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Fintechs, Startups e novas Empresas do setor financeiro

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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..................................................................1
A democratização do setor financeiro ..........................2
Os desafios das novas empresas do 
mercado financeiro ........................................................ 7
Como é trabalhar em fintechs brasileiras .....................12
Onde estão as oportunidades, segundo grandes 
empreendedores do setor financeiro ......................... 19
O que investidores procuram? ....................................23
As máquinas estão chegando: como se 
preparar para um novo mercado financeiro ................28 
INTRODUÇÃO
1
 Voltar para o índice 
O Brasil é um país enorme: são mais de 200 milhões de pessoas em 8,5 milhões de 
quilômetros quadrados. Dentro dessa imensidão, há um mundo de contrastes.
Um terço de sua população adulta não tem conta bancária e há quem ainda envie dinheiro 
pelo correio. Do outro lado, o oposto: mais da metade das transações bancárias feitas no 
país em 2015 aconteceram via internet e mobile banking.
Uma palavra é capaz de unir essas duas pontas: oportunidade. Especificamente, 
oportunidade para empreendedores no setor financeiro. 
Quando uma inovação tecnológica está envolvida num negócio nesse mercado, seja ela uma 
solução de pagamento, uma moeda encriptografada, uma plataforma de crédito online ou 
app de educação financeira, essa startup pode ser considerada uma fintech.
É um setor em crescimento pelo mundo: em 2016, foram cerca de US$ 17 bilhões em investimentos, 
principalmente nos EUA, Europa e na região Ásia-Pacífico. O Brasil não ficou para trás. 
Segundo o relatório de 2017 do hub FintechLab sobre o país, há cerca 244 empreendimentos 
do tipo hoje, em sua maioria já com clientes pagantes. As categorias são diversas, como 
pagamentos (pense na Stone), empréstimos (como Creditas e Biva), serviços bancários (Banco 
Neon), crédito, (Nubank), gestão financeira (GuiaBolso) e seguros (TôGarantido). 
Muitos desses empreendimentos, inclusive, têm crescido exponencialmente para além do 
tamanho do que se costuma considerar a “fase startup”, e hoje são empresas consolidadas 
disputando com os big players - caso, por exemplo, do Nubank, concorrendo com bancos 
tradicionais que estão há décadas no mercado, e da Stone, que compete em um setor por 
anos dominado por duas grandes empresas. 
Todas as empresas citadas acima aparecem neste especial, que trata de inovações no 
mercado financeiro, marcadas em grande parte pela democratização do setor e pelo apoio 
que proporcionado aos empreendedores brasileiros. Buscamos trazer aqui os seus desafios 
e oportunidades, ambientes de trabalho, perfis profissionais e um panorama de a quantas 
anda a automação do mercado financeiro como um todo.
Num setor altamente regulado e que exige bastante capital, não há como escapar da 
questão dos investidores, que injetaram cerca de R$ 1 bilhão no segmento ao longo de 
2016. E para entender melhor o que buscam, entrevistamos três deles. 
Para quem se pergunta se esta não é uma bolha prestes a estourar, a reflexão é rápida: quem 
nunca desejou que sua vida financeira fosse pelo menos um pouquinho mais fácil?
A DEMOCRATIZAÇÃO DO SETOR FINANCEIRO
Como startups, fintechs e novas empresas estão mudando um campo tradicionalmente concentrado 
e oferecendo novas opções aos brasileiros
É um dia qualquer de 2016. Quantas vezes você 
usou seu celular hoje? Seu computador? Seu 
cartão do banco? 
Aplicativos e soluções digitais seguem transformando 
setores como mobilidade urbana, saúde, segurança e 
gestão pública, integrando funções e ferramentas que 
facilitam o dia a dia dos usuários. 
Era questão de tempo, então, até que surgisse algo 
no setor de serviços financeiros.
O movimento é encabeçado por empresas de 
diversas propostas de atuação e que são muitas 
vezes chamadas de fintechs, termo que vem 
do inglês financial technology e está em franca 
ascensão no Brasil. 
Segundo relatório publicado pelo FintechLab, um hub 
de conhecimento especializado no setor, o país já 
registra 244 empresas do tipo.
É um começo notável, especialmente quando se leva 
em conta que, em agosto de 2015, havia apenas 54 
fintechs no Brasil.
Extremamente inovadoras, as startups que desbravam 
o campo no país também têm despertado interesse 
e curiosidade dos consumidores. 
De crowdfunding a empréstimos, passando por 
pagamentos com cartão, investimentos, abertura 
de contas e educação financeira, essas empresas 
formam uma indústria repleta de subdivisões.
A ideia por trás costuma ser tornar as transações 
mais eficientes, principalmente através da redução 
de intermediários e custos e da automação de 
análises, empoderando assim o consumidor, seja ele 
uma pessoa física ou um empreendedor. 
O foco nas necessidades reais do usuário é 
fundamental: afinal, startups que não encontram 
clientes não sobrevivem.
2
Aproveitando oportunidades
Muitas das oportunidades aproveitadas hoje são 
novas e surgiram tanto do avanço da tecnologia 
quanto de mudanças legislativas.
A Stone, que apareceu em 2012 e já é a quarta maior 
adquirente do mercado de pagamentos, é fruto de 
ambas. No caso, são essas as empresas que permitem 
que transações com cartões sejam realizadas, tanto 
no mundo físico, por meio das máquinas, quanto 
no mundo digital dos e-commerces, cada vez mais 
populares – é a empresa, por exemplo, que permite 
que usuários paguem mensalmente aplicativos de 
streaming de música, séries e filmes. 
Dois anos antes da criação da Stone, o governo 
havia suspendido o exclusividade das operações 
em máquinas de cartão, que eram dominadas 
pela Mastercard (através da Redecard) e pela Visa 
(através da Visanet, que depois da medida mudou 
seu nome para Cielo). 
Até então, um empreendedor que quisesse passar 
cartões dessas ou outras bandeiras precisava 
adquirir ou alugar equipamentos específicos para 
cada uma, o que encarecia o custo do negócio. 
A partir daquele momento, uma só máquina poderia 
passar todas as bandeiras, o que representava uma 
economia para lojistas e abertura para a competição.
“Quando olhamos o mercado, vimos que havia 
basicamente dois participantes grandes e uma 
mudança digital acontecendo”, explicou Augusto 
Lins, diretor da Stone, durante o evento Innovation 
Pay, em São Paulo.
E-commerce e mobile também estavam se 
espalhando rapidamente pelo país, lembrou, o que 
delineava uma grande oportunidade no mercado de 
pagamentos brasileiro e que tendia a crescer
Após a mudança na regulação do Banco Central, 
outros players também surgiram, como a GetNet.
Havia também outro aspecto do segmento apto 
para receber inovações e que poderia ser uma 
vantagem competitiva em relação aos players 
tradicionais: o foco no relacionamento com 
o cliente, acostumado a lidar com empresas 
burocráticas e serviços pouco convidativos.
“Vimos onde ajudar nossos clientes inclusive através 
de um atendimento mais cordial e próximo”, disse 
Augusto. “É um estímulo para buscarmos alternativas 
que vão trazer conveniência, economia e melhorar a 
experiência do cliente num espaço que está muito 
visível no mercado.”
“Percebemos uma dor de um cliente que é 
o empreendedor ou lojista e que só podia 
contratar duas empresas que tinham um serviço e 
atendimento que deixavam a desejar e um preço 
muito caro”, explica André Street, um dos líderes e 
cofundadores da Stone. 
A sacada foi perceber que era possível oferecer 
um serviço melhor, mais moderno – e mais barato. 
“Descobrimos que esse é um mercado enorme 
e um impacto muito grande no Brasil. Vimos que, 
com pessoas jovens fantásticas e com intenso uso 
de tecnologia, poderíamos transformar a realidade 
dessa indústria.”
Para Bernardo Piquet, responsável pelas relações 
institucionais da empresa e um dos jovens a que 
Street se refere, a missãoé transformar a indústria 
como um todo, equilibrando as forças entre lojistas 
e instituições financeiras e tornando o mercado de 
pagamentos mais acessível.
“Isso se reflete na forma como atendemos nossos 
clientes – e mesmo aqueles que não são. Vamos além 
de apenas apresentar serviços ou solucionarmos um 
problema: estamos comprometidos em muni-los com 
conhecimento e informações.”
3
 Voltar para o índice A DEMOCRATIZAÇÃO DO SETOR FINANCEIRO
Quando Bernardo chegou pela primeira vez, 
em idos de 2012, montou a área de Relações 
Institucionais da empresa para lidar com os diversos 
stakeholders envolvidos. 
Ao retornar três anos depois, o ambiente já tinha 
evoluído bastante, dentro e fora da Stone, trazendo 
novas camadas de complexidade ao dinâmico 
universo das fintechs.
“Se pensarmos que, há cinco anos, grandes 
empresas globais não existiam ou estavam em alguma 
‘garagem’ ao redor do mundo, não resta dúvida de 
que é preciso estudar para acompanhar todas as 
evoluções – ou, preferencialmente, liderá-las.”
Um caminho para a inclusão
Num país dominado por poucas instituições 
financeiras, as soluções das fintechs e demais 
empresas inovadoras de serviços financeiros 
acabam tendo a democratização do setor como um 
importante efeito secundário. 
Renan da Costa Rego, gerente de aceleração da 
Artemísia, que seleciona fintechs com potencial 
de impacto social, destaca que cerca de um 
terço dos brasileiros não têm acesso a serviços 
financeiros em geral.
“Os dois pilares principais para fintechs terem 
impacto no Brasil são a diminuição do custo de 
transação e o acesso à informação, já que não 
adianta ter acesso ao serviço sem educação 
financeira agregada”, explica. 
“Há diversos modelos de negócios que diminuem 
a condição de vulnerabilidade, como uma fintech 
de microsseguros para população de baixa renda, 
por exemplo.”
A TôGarantido se enquadra nessa categoria. 
“Queria algo que fizesse sentido no final. Diante 
disso, passei a estudar alguns modelos de negócios 
de impacto social e de microfinanças. Dentro deles, 
a gente encontrou nos microsseguros um grande 
potencial de negócio em um mercado ainda com 
muito por atingir no Brasil”, explica o fundador 
Felipe Cunha.
