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FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO Esther Cristina Moraes Candido A IGREJA UNIVERSAL NA ERA DIGITAL Rio de Janeiro 2015 Esther Cristina Moraes Candido A IGREJA UNIVERSAL NA ERA DIGITAL Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Jornalismo das Faculdades Integradas Hélio Alonso, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, sob a orientação da Professora Ariadne Jacques. Rio de Janeiro 2015 A IGREJA UNIVERSAL NA ERA DIGITAL Esther Cristina Moraes Candido Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Jornalismo das Faculdades Integradas Hélio Alonso, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, submetida à aprovação da seguinte Banca Examinadora. Banca Examinadora _________________________ Professora Ariadne Jacques Orientadora _________________________ Membro da Banca _________________________ Membro da Banca Data da Defesa _____ / _____ / _____ Nota da Defesa __________________ Rio de Janeiro 2015 RESUMO Diante do avanço das tecnologias de informação, é possível afirmar que a religião exerce poder na economia, cultura, política e na sociedade como um todo. Com os meios de comunicação não foi diferente, pois grupos religiosos compreenderam qual era a melhor forma de atingir seu público alvo de forma direta e abrangente. Dentre esses fenômenos de igreja eletrônica, destaca-se a Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo bispo Edir Macedo, que além de ser um sistema religioso, controla um dos maiores conjuntos de empresas de comunicação, investindo pesado neste modelo. É uma estratégia que serve para atrair cada vez mais fiéis, por meio das redes de rádio, da maior gravadora gospel do país, emissoras de TV, além de tiragens de jornais da Folha Universal, com distribuição nacional, entre outros veículos no espaço virtual. Portanto, o objetivo deste trabalho foi fazer uma análise das plataformas digitais utilizada pela Igreja Universal, principalmente do portal principal que busca alcançar a todos os tipos de públicos, desde o juvenil até os adultos. Além disso, verificar quais são as estratégias de comunicação utilizadas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no meio digital. Palavras-chaves: informação, religião, igreja, digital. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 5 1. HOMEM E A RELAÇÃO COM O FENÔMENO RELIGIOSO .................................................................. 7 1.1. Judaísmo religião de onde veio o Cristianismo ....................................................................... 8 1.2. Cristianismo ........................................................................................................................... 11 2. IGREJAS ELETRÔNICAS INSERIDAS NA GLOBALIZAÇÃO .................................................................. 14 2.1. Difusão das Igrejas Eletrônicas e do Neopentecostalismo ................................................... 16 2.2. Primeira onda de implantação do pentecostalismo ............................................................. 18 2.3. Segunda onda de implantação do pentecostalismo ............................................................. 18 2.4. Terceira onda de implantação do pentecostalismo .............................................................. 19 2.5. Igreja Eletrônica e suas estratégias ....................................................................................... 19 3. IMPÉRIO DA IGREJA ELETRÔNICA IURD ......................................................................................... 22 3.1. Edir Macedo: Um empresário de sucesso no comando de sua igreja eletrônica ................. 26 3.2. Universal na era digital .......................................................................................................... 31 4. COMUNICAÇÃO DA UNIVERSAL ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS ..................................................... 35 4.1. Análise dos setores do site .................................................................................................... 36 4.2. Pastor Online 24 horas – Fiel da Igreja que utiliza o serviço ................................................. 40 4.3. Outros setores ....................................................................................................................... 