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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA COGERAÇÃO A CICLO COMBINADO GÁS/VAPOR Paulo Eduardo Dutra Mota Filho Fortaleza Dezembro de 2010 ii PAULO EDUARDO DUTRA MOTA FILHO ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA COGERAÇÃO A CICLO COMBINADO GÁS/VAPOR Monografia submetida à Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos para graduação em Engenharia Elétrica. Orientador: Prof. Dr. José Almeida do Nascimento Fortaleza Dezembro de 2010 ASPECTOS FUNDAMENTAlS DA COGERA<;AO A CICLO COMBINADO GASN APOR Esta monografia foi julgada adequada para obteny3.o do titulo de Graduado em Engenharia Eletrica e aprovada em sua forma final pelo programa de Graduay3.o em Engenharia Eletrica na Universidade Federal do Ceara. ~~~- . Prof.Alexandre Rocha Filgu~~ / A J 7O/YYVOdYdProf. Tomaz Nunes Cavalcante Neto, MSc. iv “Aprenda com o ontem, viva o hoje, tenha esperança no amanhã. O importante é não parar de questionar.” (Albert Einstein) v A Deus, Aos meus pais, Paulo e Inúbia. vi AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida e pela força que Ele me deu ao longo de toda a minha trajetória. Aos professores do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará, que transmitiram seus conhecimentos e experiências durante todos esses anos de graduação e são responsáveis diretos pelo profissional que estou me tornando. Ao professor José Almeida do Nascimento, pelo tempo dedicado à orientação deste trabalho e pelas palavras de incentivo. Aos meus amigos e colegas de graduação cujos nomes não citarei por risco de cometer algum esquecimento imperdoável. É nos momentos difíceis que descobrimos quem está realmente disposto a nos ajudar. Juntos, fomos mais fortes. Aos amigos que fiz durante meu estágio na França, pelo material fornecido e a disponibilidade para contribuir, mesmo de longe. A toda minha família, meus amigos e à minha namorada pelo suporte, a ajuda, as palavras de apoio, o incentivo, as broncas, a compreensão nos momentos de ausência e a paciência nas horas de mau humor. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho, meus sinceros agradecimentos. vii RESUMO Mota Filho, P. E. D. e “Estudo sobre a cogeração à ciclo cominado gás/vapor”, Universidade Federal do Ceará – UFC, 2010, 66p. Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre a cogeração de energia elétrica a ciclo combinado. Para a sua compreensão é feita uma análise dos princípios básicos de funcionamento, bem como configurações de montagem e classificação da turbina a gás e da turbina a vapor. São expostos também seus principais componentes e descrição de suas funções e características. Sobre a geração a ciclo combinado, além da mesma análise de princípios básicos e sistemas auxiliares, são mostrados cálculos de rendimento e eficiência de cada ciclo, para diferentes esquemas de montagem. São passadas ainda as informações iniciais que devem ser levadas em consideração no levantamento de custos de instalação de uma central deste tipo. Ao final, é feita uma exposição das características de projeto do modelo K26 de central a ciclo combinado, fabricado e montado pela fabricante ALSTOM. Palavras-Chave: Ciclo Combinado, turbina a gás, turbina a vapor, cogeração, geração termelétrica, K26. viii ABSTRACT Mota Filho, P.E.D. e “Studies of cogeneration with gaz/steam combined cycle.”, Universidade Federal do Ceará – UFC, 2010, 66p. This work presents a bibliographical revision on the cogeneration of electric energy in combined cycle power plants. For its understanding, an analysis of the basic principles of functioning is made, as well as the presentation of assembly configurations and classification of the gas turbine and the steam turbine. Its main components and description of its functions and characteristics are also displayed. About the combined cycle generation, besides the same analysis of basic principles and systems auxiliary, calculations of efficiency of each cycle, for different projects of assembly, are shown. In addition, the initial data required to cost analyses of a . To the end, the combined, manufactured cycle is made an exposition of the characteristics of project of central office the K26 model and mounted for the ALSTOM. Keywords: Combined Cycle, Gaz Turbine, Steam Turbine, cogeneration, Thermoelectric Generation, K26. ix LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 - Matriz energética mundial . .................................................................................... 1 Figura 2.1 - Esquema do Ciclo Aberto. ...................................................................................... 5 Figura 2.2 - Esquema do Ciclo Fechado..................................................................................... 6 Figura 2.3 - Turbina a Gás ALSTOM GT8C. ............................................................................ 6 Figura 2.4 - Sistema de exaustão (e parte da caldeira de recuperação). ................................... 13 Figura 3.1 - Aeolipyle, máquina a vapor rudimentar proposta por Hero em 150 a.C. ............. 15 Figura 3.2 - Foto de uma Turbina a Vapor utilizada em uma central térmica (ALSTOM). .... 17 Figura 3.3 - Esquema de conversão de energia. ....................................................................... 17 Figura 3.4 - Princípios de Ação e Reação. ............................................................................... 18 Figura 3.5 - Estágio de ação e de reação. ................................................................................. 19 Figura 3.6 - T urbinas tandem-compound. .............................................................................. 20 Figura 3.7 - Turbinas cross-compound. .................................................................................... 21 Figura 3.8 - T urbina a Vapor (ALSTOM). .............................................................................. 22 Figura 3.9 - Sistema de válvulas de controle. ........................................................................... 23 Figura 4.1 - Esquema básico da geração a ciclo combinado. .................................................. 26 Figura 4.2 - Vista superior de uma central a ciclo combinado mono-eixo. .............................. 27 Figura 4.3 - Tipos de centrais termelétricas de ciclo combinado gás – vapor: ......................... 28 Figura 4.4 - Arranjo de Central em multi-eixo. ........................................................................ 29 Figura 4.5 - Arranjo de Central em mono-eixo. ....................................................................... 30 Figura 4.6 - Fotos ilustrativas do sistema de acoplamento. (SSSClutch). ................................ 30 Figura 4.7 - Curvas de partida e parada do clutch. ...................................................................31 Figura 4.8 - Elementos da caldeira de recuperação do tipo vertical. ........................................ 33 Figura 4.9 - Gerador. ................................................................................................................ 33 Figura 4.10 - Fluxo de calor e energia (Central em série). ....................................................... 34 Figura 4.11 - F luxo de calor e energia (Central em paralelo).................................................. 36 Figura 4.12 - Fluxo de calor e energia (Central em série/paralelo). ......................................... 38 Figura 4.13 – Arranjo da termelétrica exemplo, operando em ciclo combinado. .................... 41 Figura 4.14 - Variação do rendimento e da potência total produzida em função da temperatura ambiente. .......................................................................................................................... 44 Figura 4.15 - Variação da potência da turbina a gás e da temperatura de saída em função da pressão de saída na turbina a gás. ..................................................................................... 45 Figura 4.16 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira de recuperação. ...................................................................................................................... 45 Figura 4.17 - Variação da eficiência da caldeira de recuperação em função da pressão do condensado. ...................................................................................................................... 46 Figura 4.18 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira em função da pressão de alta na turbina a vapor. .................................................................................... 46 x Figura 4.19 - Heat rate x Carregamento. .................................................................................. 48 Figura 4.20 - Esquema e foto das palhetas do compressor e da turbina axial. ......................... 48 xi LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 - Dados característicos dos equipamentos a gás da usina termelétrica. .................. 40 Tabela 4.2 - Valores de saída da central. .................................................................................. 47 Tabela 4.3 - Valores de pressão e temperatura para os níveis do ciclo a vapor (KA26). ........ 