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Um Balanço do Debate A Transição do Feudalismo ao Capitalismo (cap5 Brenner) (Mariutti 2000) (ler cap 5)

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/ 
T --- -- _ 
EDUARDO BARROS MARIUTTI 
BALANÇO DO DEBATE: 
A TRANSIÇAO DO FEUDALISMO 
AO CAPITALISMO 
EDITORA HUCITEC 
.~. Sãó~Paulo, 2004 
lJ2 CHIT/CA t\O ~/()/)EI.() J)EI\/O(jRÁF/CO 
lJ!n!fI e da procllm, isto t, m:dia~te. O t!escom~as.s~ entre o tamanho da popu-
larf /o e o volt~me d~ p:O~lIçao, mtflfmlZl1fldj) a rnf/ulflcia dos demais jO/ores, 
(omo a peCtlllar d,stnoll,çiio dos meios de produçiio e,a rel.lçiio o1J/Jgô~ica 
m/re a nobrfZO e o campesinato. • 
Em largos tr~ços essas são as principais características do modlilo 
demográfic? aplicado ao estudo da transição do feudalismo ao capitalis-
m0: ~1~s é Im.?ortan~e observar aqui que esta classificação é um tanto 
arbItrarI~, e _nao. deve ser encarada como dotada de fronteiras rígidas. 
As c.xplIcaçoes Igualm~nte rotuladas como malthusiànas ou neomal-
thusIa~as apresentam dIferenças significativas entre si. O confronto'entre ',' 
L~dur!e :M. ~. Pos.tan re~e.la essas difer~fças: as formulações de " 
Ladune sao mUIto maIs mecanlcas e dete!mrfl1stas do que:as reflexões ,.:" ; 
de, Postan. Mas não obstante tais diferen'ças, nas formulações destes . 
d~ I S, au:,ores podem.os e_ncontrar ~m denominador comum: em ambos as 
exl!l:c:,çoes. ~s determrnu,çoes jUfldomentois siio de ordem demogrdjico, e este é o 
cn/eno utt!~Zl1do pom.sltlld-:os em uma mesmo categoria. Precisar as nuanças 
entre os dIferentes Intérprete9 demográficos é uma tarefa importante 
'. o· 
mas n~o s~rá. ~e~lizada aqui sob pena de nos desviarmos demais do~ 
',)rop?sItOS InICIaIS deste trabalho. Os elementos que apresentamos são 
s,u ficlentes ~ara podermos compreender o próximo capítulo, oride ana-
lisaremos a Interpretação de Brenner sobre a transição. 
.~ -----
• 
• 
; 
• 
5 ; 
A INTERPRETAÇÃO DE BRENNER 
• 
D E ACORDO corv! ooss:.s observações anteriores, Brenner re . 
velou-se crítico implacável àos modelos centrados nas transações mer-
cantis e nas flutuações derv~ráficas, comumente utilizados para se ex-
plicar a transição do feudalismo ao capitalismo. Na primeira parte deste 
trabalho, bem como no capítulo anterior, recuperamos algumas das mais 
contundentes críticas deste autor a diversas interpretações sobre a tran-
sição. Neste capítulo pretendemos apresentar a sua explicação sobre o 
colapso do feudalismo e a gênese do modo de produção capitalista, o 
que nos obriga a confrontar seus dois artigos que fazem parte do Deba-
te Brenner. Inicialmente, antes de nos ocuparmos com a análise minu-
ciosa das diversas particularidades que uma questão desta natureza apre-
senta, desenvolveremos inicialmente um quadro geral no intento de 
garantir uma boa visão de conjunto, evitando ao máximo que longas 
digressões prejudiquem a coerência interna e se tornem empecilho para 
a compreensão desta interpretação. Tal cuidado se faz necessário, pois 
a todo momento Brenner dialoga com os demais participantes do deba,-
te, especialmente em seu segundo artigo, mais longo e mais completo. 
A estrutura de classes que marca o feudalismo apresenta dois aspec-
tos que, embora historicamente unificados, para melhor compreensão, 
. devem ser analiticamente diferenciadós. O primeiro, afirma Brenner, 
consiste nas relações dos produtores diretos entre si e com a terra e os 
meios de produção, o que usualmente se denomina como processõ de traba-
lho ou forças sociais de produçtio. O segundo aspecto diz respeito às 
conflitivas relações de propriedade que são garantidas direta ou indire-
tamente pela força, denominadas como relações de propriedade 011 relações 
de extraçiio do exceden/e,.,~~t~~,. rylações de extração são necessariamente 
conflitivas, porque se ãg{jne~ mediante a espoliaçlio do produtor direto 
93 
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Realce
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Realce
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/ , ., ., .. .,..~ ~.~ ... ~ Ir_., ~~~f·:·.i;"'''''5J·· ~tJ;.r;"f~t~~:i;..rl~~7~~ ~.tv..'~'~ .': ;. ~ . 
. 
_~.' . '~ '. i:, :,'> · \.\;:";/Ft;.1~;~:::~~~~~?~,!.;.~.!i-~~~ ~?~~:7e1f;~i~;.::::~:·.;,:·· .' -:, ........ 
. . ~ .~~ •. '~~l!":"~ .. :~~ ~ .. 1 ".lo ..... , ~~~).:; ... :;. 'TV';;' ..... ":.~ 
94 A J NT E RI> R ET~Ç ... Ã? .D .. ·.,Ell·.~.~~ .• ·N.;·.yN.;'., •. ,f.i: ... ~ .. ;.~/ ;!t .. ~:~.~;~I.~ • :t:;:J7"\' .·:t ;': ,~~~iit·\;:.~,::,;~~~ ': ' ~~." .~' I ", ,,,,~ .. , ~:,'\J·~-,,::~~t';;} ... 0~l" ~ ·" ·''' ·' -·"' A INTERPRETAÇÃO DE BRENNEH 9S 
que, embora detenha '1. pos~e d~ P,f!~",é,i,~.f~iW.siq"~;,:e~ u ~~,é.~çrU~~~. ~t)::~ .... ,~,~:~;~~1;JF~'~' .... ':: . .' " . 
do a ceder seu exced~~t~ ~ ~la~~eâ9!ll1fi1~.n~e(pe·<3~Ó élb.:t:'om.Brenner: · ';'td~s à l.li.z.,~a estrutura de"c1asses vigente, como uma das expressões do 
. . ' 00 " " . . " """~':. ~~d~""," .. tl , .... ~ ~ ,:>.,," .. -.~. . o" .:':'-: -inexóráve1. conflito entre 'os produtores diretos e a classe dominante. 
"[ ... ] É em funçã'Ó das ~eÚç'~;i~j~~;tQ~}fi~d~~; ou'·~~ ' ;x~~~~~o . "~'ú :::::\:: -t . •. ,;\ j '\:.:;.'. '~;"-:: :::. '. 
d~ excedente que ~e deoflnem aS i:Glàs~~~5tWldámei"úafr<fm":uma sClcie- . :'~f, ~:.':: .' :,i'grri: rçsllíJ1Q" - escreve Brenner - "para compreender em seu 
dade: de um lado, a.(s) c1asse~sfdos. próautçres. ~fé~o~os .'é"de outro, ;.....". '.,~ conjunto o·o~esenvolvimento econômico a longo prazo, o crescimen-
a(s)slasse(s) dos que extraem o,exceder;ttç ou a classé",dirigente. Mi- . ' . .' '. ,.r: to e oaçraso '~o período que vamos estudar, acr;ditamos que é "ecessfÍ-
nha argumentação fu~dament~-s«,. nesç.â · conceitlJilliiâção e prden- ;io analisar ,o processo re/ativametlte autônomo que origina estruturas de 
de defender que as dIferentes esttutür~s de classe"'c: 'mais concr~ra. .ç/asse c()f1cretÓs, em especial as relações de propriedade 011 de extra(ão do 
men te, as rela.ções de propriedade' ou de excração dó excedente, uma ~ .' excedetiíe, e de.!orma mais precisa os cOllflitos de c/asse que se onKillalll (0/1 
vez estabelecIdas, tendem a impor possibilidades e limites estreitos ver- I/(lo), iJo.seio ilestas estrutlJras. ".1 
dadeiros modelos de 101lga duraf"Õo do deseflvolv/mmto ecollômico ri: /I",a ' 
sociedade."1 .'. Dessa forma, para compreender a dinâmica da sociedade feudal é 
fundamental realizar, de forma preliminar, um estudo sobre o processo 
Nesta passagem, fica clara a hipótese d~fendida por Brenner: os ci. re/ativql1 ... ·lIte aútô;,omo responsável pela gênese das classes sociais." c 
cIos de longa duração do feudalismo .são determinados em' última ins- este processo só pode ser compreendido mediante a apreensão das rela-
tância, pela estrutura de classes e pela suamanifesta'çã; maIS' concreta: ções de proprledade em conexão com as relações de extração do exce-
as relações de propriedade,z Brenner argum,~nta que esta es'truturaapre- .'; .;. dente, Par~in~9.~.dessa posi:~ra métod91ógica, à transição do feudalismo 
senta grande propensão à elasticidade, pois iilterage ' có'm : &vérs às for- ", ~:"f: ..... .. ao ~api ê~i,isrPo;:B~ssi a ser" ~ncarada "como o resultado efetivo do conflito 
ças econômicas. No encanto, ele . cónsideúi e'quivoca'dá .à '·hip'6tese:'dé ,:;;t~~ . . }:. . de: c!~~se~~q~~p.Q.fsúa vez 4 determinado p"eIas relações de propriedade 
que a estrutura de classes é determinada 9ómin'imtemente, petar~ú~ " '~t\ ~Y." . ~ de ex,~Jaçã9.~.9:~~~edel1tç 'fspec1icas do modo de produção feudal. s 
tuações ~emográfic.:as ~u comerciais: tor.~~n.t~, pod~h1.~>~"-~~~;mar~ .. que . ',','~, 'i~~~~~ ,.:.S·-~~t~s:d.i?fi~?~~lv~r liÍl1 pouco m~i: esta i~éia, é neces!ário termos 
Brenner Inverte o sentIdo oa deten:rllnaçaó: ao co ntrárÍold os· adeptos ',o };.:i: ~"'{;: .. , .. em men.~equ~)~.renner d~fine a servldao como uma relaçao na qual o 
do modelo dem0!5ráfico e mercan til, . que d~' inõ~o rriá'is~oi.í menó's ge- .. /\J:r SS·~ , .. :o; ~en.h~( f'?~.CI~rp?i~ !li a capacidade C;ie impor pressões extra-econômicas 
~al, sustentam a Idéia de que as variações '.q~mõgrá(iç~s ';ôú:·rneéc·antis,:;·)}t) ;:(:::-' so?re:}j(cámP9.~7Ses, f1x~~él.o assim o nível de seus rendimentos de 
mduzem à transformação da estrati(icação e das' relações' ôé'C1àssel"'este . ~";!i :1;. forma arbitr~rifê de acordo' com suas nec(;!ssidades. Desse modo, (l .\fr. 
autor pretende demonstrar que tais flutuações deve.rri 'se'{compreen'di- . ,:.,::;r ;~\:.' ;vidlio Ilo/ei!dali/'Jlo consiste ein IIf]wrda(ãv de poder qfl{, só pode tm".~r(),C 
; ;'; .' -.-'::: :.:;.: .. ' ' >':t~ ::<-..: ' . / ,? : mar-se (ie aeó'c/9com os próprios meios, 011 melhor, '1IIedialltl' IrallsjO!'f!l(l{Õt:,' 
R B ". . ' :;/ .' . ··f:·:" .. ;, .. ;'::-;:: ... i .: >;. . ,;- ' l.<: ocomdài "0 éq~,ilbrio dpfforças de c/asse;~Assim, longe de procurar nas 
! B·' rc~n~r. ~gra~la.n c;I~ss:-,.", IO~ TlreBret1ner/)~b,~'~,cic.: , p . .11~2 (grjfos.meus). . ,. flutuações dembgOráfiéâ~ ou incrcantis as explicações sobre o dcsap~lrc-
ren?<::r emprega ~ cxp.ress~o re/açoes de Pr:~I?I).ed'!;(.e.,de ipodo. mUito peeuliar: não se . ·,to·'. ". """".::' . . 