40 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 43 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 45 5 INTRODUÇÃO Não há registros de estudo na História, Antropologia, Sociologia, ou em outra ciência social que comprove que os humanos não tivessem algum tipo de crença religiosa em qualquer era documentada. As religiões assim como as artes e as técnicas, fazem parte da humanidade, pois é um fenômeno cultural. Grande parte de todos os movimentos significativos tiveram a religião como o seu impulsor. Segundo o filósofo, Marcus Valério (2003), a palavra religião deriva do termo grego Re-Ligare e significa religação com o divino. Ainda de acordo com ele, há outro significado, o da crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural. Tal definição está ligada a aspectos místicos e religiosos, que também abrangem os segmentos mitológicos (coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum) e qualquer doutrina ou forma de pensamento, que possua como característica principal um conteúdo que vá além do mundo ou seja metafísico. Ainda para Valério, a maioria das guerras foi motivada por questões religiosas. Além disso, pode-se dizer que as estruturas sociais foram definidas a partir das religiões, e grande parte do conhecimento científico, filosófico e artístico vieram de grupos religiosos, na maior parte da história do mundo estiveram vinculados ao poder político e social. Ele afirma também que apesar do mundo ter evoluído técnico e cientificamente, ainda há um “marcado” para o fenômeno religioso na cultura humana: Atualmente, por mais que o mundo tenha evoluído em termos científicos, o fenômeno religioso sobrevive além disso e cresce cada vez mais, superando as previsões que levavam a acreditar que teria um fim. A grande maioria da humanidade tem algum tipo de crença religiosa de forma direta ou indiretamente e ainda assim a religião continua a promover diversos movimentos humanos e também mantendo a harmonia entre os estatutos políticos e sociais. (VALÉRIO, 2003, pg.1) 6 Para o professor de religião Edvaldo Siqueira (2010), o fenômeno religioso aparece em todas as épocas e lugares. Geralmente, as pessoas buscam um ser superior para sentirem conforto e proteção diante dos desafios e dilemas que fazem parte do mundo. Os valores vão se renovando à medida que se estabelece o contato religioso ou a crença que, por sua vez, se cristaliza e incorpora o contexto social. Ainda para ele, os religiosos colocam a fé e a crença em primeiro lugar. Isto significa que elas podem ser diretamente influenciadas pelas igrejas e pelosseus líderes espirituais. Por esta razão, a fé pode ser explorada e transformada em uma verdadeira fonte de lucro. Portanto, esta monografia tem como objetivo problematizar sobre as estratégias de comunicação, através das ferramentas digitais, priorizando as redes sociais, utilizadas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Os principais autores que farão parte do corpo teórico são: Quentin Schultze (1988), Mathieu (1988), Anthony Giddens (1991), Leonildo Campos (1997), Paul Freston (1987) e Marilena Chaui (1997). Metodologicamente, este trabalho será desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, análises de conteúdo veiculadas nas mídias sociais, com o objetivo de buscar informações relevantes para dar consistência aos fenômenos que estão sendo estudados. Esta monografia será organizada na seguinte forma: o primeiro capítulo trará uma abordagem sobre o homem e o fenômeno religioso, demonstrando de que forma a ligação entre os humanos e a fé têm-se mantido desde o início da documentação religiosa até o presente momento. O segundo capítulo desenvolve uma linha do tempo da IURD, demonstrando como ela era e de que forma ela chegou ao nível de ascensão visto nos dias de hoje. No terceiro capítulo será apresentada a história da Igreja Universal e suas estratégias de comunicação para fidelizar seus seguidores. O quarto capítulo faz uma análise do site da IURD. Por fim, serão feitas as considerações finais. 