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Capítulo EscopodaEpidetniologia 2 ~Iuitosdosproblemasdedoençascontem- porâneospodemserresolvidospelainvestigação depopulaçõesanimaisemvezdeindivíduos. Ashistóriasnaturaisdasdoençasinfeccio- saspodemserentendidaspeloestudodesuas distribuiçõesemdiferentespopulações.A ava- liaçãoda quantidadededoençasinfecciosas e não infecciosasauxiliaa determinara im- portânciae aeficáciadascampanhasdecon- trole. O estudoemváriosgruposde animais possibilitaaelucidaçãodedoençasdecausas complexase desconhecidas.Os efeitos de doençasna produçãopodemser estimados de formamaisrealistaemrelaçãoaodecrés- cimo de produçãona propriedadeou no re- banho, em vez de em um único animal. O impactoeconômicodadoençaedastentativas de seucontrole tambémé muito maisbem avaliadoemgruposdeanimais,desdefazendas individuaisatéavaliaçãoemnívelnacional.A investigaçãode doençasempopulaçõesé a basedaepidemiologia. DEFINIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA A epidemiologiaéo estudodadoençaem populaçõesedosfatoresquedeterminamsua ocorrência;apalavra-chaveépopulações.A epi- demiologiaveterináriaadicionalmenteinclui apesquisaeavaliaçãodeoutroseventosrelacio- nadoscoma saúdeanimal,emespeciala pro- dutividade.Todasessasinvestigaçõesenvolvem observaçãodepopulaçõesanimaiserealizações deinferênciasa partirdessasobservações. A traduçãoliteral da palana "epidemio- logia",baseadaemsuaraizgrega,epi- (E7n-)= acima,demo- (õrU.lO-) =povoe logo- (Àoyo-)= estudo,seria,portanto,"estudodoqueestáaci- madopovo"oumaismodernamente,"oestudo dadoençanaspopulações".Tradicionalmente, "epidemiologia"refere-seaosestudosempo- pulaçõeshumanas,e "epizootiologia",dogrego zoo- (çroo-)=animal,aestudosdepopulações animais (excluindohumana) (por exemplo, Karstad,1962).Surtosde doençaempopu- laçõeshumanassãochamadas"epidêmicas", emanimais,são"epizoóticas"e, empopula- çõesaviárias,sãodenominadas"eporníticas", dogregoornito-(opvt8-)=pássaro(porexem- plo,MontgomeryetaI., 1979).Outrostermos derivados,tais como "epidemia"("visitar a comunidade"),fornecemevidênciasdaantiga associaçãoentreepidemiologiaeasinfecções 20 - Epidemiologia Veterinária que periodicamenteapareciamem uma co- munidade,em contrastecom outrasdoenças usualmentepresentesnapopulação. Os váriosderivadospodemserusadosem diferentescontextos.Umestudodeumadoença queestápresenteemapenasumaúnicapopu- laçãoanimal,comoainfecçãoporBruceUa000 dos ovinos,não envolveriaum estudosimul- tâneoemhumanos;o termo"epizootiologia" deveriaserusadopara indicar que o estudo estariaconfinadoa animaisoutrosquenãoos humanos.Muitasdoenças,chamadaszoono- ses,podemsercompartilhadaspor humanos eanimaisinferiores.Assim,quandoseestudam doençastais comobrucelosee leptospirose, umavezquesãoambaszoonoses,devemser consideradososmecanismosdetransferência dadoençaentreanimaisehumanos.Umfator importantenaocorrênciadaszoonosesocupa- cionais(emqueveterinários,magarefese fa- zendeirossãoexemplos)éoníveldeocorrência dedoençasanimais.A "epidemiologia"dabru- celosee leptospiroseemfazendeirosproduto- resdeleiteestáestreitamenteassociadacoma "epizootiologia"dessasdoençasnosbovinos.A diferenciaçãosemânticaentreestudosenvol- vendodoençashumanase animais,portanto, não é consideradanem desejávelnemlógica (Dohooet al., 1994). Duranteo desenvolvi- mentodestelivro,apalavra"cpidemiológica" éportantousadaparadescreverqualquerpes- quisarelacionadacom ocorrênciade doença empopulação,sendoou nãopopulaçõeshu- manas,deanimaisdomésticosou selvagens. Usos da Epidemiologia Há cinco objetivosnaepidemiologia: 1. Determinaçãoda origemda doençade causaconhecida; 2. Investigaçãoecontrolededoençadecau- sadesconhecidaoupoucocompreendida; 3. Aquisiçãode informaçõesdaecologiae dahistórianaturaldadoença; -1. Planejamentoe monitoramentode pro- gramasdecontroledadoença; - A\-aliaçãoeconômicadosefeitosdadoença e doscustosebenefíciosdascampanhas alternativasdecontrole. Determinaçãodaorigemda doençadecausaconhecida Muitas das doençasde causaconhecida podemserdiagnosticadasdeformaprecisape- los sintomasexibidospelosanimaisafetados, por testeslaboratoriaisapropriadose por ou- trosprocedimentosclínicos,taiscomoexames radiológicos.Por exemplo,o diagnósticode salmoneloseemum grupodebezerrosé rela- tivamentedireto (a infecçãofreqüentemente produzsintomasclínicosdiferenciáveis).En- tretanto,determinarpor queo surtoocorreu e usaros procedimentoscorretosparapreve- nir arecorrênciapodeserdifícil.Porexemplo, umsurtopodesercausadopelacompradeani- maisinfectadosou por alimentoscontamina- dos.Investigaçõesfuturassãonecessáriaspara identificara fonte de infecção.E, quandoo alimentoé suspeito,deve-seressaltarque a raçãopodeserconstituídaporvárioscompo- nentes.Mesmoseumaamostradecadacom- ponenteestivesseaindadisponível,seriamuito caroe,possivelmente,antieconômicosubme- tertodasaexameslaboratoriais.A consideração do risco associadocom o consumode cada componentedaraçãopodedirecionarainvesti- gaçãodecampoa um sóou doisitens. Há muitosexemplosde investigaçõesde doençasde causasconhecidasque envolvem respostasàsquestões"porqueocorreuo sur- to?"ou "porqueo númerodecasosdadoença aumentou?".Por exemplo,um aumentodos casosdaactinobaciloseemum grupodebo- vinos pode estar associadoao fato de esse pastaremumadeterminadapastagemcom restosdegramasecae queimada(atéo talo). Talocorrênciapoderiaocasionarumaumento deabrasõesnamucosabucal,o queaumen- taria a suscetibilidadedos animaisa infec- ções com Actinobacillus lignieresi. Um númeroaumentadodecasosdedefeitosósseos emcãezinhospodeserdevidoà publicidade localdadaaousodesuplementaçõesvitamí- nicas,resultandonaadministraçãodessasa animaisquejá as haviamrecebidopela ali- mentaçãocomdietasbembalanceadas,eque, conseqüentemente,ficaramsujeitosà hiper- vitaminoseDeàdistrofiaóssea(JubbeKennedy,-------••...