conseqLiencias e extensao do trauma. Geralmente e reserva- do, devido a impossibilidade de Figura 16.1 Hemorragia subaracnoidea na fratura parieto-occipital. Figura 16.2 Hemorragia subaracnoidea na fratura parieto-occipital. se preyer as seqLielas que po- derao permanecer. Paralisias nervosas focais, como dos ner- vos cranianos, sac de diflcil re- cupera<;:ao, ao passo que os edemas, quando precocemen- te tratados, respondem bem a terapeutica. Os animais com quadros ce- rebrais e em decubito, devem permanecer estabulados em baias amplas com cama de ca- pim alta e macia. A paciencia e a dedica<;:aosac importantes na recupera<;:ao,pois a interrup<;:ao precoce dos cuidados e da me- dica<;:aoao animal com trauma- tismo cerebral podera condena- 10 precocemente a morte ou ao sacriflcio. Como tratamento geral po- de-se instituir a corticoterapia nos casos de como<;:aocerebral associada a diureticos, prefe- rencialmente hiperosm6ticos. 0 animal devera ser conveniente- mente hidratado, em razao da impossibilidade de ingerir agua, e receber alimenta<;:ao paren- teral caso nao esteja comendo. A maioria dos casos devera apresentar evolu<;:aosatisfat6ria dentro de 72 horas, acima do qual 0 progn6stico ira se agra- var quanto a vida. 16.3. Ataxia dos potros (sfndrome de wobbler). E uma afec<;:ao decorrente da malforma<;:ao das vertebras cervicais, que produzem com- pressao na medula espinhal. Pode acometer cavalos de qual- quer rac;:a,sendo mais frequen- te no Puro Sangue Ingles e em animais de crescimento rapido. Os potros de 3 meses a 2 anos de idade manifestam 0 problema devido a estenose do canal vertebral na 3a e 4a verte- bras cervical, produzindo com- pressao e lesao focal na medu- la espinhal. Ocasionalmente, cavalos de 2 a 5 anos podem ser acometidos e apresentar os mesmos sinais que os potros. Os sintomas geralmente saG de carater evolutivo, isto e, ocor- re incoordenac;:aomotora poste- rior que se agrava com 0 tempo em razao do grau de comprome- timento da medula. Ocasional- mente, 0 quadro de estenose do canal medular e agravado pelo desenvolvimento de uma os- teoartropatia das faces articula- res das vertebras com formac;:ao de les6es periarticulares sobre- pondo-se a compressao. A manifestac;:aomais eviden- te da lesao e a incoordenac;:ao dos membros posteriores tradu- zida por fraqueza na sustenta- c;:aodo corpo, seguida de certo grau de espasticidade, demons- trada pela hiperextensao dos membros com abertura dos an- gulos das articulac;:6es.Os sinais de incoordenac;:aodos membros posteriores podem surgir nos membros anteriores, decorren- te do agravamento das les6es na medula. Os quadros agudos de pa- ralisia posterior, geralmente re- fletem traumas diretos sobre a coluna, ou mesmo fratura da co- luna, com grave lesao medular. Porem, pode ocorrer que, potros com estreitamento assintoma- tico do canal medular, apresen- tem ataxia ou paralisia posterior ap6s quedas sobre 0 pescoc;:o, produzindo lesao compressiva aguda, ou decorrente de estira- mento do pescoc;:oem animais contidos por cabrestos, ou ain- da, devido a movimentos amplos da cabec;:ae pescoc;:oquando 0 potro estiver correndo. A confirmac;:ao da suspeita pode ser realizada atraves de ra- diografias, de preferencia com contraste no canal medular e exame de fundo do olho, que re- velara edema de papila. Animais com incoordenac;:ao dos mem- bros posteriores podem apre- sentar agravamento do quadro c1inico, inclusive com queda ao solo, quando da realizac;:ao de testes de extensao ou de flexao