Não é só uma questão de oportunidade, mas de 
estratégia: hoje ele vende seguros que começam 
com um valor mensal inferior a R$ 10, indo na 
contramão da política de precificação promovida 
pelas grandes seguradoras. 
O potencial, segundo Felipe, é realmente gigantesco: 
estima-se que mais de 100 milhões de pessoas no 
Brasil nunca tenham tido uma apólice de seguros.
Novas opções de crédito
Ao oferecer novas ferramentas para pequenos 
empreendedores, o setor também potencializa o 
desenvolvimento de novos negócios no país. Além 
do caso da Stone e suas soluções de pagamento, 
já mencionado acima, essa possibilidade também 
está clara diariamente na atuação da plataforma de 
empréstimos Biva.
Acelerada pela Artemísia, a Biva fez sua primeira 
operação em abril de 2015 e já soma 37 mil 
pedidos de empréstimo. Após uma triagem inicial 
automatizada, os pedidos passam por uma nova 
análise. O processo inteiro acaba em dois dias.
O diferencial da empresa é uma modalidade 
diferente de empréstimo, chamada de ponto a ponto, 
ou peer-to-peer lending (P2P). É um termo crucial 
para entender as inovações trazidas por fintechs 
como essa.
“Peers”, no caso, são pessoas. E P2P é a relação 
comercial intermediada por plataformas digitais e 
que acontece, exatamente, entre pessoas.
4
 Voltar para o índice A DEMOCRATIZAÇÃO DO SETOR FINANCEIRO
É a lógica que permite que você alugue o 
apartamento de alguém pelo Airbnb, contrate 
serviços de um indivíduo pelo GetNinjas ou pegue 
uma carona pelo BlaBlaCar – e também que você 
ofereça ou pegue empréstimos pela Biva.
Realizar um empréstimo pela Biva é tratado pela 
empresa como um investimento, uma aplicação do 
seu dinheiro. Para investir nessa lógica, qualquer um 
pode se cadastrar e responder um questionário de 
adequação de perfil de risco. Em seguida, escolhe 
um valor para investir. Hoje, há mais de 10 mil 
investidores individuais ativos na plataforma.
Como as fintechs processam quase tudo online, 
podem oferecer o serviço final por um preço mais 
barato que as instituições financeiras tradicionais, 
já que são bem menores (ou até inexistentes) os 
gastos com intermediários. 
Assim, os credores da Biva podem ter retornos mais 
elevados do que teriam ao simplesmente investir o 
dinheiro na poupança. 
Até hoje, mais de 1000 créditos já foram liberados 
pela plataforma para estudantes e empresas de 
porte micro, pequeno e médio porte. Só em agosto 
de 2017, foram mais de R$ 7 milhões.
“O que mais ouvimos de quem toma o empréstimo 
é: ‘Qual é a pegadinha aqui?’”, ri Paulo David, 
cofundador e diretor de operações da empresa. 
“Esse cara é maltratado pelo que há no mercado 
hoje, tem pouca flexibilidade de acesso a crédito 
e, quando tem, as taxas são muito altas. Ao tratar 
o empreendedor de maneira justa e transparente, 
com taxas baixas e uma boa user experience, nós o 
deixamos super contente.”
Para quem toma o empréstimo, as taxas de juros 
também são mais baixas – algo muito bem vindo 
no Brasil, que tem a maior taxa de juros entre as 20 
maiores economias do mundo. 
Esse foi o ponto de partida da Creditas, uma 
plataforma digital de crédito com garantia fundada 
em 2012 pelo espanhol Sergio Furio.
“Os brasileiros têm casas e carros e 70% desses 
bens estão quitados e não têm dívidas. Mas as 
pessoas estão pagando juros de 200% pelo cartão 
de crédito”, explica o CEO. “Nossa sacada foi 
muito simples: usarmos essa propriedades para 
diminuir o custo da dívida e incrementar o prazo de 
pagamento e o orçamento familiar.”
Após dois anos agindo como intermediária entre 
clientes e instituições financeiras em várias vertentes, a 
Creditas (que surgiu como BankFacil) decidiu focar no 
crédito e desenvolveu um processo de verticalização 
que hoje cuida do processo de ponta a ponta. 
O dinheiro para a emissão de crédito vem do funding 
da startup, em sua maioria investidores institucionais, 
family offices e fundos de pensão brasileiros e 
internacionais, mais uma parte da própria Creditas.
“É um tipo de crédito de prazo longo, taxa de 
juros razoáveis e garantias que fazem com que 
a inadimplência seja baixa”, diz, explicando a 
atratibilidade do negócio.
Uma vontade de Furio é mudar a percepção 
nacional de endividamento, visto como algo 
negativo no Brasil. 
“Sempre falam que o endividamento do brasileiro é 
um problema, mas não acreditamos que seja isso”, 
explica. “Acontece que ele se endivida do jeito 
errado, com cartão de crédito e cheque especial. É 
a combinação de curto prazo e juros muito altos cria 
uma pressão no orçamento familiar.”
Tomar um empréstimo de milhares de reais e precisar 
pagá-lo em quatro meses, por exemplo, é uma 
situação familiar no Brasil, danosa e capaz de quebrar 
uma família, que pode entrar num redemoinho de 
empréstimos sem perspectiva de saída.
5
 Voltar para o índice A DEMOCRATIZAÇÃO DO SETOR FINANCEIRO
Já tomar crédito barato, para Furio (e pessoas de 
diversos outros países, como os EUA, onde é um 
acontecimento natural) significa alavancar suas 
oportunidades – de reformar e valorizar um imóvel, 
investir num negócio ou em educação, por exemplo. 
A ideia dele é implementar esse conceito positivo 
de crédito no país.
Sergio se lembra perfeitamente do primeiro crédito 
emitido pela Creditas com balanço próprio: foi para 
uma médica, mãe de uma criança, que emprestou 
R$ 30 mil reais. “Ela está pagando direitinho até 
hoje”, sorri.
Ponto sem volta
É comum, no mundo das fintechs, que grandes 
inovações surjam da experiência ruim dos próprios 
fundadorescom os bancos tradicionais ou demais 
players financeiros já consolidados no mercado.
Um exemplo é o caso do americano Louis Beryl, 
que tentou sem sucesso conseguir um empréstimo 
para ajudar a pagar a mensalidade de seu MBA em 
empreendedorismo na Universidade de Harvard. 
A resposta negativa, no entanto, lhe rendeu o insight 
para um novo modelo de negócios.
Com um diploma em Engenharia Financeira pela 
Universidade de Princeton e prestes a entrar em 
uma das mais prestigiadas escolas de negócios 
norteamericanas, Louis sabia que seu currículo 
lhe garantia uma alta probabilidade de devolver o 
dinheiro que estava pedindo. 
Os bancos, porém, não estavam muito interessados 
em seu perfil no LinkedIn.
A experiência o levou a criar a Earnest, startup que 
oferece pequenos empréstimos individuais com 
base em fatores de mérito e apostas no potencial 
profissional dos jovens que precisam do dinheiro. 
A Earnest não pode ser considerada propriamente 
um banco e em nada se parece com um. 
O escritório abriga uma equipe pequena e segue 
uma combinação de arquitetura e design casuais, 
típicos de startups, bastante diferente das grandes 
instituições em que Louis havia trabalhado antes de 
empreender, como Morgan Stanley, Deutsche Bank 
e o hoje inexistente Lehman Brothers.
É um alerta para instituições tradicionais como essas, 
que agora reagem mundo afora investindo em 
setores de inovação para aprimorar seus serviços. 
Não deixa de ser uma estratégia de sobrevivência. 
Afinal, depois de tanto tempo sem alternativas, um 
número cada vez maior de clientes sabe que é 
possível interagir com o setor financeiro de outra 
maneira – e ninguém vai voltar atrás.
6
 Voltar para o índice A DEMOCRATIZAÇÃO DO SETOR FINANCEIRO
OS DESAFIOS DAS NOVAS EMPRESAS 
DO MERCADO FINANCEIRO
No setor financeiro, não basta inovar: é preciso sobreviver e continuar crescendo.
Saiba quais são os maiores obstáculos.
Baseado em sua experiência como gerente de 
aceleração da Artemísia, Renan da Costa explica 
que um ponto crucial na trajetória das fintechs é 
delinear a estratégia de entrada no mercado. 
“Todo mundo é relativamente novo e forte, mas 
precisa atrair o usuário, ter um modelo que pare em 
pé e que possa escalar”, diz. “É preciso gerar uma 
proposta de valor muito clara e isso é difícil.”
David Vélez, cofundador e CEO do Nubank, 
concorda. “A grande dificuldade é fazer o salto 
de algumas centenas de clientes para milhões. É a 
parte mais difícil para qualquer fintech do mundo.”
A regulamentação e burocracia brasileiras também 
são citadas como ponto de atenção. É preciso estar 
de acordo com as regras promulgadas pelo Banco 
Central e, não raro, ir lá explicar seu negócio para 
evitar problemas futuros. 
“Você está ‘preso’ a algumas regras e precisa passar 
por elas para dar segurança ao cliente final”, explica 
Alan Chusid, à frente da área de business do Banco 
Neon, uma joint venture entre o Banco Pottencial e a 
fintech Contro.ly, que surgiu em 2014.
Hoje, o banco digital – liderado por Pedro Conrade, 
que tem 25 anos – atende 250 mil clientes e tem 
cerca de 150 funcionários.
Através de um cartão de débito, são oferecidos 
muitos dos mesmos serviços de um banco 
tradicional, exceto crédito: é possível fazer saques, 
transferências, pagamentos de contas e compras 
nacionais e internacionais na função débito. 
A responsabilidade é levada a sério. “Não é uma 
brincadeira. Se por acaso nós quebrarmos, o 
dinheiro não pode desaparecer”, resume Alan.
O governo, que vê com bons olhos a competição 
no setor financeiro, faz mais que só demandar 
garantias e explicações. 
7
Em 2010, por exemplo, o Banco Central eliminou a 
exclusividade das máquinas de cartão de crédito, 
até então um duopólio, e passou a permitir que um 
único aparelho passasse todas as bandeiras.
