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Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas Fernando J. S. Moreira GAPTEM - Grupo de Antenas, Propagação e Teoria Eletromagnética Departamento de Engenharia Eletrônica Universidade Federal de Minas Gerais 31 de julho de 2001 Prefácio Estas notas foram preparadas como texto complementar para as disciplinas envolvendo teoria eletromagnética. Alguns conceitos envolvem tópicos vistos apenas em cursos de pós-graduação, mas em geral qualquer aluno com noções básicas em eletromagnetismo e cálculo pode acompanhar o texto. É importante observar que estas notas não foram revisadas apropriadamente, além de estarem bastante incompletas e com erros de ortogra�a. Estas notas não devem, de maneira alguma, substituir os livros-texto. 2 Sumário 1 Introdução 5 1.1 Tipos de Sistemas de Comunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.1.1 Comunicação Através de Meios Guiados . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.1.2 Comunicação através da atmosfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.2 Sistemas de Antenas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Propagação de Ondas Eletromagnaéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.4 Espectro Radioelétrico e Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico 11 2.1 Fontes, Cargas e Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.2 Representação Fasorial do Campo Eletromagnético e a Relação com a Transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.3 Equações de Maxwell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.4 Relações Constitutivas e Características do Meio . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.4.1 Permissividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.4.2 Perda de Polarização em um Meio Dispersivo . . . . . . . . . . . . 20 2.4.3 Permeabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.4.4 Perdas Magnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.4.5 Condutividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.4.6 Meios Lineares, Homogêneos e Isotrópicos . . . . . . . . . . . . . . 22 2.4.7 Permissividade Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.5 Conceito de Dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.6 Equações de Onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.7 Condições de Contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.7.1 Interface sem Correntes ou Cargas Impressas . . . . . . . . . . . . . 32 2.7.2 Condutividades In�nitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.7.3 Algumas Considerações sobre as Condições de Contorno . . . . . . 33 2.8 Potência e Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.8.1 Conservação da Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.8.2 Potência Média . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.8.3 Energia Média Armazenada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 2.8.4 Potência Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4 SUMÁRIO 3 Radiação 43 3.1 Princípio da Equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.2 Potenciais Vetoriais Auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2.1 Potencial Vetor Magnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2.2 Potencial Vetor Elétrico e a Dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.2.3 Solução Integral dos Potenciais Vetoriais Auxiliares . . . . . . . . . 50 3.2.4 Singularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 3.3 Integrais de Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 3.3.1 Campo Radiado por Fontes em um Meio Contínuo . . . . . . . . . 58 3.3.2 Campo Próximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3.3.3 Campo Distante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.3.4 Relações para o Campo Distante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.3.5 Equações Integrais Através do Teorema de Green . . . . . . . . . . 65 3.4 Potência Radiada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3.5 O Dipolo In�nitesimal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 4 Alguns Teoremas Fundamentais 75 4.1 Teorema da Unicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 4.2 Teoria das Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 4.3 Princípio da Equivalência para Aberturas em Planos In�nitos . . . . . . . 81 4.4 Teorema da Indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 4.5 Ótica Física . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4.6 Teorema da Reciprocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 5 Parâmetros de Caracterização das Antenas 93 5.1 Intensidade de Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 5.2 Diretividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 5.3 Impedância de Entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 5.4 E�ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 5.4.1 Coe�ciente de Re�exão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 5.5 Ganho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 5.6 Diagrama de Radiação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 5.7 Polarização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 5.7.1 Polarização Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 5.7.2 Polarização Circular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 5.7.3 Polarização Elíptica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 5.7.4 As De�nições de Ludwig . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 5.7.5 Polarizações Ortogonais: Principal e Cruzada . . . . . . . . . . . . 116 Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG Capítulo 1 Introdução 1.1 Tipos de Sistemas de Comunicação Há dois grupos básicos de sistemas de comunicação: � sistemas aonde a informação é transmitida através de meios guiados como linhas de transmissão (por ex., cabos coaxiais), guias de onda e �bras ópticas; � sistemas aonde a atmosfera é o �canal de propagação� (sem �o). Basicamente, o primeiro grupo é utilizado em áreas densamente povoadas, quando justi�ca-se os gastos relacionados à implantação e à manutenção de enlaces através de linhas de transmissão e guias de onda (i.e., uma única �linha� é capaz de atender a diversos usuários numa determinada região). Como os meios guiados são geralmente mais bem �comportados� do que o meio atmosférico, é possível a transmissão de dados com altas taxas e maior con�abilidade. Por outro lado, a transmissão de dados através da atmosfera permite uma maior �exibilidade em relação à posição entre transmissor e receptor (por exemplo, radiodifusão, comunicação móvel celular, etc.). Ela também justi�ca-se quando a distância entre transmissor e receptor for elevada (telefonia rural, comunicação via satélite, etc.). Os sistemas de comunicação sem �o requerem estudos especí�cos sobre a propagação de ondas radioelétricas e sobre as antenas a serem utilizadas na recepção e/ou transmis- são destas ondas. Em particular, há um grande interesse no desenvolvimento de mod- elos/técnicas para a predição da cobertura oferecida por uma base transmissora numa determinada área (em sistemas ponto-multiponto) ou enlace (ponto-a-ponto). Estas téc- nicas são baseadas em modelosclássicos (geralmente bastante aproximados), empíricos (obtidos e ajustados através de medições no local da cobertura), determinísticos (basea- dos em soluções assintóticas e/ou numéricas das equações de Maxwell) e, �nalmente, em combinações destes modelos. Técnicas e modelos mais precisos são de suma importância, já que, numa visão simpli�cada do problema, estão diretamente relacionados à implemen- tação, manutenção e operação de sistemas de comunicação sem �o com menores custos. 6 Introdução 1.1.1 Comunicação Através de Meios Guiados Alguns exemplos de meios guiados são: 1. linhas de transmissão �par-trançado�: são extremamente baratas e maleáveis. Para frequências em torno de 10 KHz, introduzem perdas de até 3 dB/Km. Como o es- pectro da voz humana possui uma largura de faixa signi�cativa de cerca de 4 KHz, o par-trançado é apropriado para utilização em telefonia �xa (e também para trans- missão de dados a taxas pequenas). 2. cabos coaxiais: são relativamente mais caros. Porém, permitem a transmissão de taxas mais elevads de dados (perdas em torno de 5 dB/Km). São muito utilizados na transmissão de sinais de vídeo (TV a cabo). 3. �bras ópticas: no começo dos anos 80, foi possível a fabricação destes guias com perdas inferiores a 1 dB/Km. Operam geralmente na região infravermelha do es- pectro eletromagnético (� 10 14 Hz) e são ideais para a transmissão de dados com taxas extremamente elevadas. 