lateral da cabec;:ae do pescoc;:o. E importante que seja realizado o diagn6stico diferencial com a mieloencefalite protozoaria equi- na e outras afecc;:6escausado- ras de incoordenac;:aodos mem- bros posteriores. o tratamento c1inicoe incon- sistente e na maioria das vezes nao proporciona melhora ao ani- mal. A recomendac;:ao terapeu- tica que melhores resultados tem demonstrado consiste na artrodese dos corpos vertebrais comprometidos, estabilizando 0 eixo do canal vertebral e evitan- do, dessa forma a compressao da medula. Muito embora nao existam evidencias cientificamente com- provadas, da hereditariedade da malformac;:ao cervical, especial atenc;:aodeve ser dada aos pro- gramas de melhoramento, pro- curando-se evitar 0 cruzamen- to de garanh6es e eguas que produziram potros que desen- volveram ataxia. 16.4. Malformacao oed pito-atla nto-axi a I em potro Arabe. E uma afecc;:aoque acome- te potros arabes devido a fusao do atlas ao occipital e hipoplasia da articulac;:ao do atlas ao axis. Esta malformac;:ao produz compressao da medula cervical que pode manifestar-se por di- versos graus de ataxia ou tetra- paresia, desde 0 nascimento ate a desmama. Os potros acometidos podem nascer mortos ou entao apresen- tarem varios graus, geralmente evolutivos,de paresia posterior,ou acometimento dos quatro mem- bros, caraderizando a tetrapa- resia ou a tetraplegia. Os movimentos da cabec;:a estao diminuidos, podendo-se palpar na base do cranio,junto a nuca, projec;:6es6sseas irregula- res. Um ruido de estalo pode ser audivel quando 0 potro move a cabec;:aou quando manipulamos o eixo cabec;:a/coluna em movi- mentos de extensao, flexao ou circulares, devido, provavelmen- te, a nao articulac;:aoadequada do atlas com 0 axis. o exame radiografico deve ser realizado para a confirma- c;ao do diagn6stico da enfermi- dade, com radiografias simples e contrastadas (mielografia). Por nao existir tratamento e ser um processo com grandes evidencias de hereditariedade, tanto 0 garanhao quanto a egua que produzirem potros com esta malformac;ao devem ser pre- ventivamente afastados da re- produc;ao. 16.5. Ataxia cerebelar do potro Arabe. E uma enfermidade de ca- rater hereditario que acomete potros da rac;a Arabe e pode manifestar-se imediatamente ap6s 0 nascimento ou pr6ximo do sexto mes de idade. o quadro sintomatol6gico manifesta-se em razao das al- terac;oes histopatol6gicas do cerebelo, responsavel, principal- mente, pelo equillbrio do corpo e metria da locomoc;ao. Os animais severamente afetados apresentam ao nascer incapacidade de se levantar e mamar, movimentos verticais da cabec;a, quando excitados ou auxiliados a permanecerem em pe e, eventual mente, tremores horizontais da cabec;a e pesco- C;O. Ao se locomoverem, os po- tros apresentam evidente ataxia com locomoc;ao da base de sus- tentac;ao posterior (membros posteriores) aberta. A andadu- ra assemelha-se em muito ao "passo de ganso" com evidente apoio em pinc;a ao tocar 0 cas- co no solo. A marcha em "pas- so de ganso" e proporcionada por um maior movimento de flexao dos membros e uma dis- tancia de passo maior do que 0 normal, caraderizando uma manifestac;ao de hipermetria. Por ser uma anomalia con- genita estrutural de parte do Sistema Nervoso Central a eu- tanasia e recomendada, assim como a retirada preventiva da egua e do garanhao da repro- duc;ao,devido as evidencias he- reditarias da doenc;a. 16.6. Traumas e fratura da coluna vertebral. Ocorrem com relativa fre- quencia devido a concussoes e contusoes por