Perguntar se um estabelecimento aceitava 
Mastercard ou Visa (ou, em raríssimos casos, 
American Express) parece coisa de um passado 
distante, mas não é – e nenhum cliente ou lojista, seja 
num restaurante de luxo ou ao lado de um isopor 
com bebidas geladas na praia, sente falta disso.
Como já explicamos acima, foi essa nova porta 
aberta que a Stone aproveitou para entrar no 
mercado de adquirentes de meios de pagamento.
Conseguir a certificação para usar as bandeiras Visa 
e Mastercard no país foi um processo complexo, 
mas rápido. Em poucos meses, a empresa já estava 
credenciando lojistas e processando e autorizando 
transações.
Hoje a quarta maior empresa de seu segmento – 
posição que passou a ocupar após a aquisição da 
operação brasileira da Elavon do Brasil, em 2016, 
que movimentava mais de R$ 1 trilhão por ano –, 
consegue suportar 10 mil transações por segundo.
É um feito que exige muito esforço, capital 
tecnológico e talento humano. 
“O primeiro desafio foi o regulatório. Tivemos que 
fazer diversos estudos para mostrar que destravar a 
agenda competitiva e quebrar alguns contratos de 
exclusividade entre os agentes desse mercado era 
fundamental para criar um ambiente mais justo para 
o comércio”, lembra André Street.
É um ponto importante para ele que, mesmo depois 
do sucesso, os empreendedores se mantenham 
atento à regulação de bancos e instituições 
financeiras para garantir que esse ambiente 
competitivo se mantenha. 
Assim, outros empreendedores também terão 
chances de criar soluções mais modernas e 
impulsionarão o segmento.
“O segundo foi concatenar – como em qualquer 
empreendimento de grande porte – as melhores 
pessoas, melhores investidores e efetivamente 
construir uma tecnologia e um produto úteis e que 
sejam escaláveis para o Brasil inteiro”, continua.
E se no papel parece que a progressão é simples, 
André faz questão de lembrar que não acontece do 
dia para a noite: é preciso ter foco e paciência.
Os veteranos da companhia gostam de lembrar do 
primeiro escritório, uma pequena sala em São Paulo com 
cadeiras de plástico, um ar-condicionado que pingava 
água no chão e lâmpadas que pendiam do teto. 
No começo, eram sete pessoas. Atualmente, são 
mais de 1600 entre escritórios no Rio de Janeiro 
e São Paulo e em diversas cidades brasileiras. Os 
planos são de expansão para outras regiões, tanto 
dentro quanto fora do Brasil.
“Os desafios são muitos e das mais variadas 
naturezas, mas seu denominador comum certamente 
é embarcar gente boa e comprometida com o 
propósito”, resume Bernardo Piquet, que trabalha na 
área de Relações Institucionais da Stone. 
Quem entra em uma startup, por sua natureza 
horizontal e dinâmica, encontra oportunidades 
constantes para assumir novas responsabilidades. 
Aproveitar tais chances é um traço que une quem 
tem uma carreira bem-sucedida no setor, que exige 
adaptação rápida e está sempre aberto a novos talentos.
“Falando em termos genérico, o mercado 
é naturalmente capaz de acolher diferentes 
habilidades e competências”, fala Bernardo, 
destacando os diferentes backgrounds atualmente 
representados na equipe nas mais diversas funções.
8
 Voltar para o índice OS DESAFIOS DAS NOVAS EMPRESAS
DO MERCADO FINANCEIRO
Manter o ambiente de uma startup numa empresa 
em expansão é algo que André Street cita entre os 
próximos desafios da Stone, assim como manter-se 
fiel à cultura corporativa mesmo com uma equipe 
de milhares de pessoas – “Não adianta pendurar 
na parede um quadro de princípios e não ser o 
exemplo” – e uma abertura para que se sintam à 
vontade para criar novidades internamente.
“Nós temos que nos tornar uma plataforma em 
que jovens empreendam aqui dentro e criem as 
soluções do futuro para nosso clientes”, encerra.
Ou seja, quem quiser trabalhar nessas novas empresas 
do setor financeiro não precisa, necessariamente, ser 
um economista ou desenvolvedor – mas precisa estar 
disposto a se desafiarcom frequência e sair da zona 
de conforto para se destacar.
A questão do funding
De maneira geral, o governo parece caminhar para 
facilitar o caminho das fintechs, e os investidores 
já perceberam esse quadro positivo. “Funding não 
é problema, porque está todo mundo querendo 
investir nelas”, brinca Renan. 
O FintechLab estima que, em 2016, as fintechs 
brasileiras tenham captado cerca de R$ 1 bilhão. Das 
177 entrevistadas pela organização, cerca de 120 
disseram que já tinham conseguido captar recursos – 
e 24 delas captaram mais de R$ 20 milhões. 
“Quando conversávamos com investidores, nosso 
pitch era só o seguinte: somos a primeira fintech de 
peer-2-peer lending do Brasil”, diz Paulo David, da 
Biva, cujo modelo de negócios já explicamos acima. 
O resumo bastou para conquistar David Vélez, 
fundador do Nubank, que se tornou sócio da 
empresa e foi seu primeiro investidor-anjo. Como 
já tinha experiência no meio, ajudou a abrir as 
portas para os jovens da nova fintech e auxiliou na 
formação do produto e do time. 
Quando a Biva já estava de pé, os fundos Vox 
Capital, Kaszek Ventures e Mipey Ventures também 
investiram na empreitada. 
A nacionalidade de cada fundo – brasileiro, 
argentino e suíço/alemão, respectivamente – 
demonstra o potencial do negócio no país.
“A oportunidade de peer-2-peer lending é bem 
grande no Brasil”, explica Vélez, que seleciona 
uma ou duas fintechs por ano para investir como 
forma de fortalecer o setor. “Gosto de participar da 
criação desse ecossistema no país.”
Quando o próprio David começou o Nubank, em 
idos de 2013, o cenário era outro. 
Ele lembra que, quando apresentou sua ideia 
de uma nova emissora de cartão de crédito a 
investidores brasileiros, não conseguiu nada. 
Precisou buscar capital em fundos de investimento 
no Vale do Silício.
“Eles estão muito mais acostumados com isso 
por lá, então estudaram o mercado e decidiram 
investir”, explica.
O mercado era mesmo propício. “Fiquei 
impressionado com a quantidade de tarifas e juros 
pagos pelos clientes brasileiros. Não há outro país no 
mundo com taxas tão altas”, lembra ele, que nasceu na 
Colômbia e se formou na Stanford University, nos EUA. 
Outro ponto importante na hora de decidir pela 
área foi o crescimento do acesso à internet e das 
compras online, que frequentemente exigem um 
cartão de crédito.
O empresário vislumbrou então a oportunidade de 
criar uma das primeiras fintechs do Brasil: uma nova 
instituição financeira, que utilizasse canais 100% 
digitais e focasse em oferecer a melhor experiência 
possível para o cliente. 
9
 Voltar para o índice OS DESAFIOS DAS NOVAS EMPRESAS
DO MERCADO FINANCEIRO
Obviamente, deu certo. Embora números exatos não 
sejam divulgados, hoje há centenas de milhares de 
usuários pelo Brasil – e três milhões de outros estão 
na fila de espera.
Construindo do zero
Quando basta um clique para obter um produto ou 
serviço impecável, inovar parece fácil.
Mas por trás de tantas plataformas, aplicativos, 
soluções de pagamento, modelos de análise 
de crédito e de relacionamento com clientes 
e infindáveis séries de algoritmos complexos, 
estão muitas tecnologias e estruturas novas, 
frequentemente construídas do zero.
Por isso, atrair talentos é fundamental.
“O primeiro desafio foi superar a percepção de 
que seria impossível e que os bancos aqui iriam me 
matar”, lembra Sergio Furio, CEO da Creditas. “O 
segundo, logo no começo, foi encontrar talento. 
Éramos apenas um gringo e quatro amigos numa 
salinha tentando fazer uma plataforma.”
Até hoje, este é um dos principais gargalos da 
startup, que dobrou de tamanho desde o início de 
2017. “Queremos ter as melhores pessoas”, resume. 
Furio também destaca a importância de equilibrar 
a equipe de uma fintech com indivíduos que 
tenham experiência na indústria e saibam como as 
coisas funcionam no país e jovens que trazem um 
olhar novo e desafiam crenças passadas – que 
representam desafios diferentes de recrutamento.
Há também a questão das diferentes especialidades 
necessárias num negócio de tecnologia. 
Para David, que acabou recrutando uma parcela 
de estrangeiros para o Nubank, encontrar bons 
desenvolvedores e cientistas de dados ainda é um 
grande desafio no Brasil. A equipe heterogênea que 
montou, no entanto, é motivo de orgulho pessoal.
“Temos uma cultura de pouco ego e poucos títulos, 
em que não importa se a melhor ideia é do vice-
presidente ou do analista”, diz ele. “As pessoas 
trabalham duro e querem fazer parte de um projeto 
que, como alternativa viável no setor financeiro, tem 
grande potencial na sociedade brasileira.”
Começar do zero também tem suas vantagens. “Uma 
startup não tem medo de ser disruptiva”, resume ele. 
“É como uma página em branco. Especialmente 
numa fintech, em que a tecnologia tem um papel 
muito importante, podemos ver o que existe no 
mundo para montar nosso produto enquanto 
bancos utilizam tecnologia dos anos 1970.”
Na Stone, gente (e, consequentemente, 
recrutamento) também é assunto prioritário. Hoje, a 
empresa realiza um programa análogo aos trainees 
chamado Recruta Stone, realizado inteiramente 
dentro de casa e sob medida para as necessidades 
de perfil da empresa. 
Para se inscrever, por exemplo, basta ser maior de 
idade. Não há pré-requisitos de experiência ou cursos 
de graduação. O processo seletivo, porém, tem 
etapas inimagináveis em outros programas e busca 
inclusive referências no mundo militar. O que há é um 
foco intenso nos valores e na cultura da empresa, o 
que torna o fit cultural o aspecto mais fundamental.
Futuro do mercado
Não é só a boa recepção do mercado que 
impressiona: a idade média dos funcionários de 
fintechs, na faixa dos 26 anos, é marcante. 