. trata _Dc uma definição Jurídica, mas sim d~ .um cOfii:êiio mais. espccrfie'ü do que o ue ' ·:.k ' <' " , ; .• ;. 
relrl{oe.r de produção. As relações de pnlprieiladê ..:·t chlçõcs·que s-e" e~tabclecem entre . :~. J,;L ... 3 R. Brenner. "Agrariar' c1ass ... ". eit .. p. 12 (~rir()s meusl. 
os prod utores uiretus c as classes exp l()niçldr.~r:1.~C:~p'6cifiéam e dc'iér"mi ~am '~) aecsso .. . ;.{~ :' 4 Brcnnéi ~à'( ,' (ie~c'nv(lll',Ç de forma sistcm;íl il'a este "pnll'esso allltl1101l1ll" rl'S!,"'''" 
regular e sistcmárico dos atores e unida,dê~'~q~~in~1n 'icas aos mCiils de produção e ao < ~.: ,;~7.r ~'" :'.'" vcl pchi esti uturação das classcs sociais. Entretanto, no ~cc?r~cr de sua arguJ1l:nta. 
produto global gerado pela socie9adl~~: N,ã(j , i!s~!l.'~crri .·neccssa·riiúncnte .. uma ,forma .:, .. .. ;J;-:.,/;". ção, scmJ)re '"com b;jse em exemplos concretos, () autor dá Indlclos ue como este prr>-
jurídica dcfinida e, quando assumerri ;,~j~'!~~htfc.~taç.i(). ~(,jqçrcta)i'êm sempre "::i:: F~~t): ;..' Ci.:SS(~~~ at~a c c0',!"l0 inf~i.Jcnc ia na transiç~o ao capitalismo. . . 
corr~spondc à.sua re?rc~e~,taçã.o !c~ar:na" sq~j~dad~~h19~cs~~ã9: . 1~o~~~~tç: 'êJO . P(lOtó ...... ' ;'; :~':f.~:"! .: .. 5 Nas palavras do própno Brc.nner: "PrecI~a~ente () que se deve JO~es.tlgar c~)mo o ~.e vista anal!tlco, as rcla!.9,l!s ?C prop~I~~~de.:>:on~~~~ér:n: ~~'~rrj~é~lJÍp ,,? s n te :esscn" .. ",~;(: ~~i, " proble.mll.c/rave dQ dcs~nvolvlment~) ccon~lmIC? a lo.ngo prazo ~Iue se. deu ~a E.urop,1 
clal das relll(oes de produçll(}.; 9 ,Ortud,!, ~~tc 'gráLÍ d~,W~~i Sã():~érne?ituilr'*ã8 prcp()'nde~ --, '; . ::'~~~. :" .. ,' . dcsdc () i)crfodo d~ balXll Idadc tvlccha ~tc. o PrlnclplO.da Idade t"f~)~ern ~, e () r~.sul .(,, : 
ra em toda a obra uc.: Br~n.ncr:por yeijcs ,. ·rel~i;iícrs . pe 'propticda-ac'.c f(Jc· prodiiçào .. :/~ l'ir;"'.- : .. oade tais conflitos de classc: a reafirmaçau das rc.:laçocs de propriedade trau'UO!l.trs 
. ~1JI~crr: 1;,::.1):, ~int,~im(Js-! :: .tcs doi ~ ~iJ,~ccito's : ~ã[~:tQi~u}~q(if(:11Hitfu~ \~~ -rig()'rc'ndt . '~;~ ; :;~~:i." " ou sua dcstr~içli(). l(m/ o lOflJfJ!.lIill/e .iuf'J!.i~l/enIO di ulfIlI .novlI e.((f7J1UmS0í1~:/, ~ qu, .rk 
Brcnncr. I ne SOCial l>aSlS. of eCOnOn1IC devel()l)flícnt': iíl! ':~(l .;. ; . ou) -\,,'7/"," / ,;' '-<'. ,. '/."fll/'7 /'II1I·.r (/!I/plfl :r"t ' ;,of/#t(t mmli fi /nlfW(fTli dI) !mdrt/wi/I) 111) (11!>tlrt!Wi/t) - ,halem 
, (' I './" . _ . - ." r"~ ,. ' " .. >', .. . ( I, r. lI(,r/ . 1'(. .. ', J"" I , //Ir/f'X/.I·m. ,am lfIug<.:, hR(l: . -. ' ...•. . .. ' . J, : '.,~ ,,, j"I··' .. ;~'i~\>" .. :,'/;~. ,1';,','-,: . ' . , ..• ,."."".. ('~. • -) . . '.-
", .:. -: :.. lo ~~ ' . :' 8.' ~~.·':/;~i ~.,;\ . S,~.~~~.,,_:~ I' ~.::.~ ' .. ~~ ~;; , ' gn .()~ n1CUS . 
;, ...... ... ,'h:" .. .\!·(;~~di.Wf.J;:i"I~~;.·'" :'- .' ' ·"'.)~l· ;. 6 Cf, Ibldcm, p. 25-7. 
,I, ,.1. _ .... ~ ••• ~ .. I, .. ' j./..:.,...-ti,,: •. rJr..;;t.:[;.}·.,.::'i .. r -".,. :ili'" ...... ~ . .. ' ' , .. ,~ 
,., . -!'-.... N 1t ~ • »: .... ;/~' ~. \.:.~ .... Mt·~I::t~~·,,~~· ~l:.~~~:;: ..... · .... ~~~ ,t.: ~. ..: ',:~ ." 
. .•. __ .' ..... ..::,~ .. :.::.. .• _.~ '''= . ....... 6''1tt~J,.'{ ~:...:rii~~~'~ .... ';\4i.;: .... , -.,..~~·".~,.4~:N'!:I .:.:. ..... ,,1-.. ~j .. ' .l- ' .~ • 
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" , ,, J 1 ·. I ~ I · I~I'.I I\(, :l\ t) IH. IlHL Nf\: I': 1< 
cimento ou a int<.:nsific~\(;ão da servidão no seio da sociedade:: feudal, 
Brenner busca as causas de tais eventos na transformação da <:Qrrelação 
de forças entre as classes antagônicas fcudais. Diante da controvérsia 
sobre o que realmente demarcaria o fim da servidão,? uma breve afir-
mação de Brenner revela sua concepção: 
"[ ... ] Pode se dizer que a servidão só se finf1)iza qua!1do o direito 
e a capacidade do senhor para controlar o campesina co, caso ele queira 
jazê-lo, não maisperdura."~ 
Assim, para Brenner, com base nesta "definição" de servidão, para 
apreender a transição do feudalismo ao capitalismo é necessário enfrentar 
alguns problemas fundamentais, como a déC~dência da ~:.:rvidão versus 
seu reforço (a intensificação da se rvid ão'~Í1a Europa oriental é contem-
porânea à sua decadência na Europa ocidental) e o surgimento e a sub-
seqLienty consolidação da pequena propriedade camponesa livre versus 
a crista lização de rebções econômicas entre os senhores e os grandes 
arrendatClrios empregadores de mão-de-obra assalariada. Desse modo, 
para podermos apreender este quadro comp lexo, é necessário fazer lima 
~Inálise comparada LJuc contrasrc os efeitos e as transformações nas re-
lações servis na Europa orienta l e ocidental, bem como a ascensão do 
chamado "capitalismo agdrio" na Inglate rra, e sua queda na França. 
Assim, em largos traços, a trans ição no entender de Brenner se efetiva 
com o surgimento de relações capital istas no campo C011l0 conseqli'êlla"t/ 
do t"xilo de 1I/lI dllplo processo prévio de tksellvolvimmto e conflito de classes: a 
desfmição da servidão e o jmmsso dos mmpolleses em conseguir ri proplieda-
dI' plflla da lel7l/.~ A partir desse ponto, após este esboço preliminar, 
podemos entrar com mais detalhes na argume ntação de Brenner. 
Esta controv'érsi<l tt:vt: papt:1 dt: <kstaq ut: no dt:bate do~ anos 50. Çomo vimos, Swt:ezy 
c.:nxcrga na conversão das prt:sta~ões em trabalho nas terras do st:nhor (ou em espé-
cit:) por tributos pagos em dinheiro um dos indícios mais claros do 'im da servidão. Já 
Dubb discorda desta pc;.s)ura, pois dt: formaflprox;l1Ir1drtlllent(anríloga a Brcnncr, ccntra 
sua definição na natureza extra-t:conômiea da relação que permite ao nobre açambarcar 
o excedente do produtor direto. Neste capítulo, à medida que reconstituirmos a in-
terpretação de Brenner, poderemos abordar de forma um pouco mais elaborada esta 
complexa questão. 
" Ibidem, p. 27. , 
') Este "fracasso" do carnpesinato é um dos tksdob rameolOS da espol{ação da base fuo-
tliária tlo produtor dire[O, ou melh ur, tlo processo de formação do trabalhador livre. 
Cf. I{, Brenner. "Agrarian class ... ", cir., p, 30 e 'The agrarian roots ... ", cit., p. 213-
7. Em nota de rodapé (p. 30), Ilrenner afirma qut: esta sua opinião está baseada nas 
rdkxüt:s marxiJnas rderentes ib barreirasestruturais ao desenvolvimento capita-
1\ INTI':RI'IU:TA<,:A() 1)1-: IIHL NNU{ tn 
o declínio da servidão 
Segundo Bren:1er, realmente existiu uma propensão às crises demo-
gráficas na sociedade medieval, mas tal propensão não pode ser encara-
da cómo um/olo uotural decorrente da disponibilidade de recursos hu-
manos e naturais em relação ao nível da técnica, como propõe de forma 
implícita Postan. Essa tendência à crise s6 pode ser compreendida como 
uma decorrência da estrutura peculiar da sociedade feudal, que é mar-
cada pela subordinação da economia camponesa (onde predominam as 
pequenas unidades produtivas familian:s) à classe dominante por in-
termédio da servidtio, As relações servis, fundadas na coação extra-eco-
nômica, garantiam a extração e a fixaçãe do nível dos rendimentos da 
nobreza. Além disso, a servidão im~)unha severas restrições à mobilida-
de da mão-de-obra. Estes fatores atuando em conjunto proporcionJ-
vam uma tendência ao estancame::mo das forças produtivas: 
"[ ... ] Portanto, a incapacidade da economia agrária de base servil 
de introduzir inovações e melhoras na agricultura, mesmo diante lk 
incentivos de mercado, é compreensível mediante dois fatores inter-
relacionados: primeiro, a force extração do excedente pelo senhor c, 
segundo, por causa das barreiras que freavam a mobilidade de ho-
mens e da terq, que por sua vez faziam parte da relação servil de 
extração do exc'cdence [ulIfree surplus-exrmcúofl re/aliollship ]."1 0 
A extração do excedente pela nobreza não só privava o servo da par-
ecia de seu produto que excedia suas necessidades, como também im-
pedia qU(; ele acumulasse reservas que garantissem a reprodução de 
sua possessão, bem como acentuava as adversidades que o declínio a 
longo prazo da produtividade do solo proporcionava. Sob a ação de re-
lações de produção e de propriedade dessa natureza, o produtor direto 
vivia em uma situação-limite: qualquer catástrofe natural poderia de-
terminar a ruína de sua unidade produtiva. Assim, a tendência à estag-
nação da produtividade e a carência de inovações tecnológicas não pode 
ser simplesmente aceita como evidência que se explica por si só, ou 
explicada mediante um simples mecanismo de mercado baseado na lei 
da oferta e da procura. Esta tendência deve ser relacionada à arricula-
lista, c no presente çaso, a posse da terra peJo st:rvo funçiona como Ú/I;IIII1IJi1nrim. 