quedas com ou sem predisposic;ao referente ao estado de calcificac;ao do es- queleto. Sao extremamente fre- quentes as informac;oes depo- tros que apresentaram incapa- cidade de se levantarem ap6s terem sofrido quedas, principal- mente rolando sobre 0 pesco- C;O, lesando seriamente a colu- na cervical com danos, muitas vezes irreversiveis, devida a com- pressao e secc;ao da medula. Nestas mesmas condic;oes po- derao ocorrer desmites, ruptu- ras de ligamentos, luxac;ao, su- bluxac;ao e fraturas epifisarias na 4a 5a e 6a vertebras cervical, promovendo compressao da por- c;aoventral da medula e conse- quente paralisia flacida. As concussoes e contusoes da coluna vertebral, via de regra, levam a quadros neurol6gicos relativamente complexos, quan- to a ponto de vista do exame e a dificuldade em se estabelecer um diagn6stico c1inico preciso. Cavalos com traumatismos de coluna apresentam incoorde- nac;ao motora, diminuic;ao da resposta sensitiva e dificuldade de se manterem em· posi<;:ao quadrupedal; quando caem, en- contram grande dificuldade em Figura 16.3 Torcicala par subluxac;aa de C2 e C3. se colocarem de pe. 0 que se observa e uma paralisia flacida das estruturas inervadas pela pon;ao caudal a lesao medular e hiper-reflexiva na porc;:aocra- nial, devido a irritac;:ao que se estabelece nos nervos, provoca- da pela inflamac;:ao. Os traumatismos da coluna cervical que produzem subtu- xac;:6ese rupturas de ligamen- tos intervertebrais manifestam sinais de ataxia, apatia e torci- colos evidentes, ao passo que as luxac;:6es com esmagamento medular e fraturas podem de- sencadear tetraplegias, paralisi- as flacidas e espasticidade as- sociada aos quatro membros. Nestas circunstancias, alem dos sinais ja deseritos, 0 animal po- dera apresentar opist6tomo e nistagmo. Par outro lado, as le- s6es situadas nas vertebras toracicas, notadamente T13, T14 e T15, e nas primeiras vertebras lombares, podem apresentar si- nais de paralisia flacida apenas nos dois membros posteriores. As fraturas da coluna, quan- do completas, produzem quadro de compressao e secc;:aode me- dula; ocorre paralisia flacida e anestesia da regiao inervada pela regiao caudal ao local de secc;:ao da medula. Ocasional- mente podera haver incontinen- cia fecal. e urinaria nas secc;:6es altas, pr6ximas as ultimas verte- bras toracicas; 0 animal perma- nece em decubito, faz tentativas de se levantar com os membros anteriores e nao esboc;:a qual- quer movimento voluntario com os membros posteriores. Figura 16.4 Torcicolo por subluxayao de C3, C4 e C5. Figura 16.5 Fratura de vertebras cervicais. Figura 16.6 Fratura de coluna torckica. Figura 16.7 Fratura cominutiva de vertebra toracica. Nas fraturas completas ou incompletas, quando nao ocor- re secc;:aoda medula espinhal, o animal pode permanecer em pe e apresentar incoordenac;:ao, permanecendo neste estado ate completo esgotamento da musculatura da coluna, que ao se descontrair reduz a estabi- lidade do eixo do canal medu- lar produzindo movimentos no foco 6sseo, e severas les6es na medula. o diagn6stico e realizado com base nos sintomas e no comportamento neurol6gico do paciente. Radiografias podem ser realizadas para detecc;:aode fraturas, sendo importante a rea- lizac;:aode mielografia. A analise do liquido cefalor- raquidiano podera ser realizada atraves da punc;:aoentre L2 - L3, ou L3 - L4, ou, ainda, no fo- ramen ocdpito-atlantoideo. Um resultado normal na analise do liquido cefalorraquidiano por si s6 nao descarta a possibilidade de trauma