“Quando paramos para ver, é até um pouco difícil 
acreditar que estamos construindo um banco”, 
confessa Alan Chusid, do Neon. “Mas é tanta 
coisa para fazer que não nos damos ao luxo de 
ficar olhando.”
Para Paulo David, da Biva, o resultado do trabalho 
também é uma motivação forte. 
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DO MERCADO FINANCEIRO
“Adoramos as histórias dos empreendedores e, vira e 
mexe, somos convidados a conhecer os negócios”, 
conta. “Emprestamos para uma escola para crianças 
superdotadas, por exemplo, e fizemos uma visita no 
dia da feira de robótica financiada pelo empréstimo. 
Gostamos muito dessa proximidade.”
Para Alexandre Neuding, que começou como 
estagiário no início da Stone e hoje é sócio, esse 
orgulho tem inclusive endereço. 
Trata-se do primeiro escritório da empresa, um 
pequeno espaço na Avenida Faria Lima onde 
cabiam menos de dez pessoas trabalhando e que 
ele visitou recentemente com parte do time.
“Mesmo sendo um grupo pequeno, não havia 
espaço para todos se sentarem”, diverte-se. 
“Para aquelas pessoas, fez toda a diferença estar 
fisicamente ali: elas conseguiram entender a 
dimensão do esforço que empregamos para trazer a 
companhia ao patamar em que ela está atualmente.”
Além do setor em que atuam, as fintechs contatadas 
pelo Na Prática têm outra coisa em comum: todas 
estão em expansão – e aceitando currículos. 
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DO MERCADO FINANCEIRO
COMO É TRABALHAR EM FINTECHS 
BRASILEIRAS
Ambientes oferecem estrutura horizontal, alto grau de autonomia e responsabilidade. Saiba 
que perfil startups como Stone, Biva, Neon, F(x), Nubank, Creditas e GuiaBolso procuram.
De acordo com dados do FintechLab, que 
entrevistou 177 fintechs, as operações ainda são 
enxutas: 10% delas têm mais de 50 funcionários e 
apenas 7% têm mais de 100 colaboradores.
No caso da Stone, que começou com 7 pessoas 
e já planeja adicionar outras mil à equipe atual de 
1600, o crescimento veio atrelado ao fortefoco 
no comprometimento com os valores e cultura da 
empresa.
Foi essa afinidade que rendeu a Gustavo Botelho, 
jovem de 23 anos que trabalha como vendedor 
externo, seu primeiro emprego formal.
Apesar de apresentar um currículo com apenas quatro 
linhas – “O Pacote Office intermediário era o atributo 
de maior destaque”, diverte-se –, foi escolhido para 
participar do programa Recruta Stone.
 Começou na empresa em janeiro de 2015 e se 
apaixonou pela área de vendas e de atendimento ao 
cliente. Ao longo do tempo, também foi angariando 
novas responsabilidades e desafios.
No primeiro ano, Gustavo ajudou a equipe de vendas 
carioca a entregar resultados e formar novos líderes. 
No seguinte, já tocava a operação estadual do Rio de 
Janeiro e parte da operação mineira. 
E em agosto de 2017, fez as malas e se mudou para 
outra região para ajudar na expansão da Stone 
pelo país.
“Aqui, pela grande autonomia, responsabilidade 
e estrutura horizontal, todos são 
empreendedores”, afirma.
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“Aqui, pela 
grande autonomia, 
responsabilidade e 
estrutura horizontal, 
todos são 
empreendedores”, 
afirma.
Gustavo Botelho, recruta Stone
É um traço comum entre startups e que permite 
um crescimento acelerado de carreira, além de 
mobilidade interna e muitas oportunidades de 
experimentação profissional. 
Alexandre Neuding, que é sócio da Stone aos 
27 anos, também começou bastante novo, como 
estagiário, em idos de 2012, quando estudava 
Administração na Fundação Getúlio Vargas (FGV). 
Hoje, olhando em retrospecto, ele entende porque 
oferecer desafios aos jovens é tão importantes 
em empresas inovadoras: eles trazem uma imensa 
vontade de fazer diferente.
“Acreditamos no jovem como motivador de grandes 
mudanças”, fala, citando que na companhia não 
há apego a definições de área ou títulos, o que 
permite que colaboradores assumam novos 
desafios constantemente. “Damos muita liberdade 
aos novos talentos e confiamos neles para que 
façam acontecer.”
Naturalmente, com tanta liberdade vem uma série 
de aprendizados, especialmente quando o negócio 
escala e a quantidade de tarefas também.
“O início da Stone foi marcado por uma fase 
onde alguns poucos ‘heróis’ faziam entregas 
excepcionais. Mas conforme a empresa cresce, fica 
claro que eles não conseguem dar conta de tudo 
e falham repetidamente sem trabalho em equipe”, 
lembra o sócio. 
“Falhei algumas vezes ao tentar abraçar desafios 
sozinho até aprender essa lição simples”, continua. 
“O papel do líder passa então a ser encontrar e 
atrair pessoas melhores que você e conseguir fazer 
com que todos busquem um propósito comum.”
É aí, na hora de recrutar novos talentos para não 
perder o momentum do crescimento, que muitas 
fintechs enfrentam seu maior desafio: encontrar as 
pessoas certas, que compartilhem sua mentalidade 
e seu objetivo. 
Para quem entra, também é muito importante estar 
alinhado com o perfil e os valores da empresa. 
Numa startup nascente ou que já está escalando, 
trabalho no fim de semana ou responsabilidades 
repentinas não são raros e todos usam muitos 
chapéus diferentes. 
Nesses momentos, estar realmente motivado para 
trabalhar faz toda a diferença.
Estrutura horizontal
Eduardo Duarte e Araújo, que trabalha como analista 
de experiência do cliente do Nubank, chegou ao 
mundo das fintechs por acaso. 
Formado em Relações Públicas, ele já tinha seu 
cartão de crédito roxo quando visitou a empresa, 
viajando desde a cidade mineira de Salinas até São 
Paulo, onde fica o escritório. O motivo da visita? Ele 
atuava como facilitador do então Imersão Marketing, 
curso de carreira do Na Prática que hoje se chama 
Carreira Na Prática Gestão Empresarial, e cuja turma 
tinha uma visita agendada no Nubank.
Ao mesmo tempo, buscava um novo emprego que 
o inspirasse. Gostou tanto do que ouviu durante a 
visita que, em janeiro de 2016, se mudou para São 
Paulo para trabalhar no local. 
O ambiente é típico de uma startup: informal, 
horizontalizado, com foco na entrega de resultados 
e em instigar o sentimento de dono em cada um. 
“Não temos as divisões tradicionais de 
departamentos e até evitamos ter”, continua. 
“Tem engenheiro fazendo o mesmo serviço 
que eu, físico trabalhando com design. O mais 
importante é ser bom naquilo que você faz, não 
necessariamente sua formação.”
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FINTECHS BRASILEIRAS
 “Tem engenheiro 
fazendo o mesmo 
serviço que eu, 
físico trabalhando 
com design. O 
mais importante é 
ser bom naquilo 
que você faz, não 
necessariamente 
sua formação.”
Eduardo Duarte e Araújo,
analista do Nubank
“Numa startup, tudo é diferente”, fala Alan Chusid, 
do Banco Neon. “Nas outras empresas em que 
trabalhei, você fica muito no seu quadrado. Aqui, 
tem suas obrigações e também precisa pensar no 
que pode fazer para melhorar resultados, diminuir 
custos, ter vantagem competitiva. É uma vida intensa 
de aprendizado holístico. Se você não prestar 
atenção no todo, não vai dar certo.”
Para ele, as fintechs já provaram que suas 
estruturas funcionam. 
“É possível baratear os custos de qualquer 
transação financeira e deixar tudo mais rápido”, 
explica. “Pelo celular, você pode tomar crédito na 
Biva, pedir seu cartão de crédito no Nubank ou 
abrir sua conta corrente no Neon ao responder 
três perguntas. Isso gera muito valor que, atrelado 
aos benefícios que cada uma busca entregar, é a 
receita para o sucesso.”
O tamanho reduzido das equipes intensifica a 
jornada de trabalho. 
Faz tempo que sábado virou dia útil no Banco Neon, 
que fica na região de Pinheiros, em São Paulo, e não 
emprega horário de entrada ou saída. “O que existe 
é comprometimento e pressão, então é preciso 
estar tranquilo com isso”, esclarece Alan.
A reunião semanal que reúne os funcionários é 
quando a horizontalidade se faz mais presente. 
“Todos ouvem, dão opiniões e sabem de tudo. 
Às vezes a solução de marketing sai da cabeça 
do programador, por exemplo. É um processo 
totalmente aberto”, diz Alan. “São muito motivados e 
esse é o grande ponto.”
Perfil profissional
A horizontalidade também é igualmente importante 
para Paulo David, que trabalha com outras 27 
pessoas na Biva. 
“No fim do dia, gostamos muito do que fazemos 
e temos bastante liberdade e autonomia”, explica. 
Ele aponta dois perfis de funcionários: o nerd 
de computador e o apaixonado por mercado 
financeiro. Em comum, ambos têm a vontade de 
romper com o que existe.
“Temos três princípios na hora de contratar: a 
pessoa precisa ser boa tecnicamente, transparente 
e estar alinhada com nossa cultura”, explica. “Como 
compramos brigas com muitos caras grandes e 
oferecemos palco aos colegas, não dá para ser 
alguém conformado.”
Para Thiago Alvarez, cofundador e presidente do 
GuiaBolso, uma fintech de controle financeiro 
pessoal criada em 2012 e que já tem mais de 
3 milhões de usuários pelo país, não há perfil 
específico entre seus 130 funcionários.
“Mas sempre buscamos alguns pontos em comum, 
como funcionários empreendedores e que se 
sintam donos dos projetos que estão tocando”, fala 
ele. “É muito importante que todos aqui entendam o 
impacto do nosso trabalho e tomem decisões para 
sempre melhorar a vida do usuário.”
Dan Cohen, que começou sozinho, pensa de 
maneira similar. 
Ele trouxe seus mais de 15 anos de vivência como 
investidor e criou seu próprio algoritmo de match, 
que atesta a compatibilidade entre cliente e 
linha de crédito, para criar a F(x) – lê-se éfe de 
xis –, uma plataforma que busca democratizar e 
estruturar o acesso ao crédito para pequenas e 
médias empresas.