7 1. HOMEM E A RELAÇÃO COM O FENÔMENO RELIGIOSO No contexto bíblico, a primeira relação entre o ser humano e um ser supremo inicia-se em Gênesis, capítulo 1, versículo 27. Nesta narrativa, o homem é criado do pó da terra, sendo semelhante à imagem de seu Criador. Aos olhos da comunidade científica, o humano evoluiu, adaptando-se aos climas e habitats diferentes. Os adeptos da Teoria Darwinista, afirmam que este ser evoluiu a partir do australopitecos ou pithekos, que em grego significa macaco. Segundo o publicitário Jadiel Luís de Oliveira (2013), que escreveu a monografia Altar Eletrônico: o rompimento do dogmatismo face à modernidade da comunicação, esse antagonismo de verdades entre o bíblico e o científico acontece porque não existe uma verdade universal. Marilena Chaui (1997), através da análise feita por filósofos como Galileu, Francis Bacon e Descartes, em seu livro O que é ideologia, traz uma nova concepção, agora a do homem como ser livre e universal, tendo no trabalho seu engrandecimento natural e espiritual. De acordo com Chaui (1997), no livro Convite à Filosofia, o Cristianismo originou-se da religião judaica, tão antiga como as outras religiões. Porém, o Cristianismo tinha algo que não se assemelhava ao judaísmo: a ideia de evangelização, ou seja, espalhar a “boa nova” para o mundo inteiro, a fim de converter os não-cristãos, com o intuito de torná-la uma religião universal. Já a ciência iniciou-se na Grécia, com o surgimento de pensadores e filósofos com teorias a partir dos questionamentos humanos, na tentativa de encontrar respostas, para questões como: O que há lá fora?; Do que o mundo é feito?; Como chegamos aqui? Segundo a teóloga Lúcia Pedrosa-Pádua (2010), na Antiguidade existia o monoteísmo (monos-theos), a crença em um único deus. Após, desenvolveu-se o politeísmo, a crença em vários deuses, feitos à imagem dos homens. Porém, com a evolução, pessoas mais instruídas entenderam que formas ou atividades diversas eram somente de um único deus. No artigo o Homem e o fenômeno religioso, de Pádua-Pedrosa (2010), diz-se que os mitos religiosos são apresentados como algo muito próximo da divindade, citando exemplos como os mitos babilônicos, em que o deus Marduck modelou o 8 primeiro homem com o sangue de um deus e o pó da terra. Já no Egito, o deus Tok transmitia a vida, a partir do sopro. Ainda de acordo o artigo, o desejo de hominização-divinização estaria na origem das religiões. A partir desta concepção, o ateu Feurback (1941) afirmou que Deus é uma projeção daquilo que o homem poderia e gostaria de ser. Para o teósofo José Reis Chaves (2014), a nossa visão sempre está avançando a partir de nossa evolução. Diz ele que seria meia verdade a afirmação de que o politeísmo é uma religião de vários deuses, já que esta não deixa de ser de algum modo monoteísta, pois crê que há um chefe supremo dos seus deuses. “O Brâman, equivale ao Deus verdadeiro e único do monoteísmo (I Timóteo 2:5). “Deus é o Pai dos espíritos” (Hebreus 12:9), que quer dizer, o chefão dos espíritos”. Assim, a Grécia foi o berço da Filosofia, pois era uma sociedade marcada pela devoção ao divino em paralelo com a evolução do conhecimento, da sabedoria e da razão. Para Chaui (1997), a capacidade intelectual é razão para organizar a realidade, pela qual se torna compreensível as explicações em que a filosofia tenta entender a dualidade e as divergências sobre a relação do homem com a razão e o divino. Segundo o filósofo Marcus Valério (2003), em seu livro O que é a religião, as práticas religiosas apresentam a ordem cronológica como a característica principal. Assim, as formas religiosas predominam a partir da evolução, nos diferentes estágios culturais, próprios de qualquer sociedade. 1.1. Judaísmo religião de onde veio o Cristianismo Segundo a Bíblia Apologética (1998), o judaísmo é uma das religiões mais antigas do mundo, com cerca de 2000 a.C., no Oriente Médio, sendo a primeira de prática monoteísta. Nesta religião, a crença é a de que o Messias surgirá em busca da redenção humana, em que Deus é criador de tudo, inclusive do homem. Apresenta a divisão em três vertentes: ortodoxo, conservador e reformado. Collin (1988) afirma que Abraão foi um dos fundadores da religião e os judeus o consideram como o pai do povo, a partir da Toráh ou Pentateuco. Por meio da 9 Bíblia Sagrada podemos entender melhor a história dos judeus que enxergam Abrão como ancestral dos israelitas e o pai espiritual de todos os que aderem à fé bíblica. Abraão teve