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AULA Direito e Estado 1. Considerações prévias 2. Origens do Estado 3. Conceito de Estado 4. Elementos do Estado 5. Fins do Estado 6. Teorias sobre a relação entre Direito e Estado 7. Arbitrariedade e Estado de Direito Bibliografia sugerida: Curso de Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco. Editora Saraiva. 1. Considerações prévias - O Direito é lei e ordem. Significa um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social, graças ao estabelecimento de limites à ação de seus membros; - O fenômeno jurídico não pode ser completo se não for acompanhado pela noção de Estado e seus fins; - Entre Direito e Estado há uma relação de interdependência e compenetração: o Direito emana do Estado e este é uma instituição jurídica; - Assim como a sociedade depende do Direito para organizar-se, este depende da existência prévia de um Poder Político como controlador da produção jurídica e de sua aplicação; - A primeira relação entre Direito e Estado é que este é uma pessoa jurídica de direito público, capaz de adquirir direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, impõe limites à atuação do Estado, definindo seus direitos e obrigações; - Direito e Estado constituem instrumentos a serviço do bem-estar da coletividade. Obs.: a atuação estatal está ligada ao Direito Positivo, isto é, ao direito posto, formal, codificado, que corrobora a estabilidade do Direito. Exemplo: leis e decretos. Não abarca completamente o chamado “direito natural”. Até reconhece alguns de seus institutos (direito à vida; direito à privacidade), mas não abarca todos obrigatoriamente. O Direito Natural é fundamento de uma corrente filosófica intitulada Jusnaturalismo. Sua ideia básica consiste no reconhecimento de que há, na sociedade, um conjunto de valores e de pretensões humanas legítimas que não decorrem de uma norma jurídica emanada do Estado, isto é, independe do direito positivo. Possui validade em si, legitimado por uma ética superior e estabelece limites à própria norma oriunda do Estado. 2. Conceito de Estado - Paulo Nader: é um complexo político, social e jurídico que envolve a administração de uma sociedade, estabelecido em caráter permanente, em um território e dotado de poder autônomo. - Dalmo Dallari: ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Obs: Governo – segundo Bobbio (1999, p.553) é o conjunto de pessoas ou órgãos que exercem o poder político e que determinam a orientação política de uma determinada sociedade. O Governo é um aspecto do Estado. 3. Elementos do Estado - POPULAÇÃO/POVO: é tido como o centro de vida do Estado e de suas instituições. A organização política visa controlar a sociedade e, ao mesmo tempo, protegê-la. Obs. 01: A população é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito da atividade estatal. É objeto pois subordina-se ao império do Estado (leis e atividades). É sujeito pois os indivíduos revelam-se como membros da comunidade política. Obs. 02: Diferença entre Povo e Nação Povo – habitantes de um território; conjunto de indivíduos subordinados a determinadas leis e que podem apresentar nacionalidade, religião e ideias diferentes; Nação – é uma sociedade formada por indivíduos que se identificam por alguns elementos comuns, como: origem, língua, religião, ética, cultura. Sentem-se unidos pelas mesmas aspirações. - TERRITÓRIO: é tido como a base física do Estado. Este exerce a sua soberania dentro de sua base geográfica. Obs.: Significado de Estado tem dupla forma sob a ótica do território → negativa e positiva. ˃ negativa: nenhum outro Estado exerce sua autoridade nesta área; ˃ positiva: todos os indivíduos que se acham em um território estão sob o império do Estado. - SOBERANIA: é o necessário poder de autodeterminação do Estado. Expressa o poder de livre administração interna de seus negócios. A Soberania é una e indivisível. O poder de administração não pode ser repartido com outro Estado soberano. Em uma República Federativa, como é o caso do Brasil e dos Estados Unidos há, internamente, repartição de competências entre os estados-membros. Obs.: Não se pode confundir soberania com autonomia. Esta significa a capacidade de autodeterminação dentro do círculo de competências traçado pelo poder soberano. No plano internacional, soberania significa a independência do Estado em relação aos demais. Obs.: é o Direito Internacional Público que disciplina as relações jurídicas entre os Estados e entidades internacionais. Estabelece princípios e normas para convívio internacional. 4. Origens do Estado Nesta seção, importante destacar que cada fase subsequente a ser apresentada deve ser vista como absorção/transformação/superação das etapas anteriores, em movimento aberto e infinito. Todos os conceitos aqui trabalhados não são estanques, estão em constante movimento. Os dois enfoques apresentados a seguir não são excludentes, mas traduzem apenas diferentes formas de se analisar um objeto. Aqui serão apresentadas as óticas de Dallari e Nader. DALMO DALLARI – faz uma evolução histórica do Estado, identificando 5 fases: 1ª) Estado Antigo: - regiões: Oriente e Mediterrâneo. - “confusão” entre: família, religião, Estado e organização econômica. - 02 características marcantes: natureza unitária (Estado aparece como uma unidade geral, não admitindo qualquer divisão interior, nem territorial, nem de funções) e religiosidade (a autoridade dos governantes e as normas de comportamento individual e coletivo eram expressões de uma vontade divina). 