47 Tabela 4.4 – Características do Gerador. .................................................................................. 49 xii SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. vi RESUMO ................................................................................................................................. vii ABSTRACT ............................................................................................................................ viii LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... ix LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. xi SUMÁRIO ................................................................................................................................ xii 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................... 1 1.2 JUSTIFICATIVAS E MOTIVAÇÃO ................................................................................. 1 1.3 OBJETIVOS E METODOLOGIA ...................................................................................... 3 2 TURBINA A GÁS ............................................................................................................. 4 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 4 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................................................. 4 2.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO E TIPOS DE CIRCUITO ................. 4 2.5 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A GÁS .... 6 2.5.1 CÂMARA DE COMBUSTÃO .................................................................................... 7 2.5.2 COMPRESSORES AXIAIS ........................................................................................ 9 2.5.3 TURBINAS AXIAIS .................................................................................................. 11 2.5.4 SISTEMA DE ENTRADA DE AR ............................................................................ 12 2.5.5 SISTEMA DE EXAUSTÃO ...................................................................................... 12 2.6 DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO ................................................................... 13 2.6.1 PARÂMETROS DE DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO DA TURBINA 13 3 TURBINA A VAPOR ...................................................................................................... 15 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................... 15 3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................................................... 15 3.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO ......................................................... 16 3.4 CLASSIFICAÇÃO DAS TURBINAS A VAPOR ........................................................... 18 3.4.1 PRINCIPIO DE AÇÃO E REAÇÃO ......................................................................... 18 3.4.2 - TURBINA DE AÇÃO E TURBINA DE REAÇÃO ................................................ 18 3.4.3 CONFIGURAÇÕES DAS TURBINAS A VAPOR ................................................... 20 3.5 PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A VAPOR ........................................... 21 4 ESTUDO QUALITATIVO E QUANTITATIVO DA GERAÇÃO À CICLO COMBINADO ......................................................................................................................... 25 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................................... 25 4.2 MOTIVAÇÃO E HISTÓRICO ......................................................................................... 25 4.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO ............................................................................. 26 xiii 4.4 CLASSIFICAÇÃO DE CENTRAIS DE CICLO COMBINADO .................................... 27 4.4.1 QUANTO À CONFIGURAÇÃO DOS CICLOS TERMODINÂMICOS ................. 27 4.5.2 QUANTO AO ACOPLAMENTO DAS MÁQUINAS .............................................. 29 4.6 PRINCÍPIOS TERMODINÂMICOS ................................................................................ 31 4.7 SISTEMAS AUXILIARES ............................................................................................... 32 4.8 EFICIÊNCIA ................................................................................................................. 34 4.8.1 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE ............................................................ 34 4.7.2 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM PARALELO ....................................................... 36 4.7.3 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE/PARALELO ...................................... 38 4.8.4 INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS TERMODINÂMICAS NO RENDIMENTO DAS CENTRAIS ........................................................................................................................... 39 4.9 “K26 POWER PLANT” ....................................................................................................47 4.9.1 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS ......................................................................... 47 4.8.2 TURBINA A GÁS - GT26 ......................................................................................... 48 4.8.3 GERADOR ................................................................................................................. 49 5 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 50 5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 51 ANEXOS .................................................................................................................................. 53 ANEXO I - FOTOS DA CENTRAL DE CICLO COMBINADO DE COMBIGOLFE, FRANÇA. MODELO K26 ....................................................................................................... 53 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO O aproveitamento das fontes de energia é de indiscutível importância no desenvolvimento do homem e da sociedade. Desde tempos primórdios a humanidade vem descobrindo e aprimorando técnicas para converter a energia disposta na natureza em trabalho útil para suas atividades. Sendo assim, é natural que estudos que busquem entender e melhorar as formas de disponibilizar a energia existentes estejam sempre em destaque, em termos de geração, transmissão e distribuição. 1.2 JUSTIFICATIVAS E MOTIVAÇÃO Abordando o aspecto da geração e, mais especificamente, da geração termelétrica, podemos ressaltar uma série de vantagens deste tipo de conversão. Deve-se primeiramente levar em conta que, como mostrado no gráfico na figura 1.1, a matriz energética mundial é composta em sua maioria por insumos para esse tipo de energia. Figura 1.1 - Matriz energética mundial (International Energy Agency - IEA. Key World Energy Statistics, 2009). [1] Além da disponibilidade de insumos, a versatilidade e a facilidade de integração de centrais térmicas, aliadas à possibilidade de altas variações nos níveis de reservatórios de 2 água, as tornam uma opção altamente atrativa para o setor elétrico brasileiro. É importante ressaltar que, apesar do potencial hidráulico abundante, esses recursos estão normalmente disponibilizados em áreas distantes dos centros consumidores. Outro aspecto relevante sobre a geração termelétrica, é o seu menor impacto ambiental, possibilitado por áreas de ocupação cada vez menores e técnicas avançadas de recuperação e limpeza dos gases produzidos. Podemos lembrar ainda que no início da década de 2000 o Brasil se encontrou em uma situação de déficit energético, largamente mostrada pela mídia e que culminou em apagões e outros problemas na rede. Essa crise evidenciou a necessidade de se aumentar a capacidade de geração instalada no país. Com isso, a implantação de sistemas térmicos está tomando um volume cada vez mais significativo no Brasil, seguindo o exemplo de países europeus e dos Estados Unidos. Segundo o sítio eletrônico da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a parcela da capacidade de geração instalada no Brasil referente a usinas termelétricas (UTE) tem crescido ininterruptamente desde 2001. O percentual aumentou de 14% (10.481 MW) em dezembro deste ano para 22,34% (22.999 MW) em dezembro de 2008. Nosso país conta atualmente com 1374 UTEs em operação e mais 43 em construção. [2] Além da geração através do uso do gás natural, a eletricidade pode ser produzida, principalmente, pelas usinas de açúcar e álcool, através da biomassa proveniente do bagaço. Deve-se destacar que a colheita da cana-de-açúcar ocorre no período de menor disponibilidade de água (secas), quando um melhor aproveitamento do bagaço gerado pela indústria da cana poderia gerar um excedente de energia elétrica para ser vendido às concessionárias distribuidoras de energia elétrica, ligando, intimamente, a cogeração à geração distribuída. No entanto, a participação da cogeração nos números apresentados ainda é baixa. Definida como a produção combinada de eletricidade e calor obtida pelo uso seqüencial de energia a partir de um combustível, a cogeração é largamente utilizada nos processos de grandes indústrias. O aproveitamento seqüencial da energia térmica traz basicamente três grandes benefícios. O primeiro é o aumento do rendimento global energético, contribuindo para a redução da demanda global de combustível e, conseqüentemente, para a queda no preço do combustível. O segundo, as emissões de carbono e de outros poluentes atmosféricos são diminuídas, pois menos combustível é queimado. Por último, os impactos causados ao meio ambiente devido à liberação de calor por grandes plantas geradoras diminuem muito. 