uma inspiração divina ao observar a natureza à sua volta concluindo que deveria haver um Ser Supremo, que governava todo o universo e estabelecera leis da natureza. A percepção de Abraão estava de acordo com que aprendera na Academia de Shem em Jerusalém. A partir desse fato, ele tentou convencer ao pai Terach e à população da região sobre a falsidade do politeísmo, o que gerou fúria no rei Nimrod condenando-o à fornalha ardente. No livro de Gênesis, capítulo 12, versículo 1 ao 3, explica-se a existência divina na qual Abraão acreditava, quando o deus o salvou da fornalha sem nenhuma queimadura. Após longos anos de experiência de vida e também de relação com o deus desconhecido, aos 75 de idade, ele teve o primeiro contato real com Deus no qual este se revelou pela primeira vez, dizendo-lhe para abandonar (Lech-Lcchá – Vai-te) as práticas politeístas e sair de Ur Casdim na Mesopotâmia para ir em direção à terra de Canaã, atualmente a Israel. O historiador Silva (2015) afirma que a história se desenvolve neste contexto em que Isaque, filho de Abraão, tem um filho chamado Jacó que entra em confronto com um anjo de Deus e passa a ser chamado Israel. Então, os 12 filhos de Jacó dão origem a 12 tribos que formam o povo judeu. Por volta do ano 1.700 a.C., o povo migra para o Egito e são escravizados por cerca de 400 anos por faraós. Segundo os judeus, a libertação vem através de um homem criado por uma das filhas do faraó da época, que se chamava Moisés. O povo judeu também conhecido como povo de Israel, é libertado por volta de 1.300 a.C por Moisés. Assim, ele se transforma no líder do povo judeu e após se livrardo faraó, passa a viver no deserto. Moisés é levado por Deus para o monte Sinai, onde fala com ele e entregam os Dez Mandamentos para que o povo obedeça à divindade. Mas depois de praticarem atos que não são condizentes com a crença, segundo a Bíblia, Moisés quebra as tábuas com ira e por esse fato, as refaz. O desdobramento do judaísmo acontece em Jerusalém, tempos depois, quando a cidade é transformada em um centro religioso, pelas mãos do rei Davi. Mais adiante, o fim do reinado do filho de Davi, Salomão, em 935 a.C., resultou em uma verdadeira crise sucessória com a divisão das tribos em dois reinos: Reino de Israel, na Samaria, e o Reino de Judá, com capital em Jerusalém. Os judeus tinham 10 já uma cultura repleta de práticas. Segundo o professor de História, André Ricardo Nunes (2010). “Os judeus possuíam já no século I d.C. um vasto “corpus”literário que incluía textos de lei, profecia, cânticos, sabedoria, apocalíptica e histórias” (SANTOS, 2015, site) Nunes (2010) explica que o povo judeu ficou em um momento de instabilidade e receio, devido ao sistema político integrado de civilizações as quais os dominaram. O site Cleofas (2015) afirma que o judaísmo ficou vulnerável a divisão política e territorial, ocasionando o enfraquecimento militar. Como consequência, acabaram sendo dominados por outras civilizações. No ano de 721 a.C, o Reino de Israel é exterminado, com a conquista dos assírios sob o território, por volta de 586 a.C. O rei Nabucodonosor II invade o Reino de Judá, destruindo o Templo de Jerusalém e deportando a maioria dos habitantes para um lugar chamado de Cativeiro da Babilônia (Mesopotâmia), iniciando a primeira diáspora judaica que durou cerca de meio século. De acordo com o site Mundo da Educação (2015), em relação a civilização hebraica, a retomada da cidade de Jerusalém só aconteceu, pois, o rei persa Ciro I, libertou os judeus da Babilônia, em 539 a.C. A partir desse momento teve reinicio a peregrinação em direção a Jerusalém. Nesse período, eles se organizaram em um pequeno Estado que foi definido pelos persas, onde reconstruíram o templo e viveram um breve tempo de independência. Quando outras civilizações expansionistas realizaram o domínio sob o povo judeu, em 332 a.C., o rei macedônico Alexandre, o Grande, foi responsável por controlar os judeus. É neste momento que começa a ser desenvolvido o início do Cristianismo, pois o controle dos macedônios chega ao fim, no século I a.C., quando os romanos passam a conquistar e a ter o domínio sob os territórios antecedidos pelo Império Macedônico. Nessa época, a crença nas profecias da vinda de um Messias, um novo salvador, consolidou-se em um movimento de resistência contra as exigências impostas pelas leis romanas. Diante disso, pode-se observar que o contexto religioso não influenciou apenas a história do pensamento humano, mas também a relação do homem com o poder, causando interferência no meio econômico e político em muitas civilizações. 