--•...-.-----. 1971).Umaumentononúmerodecarcaçascom altosvaloresdepH podeserassociadocomo excessivolavardos animaisantesdo abate (Petersen, 1983). Essas possíveisexplica- ções podemser veriÍícadassó com investi- gaçõesepidemiológicas. Investigaçãoecontrolede doençadecausadesconhecida oupoucocompreendida Em muitascircunstâncias,o controlede doençabaseia-seem observaçõesepidemio- lógicasantesda causadadoençaser identi- ficada.A pleuropneumoniacontagiosabovina foi erradicadadosEstadosUnidospelaobser- vaçãodacaracterísticainfecciosadadoença, antesqueseuagenteetiológico,Mycoplasma mycoide,tivessesidoisolado(Schwabe,1984). A políticadeLancisideabateparacontro- lar apestebovina,mencionadanoCapítulo1, foi baseadanasuposiçãodequea doençaera infecciosa,mesmonãoseconhecendoo agen- teetiológico.A observaçãoclássicadeEdward Jenner da açãoprotetorada varíolabovina contraavaríolahumananoséculoXVIII (Fisk, 1959),anteriorà descobertadosvírus,forne- ceu a basequepermitiu a erradicaçãomun- dial davaríola. Mais recentemente,estudosepidemioló- gicosnaGrã-Bretanhasugeriramqueaence- falopatiaespongiformedos bovinos (bovine spongiformencephalopathy,BSE) tivesseocor- ridoemdecorrênciaaoconsumodealimentos contendocarnee farinhade ossoscontami- nadascom scrapie*(Wilesmithetal., 1988). Issofoisuficienteparaaintroduçãodeumale- gislaçãoproibindoa administraçãodealimen- tospararuminantescontendoproteína,antes doagenteetiológicotersidoidentificado.** Apesardodesconhecimentodacausaexata doshematomas(equimosesmusculares)em carcaças,observaçõeslevarama conclusãode havercorrelaçãodessedefeito com o uso do métododeatordoamentoelétrico"nacabeça" N. do T.: * "Scrapie",tambémassimconhecida em português,é umadoençaneurológicadosovinos,causadaporumpríon. ** Na atualidade,o agentecausadorda BSEjá foi identi- ficado, é um príon. Escopo da Epidemiologia - 21 (Blackmore,1983);e a ocorrênciadessacon- diçãopodeserreduzidapelaadoçãodeumcur- to intervalode "atordoamentocom bastão", atordoandocom arco cativoou usandoum métodode atordoamentoelétrico,quecausa uma imediata disfunçãocardíaca(Gracey, 1986).Similarmente,háumafortecorrelação entrea "doençadaspastagens"e a pastagem, e essapode ser totalmenteprevenidaao se estabularoscavalosconsecutivamentedurante aprimaveraeoverãoemboraacausadadoença sejadesconhecida(Gilmour,1989). A causado carcinomadascélulas esca- mosasdoolho nogadoHereford("câncerdo olho")édesconhecida.Estudosepidemiológicos demonstraramqueaocorrênciaeramaiorem animaiscom pálpebrasdespigmentadasque naquelescompigmentação(Andersonetal., 1957).Essainformaçãopodeserutilizadapor criadores, procurando criar preferencial- mentebovinoscoma baixasuscetibilidadea essaneoplasia. Os estudosepidemiológicossão também usadospara identificaras causasde doenças (muitasdasquaissãomultifatoriaise inicial- mentepouco entendidas)e, dessaforma, a maioriadastécnicasde controleapropriadas podeseraplicada.Assim,o baixoconsumode águaidentificadocomoumfatordecausaim- portantede urolitíaseem felinos (\Vmeberg, 1981)facilitouo controledessasíndromepor modificaçãodedieta.Pesquisassãotambémuti- lizadasparaidentificarcaracterísticasdosani- maisqueaumentamo riscodeocorrênciada doença.Porexemplo,cadelasnãocastradascom históricodeestrosirregularesepseudoprenhez estãoparticularmenteemriscodedesenvolver piometra(Fildleretcd.,1966);essainformação é devalordediagnósticoparao clínico e é de grandeauxílioparao aconselhamentodepro- prietáriosnaestratégiareprodutiva. Aquisiçãodeinformaçõesdaecologia edahistórianaturaldadoença Umanimalqueéinfectadocomumagente infecciosoé hospedeirodesseagente.Hospe- deiroseagentesexistememcomunidadesque incluemoutrosorganismosquevivememde- terminadosmeioambientes.Assim,o agregado '!!!'!!'!!!'!!'!!!'!!~~~~~~~~!"""!'!!II'''''!''''''!!''''''!!''''''!!''''''!!''''''!_''''''!!O'!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!/~''''''''''''''''''''''''''''=====~------------- 22 - EpidemiologiaVeterinária de todosos fatosrelacionadoscomanimaise plantasformasuahistória natural.As comu- nidadesinter-relacionadase seusambientes sãodenominadosecossistemas.O estudodos ecossistemasé denominadoecologia. Umaboacompreensãodahistórianatural dos agentesinfecciososé possívelsomente quandoessessãoestudadosno contextodos ecossistemasde seushospedeiros.Similar- mente,ummelhorconhecimentodedoenças não infecciosaspodeser obtidopelo estudo dos ecossistemasem associaçãocom carac- terísticasfísicascomasquaisosanimaisafeta- dosestãorelacionados.A estruturageológica deumecossistema,por exemplo,podeafetar a composiçãomineraldasplantase, portan- to, determinaraocorrênciadedeficiênciase excessosdemineraisnosanimais. O meioambientedeumecossistemaafeta a sobrevivênciadeagentesinfecciosose seus hospedeiros.Portantu,a infecçãocom o hel- minto,Fasciolahepatica,éumsérioproblema emáreascommádrenagem,poisosparasitas passampartedeseuciclo devidaemumcara- mujoquenecessitadeambienteúmido. Cadaum dos200tiposantigênicos(soro- tipos)deLeptospirainterrogamémantidoem umaoumaisespéciesdehospedeiro.O sorotipo copenhageni,por exemplo,é mantidoprinci- palmenteemratos(Babudieri,1958).Assim se esseestáassociadocom leptospiroseem humanosourebanhosdomésticos,entãopar- te do controle da doençadeveenvolverum estudoecológicodaspopulaçõesde ratos e controledosratosinfectados.Similarmente, naÁfrica,umherpesvírusqueproduzinfecção