3 1.3 OBJETIVOS E METODOLOGIA Com o intuito de trazer um resumo das informações técnicas básicas sobre sistemas de cogeração a ciclo combinado, esse trabalho busca fazer uma introdução para uma primeira análise sobre o assunto. Serão apresentados os principais equipamentos utilizados na cogeração bem como os ciclos de funcionamento. Para atingir tal objetivo este trabalho foi dividido em quatro capítulos. O capítulo introdutório traz uma apresentação das suas motivações e suas pretensões, além da delimitação do estudo. Nos capítulos 2 e 3 são mostradas informações sobre princípio de funcionamento e classificações dos dois principais componentes de uma central a ciclo combinado: a turbina a gás e a turbina a vapor. O capítulo 4 aborda as principais características de uma central de geração a ciclo combinado e dos seus sistemas auxiliares, além de trazer as equações e os parâmetros utilizados no cálculo de rendimento e eficiência de centrais desse tipo. Por fim, este capítulo traz como exemplo dados e características do modelo K26 de centrais de ciclo combinado desenvolvidos pela fabricante ALSTOM POWER. 4 2 TURBINA A GÁS 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste capítulo faremos um estudo sobre o elemento que participa do início do ciclo de operação de uma planta a ciclo combinado: a turbina a gás. Após um breve apanhado histórico, serão apresentadas suas características, seus componentes principais e diferentes classificações . 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Historicamente, muitas foram as tentativas frustradas de se obter um funcionamento satisfatório da turbina a gás. O ciclo a vapor e as máquinas a pistão eram muito mais fáceis de projetar, construir e operar, uma vez que o trabalho e a sofisticação da compressão são muito menores, comparados aos da turbina a gás e isso retardou seu desenvolvimento. A primeira patente de uma turbina a gás foi obtida por John Barber em 1791, mas nada resultou disso. A primeira tentativa bem sucedida a produzir trabalho foi em 1903, por Aegidius Elling. Seu protótipo produziu um trabalho de eixo de 11 hp, com câmara de combustão a pressão constante. Já a primeira turbina industrial comercializada com sucesso foi vendida pela Brown Boveri e, 1939 e foi colocada em uma locomotiva. Atualmente são vários os fabricantes de turbinas a gás para aplicação industrial, podendo-se citar General Eletric, ALSTOM, Rolls-Royce e Siemens. Nos últimos 40 anos, desde o final da II Guerra Mundial, seu desenvolvimento tem acontecido com grande rapidez e as maiores evoluções foram, basicamente, na aerodinâmica dos compressores e no aumento da temperatura máxima do ciclo, obtidos graças ao desenvolvimento de matérias resistentes a altas temperaturas associados a novas tecnologias de resfriamento. [3] 2.3PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO E TIPOS DE CIRCUITO Primeiramente, é importante mostrar que uma turbina a gás pode funcionar em dois 5 tipos diferentes de circuito: aberto e fechado. Em ambos os casos, o fluido de trabalho é comprimido pelo compressor, passando para a câmara de combustão, onde recebe energia do combustível, aumentando sua temperatura. Saindo da câmara de combustão, o fluido de trabalho é direcionado para a turbina, onde é expandido, fornecendo potência para o compressor e potência útil. No ciclo aberto, o fluido de trabalho é misturado ao combustível e a mistura é depois enviada ao ambiente através do sistema de exaustão. [4] Figura 2.1 - Esquema do Ciclo Aberto. A máxima potência útil fornecida pela turbina a gás está limitada pela temperatura com que o material da turbina, associada às tecnologias de resfriamento, pode suportar e pela vida útil requerida. Dois fatores que afetam o desempenho das turbinas são a eficiência dos compressores e a sua temperatura. Outro fator que pode influenciar seu desempenho é o tipo de câmara de combustão. Existem câmaras a pressão constante e a volume constante. Teoricamente, a eficiência termodinâmica do ciclo a volume contante é maior que a pressão constante, mas as dificuldades mecânicas são muito maiores. Já no circuito fechado, o processo de funcionamento é o mesmo do ciclo aberto, com a diferença que o fluido de trabalho permanece dentro do sistema e o combustível é queimado em um trocador de calor externo. 6 Figura 2.2 - Esquema do Ciclo Fechado. A maior vantagem desta configuração é a possibilidade de uma maior pressão através de todo o circuito, o que resulta numa redução no tamanho das turbomáquinas para uma dada potência útil, e possibilita a variação da potencia útil pela variação do nível de pressão no circuito. Esta forma de controle permite que uma grande faixa de potência possa ser obtida sem alterar a máxima temperatura do ciclo e com pequena variação na eficiência. 2.5 CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A GÁS A figura 2.3 traz um exemplo de uma turbina a gás onde são mostrados seus componentes básicos. Figura 2.3 - Turbina a Gás ALSTOM GT8C. 7 2.5.1 CÂMARA DE COMBUSTÃO A câmara de combustão tem a finalidade de queimar uma quantidade de combustível fornecida pelo injetor, com uma grande quantidade de ar proveniente do compressor e liberar o calor de tal maneira que o ar é expandido e acelerado para dar uma corrente suave e uniforme de gás quente, necessária à turbina. Isso deve ser alcançado com a mínima perda de pressão e a máxima eficiência. [5] Figura 2.4 - Câmara de combustão em corte. A quantidade de combustível adicionada à corrente de ar dependerá do aumento de temperatura requerida. Entretanto, a temperatura máxima é limitada pelo material das palhetas da turbina. Uma vez que a temperatura requerida do fluido de trabalho na entrada varia com o empuxo e o trabalho, a câmara de combustão deve ser capaz de realizar uma combustão estável e eficiente em toda a faixa de operação da turbina. 8 Figura 2.5 - Evolução da câmara de combustão. A figura 2.5 ilustra o desenvolvimento lógico de uma câmara de combustão convencional na sua forma geral. Como era de se esperar, existem muitas variações do modelo básico, mas, em geral, todas as câmaras incorporam os seguintes componentes: carcaça, difusor, tubo de chama e bico injetor de combustível. Na figura 2.5 (a) vemos a câmara de combustão mais simples possível. O combustível é pulverizado com um tubo no centro do tubo. A velocidade de corrente onde se localiza a combustão é igual à velocidade do ar na saída do compressor, e ela é da ordem de 150 a 200 m/s. Logo, o maior problema deste sistema é que a perda da pressão fundamental (perda quente) é excessivamente grande e seria impossível queimar combustível a esta velocidade. Esta perda de pressão seria da ordem de 25% da pressão de saída do compressor. A figura 2.5 (b) mostra como a velocidade pode ser reduzida na região de queima, para valores toleráveis da perda de pressão fundamental, simplesmente adicionando um difusor. Por exemplo, a velocidade é reduzida de 1/5 do valor original e a perda de pressão reduzida a cerca de 1%, tornando-se valores aceitáveis. Mesmo após adicionar um difusor, a velocidade na região de queima continua ainda muito elevada para estabilizar a combustão e sustentá-la. Assim, para resolver este problema, foi colocada uma placa plana atrás do injetor de combustível para criar um escoamento reverso que cria uma região de baixa velocidade de recirculação, visando à estabilização da chama, conforme mostra a figura 2.5 (c). Tal arranjo é necessário para prevenir a extinção da chama e facilitar e reignição em altitudes elevadas. No entanto, o sistema mostrado na figura 9 2.5 (c) ainda não é suficiente para manter a combustão. Para uma câmara de combustão típica produzir o aumento de temperatura desejado, o valor global da razão ar/combustível na câmara deve ser por volta de 50, o que está bem acima dos limites da chamabilidade da mistura ar/hidrocarboneto. Idealmente, a razão de equivalência na zona primária de combustão deve ser por volta de 0,6 a 0,8. Assim, é necessário admitir somente parte do ar na zona primária de combustão, de maneira que a razão ar/combustível fique próxima do ótimo. A figura 2.5 (d) mostra um tubo de chama acoplado à placa plana, admitindo ar através de orifícios com tamanho e número suficientes para atingir a razão ar/combustível necessária. A maior parte do ar é adicionada na zona da diluição, com o objetivo de abaixar a temperatura dos gases quentes que vêm da zona primária. Nenhuma combustão é realizada na zona de diluição. Em algumas câmaras de combustão, a zona intermediária é incluída entre a zona primária e a de diluição. A zona intermediária serve para completar a combustão que começa na zona primária e resfria um pouco os gases quentes, visando permitir que os produtos dissociados se recombinem e liberem energia. 