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2. Execução Civil Execução Contra Devedor Insolvente (1)

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1. INTRODUÇÃO
		O Código de Processo Civil regula a execução por quantia certa dando tratamento separado para a execução por quantia certa contra devedor solvente e para a execução de quantia certa contra devedor insolvente.
		No tratamento da execução de quantia certa contra credor insolvente houve uma aproximação legislativa desta com a falência do devedor empresário. Todavia, essa integração não pode ser feita automaticamente. Isso porque o Código de Processo Civil é menos minucioso no tratamento da insolvência do que foi o legislador falimentar, não sendo possível a aplicação das normas de processo de falência à insolvência, as quais, por sua especialidade, não comportam extensão.
		Os aspectos comuns da insolvência com a falência são: a característica de execução coletiva e universal, já que a ela devem concorrer todos os credores do devedor comum; a situação jurídica em que fica o devedor; as funções do administrador e do síndico, bem como sua natureza jurídica; a arrecadação dos bens e sua liquidação e a habilitação dos créditos e a extinção das obrigações. 		Já os aspectos que diferem a insolvência da falência são: os efeitos penais regulados expressamente na falência; a classificação de créditos; a concordata etc, o qual passamos a ver.
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2. Da caracterização da insolvência
		O conceito do art. 748 do Código de Processo Civil é econômico, e se baseia no desequilíbrio patrimonial entre o ativo e o passivo, quando este é maior que aquele. Contudo, a intenção da lei é que a declaração de insolvência seja feita não em face do desequilíbrio patrimonial em si mesmo, mas em face da impossibilidade de pagamento integral aos credores. Assim, a simples situação negativa contábil ou econômica não ensejará a decretação da insolvência do devedor se se verificar que tem ele capacidade de vir a pagar aos seus credores. A situação patrimonial negativa do devedor é denunciada por certos fatos objetivos relacionados na lei que fazem presumir o estado de insolvência. Presume-se a insolvência quando:
a) art. 750, I: o devedor não possuir outros bens livres e desembaraçados para nomear à penhora.
b) art. 750, II: se forem arrestados bens com fundamento no art. 813, I, II e III. As hipóteses de arresto são as seguintes: I- quando o devedor sem domicílio certo intenta ausentar-se ou alienar os bens que possui, ou deixa de pagar obrigação no tempo estipulado; II- quando o devedor que não tem domicílio se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente; ou, caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens que possui; contrai ou tenta contrair dívidas extraordinárias; põe ou tenta pôr seus bens em nome de terceiros; ou comete qualquer outro artifício fraudulento, a fim de frustrar a execução ou lesar credores; III- quando o devedor, que possui bens de raiz, intenta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em anticrese, sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes às dívidas.
		A segunda parte do inciso I do art. 813 fala sobre impontualidade, porém, não basta a simples impontualidade para se decretar insolvência. Para se decretar a insolvência em virtude da presunção do art. 750, II, é necessário que previamente tenham sido arrestados bens do devedor. Além disso, para que se 
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arrestem bens é necessário que a impontualidade seja acompanhada do periculum in mora. Se não ocorrer tal circunstância, porque é evidente a solvabilidade do devedor, não há que se falar em pedido de insolvência, mas sim de execução individual.
		Os demais casos em que cabe arresto são os chamados fatos denunciadores da insolvência, eles dependem de prova, que deverá ser feita no processo cautelar de arresto.
		Assim, diante de tais fatos denunciadores do desequilíbrio patrimonial, o credor de dívida líquida e certa, que dela tenha prova literal, não precisa aguardar o seu vencimento para pedir o arresto de bens e, posteriormente, a decretação da insolvência. Decretando-se o arresto, decreta-se a insolvência, e, uma vez decretada esta, as dívidas têm seu vencimento antecipado.
3. Efeitos da declaração da insolvência
		A sentença que declara a insolvência é de natureza constitutiva. Seus efeitos podem ser divididos em efeitos de direito material e efeitos de direito processual.
		Os efeitos materiais são: I- provocar o vencimento antecipado das dívidas do devedor; II- provocar a perda do direito de administrar os bens e dele dispor até a liquidação total da massa; III- os bens do devedor passam a constituir uma universalidade, denominada a massa do insolvente, que é o próprio patrimônio do devedor retirado à sua administração e que passa à responsabilidade de um administrador; IV- interromper a prescrição das obrigações, que começará a correr no dia em que passar em julgado a sentença que encerrar o processo de insolvência, extinguindo-se as obrigações remanescentes no prazo de cinco anos. São efeitos processuais: I- a arrecadação de todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, quer os atuais, quer os adquiridos no curso do processo e até que sejam extintas as obrigações; II- a execução, por concurso universal dos seus 
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credores. São também efeitos processuais: a nomeação do administrador; a expedição de edital convocando os credores para que apresentem, no prazo de vinte dias, a declaração de seu crédito acompanhada de título; a atração das execuções movidas por credores individuais.
