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Diagnóstico da deficiência de ferro e da anemia ferropriva Profa. Helena Zerlotti Wolf Grotto • Apresentar as ferramentas diagnósticas que podem ser usadas no reconhecimento da deficiência de ferro, em diferentes condições clínicas. • Discutir aspectos biológicos e clínicos dos parâmetros apresentados relacionados à deficiência de ferro • Mostrar as possíveis aplicações de testes laboratoriais tanto rotineiros como mais avançados, discutindo suas vantagens e limitações. Objetivos Deficiência de ferro (DF) Redução do ferro total do organismo Exaustão dos estoques: ausência de coloração de ferro na MO e algum grau de deficiência tissular de ferro. Pode vir acompanhada ou não de anemia Se houver queda dos níveis de Hb: anemia ferropriva (AF) – deficiência absoluta de ferro. Deficiência funcional de ferro (DFF) Mobilização do estoque é insuficiente para a demanda da medula eritróide Estoques de ferro presentes. Definições das alterações do estado do ferro • Queda dos níveis de Hb: 2 SD abaixo dos valores normais para o sexo e idade. Diagnóstico inicial da AF Idade / sexo Valor limite de Hb indicativo de anemia (g/dL) De 6 meses a 5 anos 11,0 De 5 a 12 anos 11,5 De 12 a 15 anos 12,0 Mulheres não grávidas 12,0 Mulheres grávidas 11,0 Homens (> 15 anos) 13,0 • Microcitose: visível à análise microscópica do sangue antes do aparecimento de outras anormalidades na hematimetria. • 40% dos pacientes com AF apresentam eritrócitos normocíticos • Outras causas de microcitose Diagnóstico inicial da AF (cont.) Qual o valor limite do VCM que indica a possível DF? A partir de que valor de VCM deve se investigada a possível DF? Idade Sexo/raça Diagnóstico de anemia (Hb g/dL) Diagnóstico de microcitose (VCM fL) 3 a 6 meses 9,5 74 6 meses a 2 anos 10,5 70 2 a 6 anos 11,5 75 6 a 12 anos 11,5 77 12 a 18 anos homem 13,0 78 mulher 12,0 78 20 a 59 anos homem branco 13,7 80 homem negro 12,9 80 20 anos ou + mulher branca 12,2 80 mulher negra 11,5 80 60 anos ou + homem branco 13,2 80 homem negro 12,7 80 Van Vrabken. Am Fam Physician 2010;82(9):1117-1122 Variações nos valores indicativos de anemia e microcitose • RDW (11-14%) Pode estar elevado nos estágios iniciais da DF ou quando há associação com deficiência de folato e vitamina B12. Auxiliar no diagnóstico diferencial entre AF e beta talassemia heterozigótica. • Plaquetas > 450.000/ µL – não é incomum. Diagnóstico inicial da AF (cont.) • Índices reticulocitários: conteúdo de Hb dos reticulócitos Vantagem: avaliam alterações recentes na atividade da MO (últimas 48 horas) • % de hemácias hipocrômicas • % de hemácias microcíticas Parâmetros avançados do hemograma na detecção da deficiência de ferro • CHr, Ret-Y, Ret-He • É bom indicador da quantidade de ferro disponível para a incorporação às hemácias jovens na medula óssea em tempo real • Especial interesse: detecção precoce da DF em pacientes renais crônicos, submetidos à hemodiálise e uso de estimulantes da eritropoiese. • Limitações: – falta de padronização dos valores de referência – Outras anemias que cursam com deficiência na síntese de Hb apresentam valores reduzidos do CHr • Vantagens: – precocidade com que indica a DF – obtido simultaneamente ao resultado do hemograma – baixo custo. Conteúdo de Hb dos reticulócitos % de hemácias hipocrômicas e % de hemácias microcíticas • % de hemácias hipocrômicas: baseada na determinação do conteúdo de Hb célula a célula • conteúdo de Hb < 17 pg. N: < 2,5% • Microcíticas: volume < 60 fL. • Úteis na diferenciação entre as anemias microcíticas e na detecção precoce de DF em pacientes renais submetidos à hemodiálise. • > 6 a 7% = DFF em pacientes em hemodiálise • Vantagens: resultado simultâneo ao hemograma, baixo custo. Parâmetros avançados (cont.) Testes Resultados compatíveis com AF Ferro sérico reduzido Capacidade de ligação da trasferrina (TIBC) elevada Transferrina sérica elevada Saturação da transferrina (ST) reduzida Ferritina sérica reduzida Receptor solúvel da transferrina (sTfR) elevado Índice sTfR/logferritina elevado Zincoprotoporfirina eritrocitária (ZPP) elevada Provas bioquímicas Teste ouro: pesquisa de estoques de ferro na MO Alterações laboratoriais nas diversas fases da deficiência de ferro • < 15 ng/mL AF • < 30 ng/mL → ↑ sensibilidade de 25 para 92% e a especificidade fica mantida em 98% • > 100 ng/mL exclui DF • Entre 15/30 e 100 ng/mL → outros testes são necessários Ferritina sérica Qual o valor limite da ferritina sérica que indica a possível DF? A partir de que valor de ferritina sérica deve se investigada a possível DF? Ferritina Estoque de ferro Proteína de fase aguda Reduzida na DF sem inflamação associada Elevada na inflamação, mesmo que o indivíduo apresente alterações compatíveis com a eritropoiese deficiente de ferro Anemia da inflamação ou ADC Deficiência