11 Como é o caso do Império Romano, que sofreu uma influência direta do Cristianismo em sua política e visão de governo, contemplando praticamente a criação e a expansão completa da religião, como afirma Oliveira (2013). Para compreender o início do Cristianismo, vamos abordar de forma sucinta o seu histórico no Império Romano. 1.2. Cristianismo A fonte mais comum utilizada dentre as seculares, no que diz respeito à criação do Cristianismo, é a Bíblia, na parte que contempla o Novo Testamento. Segundo ela, Jesus de Nazaré, para os profetas judeus antigos, seria o Cristo, filho de Deus, em quem muitos judeus acreditavam que os libertariam da dominação dos romanos. O historiador John Meier (2008), relata que Jesus foi o fundador do Cristianismo, pois era um judeu, supostamente descendente do rei Davi. A história de Jesus teve início em Belém da Judeia, onde ele nasceu. Nesse tempo, o povo judeu era dominado pelo Império Romano e pelo imperador Augusto, conhecido também como César. Mas como toda divisão política precisa de líderes locais, Herodes, o Grande, era o governador local. A sabedoria de Jesus, desde jovem, despertava a ira e a inveja dos religiosos judeus. De acordo com relatos bíblicos, a pregação de Cristo conquistou muitos seguidores, dentre eles os doze discípulos. Ao passar a mensagem cristã por três anos, constituindo uma ideologia em que muitos estavam se convertendo, foi despertada a fúria de grupos poderosos naquela época, tais como: escribas, fariseus e atuantes principais das sinagogas. Isso está escrito no livro de Mateus 10, versículo 1. Com base no histórico-teológico da Bíblia Sagrada (1998), é feito um paralelo entre o contexto histórico e o religioso-cristão, em que primeiro é visualizada a figura do imperador. O primeiro quadro mostra a troca de lideranças entre o administrador local Herodes e o imperador romano César Augusto. Com a morte de Herodes, em 4 d.C., o imperador César, no ano 14, assume o posto Tibério e dá início a um governo assombroso para os cristãos. 12 Há diversos desdobramentos do Cristianismo em relação ao governo romano, do ponto de vista estatal e social: as características e cada tempo oscilam entre um relacionamento agradável e conflituoso. No que diz respeito à religião, ela mudará devido a alguns fatores históricos. Segundo o articulista e conselheiro Edson de Lima, do site bíblica.com.br, é explicada essa relação que foi citada acima com base no contexto histórico. É importante mencionar isso, pois os personagens fazem parte das histórias bíblicas. Herodes não era um nome propriamente dito, mas um título, assim como César, imperador romano. Houve pelo menos quatro “Herodes” no Novo Testamento. Alguns deles governaram em períodos diferentes. O Herodes que mandou matar as crianças de Belém não foi o mesmo Herodes do tempo de João Batista. Herodes, o Grande, pai de Ântipas, era idumeu, nascido na região da Iduméia. Sua mãe era Nabatéia. Não possuía quase parentesco judeu senão mediante uma tribo distante de Esaú (Edom). Não tendo sangue judeu correndo em suas veias fez aliança com o império romano para manter-se no poder. Conquistou a confiança dos judeus quando construiu o templo em Jerusalém, anteriormente destruído no período macabeu. Essa iniciativa fez dele um defensor da religião do povo. Ora, evidentemente, trabalhava para Roma obedecendo criteriosamente à palavra de César. (RODRIGUES,2013, site) Para o historiador José Guida Neto (2008), a ascensão da religião causou um choque no governo romano da época, visto que Cristo convencia muitos com a sua ideologia, ou seja, com o seu discurso. Este fator gerou muita instabilidade nas relações sociais entre o governo, judeus e o crescente grupo do Cristianismo. É perceptível a divisão da sociedade da época. Com a crescente decadência do paganismo, a religião romana se alterou e a ascendência do cristianismo foi vertiginosa. O historiador Francisco Chagas (2009) afirma que houve uma forte existência no antagonismo cristão, em