A visão da F(x) é mostrar ao empreendedor qual é 
o melhor empréstimo que poderia fazer e com os 
juros mais baixos. 
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 Voltar para o índice COMO É TRABALHAREM
FINTECHS BRASILEIRAS
Para isso, reúne em uma só plataforma as ofertas 
de todo tipo de crédito de diferentes bancos – 
principalmente os de médio porte, que muita gente 
nem conhece –, organizando-as de maneira que 
cliente e credor possam se encontrar.
A ideia veio de observação natural. “Reparei que 
todas as empresas trabalhavam com quatro ou 
cinco bancos e essa falta de acesso tornava o 
crédito curto, caro e pouco otimizável”, explica.
Dan foi afinando seu próprio algoritmo, que hoje 
está na versão 371, e a proposta de construir “uma 
espécie de Amazon” para ofertar crédito no país. 
A ideia era ter um sistema que faria o trabalho bruto de 
analisar as informações financeiras do futuro tomador 
e encaminhá-lo para a instituição mais adequada. 
Assim, os bancos economizam tempo e dinheiro na 
prospecção de clientes e o empreendedor resolve 
seu problema com mais agilidade, além de ter a 
garantia de estar fazendo o melhor negócio. 
Aqui vale notar, novamente, como as inovações que 
têm surgido no mundo financeiro são capazes de 
dar novo fôlego ao empreendedorismo brasileiro. 
Com menos de um ano de funcionamento, 
a startup acumula mais de R$ 500 milhões 
em ofertas de créditos e já tem mais de 100 
instituições participantes. 
“Os bancos me diziam: ‘Se eu puder substituir um 
gerente pela sua plataforma, quero participar’”, 
lembra ele. “E a aderência dos clientes acontece 
porque resolvemos um problema gigantesco. Afinal, 
você prefere falar com cinco instituições ou com 
65? É o tipo de inovação que resolve um problema.”
Dan lidera uma equipe enxuta – são 20 funcionários 
–, que compensa com motivação e autonomia o 
número pequeno. 
A razão está na natureza inovadora do próprio 
universo das startups.
“Quem quer ver inovação no mercado financeiro 
acaba migrando para fintechs”, diz. “E aqui não 
tem muita gente para supervisionar, então a pessoa 
precisa saber como tocar um projeto sozinho. Por 
isso gosto de gente que corre atrás e pensa fora 
da caixa. Caso contrário, você acaba repetindo o 
modelo tradicional.”
Escritórios
As novas startups do setor financeiro também 
costumam se distanciar do modelo tradicional no 
que diz respeito à ambiente de trabalho. Embora a 
carga horária também seja pesada, como é comum 
em bancos e fundos de investimento, a estrutura 
física do escritório das fintechs costuma ser bem 
menos formal, refletindo também o próprio estilo 
de trabalho. 
“Poderíamos ser engravatados na Avenida Faria 
Lima, mas estamos no Brooklin numa casa com 
piscina”, comenta Paulo David, da Biva, fazendo 
referência ao bairro paulista marcado por casas e 
com poucos prédios. 
Ternos e roupas sociais completas também 
costumam ser dispensáveis, e, em muitos casos, 
quem dá o tom dá (in)formalidade da vestimenta é o 
próprio funcionário. 
O Nubank, por exemplo, mudou recentemente sua 
sede para um prédio na região de Pinheiros, em São 
Paulo, que tem cachorros, videogame e biblioteca. 
O primeiro escritório da empresa, assim como a 
Biva, ficava em uma casinha no bairro do Brooklin. 
Os escritórios da Stone também são marcados por 
espaços integrados, que estimulam a interação entre 
os funcionários, além de salas nomeadas de acordo 
com valores e empreendedores significativos para 
a empresa e paredes estampadas com frases que 
mostram a cultura de trabalho que se quer construir lá. 
Ao entrar nesses prédios, fica claro que a proposta 
é fazer diferente. A nova aparência, no entanto, é 
reflexo de uma mudança mais profunda na própria 
forma de se encarar carreira. 
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FINTECHS BRASILEIRAS
 “E aqui não tem muita gente 
para supervisionar, então a 
pessoa precisa saber como 
tocar um projeto sozinho. Por 
isso gosto de gente que corre 
atrás e pensa fora da caixa. 
Caso contrário, você acaba 
repetindo o modelo tradicional.”
“Poderíamos ser engravatados 
na Avenida Faria Lima, mas 
estamos no Brooklin numa 
casa com piscina”,
Paulo David, da Biva
Dan Cohen, criador da F(x)
ONDE ESTÃO AS OPORTUNIDADES, 
SEGUNDO GRANDES EMPREENDEDORES 
DO SETOR FINANCEIRO
André Street (da Stone Pagamentos), Cristina Junqueira (Nubank), Sergio Furio (Creditas) e 
Thiago Alvarez (GuiaBolso) dão seus conselhos
Se por um lado uma crise econômica não é boa para 
ninguém, por outro costuma ser terreno fértil para 
ideias inovadoras.
Conforme os problemas se intensificam e há menos 
recursos disponíveis no mercado, as soluções 
demandam mais criatividade e empreendedores 
dispostos a arriscar têm espaço.
Foi o que aconteceu nos EUA em idos de 2008. 
Na esteira da pior crise da história, as instituições 
financeiras subiram as taxas de juros e reduziram a 
taxa de aprovação de empréstimos. 
Sentindo uma oportunidade, as primeiras plataformas 
digitais de crédito surgiram no país para atender as 
demandas de quem estava endividado e dava de 
cara com a porta do banco.
Foi uma sacada parecida que teve Sergio Furio, o 
CEO e fundador da Creditas, a plataforma digital de 
crédito criada em 2012, que já mencionamos nesse 
material e tem uma carteira ativa de R$ 200 milhões.
“Havia muita gente com boa qualidade de crédito 
no mercado e que não tinha resposta justa por parte 
das instituições tradicionais”, explica. “Nascemos e 
crescemos com a crise: criar empresas nessa época 
é a melhor receita para o sucesso.”
No caso da GuiaBolso, a fintech que oferece um 
app gratuito de controle financeiro pessoal para três 
milhões de brasileiros, o saldo também está sendo 
positivo. A ideia surgiu exatamente da observação do 
cenário brasileiro. 
Para os empreendedores Benjamin Gleason e Thiago 
Alvarez, que já tinham experiência no mercado 
financeiro, estava claro que havia muito espaço para 
melhorar os serviços financeiros no país. 
19
Além disso, a população de um país acostumado 
com crises e histórico de hiperinflação precisava 
(e queria) ter maior controle sobre suas finanças, 
mas não estava interessada em criar suas próprias 
planilhas ou algo do tipo – um trabalho que o app, 
capaz de se conectar à conta bancária e às faturas 
de cartão, por exemplo, faz sozinho.
Até hoje, a GuiaBolso já captou mais de R$ 90 
milhões em investimentos e se manteve de olho no 
comportamento do brasileiro. 
A atenção valeu a pena e já rendeu outro negócio, 
mais recente: a plataforma de crédito pessoal online 
Just, de 2016, que recentemente captou R$ 120 
milhões para expandir sua oferta de crédito.
Ao identificar que havia um problema recorrente 
entre usuários em relação ao uso de cartões de 
crédito e cheques especiais, a empresa decidiu 
lançar um serviço para atendê-los, que funciona 
dentro e fora do app. 
O que essas ideias têm em comum? Todas tratam de 
problemas reais dos brasileiros. É a “dor” do cliente, 
no jargão de empreendedores e investidores.
É um consenso entre quem atua no setor: há muito 
espaço no mercado para aqueles que se dispõem 
a consertar um problema que existe de verdade. E é 
durante épocas de crises, como a atual, que esses 
problemas se fazem sentir mais. 
“O tamanho do sistema financeiro brasileiro e as 
ineficiências do modelo tornam o mercado brasileiro 
naturalmente muito promissor para fintechs”, resume 
Thiago Alvarez. “Há muito espaço para criar e 
melhorar experiências.”
Também é preciso estar atento para ocupar um novo 
espaço assim que ele surgir. 
A Stone aproveitou a deixa que surgiu quando terminou 
a exclusividade das máquinas de cartão de crédito, 
dominadas pela Mastercard ou pela Visa até 2010.
Para a equipe do empreendedor André Street, 
aquele era o momento certo para pensar no mercado 
de adquirentes e oferecer sua própria máquina, que 
aceita diversas bandeiras, diretamente aos clientes.
Não era só uma oportunidade no papel, masa já 
famosa dor do cliente que se fazia clara. 
Nesse caso, eram os empreendedores e lojistas que 
se viam presos entre empresas que não ofereciam 
as melhores soluções possíveis e tinham um 
atendimento aquém do esperado. 
Munidos de uma missão clara – equilibrar a relação 
entre lojistas e bancos, historicamente desequilibrada 
para o lado dos grandes bancos –, a equipe criou 
um produto aliando alta tecnologia, preço acessível e 
foco no relacionamento com cliente. 
Os primeiros meses foram de estudo e batalha 
regulatória. Hoje, cerca de cinco anos depois dos 
primeiros passos, a importância de entender e manter 
o terreno evoluindo no país – o que é bom para 
todos – ainda está muito presente. 
“O que mais me surpreende é a real abertura 
no ambiente regulatório para a criação de 
novas fintechs, o que é muito positivo”, fala 
Street. “Um bom ecossistema depende de um 
cenário regulatório favorável para competição e, 
naturalmente, de bons exemplos de novas empresas 
que deram e dão certo. Isso atrai investidores que 
retroalimentam o sistema.”
Para André, empreendimentos de qualquer porte 
precisam encontrar um jeito de unir as melhores 
pessoas e os melhores investidores para impulsionar 
um produto ou tecnologia realmente útil e que tenha 
capacidade de escalar.
“Isso não se faz do dia para noite”, garante. “É preciso 
ter um pouco de paciência, uma dose grande de 
paranóia e um monte de gente melhor que você para 
fazer essa obra faraônica acontecer.”