funcional de ferro AF X ADC AF O suprimento de ferro para a eritropoiese depende da quantidade de ferro estocado ADC O suprimento de ferro para a eritropoiese depende do grau de mobilização do ferro estocado Investigar as causas da DF Investigar as causas da menor mobilização do estoque Condição inflamatória e/ou infecciosa associadas Terapêutica de reposição do ferro reposição ABSORÇÃO DISTRIBUIÇÃO UTILIZAÇÃO RECICLAGEM Deficiência de ferro resultante de Aumento da necessidade Oferta limitada ou falta de absorção Perda excessiva Mobilização dos estoques deficitária Anemia, ferro sérico reduzido, transferrina sérica elevada ST reduzida e ferro em estoque reduzido (ferritina sérica) • Presença de anemia de etiologia inaparente • Anemia leve-moderada, em geral normocítica • Achados laboratoriais sugestivos de alterações no metabolismo do ferro: Critérios diagnósticos da anemia da inflamação Ferro sérico ↓ TIBC ↓ ST ↓ Ferritina sérica normal ou ↑ MO: ↓ sideroblastos e ↑ ferro reticuloendotelial Existe ferro em estoque mas não está sendo mobilizado Receptor solúvel da transferrina - sTfR Dosagem de hepcidina. Auxiliares na diferenciação entre AF e DC Receptor da transferrina: estrutura e função Captação do ferro pelas células • sTfR: mede o grau de suprimento de ferro para os tecidos e não é afetado pela inflamação. • Está elevado na AF e em condições onde a atividade eritropoiética está elevada. • Dosagem – Métodos imunológicos: imunoradiometria (IRMA), imunoenzimáticos (ELISA), imunonefelometria e imunoturbidimetria → automação total, medidas simultâneas, calibração estável por 14 dias, rapidez, uso tanto de soro como plasma heparinizado – Fluoroimunoensaio e imunofluorometria : alta sensibilidade. Receptor solúvel da transferrina Aplicações clínicas do sTfR Valores séricos elevados AHAI Esferocitose hereditária Talassemias α, β / Hb E Doença da HbH Anemia Falciforme Policitemia vera AF SMD LLC Nl ou ↑ ↑ atividade eritróide Valores séricos normais Hemocromatose LMA, LMC Tumores sólidos ADC/AI Valores séricos reduzidos Doença renal crônica Anemia aplástica Pós TMO Associação da AF com AI Como e por quediagnosticar? • Associa dois aspectos do estado do ferro: Índice sTfR/log ferritina Ferritina Estoques de ferro/atividade inflamatória sTfR Reflete o grau de suprimento de ferro dos tecidos AF índice AI índice AF + AI índice sTfR ↑↑↑ N ↑↑ ferritina ↓↓ ↑↑↑ ↑↑↑ Proposto como melhor parâmetro na diferenciação entre AF, AI e a associação AF+AI. Diagrama de Thomas na diferenciação dos estágios da DF 1,5 sTfR/log ferritina CHr = 28pg Eritropoiese preservada AF latente DFF Anemia ferropriva ↕ ↕ • Falta de padronização dos calibradores: diferentes unidades e diferentes valores de referência • Pobre correlação entre os kits, devido a diferença na origem das proteínas usadas nas provas imunológicas • WHO (2010): rsTfR • Custo • Variações biológicas e alterações fisiológicas: Altitude,raça, polimorfismos do gene HFE, alteração no sistema imune ( IL-2 estimula ativação transcricional do gene da TfR) Limitações do uso do sTfR na prática diagnóstica Dosagem de hepcidina Métodos imunológicos Espectrometria de massa Diagrama da Hepcidina-25 na diferenciação dos estágios da DF 4 nmol/L Hepcidina-25 CHr = 28pg AF latente ADC AF AF + ADC ↕ ↕ Deficiência de ferro inibe a síntese de hepcidina Inflamação estimula síntese de hepcidina Diagnóstico laboratorial diferencial • É importante que se conheça a fisiologia do metabolismo do ferro e a fisiopatogenia das anemias causadas por distúrbios do ferro para fazer uma correlação clínico-laboratorial correta. • O diagnóstico deve ser feito avaliando um conjunto de medidas que se complementam. Dessa maneira os exames laboratoriais poderão auxiliar na diferenciação entre os diversos tipos de deficiência de ferro. • A requisição dos exames laboratoriais deve ser feita de maneira criteriosa. Saber interpretar os resultados, conhecer as vantagens e as limitações de informação que cada parâmetro pode apresentar , podem proporcionar um diagnóstico mais preciso num menor intervalo de tempo. Conclusões • Sppeeckaert MN, Sppeckaert R, Delanghe R. Biological and clinical aspects of soluble transferrin receptor. Clin Rev Clin Lab Sci, 2011;47(5-6):213-228. • Short MW, Domagalski JE. Iron deficiency anemia: evaluation and management. Am Fam Physician, 2013;87(2):98-104. • Cullis JO. Diagnosis and management of anaemia of chronic disease: current status. Brit J Haematol, 2011;154:289-300. • Urrechaga E, Borque L, Escanero JF. Erythrocyte and reticulocyte parameters in iron deficiency and thalassemia. J Clin Lab Anal, 2011;25:1052-1057. • Ganz T. Hepcidin - a regulator of intestinal iron absorption and iron recycling by macrophages. Best Pract Res Clin Haematol, 2005;18(2):171-182. Bibliografia de apoio
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