1.1.2 Comunicação através da atmosfera Este mecanismo é utilizado desde os tempos do telégrafo sem �o e teve seus tempos áureos com o advento da radiodifusão (rádio e TV). Outra época marcante ocorreu nos anos 70, através das comunicações via satélite. Teve seu interesse ofuscado nos anos 80 com o surgimento de enlaces ópticos com baixas perdas. Porém, graças ao desenvolvimento das comunicações sem �o (em particular da telefonia móvel celular e, mais recentemente, da Internet sem �o), ganhou novamente destaque nos anos 90. Um enlace através da atmosfera geralmente apresenta perdas maiores do que um enlace óptico. Porém, ele permite uma maior �exibilidade no posicionamento relativo entre transmissor e receptor (mobilidade). 1.2 Sistemas de Antenas As antenas e suas geometrias variam de acordo com a aplicação. Por exemplo, as antenas dos �rádios de pilha� são geralmente constituídas por monopolos, permitindo a recepção de ondas radioelétricas vindas de diversas direções (nunca se sabe onde o ouvinte poderá estar). Uma antena log-periódica ou uma Yagi-Uda (as �espinhas de peixe� frequente- mente encontradas no alto de casas e prédios) possuem uma diretividade maior do que a do monopolo (ou seja, elas transmitem/recebem numa dada direção preferencial) e são muito utilizadas na recepção de TV (desde que você as aponte na direção certa). Um re�etor parabólico possui uma diretividade ainda mais elevada e é bastante utilizado em comunicações via satélite e em enlaces de microondas (comunicações ponto-a-ponto). Em geral, quanto maior for a antena em comprimentos de onda, maior será sua di- retividade (capacidade de concentrar/receber energia eletromagnética em/de uma dada Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 1.3 Propagação de Ondas Eletromagnaéticas 7 Figura 1.1: Radiodifusão AM. direção). É fundamental conhecer as dimensões elétricas da antena (dimensões físicas em relação ao comprimento de onda). 1.3 Propagação de Ondas Eletromagnaéticas A propagação de ondas radioelétricas depende tanto das antenas utilizadas como do meio que �envolve� o enlace. Seguem alguns exemplos: 1. Radiodifusão AM (de 0,55 MHz até 1,6 MHz): as antenas utilizadas para a transmis- são são torres metálicas (monopolos, como apresentado na Fig. 1.1). Estes monopo- los tem que possuir um comprimento da ordem de 1/4 do comprimento de onda (� 100 m). A propagação ocorre basicamente através de uma onda de superfície, que sofre uma atenuação aproximadamente proporcional ao inverso da distância antena/usuário elevada a quarta potência (no espaço livre a dependência é com a segunda potência). Para uma transmissão com uma razão sinal-ruído adequada, uma elevada potência de transmissão é exigida (desde 50 KW até 500 KW). 2. Refração ionosférica (de 3 MHz até 30 MHz): as antenas ainda possuem elevadas dimensões físicas. Até cerca de 30 MHz, a ionosfera funciona como um �espelho� (bom condutor elétrico), re�etindo boa parte da radiação eletromagnética (Fig. 1.2). Este mecanismo permite a transmissão de rádio a longas distâncias (por exemplo, radiodifusão entre continentes e rádio amador). As propriedades refrativas da ionos- fera dependem da densidade de íons nesta camada, a qual varia com a intensidade da radiação solar (a densidade de dia é mais baixa devido à expansão deste meio com o calor). Por isso, é mais fácil captar rádios internacionais à noite. 3. VHF e UHF (de 30 MHz até 3.000 MHz): nesta faixa de fraquência, a refração ionos- férica não pode mais ser utilizada (a radiação eletromagnética atravessa a ionosfera acima de 40 MHz). Tão pouco pode-se utilizar a onda de superfície adotada na radiodifusão AM (elevadas atenuações, ruído, etc.). Felizmente, o comprimento de Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 8 Introdução Figura 1.2: Refração ionosférica. Figura 1.3: Enlace UHF / VHF. onda é relativamente reduzido (entre 10 e 0,1 m ao longo da faixa), o que signi�ca que antenas e�cientes podem possuir reduzidas dimensões físicas e podem ser colo- cadas no alto de torres, como representado na Fig. 1.3 (neste caso, a torre funciona apenas como suporte, diferentemente da �torre� de uma estação de rádio AM). O principal mecanismo de propagação é a visada direta, mas cuidados devem ser toma- dos com as atenuações e com os desvanecimentos causados pelas contribuições das ondas re�etidas pelo solo, variações do índice de refração da atmosfera, etc.. 4. SHF e EHF (de 3 GHz até 300 GHz): espectro das microondas e ondas milimétricas. Nestas frequências são utilizadas, em geral, antenas re�etoras com altas diretivi- dades. Estas antenas podem possuir dimensões elétricas da ordem de centenas de comprimentos de onda. O mecanismo de propagação é a visada direta. Quando o comprimento de onda é da ordem do milímetro (� 30 GHz) ou menor, as atenu- ações causadas pela atmosfera e pela chuva passam a ser fatores determinantes na distância entre transmissor e receptor. Um exemplo de aplicação é em comunicações via satélite (Fig. 1.4), que ocorrem tipicamente entre 3 e 30 GHz (pelo menos por enquanto). Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 1.4 Espectro Radioelétrico e Aplicações 9 Figura 1.4: Comunicação via satélite. 1.4 Espectro Radioelétrico e Aplicações Na Tabela 1.1 são apresentados alguns exemplos de utilização do espectro eletromagnético para radiofrequências: Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 10 Introdução Faixa Principal Mecanismo de Propagação Aplicações VLF (Very Low Frequency) 3� 30 KHz �Guia de onda� entre o solo e a ionosfera Radionavegação, móvel marítmo, radiolocalização, sonar LF (Low Frequen- cy) 30�300 KHz �Guia de onda� entre o solo e a ionosfera, onda de superfície Radionavegação, móvel marítmo, radiolocalização, sonar MF (Medium Frequency) 300� 3.000 KHz Onda de superfície, refração ionosférica (a noite) Radiodifusão AM, radionaveg- ação, móvel marítmo, frequência padrão HF (High Fre- quency) 3� 30 MHz Refração ionosférica Telefonia �xa e móvel a lon- ga distância, radiodifusão inter- nacional, rádio amador, comuni- cação navio-costa e navio-avião VHF (Very High Frequency) 30�300 MHz Propagação tropos- férica: visibilidade direta, difraçãoe di- fusão Telefonia, radiodifusão (FM e TV), rádio amador, radioastrono- mia, radionavegação, serviços para polícia, táxis, caminhões, etc. UHF (Ultra High Frequency) 300� 3.000 MHz Propagação tropos- férica: visibilidade direta, difração e di- fusão Telefonia móvel celular, radiod- ifusão UHF, rádio amador, ra- dioastronomia, radionavegação, radar SHF (Super High Frequency) 3�30 GHz Visibilidade direta Enlaces de microondas, sistemas de média e alta capacidade de transmissão, comunicação via satélite, radioastronomia, radion- avegação, radar EHF (Extremely High Frequency) 30�300 GHz Visibilidade direta Radar. Muitas possíveis apli- cações ainda em fase experimen- tal. Tabela 1.1: Espectro eletromagnético e algumas aplicações. Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG Capítulo 2 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico Os dispositivos físicos utilizados em sistemas de comunicações (por exemplo, antenas, linhas de transmissão, guias de onda, �ltros de microondas, cavidades ressonantes, etc.) servem para transmitir e/ou receber um campo eletromagnético contendo algum tipo de informação (sinal) modulada na amplitude, fase e/ou polarização deste campo. Este sinal ocupa uma certa faixa espectral (denominada faixa de operação) e, idealmente, os dispositivos devem possuir características elétricas uniformes ao longo desta faixa para minimizar distorções no sinal. O projeto e a análise destes dispositivos podem ser realizados no domínio do tempo ou no da frequência, relacionados entre si através de uma transformação de Fourier apropria- da [1]. Na prática, a faixa de operação é limitada, permitindo que o projeto seja realizado num conjunto discreto e �nito de frequências localizadas ao longo desta faixa. Desde que o número de frequências discretas não seja proibitivamente grande, em geral é pre�rível realizar o projeto e a análise destes dispositivos no domínio da frequência. Neste caso, a resposta temporal pode ser obtida através de uma transformação inversa de Fourier discreta [1]. A análise no domínio da frequência também é preferível por envolver uma formulação matemática (baseada nas equações de Maxwell no domínio do tempo) menos envolvente. Logo, iremos lidar basicamente com campos eletromagnéticos harmônico-temporais (ou seja, campos que variam senoidalmente com o tempo) com apenas uma única compo- nente em frequência (sinal com único tom). O campo harmônico-temporal, associado a uma dada frequência, pode ser então interpretado como uma das componentes da transfor- mação de Fourier de um campo temporal mais complexo, como mencionado anteriormente. Este tratamento facilita de sobremaneira a formulação a ser apresentada. No mais, todo o campo eletromagnético no domínio do tempo (associado a algum sinal de informação) pode ser decomposto em componentes harmônicas através de uma serie ou transformada 12 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico de Fourier apropriada, de forma que o tratamento a ser apresentado pode, em princípio, ser aplicado a qualquer tipo de problema prático. Convém deixar claro neste momento que a formulação que se segue visa primordial- mente aplicações envolvendo meios lineares, homogêneos e isotrópicos, ou aqueles que podem ser aproximados como tal ao longo da faixa de operação. Porém, o tratamento matemático será conduzido da maneira mais geral possível, sempre que isto não sobrecar- regar a formulação. Perdas e dispersão serão consideradas de maneira uniforme através de uma representação apropriada das relações constitutivas do meio no domínio da fre- quência. 