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EMPREENDEDORES DO SETOR FINANCEIRO
E quando se trata de ter aquela sacada genial, Cristina 
Junqueira, cofundadora e VP de branding e business 
development do Nubank, resume a situação da 
seguinte maneira: “Sobra dinheiro para projeto bom. É 
questão de encontrar as possibilidades certas.”
“Dói muito para alguém? Então resolva”, continua ela. 
“Lembre-se de trabalhar para seu cliente. Brasileiros 
são tão maltratados que há muitas oportunidades, 
então encontre uma e vá atrás.”
Essas possibilidades, continuou, estão ao redor de 
todo cidadão brasileiro, todos os dias. Pense em suas 
próprias interações com o setor financeiro: o que é 
ruim e poderia melhorar? 
O Nubank surgiu das experiências ruins de seus 
fundadores com bancos e das tarifas e juros altíssimos 
cobrados por cartões de crédito no país. “Pensamos: 
não é possível que inteligência e design não consigam 
resolver esse problema”, ri Junqueira.
Depois de investir em problemas que realmente 
existem, outra prioridade é deixar a proposta de valor 
muito clara para potenciais clientes.
Um encontro recente provou de novo esse ponto para 
Sergio Furio.
Num jantar em que apareceu com a camisa de sua 
startup, o Creditas, o empreendedor chamou a 
atenção de um garçom. Explicou o propósito do seu 
negócio – o pitch é rápido: “Reduzir a taxa de juros 
do brasileiro” – e o jovem logo pediu um cartão. 
“Nós investimos muito em educação de clientes. Se 
o brasileiro não entende como funciona um produto 
financeiro, é impossível que contrate um”, avisa Furio.
Além disso, o espanhol sugere empregar uma 
estratégia de nicho: atacar segmentos específicos em 
mercados grandes. “Escolha um cluster de clientes 
e entregue exatamente o que ele está buscando. Se 
você for líder de seu segmento, tudo vai a seu favor.”
Outro ponto em que todos concordam é uma 
característica fundamental para quem quer 
empreender de maneira geral, mas que ganha 
contornos ainda mais fortes no setor financeiro: 
resiliência. 
“São dez erros para cada acerto e isso vai 
acontecer o tempo todo”, reforça Furio. “Resiliência 
é a melhor qualidade que podemos ter.”
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 Voltar para o índice ONDE ESTÃO AS OPORTUNIDADES, SEGUNDO GRANDES 
EMPREENDEDORES DO SETOR FINANCEIRO
“Dói muito para 
alguém? Então 
resolva”, continua 
ela. “Lembre-se de 
trabalhar para seu 
cliente. Brasileiros 
são tão maltratados 
que há muitas 
oportunidades, 
então encontre
uma e vá atrás.”
 Cristina Junqueira, cofundadora e VP de branding
e business development do Nubank
O QUE INVESTIDORES PROCURAM?
Rodrigo de Campos Vieira, head da seção no escritório Tozzini Freire, explica o que seu 
cotidiano exige e como a firma mudou ao ter contato com o empreendedorismo
Fundo Estudar Alumni Partners
Renato Toledo é sócio-fundador da RCB 
Investimentos, uma empresa especializada na 
gestão e aquisição de créditos e recebíveis na 
América Latina. É também membro da Líderes 
Estudar, rede de jovens de alto potencial da 
Fundação Estudar. 
Recentemente, a rede criou o Fundação Estudar 
Alumni Partners (FEAP), um fundo de investimento 
anjo tocado por Renato e cerca de 60 outros 
Líderes Estudar, para investir em empresas em 
fase inicial (early stage). 
O objetivo do fundo – um veículo de investimento 
com capital da própria comunidade – é triplo: 
engajar diversas gerações da rede Estudar, 
contribuir para alavancar novos projetos e investir 
em gente boa, revertendo parte dos ganhos para 
a organização.
Seu comitê de Investimentos tem cinco 
integrantes: dois com larga experiência no 
mercado financeiro, um empresário e dois jovens 
empreendedores. “Na nossa visão, investimentos 
em early stage precisam ser baseados em dois 
grandes pontos: potencial do mercado e time de 
execução”, resume Renato.
Já começaram a investir ou prospectar 
investimentos?
RT: Atualmente o foco principal tem sido a 
estruturação do veículo. Acreditamos que a estrutura 
estará finalizada até o final do 3º trimestre de 2017. 
Porém, mesmo não colocando prioridade na 
prospecção neste momento, avaliamos algumas 
empresas e já detectamos um primeiro investimento. 
Como ainda não foi realizado, prefiro não divulgar. 
Mas é uma empresa com um time de primeira linha, 
focada em um dos principais setores da economia 
brasileira e baseada em muita tecnologia analítica.
23
O que buscam em uma startup nesse
momento inicial?
RT: Buscamos um time de primeira linha, com um 
projeto inserido num mercado grande e que consiga, 
através de tecnologia, inovação e execução, criar 
vantagens competitivas no longo prazo.
Têm um perfil de empreendedor em mente?
RT: Acho bastante difícil traçar um perfil específico, 
mas existem algumas competências que o 
empreendedor precisa ter. Na minha visão, as 
principais são resiliência (sempre será mais difícil do 
que o planejado), adaptabilidade (haverá momentos 
em que será necessário encontrar novas formas de 
chegar ao destino) e foco.
Vale ressaltar que empreender não é para qualquer 
um e que vão se sobressair no longo prazo aqueles 
que “enjoy the ride” [curtirem a jornada] ao invés 
daqueles que acreditam que o prazer estará apenas 
em alcançar o objetivo.
Pensando especificamente em fintechs, 
o que vocês avaliam? 
RT: Prefiro olhar a perspectiva de mercado. Com 
uma perspectiva macro, estamos falando de um 
mercado muito grande, com diversos nichos 
distintos e extremamente concentrado. Um exemplo: 
80% do crédito para pessoa física está concentrado 
em 5 bancos.
Porém, não podemos inferir que devido à alta 
concentração exista uma baixa competição. Os 
principais bancos têm investido um alto volume de 
recursos para se adequar às novas exigências dos 
consumidores e melhorando seus serviços.
Dado este cenário, para avaliar um investimento 
em empresas no setor financeiro em estágio inicial 
precisamos ter claro alguns pontos: se aquele 
projeto possui um nicho específico mal atendido 
pelas grandes instituições; se a necessidade de 
capital do projeto pode inviabilizar o negócio;
se a equipe de fato conseguirá entregar um serviço/
produto de melhor qualidade; e a viabilidade de ter e 
manter uma vantagem competitiva.
Em que nichos novas startups, especialmente 
fintechs, têm maischance no Brasil?
RT: Acredito que nichos mais voltados para oferta 
de serviços possam ser mais promissores do que 
oferta de capital. Por outro lado, vale lembrar que 
soluções mais integradas de serviço e capital (“one-
stop-shop”), nais quais o cliente pode resolver 
todas as suas necessidades em um único ambiente, 
tem um atrativo bastante interessante.
O que um empreendedor deve saber sobre 
como um investidor pensa?
RT: Duas coisas bem simples: nem toda boa idéia 
é um bom investimento e compreender os riscos, 
ameaças e mapear bem o que pode dar errado 
muitas vezes é mais importante do que apresentar 
todas as oportunidades.
Vox Capital
Criada em 2009, a gestora de investimentos de 
impacto Vox Capital tem R$ 30 milhões para investir 
em negócios com tecnologia inovadora nos setores 
de saúde, educação e serviços financeiros.
Onze empresas já receberam aportes, incluindo a 
Avante, uma startup de microcrédito em regiões 
brasileiras de baixa renda atualmente avaliada em 
mais de R$ 200 milhões.
“Nossa filosofia de investimento é apoiar o 
empreendedor a melhorar significativamente a vida 
das pessoas. No Brasil, empreender é a coisa mais 
difícil e divertida do mundo”, diz Gabriela Chagas, 
que trabalha no fundo há dois anos. 
A equipe conversa com cerca de 500 
empreendedores por ano, o que é apenas uma 
parcela dos que entram em contato – mas nem 
todo mundo atenta ao fato de que é um fundo de 
investimentos de impacto. 
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 Voltar para o índice O QUE INVESTIDORES PROCURAM?
“Buscamos quem vai mudar radicalmente a realidade 
brasileira e que pensam como nós e querem ser 
agentes de transformação social positiva”, resume.
Como é o processo de prospecção de 
investimentos? 
GC: Vejo os e-mails do prospeccao@voxcapital.
com.br – acredito que seja a caixa postal mais ativa 
do Brasil –, mas as indicações de outros são as que 
mais convertem. Também frequento eventos e faço 
buscas ativas no Google, que convertem pouco 
porque é difícil conseguir contato.
Acredito que trabalho de prospecção de 
investimentos é um trabalho prospecção de sócios 
e, portanto, tem esse lado de tomar um café e 
conversar durante um evento. Antes de analisar o 
negócio, temos que analisar o empreendedor.
O que avaliam em uma startup?
GC: Fazemos análise de mercado para ver é 
suficientemente grande, qual é o ticket médio que 
clientes têm que pagar e quem são os concorrentes. 
Também fazemos uma análise de gestão de pessoas 
para entender o perfil de cada um, uma análise 
financeira e outra de impacto. É um material grande 
e que devolvemos para a startup, independente da 
decisão de investir ou não.
Pensando especificamente em fintechs, algo 
muda na avaliação?
GC: Há muito controle regulatório no setor, então é 
preciso ter certeza se o negócio pode existir ou não 
e verificar claramente se gera um impacto social.
A Vox Capital tem um perfil de empreendedor 
em mente?
GC: Pensamos em um empreendedor que vai abrir 
mão de participação para os funcionários através 
de stock options, que tenha um estilo de gestão 
pouco hierárquico e seja orientado a impacto. É 
alguém que entende profundamente a dor de seu 
cliente e vai pensar em todas formas de melhorar a 
vida dessa pessoa.
Acredita que fintechs estejam vivendo um 
boom no Brasil?
GC: A barreira regulatória dá um certo medo, mas 
quando você é o primeiro dá muito mais. Agora as 
pessoas tendem a arriscar mais e tem muita gente 
empreendendo. Mas para fazer uma fintech crescer 
é preciso ter bastante capital – e o mercado está 
sendo mais cauteloso.