2.5.2 COMPRESSORES AXIAIS O compressor axial é constituído de uma série de palhetas, com perfil aerodinâmico, colocadas ao longo de um disco, chamado de rotor, e um conjunto estacionário de palhetas, também com seção de perfil aerodinâmico, colocadas ao longo da carcaça, chamado de estator, conforme figura 2.6. O rotor, seguido do estator, é chamado de estágio. Um compressor é formado por uma série de estágios seqüenciais. Figura 2.6 - Compressor de uma turbina a gás. Palhetas do Rotor Palhetas do Estator 10 Da entrada para a saída do compressor, existe uma redução gradual da área anular. Isto é necessário para manter a velocidade média axial do ar aproximadamente constante na medida em que a densidade aumenta através do comprimento do compressor. Alguns projetos de compressores têm dois ou mais compressores ou “carretéis” os quais são acionados por diferentes turbinas e são, portanto, livres para girar com diferentes velocidades. O compressor simples consiste em vários estágios, montados sobre um único eixo, para atingir a razão de pressão e a vazão em massa desejadas. O compressor de múltiplos eixos consiste de dois ou mais rotores com vários estágios, cada um acionado por turbinas diferentes, com rotações diferentes, para alcançar altas razões de pressão e dar grande flexibilidade de operação. Compressores axiais têm a vantagem de serem capazes de alcançar altas razões de pressão com eficiências relativamente altas, se comparados com os compressores radiais. O fluido de trabalho é inicialmente acelerado pelo rotor e, então, desacelerado pelo estator, onde a energia cinética transferida no rotoré convertida em pressão estática. O processo é repetido em vários estágios, tantos quantos forem necessários para atingir a razão de pressão desejada. O escoamento está sempre sujeito a um gradiente adverso de pressão e, quanto maior for a razão de pressão, maior será a dificuldade do projeto do compressor. O processo consiste em uma série de difusões, no rotor e no estator. Embora a velocidade absoluta do fluido seja aumentada no rotor, a velocidade relativa do fluido no rotor é reduzida. Isto é, existe difusão no rotor. Limites de difusão devem ser impostos para garantir uma compressão com alta eficiência. Estes limites de difusão em cada estágio significam que um compressor simples, de um único estagio, pode produzir somente uma razão de pressão relativamente pequena, e muito menor do que pode ser usada pela turbina que tem um gradiente de pressão favorável, palhetas com passagem convergente e escoamento acelerado. Por isso, uma turbina de um único estágio pode acionar um compressor de vários estágios. Quando o compressor esta operando numa condição de vazão e rotação muito diferente daquela de projeto, podemos observar o fenômeno do stall. No caso de um aerofólio isolado, o stall surge do aumento excessivo do ângulo de incidência. O cuidadoso projeto das palhetas do compressor é necessário para evitar perdas e minimizar este problema, especialmente se a razão de pressão for alta. Quando o compressor está operando a uma rotação mais baixa do que a de projeto, a densidade do fluido de trabalho nos últimos estágios estará bem diferente do valor de projeto, resultando em uma velocidade axial incorreta, a qual acarreta stall nas palhetas e o 11 compressor atingirá o que chamamos de surge line (linha de surto). No início, o escoamento no interior dos compressores era totalmente subsônico. Com o aumento da razão de pressão para ganhar mais eficiência térmica no ciclo, os compressores passaram a ter escoamento subsônico e supersônico, o que permitiu reduzir o tamanho do compressor. O escoamento supersônico ocorre no primeiro e segundo estágio, próximos à ponta das palhetas. Assim, tornou-se necessário projetar compressores transônicos, onde em uma parte das palhetas o escoamento é subsônico e supersônico na outra parte. 2.5.3 TURBINAS AXIAIS A turbina tem a tarefa de fornecer potência para acionar compressor e acessórios e, no caso de turbinas a gás as quais não fazem o uso somente da propulsão, potência de eixo. Ela faz isso extraindo energia dos gases quentes liberados na câmara de combustão e expandindo- os para uma pressão e temperatura mais baixas. Altas tensões são desenvolvidas nesse processo e para uma operação eficiente as pontas das palhetas podem atingir uma velocidade acima de 457 m/s. O escoamento contínuo de gás, ao qual a turbina esta exposta, pode ter uma temperatura de entrada entre 1123 K e 1973 K e alcançar velocidades acima de 761 m/s em algumas partes da turbina. Para produzir o torque necessário, a turbina pode ter vários estágios, cada um tendo um empalhetamento estacionário (estator) chamado de bocais e um empalhetamento que se move chamado de rotor. Vale lembrar que o estator e o rotor da turbina não possuem nenhuma relação com o estator e rotor do compressor. Figura 2.7 - Turbina de ciclo a gás (no caso do desenho, de 4 estágios). 12 O número de estágios depende da relação entre a potência necessária retirada do gás, a rotação que deve ser produzida e o diâmetro de turbina permitido. 2.5.4 SISTEMA DE ENTRADA DE AR Os compressores da turbina são muito sensíveis a depósitos em suas palhetas, logo, poeira, insetos, vapores, entre outros, devem ser eliminados para manter a máxima eficiência. Com o intuito de remover partículas que possam afetar os elementos da turbina a gás, o sistema de entrada de ar é composto por uma canalização direcionadora e uma série de filtros. Além disso, em alguns casos, o sistema de entrada de ar é utilizado para possibilitar o resfriamento do ar que entra no compressor. A figura 2.4 mostra um sistema de filtragem de ar. Figura 2.8 - Entrada de ar com e estágios de filtração. 2.5.5 SISTEMA DE EXAUSTÃO Após deixarem o último estágio da turbina, os gases de exaustão são encaminhados para a atmosfera ou direcionados para o equipamento de recuperação de calor. O sistema de exaustão possui uma chaminé na saída da turbina a gás. O exaustor direciona o gás a uma tubulação que transportará o gás quente para a chaminé ou para dentro do equipamento de recuperação de calor. A figura 2.9 mostra o sistema de exaustão da caldeira de recuperação. 13 Figura 2.4 - Sistema de exaustão (e parte da caldeira de recuperação). 2.6 DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO O estudo do desempenho do ponto do projeto é essencial à concepção da turbina. A configuração do motor, os parâmetros do ciclo, os níveis de desempenho e o tamanho dos componentes são selecionados para uma dada especificação. O desempenho do ponto do projeto deve ser definido antes que qualquer análise ou condição de funcionamento seja possível. O desempenho total resultante do motor final será crucial ao seu sucesso comercial. Os cálculos genéricos do ponto dos diagramas de ponto do projeto e do projeto de amostra serão apresentados para alguns tipos principais da turbina de gás. [6] 2.6.1 PARÂMETROS DE DESEMPENHO NO PONTO DE PROJETO DA TURBINA No inicio da determinação, a condição de funcionamento onde a turbina passará a maior parte do tempo é tradicionalmente escolhida como o ponto do projeto. Para uma unidade industrial, esta seria normalmente a carga padrão alimentada por ela. Alternativamente, alguma condição importante de potência superior pode ser escolhida. Na configuração do ponto de projeto os parâmetros do ciclo dos componentes devem ser otimizados. Cada vez que os parâmetros da entrada são mudados, o procedimento do cálculo deve ser repetido, já que a mudança exigiria uma geometria diferente do motor, na condição de funcionamento. Para a fase de concepção do projeto os componentes estão geralmente na 14 mesma condição de funcionamento que o ponto do projeto do motor, ainda que em uma fase de projeto mais avançada isto não pode ser verdadeiro. Um número de parâmetros chave que definem o desempenho de motor total são utilizados para avaliar a conformidade de um projeto à sua aplicação, ou comparar diversos projetos possíveis do motor. Estes parâmetros de desempenho do motor são descritos abaixo: • Potência de saída: A potência de saída requerida é quase sempre o objetivo fundamental para o projeto do motor e é função do fluxo de massa através da turbina, da variação de entalpia e da variação de temperatura entre a entrada e a saída. • Potência Específica ou Torque. Esta é a quantidade de potencia ou de torque na saída pela unidade de fluxo mássico que entra na turbina. Fornece uma boa indicação inicial do peso, da área frontal e do volume do motor. É particularmente importante maximizar este parâmetro nas aplicações onde o peso ou o volume do motor são cruciais, ou para os aviões que voam nos números de Mach elevados onde o arrasto da área frontal da unidade é elevado. • Consumo específico de combustível (Specific Fuel Consumption - SFC) É a massa do combustível queimado por unidade de tempo, por unidade de potencia ou de torque de saída. É importante minimizar SFC para as aplicações onde o peso e/ou o custo do combustível são significativos. Ao citar valores de SFC é imperativo indicar o valor calorífico do combustível. É uma função decrescente com relação à potência. • Eficiência térmica de turbinas de potência É a potência de saída do motor dividida pela taxa de entrada de energia (combustível), expressageralmente como uma porcentagem. É eficazmente a recíproca do SFC, mas é independente do valor calorífico do combustível. Para aplicações de ciclo combinado os termos eficiência térmica bruta e líquida da rede são usados. A eficiência térmica bruta não deduz a potência exigida para conduzir os auxiliares da planta a vapor, ao contrario dos valores líquido. 