semsintomasemgnuséresponsávelpelafebre catarralmalignadosbovinos(Plowrightetal., 1960).Populaçõesdegnus,portanto,devem ser investigadasquando se tenta controlar essadoençaembovinos. O climadoecossistematambémé impor- tanteporquerestringeadistribuiçãogeográfica dosagentesinfecciososquesãotransmitidos por artrópodesaolimitar a distribuiçãodes- sesartrópodes.Porexemplo,amoscatsé-tsé, que transmitea tripanossomíase,é restrita àsregiõesúmidasdaÁfricasubsaariana(Ford, 1971). Agentes infecciosospodem se espalhar para fora dos ecossistemasdos seushospe- deirostradicionais.Issoocorreuembovinos tuberculososnaGrã-Bretanha,ondeapopula- çãodetexugospareceserumaalternativade hospedeirospara o Mycobacteriumtubercu- losis (Little et al., 1982; Wilesmith et al., 1982). Também,em certas áreasda Nova Zelândia,gambásselvagenssãoinfectadospor essabactériae podemserfontesde infecção paraosbovinos(ThornseMorris,1983).A rotina deobservaçãode tais infecçõesforneceinfor- maçõesvaliosasnasmudançasnoníveldeocor- rênciadadoençae de fatoresecologicamente relevantesepodem,portanto,indicarmudanças necessáriasnasestratégiasdecontrole. Doençasinfecciosasquesãotransmitidas por insetos,carrapatose outros artrópodes, pelosquaispodemsermantidasemvidaselva- gem,apresentamrelaçõesecológicascomple- xas,constituindoproblemasdedifícilcontrole. Estudosepidemiológicosabrangentesdessas doençasauxiliaramaesclarecerseusciclosde vidae,portanto,aestabelecerosmétodosade- quadosdecontrolá-Ias. Planejamentoemonitoramentode programasdecontrolededoença A instituiçãodeprogramasdecontroleou erradicaçãodeumadoençaemumapopulação animaldeveserbaseadano conhecimentodo nível de ocorrêncianessapopulação,assim comoosfatoresassociadosàsuaocorrência,as estruturasnecessáriasparaseucontrolee o custo-benefícioenvolvidonaação.Essasinfor- maçõessãoigualmenteimportantesparaum programadecontroledemastiteaserinstituí- doemumaúnicapropriedade,bemcomopara o estabelecimentodeumprogramadeerradi- caçãodebruceloseemâmbitonacional,envol- vendo todas a as propriedadesdo país. As técnicasepidemiológicasutilizadasincluema coletadedadossobreadoençanaspopulações (monitoramento e vigilância) para decidir seasdiversasestratégiasestãosendoeficazes. Vigilância tambémé necessáriapara se determinarseaocorrênciadadoençaestásen- do afetadapor novosfatores.Por exemplo, duranteo esquemadeerradicaçãodatuber- culosebovinanaNovaZelândia,gambásficaram infectadosemcertasáreas.Novasestratégias tiveramque ser introduzidaspara controlar o problema(Julian, 1981).Durantea epide- mia de febreaftosade 1967e 1968,na Grã- Bretanha,programasdevigilânciaindicaram a importânciadepartículasdevíruscarrega- das pelo vento na transmissãoda doença (Smith e Hugh-Jones,1969).Esseconheci- mentoadicional foi relevanteparaa fixação deáreasdentrodasquaishaviarestriçõesde movimentaçãodeanimais,facilitando,assim, a erradicaçãodadoença. Avaliaçãoeconômicadosefeitos dadoençaedeseucontrole O custodo controlededoençasemuma indústriadecriaçãoanimalnecessitasercon- frontadocomaperdaeconômicaatribuívelà doença.Portanto,é necessáriauma análise econômica.Essaé uma parte essencialdos programasmaismodernosdesaúdeanimal. Apesardesereconômicodiminuiraaltaocor- rência de uma doençaem um rebanho,às vezesé antieconômicoreduzir aindamaiso nível de uma doençaquejá tembaixonível deocorrência.Se15%dasvacasemumreba- nho estãoafetadaspor mastite,a produtivi- dadeseráseveramenteafetadaeumprograma de controledeveserestabelecidopararedu- zir O prejuízoeconômico.Por outro lado, se menosde 1%do rebanhoestiverafetado,o custo de uma reduçãopara níveismenores poderánãorepresentarumsuficienteaumen- to na produtividadequejustifique e pagueo gastopeloprogramadecontrole. Essaintroduçãodosusosdaepidemiologia indica que o objetivoé relevanteem muitas áreasdaciênciaveterinária.Osindivíduosque vivemdaagriculturaemgeralestãosetornando cadavezmaispreocupadoscomasanidadedo rebanho.Osclínicosdeanimaisdecompanhia estãoenfrentandodoençascrônicasrefratárias, taiscomodermatosesidiopáticas,quesãomais bemcompreendidasanalisando-seos fatores que sãocomunsa todosos casos.Os veteri- nários do governonão podemcumprir suas obrigaçõesderotinasemter referênciassobre Escopo da Epidemiologia - 23 asdoençasdeocorrêncianacional.Os patolo- gistasinvestigamaassociaçãoentrecausaeefei- to (istoé,lesões),sendoqueesseéumenfoque epidemiológico,quandoasinferênciassãorea- lizadasdegruposdeanimais.Osveterináriosde abatedourose de indústrias processadoras decarnetentamreduziraocorrênciadecontami- naçãoedefeitostentandocompreendereelimi- narsuascausas.Aomesmotempo,osveterináriosdeindústriaslidamcomo delineamentodees- tudosclínicos,comparandotaxasdeocorrência dedoençaerespostaaotratamentoemgruposde animais,aosquaissãoadministradosdiferentes compostosterapêuticoseprofiláticos. Tipos deInvestigações Epidemiológicas Háquatroenfoquesdapesquisaepidemio- lógica que tradicionalmentetêm sido deno- minados"tipos" deepidemiologia.Essessão epidemiologia:descritiva,analítica, experi- mental e teórica. Epidemiologiadescritiva Epidemiologia descritivaenvolveobser- vaçãoe registrosdasdoençase os possíveis fatorescausais.Normalmente,é a primeira parte de uma investigação.As observações são,algumasvezes,parcialmentesubjetivas, mas,emcomumcomobservaçõesemoutras disciplinas,podendogerarhipótesesquepo- derãosertestadasposteriormentecommaior rigor. A teoria de Darwin da evolução,por exemplo,foi derivadaprincipalmentedeob- servaçõessubjetivas,mas,com ligeiras mo- dificações,foramtestadascomtodorigorpor cientistasdeplantase animais. Epidemiologiaanalítica Epidemiologiaanalítica é a análisedas observaçõespor testesdediagnósticoe esta- tísticos adequados. Epidemiologiaexperimental Nesta, o epidemiologistaexperimental observae analisadadosdegruposdeanimais 24 - EpidemiologiaVeterinária queelepodeselecionare, nosquaiselepode alterar,os fatoresassociadosaosgrupos.Um componenteimportantedoenfoqueexperimen- taléo controledegrupos.A epidemiologiaex- perimentaldesenvolveu-senosanosde1920e 1930,usando-seanimaisde laboratóriocuja curtaduraçãodavidapermitequeoseventos sejamobservadosmaisrapidamentequeemhu- manos(verCapo18).Um notávelexemploé o trabalhodeTopley(1942)queinfectoucolônias de camundongoscom vírus da ectromeliae Pasteurellaspp.Os efeitosdeváriasta.'