Que mudanças viu acontecer no ecossistema 
de startups brasileiro?
GC: É um universo pequeno e todo mundo se conhece, 
mas tem mais gente de fora surgindo, incluindo grandes 
empresas que não pensavam em startups no passado. 
Também vejo muita gente do mercado tradicional 
empreendendo. Com a crise, há muita gente boa por aí 
com tempo e vontade de empreender, o que para nós 
tem sido um grande ganho.
Em que nichos fintechs têm mais chance para 
atuar no Brasil?
GC: Muitos brasileiros não têm conta bancária, a 
maioria das agências fica no Sudeste e metade das 
famílias está endividada. Alguns nem conseguem 
emprego porque têm nome sujo. A oportunidade real 
é quando você entende que precisa empreender 
para essas pessoas, que entendem o valor desse 
serviço e que têm essa dor.
Que conselhos daria para um empreendedor 
no setor financeiro?
GC: Não confunda a hora de captar investimento 
com a hora de conversar com investidores. 
Conheça-os e converse com eles sempre. Quando 
precisar captar, já conhecerá melhor o mercado e 
saberá com quem quer trabalhar. 
Então se você criou seu negócio, sente-se 
um dia e pesquise todos os fundos listados na 
Associação Brasileira de Private Equity e Venture 
Capital (ABVCAP), veja quem investe em seu setor e 
analise o portfólio de cada uma. Se investir em uma 
concorrente sua, esqueça.
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Selecione quatro ou cinco fundos, siga todos os 
principais gestores no Facebook e LinkedIn para 
acompanhá-los, frequente eventos, troque cartões e 
se apresente. Depois, você já terá um histórico com 
essas pessoas e vai poder mandar uma mensagem 
de WhatsApp ao invés de um e-mail que vai parar na 
caixa de entrada da Vox Capital.
E saiba comunicar muito bem sua ideia! Tenha um 
pitch que até sua avó consegue entender.
O que um empreendedor deve saber sobre 
como um investidor pensa?
GC: Que é ele que está na posição de poder numa 
reunião, não eu. É ele que está abrindo mão de uma 
participação acionária no negócio para que um 
investidor entre. Então é preciso ter certeza que há 
sinergia entre as duas partes e que o investidor vai 
lhe agregar valor.
É bom saber o que outras investidas acharam depois 
de cinco anos com eles ou como esse fundo 
trabalha, por exemplo. Um bom empreendedor 
escolhe o investidor que quiser e falo isso com a 
maior tranquilidade do mundo.
Redpoint e.ventures
Uma joint venture entre as gestoras de venture capital 
Redpoint e e.ventures, ambas grandes players do 
Vale do Silício, a Redpoint e.ventures tem sede em 
São Paulo e foca em startups de tecnologia em 
estágio inicial. 
Atualmente, a empresa tem US$ 130 milhões sob 
gestão e fez pouco mais de 30 investimentos no 
país, 25 deles ativos. Entre eles estão as fintechs 
Creditas, Nibo, Pismo, MinutoSeguros e Magnetis.
“Procuramos empreendedores fantásticos 
resolvendo problemas grandes”, resume Rodrigo 
Baer, venture capitalist há sete anos. 
Como é o processo de prospecção de 
investimentos?
RB: Olhamos 1500 empresas anualmente, em média, e 
nossa taxa de investimento é muito baixa: investimos 
em entre 3 e 11 empresas por ano. Normalmente, são 
investimentos que acompanham um relacionamento. 
Nesses casos, já conhecemos o empreendedor e 
acompanhamos sua evolução. É mais fácil investir em 
quem a gente já conhece.
Como um empreendedor pode entrar no seu radar?
RB: Conseguir alguém que recomende seu contato 
ajuda muito. Essa pessoa conhecerá nosso perfil, 
o que ajuda a filtrar as oportunidades. Vamos ouvir 
seu pitch e, se não estiver no estágio certo para nós, 
vamos acompanhando a evolução.
Pensando especificamente em fintechs, algo 
muda na avaliação?
RB: Quando se trata de fintechs, o componente de 
confiança e reputação [do empreendedor] é ainda 
mais forte. Como não sentamos no conselho de uma 
empresa como essa, temos que delegar e confiar 
muito na pessoa. 
A Redpoint e.ventures tem um perfil de 
empreendedor em mente?
RB: Há coisas que gostamos, mas no fim do dia muda 
muito. Alguns traços importantes são conhecer seu 
mercado profundamente e conseguir atrair talentos e 
motivar um bom time. 
Resiliência também é fundamental, porque sabemos 
que haverá momentos difíceis.Além disso, tem que 
ser alguém com quem gostamos de trabalhar. Vou 
passar sete anos lidando com essa pessoa, precisa 
ser alguém agradável!
Acredita que fintechs estejam vivendo um 
boom no Brasil ou não?
RB: Com certeza. Temos um sistema super 
concentrado, com taxas altíssimas e que não é 
necessariamente eficiente.
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Há muita oportunidade para desenvolver soluções 
melhores e o pessoal acordou para isso. O mito 
de que não dava para criar um banco não existe 
mais, então o que vemos são pessoas tentando se 
especializar e criar soluções específicas. 
Que mudanças viu acontecer no ecossistema 
de startups brasileiro?
RB: Foram várias ondas claramente demarcadas. A 
primeira foram os empreendedores estrangeiros 
criando soluções B2C e com parte dos 
investimentos de origem internacional. Depois, vimos 
empreendedores locais surgindo. 
Agora, vemos empreendedores locais e mais 
experientes, que vêm da indústria e trazem 
um shift para soluções B2B, porque eles têm 
a experiência da indústria e conhecem seus 
problemas. Fundamentalmente, a qualidade média 
do empreendedor melhorou muito e o ecossistema 
inteiro se desenvolveu.
Em que nichos fintechs têm mais chance para 
atuar no Brasil?
RB: Tem muitos temas não resolvidos, como 
recuperação de dívida (que ainda não passou por 
uma disrupção), investimentos (há várias promessas, 
mas nenhuma empresa cresceu ainda) e infraestrutura 
para a indústria financeira (há muita ineficiência no 
sistema e as pessoas ainda não olharam para essa 
oportunidade).
Que conselhos daria para um empreendedor 
no setor financeiro?
RB: Conheça muito bem o mercado. O setor 
financeiro é altamente regulado e em algum momento 
você vai precisar bater na porta do Banco Central. 
Então saiba qual é seu espaço, porque entrar de 
alegre e montar um banco vai ser impossível. Quem já 
conhece o setor, entende como ele funciona e tem 
relacionamentos, consegue. 
O que um empreendedor deve saber sobre 
como um investidor pensa?
RB: Ele precisa entender porque um investidor 
investe e como ele investe. Vemos muita gente 
tentando ser criativa em formato de investimento. 
Mas seja criativo em seu negócio, não em cláusulas 
de contrato! 
E assim como conhece seus clientes, o 
empreendedor precisa conhecer muito bem os 
fundos. Não é um negócio que todo mundo entende, 
mas é preciso estudar para entender como venture 
deals são feitos lá fora. Vai ser muito parecido aqui.
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AS MÁQUINAS ESTÃO CHEGANDO: COMO SE 
PREPARAR PARA UM NOVO MERCADO FINANCEIRO
A inteligência artificial é a grande aposta da indústria para trazer resultados mais rápidos, 
baratos e precisos; entenda o que já está acontecendo e o que você pode fazer.
Imagine pagar uma conta pelo comando de voz do 
celular, receber opções de investimento certeiras 
e customizadas para seu momento financeiro em 
segundos ou sair do banco com a vida resolvida 
e sem ter falado com ninguém exceto uma 
inteligência artificial.
Conseguiu? Então acostume-se, porque as 
máquinas estão chegando no mercado financeiro 
para trazer realidades como essas. O impacto 
dessas mudanças em quem pretende seguir 
carreira na área é incontestável. 
Se para os empreendedores essa mudança soa mais 
como oportunidade, para muitos jovens também é 
vista como uma assustadora substituição de mão 
de obra humana por robôs e que vai diminuir os 
empregos no setor. Ainda assim, essas mudanças 
não devem ser motivo de desistência – a ideia é 
mais se adaptar do que desanimar.
A seguir apresentamos algumas das previsões sobre 
as mudanças que as tecnologias de automação 
trazem para a carreira no mercado financeiro, e 
o que jovens profissionais podem fazer para não 
perderem relevância.
O que está por vir?
Especialistas preveem que as máquinas assumam 
primeiro processos que envolvem análise de dados, 
como aprovação de linhas de crédito ou leituras 
volumosas – coisas que hoje levam dias e até 
meses ou exigem funcionários dedicados –, mas as 
mudanças não devem parar por aí.
Espera-se também que inteligências artificiais 
comandem as interações primárias com clientes de 
bancos (possivelmente em três anos, de acordo com 
um relatório recente da Accenture) e algoritmos e 
modelos informados por machine learning passem a 
escolher, com cada vez mais frequência, as melhores 
ações para se comprar e vender.
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A substituição do trabalho humano não é, por si só, 
uma coisa nova. O que é inédito no cenário atual é 
o alcance das mudanças: as máquinas estão mais e 
mais aptas a substituir também o trabalho intelectual, 
não só manual.
Como boa parte do cotidiano no mercado financeiro 
trata do processamento de informações – cerca 
de 50% dele, segundo um estudo da consultoria 
McKinsey –, seu potencial de automação é grande.
Como se preparar para fazer carreira num mercado 
como esse?
Conheça os jogadores
Para saber o que está em jogo, é útil entender as 
diferenças entre três termos muito utilizados por 
quem fala de futuro do trabalho: inteligência artificial 
(IA), machine learning e big data.
“Inteligência artificial é um termo abrangente que 
inclui qualquer tipo de sistema de engenharia – 
normalmente um programa de computador – que 
exibe algum aspecto da inteligência humana”, explica 
Marcelo Mattar.
Pesquisador do Instituto de Neurociência da 
Universidade Princeton, Marcelo faz parte da Líderes 
Estudar, rede que reúne jovens de alto impacto da 
Fundação Estudar. Atualmente, estuda os processos 
mentais envolvidos no ato de planejamento para seu 
pós-doutorado. Ao longo do caminho, interessou-se 
pelo tema de inteligência artificial.