Ver também H. IIrenner. 'The ori~ills ... ", <.:it., p. 7,1-5. 
10 Idem. "A~rarian ... ", cit., p. 31. 
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Retângulo
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98 A INTERPRETAÇÃO DEBRENNER 
ção peculiar da produção medieval, privilegiando suas relações de pro-
dução c de propricdáde dominantes. 
As relações servis freavam de duas, maneiras o desenvolvimento da 
produção feudal: por um lado, sufocavam as unidades produtivas e, por 
outro, prorr.oviamo desvio sistC;!márico dos recursos da produção para o 
consumo improdutivo. Se retomarmos à dê.finição de Brcnner sobre a 
servidão - direito ou possibilidade da nobreza de eXtrair extra-econo-
micnmcnrc o excedente dos produtores diretos - podemos concluir que, 
para aumentar seus rendimentos, é mais interessante para o senhor feu-
dal intensificar a exploração sobre seus servos - intensificando os tribu-
tos a serem pa60s em dinheiro e as prestações em trabalho pessoal - do 
que realizar grandes inversões de capital ou tentar introduzir novas téc-
nicas que tornassem o trabalho mais produtivo. 11 . 
-------
11 I:: quase uma unanimidade a hip<Ítese de que a maior parte dos recursos de que a 
nobreza dispunha eram gastos improdutivamente. Hilton dl.!senvolve a questão de 
forma inreressante: "A cOllclusão geral a que podemos chq~ar é que não houve 
n;investimentos suficientes dos lucros provenientes da agricultura que aprimoras-
~em significantemente a prnuutiviuade. I ... 1 Os gfllndcs senhores, em vir/lide da 
1/f///llrzn de .r//(/ exiJ/fnrifl JOria!, não estavam inclinados a guardar ou a reinvestir seus 
lucros. Os principais gastos da nobreza, leiga ou eclesiástica, eram com as guerras, 
luxo e ostent,wão para os pr6prios lordes ou para seus numerosos criauos. Esses gas-
[Os alcançavam níveis tão prodigiosos que, não obstante sua eficiência como proprie-
t<Írios, viviam sempre no limiar da falência financeira. À medida que recebiam créui-
to~, eram eles destinados ao consumo, c não em investimentos produtivos" - R. Hil-
ton. "Was there a general crises of feudalism?", in: (:/flJ"S collflir/ . . . , op. cit., p. 243 
(grifos meus). W. Kula, em 'jeorfa er.onómica de! siJ/emfl Imdfl!, trad. Siglo XXI, 1974, 
demonstra que a tendCncia dominan~c entre os senhores poloneses era transformar o 
excedente que acumulavam em consumo (mantendo um padrão de vida elevado -
tanto do nobrl.! quant<) de seus dependentes). O autor aponta também as peculiarida-
des uas "deeisiks de investimento". derivada{ de uma economia fcudal: o senhor, 
quando pássava por perfodos ue p'a1. e de b()as colheitas, não tendia a investir de 
forma produtiva as suas riquezas, pois preferia elevar seu padrão de consumo. De 
form;r'exatamentc oposta ao que ocorre il<i capital ismo, li decisão de realizar um in-
vestimento era gera lmente tomaua quando as condições do mercado eram desfavorá-
veis: com a deterioração do mercado, o custo de vida subia. Para manter o padrão de 
consumo era necessário ampliar o volume' global da produção, expandindo, por exem-
plo, a área cultivável (cf. p. 47-70). I:: neeessáric, contudo, tomar cuidado com as 
generalizações. O estudo de Kula pode realmente lançar muita 10'7. sobre o funciona-
mento daseconomias feudais da Europa ocidental.l\·fas o pr6prio autor delimita rigo-
rosamente () escopo regional e temporal de suas reflexões, reforçando as peculiarida-
des do feudalismo polonês. De formação relativamente taruia, o feudalismo na I 'o lflOia 
atingiu o auge enquanto a Inglaterra e - posteriormente - outros pafses inici<1vam a 
Revolução Industrial. Entretanto, sua maior particularid,lue encontrava-se em outro 
ponto: na sua estreita dependCneia do comércio internacional, i.é, na necessidade de 
exportar grãos para poder reprouuzir a sua estrutura socioeconf)mica. 
, . 
.1 • 
.. ' 
; o '·. 
A INTERPRETAÇÃO DE BRENNEH 99 
De'sse modo, a tendência universal à exploração extensiva crodia 
constantemente os recursos do campcsinato, tornando impossível um 
melhor aproveitamento de suas terras: 
.. .. ,~ ,~ .\.J o;~a~pesinato" - afirma Brenner - "não podia utilizar a 
ter~aque p~ssuía de maneira livre e racional. Não podia inverter seus 
benefícios, que na verdade eram quase inexistentes. Portanto, as re-
lações servis de extração do excedente geravam uma queda na pro-
dução de p~r si; em particular a impossibilidade de adquirir animais 
de. tração, ó que por sua vez originou a deterioração do solo e indu-
zit; ·à.ampliação do cultivo a terras anteriormente utilizadas como pas-
tos; Isso levóu ao cultivo das terras marginais e a redução das possi-
bilidades para a manutenção do gado, gerando um drculo vicioso que 
produziu ddesiruição dos meios de subsistência do campesina/o. A crise da 
produtividade conduziu as crises demográficas, comprimindo a popu/a(lio 
abaixo dos limites de subsistência" . 12 
. ~ -
éomo poderri~s observar, Brenner explica as crises demográficas como 
resultantes da queda da produtividade a longo prazo, que por slla vez é 
detertnif1ada pela natureza das relações de produçõo e de propriedade feudais . 
Com base nestas afirmações, podemos concluir que Brennernão nega 
a manifestação na Europa medieval do "movimento de duas fases" de 
inspiração malth usiana, mas este "movimento" s6 pode ser compreendido como 
um resultado das pr6prias contradições interllas do fetldalismo, e não explica-
do como 01[,0 ex6geno à sociedade. 13 
A diferenciação social existente entre os camponeses, fato que pode 
. ser verificado em praticamente toda a Idade Média, é um elemento 
".' 
l/ R. Brenner. "Agrarian ~i~lSS .• . ", op. cit., p . .1.1 (~rifos meus). 
13 Brenner, em "The agrarian .. . ", retoma a questiio com mais detalhes: "I . . . 1 :"in · 
guém pode ne~ar que um incremento demográfico contínuo, ante a queda da produ -
tividade do trabalho, cedo ou tarde gera desequilíbrio cntre população e recursos e. 
em última instância, um empobrecimento generali7.ado, fome e morte. I ... 1, como 
tampouco podemos duvidar quc a maior parte da E uropa ocidental, na época medie-
val, s<.: caracterizou pela manifestação de um grande ciclu.agrário de dupla fase. () !f"f 
se q/ústionfl I fi l/ri/idade do modelo ma!/hllsiallo pflrfl.rt! definir r.om prerislio os !imites f 
tspedfiddades desft ';rflnde rido a{;rário" - p. 222-.1 (grifos meus). Portanto, Brenner 
não questiona a manifestação desse fenômeno na Idade Média, e sim as relaç<ies de 
causa e efeito propostas pelos adeptos do modelo demográfico, e em especial a tese 
do "reajuste homeostático": "Mas, na verdade, este requisito prévio não teve dc se 
cumprir necessariamente na Europa pré-industrial , já qlle fi prodll(rio e fi dútn/J/Ii(do 
es/rlvfI!/I mlli/o rOlldiriollr!dm pel(/S rc/r/(Ijes rle eX//r/(rio de rX({'dmle enlre senhores e (I/II/fi ll-
I/('.[d' - ibidem, p. 22.1 (grifos meu s ). 
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!()O :\ INTI-:I(J'IH:I ' \(, :A() Ill·: I\HI':NN I:I< 
imporcante e que também deve ser considerado. O tamanho das pos-
sessões camponesas \'Jriava Jl1uit (." bem C0l110 a qualidade da terra, o 
acesso à água, a habilidade do camponês no trato da terra, enfim, vários 
fatOres garantiam certa diferenciação social entre os produtores diretOs, 
o que tornava o campesinato heterogêneo. O fato é que sempre existi-
ram pequenos grupos de camponeses prósperos (livres, em sua maio-
ria) que detinham porções de terra suficiences pàra a produção de um 
exeelknte col11crciável. i\.fas as reLl ções de propriedade feudais tam-
bém !imitavam a possibilidade de elevaç~o da produtividade e de acu-
mulação desses setores mais eficazes. Como vimos, as taxas e tributos a 
serem pago,) à nobreza reduziam a riqueza disponível para inversões 
produdvas, e as restrições à mobi lidade da Jl,ão-de-obra camponesa im-
pediam a migração destes para as área~ 'cfe maiores oportunidades, o 
que limitava o desenvolvimento do mercado de trabalho livre e impe-
diJ a re'união de força de traba lho nas unidades produtivas mais prós-
peras. Por fim, a acumu lação de terras também era restringida, pois os 
camponeses não livres I1~O podiam vender ou ceder suas terras sem a 
permissão do senhor, que (:videntemente não tinha interesse que tais 
terras caíssem nas mãos dos camponeses livres,14 Dessa forma, as res-
trições sobre a concentração e terras, sobre a mobilidade da mão-de-
obra e o desvio de parce la significativa dos recursos impunham limites 
à ascensão econômica e socia l do carnpesinato como um todo. 
Após essas considerações fica mais clara a idéia de que as crises demo-
gráficas periódicas a que Postan e Ladurie se referem estão diretamen-
tl: ligadas às crises de produtividade quc, dadas as contradi'Sões internas 
do modo de produção feudal, foram quase uma constante durante todo o 
período med ieval. Resta agora saber quais os resultados econômicos e 
sociais dessas agudas crises demográficas, e como eles se traduziram na 
luta entre 'a nobreza e o campesinato. Tomaremos como exemplo a cri-
se dos séculos XIV e Xv. Os camponeses, após o coLapso demográfico, 
tenderam a usar seu reduzido número para arrancar da nobreza melhorias 
em sua condição, exigindo o afrouxamento dos laços servis'. caminhan-
do rumo à liberdade. Portanto, em algumas regiões, o colapso demográ-
H Era muito difieil obter uma renda maior d()~ eamponeses livres, poi ~ as suas presta-
ç<ies eram ti xa~ e anuais. Os reajustes, quando permitidos pe los costumes ou pela lei , 
ocorriam apenas no longo prazo, Sobre este ponto em 'partitulár, cf. M. L. Bush. 