(asde exposiçãodoscamundongosmantidosemgru- posdeváriostamanhosserviramdebasepara estudosdocomportamentodedoençasepidê- micashumanas,taiscomosarampo,escarlatina, coquelucheedifteria,asquaisseguirampadrões semelhantesaosdasinfecçõesexperimentais (MRC,1938).Essetrabalhodemonstroua im- portânciadaproporçãode indivíduossuscetí- veisnapopulaçãoemdeterminaro progresso dasepidemias(verCapo8);atéentão,pensava- se que mudançasna virulênciado microrga- nismoseriamosfatoresmaisimportantesque afetariamospadrõesepidêmicos. Raramente,um experimento"natural" podeserconduzidoquandodaocorrênciana- turaldeumadoençaouemcircunstânciasfor- tuitasqueseaproximamestreitamentedeum experimentoidealmentedelineado.Porexem- plo, quandoa BSE ocorreuna Grã-Bretanha, surtosda doençanas Ilhas Chanel (Jerseye Guernsey),quemantinhamaspopulaçõesde bovinosisoladas,forneceramuma situação idealparaestudaradoença,devidoàausência dapossibilidadedetransmissãoporcontatocom animaisinfectados(Wilesmith,1993).Issocor- roboroucom a hipótesede quea doençaera transmitidapor alimentoscontaminados. Epidemiologiateórica Consistenarepresentaçãodadoençausando modelosmatemáticos,natentativadesimular padrÔesnaturaisdaocorrênciadadoença. SUBDISCIPLINAS EPIDEMIOLÓGICAS Váriassubdisciplinasepidemiológicassão atualmentereconhecidas.Essasrefletem,fun- damentalmente,diferentesáreasdeinteresse, mais que diferentestécnicas.Aplicam-sea todosos quatro tipos de epidemiologia,an- teriormente descritos e podem ser super- postas,mas suasidentidadesseparadassão consideradasjustificáveispor alguns. Epidemiologiaclínica A epidemiologiaclínica é o usodeprincí- pios,métodose achadosepidemiológicosnos cuidadosde indivíduos,com particularrefe- rência ao diagnósticoe prognóstico (Last, 1988),etrazendo,portanto,umenfoquenumé- ricoparaamedicinaclínicatradicional,quetra- dicionalmentetemsidoanedóticae subjetiva (Gruffermane Kimm,1984).Essaincluia fre- qüênciae a causada doença,os fatoresque afetamoprognóstico,avalidadedostestesdiag- nósticos,aeficiênciadastécnicasterapêuticas e preventivas(Fletcheretal., 1988). Epidemiologiacomputacional A epidemiologiacomputacionalenvolvea aplicaçãodetécnicasdaciênciadacomputação aosestudosepidemiológicos(Habtemariamet al., 1988). Inclui a representaçãoda doença pormodelosmatemáticos(ver"Investigações Quantitativas",a seguir)e o usodesistemas especializados.Essessistemassãocomumente aplicadosao diagnósticoda doençae sãoin- corporadosa um conjuntoderegrasparare- solverproblemas,por exemplo,detalhesdos sintomasclínicos,lesões,resultadosde labo- ratórioe opiniõesdeespecialistas.A identifi- caçãodacausadatosseemcães(Roudebush, 1984) e o diagnóstico de mastite bovina (Hogeveenetal., 1993)sãoexemplosemque essessistemastêm sido aplicados.Sistemas especializadossãotambémusadosna formu- laçãode estratégiasde controlede doenças (porexemplo,afebredaCostaLeste:Gettinby eByrom,1988),previsãodeprodutividade(por exemplo,desempenhoreprodutivoemproprie- dadesleiteiras:McKayetal., 1988),e, ainda, para dar apoio às decisõesde manejo (por exemplo,decisõesdereposiçãodematrizes suínas:Huirneetal., 1991). Epidemiologiagenética Epidemiologia genética é o estudo da causa,distribuiçãoe controlededoençasem indivíduosrelacionados,ededefeitosherdados em populações (Morton, 1982; Roberts, 1985).Ela mostraqueentreasdisciplinasde epidemiologiaegenéticaa fronteiraétênue. Muitasdoençasenvolvemambosfatoresgené- ticosenãogenéticos(verCapo5) e genessão incriminadoscadavezmais em doençasde todos os órgãos(Fig. 1.3). Assim, os gene- ticistase epidemiologistasestãoambospre- ocupados com a interação entre fatores genéticosenãogenéticos- incertosóo tempo deinteraçãofreqüentementepodeserusado paraclassificarumapesquisacomogenética ou epidemiológica. Epidemiologiamolecular Novastécnicasbioquímicasagoracapaci- tamosmicrobiologistasebiólogosmoleculares a estudarpequenasdiferençasgenéticase an- tigênicasentrevíruseoutrosmicrorganismos, com um nívelde discriminaçãomaisalto do queantesteriasidopossívelusando-seastéc- nicassorológicasconvencionais.Os métodos incluem mapeamentodos peptídeos, "im- pressãodigital" de ácidosnucléicose hibri- dação(Kellere Manak,1989;Kricka, 1992), análisede enzimasde restrição,anticorpos monoclonais (Oxford,1985; Goldspink e Gerlach,1990;Goldspink,1993)e reaçãode polimerase em cadeia (Belák e Ballagi- Pordány,1993).Por exemplo,o seqüencia- mentodenucleotídiosdovírusdafebreaftosa da Europaindicouqueos recentessurtosda doençaenvolveramcepasvacinais,sugerindo que inativaçãoimprópriaou escapede vírus deindústriasdeproduçãodevacinastenhasido responsávelpor surtos da doença (Beck e Strohmaier,1987). Similarmente,infecções queatéentãotinhamsidodifíceisdeseiden- tificar são agoraprontamentedistinguíveis usando essasnovas técnicas moleculares; exemplosdessassão a infecçãocom Myco- bacteríumparatuberculosis(agenteetiológicoda