2.1 Fontes, Cargas e Correntes O campo eletromagnético é gerado por fontes de cargas e correntes elétricas (lembrando que corrente representa carga em movimento). Quando o campo incide em um determina- do obstáculo (por exemplo, uma superfície condutora), é possível que haja uma indução de novas distribuições de cargas e correntes neste obstáculo. Estas, por sua vez, podem ser interpretadas como fontes do campo espalhado pelo obstáculo. O conceito de fonte é de extrema importância em teoria eletromagnética e diversos problemas podem ser resolvidos com mais facilidade se conseguirmos distinguir as cargas e correntes que efetivamente geram o campo eletromagnético (fontes) das que são induzidas devido à interação do campo com o meio. Para tentar ilustrar a diferença entre elas, pense no seguinte: alterações nas fontes provocam, consequentemente, alterações no campo e nas cargas e correntes induzidas, mesmo quando o meio permanece inalterado. Por outro lado, pode-se alterar o meio e, consequentemente, o campo e as cargas e correntes induzidas, sem que para isto haja a necessidade de se alterar as fontes. Ou seja, as fontes independem do meio; elas são impostas ao problema. Neste texto iremos considerar cargas e correntes de dois tipos distintos: cargas e cor- rentes impressas (representando as fontes propriamente ditas, impostas ao problema) e cargas e correntes induzidas pela interação do campo eletromagnético com o meio (por exemplo, aquelas associadas à condutividade do meio). As densidades de correntes elétri- cas impressas e induzidas serão representadas por ~ J e ~ J c , respectivamente. Note que nenhum índice especial será aplicado na corrente ~ J , simplesmente para não carregar a notação (já que esta corrente impressa aparecerá exaustivamente na formulação deste tex- to). Porém, o leitor deve tomar cuidado para não confundí-la com a corrente total. Por sua vez, as densidades de cargas elétricas associadas às correntes impressas e induzidas serão representadas por % e e % ec , respectivamente. As cargas e correntes induzidas podem ser interpretadas de diferentes modos. Por exemplo, dependendo da mobilidade de cargas livres dentro de um determinado meio condutor, a presença de campo elétrico poderá fazer com que estas cargas se movam em uma dada direção, movimento este associado à uma corrente de condução (relativa às perdas ohmicas neste meio). Podemos ter também perdas associadas à inércia da estrutura molecular de um certo meio dielétrico em se reorientar perante a variação do Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.2 Representação Fasorial do Campo Eletromagnético e a Relação com a Transformada de Fourier 13 campo elétrico aplicado, de�nida como uma perda de polarização e que pode ser associada a uma corrente de polarização. De uma forma geral, é difícil distinguir uma da outra na prática (ou seja, através de medições em laboratório), já que o efeito é invariavelmente o mesmo: a atenuação do campo pelas perdas e a consequente distorção do sinal transmitido pela dispersão temporal. Todas estas perdas, ohnicas ou dispersivas, serão tratadas de maneira uniforme através do tratamento apropriado das relações constitutivas do meio. Como consequência, após este tratamento apenas as fontes impressas ~ J e % e precisarão ser consideradas explicitamente na formulação. Para �nalizar, mais adiante (Seção 2.5) o conceito de dualidade será introduzido, quando então serão de�nidas cargas e correntes magnéticas de maneira análoga à efetuada para as grandezas elétricas correspondentes. 2.2 Representação Fasorial do Campo Eletromagnético e a Relação com a Transformada de Fourier Nesta seção, iremos de�nir a notação fasorial para a representação do campo eletromag- nético e das cargas e correntes associadas no regime harmônico-temporal. Inicialmente, estudaremos o comportamento do campo elétrico, mas o estudo a ser apresentado se aplica diretamente às demais grandezas. Vamos também, por um momento, esquecer a natureza vetorial destecampo. Como dito no início deste capítulo, o campo no domínio do tempo pode ser decomposto em componentes harmônicas. Seja então E(~r; t) = A n (~r; ! n ) cos[! n t+ ' n (~r; ! n )] (2.1) uma destas componentes, ondeA n (~r; ! n ) representa toda a variação da componente em re- lação a posição ~r onde ela é observada (podendo ser também dependente de ! n ), ' n (~r; ! n ) é a fase desta componente (geralmente dependente de ~r e ! n ) e ! n = 2�f n é a frequência angular, onde f n é a frequência associada. Sabendo que cos(! n t+ ' n ) = < � e j(! n t+' n ) � (2.2) podemos representar E(~r; t) como E(~r; t) = < � E(~r; ! n ) e j! n t � ; (2.3) onde < representa a parte real de uma dada grandeza complexa e ' n foi incorporada no fasor E(~r; ! n ) representando o campo elétrico: E(~r; ! n ) = A n (~r; ! n ) e j' n (~r;! n ) : (2.4) Na realidade, o campo elétrico é um campo vetorial. Desta forma, a análise anterior deve ser aplicada a todas as suas componentes vetorias, ou seja: ~ E(~r; t) = < h ~ E(~r; ! n ) e j! n t i ; (2.5) Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 14 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico onde, nas bases de coordenadas usuais, ~ E(~r; ! n ) = 8 < : E x (~r; ! n )x^+ E y (~r; ! n )y^ + E z (~r; ! n )z^; Cartesianas; E � (~r; ! n )�^+ E � (~r; ! n ) ^ �+ E z (~r; ! n )z^; cilíndricas; E r (~r; ! n )r^ + E � (~r; ! n ) ^ � + E � (~r; ! n ) ^ �; esféricas; (2.6) Nas equações acima, cada uma das componentes vetoriais E n (~r; ! n ) é um fasor (represen- tado como um número complexo) e o vetor unitário representa a direção da componente associada (ou seja, x^ representa a direção x). Logo, ~ E(~r; ! n ) é um vetor com componentes fasorias, dependentes apenas da posição ~r e da frequência angular ! n . Para obtermos a componente temporal, basta fazer a operação inversa, apresentada na Eq. 2.5. A vantagem da notação fasorial �cará mais clara nas próximas seções. Porém, é interessante associar esta notação com a transformada de Fourier da grandeza temporal associada. A de�nição da transformada será dada pelo seguinte par de equações: F ff(t)g = F (!) = Z 1 �1 f(t) e �j!t dt ; (2.7) F �1 fF (!)g = f(t) = 1 2� Z 1 �1 F (!) e +j!t d! ; (2.8) notando que esta é uma dentre as várias possíveis de�nições da transformada [1]. Da Eq. 2.1, agora utilizando a notação vetorial, tem-se então que [1]: F n ~ E(~r; t) o = Z 1 �1 ~ A(~r; ! n ) cos[! n t+ '(~r; ! n )] e �j!t dt = � h ~ A(~r; ! n ) e j'(~r;! n ) Æ(! � ! n ) + ~ A(~r; ! n ) e �j'(~r;! n ) Æ(! + ! n ) i = � h ~ E(~r; ! n ) Æ(! � ! n ) + ~ E � (~r; ! n ) Æ(! + ! n ) i ; (2.9) onde o símbolo � representa o complexo conjugado. Na obtenção do resultado anterior foi também utilizada a propriedade de que a transformada de Fourier de uma grandeza real possui parte real par em relação a ! e parte imaginária ímpar [1]. A Eq. 2.9 nos dá a relação entre a notação fasorial com a transformada de Fourier da grandeza harmônica correspondente. Não é difícil obter a relação dada pela Eq. 2.5 diretamente das Eqs. 2.8 e 2.9 (veri�que). De maneira análoga pode-se também mostrar que, para o campo harmônico-temporal: F � @ @t ~ E(~r; t) � = � h j! n ~ E(~r; ! n ) Æ(! � ! n )� j! n ~ E � (~r; ! n ) Æ(! + ! n ) i : (2.10) Finalmente, vale ressaltar que no decorrer deste texto a variável ! n será simplesmente representada por ! na representação fasorial, já que ela é constante (ou seja, ! = ! n ) no regime harmônico. Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.3 Equações de Maxwell 15 2.3 Equações de Maxwell As equações de Maxwell na forma diferencial e no domínio do tempo são bem conhecidas, bem como a história por trás do desenvolvimento da teoria eletromagnética [2]. Apesar destas equações serem atribuídas exclusivamente a James Clerk Maxwell (1831 - 1879), elas retratam as contribuições de diversos pesquisadores, em especial Hans Christian Oer- sted (1777 - 1851), André-Marie Ampère (1775 - 1836) e Michael Faraday (1791 - 1867). Além disso, o trabalho original de Maxwell apresenta 20 equações com 20 variáveis: as 3 componentes dos 4 campos vetorias, as 3 componentes da corrente elétrica, a carga elétrica, e mais as 3 componentes do potencial vetor e o potencial escalar. Maxwell, aparentemente, não foi capaz de inferir a dependência dos potenciais em relação aos de- mais parâmetros. Ele também postulou a existência de ummeio mecânico para justi�car a corrente de deslocamento, o que causou forte oposição à sua teoria na época. Além disso, Maxwell em nenhum momento propõe a possibilidade de propagação de ondas eletro- magnéticas além a da própria luz e nem vislumbra a possibilidade de gerar tais ondas eletricamente. Alguns pesquisadores, inclusive, defendem que Maxwell achava tal geração impossível. Os primeiros a intuirem (dos resultados de Maxwell) a possibilidade de ondas eletro- magnéticas propagando com velocidade �nita e igual à da luz (por isso a expressão veloci- dade da luz, utilizada até hoje) foram George Francis FitzGerald (1851 - 1901) e Oliver Lodge (1851 - 1940), entre 1879 e 1883, ou seja, após a morte de Maxwell. Porém, eles não conseguiram encontrar meios de gerar, detectar e, consequentemente, demonstrar tal propagação eletromagnética. Isto só foi conseguido por Heinrich Hertz (1857 - 1894) em 1887, o qual, aparentemente, não tinha conhecimento das idéias de FitzGerald e Lodge. Os resultados de Hertz só vieram a ser conhecidos após a publicação de seu trabalho em 1888 e foram rapidamente aclamados pela comunidade cientí�ca. Os trabalhos de Hertz, FitzGerald e Lodge permitiram o reconhecimento do trabalho de Maxwell. Ao longo do seu trabalho, Hertz também foi um dos primeiros a perceber que os poten- ciais vetor e escalar são dependentes dos campos e fontes, simpli�cando as equações pro- postas por Maxwell em 1884. Esta simpli�cação também foi, de maneira aparentemente independente, elaborada por Oliver Heaviside (1850 - 1925), o qual inclusive estabeleceu o operador Nabla (r) e condensou as equações de Maxwell no formato vetor-diferencial utilizado até os dias de hoje. Por estes motivos, Eisntein referia-se às equações que regem a teoria eletromagnética como as equações de Maxwell-Hertz. Além disso, por ter sido um dos primeiros a vislumbrar a possibilidade da radiação eletromagnética e por ter sido o primeiro a gerar, transmitir e detectar a radiação eletromagnética com o intuito con- sciente de demonstrar o trabalho de Maxwell, Hertz é considerado por muitos como o verdadeiro pai da transmissão via rádio, o que é fortemente contestado pelos admiradores de Marconi. Antecipando o tratamento diferenciado entre as fontes (cargas e correntes impressas) e as cargas e correntes induzidas, vamos representá-las dentro das equações de Maxwell Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 16 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico separadas umas das outras, de forma que: r� ~ E(~r; t) = � @ @t ~ B(~r; t) ; lei de Faraday; (2.11) r� ~ H(~r; t) = ~J (~r; t) + ~ J c (~r; t) + @ @t ~ D(~r; t) ; lei de Ampère; (2.12) r � ~ D(~r; t) = % e (~r; t) + % ec (~r; t) ; lei de Gauss; (2.13) r � ~ B(~r; t) = 0 ; lei de Gauss �magnética�, (2.14) onde ~ E(~r; t) é o vetor campo elétrico (V/m); ~ H(~r; t) é o vetor campo magnético (A/m); ~ D(~r; t) é o vetor densidade de �uxo elétrico (Coulombs/m 2 ); ~ B(~r; t) é o vetor densidade de �uxo magnético (Webers/m 2 ); ~ J (~r; t) é o vetor densidade de corrente elétrica impressa (A/m 2 , para densidade volumétri- ca); ~ J c (~r; t) é o vetor densidade de corrente elétrica induzida (A/m 2 , para densidade volumétri- ca); % e (~r; t) é a densidade de carga elétrica impressa (Coulombs/m 3 , para densidade volumétri- ca); % ec (~r; t) é a densidade de carga elétrica induzida (Coulombs/m 3 , para densidade volumétri- ca). Das leis de Ampère e de Gauss obtem-se a equação da continuidade para as cargas elétricas: r � (r� ~ H) = 0 = r � ~ J + @ @t r � ~ D ) r � ~ J (~r; t) = � @ @t % e (~r; t) (2.15) r � ~ J c (~r; t) = � @ @t % ec (~r; t) (2.16) Podemos agora aplicar as de�nições representadas pelas Eqs. 2.9 e 2.10 nas equações de Maxwell para obtê-las no formato fasorial, que obviamente serão válidas apenas no Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.4 Relações Constitutivas e Características do Meio 17 regime harmônico-temporal. Por exemplo, da lei de Faraday e lembrando que o operador r opera apenas sobre ~r: F n r� ~ E(~r; t) o = r�F n ~ E(~r; t) o = �r� h ~ E(~r) Æ(! � ! n ) + ~ E � (~r) Æ(! + ! n ) i = �F � @ @t ~ B(~r; t) � = �� h j! n ~ B(~r) Æ(! � ! n )� j! n ~ B � (~r) Æ(! + ! n ) i : (2.17) Consequentemente, igualando os resultados em ! = �! n : r� ~ E(~r) = �j! ~ B(~r): (2.18) Os passos apresentados acima podem ser repetidos para as demais equações de Maxwell, de forma que elas podem ser reescritas, já no formato fasorial, como: r� ~ E(~r) = �j! ~ B(~r) ; lei de Faraday; (2.19) r� ~ H(~r) = ~ J(~r) + ~ J c (~r) + j! ~ D(~r) ; lei de Ampère; (2.20) r � ~ D(~r) = � e (~r) + � ec (~r) ; lei de Gauss; (2.21) r � ~ B(~r) = 0; lei de Gauss �magnética�, (2.22) juntamente com a equação da continuidade da carga elétrica: r � ~ J(~r) = �j!� e (~r) ; (2.23) r � ~ J c (~r) = �j!� ec (~r) : (2.24) Caso desejarmos obter a componente harmônico-temporal de um campo ou fonte direta- mente da sua representação fasorial, basta aplicar a de�nição da Eq. 2.9 ou, de maneira mais direta, a Eq. 2.5, neste caso lembrando de multiplicar o fasor pelo termo exp(j!t) antes de obter a parte real. A grande vantagem de representar as equações de Maxwell através da notação fasorial apresentada nas Eqs. 2.19�2.24 é que as fórmulas passam a ser completamente indepen- dentes do tempo, simpli�cando a análise matemática. 2.4 Relações Constitutivas e Características do Meio Um meio é de�nido conforme o comportamento de suas características físicas. Por ex- emplo, se estas características não dependem da intensidade do campo aplicado, o meio é dito linear. Na realidade nenhum meio é linear (exceto o vácuo ideal). Um exemplo típico é o da rigidez dielétrica. Em alguns casos, quando a intensidade do campo elétrico aplicado ultrapassa um certo limite, notam-se faíscas associadas ao brusco movimento de cargas (por exemplo, o relâmpago). Nestas condições o meio apresenta um alto grau de Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 18 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico não-linearidade. Porém, dentro de certos limites de intensidade de campo, o meio pode ser aproximado como linear ao longo de uma faixa de operação �nita em radio-frequência. Se as características do meio não variam com a posição ~r, então o meio é dito ho- mogêneo. Fora o vácuo, todos os meios práticos são não-homogêneos, mas podem ser aproximados como homogêneos desde que as características variem muito pouco em um espaço comparável ao comprimento de onda no meio. Um exemplo de não homogeneidade é a presença de dutos troposféricos na atmosfera, que afetam de sobremaneira os enlaces de rádio-frequência [3]. O meio é de�nido como isotrópico quando suas características não dependem da ori- entação (polarização) do campo aplicado. Em geral os dielétricos e condutores podem ser considerados isotrópicos. Exemplos típicos de meios não-isotrópicos são os cristais uti- lizados em aplicações eletro-ópticas [4]. Nestes cristais, a estrutura molecular possui um alto nível de organização (rede cristalina), de tal forma que a polarização das moléculas frente ao campo elétrico aplicado depende da orientação deste campo em relação a rede cristalina. O meio é dito não-dispersivo quando as suas características não variam com a fre- quência. Em geral os meios apresentam um comportamento dispersivo, como no caso da permissividade em dielétricos e da permeabilidade em materiais ferromagnéticos. Porém, nos casos onde estas variações não forem muito proeminentes e, em particular, nas apli- cações onde a faixa de operação for relativamente estreita, o meio pode ser aproximado como não-disperssivo, principalmente para os dielétricos. O conceito de dispersão, porém, pode ser tornar ámbíguo em alguns casos. Por exem- plo, um meio condutor pode ser aproximado como não-dispersivo, ou seja, sua condutivi- dade não varia consideravelmente com a frequência, desde que operando em frequências não superiores às do espectro infra-vermelho. Porém, as perdas ohmicas associadas à condutividade farão com que haja uma dispersão temporal do sinal transmitido, mais ou menos intensa dependendo da condutividade do meio. Efeitos análogos ocorrem também em um dielétrico dispersivo (ou seja, aquele para o qual a permissividade varia com a frequência), e as consequências são basicamente as mesmas desde que o dielétrico seja lin- ear, homogêneo e isotrópico. Para tratar a dispersão de maneira uniforme, mais adiante (Seção 2.4.7) será de�nida uma permissividade complexa, representando não só as perdas de polarização em meios dielétricos dispersivos mas também as perdas de condução em meios condutores. Neste caso, mostra-se que esta permissividade complexa depende da frequência, mesmo que as características físicas do meio não (como no caso de um bom condutor). Logo, o meio com perdas (condutivas e/ou de polarização) pode ser inter- pretado como dispersivo, associado então a uma permissividade complexa dependente da frequência. A formulação a ser apresentada neste texto aplica-se, de uma maneira geral, a meios lineares, homogêneos e isotrópicos, os quais podem ou não apresentar perdas. Após a inclusão do conceito de dualidade, o mesmo tratamento será dado à permeabili- dade magnética. Finalmente, o meio é considerado ideal quando for linear, homogêneo, isotrópico e não-dispersivo (sem perdas). A seguir são apresentadas, de maneira suscinta, as relações constitutivas características Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.4 Relações Constitutivas e Características do Meio 19 Figura 2.1: Modelo macroscópico para materiais polares. de maios lineares, homogêneos e isotrópicos. Uma discussão mais envolvente e completa sobre estas relações pode ser encontrada, por exemplo, no livro de Elliott [2]. 