15 3 TURBINA A VAPOR 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Reaproveitando a energia térmica nos gases quentes de exaustão da turbina a gás, a turbina a vapor é também parte integrante da geração seqüencial proposta pela cogeração a ciclo combinado. Neste capítulo serão mostrados seus princípios de funcionamento e seus principais componentes. 3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Os primeiros passos em direção ao desenvolvimento de um dispositivo térmico trabalhando sobre o princípio de reação foram dados por volta de 150 a.C., com a famosa aeolipyle, proposta por Hero, da Alexandria. Embora considerada por alguns autores como a primeira turbina, ela não possui um elemento considerado obrigatório pelas definições mais aceitas hoje em dia: as pás. Figura 3.1 - Aeolipyle, máquina a vapor rudimentar proposta por Hero em 150 a.C. Desde Hero, quase dois mil anos transcorreram antes que qualquer idéia fosse dada para utilização real do vapor para produzir energia ou trabalho mecânico. Na década de 1780, 16 foi construída a primeira máquina a vapor que teve aplicações práticas e que se tornou um dos impulsos da Revolução Industrial que aconteceria no século seguinte. O aparecimento da primeira turbina a vapor é associado, em primeiro lugar, aos engenheiros Carl Gustaf de Laval (1845 - 1913), da Suécia, e Charles Parsons (1854 - 1931), da Grã-Bretanha. Desde o início da utilização de turbinas a vapor para a geração de energia elétrica, elas aumentaram significativamente suas capacidades e eficiências e tornaram-se mais complexas e sofisticadas. Nos últimos 85 anos, desenvolvimentos técnicos contínuos de turbinas a vapor fizeram deste acionado primário o principal equipamento em centrais de geração elétrica. Para aumentar a eficiência térmica, foi introduzido, em 1930, o conceito de reaquecimento do vapor na fase de expansão, e tornou-se comum a sua aplicação em meados do século XX. A necessidade de economia de escala e o aumento na eficiência térmica levou os projetistas a aumentar a temperatura e a pressão de operação, além do aumento da potência. Atualmente, a capacidade unitária média instalada é de 600 MW, enquanto que na época de 1920 estas potências não alcançavam 30 MW. Também houve um incremento significante na pressão e na temperatura do vapor. Estas passaram de no máximo 1,4 MPa e 290 oC em 1920, para cerca de 16 MPa e 540 oC. 3.3 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO Na turbina ocorre a transformação da energia potencial do vapor em energia cinética devido a sua expansão. Há, portanto, a transformação desta energia em energia mecânica em decorrência da força do vapor que atinge as pás, produzindo a rotação. Basicamente a turbina é constituída por um rotor apoiado em mancais, onde se localizam as pás (móveis), as palhetas (imóveis) e a carcaça (invólucro). Em resumo, é uma máquina que transforma a energia térmica do vapor, medida na forma de entalpia, em trabalho mecânico. 17 Figura 3.2 - Foto de uma Turbina a Vapor utilizada em uma central térmica (ALSTOM). O trabalho mecânico realizado pela máquina pode ser o acionamento de um equipamento qualquer, como, por exemplo, um gerador elétrico, um compressor ou uma bomba. A energia, que permanece no vapor descarregado pela máquina, é, em muitos casos, simplesmente rejeitada para o ambiente, em um condensador. Em outras situações, entretanto, é possível aproveitar o vapor descarregado pela máquina para fins de aquecimento, por exemplo. Aproveita-se assim sua energia residual, melhorando, em conseqüência, de forma significativa o rendimento global do ciclo. Figura 3.3 - Esquema de conversão de energia. 18 3.4 CLASSIFICAÇÃO DAS TURBINAS A VAPOR 3.4.1 PRINCIPIO DE AÇÃO E REAÇÃO Existem basicamente duas formas de utilizar a energia cinética do vapor, para realização de trabalho mecânico: o princípio da ação e o princípio da reação. Se a saída de vapor for fixa e o jato de vapor dirigido contra um anteparo móvel, a força de ação do jato irá deslocar o anteparo, em sua direção. O jato de vapor (o qual podemos considerar um corpo em movimento) tem sua velocidade modificada pelo anteparo circular, colocado em seu caminho. Este é, em essência, o princípio da ação. Figura 3.4 - Princípios de Ação e Reação. No entanto, se a saída de vapor puder mover-se, a força de reação que atua sobre ela, fará com que se desloque, em direção oposta do jato de vapor. Este é o princípio da reação. Em ambos os casos a energia do vapor foi transformada em energia cinética e esta energia cinética foi, então, convertida em trabalho. Newton, no século XVII, estabeleceu as leis que explicam exatamente os dois princípios apresentados acima. 3.4.2 - TURBINA DE AÇÃO E TURBINA DE REAÇÃO Se tivermos uma câmara de expansão (ou expansores), montada em uma câmara de vapor estacionária, dirigindo um jato de vapor para uma palheta, montada na periferia de uma roda, teremos uma turbina de ação rudimentar. Agora, se montarmos a própria câmara de vapor com a câmara nas bordas da roda e conseguirmos levar vapor, de forma contínua, a esta 19 câmara, através de um eixo oco, teremos construído uma turbina de reação elementar. A construção de uma turbina de reação como descrita acima, apresenta dificuldades de ordem prática, pois a condução do vapor através do eixo de rotação não caracteriza uma solução simples e isso impede a construção de turbinas de reação pura. Embora turbinas apresentadas no parágrafo anterior ilustrem os princípios básicos envolvidos, algumas modificações são necessárias para convertê-las em unidades práticas. Em turbinas de ação reais teremos normalmente não apenas uma, mas várias câmaras de expansão em paralelo, constituindo um arco ou um anel. Os anéis de câmaras de expansão são também conhecidos como rodas de palhetas fixas. Eles direcionam o jato de vapor na direção de uma roda de palhetas móveis, conforme ilustra a Figura 3.5. Em turbinas de ação, toda a conversão de energia do vapor (entalpia) em energia cinética ocorrerá nos expansores. Conseqüentemente, no arco ou no anel de expansores haverá uma queda na pressão e temperatura do vapor e um aumento da sua velocidade. Figura 3.5 - Estágio de ação e de reação. Em turbinas de reação comerciais teremos vários estágios, dispostos em serie, sendo cada estágio constituído de um anel de expansores (também chamado de roda de palhetas fixas), seguido de uma roda de palhetas móveis (como mostrado esquematicamente na Figura 3.5). Tanto as palhetas fixas, como as móveis têm seção assimétrica, o que resulta em áreas de passagens convergentes, para o vapor, em ambas. Por esta razão, parte da expansão do vapor ocorrerá nas palhetas fixas e parte ocorrerá nas palhetas móveis. Isto representa um desvio do princípio de reação puro, segundo o qual toda a expansão deveria ocorrer nas palhetas móveis. Na realidade o que chamamos comercialmente de turbina de reação é uma combinação com 20 saltos de entalpia. Grandes variações, no entanto levariam a velocidades excessivas nas palhetas e trariam problemas de ordem mecânica. Para contornar o problema, divide-se o aproveitamento do salto de entalpia em vários saltos menores subseqüentes, que chamamos de estágios. Máquinas de grande potência têm vários estágios, colocados em série,podendo ser tanto de ação como de reação. Nas palhetas fixas teremos uma expansão parcial do vapor, resultando em uma queda de pressão e em um aumento da velocidade. Nas palhetas móveis ocorrerá o restante da expansão, resultando em uma segunda queda de pressão e em um aumento da velocidade do vapor em relação à palheta. Entretanto, mesmo havendo um aumento da velocidade do vapor em relação à palheta móvel, causada pela expansão, a velocidade absoluta do vapor nas palhetas móveis cairá, pois estas atuam, não só como expansores, mas também pelo princípio da ação, transformando a velocidade gerada em trabalho mecânico. Define-se como grau de reação de um estágio de reação a proporção entre a parte do salto de entalpia que ocorre nas palhetas móveis e o salto de entalpia total do estágio. É bastante usual a construção de estágios com grau de reação igual a 50%, embora outras proporções possam também ser admitidas. 3.4.3 CONFIGURAÇÕES DAS TURBINAS A VAPOR As turbinas térmicas a vapor podem ser dos tipos tandem-compound ou cross- compound. Na configuração tandem-compound, que é apresentada na Figura 3.6, os estágios são conectados em série e acoplados a um único gerador, tudo em um mesmo eixo. Figura 3.6 - Turbinas tandem-compound. [7] Na configuração cross-compound, mostrada na Figura 3.7, a turbina apresenta dois eixos distintos, acoplados a dois geradores e acionados por um ou mais estágios da turbina. 