au fratura sobre a coluna vertebral. Comumente saD encontrados sinais eviden- tes de hemorragia e inflamac;:ao no IIquido espinhal, pela presen- c;:ade hemacias, aumento no nu- mero de leuc6citos e eleva<;ao do teor de proteinas. o tratamento dos casas de traumatismo devera ser feito com 0 intuito de se reduzir 0 ede- ma e a pressao liqu6rica atraves de corticoster6ides e drogas diureticas, muito embora a prog- n6stico seja reservado, e a cura sem sequelas, quando ocorre, seja demorada. Alem do trata- Figura 16.8 Colar cervical em fratura do cor po e da asa do atlas. mento geral com corticosteroi- des e diureticos, nos casos de torcicolos produzido por sublu- xa<;:13.oou trauma cervical ines- pecffico, a imobiliza<;:13.oda regi13.o e 0 repouso absoluto, com os cochos de alimentos e de agua mantidos ao nfvel da cabe<;:ado animal, tem revertido dramatica- mente alguns casos, Casos de fraturas de coluna com sec<;:13.ode medula sac irrecuperaveis, sendo recomen- dada a eutanasia, 16.7. Paralisia do nervo facial. Decorre principal mente de traumatismos diretos ou indire- tos sobre 0 nervo facial que pas- sa por cima do musculo mas- seter, tendo apenas a pele e 0 tecido subcutaneo para prote- ge-lo, As paralisias sac comuns nos casos de compress13.ocau- sada pela conten<;:13.oda cabe- <;:ado animal deitado ao solo, aplicando-se 0 joelho sobre a cara, ou pela compress13.ocon- tra-lateral da face em contato direto com 0 solo, Podem tambem ser causas de paralisia do nervo facial os Figura 16.9 Paralisia do nervo facial. processos inflamatorios circun- vizinhos, os tumores compres- sivos ou, mais raramente, a afec- <;:13.0focal do Sistema Nervoso Central. Os sinais de paralisia sac caracterfsticos, observando-se: ptose palpebral, flacidez labial com desvio e deslocamento la- teral da Ifngua, Geralmente a sintomatologia e unilateral, ma- nifestando-se imediatamente apos 0 trauma ou logo apos 0 animal se levantar do solo de- pois de uma cirurgia. Ha dificul- dade do animal em apreender e mastigar 0 alimento, o tratamento pode ser reali- zado aplicando-se antiinflama- torios, que variam de dose con- forme 0 tipo de droga e 0 porte do animal; vitamina 61 na dose de 1gr, a 2gr, ao dia, durante 1 semana, pela via intramuscular, e fric<;:6escom pomadas revulsi- vas a base de iodo, 1 vez ao dia, Figura 16.10 Paralisia do nervo facial. Geralmente 0 progn6stico e bom quando a causa da parali- sia for uma compressao por decubito cirurgico, complican- do-se nos casos de traumas di- retos, e e reservado nos casos de altera<;:6esprimarias do Sis- tema Nervoso Central. o tratamento com drogas regeneradoras do sistema ner- voso contendo gangliosfdeos ti- tulados em acido-n-acetil-neura- mfnico deve ser tentado nos ca- sos remitentes, muito embora seus resultados ainda nao sejam consistentes. Outra possibilida- de terapeutica promissora e atra- yes da realiza<;:aode enxerto au- t610go de segmento de nervo, que em cirurgia em humanos tem proporcionado a recupera- <;:13.0sensitiva e motora de mui- tos dos casos que nao respon- deram satisfatoriamente ao tra- tamento conservativo. 