2.4.1 Permissividade Dentro de um modelo macroscópico da matéria, um determinado meio dielétrico é com- postopor moléculas e estas possuem um determinado grau de polaridade (cargas positivas de um lado e negativas do outro). Quando um campo elétrico é aplicado a este material, as moléculas tendem a se reorientar, como uma espécie de reação ao campo sendo imposto (veja Fig. 2.1). Esta reorientação molecular aumenta o �uxo de campo elétrico dentro do material. Este aumento é representado pelo vetor polarização elétrica ~ P e , de�nido como: ~ D = " o ~ E + ~ P e = " ~ E; (2.25) onde " o é de�nido como sendo a permissividade do vácuo (" o � 8; 854�10 �12 Farads/m) e " é, então, a permissividade do meio em questão. A Eq. 2.25 nos dá a relação constitutiva entre ~ D e ~ E. Note que de agora em diante, além de omitir !, iremos também omitir o vetor posição ~r das equações fasoriais sempre que não houver margem para dúvidas. Quando o meio for o próprio vácuo, simplesmente tem-se " = " o . A permissividade " caracteriza, então, a capacidade da estrutura molecular do meio de se polarizar ante da aplicação de um campo eletromagnético. Quanto maior for esta capacidade, maior será o valor de ", que tem seu limite inferior para o vácuo (" � " o ). Para meios lineares, homogêneos, isotrópicos e não-dispersivos, " é uma grandeza escalar e constante. Para meios não-isotrópicos, por exemplo, a permissividade é geralmente representada por um tensor [4]. Para meios não-lineares a relação entre ~ D e ~ E é geralmente complexa e a Eq. 2.25 deve ser então desconsiderada. Finalmente, no caso em que " for constante e da formulação apresentada na Seção 2.2: ~ D(~r; t) = " ~ E(~r; t) ; (2.26) que é a relação constitutiva no domínio do tempo para meios lineares, homogêneos, isotrópicos e não-dispersivos. Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 20 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico 2.4.2 Perda de Polarização em um Meio Dispersivo Porém, quando o meio for dispersivo, a relação entre o campo e o �uxo elétrico torna-se mais complexa [5]. Caso o meio seja linear, homogêneo e isotrópico: ~ D(~r; t) = Z "(�) ~ E(~r; t� �) d� ; (2.27) e, no domínio fasorial (veri�que): ~ D = "(!) ~ E ; (2.28) onde "(!) é a própria transformada de Fourier da permissividade temporal, podendo então ser uma grandeza complexa. Note que no caso não-dispersivo tratado anteriormente na Seção 2.4.1 a relação entre ~ D(~r; t) e ~ E(~r; t) é instantânea, ou seja, "(�) = " Æ(�), onde Æ é a função delta de Dirac (ou função impulso). Logo, a disperssão pode ser interpretada como resultante da inércia da estrutura molecular de um certo material dielétrico em se reorientar perante a vari- ação do campo elétrico aplicado. Como consequência, a densidade de �uxo elétrico ( ~ D) estará atrasada em relação ao campo elétrico ( ~ E) aplicado. Outra consequência é que parte da energia associada ao campo é perdida no trabalho efetuado para vencer tal inér- cia, enquanto que outra parcela �ca retida na própria estrutura molecular como energia potencial. Neste texto, a relação entre ~ D e ~ E para meios lineares, homogêneos e isotrópicos será simplesmente representada por ~ D = (" 0 � j" 00 ) ~ E ; (2.29) onde a variação de " 0 e " 00 em relação a ! �cará subentendida. Note que a parte imaginária é negativa por de�nição, representando o atraso de fase de ~ D em relação a ~ E, como citado no parágrafo anterior. Meios dispersivos e não-dispersivos serão tratados de maneira uniforme, de tal forma que para os últimos temos simplesmente que " 0 = ", constante, e " 00 = 0. 2.4.3 Permeabilidade Para os meios magnéticos, a estrutura molecular macroscópica pode ser representada por pequenos anéis de corrente elétrica, representando elétrons em órbitas ao redor dos núcleos atômicos. A aplicação de um campo magnético externo ao meio faz com que estes dipolos magnéticos se reorientem de acordo com a polarização deste campo (Fig. 2.2), o que causa um aumento do �uxo magnético interno (ou uma pequena diminuição, no caso de materiais diamagnéticos), de�nido pela equação: ~ B = � o ( ~ H + ~ P m ) = � ~ H; (2.30) onde ~ P m é o vetor polarização magnética (ou magnetização), � o é a permeabilidade do vácuo (� o = 4��10 �7 Henries/m) e � é a permeabilidade do meio magnético em questão. Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.4 Relações Constitutivas e Características do Meio 21 Figura 2.2: Modelo macroscópico para materiais magnéticos. Para materias não-magnéticos (materias dielétricos e condutores em geral), � � � o . Para meios lineares, homogêneos, isotrópicos e não-dispersivos, � é uma grandeza escalar e constante. A Eq. 2.30 representa a relação constitutiva entre ~ B e ~ H para estes meios. 2.4.4 Perdas Magnéticas De maneira análoga à perda de polarização estudada na Seção 2.4.2, de�ne-se a perda magnética como sendo o trabalho realizado para vencer a inércia oferecida pelo meio à orientação dos momentos magnéticos da estrutura molecular. Neste caso, sendo o meio linear, homogêneo e isotrópico, a relação entre ~ B e ~ H é simplesmente dada por: ~ B = �(!) ~ H = (� 0 � j� 00 ) ~ H ; (2.31) onde, de maneira análoga à de�nição apresentada na Seção 2.4.2, �(!) é a transformada de Fourier da permeabilidade temporal e a variação de � 0 e � 00 com ! é implicitamente considerada. O termo negativo da permeabilidade complexa simplesmente donota o de- fasamento de ~ B em relação a ~ H. Caso não haja perdas magnéticas, � 0 = �, constante, e � 00 = 0. As perdas magnéticas, em geral, só se apresentam em meios ferromagnéticos e ferrites. Porém, estes meios são geralmente anisotrópicos (em especial as ferrites), de forma que as simpli�cações apresentadas neste texto não se aplicam aos casos mais gerais. Porém, elas serão de grande valia na aplicação do conceito de dualidade entre as grandezas elétricas e magnéticas. 2.4.5 Condutividade Os materiais condutores são caracterizados de acordo com a mobilidade das cargas elétri- cas livres perante a presença de um campo elétrico. Este campo causa o movimento de cargas elétricas positivas (no sentido do campo elétrico) e negativas (no sentido oposto), que é representado por uma corrente de condução de�nida em meios lineares, homogêneos e isotrópicos por: ~ J c = � e ~ E; (2.32) Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 22 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico onde � e é a condutividade elétrica (em Siemens/m) do meio. Na prática, � e pode ser assumida constante (ou seja, ela varia lentamente com a frequência) até as frequências correspondentes ao infra-vermelho. A partir daí a relação dada pela Eq. 2.32 deixa de ter utilidade. Quanto maior o valor de � e , maior a mobilidade de cargas dentro do meio. Materiais dielétricos e condutores são então caracterizados de acordo com � e : dielétrico perfeito: � e = 0; isolantes: � e variando entre 10 �18 (S/m) (ex., quartzo) e 10 �3 (S/m); semicondutores: � e variando entre 10 �3 (S/m) (ex., silício) e 1 (S/m) (ex., germânio); condutores: � e variando entre 1 (S/m) e 10 8 (S/m) (ex., cobre); condutor elétrico perfeito (supercondutores): � e !1. 2.4.6 Meios Lineares, Homogêneos e Isotrópicos Sendo o meio linear, homogêneo e isotrópico as relações constitutivas apresentadas ante- riormente não dependem da intensidade do campo aplicado e nem da posição(ou seja, os parâmetros que caracterizam o meio podem ser passados para fora de operadores difer- encias relacionados à posição ~r), além de serem grandezas escalares. Desta forma, das Eqs. 2.25�2.32, as Eqs. 2.19�2.22 podem ser reescritas de uma maneira uniforme (ou seja, considerando a possibilidade de dispersão) como: r� ~ E = �j!(� 0 � j� 00 ) ~ H ; lei de Faraday; (2.33) r� ~ H = ~ J + j! � " 0 � j" 00 � j � e ! � ~ E ; lei de Ampère; (2.34) r � ~ E = � e + � ec " 0 � j" 00 ; lei de Gauss; (2.35) r � ~ H = 0 ; lei de Gauss �magnética�. (2.36) Para as equações de continuidade (para as fontes impressas e correntes de condução): r � ~ J = �j!� e ; (2.37) r � ~ E = �j!� ec � e : (2.38) Desta última equação e da Eq. 2.35 tem-se imediatamente que: �j!