doençadeJohne) (Murrayetal.,1989)edoen- çaslatentescomovírusdadoençadeAujeszky Escopo da Epidemiologia - 25 (Beláketal.,1989).A aplicaçãodessasnovas técnicasconstituiaepidemiologiamolecular. A descriçãogeraldométodofoi fornecidapor Persingetalo (1993). Epidemiologiamolecularé partedo largo uso demarcadoresbiológicos (Hulkaetal., 1990), que sãoaIteraçõescelulares,bioquí- micasoumoleculares,mensuráveisemmeios biológicoscomotecidos,célulasefluidos.Po- demindicarasuscetibilidadeaoagentecausal ou uma respostabiológica, sugerindouma seqüênciadeeventosdeexposiçãoà doença (Pererae '\Teinstein,1982).Alguns têmsido usadosporveterináriospor muitosanos,por exemplo,o nível sérico de magnésiocomo indicadordesuscetibilidadeparahipocalcemia clínica (WhitakereKelly,1982;VandeBraak etal., 1987),níveissoro transaminasecomo marcadoresparadoençasdofígadoe anticor- poscomoindicadoresdaexposiçãoaoagente infeccioso(verCap.17). Outrassubdisciplinas Váriasoutrassubdisciplinasepidemiológicas foramtambémdefinidas.A epidemiologiadas doençascrônicasestáenvolvidacomdoenças de longa duração (por exemplo, câncer), muitas das quais não infecciosas.A epide- miologiaambientaltemporobjetivoo estudo darelaçãoentreadoençaeosfatoresambien- tais, tais comopoluiçãoindustriale, name- dicinahumana,riscosocupacionais.Animais domésticospodemfuncionarcomomonitores de riscos ambientaisfornecendoum alerta precocedo risco de doençano homem (ver Capo18).Microepidemiologiaé o estudoda doençaempequenosgrupos de indivíduos, comrespeitoaosfatoresqueinfluenciamsua ocorrênciaem grandessegmentosda popu- lação.Por exemplo,estudosdasíndromeda imunodeficiência adquirida felina (jeline acquiredimmunodeficiencysyndrome,FAIDS), em um grupode gatinhos,propiciaramuma visãodadoençadisseminadaemhumanos,AIDS (Torres-Anjele Tshikuka,1988).A microepi- demiologia,quefreqüentementeusamodelos biológicos de doençasanimais,está estrei- tamenterelacionadacom a epidemiologia 26 - Epidemiologia Veterinária comparativa(verCapo18).Emcontraste,a macroepidemiologiaé o estudodepadrões nacionaisdadoençaedosfatoressociais,econô- micosepolíticosqueosinfluenciam(Hueston e Walker,1993).Outrassubdisciplinas,tais comoa epidemiologianutricional(VI/illeu, 1990)e a epidemiologiasubclínica(Evans, 1987)podemtambémseridentificadaspara refletirdeterminadasáreasdeinteresse. Componentesda Epidemiologia Oscomponentesdaepidemiologiasãore- sumidosnaFigura2.1.Oprimeiroestágioem qualquerinvestigaçãoéacoletadedadosre- levantes.Asprincipaisfontesdeinformações serãoabordadasnoCapítulo10.Osmétodos dearmazenar,recuperare divulgarasinfor- maçõesserãodiscutidosnoCapítulo11. As investigaçõespodemserqualitativas e/ouquantitativas. INFORMAÇÕES QUALITATIVAS Histórianaturaldadoença A ecologiadadoença,incluindoadistri- buição,omododetransmissãoeamanutenção dasdoençasinfecciosas,é investigadapor observaçõesdecampo.Princípiosecológicos serãodescritosnoCapítulo7.Métodosdetrans- missãoe manutençãosãodescritosno Ca- pítulo6eospadrõesdeocorrênciadedoença serãodescritosnoCapítulo8.Observaçõesde campotambémpodemrevelarinformações sobrefatoresquepodemdiretamenteouin- diretamentecausaradoença.Osváriosfatores queatuamnaproduçãodadoençaserãodes- critosnoCapítuloS. Testedashipótesescausais Seinvestigaçõesdecamposugeremque certosfatorespodemser associadoscom acausalidadedadoença,entãoessacausa- lidadepodeseravaliadacomaformulação deumahipótese.A causalidade(relaçãoen- trecausaseefeitos)eaformulaçãodehipó- tesesserãodescritasnoCapítulo3. Investigaçõesqualitativasconstituíramas principaiscaracterísticasda epidemiologia antesdaSegundaGuerraMundial.Osepide- miologistasestavampreocupadoscomaidenti- ficaçãodecausasdesconhecidasdeinfecções esuasfontes.Algunsexemplosinteressantes deepidemiologistasagindocomo"detetives" médicossãodescritosporRoueché(1991). INVESTIGAÇÕES QUANTITATIVAS Investigaçõesquantitativasenvolvemmen- surações(porexemplo,onúmerodecasosda doença)e, portanto,expressãoe análisede valoresnuméricos.Métodosbásicosdeexpres- saressesvaloresserãodescritosnosCapítulos 4 e12.Ostiposdemensuraçõesquesãoen- contradosna medicinaveterináriaserão descritosnoCapítulo9.Aspesquisasquanti- tativasinclueminquéritos,monitoramentoe vigilância,estudos,modelose avaliaçãodo controlededoençabiológicaeeconômica. Inquéritos Uminquéritoéo examedeumagregado deunidades(KendalleBuckland,1982).Um grupodeanimaiséumexemplodeagregado. Oexameusualmenteenvolvecontarmembros deumagregadoe ascaracterísticasdesses membros.Osinquéritosepidemiológicosdevem incluirapresençadedeterminadasdoenças, pesoeproduçãodeleite.Osinquéritospodem serexecutadosemumaamostradapopulação. Menoscomumente,umcenso,queexamina a populaçãototal, podeser avaliado(por exemplo,testedetuberculina).Uminquérito transversalregistraeventosqueocorremem umdadoponto,emummomento.Uminqué- rito longitudinalregistraeventosqueocor- rem duranteum períodode tempo.Esses últimoseventospodemserregistradosem prospecção,do presenteparao futuro;ou podeserregistroretrospectivodeeventos passados. Umtipoparticulardeinquéritodediag- nósticoé umatriagem.É a identificaçãode casosnãodiagnosticadosdedoenças,usan- do-setestesrápidosouexames.O objetivoé Escopo da Epidemiologia - 27 Fontededadosveterinários Avaliaçãoqualitativa ~ Histórianaturaldadoença Ecologia Fatorescausais Transmissãoe manutenção Hospedeiro, agentee meio ambiente Inquéritos transversais Estudos experimentais Ensaiosclínicos, estudosde intervenção Estudos Transversais Longitudinais/~ Caso-controle Coorte ~ E'7e;nqU\nQUéitO, Estudoslis" ~ I"observaciona,/ t --, I Monitoramento Vigilância Controle de doença FIGURA 2.1 - Componentesdaepidemiologiaveterinária.