21 Apesar da existência de dois eixos e dois geradores diferentes, a turbina constitui ainda um conjunto único com vários estágios, sendo submetida à ação de um conjunto, também único, de sistemas de controle. Esta configuração traz a vantagem de ter maior capacidade de geração e permitir o aumento da eficiência. No entanto sua construção envolve custos mais elevados. Figura 3.7 - Turbinas cross-compound. De uma forma geral as turbinas do tipo tandem-compound giram a 3600 rpm, enquanto que as do tipo cross-compound têm velocidade angular de 3600 rpm em seus dois eixos, ou alternativamente, 3600 rpm em um eixo e 1800 rpm no outro eixo. As turbinas térmicas a vapor podem ser classificadas, também, em função da existência ou não de etapas de reaquecimento. Assim, é possível considerar os seguintes tipos: sem reaquecimento; com reaquecimento simples e com duplo reaquecimento. Aquelas sem reaquecimento têm um único estágio e são aplicadas em unidades geradoras de até 100 MW. Em instalações de maior porte, consideram-se as turbinas térmicas como simples ou duplo reaquecimento, que possibilitam uma maior eficiência. O desempenho do ciclo é influenciado por estas diferentes configurações e também por parâmetros de operação. 3.5 PRINCIPAIS COMPONENTES DA TURBINA A VAPOR Serão apresentados agora os principais componentes encontrados na montagem de uma turbina a vapor. Alguns deles já foram citados nas sessões anteriores: 22 Figura 3.8 - Turbina a Vapor (ALSTOM). • Carcaça, geralmente dividida longitudinalmente em duas partes para facilitar o acoplamento e desmontagem, e que contém o sistema de pás fixas ou distribuidores; • Rotor com pás em sua periferia. É nele que incide o vapor e onde é feita a transformação na direção e magnitude da velocidade do vapor; • Acoplamento mecânico para conexão com o gerador elétrico; • Dispositivo de expansão, sempre constituído de um bocal fixo ou móvel (diretrizes), no qual a energia de pressão do vapor se transforma em energia cinética; • Junta de labirinto, necessária para reduzir o calor gerado quando acontece o contato rotor/estator, diminuindo o risco de danos ao material do rotor ou até mesmo do eixo. Além destes componentes, a montagem de uma turbina a vapor inclui uma série de válvulas utilizadas para direcionar o vapor de maneira a maximizar a conversão da entalpia em energia mecânica. As válvulas principais associadas à turbina a vapor são mostradas na Figura 3.9. [8] 23 Figura 3.9 - Sistema de válvulas de controle. • Válvulas Principais de Parada Também chamadas de válvulas de estrangulamento, têm como principal função prover proteção de retaguarda para a turbina a vapor quando não há atuação das válvulas de controle. É também responsável pelo controle do vapor durante a partida. • Válvulas de Controle de Vapor As válvulas de controle de vapor são responsáveis pelo controle primário da turbina. Têm a função de regular o fluxo de vapor para a turbina e, conseqüentemente, controlar a potência gerada dentro das condições especificadas pelo usuário. A liberação de maior ou menor quantidade de vapor é realizada mediante sinal do regulador de velocidade que emite o comando de abrir ou fechar as válvulas de controle. • Válvulas de Interceptação e Válvulas de Parada de Vapor Reaquecido A utilização das válvulas de interceptação permite o estrangulamento do fluxo de vapor para a turbina de pressão intermediária controlando dessa maneira a velocidade, que 24 pode ser sobre-elevada em função da energia existente no vapor proveniente do reaquecedor. Tal condição também pode ser verificada durante o desligamento da unidade, sendo as válvulas de interceptação utilizadas no controle da velocidade. Uma proteção de retaguarda para a turbina a vapor é oferecida pelas válvulas de parada do vapor reaquecido no caso de um distúrbio da rede ou uma falha da válvula de interceptação. Durante grandes variações de carga e desligamento as válvulas de interceptação controlam a velocidade protegendo a turbina de sobrevelocidade destrutiva. • Válvula de bypass Um sistema de bypass de vapor permite que a caldeira seja operada independentemente da turbina. Desse modo, o fluxo de vapor na saída da caldeira dependerá somente da capacidade das válvulas de bypass. O aquecimento em combinação com o estresse ocasionado pela sobrevelocidade na turbina, e conseqüente saída de operação, pode danificar a turbina de alta pressão. Uma forma de evitar que este fato ocorra é a solicitação da válvula de bypass para sangrar o vapor para o condensador. Além dos equipamentos principais como caldeiras e turbinas, uma central termelétrica a vapor possui os denominados equipamentos auxiliares, que são de importância vital para o funcionamento da central. Alguns componentes são o condensador, a torre de resfriamento, o sistema de água de circulação, o desaerador e a bomba de condensado. Todos os aparelhos por onde circula a água já condensada, compreendidos entre a turbina e a caldeira, compõem o sistema de condensado e água de circulação. O vapor ao sair da turbina é condensado, criando uma zona de baixa pressão na exaustão da mesma. Em seguida, ocorre o descarregamento da água no desaerador para a eliminação de gases impróprios. Há ainda uma compensação da água de alimentação que vai entrar na caldeira através do vapor extraído da turbina completando-se assim o ciclo. 25 4 ESTUDO QUALITATIVO E QUANTITATIVO DA GERAÇÃO À CICLO COMBINADO 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Após um breve apanhado histórico sobre o assunto, esse capítulo abordará os princípios de funcionamento da geração a ciclo combinado, bem como cálculos para a determinação da eficiência do ciclo, esquemas e tipos de montagem. Será feito também uma apresentação de alguns sistemas auxiliares que, juntamente com as turbinas a gás e a vapor, compõem uma usina baseada nesse tipo de geração termelétrica. 4.2 MOTIVAÇÃO E HISTÓRICO A geração por aproveitamento de ciclos combinados a gás e vapor começou a ser questionada seriamente a partir dos anos 1950 e 1960. Na época, os ciclos a vapor eram os mais utilizados para a geração de potência e as pesquisas para seu aperfeiçoamentoeram intensas. No entanto, na mesma época, os fundamentos termodinâmicos e as vantagens oferecidas pela utilização de ciclos combinados, principalmente em termos de eficiência, já eram conhecidos, apesar das dificuldades tecnológicas que impediam o seu desenvolvimento. Encontra-se na literatura que as primeiras instalações de ciclo combinado foram viabilizadas nos Estados Unidos e na Europa, no ano de 1971. As primeiras instalações norte-americanas tinham, em média, uma capacidade de geração que variava entre 15 MW e 20 MW, sendo a planta química de Dow, no Texas, uma das maiores, com 63 MW (dos quais 43 MW eram produzidos pela turbina a gás). Na Europa, a instalação “Koneuburg- A” foi a de maior capacidade (75 MW) que operou naquele ano, com uma eficiência de 32,6%. Nos anos 1970 e 1980, com o desenvolvimento tecnológico apresentado, pode-se observar uma expansão na faixa de mercado da geração de eletricidade com emprego dos ciclos combinados. 26 A partir dos anos 1990, a instalação de centrais de grande porte que utilizam o gás natural como combustível foi feita de maneira extensiva. 4.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO A expressão “Ciclo Combinado” caracteriza uma produção de energia ou uma central que utiliza mais de um ciclo termodinâmico. Os motores térmicos transformam uma parte da energia armazenada no combustível em trabalho mecânico que pode ser, em seguida, convertido em eletricidade por meio de um gerador. Em termos mais técnicos, um ciclo simples com turbina a gás (Ciclo de Brayton) associado a um ciclo simples com turbina a vapor (Ciclo de Rankine) compõem a geração a ciclo combinado. [9] Figura 4.1 - Esquema básico da geração a ciclo combinado. [10] Dessa maneira, torna-se possível um maior aproveitamento da energia inicial contida no combustível, através da colocação em “cascata energética” dos dois ciclos. O processo se inicia com a geração de eletricidade na turbina a gás. A energia liberada na explosão do combustível faz girar as pás da turbina e essa energia mecânica é transferida 27 para o gerador. A cascata energética é feita utilizando a energia térmica dos gases de exaustão da turbina a gás para aquecer a água de uma caldeira de recuperação (CR). O vapor gerado na caldeira aciona a turbina a vapor que, por sua vez, transmite energia mecânica para um gerador (que pode, como veremos a seguir, ser o mesmo que está acoplado à turbina a gás). O vapor é então condensado e reenviado para a caldeira. Esse processo está ilustrado na Figura 4.1. Figura 4.2 - Vista superior de uma central a ciclo combinado mono-eixo (ALSTOM). 4.4 CLASSIFICAÇÃO DE CENTRAIS DE CICLO COMBINADO De acordo com diferentes parâmetros as centrais a ciclo combinado podem ser categorizadas de diversas formas para melhor compreensão e estudo destes sistemas. 