� ec � e = � e + � ec " 0 � j" 00 =) � ec = � e j� e =! " 0 � j" 00 � j� e =! ; (2.39) a qual pode ser substituída de volta na Eq. 2.35 para obtermos: r � ~ E = � e (" 0 � j" 00 � j� e =!) : (2.40) Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.4 Relações Constitutivas e Características do Meio 23 2.4.7 Permissividade Complexa Uma atenta observação das Eqs. 2.34 e 2.40 nos mostra que o termo (" 0 � j" 00 � j� e =!) aperece em ambas; e somente nestas duas equações. Logo, para facilitar o manuseio das equações de Maxwell fasoriais para meios lineares, homogêneos e isotrópicos, podemos de�nir uma permissividade complexa: " c = " 0 � j � " 00 + � e ! � : (2.41) Desta forma, as equações de Maxwell para meios, lineares, homogêneos e isotrópicos podem ser reescritas como: r� ~ E = �j!� ~ H ; lei de Faraday; (2.42) r� ~ H = ~ J + j!" c ~ E ; lei de Ampère; (2.43) r � ~ E = � e " c ; lei de Gauss; (2.44) r � ~ H = 0 ; lei de Gauss �magnética�, (2.45) e a equação da continuidade como: r � ~ J = �j!� e : (2.46) Ou seja, nestas equações apenas as cargas e correntes impressas, representando as fontes impostas ao problema, aparecem explicitamente. Caso haja contribuições devido à con- dutividade do meio (� e 6= 0) e/ou às perdas de polarização no dielétrico, estas estarão automaticamente incluídas através de " c , de�nido pela Eq. 2.41. Note que o termo adicionado à permissividade complexa (�j� e =!) contribui para a parte imaginária negativa de " c , ressaltando um atraso de fase de �=2 entre ~ D (induzido pela corrente de condução ~ J c ) e ~ E (o qual gerou ~ J c ). A explicação para tal fato baseia-se nas equações de Maxwell fasoriais. A corrente ~ J c , induzida por ~ E, provoca uma circulação de ~ H em torno dela. Por sua vez, este ~ H provoca uma circulação de ~ D com a mesma orientação de ~ E, porém atrasada de �=2 (graças ao termo �j! ~ D que aparece na lei de Ampère). Este defasamento acaba por se somar ao provocado pelas perdas de polarização, discutidas na Seção 2.4.2. A caracterização da permissividade complexa é muitas vezes de�nida pela tangente de perda elétrica: tan(Æ e ) = " 00 + � e =! " 0 ; (2.47) onde Æ e é o ângulo de perda elétrica (consequentemente, Æ e = 0 para um meio não- dispersivo e sem perdas). Logo, através de " c um meio linear, homogêneo, isotrópico e dispersivo pode ser trata- do matematicamente da mesma forma que um meio ideal e sem perdas (onde " c = ", real e independente de !). Basta apenas lembrar que " c é, em geral, uma grandeza Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 24 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico complexa, devendo ser tratada como tal durante possíveis manipulações analíticas, espe- cialmente naquelas envolvendo complexos conjugados e/ou módulos. A possibilidade de uma de�nição geral de permissividade complexa, que considera tanto as perdas ohmicas como as de polarização, é uma consequência da ambiguidade do conceito de dispersão discutida na introdução da Seção 2.4. 2.5 Conceito de Dualidade Observando as equações de Maxwell descritas na seção anterior, podemos notar uma certa similaridade entre as leis de Faraday e de Ampère, assim como entre as equações envolvendo os divergentes de ~ E e ~ H. A única diferença está no fato de não existirem cargas e correntes magnéticas (as quais não foram ainda comprovadas experimentalmente). Por mais obscuro que possa parecer neste momento, a inclusão de cargas e correntes magnéticas equivalentes é de grande valia para a solução de diversos problemas em eletro- magnetismo. Esta inclusão proporciona uma dualidade entre grandezas elétricas e mag- néticas. Uma outra vantagem, talvez mais evidente, é que, graças a esta dualidade, os campos elétrico e magnético passam a obedecer a equações diferencias muito semelhantes entre si, o que na maioria dos casos permite que as expressões relacionadas a um destes campos sejam obtidas por simples inspeção de expressões previamente obtidas para o outro campo, economizando um grande esforço algébrico. Consequentemente, podemos também de�nir o conceito de condutividade magnética (� m , análoga à condutividade elétrica de�nida na Seção 2.4.5) que, juntamente com a de�nição das perdas magnéticas apresentada na Seção 2.4.4, permite a de�nição de uma permeabilidade complexa (dual à permissividade complexa) dada por � c = � 0 � j � � 00 + � m ! � : (2.48) De�ne-se também a tangente de perda magnética: tan(Æ m ) = � 00 + � m =! � 0 ; (2.49) onde Æ m é o ângulo de perda magnética. Com a inclusão das densidades de carga (� m ) e corrente ( ~ M) magnéticas impressas e da permeabilidade complexa (� c ), as equações de Maxwell duais são então de�nidas como: r� ~ E = � ~ M � j!� c ~ H ; lei de Faraday dual; (2.50) r� ~ H = ~ J + j!" c ~ E ; lei de Ampère; (2.51) r � ~ E = � e " c ; lei de Gauss; (2.52) r � ~ H = � m � c ; lei de Gauss �magnética� dual, (2.53) Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.5 Conceito de Dualidade 25 com as respectivas equações da continuidade: r � ~ J = �j!� e ; (2.54) r � ~ M = �j!� m ; (2.55) onde ~ M é o vetor fasorial da densidade de corrente magnética impressa (V/m 2 , para densidade volumétrica); � m é o fasor da densidade de carga magnética impressa (webers/m 3 , para densidade volumétrica). Vale ressaltar as escolha dos sinais de ~ M e � m de�nidos nas Eqs. 2.50 e 2.53, respec- tivamente. O sinal negativo para ~ M foi arbitrado desta forma para manter a dualidade entre as Eqs. 2.50 e 2.51, a menos de um sinal negativo. Além disso, deseja-se também manter a consistência para a equação da continuidade da carga magnética (Eq. 2.55), de maneira análoga à da carga elétrica (Eq. 2.54). Consequentemente, o sinal do lado direito da Eq. 2.53 deve ser obrigatoriamente positivo (veri�que). Das equações apresentadas acima, um problema dual pode ser resolvido diretamente do problema original correspondente através das substituições apresentadas na Tabela 2.1 (o leitor pode veri�car a veracidade das relações por simples inspeção das Eqs. 2.50�2.55). Problema Problema Original Dual ~ E �! ~ H ~ H �! � ~ E ~ J �!~ M ~ M �! � ~ J � e �! � m � m �! �� e " c �! � c � c �! " c � e �! � m � m �! � e Tabela 2.1: Dualidade. Note que, na Tabela 2.1, campo, corrente e carga elétricos no problema original são relacionados com valores positivos das grandezas magnéticas correspondestes ao problema dual. Já os campo, corrente e carga magnéticos são relacionados com valores negativos das grandezas elétricas correspondentes ao problema dual. Os parâmetros constitutivos do meio são simplesmente trocados entre si. Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 26 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico A dualidade economiza um enorme esforço matemático no desenvolvimento de equações para a solução de problemas em eletromagnetismo. Para tal, cargas e correntes magnéti- cas devem ser consideradas desde o inicio da formulação do problema em questão. Caso estas sejam nulas (o que ocorre na prática), elas devem ser anuladas apenas no �nal do de- senvolvimento. Um exemplo prático da aplicação do conceito da dualidade é apresentado na próxima seção. 2.6 Equações de Onda As equações de onda são das mais importantes em teoria eletromagnética. Elas serão aqui discutidas assumindo-se um meio linear, homogêneo e isotrópico. Para obter a equação de onda do campo elétrico, inicialmente aplica-se o rotacional na lei de Faraday dual (Eq. 2.50): r� � r� ~ E � = r � r � ~ E � �r 2 ~ E = �r� � ~ M + j!� c ~ H � : (2.56) Substituindo a lei de Gauss (Eq. 2.52) e a lei de Ampère (Eq. 2.51) na equação acima, teremos: 1 " c r� e �r 2 ~ E = �r� ~ M � j!� c � ~ J + j!" c ~ E � : (2.57) A equação acima pode ser reescrita de uma forma mais apropriada para, �nalmente, obtermos a equação de onda do campo elétrico: r 2 ~ E + k 2 ~ E = r� ~ M + j!� c ~ J + 1 " c r� e ; (2.58) onde k = ! p � c " c (2.59) é o número de onda (também denominado constante de propagação) do meio em questão. Repare que, para meios com perdas (condutivas e/ou de polarização) o parâmetro k é uma grandeza complexa (para não sobrecarregar a notação não iremos incorporar o subíndice c). Logo, de uma maneira geral, este parâmetro será representado por k = � � j � (2.60) onde � e � são grandezas reais e dependentes de !, por de�nição. Em muitos textos é comum utilizar o parâmetro ao invés de k. Eles são relacionados entre si através da seguinte equação: = j k = � + j � : (2.61) É também interessante ressaltar que em um meio ideal (" c = " e � c = �), k será real e k = ! p �" = � = �j ; (2.62) Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.7 Condições de Contorno 27 sendo, consequentemente, � = 0. Aproveitando a oportunidade, vamos também de�nir a impedância característica do meio �, que será muito utilizada no decorrer deste texto. Ela é representada por: � = r � c " c : (2.63) Note que � será complexa caso o meio apresente perdas e/ou seja dispersivo. Para o vácuo, � = � o � 376; 73 � 120� . Os parâmetros � e k são então relacionados entre si: � = k !" c = !