(AdaptadodeThrusfield1985a.). separarindivíduosqueprovavelmentetiveram adoençadaquelesqueprovavelmentenãotive- ram.Os testesdetriagemnãosãodestinados aseremdefinitivos,assim,indivíduoscujoteste temresultadospositivos(istoé,queforamclas- sificadoscomodoentespelotestedetriagem) necessitamdeinvestigaçãoadicionalparaum diagnósticodefinitivo. Testesdiagnósticos,incluindoinquéritos sorológicos e triagem, serão estudadosno Capítulo 17.O esquemados inquéritosem geralserádescritono Capítulo 13. Monitoramentoevigilância O monitoramentoérealizadopor obser- vaçõesde rotina de saúde,produtividadee 28 - EpidemiologiaVeterinária fatoresdomeioambiente,porregistroetrans- miçãodessasobservações.Assim,oregistrore- gulardeproduçãodeleiteémonitorado,bem comoa rotinaderegistrode achadosna ins- peçãodecarneemabatedouros.A identificação individualdeumanimaldoentenormalmente nãoé registrada. Vigilância é umaformamaisintensivade registrosdedadosqueo monitoramento.Ori- ginalmente,a Ügilânciaera usadaparades- cre\'ero rastreare a obsermçãode pessoas emcontatocomdoençasinfecciosas.O termo agora é usado em um sentido mais amplo (Langmuir,1965),paraincluir todosos tipos dedoenças- infecciosase nãoinfecciosas- e em'oh'era colaçãoe interpretaçãode dados coletadosdurantcosprogramasdemonitora- mento,usualmentecomregistrodeidentidade de indivíduosdoentes,paradetectarmudan- ças na saúdeda população.É normalmente partedosprogramasde controlede doenças específicas.O registrodelesõesdetubercu- loseemumabatedouroeo rastreamentoaté a fazcndade origemdosanimaisinfectados é um exemplodevigilância.Anteriormente, os termos "monitoramento"e -'\'igilância" eramusadoscomosinônimos,mashoje em dia sãoaceitasas distinçõesentre eles.As- pectos do sistemade vigilância nacional e internacional foram re\'isadospor Blajan (1979),Davies(1980,1993), Ellis (1980) c Blajan e "'elte (1988) e algunssistemasde informações de doença em animais serão descritosno Capítulo 11. 1Ionitoramentoevigilânciapodemincluir todorebanhonacional.Ou,alternativamente, poucas fazendas, abatedouros, clínicas veterináriasou laboratóriospodemsersele- cionados; essessão então referidos, como unidades"sentinelas",porque são destina- dos a manter uma doençasob obsen'ação. Similarmente,cavalospodemserutilizados como sentinelaspara infecção de vírus da encefalite eqüina venezuelana(Dickerman e Scherer,1983)e cãesderuasãosentinelas de infecçãode parvovirosecanina (Gordon e Angrick, 1985), sendoa infecçãoidentifi- cadasorologicamente,Outras espéciesque sãosuscetíveisaumagenteinfecciosopodem serusadascomosentinelasparaasprincipais populaçõesanimais.Por exemplo,pássaros selvagenspodemserusadosparamonitorar a atividadedo vírus da encefalitede Saint Louis, fornecendoumainformaçãoprecoce da atividadedo vírus a tempo, enquantoa infecçãoaviáriaaindaestámuito baixapara constituir risco à populaçãohumana(Lord et al., 1974). Animais domésticos podem tambémserusadoscomosentinelasderiscos ambientais contra a saúde humana, tais comocarcinógenose inseticidas;essetópico seráabordadoem detalheno Capítulo 18. Estudos É o termogeralquesereferea qualquer tipo de investigação.Entretanto,em epide- miologia, um estudo usualmente envolve comparaçãodegruposdeanimais,porexem- plo,comparaçãodepesosdeanimaisquesão alimentadoscom diferentesdietas.Assim, apesarde o inquérito poderser classificado comoumestudo,é excluídodosestudosepi-demiológicosporqueenvolvesó descriçãoe nãocomparaçãoe análisequea comparação requer.Háquatrotiposprincipaisdeestudos epidemiológicos: I, Estudosexperimentais; 2. Estudostransversais; 3. Estudosdo tipo caso-controle; -1. Estudosdecoortes, Em umestudoexperimentalo pesquisa- dor tema capacidadedealocar animaisem \'áriosgrupos,de acordocom fatoresqueo pesquisadorpuder,aleatoriamente,determi- nar paraosanimais(por exemplo,esquema de tratamento, técnicas preventivas);tais estudos são, portanto, parte da epidemio- logiaexperimental.Um importanteexemplo é o estudoclínico. O pesquisadoralocaani- mais em um grupo onde serãosubmetidos aumprocedimentoterapêuticoouprofilático ou aumgrupodecontrole.É, portanto,pos- sível avaliara eficiência do procedimento comparandoosresultadosentreosdoisgru- pos.Os estudosclínicos serãoanalisadosno Capítulo 16. Outrostiposdeestudos- transversais, caso-controlee coorte - baseiam-sena observação,sãochamadosde "observacio- nais".Umestudoobservacionalésemelhan- teaoexperimental:animaissãodistribuídos emgruposdeacordocomalgumascaracte- rísticas que possuem(traçosda doença, etc.). Entretanto,nessesnão é possível alocaros animaisaleatoriamenteporque o pesquisadortempoucocontrolesobreos fatoresqueestãosendoestudados,asca- racterísticassãoinerentes(por exemplo, pesooudietanormal). Os estudos transversais investigam conexãoentreadoença(ououtrosfatores relacionadoscoma saúde)e fatorescau- saishipotéticosem umapopulaçãoespe- cífica. Os animais são classificados de acordocom a presençae a ausênciada doençaeosfatoresetiológicoshipotéticos; inferênciaspodemser realizadassobrea doençaeessesfatores,porexemplo,entre incompetênciadaválvulacardíaca(adoença) e raça(fatoretiológicohipotético). Oestudocaso-controlecomparaumgrupo dedoentescomumgrupodeanimaissadios, comrelaçãoà exposiçãoaosfatoresetiológicos hipotéticos.Porexemplo,umgrupodegatos comurolitíase(adoença)podesercompara- docomgruposdegatossemurolitíaserela- cionadoaoconsumodealimentodessecado paragatos(fator)paradeterminarseessetipo de alimentotemefeitona patogêneseda doença. Em umestudodecoorteumgrupoex- postoa determinadosfatoresé comparado comgruponãoexpostocomrelaçãoaode- senvolvimentodadoença.