4. Do Saldo Devedor e da extinção das obrigações
 		O devedor insolvente continua obrigado pelo saldo uma vez liquidada a massa sem que tenha sido efetuado o pagamento integral a todos os credores, conforme o artigo 774 do CPC.
		A regra é que sempre que a execução não for totalmente satisfativa, o credor continua com o saldo de seu crédito e o devedor com o restante da obrigação até que ocorra prescrição.
		Caso o devedor adquira posteriormente bens penhoráveis até que sejam declaradas extintas suas obrigações, serão arrecadados nos autos do mesmo processo, a requerimento de qualquer credor que esteja incluído no quadro geral de credores e ainda não totalmente pago. Uma vez arrecadado o bem, este será arrematado em praça ou leilão, distribuindo-se o produto aos credores, em continuação ao pagamento, proporção de seus saldos (art. 775 e 776).
		Encerrada a insolvência a prescrição do saldo das obrigações recomeça a correr, conforme artigo 777.
		Decorridos cinco anos do trânsito em julgado da sentença que declarou encerrada a insolvência, consideram-se extintas todas as obrigações anteriores do devedor ainda que não habilitadas no processo. Pode então requerer o devedor ao juízo da insolvência a declaração da extinção das obrigações. O juiz mandará publicar edital, com prazo de trinta dias, no órgão oficial e em outro jornal de grande circulação. Neste prazo, qualquer credor poderá opor-se ao pedido alegando que o prazo não se completou ou que o devedor adquiriu bens que podem ser arrecadados (Art. 780). Ouvido o devedor no prazo de dez dias, o juiz proferirá sentença. Será designada audiência de instrução e julgamento, conforme dispõe o artigo 781 do cpc, caso haja necessidade de produção de provas.
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			Transitada em julgado a sentença que declara extintas as obrigações, será publicada por edital, ficando o devedor habilitado a praticar todos os atos da vida civil (art. 782).
		Outra forma de extinção das obrigações é o acordo que o devedor pode propor aos credores após a aprovação do quadro geral. Se os credores concordarem, sem oposição, o juiz, aprovando a proposta por sentença, homologa a forma de pagamento, como dispõe o artigo 783 do CPC.
5. Conclusão
		O CPC/15 não trouxe dispositivos específicos da insolvência civil, optou por comodidade ditar no seu art. 1052 que mantinha as disposições das prescrições do CPC/73.
		Conquanto a frustração da execução singular aponte para a possível incapacidade econômico-financeira do devedor para saldar suas obrigações, o ajuizamento do pedido deinsolvência civil não está condicionada à prévia propositura da execução singular, porquanto, para esse fim, bastam as evidências que permitem deduzir a impotência patrimonial do obrigado.
		A prática forense em maioria só se depara com o ajuizamento da ação de insolvência precedente de uma execução judicial frustrada pela ausência dos bens [o que por si é um sintoma da inaptidão econômica para o pagamento dos credores]. Porém, o autor da execução individual frustrada só pode ingressar com ação visando à declaração de insolvência do devedor – para instaurar o concurso universal -, se antes desistir da execução singular (CPC, art. 775, caput), pois há impossibilidade de utilização simultânea de duas vias judiciais para obtenção de um único bem da vida, sendo certo que a desistência, como causa de extinção da relação processual anterior, necessita ser homologada pelo Juízo (STJ, Resp 1.104.470/DF, DJe 21.05.2013; TJMG, Apel. Cível n. 1.0701.13.005260-1/001, DJ 22.05.2015).
		Assim, enquanto não houver a prolatação da sentença de insolvência, não há propriamente execução contra devedor insolvente, mas um processo de cognição que visa à aferição da real situação patrimonial do obrigado, razão pela qual não se evidencia obstáculo a que qualquer credor quirografário escolha o 
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procedimento expropriatório que lhe for mais conveniente, ainda que pendentes execuções individuais.
		A declaração de insolvência tem eficácia erga omnes e instaura-se o concurso universal, no qual o Juízo procede à análise da situação dos diversos credores, fixa-lhes as posições no concurso e determina a organização do quadro geral de credores (art. 769 do CPC/73), expropriando os bens do executado e satisfazendo os credores nos limites da força da massa arrecadada.
		Nessa fase, portanto, o Juízo universal, propondo-se à liquidação de todo o patrimônio do executado, unifica a cognição relativamente às questões patrimoniais e torna real e efetiva a aplicação do princípio da igualdade entre os credores (par conditio creditorum ), razão pela qual exerce efeito atrativo imediato em relação às ações executórias singulares em curso (art. 762, § 2º, do CPC), cujos efeitos são então obstados.
6. REFERÊNCIAS
Vicente Greco Filho - Direito Processual Civil Brasileiro, 22ª edição, Editora Saraiva.
TARTUCE. Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 3. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO 
NERY JÚNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado: e legislação extravagante. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais

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