� c k : (2.64) Vamos agora utilizar pela primeira vez o conceito de dualidade. Para obtermos a equação de onda do campo magnético, não precisamos refazer os cálculos anteriores. Basta converter os parâmetros da Eq. 2.58 através da Tabela 2.1. Desta forma temos (veri�que): r 2 ~ H + k 2 ~ H = �r� ~ J + j!" c ~ M + 1 � c r� m ; (2.65) que é a equação de onda do campo magnético. Note que se tivéssemos desenvolvido a Eq. 2.58 sem incluir a corrente ~ M não poderíamos ter utilizado a dualidade para obter a Eq. 2.65. Se estivermos estudando uma determinada região do meio onde não há qualquer tipo de fontes, então os termos à direita nas Eqs. 2.58 e 2.65 serão nulos e as equações de onda são ditas homogêneas: r 2 ~ E + k 2 ~ E = 0 ; (2.66) r 2 ~ H + k 2 ~ H = 0 : (2.67) Muitos problemas a serem estudado neste texto lidam com meios sem fontes. Mas que tipo de meio é este? Como estudar o campo eletromagnético em um meio sem fontes para gerá-lo? Para responder a estas perguntas, lembre-se que a equação de onda é uma equação diferencial e, portanto, válida em uma determinada posição do espaço (de�nida pelo vetor posição ~r). O meio dito sem fontes signi�ca simplesmente que estamos interessados em obter a solução do campo em uma dada região do espaço onde não há fontes presentes (ou seja, o campo é gerado por fontes localizadas fora da região de interesse). Note que as equações de onda apresentadas nesta seção também podem ser utilizadas no estudo de meios com perdas (dispersivos), já que estas estão implicitamente consider- adas em " c e � c , ou seja, dentro do possível k complexo. 2.7 Condições de Contorno As equações de Maxwell e as de onda fasoriais são equações diferencias em relação a posição ~r. Para se determinar a solução, é necessário conhecer as condições iniciais do Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 28 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico problema, que neste caso são denominadas condições de contorno. Porém, antes de apre- sentar tais condições, é interessante antes apresentar as equações de Maxwell no formato integral. A aplicação do teorema de Stokes nas leis de Faraday e Ampère e a do teorema da divergência nas leis de Guass permitem que as Eqs. 2.50�2.53 possam ser reapresen- tadas na sua forma integral, fasorial e dual, válidas para meios lineares, homogêneos e isotrópicos [6]: I C ~ E � ~ dl = � ZZ S ~ M � ~ ds� j!� c ZZ S ~ H � ~ ds ; Faraday; (2.68) I C ~ H � ~ dl = ZZ S ~ J � ~ ds+ j!" c ZZ S ~ E � ~ ds ; Ampère; (2.69) ZZ S �� ~ E � ~ ds = 1 " c ZZZ V � e dv ; Gauss; (2.70) ZZ S �� ~ H � ~ ds = 1 � c ZZZ V � m dv ; Gauss �magnética�. (2.71) Note que a aplicação do teorema de Stokes só é válida caso as componentes de ~ E e de ~ H sejam continuamente diferenciáveis sobre a superfície S. De maneira análoga, a aplicação do teorema da divergência só é válida caso estas mesmas componentes vetorias sejam continuamente diferenciáveis dentro de V . Note também que procedimento análogo pode ser aplicado para obter as equações de Maxwell integrais no domínio do tempo a partir das equações apresentadas no início da Seção 2.3 Vamos inicialmente obter as condições de contorno que as equações de Maxwell im- põem às componetes tangencias de ~ E sobre a interface entre dois meios distintos. Seja a geometria apresentada na Fig. 2.3, onde a superfície S de�ne a interface entre os dois meios e o vetor unitário n^ é normal à S, apontando do meio 1 para o meio 2. Para tratar o problema da maneira mais geral possível, sobre a interface iremos impor densidades de cargas e correntes impressas super�ciais e/ou lineares, que estão representando possíveis fontes localizadas sobre S. A corrente super�cial elétrica impressa será representada por ~ J s e a magnética por ~ M s . Na realidade elas fazem parte das correntes ~ J e ~ M , respecti- vamente. O subíndice s é utilizado apenas para ressaltar as densidades super�ciais e/ou lineares localizadas exatamente sobre a interface S. As densidades super�ciais de cargas elétrica e magnética associadasserão representadas por � es e � ms , respectivamente. Estas correntes super�ciais, caso existentes, imporão a descontinuidade das compo- nentes tangencias do campo eletromagnético. Esta descontinuidade pode ser estudada com o auxílio da Fig. 2.4. Vamos assumir um contorno retangular C com dimensões h e ` su�cientemente pequenas, de forma que a interface S no entorno desta região possa ser considerada plana, desde que S possua uma curvatura contínua na região em questão. Este contorno C de�ne a superfície SC, cuja normal, paralela à interface S, é dada por n^� ^ t (veja a Fig. 2.4). Pela lei de Ampère integral (Eq. 2.69), a circulação de ~ H ao redor de C tem que ser igual a soma do �uxo de corrente elétrica, incluindo tanto a impres- sa como a de deslocamento, que atravessa SC. Esta relação pode ser matematicamente representada por: Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.7 Condições de Contorno 29 Figura 2.3: Representação da interface entre dois meios com possíveis cargas e correntes impressas na superfície desta interface. I C ~ H � ~ dl = ZZ SC ~ J � ~ ds+ j!" c ZZ SC ~ E � ~ ds : (2.72) Ao tomarmos o limite h! 0, as únicas contribuições da integral de linha virão dos lados de C paralelos à interface S. Já o �uxo de corrente tenderá a zero, pois a área de SC tende a zero quando h ! 0, a não ser que haja densidades de corrente super�ciais e/ou lineares ~ J s impressas exatamente sobre S. Neste caso, e tomando o limite de ` ! 0, a equação anterior é reescrita como: ^ t � � ~ H 2 � ~ H 1 � ` = ~ J s � � n^� ^ t � ` ; (2.73) onde os índices 1 e 2 referem-se aos campos no meio 1 e 2, respectivamente, calculados in�nitesimalmente próximos da interface S. Já n^ � ^ t aponta no sentido do �uxo de ~ J s (veja a Fig. 2.4). Se multiplicarmos vetorialmente a Eq. 2.73 por n^, ela pode ser reescrita de forma mais apropriada como: n^� � ~ H 2 � ~ H 1 � = ~ J s ; sobre S, (2.74) que é a conhecida condição de contorno para a componente tangencial de ~ H sobre S. Aplicando a dualidade apresentada na Tabela 2.1, obtemos imediatamente a condição de contorno para a componente tangencial de ~ E: n^� � ~ E 2 � ~ E 1 � = � ~ M s ; sobre S. (2.75) Vamos agora demonstrar que se os meios forem lineares, homogêneos e isotrópicos, as condições de contorno para as componentes normais dos campos ~ E e ~ H são automatica- mente satisfeitas se os campos satisfazem as equações de Maxwell (Eqs. 2.50�2.53) e as Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 30 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico Figura 2.4: Condições de contorno para a componente tangencial de ~ E. condições impostas pelas Eqs. 2.74 e 2.75, desde que a frequência não seja nula (! 6= 0). Vamos provar isto para a condição de contorno sobre a componente normal de ~ E em S. A prova para ~ H pode ser obtida por dualidade. Aplicando o divergente na Eq. 2.74 (neste caso, assume-se que os campos ~ H 1 e ~ H 2 estão in�nitesimalmente próximos a interface, cada um no seu respectivo meio), temos que: r � h n^� � ~ H 2 � ~ H 1 �i = � ~ H 2 � ~ H 1 � � r � n^� n^ � r � � ~ H 2 � ~ H 1 � = �n^ � r � � ~ H 2 � ~ H 1 � = r � ~ J s ; (2.76) observando que o rotacional de n^ é nulo porque o vetor normal está associado ao gradiente da função que de�ne S (o rotacional de um gradiente é identicamente nulo), desde que esta não apresente descontinuidades na curvatura. Aplicando a lei de Ampère (Eq. 2.51) e a da continuidade (Eq. 2.54) na equação anterior, podemos reescrevê-la como: n^ � h� ~ J 2 � ~ J 1 � + j! � " c2 ~ E 2 � " c1 ~ E 1 �i = j!� es ; (2.77) onde � es é a densidade super�cial de carga elétrica associada à ~ J s . No limite em que os campos são calculados sobre S, n^ � ~ J 1 = n^ � ~ J 2 , já que deve haver uma continuidade no �uxo de corrente normal à superfície. Caso não haja, então haverá acúmulo de carga (positiva ou negativa) sobre S e uma corrente super�cial associada, que são naturalmente consideradas em � es e ~ J s , respectivamente. Consequentemente, a equação anterior simpli�ca-se: n^ � � " c2 ~ E 2 � " c1 ~ E 1 � = � es ; (2.78) Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.7 Condições de Contorno 31 que é a conhecida condição de contorno para a componente normal de ~ E sobre S. Aplican- do a dualidade entre os campos e fontes, obtem-se a condição para a componente normal de ~ H sobre S: n^ � � � c2 ~ H 2 � � c1 ~ H 1 � = � ms ; (2.79) onde � ms é a densidade super�cial de carga magnética associada à ~ M s , ambas impressas na interface. Observe que as Eqs. 2.78 e 2.79 poderiam ter sido obtidas diretamente das Eqs. 2.70 e 2.71, respectivamente, assim como as Eqs. 2.74 e 2.75 o foram das Eqs. 2.69 e 2.68, respectivamente [6]. Observe também que a Eq. 2.78 foi desenvolvida a partir da Eq. 2.74 assumindo que ! 6= 0 (veri�que), assim como a Eq. 2.79 pode ser obtida da Eq. 2.75 nas mesmas condições. Isto signi�ca que caso ! 