É, então,possível calcularumnívelderiscodedesenvolvimento dadoençacomreferênciaàexposiçãoaosfa- toresetiológicoshipotéticos. Os estudosdostiposcaso-controlee de coortetêmsidofreqüentementeaplicadosem medicinahumanaemquepesquisasexperi- mentaisdecausasãousualmenteantiéticas. Porexemplo,nãoseriapossívelinvestigara toxicidadedeumadrogaporadministração intencionaldadrogaemumgrupodepessoas, paraserpossívelestudarosefeitoscolaterais. Escopo da Epidemiologia - 29 Entretanto,sesintomasdetoxicidadeocorre- ram,umestudodo tipocaso-controlepode serusadoparaavaliaraassociaçãodossintomas coma drogasuspeitadecausartoxicidade. Há menosrestriçõeséticasna investigação experimentalemmedicinaveterináriaquena medicinahumanae,portanto,apesquisaex- perimentalde sériascondiçõesé mantida. Entretanto,estudos"observacionais"têmum papelnaepidemiologiaveterinária,porexem- plo,quandoasdoençassãoinvestigadasem populaçõesdefazendaeemanimaisdecom- panhia.Umapreocupaçãocrescentepelobem- estardoanimalestátornandoessastécnicas cadavezmaisusadasqueanteriormente. Métodosbásicosdeacessaraassociação entrea doençae a hipóteseetiológica,em estudosobservacionaisserãodescritosnos Capítulos14e 15. Estudos"observacionais"formamamaioria dosestudosepidemiológicos.Ciências"obser- vacionais"e experimentaistêmsuaprópria forçae fraquezaqueforamdiscutidasem detalheporTrotter(1930).A maiorvantagem deumainvestigação"observacional"éaquela emqueosestudossãorealizadosdurantea ocorrêncianaturaldadoença.A experimen- tal podesepararfatoresassociadoscoma doençadeoutrosfatores,quepodemconsti- tuir umainteraçãoimportanteem surtos naturaisdadoença. Modelos Dinâmicasdadoençaeefeitosdediferen- tesestratégiasdecontrolepodemserrepre- sentadosusando-seequaçõesmatemáticas. Essarepresentaçãoé o "modelo".Muitos métodosmodernosestãoconfiadosacompu- tadores.Outrotipodemodeloéasimulação biológicausandoanimaisexperimentais(fre- qüentementeanimaisdelaboratório)parasi- mularapatogeniadasdoençasqueocorrem naturalmentenos animaise no homem. Adicionalmente,aocorrênciaespontâneada doençaemanimaispodeserestudadanocam- po (por exemplo,usandoestudos"obser- vacionais")paraaumentara compreensão dedoençashumanas.Modelosmatemáticos 30 - Epidemiologia Veterinária serãoapresentadosno Capítulo19emodelos de doençasde ocorrênciaespontâneaserão descritosno Capítulo 18. Controlededoenças o objetivodaepidemiologiaé melhoraro conhecimentodeveterináriosparaqueasdoen- çaspossamsercontroladasefetivamenteeapro- dutividade,otimizada.Issopodeserconseguido por tratamento,prevençãoou erradicação.A avaliaçãoeconômicadadoençae seucontrole serãodiscutidosno Capítulo 20. Esquemas desaúdeserãodescritosnoCapítulo21.Final- mente,os princípiosdecontrolesde doenças estarãoapresentadosno Capítulo22. Os diferentescomponentesdaepidemio- logia aplicamos quatrosenfoquesemvários graus. Inquéritos e estudos,por exemplo, consistememumapartedescritivaeumaparte analítica.No modelotambémsepodeincluir um enfoqueteórico. A Epidemiologiaé umaCiência? INTERAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS DuranteaprimeirametadedoséculoXX, a maioriadosepidemiologistasera treinada, inicialmente,comobacteriologistas,refletin- doo envolvimentoinicial nainvestigaçãodos surtosdedoençasinfecciosas.O enfoqueepi- demiológicoé, na atualidade,praticadopor veterináriosdemuitasdisciplinas:oparasito- logistaestudandoos ciclos devidae a dinâ- micada infecçãodehelmintos,artrópodese protozoários; os geneticistaspreocupados comumdefeitohereditárionapopulação;eos nutricionistasinvestigandoumadeficiênciaou toxicidade. Hoje,membrosdeváriasoutrasciênciastam- bémparticipamdeestudosepidemiológicos:es- tatísticosanalisandodadosdegruposdeanimais, matemáticosmodelandodoenças,economistas calculandooimpactoeconômicodestaeecolo- gistasestudandoa suahistórianatural.Cada uma dessasciênciasse ocupade diferentes facetasda epidemiologia,variandoda pura- mentedescritivaàepidemiologiaanalíticacom enfoquequalitativoe quantitativo.Hávárias definiçõesdeepidemiologia(Lilienfield,1978), asquaisrefletemessasfacetas,quevariamda ecológica,relacionadaapenascomas doenças infecciosas("estudodaecologiadasdoençasin- fecciosas":Cockburn,1963),àepidemiologia matemática,referindo-sesóapopulaçõeshu- manas("estudodadistribuiçãoe dinâmicadas doençasnaspopulaçõeshumanas":Sartwell, 1973). Entretanto,todastêm em comumo estudodepopulaçõese assimsãoenglobadas pelaampladefinição que foi dadano início destecapítulo. Muitasdastécnicasusadasnainvestigação epidemiológicaforamdesenvolvidasemoutras ciências;sãoexemplosos testesestatísticos paraavaliarassociaçãoemétodosdeamostra- gemdepopulações.Isso levantoua questão: seriaa epidemiologiaumaciênciaisoladaou meramenteumamaneirade pensarem que seaplicaumavariedadedemétodosempresta- dosdeoutrasciências?(Terris,1962).Quando se realiza um teste em campo, é o bacte- riologistapraticandoumaciênciadistintade- nominadaepidemiologia,ou estariausando métodosestatísticosde amostragemmera- menteparaadicionarcredibilidadeparaashi- pótesesbacteriológicas,formuladasapartirde resultadosexperimentaisderivadosdolabora- tório?A diferençaentrea ciênciae o método é maisqueumaquestãodesemântica:"Se o epidemiologistaforvistomeramentecomoum auxiliardapesquisaexperimental,seráalge- madocomasmesmaslimitaçõese o assunto teráamesmasperspectivasestreitas.E conti- nuaráa sercomoum esporteamador- que faráobservaçõessubjetivasno campoparale- vantarhipótesesquepodemser examinadas nabancadadelaboratório- ouexistirásimples- menteparaadicionarmaisrespeitabilidadea achadosexperimentaisque por si só seriam poucoconvincentes?"