4.4.1 QUANTO À CONFIGURAÇÃO DOS CICLOS TERMODINÂMICOS Com relação à disposição das turbinas, existem três tipos centrais de ciclos combinados para a geração de eletricidade. Estes são: • Central de Ciclo Combinado em Série; • Central de Ciclo Combinado em Paralelo; 28 • Central de Ciclo Combinado em Série/Paralelo. (a) (b) (c) Figura 4.3 - Tipos de centrais termelétricas de ciclo combinado gás – vapor: a) série; b) paralelo; c) série-paralelo. [11] Uma central de ciclo combinado em série é a que liga um ciclo Brayton com uma turbina a gás e um ciclo a vapor através de uma caldeira de recuperação. Neste caso, os gases de uma exaustão da turbina a gás (TG) são utilizados para a geração de vapor em dois níveis de pressão. Uma característica particular desta configuração é que a vazão volumétrica de vapor nos últimos estágios da turbina a vapor (TV) pode ser ate 70% maior em relação ao estágio de alta pressão. Isto tanto pelo fornecimento de vapor a uma pressão intermediária, 29 como pela ausência de extrações para a regeneração no circuito de água de alimentação. Uma central em paralelo é aquela em que o combustível é utilizado para gerar o calor para os dois ciclos. Os gases obtidos no processo de combustão transferem calor diretamente às paredes de água colocadas na fornalha antes de se expandirem na TG. A maior dificuldade que se verifica nesta configuração é que se pode operar apenas com um combustível de alta qualidade, visando garantir um funcionamento estável e prolongado na TG. As centrais em série/paralelo funcionam como as em série, mas empregam a queima de combustível adicional na caldeira de recuperação. Uma central termelétrica com esta configuração pode ser encontrada em Moldova. 4.5.2 QUANTO AO ACOPLAMENTO DAS MÁQUINAS Outra classificação das centrais termelétricas (ou blocos geradores) de ciclo combinado a gás e vapor, na sua forma mais geral, é feita segundo o acoplamento das máquinas. Segundo este princípio elas são: • De múltiplos eixos ou multi-eixo (multi-shaft): As turbinas se encontram em eixos diferentes, acopladas a geradores elétricos distintos. Tem como maior vantagem a facilidade de operação oferecida durante o período de construção da central, uma vez que permite a geração de eletricidade na instalação da TG enquanto se realiza a instalação da TV e da CR. Nesses casos, para a operação da turbina a gás em ciclo simples, é necessário o dispositivo de bypass dos gases de exaustão. Este dispositivo oferece vantagens adicionais como, por exemplo, o aquecimento mais controlado da caldeira durante a partida e a geração mais eficiente de vapor. Figura 4.4 - Arranjo de Central em multi-eixo. • De eixo único ou mono-eixo (single-shaft): A TG e a TV estão acopladas, no mesmo eixo, a um único gerador elétrico. Esta ligação é feita através de um sistema de embreagens que controla o sincronismo entre as velocidades de rotação das turbinas. Esta 30 configuração apresenta uma série de vantagens, entre as quais podemos citar: simplificação no controle de operações, alta disponibilidade e confiabilidade, maior eficiência a cargas parciais e melhor economicidade no caso de repotenciação. Figura 4.5 - Arranjo de Central em mono-eixo. 4.5.2.1 EMBREAGEM OU “CLUTCH” Localizado entre o gerador elétrico e a turbina a vapor, este acoplamento mecânico tem como fundamento de operação o acionamento da TV ao gerador elétrico quando o número de revoluções desta máquina atinge o da TG, ou tende a superá-lo. O desacoplamento acontece quando o número de revoluções da TV volta a ser inferior ao da TG. Figura 4.6 - Fotos ilustrativas do sistema de acoplamento. (SSSClutch). [12] Nas figuras 4.7 observamos as curvas de partida e parada do clutch em um exemplo hipotético. 31 Figura 4.7 - Curvas de partida e parada do clutch. 4.6 PRINCÍPIOS TERMODINÂMICOS Usando a definição da temperatura média de fornecimento e de rejeição de calor do ciclo, escreve-se a eficiência térmica do ciclo de vapor como sendo a de um ciclo de Carnot. Logo: (4.1) Sendo: T1m = Temperatura média de fornecimento de calor ao ciclo; T2m = Temperatura média de rejeição de calor do ciclo. Onde a temperatura média Tm calcula-se como: (4.2) Sendo: Q = O calor fornecido ao ciclo (para T1m) ou rejeitado do ciclo (para T2m); ∆s = A diferença de entropia durante o processo de fornecimento de calor ao ciclo (para T1m) ou durante o processo de rejeição do ciclo (para T2m). A eficiência térmica de centrais termelétricas a vapor com parâmetros supercríticos, reaquecimento intermediário e com um desenvolvido sistema de regeneração pode atingir até 45% no melhor dos casos. Este valor é maior do que a eficiência de uma central termelétrica 32com ciclo a gás simples; que tem uma eficiência térmica máxima entre 36% e 39%. 4.7 SISTEMAS AUXILIARES Além da turbina a gás e da turbina a vapor, uma central de geração a ciclo combinado conta com uma série de sistemas que são responsáveis pelas diversas etapas no processo de geração de energia. Entre os principais sistemas auxiliares, podemos citar: • Sistema de Recuperação de Calor e Geração de Vapor Mais conhecido como HRSG (do inglês, Heat Recovery Steam Generator), o Sistema de Recuperação de Calor e Geração de Vapor é responsável por realizar a troca de calor entre os gases quentes da exaustão da turbina a gás e gerar o vapor que alimenta o segundo ciclo. HRSGs consistem em três componentes principais: o evaporador, o superaquecedor, e o economizador. Baseado no fluxo de gás de exaustão, HRSGs são classificados como verticais ou horizontais. No tipo horizontal, o gás de exaustão flui horizontalmente sobre os tubos verticais ao passo que no tipo vertical, fluxo do gás de exaustão incide verticalmente sobre os tubos horizontais. Baseado em níveis da pressão, HRSGs pode ser classificados como sendo de pressão única ou multi-pressão. HRSGs de pressão única possuem apenas um cilindro de vapor, ao passo que a multi-pressão HRSGs emprega dois ou três cilindros em diferentes níveis de pressão. Esses níveis, por sua vez, são classificados como LP (Baixa Pressão ou “Low Pressure”), IP (Pressão Intermediária, ou “Intermediate Pressure”) e HP (Alta Pressão, ou “High Pressure”). Cada cilindro de vapor possui uma seção do evaporador onde a água é convertida em vapor. Este vapor passa então através dos superheaters (super aquecedores) para levantar a temperatura e a pressão após o ponto de saturação e ser então direcionado para a turbina a vapor. 33 Figura 4.8 - Elementos da caldeira de recuperação do tipo vertical. • Gerador É onde ocorre a transformação da energia mecânica em energia elétrica. Dependendo da configuração da planta (single-shaft ou multi-shaft) podemos encontrar um gerador acoplado às duas turbinas simultaneamente ou um gerador para cada turbina. O sistema de resfriamento dos geradores varia com a potência nominal do equipamento. Em centrais de maior escala os geradores resfriados a hidrogênio são os mais comuns, mas podemos ainda encontrar gerador com resfriamento a ar ou água. Figura 4.9 - Gerador. • Controle de Emissões Tem a função de reduzir a emissão de substâncias nocivas ao ambiente. Consiste 34 normalmente de duas etapas. Primeiro, é pulverizada uma mistura de amônia e água nos gases que saem da turbina a gás. A nova mistura passa, então, por um reator catalítico, onde óxidos de nitrogênio em nitrogênio e água. • Transformadores Uma vez gerada, a energia elétrica que sai dos geradores passa por um conjunto de transformadores para se adequar aos valores de tensão da rede, para que possa então ser inserida. Uma parte desta energia é ainda para transformadores abaixadores e servira para alimentar todos os sistemas da central. 4.8 EFICIÊNCIA DAS CENTRAIS TERMELÉTRICAS DE CICLO COMBINADO 4.8.1 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE Na figura 4.10 se apresenta um esquema simples do fluxo de calor e energia de uma central em série. O ciclo superior (CS) é, por exemplo, uma instalação de turbina a gás que opera em circuito aberto. A energia dos gases de exaustão da instalação da TG é parcialmente transferida ao ciclo inferior mediante uma caldeira de recuperação, equipamento onde existem determinadas perdas durante o processo de troca de calor. Figura 4.10 - Fluxo de calor e energia (Central em série). A equação que calcula a eficiência térmica total da central de ciclo combinado em séria é: 35 (4.3) Sendo: (4.4) Onde: QF = Fluxo de energia fornecida à central com o combustível, MW; mC = vazão mássica de combustível, kg/s; PCI = Poder Calorífico Inferior do combustível, MJ/kg; W = Potencia gerada pelos ciclos superior (CS) e inferior (CI), respectivamente, MW. A eficiência térmica do ciclo superior será: (4.5) A eficiência do ciclo inferior é calculada como: (4.6) O termo Qtransferido refere-se à parcela de energia contida nos gases de exaustão da instalação da TG que é transferida ao ciclo a vapor na caldeira de recuperação, mas: (4.7) Ou (4.8) Qperdas representa as perdas relativas à energia que não é transferida na CR e a energia dos gases de escape que é rejeitada à atmosfera pela chaminé, porém, 36 (4.9) Ou (4.10) Sendo: (4.11) Ou seja ξperdas é a relação entre a energia perdida na conexão dos ciclos e a energia total que é fornecida à central com o combustível. 