"Serfdom in medieva l and modern Europe: a comparison", in: M, L. l3ush (cd.). 
Ser/dom & .I'{avery. Longman, !l)l)l) p. 207-08. Sobre a concentração fundiária e as for-
mas de substituição e/ou de transformação dos copyholders em arrendatários na Ingla-
terra do s';eulo XVII, cf. B. Manning. "The peasantry and the English Revolution", 
in: TheJoun/%/P((IJ(IIIISllIdie.I', voL 2, nU 2 (1Y7S) p. 13S-l)i lS4-~. 
,\ INTI ·: I{I'RI ·: T I\(,: .'\() 111,: l\la:N~ II{ !O! 
fi co foi acompanhado do declínio da servidão. O paradoxo é que, com 
freqüência, se utiliza uma outra lógic~, "'rIS a flIes",(/ evidh/ri(/ - (/ rrr/,,-
{lio do IIlílllero,do ({l/lljJesi;/a/o - para se explicar a intensi0cação das rel:1-
ções servis na Europa oriental. A queda da população fOI acompanhada 
pela dimilluição dos rendimentos da nobreza, pois a redução do núme-
ro de servos e de vassalos .dcter.mina imediatamente a diminuiçjo da 
arrecadação. Assim, a cri;e de~endimentos subseqüente ao colapso 
demográfico proporcionou fortes motivos para a nobreza acentuar as 
restrições sobre a mobilidade dos poucos camponeses que restaram 
(além do mais, uma população menor é mais fácil de ser controlada pela 
força), e também aumentar os tributos e impor novas exigências: 
"[ .. ,] Foi a lógica do campesinato" - argumenta Brenner - "que 
tentou uti lizar sua, aparentemente, melhor condição para barganhar 
e eonseguir sua liberdade. Foi a lógica do senhor que o obrigou a 
proteger sua posiç~o reduzindo a liberdade do camponês. O reslll/ad~ 
disso nrio pode ser explimdo simplesmente como ofella e dem(l1Idfl demogm-
fico-econômica, mas deve ser encamdo como uma q/lestrio de poder e a/t' 
mesmo de força. De fato houve fortes conflitos entre senhores e cam-
poneses em toda a Europa no final do século XIV, durante todo? 
século XV e princípios do XVI, sempre pelo mesmo problelJ/a: em ~n­
meiro lugar, a qUfStiiO da servirMo; elll segundo IlIgar, ver quem í'OIIsrgllll'l(/ 
o con/role da p,vpriedade ri" lerm - senhores ou camponeses -, sobre-
tudo das extensas áreas abandonadas depois do colapso demogd-
fico." ls 
Com base nessas retlexões, podemos concluir qlle a quest:io d;l ser-
vidão e do controle sobre a tcrra são variáveis de importância decisi\';l c 
que direcionavam a constante luta entre a nobreza e o campesinaro: 
"Em resumo," - conclui Brenner - "o tema da servidão na Euro-
pa não pode ser reduzido a uma simples que.stã~ de ciência econô-
mica, já que seu auge no leste corresponde pnmelro a um~ queda d.a 
população e a um estancamento _do comérci?, sendo segUida depOIS 
por um aumento da população e do comérciO (1400-1600); ao pJSSO 
que no oeste, a servidão declinou paulatinament~ ao longo de U~l 
período que contempla um aumento da populaçao e uma reduçao 
do comércio (1200-1500)." 16 
15 Idem. "Agrarian ... ", p. 34-5 (grifos meus). 
Ib Ibidem, p, 36, 
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Retângulo
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102 A INTERPRETAÇÃO DE IlRENNER 
A contradição entre o desenvolvimento da produção camponesa c as 
relações de extraçãodo excedente produzia crises de acumulação e de 
produtividade, crises que, em última instância, ameaçavam as próprias 
possibilidades de ~ubsistência d.9.scqmponeses. E tais crises foram acom-
panhadas por umaintensificaçã6:da' luta dedasses, mos lima intensifi(a-
r(;O que produziu resullfldos distintos em lugores diferentes, já que o decl(nio 
011 o reforço da servidão depmdell em grande pm1(' do equil(brio de jorças 
(,I/tre as classes em Itlta,11 Assim, é necessário analisar então a correlação 
de forças entre as .i::Iasses para podermos compreender por que em al-
guns locais a servidão foi reforçada e em outros declinou. 
Brenner aponta o forte desenvolvimento da solidariedade c da força 
do campesinato da Europa ocidental como um dos motivos do seu triun-
fo relativo ,>obre os senhores. F.m virtude do caráter comunal da organi-
zação social camponesa, sur~iram - cspccialmcntL: no Oeste europeu -
diversos conjuntos institucionais que regulavam as funções econômi-
cas e político-administrativas locais. Tais instituições formaram-se em 
decorrência necessidade ele administrar os bens comuns dos· aldeões, 
bem como garantir os direitos comunitários, como a utilização das ter-
ra: ~om~m~i~: por exemplo .. ~renner argumenta que, pouco a pouco, 
tais Instltulçoes foram adqUirindo um caráter político-econômico mais 
complexo, reivindicando aos senhores a fixação das taxas e a consolida-
ção dos direitos de heran;a. Para ilustrar suas idéias, Brenner faz inte-
ressante contraste entre a Alemanha ocidental e a oriental: a oeste do 
Elba, em muitas regiões, servindo-se da força das instituições locais, os 
camponeses conseguirrtm o direito de eleger o cllra do local, bem como 
substituir o alcaide - antigamente nomeado pelo senhor - mediante 
uma escolha feita por magistrados eleitos pelo povo. Já na Alemanha 
óricntal, afirma o autor, o contraste é brutal. Os camponeses da rcgião, 
por não conseguirem organizar instituições políticas independentes, en-
c,on~rav~~-se .mu:co mais vulneráveis às ~exigênci~s do senhor e suscc-
tlvels à Imposição de exações arbitrári~s.'~ ' . 
. "; , ./ 
17 Brenner vai ainda mais longe: UI . • . 1 Assim, Pbis, em última instância a estrutura de 
c1~sscs se",:,il o~ feudal ofereceu modClos ·d,c' ~çsenv()lvimcnúi limit~do, ocasionou 
crISes prevlslvel'i e sobretudo produziu conflitós de classe latentes" - ibidem. 
I" Cf. ibidem, p. 40-.t Esta distinção baseada no eritério do "grau de liberdade" entre 
os camponeses do leste e do oeste do Elba é duramente criticada por Heide Wunder, 
em seu artigo que faz parte da compilação ori~inal do "Debate Brenner". WUl1der 
afirma que não há base factu.!1 tjue comprove as afirmaçfles de Brenner, tjllC parece 
tcr sllcll~lbido ao "mito prussiano". reprodllzindo um grave anacronismo: projetan-
d:l. a IlISt(;rla akm~ rcccntc ao período mt.:dieval (ainda divida em R.D.A. e RYA.). 
c.f. 11. \\lInder. "lleasant organi/.ation and rlass l'onlli\·1 in I':aslrrn aliei \Ve.~Il'rn 
.. ~ ~. 
, . 
~.-
A I N T E H I' In: T i\ <,: A () 'H: 1\ IH: N N E H I (U 
Antes de prosseguirmos, é importante caracterizar um pouco melhor 
o funcionamento dc')sas instituições camponesas. Para isto, somos obri-
ga.dos a recorrer às reflexões de Rodney Hilton, que, neste ponto em 
particular, fornece informações mais detalhadas. Esta associação das fa-
mílias camponesas em comunidades maiores como aldeias ou vilas é 
muito comum na maioria dos países curopeus, comunidades que já se 
encontravám prOfundamente enraizadas nos primórdios do feudali smo. 
Por isso, as comunidades aldeãs puderam desenvolver instituições pró-
pr ias, práticas eomu ns, im/llsiv(' a consciência de i!//eresses próprios: 
"A solidariedade das comunidades camponesas" - argumenta Hil-
ton - "é um fato provado na história social medieval, em todo caso, 
do século XII em diante. F/a se mos/mva de diferen/es !JI(lIlcims, ('!li 
partiell/(/!' fia defcs(1 rolllm es/m!/hos, i!/vflsores 011 opressores."I') 
• 
Segundo Hilton, a importância das comunidades aldeãs não se res-
tringe apenas à defesa contra influências externas, mas também na de-
cisão de brigas internas 011 na fixação ele padrões 011 hábitos, como, por 
exe~)plo, durante as explosões demográficas, época em que as terras 
comunais se viam reduzidas em razão do aumento das possessões cam-
ponesas, eram as comunidades aldcãs que fixavam o nllmero de cabe-
ças de gado que cada família ~)oderia manter nos pastos comuns. Desse 
Germany", in: rIu nrt!llllrr /)ebate, eit.. p. 91-3; 9':>-7, Contudo, os estudos mai s rcccn-
tes tendem a· eonfirmar o menor ~rau dc liberdade do campcsinato situado ao leste 
do Elba. Cf. M. L. Bush. "Serfdol11 in medieval. .. ", p. 221-3, I:: rt.:comendávcl tam-
bém retomar a resposta de Brt.:nncr a 1-1. \\'under em "'!'he agrarian ...... p. 277-Rt 
I') R. Hilton. SiervoJ /iómlr/os,,..;it., p. :l:l (grifos meus). Hilton vai ainda mais longt.:. 
·'Sugere que as eO:munid~c.rés aldeãs formaram-se antes do Império Romano, na id 'lde 
do ferro c. do broÍi;é (cf~ibidem~ p. 31-,~). I'erry Anderson contesta tamanha prccoci -
dade ao localizar o surgimento das comunidadt:s aldcâs no início da Idadc ~dédia . 
Mas o argument~.'permanece: "[ .. -1 li divisão feuda'" - escrcvc I\nderson - "das 
s()ber~nias' el11 zo·nas particu larizadas, com limites justapostos e ncnhum ccnrro uni -
... , versal dec(m)pet(;neia, sempre havia permitido a existência de entidades corporatil·as 
. «aI6genas! em ss,us interstícios. Assim, embora a classe feudal tentasse por VCl.CS 
reforçáC(a regra de n/l//e /en-a Sflfl.f Jeig7leur, isto na prática jamais foi realizado em nc-
nhu~a- formação social feudal: as tcrras comunais - pastos, campos, florcstas - c alúdios 
disseminados permaneceram sempre um setor si!;nificativo da autonomia e rcsistên -
. cia camponesa, com importantes eonseqüências para a produtividade agrária total" -
E Anderson. Pfl.l'Sf/j!,em da Anti/!./lidflde ao jeufh/isIIIO, trad_, Brasiliense, 199':>, p. 144, E 111 
arti!;o recente, Wendy Davies ar~umenta que as comunidadcs aldeãs da Europa oei-
uental já exerciam al~lIma inllu~ncia nas disputas entre senhores e camponeses no sé-
culo X. Contudo, este papel stJ.foi consolidauo no século XII. Cf. W Davies. "On scr-
vik status in lhe carly l\liddk ,,~C :;". in: \1. I .. I\ush . Srrfdoll/ I!5s/tlt'fr\'. cit.. p. 2-D-S. 