16.8. Paralisia do nervo radial. Pode ser ocasionada por compressao durante decubito, processo inflamat6rio circunvi- zinho, como abscesso, ou, ain- da, devido a traumas diretos em fraturas do umero, quando os fragmentos 6sseos lesam 0 ner- vo, ou 0 derrame sangufneo pro- duz compressao e inflama<;:ao perineural. Os sintomas podem ser de paralisia total ou parcial e de- pendem exclusivamente do grau de comprometimento do nervo. Por ser um tronco nervo- so essencialmente extensor, isto e, responsavel pela inerva<;:ao dos musculos que proporcio- nam a extensao dos membros, o cavalo afetado demonstrara incapacidade de realizar 0 avan- <;:0do membro (comprometi- mento da segunda fase do pas- so), arrastando-o no solo. Os musculos flexores estao tensos e os extenso res flacidos. Ouando em repouso, em po- si<;:ao quadrupedal, 0 animal mantera todas as articulac;:6es em posic;:aode flexao, apoiando o casco em pinc;:ano solo, dan- do a impressao de possuir um membro mais comprido do que o normal. o diagn6stico e baseado nos sintomas, necessitando-se, porem, a realiza<;:aode diagn6s- tico diferencial com a fratura do umero, que sob certas condi- c;:6espode ser confundida com a paralisia do nervo radial.Para tanto, tente fazer 0 animal re- cuar; se ele conseguir normal- mente, apoiando 0 casco no solo, trata-se de paralisia do radial, caso contrario, podera ser uma fratura do umero, que devera ser confirmada radio- graficamente. o progn6stico de cura e bom nos casos de paralisia parcial, injetando-se: antiinflamat6rios, vitaminas do complexo B, princi- palmente B 1 e t6nicos nervosos. Pode-se associar ao tratamento aplicac;:6esde drogas contendo gangliosfdeos titulados. As paralisias totais pos- suem progn6stico reservado, e as consequentes a fraturas de umero somente serao avalia- das ap6s a reduc;:ao e consoli- dac;:aoda fratura. Figura 16.11 Paralisia do nervo radial. 16.9. Paralisia do nervo femoral. Pode ser consequente a le- s6es indiretas sobre 0 nervo como na hiperextensao do membro durante 0 exercfcio, coices, escorreg6es ou em ca- valos amarrados quando conti- dos em decubito lateral. A pa- ralisia do nervo femoral pode tambem ser consequente a azoturia. o nervo femoral inerva a maioria das grandes massas musculares da coxa, ocasio- nando, quando paralisado por uma afec<;:ao,incapacidade do animal em manter 0 peso do corpo sobre 0 membro, dificul- dade de locomo<;:ao, caracte- rizada por incoordena<;:ao das fases do passo e, quando em repouso, 0 animal mantem 0 membro flexionado deslocan- do 0 eixo e 0 plano horizontal da pelvis para 0 lado oposto ao da paralisia. Como em toda altera<;:aode inerva<;:ao em grandes grupos musculares, a atrofia dos mus- culos pode ocorrer, se a cura for lenta. o diagn6stico e baseado nos sintomas apresentados devendo-se fazer diferencia- <;:aocom a luxa<;:ao lateral da patela, que e rara, da fratura da tuberosidade da tfbia e fra- tura da bacia. Nos casos com atrofia da musculatura, a bi6p- sia dos grandes musculos po- dera consubstanciar 0 diag- n6stico e 0 grau de com pro- metimento das celulas. o tratamento pode ser ten- tado utilizando-se 0 mesmo es- quema e drogas empregadas em outras paralisias de nervos perifericos. 0 progn6stico e des- favoravel em razao de compli- ca<;:6es motoras secundarias como decubito e estafa mus- cular. Duchas e nata<;:ao saG beneficas no sentido de man- ter 0 tonus muscular e ativar a circula<;:ao. 16.1O.Doen~a do neur6nio motor eqiiino. A doen<;:ado neuronio mo- tor equino e uma afec<;:aoque se caracteriza patologicamente por degenera<;:ao e morte de neuronios, principalmente da medula espinhal, que apresen- ta quadro de degenera<;:ao se- melhante a esclerose lateral amiotr6fica esporadica que aco- mete a especie humana. Muito embora nao se conhe- <;:aate 0 presente a etiopato- genia do processo, 0 quadro clr- nico e conhecido e identificado por emagrecimento progressivo; fraqueza