relação ao Império Romano, no primeiro século. Assim, iniciou-se um conflito ideológico em relação ao culto imperial romano. Foi então que Jesus, aos 33 anos, foi preso acusado de conspiração contra o império, pois era o causador das rebeliões que aconteciam contra Roma. A prisão foi desencadeada uma vez que suas mensagens não mencionavam devoção ao 13 imperador, mas sim ao seu Deus, que se tornou um argumento ideal para ser utilizado pelos judeus não seguidores da ideologia, para mandar prender Jesus. Diante desse contexto histórico apresentado até aqui, pode-se observar o homem e sua influênciasobre as ideologias divinas. A prova mais evidente é Jesus, pois causou impacto político-social na cidade de Jerusalém e regiões próximas. Segundo o escritor Henry Bosch (2013), Jesus ensinou por três anos e mobilizou grande parte da região nesse período e, consequentemente, a humanidade em si, mais do que Sócrates (ensinou por 40 anos), Platão (ensinou por 50 anos) e Aristóteles (ensinou por 40 anos). Após a morte de Jesus, os discípulos dão segmento aos seus ideais. Para Guido Neto (2008), o conflito fica cada vez pior, pois há uma divisão nos que acreditam nas pregações deixadas por Cristo, com continuidade entre os discípulos e os que não acreditam. Com a conversão de Paulo, apóstolo 4, a propagação foi ainda maior, ocasionando séculos de perseguições de Nero, imperador de 54 a.C. a 64 d.C.. De importância decisiva para a contínua difusão do cristianismo foi a conversão do fariseu Saulo (Paulo), por volta de 32 d.C., não é exagero dizer que muitos anos de ministério de Paulo transformaram o cristianismo numa religião mundial (GAARDER, 2000, pg. 179). Mesmo assim, segundo o livro de Marcos (14:10), o crescimento do número de discípulo chegou aos 120. No livro de “Atos dos Apóstolos” é narrado o início da igreja, chamada de A igreja primitiva. Ela foi construída pelos onze discípulos, pois Judas havia traído Jesus. A proposta deles era espalhar a ideologia de Cristo, começando por Jerusalém, Samaria e os outros lugares que pudessem dar continuidade. Com o intuito de converter o maior número de seguidores possíveis, os 11 discípulos escolheram Matias (Atos 1:18) para ocupar o lugar de Judas. Espalhar a ideologia de Cristo era uma das características predominantes no Cristianismo. Segundo Penha Rocha (2006), a diferença entre o passado tradicionalista e o presente do protestantismo conservador é que esse aceitou os meios de comunicação como mensageiros importantes e autênticos do evangelho, podendo até reforçar o interesse pelos programas religiosos de rádio e de televisão. 14 2. IGREJAS ELETRÔNICAS INSERIDAS NA GLOBALIZAÇÃO Segundo o pensador italiano, Antônio Negri (2006), vivemos uma crise de inteligência devido à incerteza em tempos de transição para uma nova era. As mudanças que ocorreram neste início de século são mais instigadoras, na medida em que desencadeiam rupturas históricas, sociais, políticas, econômicas e individuais. Encaixa neste contexto, a palavra-chave muito mencionada nos primeiros anos do século XXI: globalização. Já para Anthony Giddens (1991), a globalização pode ser definida como uma intensificação das relações sociais em escala mundial, as quais ligam lugares distantes, ao mesmo ponto que acontecimentos locais são modelados por eventos que ocorrem em larga distância. Ainda afirma que a separação entre o espaço e o tempo, é a condição principal para o processo de desencaixe das instituições sociais. O autor quis dizer que o desencaixe é o deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e restruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço, pois tal fenômeno serve para abrir múltiplas possibilidades de mudança libertando-nos das restrições, dos hábitos e das práticas locais. Giddens (1991) faz distinção entre os mecanismos de desencaixe envolvidos no desenvolvimento das instituições sociais modernas, que compreendem os sistemas abstratos: fichas simbólicas e sistemas especializados. O foco é o segundo sistema, em que nele dispõem o conhecimento técnico que possuem validade independente dos praticantes e dos clientes que utilizam, além de penetrar em todos os aspectos da vida social nas condições de modernidade. Isso pode ser exemplificado desde os alimentos que comemos até os transportes