6= 0 apenas as condições de contorno sobre as componentes tangencias de ~ E e ~ H (Eqs. 2.75 e 2.74, respectivamente) precisam ser obedecidas para a determinação da solução. Caso ! = 0, estaremos lidando com problemas eletrostáticos (para campos gerados por cargas elétricas e/ou correntes mag- néticas equivalentes estáticas), magnetostáticos (campos gerados por correntes elétricas e/ou cargas magnéticas equivalentes estáticas) ou ainda uma combinação de ambos. Para a solução de problemas em eletrostática necessita-se tanto da Eq. 2.75 quanto da Eq. 2.78. Analogamente, em magnetostática precisamos de atender às Eqs. 2.74 e 2.79. Outra observação importante é que, conforme mencionado anteriormente, a aplicação dos teoremas de Stokes e da divergência na obtenção das equações de Maxwell no formato integral (Eqs. 2.68�2.71) só é possível caso as componentes de ~ E e ~ H sejam continuamente diferenciáveis. Obviamente, dadas as descontinuidades impostas pelas condições de con- torno sobre as componentes de campo na interface entre dois meios diferentes (e/ou na presença de fontes super�ciais e/ou lineares), as referidas equações integrais não podem ser diretamente aplicadas sobre a interface S para a obtenção das condições de contorno apresentadas nesta seção. Ou seja, o procedimento adotado anteriormente é incorreto, embora amplamente utilizado em outros textos. Na realidade o problema é causado pelo modelo macroscópico da matéria, que permite a de�nição de uma interface ideal entre dois meios distintos (o que não ocorre �sicamente), assim como da carga puntual e, con- sequentemente, das densidades lineares e super�ciais de fontes impressas. Na realidade o modelo macroscópico deve ser considerado com o auxílio da teoria de distribuições (por exemplo, a carga puntual deve ser maticamente representada através de uma função impulsional). Quando o problema é tratado com este rigorosismo, mostra-se que as condições de contorno são exatamente aquelas apresentadas nesta seção [5]. Se assumirmos estes resultados como verdadeiros (e o são, dentro do modelo macroscópico da matéria), então nãoprecisaremos mais nos preocupar com o comportamento do campo sobre interfaces e/ou distribuições lineares/super�ciais de correntes e cargas, pois bastará aplicar as condições de contorno nestas condições. Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 32 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico 2.7.1 Interface sem Correntes ou Cargas Impressas A formulação apresentada na seção anterior é geral, valendo inclusive para os casos onde as cargas e correntes impressas não estiverem presentes na interface S (por exemplo, a interface entre dois meios dielétricos ideais sem a presença de fontes impressas). Nestes casos, das Eqs. 2.74, 2.75, 2.78 e 2.79 temos, respectivamente, que: n^� ~ H 1 = n^� ~ H 2 ; (2.80) n^� ~ E 1 = n^� ~ E 2 ; (2.81) " c1 � n^ � ~ E 1 � = " c2 � n^ � ~ E 2 � ; (2.82) � c1 � n^ � ~ H 1 � = � c2 � n^ � ~ H 2 � : (2.83) 2.7.2 Condutividades In�nitas Porém, quando um dos meios (por exemplo, o meio 1) for um condutor elétrico perfeito, cuidados especiais devem ser tomados. Neste caso temos � e1 ! 1 e os campos ~ E 1 e ~ H 1 tendem a zero. Nestas condições, a corrente de condução ~ J c1 = � e1 ~ E 1 no interior do meio 1 tende a se concentrar na superfície metálica já que ~ E 1 tende a ter o mesmo com- portamento [6]. Neste limite, a corrente de condução ~ J c1 (inicialmente uma distribuição volumétrica) tende a se comportar como uma distribuição super�cial de corrente elétrica, só que induzida. A consequência é que esta corrente induzida (que será representada por ~ J cs ) também tem que ser considerada no cálculo da Eq. 2.73. Repetindo os passos apresentados na Seção 2.7, só que agora incluindo as cargas e correntes de condução elétri- cas, obtem-se as seguintes condições de contorno para o caso onde � e1 ! 1 (veri�que, lembrando que os campos no meio 1 são nulos): n^� ~ H 2 = ~ J s + ~ J cs ; (2.84) n^� ~ E 2 = � ~ M s ; (2.85) n^ � ~ E 2 = � es + � ecs " c2 ; (2.86) n^ � ~ H 2 = � ms � c2 ; (2.87) onde � ecs é a densidade de carga super�cial elétrica induzida, associada a ~ J cs . Repare que, se não houver cargas e correntes impressas, as equações anteriores simpli�cam-se: n^� ~ H 2 = ~ J cs ; (2.88) n^� ~ E 2 = 0 ; (2.89) n^ � ~ E 2 = � ecs " c2 ; (2.90) n^ � ~ H 2 = 0 ; (2.91) Prof. Fernando J. S. Moreira c 2001 - DELT/UFMG 2.7 Condições de Contorno 33 que são as conhecidas condições de contorno para a superfície (suave) de um condutor elétrico perfeito (sem a presença de fontes impressas na superfície do condutor). Neste caso, observa-se que ~ E não pode ter componentes tangenciais à superfície condutora elétrica perfeita, enquanto que ~ H não pode ter componente normal à superfície, como esperado. Por sua vez, as densidades de cargas e correntes elétricas induzidas na superfície do condutor podem ser obtidas com o auxílio das Eqs. 2.88 e 2.90. Aplicando dualidade, podemos também de�nir um condutor magnético perfeito, car- acterizado por � m ! 1. Neste caso as condições de contorno são representadas por (veri�que): n^� ~ H 2 = ~ J s ; (2.92) n^� ~ E 2 = � ~ M s � ~ M cs ; (2.93) n^ � ~ E 2 = � es " c2 ; (2.94) n^ � ~ H 2 = � ms + � mcs � c2 ; (2.95) onde � mcs é a densidade super�cial de carga magnética induzida, associada à densidade super�cial de corrente magnética induzida ~ M cs . Repare que, se não houver cargas e correntes impressas, as equações anteriores são reduzidas: n^� ~ H 2 = 0 ; (2.96) n^� ~ E 2 = � ~ M cs ; (2.97) n^ � ~ E 2 = 0 ; (2.98) n^ � ~ H 2 = � mcs � c2 ; (2.99) indicando que ~ H não pode ter componentes tangenciais à superfície condutora magnética perfeita, enquanto que ~ E não pode ter componente normal à superfície (que é o caso dual em relação a uma superfície condutora elétrica perfeita). Finalmente, note que as condições de contorno apresentadas nesta seção valem também para os casos onde o meio 2 for condutor (elétrico ou magnético), desde que � e2 e � m2 sejam limitados (ou seja, não possuam valores in�nitos). 2.7.3 Algumas Considerações sobre as Condições de Contorno Embora pareça complicado, a utilização de permissividades e permeabilidades complexas permite o estudo das condições de contorno entre dois meios lineares, homogêneos e isotrópicos através de uma abordagem geral, apenas considerando cargas e correntes im- pressas. Porém, ressalva seja feita, o leitor deve tomar cuidado nos casos limites de superfícies condutoras perfeitas (elétricas ou magnéticas), onde densidades super�ciais de cargas e correntes induzidas têm de ser levadas em consideração. Conceitos de Eletromagnetismo para a Análise de Antenas 34 Fundamentos de Teoria Eletromagnética para um Regime Harmônico Outro fato importante é que, conforme discutido nesta seção, se os meios forem line- ares, homogêneos e isotrópicos, e a frequência diferente de zero (eletrodinâmica), então precisamos considerar apenas as condições de contorno sobre as componentes tangencias de ~ E e ~ H. Se estas forem conhecidas, juntamente com as fontes que produzem o campo, o problema pode ser resolvido e a solução é única. Na realidade, pode-se mostrar que apenas as componentes tangencias de ~ E ou de ~ H precisam ser conhecidas. Isto é demonstrado pelo teorema da unicidade, que será discutido no Capítulo 4. 2.8 Potência e Energia Nesta seção iremos estudar relações envolvendo potência e energia associadas ao campo eletromagnético. Para tal, iniciaremos os estudos no domínio do tempo a �m de obter a equação da conservação da energia através de conceitos físicos menos obscuros. Em seguida, de�nem-se os valores médios em relação a um ciclo temporal. Finalmente, os valores médios serão expressos através da notação fasorial (complexa), evitando-se assim ter que retornar ao domínio temporal para efetuar tais cálculos. 2.8.1 Conservação da Energia A dedução a ser apresentada a seguir assume um modelo macroscópico para a matéria. Algumas questões interessantes sobre a de�nição da densidade de energia eletromagnética são abordadas na Ref. [7], porém estão fora do escopo deste texto. Vamos assumir um determinado volume dv in�nitesimalmente pequeno e invariante no tempo, de forma que a densidade de carga elétrica total (% et ) em dv possa ser assumida instantaneamente constante e a carga total instantânea em dv dada simplesmente por % et dv. Sabemos da lei da força de Lorentz que uma dada carga elétrica (neste caso % et dv) na presença de campos elétrico e magnético sofre uma força dada por: d ~ F(~r; t) = % et (~r; t) h ~ E(~r; t) + ~v � ~ B(~r; t) i dv ; (2.100) onde d ~ F representa uma densidade de força associada ao volume in�nitesimal dv e ~v é a velocidade instantânea da carga associada a dv. Logo, a densidade de potência instantânea em dv é dada por: dP(~r; t) = ~v � d ~ F(~r; t) = % e (~r; t) ~v � ~ E(~r; t) dv = h ~ J (~r; t) + � e ~ E(~r; t) i � ~ E(~r; t) dv ; (2.101) já que % et ~v = ~ J + � e ~ E é a densidade
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