geral; fascicula<;:ao, e tremores musculares; atrofia de musculos; incoordena<;:aomoto- ra com passos curtos; tenden- cia em agrupar os membros posteriores e anteriores em ter- mos de aprumos, quando em repouso e alternancia de apoio dos membros posteriores (mar- cha parada). Ao exame do fun- do de olho com ooftalmosc6pio pode-se observar retinopatia grave. Finalmente, ap6s evolu- <;:aoque pode durar alguns me- ses, 0 animal entra em decubito e morre. Os exames bioqurmicos de- monstram altera<;:6esnos nrveis de CPK eAST e de protefna do Irquido cefalorraquidiano. Em alguns cas os, os exames bioqufmicos podem tambem demonstrarem altera<;:6es nas bilirrubinas, fosfatase alcalina e nos nrveis sericos de alguns eletr6litos. Histopatologicamente, os cortes da medula espinhal de- monstram degenera<;:ao e per- da de neuronios do corno ven- tral da substancia cinzenta me- dular, e a bi6psia muscular a- presenta degenera<;:ao neuro- muscular com caracterfstica de atrofia muscular de origem neurogenica. Por ser de etiologia ainda des- conhecida, e causar les6es neu- rodegenerativas, ate 0 presente de carater irreversfvel, a doen<;:a do neuronio motor equino inva- riavelmente levara 0 animal a morte, por decubito e inani<;:ao. 16.11. Leucoencefa- lomahicia. E um processo degenerativo do Sistema Nervoso Central causado por altera<;:6esmetab6- licas que produzem malacia (amolecimento e liquefa<;:ao)da massa branca do encefalo de- vido a micotoxina. A afec<;:aoe desencadeada pela ingestao de milho mofado Figura 16.12 Leucoencefalomalacia. Figura 16.13 Leucoencefalomalacia. por Fusarium moniliforme e pode se manifestar ate 6 me- ses ap6s a ingestao. Na depen- dencia da durac;:aoe da quanti- dade ingerida, a toxicose devi- do a moniliforme pode manifes- tar a leucoencefalomalacia ou hepatopatia fulminante e fatal. A micotoxina produz edema perivascular e areas de necrose com liquefac;:ao da substancia branca de um ou ambos os he- misferios. Raramente sac ob- servadas les6es comprometen- do a substancia cinza e a me- dula espinhal. as primeiros sinais geral- mente se manifestam de 2 a 24 semanas (em media 3 semanas) ap6s a ingestao do milho mofa- do. a cavalo apresenta depres- sao, fraqueza, anorexia, paresia dos membros posteriores, deso- rientac;:ao,cegueira e, ocasional- mente, sem que sejam provoca- dos, excitac;:ao e furor. Com a evoluc;:ao,0 animal apresentara paralisia faringeana com disfagia, andar em drculos, decubito la- teral, movimentos de pedalar, coma e morte. Raramente ocor- re a recuperac;:aoespontanea ou ap6s tratamento. as parametros hematol6gicos e bioqulmicos geralmente nao apresentam alterac;:6essignifica- tivas e 0 animal nao apresenta febre, 0 que e importante para 0 diagn6stico diferencial com ou- tras encefalopatias, em particu- lar a encefalomielite. Alguns ani- mais com leucoencefalomalacia algumas vezes podem apresen- tar nlveis elevados de bilirrubina plasmatica e urobilinogenio. o tratamento dos cavalos afetados e puramente sintoma- tico e requer aplica<;6es de vi- tamina B 1 na dose de 19 ao dia, pela via intramuscular, a cada 48 horas, com pelo menos 3 apli- ca<;6es. A administra<;ao de la- xantes pode auxiliar na elimina- <;ao da micotoxina do trato di- gest6rio do animal. o milho mofado deve ser imediatamente eliminado da alimenta<;ao do rebanho, de- vendo-se tambem evitar que restos de ra<;6es permane<;am no fundo do cacho on de po- derao ser misturados a ra<;ao no dia seguinte.
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