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104 A IN'ITKI'ln:'I'AçÃO J)E IlRE N NI':K 
modo, essas comunidades eram verdadeiros instrumentos políticos di-
rigidos por camponeses, tanro pará protegê-los de inimigos externos 
quanto na decisão de litígios internos. Tendo em vista tais particulari-
dades, podemos afirmar que a presença dessas comunidades é um fato 
extremamente importante c não pode ser posto de lado no estudo das 
relações antagônicas entre senhores e servos. Entretanto, apesar de com-
porem as unidades econômicas efetivas da sociedade feudal, as comu-
nidades aldeãs não' determinavam completamente a dinâmica desse 
modo de produção. O senhorio (Iordship,fief,feodum e/c . . .) é que garantia 
a "",dade e a coesão do felldalismo, pois, por intermédio da trall.rferência coer-
á/iva de rmdimm/os, ele articulava a classe domillallte à domi,;a4a, ao mes-
mo tempo que, media17te as relações vassálicas, retlístn'bufa o excedente mtre os 
vários segmentos da 17obreza.20 ,.,/ , 
Portanto, o declínio ou o reforço da servidão - entendida como a ca-
pacidade 'do senhor de impor tributos e obrigações arbitrárias a seus 
servos - dependeu da correlação de forças entre a nobreza e o campesi-
nato. Nos locais onde ascomunidades aldeãs estavam mais consolida-
das e mais bem articuladas, o poder de barganha do campesinato era 
maior, o que possibilitou a atenuação das relações servis, como a fixa-
ção das tarifas ou até mesmo a propriedade livre da terra. Por outro lado, 
onde as comunidades não se encontravam em condição de se contrapor 
de modo eficaz às investidas da nobreza, foram os interesses dos se-
nhores que prevaleceram: as relações servis intensificaram-se em detri-
mcnro dos interesses do campesinato. 21 Logo à frente retomaremos com 
mais detalhes este importantíssimo tema. 
! () Apesar de salientar a importância das comunidades aldeãs na sociedadc feudal Rodney 
H ilwn enfadza também que elas 1Jrlo em", elemento especifico do feudalismo: ':'Elas [as 
comunidades aldeãs]" - escreve Hilton - "são encontradas em ÓU1f1~ formações so-
CiaiS, mais recentes ou mais antigas do que o feudalismo. Embora das repres~ntem 
elementos 1JfressánoJ I/.<\. descrição da dinâmica do feudalismo, elas não\ são em si 
mesma~ JfJjinenfes para tanto". Um pouco à frente: "O senhorio é especifico do feu-
dalismo. As suas fronteiras englobam as possessões dispersas cu ltivadas pelas famí-
lias de camponeses e o estágio maior da organização camponesa, as comunidades 
aldeãs" - Hilton. "A crisis in ... ". cit., p. 124. Consultar também R. Hi lton "Medie-
val peasants: any Icssons?", in: DlflJ.\ conflicl . .. , cit., p. 115-8. . 
11 Neste ponto Brenner aproxima·se das formulações de Dobb;~, embóra" esta reflexão 
não tenha aparccido com o devido destaquc no dcbate sobre a tra~sição. ' em SlfJdies in 
/hf drodop",enf of capitali.r", a corn.: lação de fo rças entre o senhor feudal e os campone-
ses é um fator fundamental para se explicar, durante o período marcado pela evasão 
dos camponeses, a ação da nobreza: a tendência a prender o camponês à terra pela 
força ou por interm6dio de concessões dependia do poder quc o senhor detinha na 
ocasião. 
A lNTEHPRETAÇÃO DE BRENNJ-:R 105 
A acumulaçã.o política e a formação do Estado 
A estrutura de classes no modo de protlução feuda l estava intima-
mente associada às suas formas de desenvolvimento. Como vimos, as 
relações de propriedade e de' produção fellCais impunham limites ao 
crescimento econômico, induzindo à exploração extensiva, o que por 
sua vez esbarrava nos limites da oferta de tl:rras. O que é importaI/te ob-
servarmos agora é q/le, em '{.·ú1ude das bal7'firas que o fIIodo de produ(rlo 
feudal impll1lha às inversões produtivas, o desmvolvime1lto feu.dal i"clil/oll-se 
mais para cri{/r novas formas de redistribuição do que propnammte formas 
de produção de riqueza. Ou melhor, a ú:lica saída enconc~ada pela no~rc­
za para alimentar a sua receita era "racionalizar" os meIOs pelos quais o 
excedente era arrancado dos produtorl;s diretos, bem como aumentar a 
arrecadação intensificando as taxas já existentes e concedendo novas 
possessões, quando possível. Como a produção feudal apresentava ten-
dência imanente à queda e os senhores buscavam a todo custo garantir 
ou aumentar seus rendimentos, o seu sucesso em açambarcar maiores 
riquezas repercutia inexoravelmente na redução da qualidade de vida 
dos camponeses. Tendo em vista esta conjuntura, Brenner define o con-
ceito de "acumulação política": 
"Além de inco;porar novas terras ou comprar as que já eram culti-
vadas, os smhores, por regra geral, só podiam aumentar sua receita ou se 
apropriando das /ef"f'{/S de outros se"hores, 011 mediante ma;or extorsão de 
seus servos. Desse modo a tendência de longo prazo a uma «acumulu-
ção política» vigorou durante a época feudal (sobretudo a ~~rtir do.s 
anos 1000-1100), ou seja, a edificação de uma orgalliwção mll//ar mms 
efetiva e a construçdo de .uma máquina de extração. ~e excedente mais b~1lI 
configurada, tem de ser f711{/lisadacomo algo cOl/d/C1011ado pelo potellClal 
limitado do sistema em gerar um c1'fscimento ecol1ômico de longo prazo, e, 
até cel10 ponto,. como aI/emotiva a melhorar e ampliar a es/m/ura dos 
cultivos. Dadas as dificuldades para aumentar a produção, o rnc.lhor 
método para acumular riqueza continuava sendo a utilização Jos 
. d - "P mecamsmos e coerçao, mes~o a curtO prazo. -
, ~' • I " !~?~~ ... , . 
Dessa forma, por "acumulação política" Brenner entende as melhOrIas 
na capacidade de extração do excedente pela nobrez~, o~ s~ja: as tra~1~­
formações em seus aparelhos de repressão e em suas JOsrttulçoes polltl-
1/ H. Brenn...:r. "The agrarian ...... op. ~it.. p. 2.'\8 (!.(rifos meus). 
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.1 
106 t\ INTERPRETAÇÃO DE BRENN~:R 
cas tendo como obietivo último a elevação do seu potencial de coerção 
sobre os produtores diretos. Mas o .,que se deve perguntar agora é até 
que ponto os ~enhores, na esfera individual ou coletiva, poderiam ob-
ter pa.rccla. maIOr do excedente-social por meiO da acumulação política 
e quais seriam as repercussõe~ ~de{sa '~fCumulação na estrutura social. Do 
mesmo ",~do filiE' ?S ~neios de coe/frio eram tt!i/izados cOl1lm os camponeses, 
eles lal1~be!1l COllslllmam ameaça para os. demais smnores, ° qUE' por slIa vez 
prodtlZIfI mmor tendll/cia ti co,~!lil;vidade ill!ersetlhoria/, e esta c01Jflitividade 
t/,(lf1sformoll a aCllmulação pol/tica em "ma necesJidade l'eal.2.1 Assim se-
gun~o Brenner, à medida que o processo de acumulação política s~ in-
tensificava, aumentava também o conflito - potencial ou efetivo - en-
tre os próprios senhores feudais. ' . 
A acu~ulação política também se manifestou em termos' qualitati-
v?~, mediante um processo de reestruturação interna dapr6pria classe 
d~ngen~~ feucf~l, garantinrlo. assim, aos senhores, formas de coopera-
ç~o polltlC'<1 m~ls amplas (! elaboradas no intuito de enfrentar a resistên-
cia das comunidades aldeãs e extrair uma parcela maior do excedente 
bcn~ como para reprimir ~ mobilidade dos call1poneses. Por outro lado: 
o :lclrramento da competição entre os pr6prio's senhores feudais deter-
n)(l~oll .a ~ccessidade cada vez maior da criação e do aperfeiçoamento 
J~ Instlt~lç?es polí~cas capaze~ de promulgar e reforçar leis que impu-
s,,~sem limites à açao da própria nobreza, garantindo, assim, suas pro-
pnedades. Com base nessas reflexões, Brenner conclui: 
"? que acaba de ser exposto não é mais do que um pretexto para 
e:pllcar. q~Je "ma rias ba~es de 10l/go prazo mais eficazes para aaCll1l11/!a-
{fiO COflSIS1111110 deunvo/vlf11t'nto de Estados feudais - termo cujo signifi-
cado compreende as ~iversas formas .como se apresentavam os gru-
~o~ de sc?~ores feudais autogovernáveis, nos quais, cada senhor, em 
ultima analise, conservava o acesso à propriedade privada ou os meios 
de ~).C.er~er seu pod~r: [: . . 10 que pretetJdo expo} é que, etIquallto a desol'-
gantZll{a~ e a compe/ltlvidad~ mtre os s,mhores conlinuava a se mallifestar, 
estes :.ontrnuava.m vulneráveIS nlio só ti depi-eddçõo eXterna, mas também li 
erosno de ~u~ SItuação de do,!,(nio S~bf~ os campol1eses - iSlo é, supunha 
sua decadenC1a c~mo. c:asse dtrlge~r.e. o. çxito econômic'O dos senhores, 
t~nto na esfera IndIVIduai quanto n'a coletiva, dependeu da constru-
çao do. Es~ado fe~.dal. A fenrllncia de longo prazo parece indicar maior 
cet1tmltZllçao pO/(/lca que permi/hJ maior aCl/mll/ação polftica. "24 
IJ . Cf. ibidl:m. / 
I' Ihit!l:m, p. 2.N . ..j() (grifos 11ll:11~). 
A INTERPRETAÇÃO DE IlRENNI-:R 107 
Dessa forma, fica clara a interconexão existente entre o processo dc 
acumulação política e a progressiva consolidação do Estado feudal. Esse 
,proc<?sso, como já afirmamos, foi 8companhadopor transformações no 
seio d~(:la,ss~. dirigente. Os grandes senhores feudais, no intuito de ga-
rantirem sua 'dominação sobre os camponeses - abalada pela intensifi-
cação do. conflito intersenhorial - necessitavam preservar a lealdade de 
seus vassalos .provenientes dos estratos inferiores da nobreza, proven-
do-lhes o sustento e equipando-os com armamentos mais aprimorados. 
E"sta .era, segundo 'Brenner, uma necessidade concreta que visava ga-
nlntir '~ perm~nência da pequena nobreza como parte integrante da elas-
. se dominauté, o que no médio prazo garantiria ao grande senhor uma 
fonte constante de rendimento, bem como a vigilância de suas proprie-
dadei O importante aqui é que a reestruturação interna da nobreza 
aliada ao prócesso de acumulação política tornou as relações de poder 
na sociedade feudal muito mais compk:xas, pois, paradoxalmente, se 
por tini. lado as concessões à pequena nobreza garantiam aos senhores 
acréscimo considerável em seus rendimentos e maior controle sobre o 
cámpesinato, por outro, tais concessões consolidaram progressivamen-
te a independência da pequena nobreza, que aos poucos foi adquirindo 
interesses próprios, que por vezes se chocavam com os interesses da 
grande nobreza. O fato é que esta diferenciação no seio da classe domi-
. nanté também passou a intensificar a desorganização e a fragmentação 
da sociedade. Aliado a esse quadro de instabilidade, a hipercroti,l da 
nobreza - efeito do processo de acumulação política - atingiu níveis 
insu portáveis: 
"[ ... ] à medida que passava o tempo, a tendência à acumulação 
política foi intensific~do-se pela crescente necessidade de um COIl-
sumo de ostenta1ão (que corria paralelamente à disponibilidade 
crescente de bens de luxo) e pela crescente demanda de materiais 
militares (que iam crescendo com o aumento do tamanho dos exér-
citos e: com a maior complexidade do armamento). De forma progres-
siva s~lapavam-se as' bases da economia agrícola, as quais, por não 
suport:;1rem o crescente peso da sociedade urbana, foram abaladas 
seriamente."25 . 