(Davies,1983).Seaepi- demiologiaéumaciência,entãotemumaiden-tidadeautônomaeélivreparadesenvolverseus métodospróprios. A distinçãoentreciênciaemétodopodenão serfácil(Himsworth,1970).Haveráaquelesque manterãoa opiniãoqueanovaciênciaproposta nadamaisé queuma meravariaçãodasuames- ma e, os quesentirão,com igual convicção,que os conceitos e métodos tradicionaissão inade- quadose que um alegadonovo campo poderá ser adotadopor ter seupróprio mérito. Trotter (1932) sugeriu duasconsiderações ao sejulgar a individualidade de uma ciência: qualidade e distinção. A qualidade dos dados relacionados com a ciência deve ser tal que essespoderiamseranalisadoscientificamente, por métodosdeanálisedisponíveis.O campoda experiência natural que estaria sendo investi- gadopela ciência deveriatambém ser distinto daquelesinvestigadospor outrasciências,para ter uma extensãotal que somenteos métodos da nova ciência poderiam ampliar o conheci- mento naquele campo. Desdeos anosde 1960, aepidemiologiave- terináriapreencheuessesdoiscritérios (DmJies, 1983). Um exemplodissoé o campode investi- gaçãoda febreaftosapor Smith e Hugh-Jones (1969), mencionadosanteriormente nesteca- pítulo. Essesautoresprojetaramadisseminação da doençadurante a epidemiade 1967 a 1968 na Grã-Bretanha e concluíram que as partícu- lasdovíruspoderiamserdisseminadaspeloven- to. Osdetalhesepidemiológicosforamrefinados por investigaçãolaboratorial dasviasde excre- ção do vírus e, com dadosmeteorológicos,for- mularamo modeloparapredizera dispersãodo vírus,o quefoi degrandevalorno planejamento dascampanhasdecontrole(Glosteretal.,1981). Essetrabalhopreencheos doiscritérios dequa- lidade e distinção; a qualidadedos dadosé tal que puderamser analisadose a experiênciana- tural de campo- disseminaçãoda doença,nes- secaso- forneceuoconhecimentodiferenciado. Os resultadosdessasinvestigaçõeseoconcomi- tanteaumentodacompreensãodadoençaforam possíveissomente por causa do amálgama de diferentestécnicasdasváriasciênciasquecons- tituem a epidemiologia. RELAÇÃO ENTRE EPIDEMIOLOGIA E OUTRAS DISCIPLINAS DE DIAGNÓSTICO Asciênciasbiológicasformamumahierarquia, quevaido estudodemoléculasnão replicantes Escopo da Epidemiologia - 31 ao deácidosnucléicos, organelas,células, teci- dos, órgãos,sistemas,indivíduos, grupos e, fi- nalmente,todaacomunidadeeosecossistemas (Wright, 1959).As váriasdisciplinasqueconsti- tuemamedicinaveterináriaoperamemdiferen- tes níveis nessa hierarquia. Histologistas e fisiologistas estudama estrutura e a dinâmica individual.Clínico epatologistaestãoconcentra- dos nos processosde doençanos indivíduos;o clínico diagnosticaadoençausandoossintomas do paciente, o patologista interpreta as lesões paraelaboraro diagnóstico.O epidemiologista investigaas populações,usandoa freqüênciae a distribuição da doença para chegar ao diag- nóstico.Essastrêsdisciplinasdediagnóstico,ope- rando em diferentes níveis na hierarquia, são complementares(Schwabeetai.,1977). Epide- miologistaslidam com omaisalto nível,devem ter um conhecimentodasdisciplinashierarqui- camente, "abaixo" - devem ter a capacidade devertantoas"árvores"comoa"madeira".Isso significaque,adotandoumaamplavisão,emvez dadeespecialista,evitarãoosriscosdescritosum pouco cinicamente por Konrad Lorenz (1977) em seu livro sobrea história natural do conhe- cimento humano: "O especialistacomeçaa sabermaise maissobremenosemenos,atéque,jinalmen- te,saibatudosobrenada.Há umsériorisco dequeo especialista,forçadoacompetircom seuscolegasem adquirirmais e mais co- nhecimentoespecializado,se tornemaise maisignorantesobreoutrosramosdeconheci- mento,atéserincapazdeformarqualquerjul- gamentosobreo papeleaimportânciadesua própriaesferadentrodocontextodoconheci- mentohumanocomoumtodo." Assim, o principal atributo necessárioaum competente veterinário epidemiologista é ter a natural curiosidade, a lógica, o interesse geralno conhecimentodamedicinaveterinária e a capacidadepara desenvolverum raciocínio paralelo. Apesar das observações anteriores sobre os especialistas, um interesse especial eaespecializaçãoemalgumaesferadepesquisa podem, entretanto, ser úteis em algumas in- vestigações;por exemplo, um conhecimento 32 - Epidemiologia Veterinária emeconomiaquandoserealiza umaavalia- ção dosefeitoseconômicosdeumadoença. A epidemiologiaestá se tornando mais quantitativadoqueanteriormente.Umconhe- cimentobásicodeestatísticaé,portanto,ne- cessário.Entretanto,muitosproblemaspodem ser resolvidossemse usarmétodosestatísti- cos complexose os estatísticospoderãoser consultadossenecessário;o epidemiologista devesaberquandoprocurarconselho. Oscapítulosseguintesdescrevemconcei- tos, princípios e técnicasepidemiológicos. Tambémincluemmaterialdeoutrasciências, taiscomoestatística,imunologia,economiae informática,queérelevanteparaapráticacon- temporâneadeepidemiologiaveterinária. Leitura Complementar Davies,G. (1983)Developmentofveterinary epide- miology. VeterinaryRecorcl,112,51 - 53 Ferris, D.H. (1967)Epizootiology.Aclvancesin Vete- rinary Science, 11, 261- 320. (An early clescriptionofveterinaryepiclemiology) Riemann, H. (1982)Launching the new inter- national journal 'Preventive Veterinary Medi- cine'. PreventiveVeterinaryMeclicine,1, 1 - 4 Thrusfield, M. (1992)Quantitative approaches to veterinaryepidemiology. lu: The Royal Veteri- nary College Bicentenary Symposium Series: The Aclvancement of Veterinary Science, Lonclon1991.Volume1: VeterinaryMeclicine Beyoncl2000.Ed. Michell, A.R., pp. 121-142. Commonwealth Agricultural Bureaux, Farnham Royal
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