2ª) Estado Grego: - não havia um único Estado, mas várias “cidades-estado”. - a pólis era a sociedade política de maior expressão. - visava a autossuficiência. - a participação política era restrita a uma certa faixa da população. Havia uma elite que exercia o poder político. 3ª) Estado Romano: - anuncia o fim da “cidade-estado” → transição para Estado Medieval. - base do Estado era a “família”. - a participação política também era restrita a uma faixa da população. 4ª) Estado Medieval: - formam-se os burgos. - forte influência do Cristianismo. - invasões dos bárbaros. - feudalismo: a vida social depende da propriedade ou da posse da terra; vários centros de poder: Igreja, Monarca, Aristocracia, Corporações de Ofício. 5ª) Estado Moderno: - 02 características básicas: unidade territorial e poder soberano único (supremo). - 03 elementos essenciais: território, povo, e soberania. PAULO NADER - Basicamente, há 04 teorias que buscam explicar as origens do Estado: • Matriarcal (teóricos: Bachofen e Lewis Morgan) • Patriarcal (teórico: Summer Maine) • Sociológica (teóricos: Durkheim, Weber e Marx) • Contrato Social (teóricos: Hobbes, Rousseau, Locke, Montesquieu) ■ Teoria Matriarcal: • Bachofen – a vida humana se desenvolveu, primeiramente, pela liorda, em que os indivíduos eram nômades e não possuíam normas definidas. Não havia uma noção de família ou parentesco. • Lewis – os critérios hereditários femininos antecederam os masculinos e a chefia da família competia à mãe. O pai era uma figura subordinada ou, até mesmo, não era considerado membro da família. Apenas em uma etapa mais adiantada é que a família teria se organizado com a preeminência do pai. ■ Teoria Patriarcal: - Ideia básica: em passado remoto, a única organização social era a família. Em cada uma, a autoridade competia ao homem mais velho, que possuía um poder de vida e morte dos integrantes. Ex.:Gregos e Romanos. - A linha sucessória se dava pela linha masculina, a partir de um antepassado varão. - Para esta teoria, a evolução é: família → Clã → Cidade → Estado. ■ Teoria Sociológica: - Não reconhece a família como 1º agrupamento social, mas o clã. Este não era constituído por vínculos de parentesco, mas por identidade religiosa. - O Estado surge da evolução do clã para a organização territorial, onde os vínculos interpessoais decorriam da ocupação da mesma área geográfica. ■ Teoria do Contrato Social: - Explica a fundação racional do Estado e não uma explicação histórica para sua formação. - Divulgada, principalmente, pelos adeptos da Escola do direito natural, pois sua ideia é ligada à saída do Homem do estado de natureza para o estado de sociedade. - Este contrato seria feito entre os indivíduos para viverem pacificamente. - A teoria mostra como o poder emana do povo e porque este pode reivindicá- lo. 5. Fins do Estado - Há 03 concepções para explicar a finalidade do Estado (corrente de Gustav Radbruch): 1ª) Individualista: impregnada pelo pensamento liberal da máxima liberdade dos indivíduos e da mínima intervenção do Estado. Direito e Estado são apenas instrumentos para o bem-estar dos indivíduos. Entre um direito individual e um direito social, prevalece o individual. Para esta corrente, uma vez atendidos os interesses individuais, forçosamente, estarão atendidos os interesses sociais. 2ª) Supra-individualista: prevalecem os interesses coletivos sobre os individuais. Admite a intervenção estatal em relações privadas. 3ª) Transpersonalista: pretende uma síntese entre as duas correntes opostas, aproveitando os elementos conciliáveis existentes. A opção entre um valor e outro, quando inconciliáveis, é feita de acordo com a natureza do fato concreto e em função dos princípios de Justiça, de forma que o indivíduo não seja preterido pelo todo, nem que a coletividade seja prejudicada pelo indivíduo. 6. Teorias sobre a relação entre Direito e Estado. - São 03 teorias: dualista, monista e do paralelismo. ▫ Teoria Dualista: para esta teoria, direito e Estado são ordens distintas, sendo estranhos um para o outro. A teoria é tida por absurda, pois o Estado é uma pessoa jurídica (detém direitos e deveres) e a efetividade do direito pressupõe a ação estatal. ▫ Teoria Monista: para esta teoria, Direito e Estado são uma única entidade. O Estado seria a personalização de uma ordem jurídica. ▫ Teoria do Paralelismo: afirma que Direito e Estado são entidades distintas, mas que estão ligadas por uma relação de mútua dependência. Para Kelsen, o Estado deve ser representado como uma pessoa diferente do Direito, para que este possa representar o Estado, que o cria e a ele se submete. O Direito é pressuposto como uma ordem essencialmente diferente do Estado, oposta à sua natureza – o poder – e, por isso mesmo, reto e justo em sua aplicação. 7. Arbitrariedade, Discricionariedade e Estado de Direito - A arbitrariedade é conduta antijurídica, praticada por órgãos da Administração Pública e violadora da forma do Direito, pois extrapolam os limites definidos pela lei. Direito e Arbitrariedade são ideias inconciliáveis. - A discricionariedade está relacionada ao exercício do poder de polícia pela Administração Pública, pautada no relevante interesse público. Ex.: desapropriação – o Estado toma para si propriedade particular, mediante indenização, em virtude da satisfação do interesse público. O Estado de Direito, por todo o exposto, significa que ao mesmo tempo que o Estado cria o Direito, deve sujeitar-se a ele, pois a lei é a expressão da vontade geral, da coletividade. Para tanto, é preciso que o Estado se estruture no clássico modelo de partição de Poderes (autônomos e harmônicos). É preciso, ainda, que o Estado se apresente não só como poder sancionador, mas como pessoa jurídica portadora de obrigações.
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