Desse modo, a viabilidade da acumulação política era limitada pela 
degradação da agricultura, a base econômica feudal. No entanto, para 
Brenner, os Estados feudais mais poderosos e bem organizados prosse-
1\ Ihit!l:l1l, p. 2,11, 
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lOR A I N TERI'HI':T,'-ÇÃO IH: IlRI': N NI':R 
guiam em seu processo de concentração de poder, mesmo ante a im-
possibilidade de as forças produtivas garantirem sustento da população. 
Dessa forma, a acumulação política não só acelerou a tendência à que-
da da produtividade do trabalho como eliminou o "normal" mecanismo 
malthusiano que equilibrava a população e a produção. Esse descom-
passo produzido SOciflllllfl1/e criou as condições para .as crises que afeta-
ram de forma cohjunra toda a estrutura do modo & produção feudal. 
Em artigo mais recente, Brenncr retoma e aprofunda o tema. Basean-
do-nos neste textó', pretendemos inregrar com mais precisão as formu-
lações deste autor sobre a acumulação política e a evolução da servidão. Fala~ sobre a ascensão e o declínio da servtd,ão significa, em grande 
medlda,falar sobre a evolução e a cr:se do.té'udalismo, porqu~ as rela-
ções servis não passam de um aspecto cfe uma questão ,mais geral: o 
problema da manutenção e reprodução da dominação senhorial. Como 
tivemos ?porrunidade de observar, as relações servis representavam a 
principal forma de transferência de recursos dos produtores diretos para 
a classe dominante, constituindo desse modo a base do sistema feudal 
de dominação de classe. Como o sistema de exploração se encontra sem-
pre interligado ao sistema produtivo, o predomínio da servidão traz con-
seqüências nestas duas esferas: fi) reforça a tendência econômica geral 
rumo ao crescimento extensivo, baseado fundamentalmente na expan-
sJo da área cultivável; b) por basear-se na fusão entre o político e o eco-
nômico, a servidão - uma \ez imposta com sucesso sobre o campesinato 
- tende a consolidar as próprias bases, estimulando a nobreza a investir 
especialmente nos meios ele cxrraçiio e de redistribuição de riquezas. 
Contudo, em virtude dos limit:.:s geográficos, o verdadeiro modelo de 
desenvolvimento feudal ele longo prazo er3 baseado, como já afirma-
1110S, na cOJ1srrll ção do b;s/{/r!o }i'lfr/{//, o ápice do processo de acumula-
çiio política. ItJas palavras do próprio I3renner: 
"Minha abordagem sobre o desenvolvimento da servidão _ sua 
ascensão, reproduç.iio e seu declínio - decorre diretamente Jú minha 
ênfase de que a construção do Estado feudal era a chave para a re-
produção senhorial no longo prazo. 1vJinha tese fundamental será que 
a evolução da servidão desde o período medieval até o início do mo-
derno - a ascensão e a queda da servidão em diferentes fases e em 
regiões d ifercn tcs - dt'lJclIde d{/ t'VO/II(do do l!:s/ado feudal, do seu /a/!/fl-
J/lÍo, de SI/fi sojis/imçdo e de seI/ caráter. " lr, 
! h R. /lrennt:r, "The ri ses anu uet:lines ()f serfuom in Illeuieval and car/ y modern 
I': ur()pc", in: /\1. I" /lush Ced.), Ser/rio", &.drlVer)', cit., p. 250 (grifos meus). 
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A IN T I-: K I' IH: .,. A ç Ã () DE 11 K E N N E f{ 109 
Reproduzir a servidão no longo praz? não ~ra _tarefa, simples. ~lé~1 
da resistêncía das comunidades aldeãs a espohaça? dos produt~res dI-
retos havia outro empecilho, circunscrito à próprIa classe domln:Jnre. Com~ a extração do excedente era diret(/ e baseada localmente, a :om-
petição intersenhorial por território e por campon.cs~s ~ra uma a,m~aç ~1 
, " - ' I da' nobreza ·17 sem a eXIstenCIa de um.l forç.l const2nte a poslçao socla _ . , _ 
central capaz de regular e impor limites so~re, esta c~mpetlçao, a ma-
nutenção dos laços servis no longo prazo serIa Imposslv,cl., , r- " 
De fato, a servidão àeseentralizada - fundada em ultima Instanclà 
no pod.::r militar e jurisdicional dos senhores - desapareceu no final do 
século XIII na maior parte dá E.uropa ocidental, c~dendo lugar. a uma 
forma centralizada de coação extra-econômiq, ~uJc desen.volvlmento 
culminou na ,formação do absolutismo. O arquétIpo dessa h~ha de de-
senvolvimento foi a França. Con~udo, a servidão d~~centrahzada con-
seguiu sobreviver por mais tempo em algumas reglO~s, :mbora sobre 
novas bases. Na Inglaterra e na Catalunha a centrahzaçao da mona,r-
quia apoiou-se, por mais paradoxal do que po.ssa parec~r~ na aut~no~Ia 
local dos senhores, preservando dessa maneIra a scrvldao em sua t(~r­
ma difusa. Mesmo assim, a dificuldade inere~te ao medo de pr.o~.l~çao 
feudal em reproduzir sua rebção de prod~l~ao fund:,m~n~al ~e~SI,StIl.l. 
Por fim, apenas os Escados que foram de~I?lda_mente engld~:y.Ira r . .: -
produzir a servidãq por intermédio, da mItIgaçao c!a comp.ctlçao Ir1~~:~ 
senhorial foram capazes de prcserva-la por um penodo maIs 101100. , ses Estados emergem apenas no século XV, notadamente na '..uropa 
orientaJ.ZH ' f' l(J 1S '10 Como podemos notar, a compulsão servIl assume ~rma~ varl~ ~ . 
longo do tempo e do cspaço, acompanhando as sucessIvas fa:cs da ev~­
lu ão do modo de produção feudal. Para mdhor ~omp.reensao do qua~ dr~ sumariamente descrito no parágrafo anterior, dlsc.utIr~mos com maIs 
detalhes os limites do "feudalismo clássico". Para SImplIficar: Brenner 
identifica a ascensão da servidão com a ccnsolidação do feudalIsmo, q,lIC 
rinci ia em algumas regiões da França, no século XI; q~ando os sc-~hore; tomaram para si o controle direto da autoridade publI~a (c.oman~do 
m ilirar direito jurisdicional e tributário~ etc.) e formaram os pnmelfos ~e~l­
tras d~ poder; apropriando-se dos castelos já existentes ou constrUIn o 
.. ' 
.. ' .' : t: .'~ 
" " . ,' .. porque os senhores semprc arre-li "Para expressar este ponto em termos mais gerais.I f 
.. davam o seu ex<.:edente de certo mouo inr!ivir!ufI/11Ielllf, eles sempre ( c ront~ram~ ~~ implícit'l ou explicitamente, com o problcr.la da l'Ompetição entre elc~ propn~s p~;r <.:ampo~eses. Feudalismo, portanto , do ponto de v,i,sta . d~)s .seoho~~8 oao sigo I 1-
cava mais uo que posse ua terra e poder sobre pessoas - Ibidem, p. . 
lH Cf. ibidem, p. 247 -S 1. 
110 A INTI-:RI'IH:TAÇÃO J)E IlIHNNER 
~ novos.!~ As primeiras liAhagens de cavaleiros foram sendo formadas, pro-
porcionando serviços político-militares em troca de um lote de terra ou 
de uma fração dos rendimentos do castelo, consolidando ainda mais o 
poder local do senhor a quem serviam. Em linhas gerais, a ascellsão do 
fmdalismo como f01wa de reprod/l(lio ecoflômiCr1 se;;h01ia! não passoll da for-
maç/io de 11m lipo 110VO de ESlfldo;'ielnbom lt,dJ",elllar e de Cr1rfÍfer exlrell1(/-
Jl/mle 10Cr1/izado;\O Apoiados pelos cavaleiros, os senhores expandiram seus 
territórios, englobando novas terras e sujeitando os camponeses ao seu 
jugo, impondo as relações servis de forma cada vez' mais sistemática. 
A grande expansão da colonização ocorreu ao longo do século XII. 
Os senhores da Europa'oeidental, individualmente, passaram a ampliar 
seus domínios, buscando aum~ntar seu poder e seus rendimentos. Do 
ponto de vista do senhor, l expansão territorial parecia um procedimento 
vantajoso. Entretanto, para a classe senhorial como um todo, a coloni-
zação teve preço elevado, Para atrair camponeses, os senhores tiveram 
de oferecer vantagens, especialmente o direito de herança e a imuni-
dade contra exações arbitrárias. Essa tendência não ficou restrita ape-
! 'J I"H,I tornar o artigo mai~ sucinto. Hrenner incorporou ~;arte oas explicael,es de r'darc 
IIlo(h c de (;eorges 1)lIl>y sobre.: a rnrrn ,\\'iiCl d'l servid;j() sem, contudo, raze.:r ne.:l1hll-
ma referêne.:ia à polêmiea em tell 110 oa chamada "I{evolu\'iio Feudal", I'darc !lloch, em 
,I ,((}(Iú/firlr Jfllrlrl!, su,gcre que a servid~o adquire rorl1l,\to espe.:cificame.:nte re.:udal en-
tre os séculos Xl e Xli I. quando os senhores conse.:,guiram impor - pela vio lênc ia -
l10vas o!Jri,ga\'iles sobre o campe.:sinuto, obrigações que.: acabaram por consolidar uma 
nova estrutura agrária, diferente da anterior, que.: era marcada pela presença de.: pe.:-
ljuenos propriet,írios alodiais e pela e.:seravidão rur<ll que sobre.:viveu ao colapso do 
I mpério Romano. Geor,gl's Duby aprimora e.: reforça este.: argumento ao situar o esta-
hele.:cime.:nro da orde.:m feudal na passa,gem do século X ao XI (980-1 mo, aproximada-
mente), época mareada pclo suq~ime.:nto do se.:nhorio banal ('(fiK"tllrie ba1lale Ifr.); b/l-
Ilflllord.l'ltip li n,g.ll - cf, /<;(.o1lo1llirl mátl, virlrl 110' mll/po 110 Ocidenle IIItrlil'Vrt!, vol. 2, 
trad. Lisboa, 1988 p, 4$-86 (esp. p. 78-81); GllffTeiroJ' mmpOIlf'JtJ, trad.; ,Lisboa, 199,~, 
p. 178-9.1 (particularmente p. 184 ss.); AJ IrlJ orrlfllJ 011 o ill/agÍllrlrili do jelldali.rn/o, trad. 