Ele conta que no começo do campo, nos anos 1950 
e 60, o foco era simular o raciocínio humano, o que 
exigia programar cada passo das máquinas.
Hoje, no entanto, o foco é criar máquinas capazes de 
simular a capacidade humana de aprender e alterar 
seus comportamentos através de experiência. É de 
onde vem o crescimento exponencial da tecnologia, 
feito pela própria máquina, que está sempre 
aprendendo a ser melhor.
“Foi aí que nasceu o machine learning, que pode ser 
considerado um ramo, talvez o mais bem sucedido, 
da inteligência artificial”, continua Marcelo.
“Sua grande vantagem é que o programador 
simplesmente especifica algumas regras de 
aprendizado básicas e deixa que o programa 
descubra por si só como atingir o objetivo, que 
muitas vezes não é sequer compreensível para o 
ser humano.”
Já big data se refere a enormes bancos de 
dados, que precisam de técnicas especiais para 
serem analisados e interpretados, algumas delas 
usuárias de machine learning e outros ramos de 
inteligência artificial.
A situação no mercado financeiro
No BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, 
com mais de US$ 4 trilhões sob sua tutela, as 
mudanças balizadas por esse trio já começaram: 
cerca de 53 stock pickers, ou selecionadores de 
ações, foram demitidos numa estruturação recente. 
Outros tantos se transformaram em consultores que 
avaliam as decisões das máquinas.
Ao invés de portfólios que tenham investimentos 
escolhidos por humanos, a nova aposta da firma 
são fundos automatizados, que fazem escolhas 
quantitativas através de algoritmos e modelos 
conhecidos.
Além de mais baratos para os clientes – às vezes 
até metade do preço –, são capazes de tomar 
decisões com base em todo tipo de dado e 
indicador com rapidez e precisão impressionantes.
“Aquele jeito antigo, com as pessoas sentadas em 
uma sala escolhendo ações e achando que são mais 
espertas que o vizinho, não funciona mais”, disse 
Mark Wiseman, um executivo de alto nível do fundo 
de pensões da firma, ao jornal The New York Times.
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 Voltar para o índice AS MÁQUINASESTÃO CHEGANDO: COMO SE
PREPARAR PARA UM NOVO MERCADO FINANCEIRO
A ideia por trás do raciocínio é que, já que todos 
têm acesso às mesmas informações e podem 
teoricamente chegar às mesmas conclusões, o 
melhor jeito de se manter à frente e atrair clientes 
é chegar mais rápido nesses resultados. Ou seja, 
ganha quem tem os modelos mais poderosos.
É uma tendência crescente. Em 2013, 13,6% de todas 
as negociações de ações nos EUA foram feitas 
por empresas de análise quantitativa, conhecidas 
como quants, que utilizam algoritmos para fazer suas 
escolhas. Em 2016, o número subiu para 27,1%.
Outra aposta da indústria é que IAs revolucionem 
o jeito que empresas angariam e aplicam as 
informações de seus clientes, interagindo de maneira 
cada vez mais precisa e oferecendo exatamente o 
que eles querem – ou podem vir a querer.
“Por meio dos mecanismos de IA, poderemos 
realizar análises em uma escala que nenhum ser 
humano sozinho conseguiria fazer”, exemplifica 
Verônica Serra, sócia do fundo de investimentos 
Innova, que tem empresas de software no portfólio.
“À medida que o sistema for aprendendo, vai poder 
fazer análises preditivas e dizer: ‘Qual cliente quer 
o que e como?’. A resposta será mais assertiva e 
haverá uma maior satisfação por parte do cliente.”
Potencial de inovação
Na equipe da Biva, uma fintech pioneira quando 
se trata de empréstimos peer-2-peer no Brasil, 
há pessoas com doutorados, mestrados e 
especializações diversas e não só relacionadas à 
Economia ou Administração – uma variedade que 
se repete em grandes instituições financeiras pelo 
mundo, que empregam de engenheiros a físicos 
teóricos e neurocientistas.
“Isso sempre nos impulsiona a procurar soluções 
inovadoras para os serviços financeiros”, explica 
Jorge Vargas Neto, CEO da startup.
A Biva, que já surgiu num ambiente altamente 
tecnológico, hoje usa 2 mil pontos de dados 
para analisar cada solicitação de crédito feita em 
sua plataforma, de interações em redes sociais a 
comportamentos financeiros.
A velocidade do processo é muito superior a de 
outras instituições do tipo. Uma resposta que pode 
levar semanas ou mesmo meses num banco leva, 
aqui, cerca de quatro dias.
“Tudo isso é analisado por um sistema com machine 
learning que vai reprocessando as informações 
semanalmente, de forma a ir sempre aprimorando a 
precisão de nossos modelos”, continua Jorge.
Como novas ideias precisam de investimentos 
para sair do chão, investidores e empreendedores 
também precisam estar atentos às mudanças.
“Na Innova, nos perguntamos quais segmentos 
possuem enormes ineficiências e onde a tecnologia 
pode gerar valor relevante”, fala Verônica, que 
também faz parte da rede Líderes Estudar.
Essa também é uma boa medida para enxergar 
até onde a inteligência artificial pode chegar no 
mercado financeiro – e quais são as oportunidades 
que existem ali.
O que está em risco para o jovem 
profissional?
Nem tudo são flores, e o lado negativo da 
automação para muita gente é bastante óbvio: 
a perda de empregos. Quando se trata do que 
vai de fato acontecer no mercado financeiro, as 
expectativas variam.
Uma pesquisa do banco Citi, por exemplo, estima 
que 1,7 milhões de empregos do setor pode 
desaparecer na Europa e nos EUA até 2025 como 
consequência da automação.
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 Voltar para o índice AS MÁQUINAS ESTÃO CHEGANDO: COMO SE
PREPARAR PARA UM NOVO MERCADO FINANCEIRO
Daniel Nadler, CEO da Kensho, um software de 
análise de dados empregado pelo Goldman Sachs, 
aposta ainda mais: em uma década, até metade dos 
funcionários do mercado financeiro podem perder 
seus empregos como consequência de tecnologias 
desse tipo.
“Em dez anos, o Goldman Sachs será 
significativamente menor por cabeça do que é 
hoje”, afirmou.
Funções que tenham rotinas repetitivas e previsíveis 
são facilmente automatizadas e seriam as primeiras 
a serem eliminadas, explica Marcelo, e isso inclui 
aquelas que precisam de memória, atenção e lógica 
– áreas em que um computador erra muito menos 
que um ser humano.
“Em geral, a IA prospera em todo e qualquer tipo 
de atividade em que uma quantidade grande de 
dados, que represente as diferentes situações 
que podem ser encontradas, seja suficiente para 
descrever a execução ideal do trabalho”, continua 
o pesquisador.
E se a tecnologia já é capaz de tanta coisa, pelo 
menos ainda perde quando se trata de usar a 
criatividade e oferecer contato humano – ambas 
características necessárias para o mercado financeiro.
Além de insights criativos serem muito bem vindos 
nas empresas, a grande maioria dos clientes ainda 
prefere falar com outra pessoa.
Tudo muda – mas em quanto tempo?
É importante lembrar que o tempo necessário para 
essa transição também não é claro.
Embora algumas novidades, como uma presença 
significativamente maior de IAs na interação com 
clientes, sejam uma tendência para o futuro próximo, 
outros aspectos da automação podem levar uma 
década ou mais.
Os obstáculos no caminho são de diversas 
naturezas, como financeira, tecnológica e 
socioeconômica.
No mesmo relatório da Accenture, os executivos 
citam problemas de privacidade e compatibilidade 
entre tecnologias entre seus grandes desafios.
Outros especialistas lembram que países vão levar 
tempos diferentes para implementar processos 
automatizados, sempre comparando custos e 
benefícios locais. O que pode ser rápido na 
Inglaterra, por exemplo, pode ser mais lento num 
mercado emergente como o Brasil.
Além disso, há a questão de como se destacar 
num mercado como esse, do ponto de vista 
corporativo, o que exige calma e reflexão na hora 
de traçar estratégias.
“O desafio é o reposicionamento estratégico 
das empresas diante desse cenário. Afinal, se os 
trabalhos ‘core’ da indústria forem automatizados, 
qual será o novo diferencial oferecido por elas?”, 
indaga Marcelo.
O uso dessas novas tecnologias, no entanto, não 
será opcional. “Será uma questão de sobrevivência 
estar preparado e ter um serviço, produto ou 
modelo de negócios alinhado com as novas 
tendências e evoluções tecnológicas”, afirma Jorge.
Como se preparar
Não há necessidade para pânico: o novo mercado 
financeiro será diferente, mas não impossível.
E se ainda é muito cedo para dizer que novas 
profissões vão surgir ou que talentos estarão em 
alta, já é possível dar alguns conselhos.
O primeiro é fundamental: aprenda a aprender 
continuamente. Em tempos de mudanças rápidas – é 
o que o século 21 promete –, a atualização precisará 
ser constante. E capacidade de aprendizado (rápido!) 
será um dos principais diferenciais competitivos. 
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PREPARAR PARA UM NOVO MERCADO FINANCEIRO
O segundo conselho é acompanhar 
cuidadosamente as mudanças no mercado, 
especialmente no começo da carreira, para 
identificar as habilidades que serão úteis e 
complementares em suas áreas de interesses.
Assim, você já sabe o que incluir na próxima rodada 
de atualização.
“É impossível saber a linguagem de programação 
que será a próxima grande tendência ou o novo 
edge em uma tecnologia que ainda não existe”, 
diz Jorge. “Cabe ao jovens estudar o mercado de 
interesse e construir um raciocínio aberto e criativo, 
direcionado para a resolução de problemas.”
Para Verônica, a fluência em tecnologia – que 
significa tanto entender e saber usar o que existe 
quanto aprender a programar de maneira geral – 
está se tornando tão essencial quanto o inglês e já 
pode entrar na lista.
Ela também indica manter-se atento ao mundo 
da inovação em geral para entender melhor as 
novidades e, quem sabe, fazer parte delas.
“É importante estar próximo a pessoas que, através 
de mentorias e ou de conversas informais, possam 
dar acesso às empresas que estão fazendo

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