4.7.2 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM PARALELO As centrais em paralelo estão compostas por dois subsistemas que operam em ciclos bem definidos, tal como se apresentam na figura 4.11. O calor de escape do ciclo 1 pode ser o calor rejeitado à atmosfera com os gases de exaustão da TG, enquanto que o do ciclo 2 é o calor rejeitado no condensador da instalação da TV. Figura 4.11 - F luxo de calor e energia (Central em paralelo). A eficiência térmica da central de ciclo combinado em paralelo é dada por: 37 (4.12) Sendo: W = Potencia gerada pelos ciclos 1 e 2, MW. Sendo que: (4.13) Segundo o esquema apresentado Q1 e Q2 são os fluxos de calor fornecidos aos subsistemas compostos pelos ciclos 1 e 2, que apresentam eficiências η1 e η2, e permitem a obtenção das potências: (4.14) (4.15) Substituindo as equações 4.13, 4.14 e 4.15 na equação 4.12, então, a eficiência térmica da central de ciclo combinado em paralelo pode ser calculada como: (4.16) Desta forma, poder-se-ia colocar: (4.17) Ou (4.18) Sendo que: (4.19) 38 E (4.20) representam a relação entre o calor fornecido aos ciclos 1 e 2 com relação ao calor total fornecido à central. Assumindo que η1 > η2, percebe-se que o valor de eficiência de uma central deste tipo se encontra entre os valores de eficiência dos ciclos η1 e η2, separadamente. Por esse motivo, numa aplicação de repotenciação, o subsistema adicionado devera ter uma eficiência consideravelmente maior que o subsistema existente para atingir um ganho razoável de eficiência na central em conjunto. 4.7.3 EFICIÊNCIA DA CENTRAL EM SÉRIE/PARALELO A figura 4.12 apresenta o esquema simples de uma central de ciclo combinado em série/paralelo. Figura 4.12 - Fluxo de calor e energia (Central em série/paralelo). Nesse caso, por exemplo, a central pode ter uma instalação de TG no ciclo superior combinada com uma instalação de TV no ciclo inferior, com queima suplementar de combustível na CR, sendo que esse equipamento segue o esquema tradicional da queima suplementar de gás natural. A eficiência térmica da central de ciclo combinado em série paralelo é dada por: 39 (4.21) Sendo: (4.22) (4.23) (4.24) Para o ciclo superior e o inferior a eficiência é calculada pelas equações a seguir: (4.25) (4.26) No entanto, neste caso, o calor fornecido ao ciclo inferior QC é a soma do calor de escape do ciclo superior com o calor fornecido pela queima do combustível suplementar menos as perdas. Com a equação 4.26 se demonstra que a queima suplementar de combustível não conduz ao aumento da eficiência da central em serie/paralelo com relaçãoà central em série. Nas centrais com queima suplementar, além das perdas por trocas de calor na CR, existem perdas na combustão que acarretam uma diminuição maior ainda da eficiência térmica. No entanto, comparativamente, com a queima suplementar, se consegue uma maior potência gerada e capacidade de resposta ante as mudanças da carga, o que pode ser um aspecto importante para centrais ou blocos gerados que operem na região de carga intermediaria ou ponta do sistema elétrico. 4.8.4 INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS TERMODINÂMICAS NO RENDIMENTO DAS CENTRAIS Esta sessão apresentará uma análise do rendimento e da capacidade geradora de uma central funcionando a ciclo combinado (a capacidade geradora será representada pelos valores de exergia do sistema. A exergia consiste no trabalho teórico máximo que pode ser obtido de 40 um processo até que seja atingido o equilíbrio termodinâmico). Para tal, será tomada como exemplo numérico uma central padrão, com quatro turbinas a gás e duas turbinas a vapor, funcionando em temperatura ambiente de 25oC e pressão atmosférica de 101,3 kPa, ao nível do mar. A usina e, questão possui as seguintes características de projeto: Tabela 4.1 - Dados característicos dos equipamentos a gás da usina termelétrica. Rendimento isentrópico do compressor da turbina a gás 0,87 Rendimento isentrópico do expansor da turbina a gás 0,92 Rendimento do gerador da turbina a gás 0,91 Razão de compressão do compressor da turbina a gás 15:1 Poder Calorífico Inferior (PCI) do gás natural 50.006 kJ/kg Perda de carga na câmara de combustão da turbina a gás 2,50% Potência de eixo da turbina a gás (ISO) 70.140 kW Fluxo de massa na turbina a gás (ISO) 205,024 kg/s Heat Rate na turbina a gás (ISO) 10.105 Btu/kWh Rendimento isentrópico da turbina a vapor 0,89 Rendimento isentrópico da bomba 0,9 Rendimento do gerador da turbina a vapor 0,91 Potência elétrica da turbina a vapor 58.423 kW Potência na bomba 354,2 kW 354,2 kW 41 Figura 4.13 – Arranjo da termelétrica exemplo, operando em ciclo combinado. Para se fazer uma análise energética e exergética de uma planta devem ser realizados balanços de massa, energia e exergia, e definidas as eficiências pela primeira e segunda lei da termodinâmica, bem como as irreversibilidades, considerando um volume de controle para de cada um dos equipamentos que a compõem. [13] De uma forma geral, para processos em regime permanente e desconsiderando as variações de energia cinética e potencial, temos as seguintes equações de balanço de massa, energia e exergia. (4.27) (4.28) (4.29) 42 Onde: - Fluxo de massa que entra no volume de controle (kg/s); - Fluxo de massa que sai do volume de controle (kg/s); - Entalpia específica na entrada do volume de controle (kJ/kg); hs - Entalpia específica na saída do volume de controle (kJ/kg); exe - Exergia específica na entrada do volume de controle (kJ/kg); exs - Exergia específica na saída do volume de controle (kJ/kg); Ti - Temperatura superficial do volume de controle (K); T0 - Temperatura do fluido no estado de referência (K); - Taxa de irreversibilidade no volume de controle (kW); - Fluxo de calor no volume de controle (kW); - Potência referente ao volume de controle (kW). As exergias específicas na entrada e saída de cada equipamento são calculadas, respectivamente, por: exe = ( h − ho )e − To( s − so )e (4.30) exs = ( h − ho )s − To( s − so )s (4.31) onde: h - Entalpia específica do vapor (kJ/kg); s - Entropia específica do vapor (kJ/kg K); ho - Entalpia da água para o estado de referência (104,86 kJ/kg); so - Entropia da água para o estado de referência (0,367 kJ/kg K). As eficiências pela primeira lei e segunda lei da termodinâmica (η e ψ) são calculadas para cada equipamento através das seguintes equações termodinâmicas clássicas: (4.32) 43 (4.33) Onde: ∆hiso - Diferença entre as entalpias de entrada e saída do equipamento, para processo isoentrópico (kJ/kg); ∆hreal - Diferença real entre as entalpias de entrada e saída do equipamento (kJ/kg); - Fluxo de massa (líquido ou vapor) no equipamento (kg/s). Além da definição da eficiência exergética para cada equipamento, a análise exergética também contempla a determinação da quantidade com que cada equipamento contribui na geração de irreversibilidade global do sistema, podemos definir uma equação que permite quantificar a porcentagem da irreversibilidade de cada equipamento (Iequip) em relação ao total da planta (It): (4.33) Para o cálculo da exergia específica do gás natural (exgn) é levado em conta a correlação entre a exergia química e o poder calorífico inferior do combustível, considerando a relação entre as frações em massa de oxigênio e carbono, a composição elementar do combustível, e o conteúdo de cinza e de umidade, conforme segue: (4.34) (4.35) sendo: exf - Exergia física do gás natural (tomado como gás ideal); exq - Exergia quimica do gás natural; Xi - Fração molar de cada componente do combustível; - Peso molecular de cada componente do combustível (kg/kmol); Exi - Exergia química de cada componente do combustível (kJ/kg). 44 A resolução do sistema de equações resultante foi efetuada utilizando-se o programa EES® (Engineering Equation Solver), que permite a determinação das propriedades termodinâmicas do sistema, como entalpia e entropia, possibilitando a realização de cálculos de uma maneira simples e eficiente, sem a necessidade de se recorrer a tabelas termodinâmicas. Vale lembrar que foi adotado como estado de referência o definido pela temperatura de 25 ºC e pressão de 101,3 kPa. Nas Figuras de 4.14 a 4.9 podem ser observadas as influências de alguns parâmetros no ciclo, tais como: temperatura ambiente, pressão na saída da turbina a gás, pinch point, pressão de circulação e pressão de alta, respectivamente. [14] Figura 4.14 - Variação do rendimento e da potência total produzida em função da temperatura ambiente. 45 Figura 4.15 - Variação da potência da turbina a gás e da temperatura de saída em função da pressão de saída na turbina a gás. Figura 4.16 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira de recuperação. 46 Figura 4.17 - Variação da eficiência da caldeira de recuperação em função da pressão do condensado. Figura 4.18 - Variação da potência da turbina a vapor e da eficiência da caldeira em função da pressão de alta na turbina a vapor. Verifica-se assim que os parâmetros não construtivos que mais afetam a produção de potência do ciclo combinado são a temperatura ambiente e a perda de carga dos gases na caldeira de recuperação. No que diz respeito às características construtivas o principal parâmetro que influencia a potência é o pinch point. 47 4.9 “K26 POWER PLANT” Com o intuito de exemplificar os conceitos passados neste capítulo, será apresentada agora a ficha técnica de um dos modelos de central a ciclo combinado fabricadas pela ALSTOM POWER: a K26 / SSPT. [15] 4.9.1 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS A KA26 é uma planta compacta e de rápida montagem. Seu arranjo mono-eixo permite um acesso fácil aos seus componentes para manutenção, com áreas de manobra espaçosas. A tabela 4.1 traz um resumo das suas características de potência (ponto de projeto). Tabela 4.2 - Valores de saída da central. KA26 Potência de saída 378 MW Eficiência 57% Relação de
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