Lisbo~: )982, p. 171-89. Em te.:rmos ,gerais, Duby qualificf como rtvolufr70 /fl/rlal um 
processo de transformação ,glohal que compreende a imposição de um. novo regime.: 
de domina\''io sen horial (colapso da justiça púl)lica), assentaoo na multiplicação de 
cavaleiros e de castelos, acompanhado por transformações ideol6gic<ls profundas (a 
ideologia da trifllneionalidaoe e o movimento (l'a Paz oe De.:us) e pelo incremento da 
produção agrária (expansão da área cultivávd ç aprimoramento da técnica). Sobre.: a 
rcpercussão historio,gráfica que esta intê r'pretaçai> desencadeou, cf, t N. Bisson, "The 
.feudal rcvolution.", in: PnJI & Prt.WII, n" 142 (1994) e.: os comentárieís sobre.: () te.:xto 
de Hisson em Pa.rl & Prt',(tnl, n" 152 (1996 - textos de.D. l3arthélemy; S. D. Whitc); 
Prf.(/ & PrtJ",', n" 155 (1997 - textos de '[ Reuter; C. Wickham e.: a répli-ca de Biss(lI1). 
V,llc a pena cOllferir também W. Davics, "On servile status .. ,", cit., p. 229-.19; l~ 
Bonassie, "Marc: IIloe.:h, historian ofse.:rvituoe.:", in: From Jltwery loJtflrlaljç", iIlSou/n-
\lh/ml f.:/lropt, trad. Cambridgc, 199 I, p. 314-40. 
" Cf. ibidem. p. ,~.~1-2. 
A INTEHI'IHT;\Çi\() DE I\RENNEH III 
nas às novas terras, pois, para conter a emigração dos camponeses situa-
dos nas áreas mais antigas, os senhores tiveram dc oferecer conccssôes 
semelhantes. Assim, durantc a expansão inicial do feudalismo, o f()rt~l­
lecimento das comunidades aldeãs e o enfraquecimento da autoridade 
senhoria! - erodida mediante a competição por camponeses entre os 
próprios senhores - acabaram ampliando consideravelme~te a csfera 
de liberd ade do campcsinato. O resultado desse processo fOI o estabele-
cimento de diversos feudos independentes, engajados em acirrada com-
petição que, pouco a pouco, pôs em perigo a própria reprodução. Com 
a escassez das terras desocupadas, as contradições dessa forma de desen-
volvime~to agravaram-se, atingindo rapidamente um ponto crítico. Ern 
suma: o feudalismo descentralizado foi progressivamente perdendo a 
capacidade de manter a sujeição dos produtores diretos, isto é, de im-
por e de reproduzir as relações servis. Desse modo, nos séculos XII e 
XIII a servidão "clássica" entra definitivamente em declínioY Essa crise 
da autoridade senhorial manifestou-se em todas regiões onde domina-
va o modo de produção feudal, embora as respostas a ela não tenham 
sido semelhantes, Das três variantes que mencionamos antes, discuti-
remos com detalhcs apenas a adotada inicialmente na Inglaterra e ILI 
Catalunha. Antes, po~ém, esboçaremos a dinâmica das duas outras . 
Onde a servidão descentralizada desapareceu ma is cedo, a crise de 
rendimentos da nobreza manifestou-se com mais vigor, destruindo a 
possibilidade de reformular a antiga dominação regionalmente funda-
mentada. No período situado entre a dissolução da servidão "clássica" 
e a formação do Estado absoluto, a maior parte dos senhores tiveram de 
viver com base nos rendimentos provenientes de seus domínios, pois 
, os rendimentos derivados do manso servil - após a fixação das presta-
ções e, a consolidação ~s direitos de herança - tornaram-se muito re-
duiidos, notadamellte depois da explosão do preços dd1agrada no fi-
nal do século XII. Embora a renda dos domínios senhoriais fosse mais 
ou menos determinada pelas flutuações do mercado,·\2 isto não aten uou 
a crise de rendimentos da nobreza, pois o costume de dividir os do-
, mín'ios eture os filhos havia reduzido demais"a extensão de terra que 
callia ;a cad'a s'~nhor, A conjugação dessa crise de rendimentos que ar-
rastáYà-s~' desde o final'do ,século XII com a catástrofe demográfica do 
século XIV sepultou definitivament<.; a possibilidade de restabelecer a 
servidão clássica. Nessas condições, para preservar o modo de produ-
ção feudal uma nova forma de extração do excedente teve de ser cria-
,\1 Cf. ibidem, p. 251-5. 
,\/ Cf. ~t. I,. Bush. "SerfdC\m in Illedic.:val. , ,", cit., p, 216-7, 
1 1 2 A I N T 1-; R I' I{ I,; 'j' :\ ç 1\ () J) ,.; 1\ H"; N N ,; H 
da. ü enfraquecimento da <lutoridade senhorial local possibilitou o que 
antes era impraticável: a ascensão de um Estado monárquico centrali-
zado, capaz de - no longo prazo - impor tributos em escala nacional e · 
de transformar o sistema de propriedade. Como já dissemos, O arquéti-
po dessa via de desenvolvimento foi o Estado francês. A monarquia 
co nseguiu suplantar o poder regional dos senhores. recorrendo a dois 
procedimentos que acé mesmo podiam ser combinados: a).') confronto 
militar direto, isto é, o esmagamento dos opositores no campo de ba-
talha; b) o sol:.Jpamento da base cconômica dos senhores, reforçando 
simultaneamente a do Estad o: como as conquistas dos camponeses aba-
lavam a auto nomia político-econômica dos seJ~hores, a Coroa simples-
mente tendeu a apoiar as reivindicações do .çámpesinato, particularmen-
te a sua luta pela fixação dos tributos e pela consolidação dos direitosde heranç~. Minando os fundameJ1ros do poder da nobreza, o Estado 
conseguiu impor-se perante a sociedade, consolidando um sistema ad-
ministrativo progressivamente centralizado, que envolvia o controle..: das 
funções militares, judiciais e tributárias em escala nacional. Para man-
ter e expandir essa estrutura, recrutando elementos oriundos da nobre-
za, o monarca criou uma nova camada de seguidores, cujos membros 
obtinham os seus rendimentos prestando serviços ao Estado ou ocu-
pando cargos administrativos. O equilíbrio estabelecido entre o rei e 
seus seguidores acabou determinando a relativa uniformidade dos in-
teresses da Coroa: esta nova aristocracia tornou-se a principal fonte de 
poder do rei, mas ela não podia malHer-se unida sem a liderança do 
1ll 0narca:lJ Assim, a centralização do sistema coercitivo suprimiu as fra-
quezas da autoridade senhorial difusa, permitindo à monarquia limitar 
a concorrência intersenhorial e vergar a resistência das comunidades 
aldeãs. A imp,os ição das taxas sobre a terra em escala nacional tornou 
in LÍ til a mobilidade camponesa como forma de resistência. pesse modo, 
superando as duas debilidades fundamentais da autoridade senhorial 
descentralizada - a competição no seio da nobreza e a forte res·jstência 
das comunidades aldeãs - o Estado absoluto pôde preservar por mais 
tempo o modo de produção feudal, reproduzindo em seu interior a do-
minação da nobreza sob novas bases:14 
1.1 Sobn: as tentati vas )'racassadas da nobreza de reestabelecer 'â ·servid_ãô;·e seu poder 
local na França (s6culos XIII e XIV), cf. R Brenner. "The rises . . . ", cir., p. 2.17-8. 
I' "No longuíssimo prazo" - escreve Brenner - "a estrutura de extração do excedente 
ccntralizada provou ser muito superiur ao sistema de extração descentralizado (domi-
nac;ão senhorial local, competitiva) que a precedcra, proporciunando bases sólidas 
para a reprodução, nu interior du Estado, de uma classe senhorial transformada" -
ibidem, p. 258. 
A I N 'J' ~: K I' H E 'J' A ç 11 O J) E 1\ H ~: N N E H 1 \J 
Antes de tratar do caso que realmente nos interessa, comentaremos 
brevemente a' posição de Brenner sobre o reforço da servidão na Euro-
pa oriental. Ele reconhece que, mesmo após vários (e intensos) deba-
tes, esse problema historiográfico encontra-se muito longe de uma so-
lução razoável. As razões que determinaram o sucesso dos senhores em 
reforçar os laços servis nesta região - ao passo que na Europa ocidental 
isto não foi possível - é o grande mistériO a ser explicado. Para contri-
buir neste sentido, Brcnner retoma c elabora um pouco mais suas for-
mulações apresentadas em "The ag;arian roots . .. ". Em grande medi-
da, as possibilidades de desenvolvimento do modo de produção fcudal 
na Europa oriental foram condicionadas pela sua formação relativamente 
tardia.3s A crise de rendimentos atingiu a nobreza enquanto o processo 
de centralização estatal estava ainda em sua fase inicial, fato que limi-
tou muito as alternativas a serem adotadas pelos senhores para tentar 
contornar a situação. Não cra possível recorrer ao poder fiscal do Esta-
do (como na França) ou apoiar-se na Coroa (como na Inglaterra c na 
Catalunha) para responder à crise. Contudo, esta debilidade aparente -
a ausência de uma monarquia centralizada e forte - acabou tornando-se 
uma vantagem: superada a crise, os senhores não tiveram de enfrentar 
um Estado interessado eID.;.aSS~gurar~,aJiberdade_dos.t..camp.oncses . ou 
~ffi~~. 3f}~!p'çF~sia~liga~~ à-CQr.Q.~, .. ~R!!1:!mç!f"s.;~~ P;,~~{>.~~W·. Sem g~andes 
antagonistas lutand() para ocupar uma poslçao hegemol1lca no sistema 
de dominação de classe, a centralização estatal no Oriente europeu se-
guiu um caminho singular. 
"Na Polônià e na Alemanha Oriental," - escreve Brenner - "por-
tanto, no curso dos séculos XIV, XV e no início do XVI, os aristocra-
tas construíram Estados ao estilo dominial, centrados sobre Dietas 
nacionais e locais, por intermédio das quais eles eram capazes de 
expressar diretamente seus interesses imediatos como senhúres . .'\0 
fazerem isto, eles constituíram a si próprios como os únicos elemen-
tos totalmente privilegiados, a única seção da população que podia 
participar das instituições estatais (i.é, a única parcela inteiramente 
livre da população)."J6 
A cidadania plena dos senhores da Polônia e da Alemanha Oriental 
repousava na total falta de liberdade dos camponeses. Nessas condi-
II Sobre as especificidades do prü<.:esso de formação e desenvolvimento das rclu\·t)(;S 
servis na Europa oriental moderna, d . 1\1. I,. Hush. "Serfdom in medieval. .. ", ,il., p. 
201-06; 218-24. 
lb R. Brenner. "The rises ... ", CiL, p. 27.'í. 
1 14 r\ I N T E H I' R lo: T r\ ç Â () n E [l R E N N I,: n 
ções, na virada do século XV para o século XVI, a servidão foi imposta 
legalmente pelos senhores sobre o campesina to. Desse modo, na Polônia 
e provavelmente em toda a Europa oriental, os camponeses eram não 
livres por definição.~ C~mo não ,~~YI~ n~;~,hu~ espaç~ para a liberdade 
camponesa, os senhores não pod1~m :'competlr entre SI para cooptar no-
vos camponeses mediante a flexibilização de sua condição ou - como 
ocorria na Europa ocidental- utilizando' a liberdade como um atrativo. 
Desse modo, suportada por um Estado controlado .pelos senhores, a ser-
vidão pôdc ser reproduzida c"até rncs'mo eX!)nndida com relativa facili-
dade; dando origem a uma organização feudal da produção voltada para 
o mercado de grãos europeu, fomentada pela demanda criada na Euro-
pa ocidental. O resultado desses desdobramentos foi a consolidação 
definitiva da nobreza e da variante oriental do absolutismo. 
Examinnremos agora o caso que mais nos interessa. Enquanto os la-
ços servis se desintegravam em praticamente toda a Europa ocidental, 
lima forma muito mais eficaz de servidão foi consolidada na Inglaterra 
e na Catalunha. Para compreender o que efetivamente ocorreu nestas 
regiões, temos de formular com mais precisão ~s termos do problema. 
Atlrmar que a dominação senhorial particularista e baseada localmente 
não pôde, no médio prazo, reproduzir a servidão não significa dizer que 
n dominação senhorial descentralizada não é capaz de garantir a repro-
dução dos senhores como classe. Na Inglaterra e na Catalunha, a no-
breza ligada à terra não perdeu o seu poder local durante o processo de 
cc.:ntrnlização do Estado. Pelo contrário: o fortalecimento da monarquia 
foi acompanhado pela consolidação da viabilidade econômica .dos feudos. 
De mancira oposta ao que ocorreria alguns séculos mais tarde na Euro-
pa oriental, o Estado em formação na Inglaterra e na Catalunha confe-
riu um estatuto jurídico à distinção entre dois setores do campesinato: 
o livre e o não livre. Este reconhecimento legal da desigualdade acarre-
tou cons~9üências decisivas. Em primeir"o lugar, 9 Estado teve de de-
sempenhar uma dupla tarefa: proteger a liberdade dos cidadãos con-
siderados livres e garantir a sujeição dos camponcses não livres. Em 
segundo, o leque de opções da nobreza foi consideravelmente amplia -
do. No mesmo feudo, o senhor podia estabelecer, simultaneamente, 
relações de produção totalmente diferentes. Tornou-se possível, por 
exemplo, organizar nos domínios do senhor uma produção baseada no 
trabalho assalariado e, ao mesmo tempo, reforçar a extração coercitiva 
do. cx~edente produzido no manso servil. A possibilidade de conjugar 
dOIS sistemas de produção tão díspares proporcionou a esses senhores 
lima capac.:itl:!de inigualávcl de adaptaçao às crises econômicas. Por fim 
o suporte jurídico à condição de ';iberdade gozada por uma parcela d~ 
A INTERI'RE'I'AÇAo DE BRI-: NN ER IIS 
campesinato consolidou dois grupos sociais distintos: a) camponeses 
livres sem terra ou com lotes muito reduzidos, que tenderam a oferecer 
o seu, trabalho por pagamentos em dinheiro (uma espécie de protopro-
letariàd,o);b):.q~ camponeses prósperos,que tenderam a expandir as suas 
'. terras e a adofàr o trabalho assalariado (a )'eomallry é o caso mais caracte-
rístico). \ 
\ . 
Assim, a expansão dos direitos legais defendidos peJo Estado foi ex-
tremamente desigual, pois ficou restrita aos homens livres. Os não li-
vres (como os vilões na Inglaterra, por exemplo) ficaram totalmente 
desprovidos de qualquer.amparo jurídico, à mercê do poder jurisdicional 
dos 'senhores. ' Somente dessa maneira o Estado pôde desenvolver-se 
em (relativa) harmonia com os senhores, que puderam fortalecer sua 
base econômica e preservar parte de seu poder local. Assim, enquanto 
foi possível reproduzir em escala crescente a linha que separava a par-
cela da população livre da não livre, o Estado foi capaz de ampliar sua 
esfera de atuação sem ameaçar o poder dos senhores e sem ser ameaça-
do por ele, pois a eXj)ansão da liberdade es/ava condicionada pela capacida· 
de de os sCllhores imporem a servidão sobre os seus servos. Dito de outro 
modo: o fortalecimento do poder real foi acompanhado pelo reforço da 
dominação senhorial sobre os camponeses não livres. O rei personifica-
va a unificação geográfica da autoridade, permanecendo no centro de 
todo 6 processo, embora a força da monarquia repousasse na profunda 
colaboração senhorial. Todo esse processo torna-se particularmente vi-
sível na Inglaterra do século XII, nos governos de Henrique I e Henrique 
IIY Este desenvolvimento contrasta com o ocorrido no restante da 
Europa em pelo menos dois aspectos importantes: a) os senhores da 
Inglaterra e da Catalunha conseguiram consolidar sua autonomia refor-
çando a dominação S~)~J{o setor não livre da sociedade; b) nestas duas 
regiões, os reis conseguiram centrali zar o poder sem entrár em conflito 
com a classe senhorial como um todo. No entanto, mesmo levando c.:m 
conta tais peculiáridades, a reprodução da servidão não pôde ser mantida 
indefinidamente. As próPJias condições que preservaram por mais tempo 
os laços servis na Inglaterra e na Catalunha acabaram por decretar a sua 
dissolução. O c~"tmpo"to da sis/emdlÍm sujeição dos mmponeses não livres 
foi a cOflsolidaçao da liberdade dos demais. Portanto, a expansão da servidrio 
implicova/ambém o alimento doliberdade. JH Como era de se esperar, este 
padrão de desenvolvimento acabou atingindo o seu limite: a crise do 
final do século XIV revelou o potencial desestabilizador do amplo cs-
l7 Cf. ibidem, p. 260. 
.\M Cf. ihi(km, p. 271. 
I I ó :\ I N T 1-: f{ J> R E T A ç ;\ O I H : 11 R E N N E R 
paço social e geográfico que foi progressivamente ocupado por campo-
neses livres. A reação senhorial ao colapso demográfico na Inglaterra e 
na Catalunha foi bastante similar: para compensar parcialmente o grande 
nümero de mortes, os senhores tenderam a aumentar a pressão sobre 
os camponeses que sobreviveram. l'l'!as a falta de homens e a disponibi-
lidade de terras feZ ressurgir a competir,;ão intersenh6rial,~Y ao passo que 
:l superexp loração dqs camponeses não livres induziu ao desencadea-
mento de intensas rebeliões no C<lmpo, como por exemplo a Grande 
Revolta Camponesa de 13Rl na Inglaterra. Apesar de esse levante ter 
sido contido, os camponeses passaram a abandonar suas terras ao longo 
da década de 1390, visando ocupar as zonas J~vres que estavam dispo-
níveis em outros feudos. Esse movimcnto,jé"evasão precipitou a disso-
lução definitiva dos laços servis na Inglaterra:o Na Catalunha, após um 
sécu lo de lutas c urna grande insurre ição camponesa, a servidão é abolida 
em 1486 (Sentença de Guadalupe).41 
o desenvolvimento das relações capitalistas no campo: 
França versus Inglaterra 
Com base nas considerações sobre a trajetória diversificada da servi-
dão, pretendemos agora analisar uma questão de importância crucial: 
os diferentes caminhos tornados por França c Inglaterra no período pos-
terior às crises que assolaram a Europa durante todo o sécu lo XlV. Por 
que, em seus termos mais essenciais, as re lações de produção e de pro-
priedade feüdais se mantiveram praticamente intactas no território fran-
cês, ao passo que na Inglaterra as re lações capitalistas paulatinamente 
adquiriam consistência? De acordo com Brenn~r, essa é uma questão-
I 
.\') Na Inglaterra, ficando fora do lote dç terra a quç originalmçntC'"esrava ads.crito por 
mais de um ano, qualquc.:r camponês pod ia rçquisitar ao Estado a condição de livre. 
Essa possibi lidade çxis'(ia durante os sú:ulos XII ç XIII, mas as eondiçeicsíeram dife-
rentes. A expansão territorial estava na fasç ascendçnte, assim como a explosão dos 
preços ainda não havia ocorrido, Este cl ima favof<Ívcl conteve a disp lita por campone-
ses çntre os senhorçs. No entanto, na segunda metade do sécu lo XIV as eondiçõl!s 
çram outras: com as çOllVuls()çs sociais e a crçseente nçcçssidadl! de os senhores 
incorporarem mais mão-dç-obra aos seus domínios, a libcr'~ade passou a ser usada 
com mais freqüência para aliciar os eamponçsçs não livres dôs'demai~> senhores. 
' o Um comentário de Brenner resume bçm a intçnsidade das deserções: "A servidão 
ingJçsa, portanw, dçc linou não l!1l1 virtude da abolição da categoria, mas sim pela 
çvacuação dos camponçsçs dçsta catçgoria" - ibidem, p. 272. 
li Sobrç a grande rebe lião camponl!sa da Catalunha (1484-1486) que cu'lminou na dis-
sol llção da servidão, d. I~ F rl!ed ma n. TIre origilJJ o[ Pffl.ffll1/ servi/lide in tIIfdievfll G'rI/flIO/lia. 
Cambridge, 1991, p. 179-202. 
A I N T J-: R P R E TA ç Ã O J) J-: II R E N ~ d': R 1 1 7 
chave para a compreensão da transição ao capitalismo, e a resp8sta à 
indagação deve levar em conta a complexa articulação existente entre a 
estrutura de classes de cada país e o processo de dissolução ou reforço 
das relações servis na agricultura. Em outras palavras, o que se deve 
tentar compreender é a razão do triunfo dos camponeses da Inglaterra 
em despedaçar o controle 'sôbre a sua mobilidade e o fim das exações 
arbitrárias que sempre marcaram as relações servis, condensando os tri-
butos em uma só taxa anual e fixa, e seu fracasso em garantir a proprieda-
de livre da terra. Já os resultados da luta entre a nobraa e o campesina-
to francês contrastam radicalmente: na França, tanto o contro le sobre a 
mobilidade da mão-de-obra quanto as exações arbilrárias sobre o cam-
pesinato mantiveram-se praticamente intactas, ao passo que os direitos 
de propriedade foram definitivamente consolidados. 
INGLATERRA 
Como já comentamos, até o século XV na Inglaterra, de um modo 
geral, os camponeses consegu iram despedaçar a coação sobre sua mo-
bilidade, desferindo desse modo um duro golpe CGntra a servidão. Por 
outro lado, a luta pelo controle sobre a terra foi LHll elemento extrcma-
mente importante, e que não pode ser posto de :ado: 
"[ ... ] Dura~te este período os arrendatários camponeses lutaram 
com força para conseguir o controle total e !ivrc sobre suas posses-
sões e não estiveram longe de consegui-lo. A eliminação da servidão 
supôs o fim tanto das prestações pessoais como das cargas impositivas 
que de forma arbitrária recaíam sobre eles. E mais, a renda [ ... ] a 
partir de então permaneceu fixada por princípios consuetudinários c 
sujeita à reavaliação a longo prazo ante o processo de intlação."4l 
As rendas fixas e o fim das imposições arbitrárias proporcionaram aos 
arrendatários ingleses um potencial maior de capitalização, bem como 
mais liberdade na utilização de suas terras. Mas não podemos conceber 
tais concessões como uma vit6~ia définitiva e consolidada, pois os se-
nhores ainda dispunham de duas estratégias para evitar o livre controle 
da terra pelos campone~e~. Coroo sabemos, o século XIV foi marcado 
por um colapso demográfico de g~andes proporções, que deixou gran-
de número de terras vagas, que no século subseqüente foram sendo 
paulatinamente incorporadas pelos senhores feudais e controladas por 
41 Idem. "Agrarian ...

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