que utilizamos, ou seja, os sistemas especializados não se restringem às relações sociais e às intimidades do eu. São dependentes da confiança, como crença na credibilidade de uma pessoa ou sistema, tendo em vista um conjunto de resultados ou eventos, expressando uma fé na probidade, no amor de outro ou na correção de princípios abstratos. Nesse contexto que inserimos as igrejas eletrônicas. Para Penha Rocha (2006), quando preferências de grande importância para o homem, como escola, família e Estado modificam-se, a religião também, pois não 15 necessita mais de fronteira, nem de territórios. Ainda segundo ela, na sociedade global, a religião depende de leis do mercado, ou seja, deve adaptar-se aos novos tempos. Partindo do princípio que a igreja evangélica tem se expandindo nos últimos tempos, isso significa que ela utiliza fórmulas que são filhas da economia e não da teologia. Reginaldo Prandi (2003) comenta que com tantos conjuntos de fatores sociais, políticos e ecológicos, mais a insegurança dessa sociedade, agrega-se à cultura de consumo do mundo globalizado, e muitas pessoas recorrem à Deus, como se estivessem adquirindo uma mercadoria qualquer, valendo–se do que o sagrado pode oferecer. É o chamando de consumidores religiosos. É identificado como sendo a religião mais adaptada à cultura de consumo da sociedade globalizada, o neopentecostalismo, que cresce com rapidez na América Latina. A partir deste ponto, Penha Rocha (2006) analisa as igrejas neopentecostais que procuram formas de persuasão, utilizando propagandas para evangelizar, com ênfase no valor econômico. Além disso, os líderes religiosos são empresários da fé, pois tem alto potencial de um profissional de marketing, utilizando fórmulas simples e persuasivas que vão crescendo cada vez mais pelo mundo com os megatemplos. Pierucci (1997) é ainda mais prático, ao dizer que não precisa sair da sua residência para receber conforto religioso. Apenas a utilização de eletrodomésticos como rádio e televisão, além daquilo que as igrejas mais estão investindo atualmente: na internet. Através desses meios eletrônicos a difusão das mensagens e a religião ocupam um espaço maior na sociedade. Luhmann in Beyer (1993) observa que há duas situações de tensão presenciadas na religião na pós-modernidade. A primeira dela é em relação à comunicação religiosa na qual se busca salvação e cura, já a segunda foca no uso da religião para resolver dificuldades originadas em outros setores como financeiro, familiares ou até político. Peter Byer (1994) defende a ideia de que a globalização da sociedade, abre caminhos para a religião em si, pois também é um campo fértil para renovação da influência pública da religião. Ou seja, são necessárias algumas predeterminações e dentre elas estão à prestação de serviços oferecidos pelos líderes religiosos, assim como fazem os agentes de saúde. Ainda de acordo com Byer, para as pessoas que 16 defendem a ideia de abertura de caminhos, a religião tem que se dispor às pessoas, como um serviço em que vai muito além do amparo e do estímulo à fé religiosa. 2.1. Difusão das Igrejas Eletrônicas e do Neopentecostalismo Segundo Alderi de Souza (2011), diferente de como muitos pensam, a difusão religiosa cresceu no cenário norte-americano, em 1975. Iniciou-se a partir do famoso Avivamento da Rua Azura, em Los Angeles, em abril de 1906. Em poucas décadas, as igrejas neopentecostais reuniram uma grande quantidade de pessoas, em praticamente todos os continentes, totalizando, com base em especialistas, cerca de meio milhão de adeptos. A doutora em comunicação Penha Rocha (2006) explica o surgimento da primeira transmissão radiofônica: “No que compete aos meios de comunicação a primeira transmissão religiosa, segundo Jeffrey Hadden e Charles Swam (1981), foi feita por Citam Reginald Fenenden, o pioneiro da difusão da voz atravésda rádio, considerado na época nova tecnologia. Em 1909, numa vigília de Natal, Fenenden pretendia mostrar de forma pública, a funcionalidade do aparelho. Sabendo que muitos navios da época utilizavam como meio de comunicação o rádio telégrafo, ele fez um teste, por segurança, para estas estações marítimas a partir da difusão da voz. Buscou um texto apropriado para a leitura, ele decidiu ler as passagens bíblicas”. Quentin Schueltze (1988) afirma que a comunicação social, através da divulgação por esses meios, sempre fascinava alguns grupos religiosos. A difusão de tal natureza, de uma pessoa para outra, ou seja, em massa, é vista de forma frequente como modo eficiente de divulgar mensagens com teor religioso. A comunicação social pode servir como base de um meio perfeito para trabalhos de grupos, citando exemplo de evangélicos protestantes norte-americanos, que enfatizam a pregação de mensagens de salvação. Segundo William Martin (1984) nos primeiros passos das Igrejas Eletrônicas, nos Estados Unidos, em 1960, grande parte destes programas religiosos, explorava através da solicitação de dinheiro. Mas com uma breve passagem de tempo, 17 seguindo as orientações das consultorias de marketing, mudaram as estratégias e passaram a vender livros, fitas, vídeos, entre outros, para arrecadar fundos. Segundo Abelman (1990), em 1961, na Virgínia, um símbolo de sucesso da Igreja Eletrônica foi o programa 700 Club, criado e transmitido pela primeira emissora de TV cristã nos Estados Unidos, a CBN (Christian Broadcasting Network), em português Rede Cristã de Comunicações. O intuito era competir com a televisão comercial, por audiência e pela aquisição de valores de produção. O programa foi apresentado pelo pastor pentecostal Pat Robertson, no qual são abordados assuntos como: manifestação a favor da obrigatoriedade de prática de orações nas escolas, defendendo a pena de morte, a família e a censura da pornografia. O conceito da Igreja Eletrônica distingue-se de outros programas americanos, pois é a nova direita, ou seja, por causa do conservadorismo político. Segundo Penha Rocha (2015), durante 15 anos, o programa 700 Club, foi transmitido pela CBN, atualmente é transmitido pela FOX, a quarta emissora de televisão que atende às funções da cultura de massa (mass-media), na qual proporciona informações e notícias. Penha Rocha (2006) ainda apresenta as distinções da Igreja Eletrônica de outras formas de transmissão religiosa que são: a inserção de valores comerciais, as teologias experimentais, a fé na tecnologia e os formatos semelhantes aos de programas populares convencionais de televisão e rádio. Compara a diferença das igrejas tradicionais, em que não é aceita a cultura econômica do capitalismo, pois põem em contraste as questões espirituais. Já as Igrejas Eletrônicas, apesar dos valores espirituais serem importantes, os princípios comerciais de marketing e gerenciamento profissional têm maior relevância, pois são considerados meios válidos para a popularização dos valores espirituais. Em outras palavras, a Igreja Eletrônica não vê contradições entre os paradigmas religiosos cristãos e os padrões cheios de iniquidades do capitalismo. Abordado o tópico da Igreja Eletrônica até aqui, passemos sua raiz e base que é neopentecostalismo, mas para isso é preciso entender um pouco mais da história desse modelo evangélico que chegou ao Brasil no século XX. Nesta parte, serão dissertadas as ondas de implantação do pentecostalismo no Brasil, em 1910. Iniciou nos Estados Unidos, em Los Angeles, e rapidamente se 18 alastrou para outros países até chegar na América Latina, primeiro no Chile, em 1909 e um ano depois chegou ao Brasil. 2.2. Primeira onda de implantação do pentecostalismo A partir desta introdução, Paul Freston (1994) apresenta três ondas de implantação do pentecostalismo no Brasil. Seu início ocorreu nos primeiros anos do movimento pentecostal nos Estados Unidos, que trouxeram para o país duas igrejas: A Congregação Cristã no Brasil, em 1910, e a Assembleia de Deus, em 1911. Durante 40 anos essas igrejas dominaram de forma ampla o campo pentecostal. Todavia, a que obteve um maior crescimento, dentre elas, foi a Assembleia de Deus, geográfica e numericamente. A Congregação Cristã, não obteve tanto sucesso, pois ficou durante um tempo limitado junto à comunidade italiana. Freston (1994) observa que apesar deste modelo de igreja chegar ao Brasil depois dos anglicanos, luteranos, congregacionais, presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais, estes obtiveram um crescimento modesto em relação às mencionadas acima. 2.3. Segunda onda de implantação do pentecostalismo Já na segunda onda pentecostal houve fragmentações no campo do pentecostalismo, entre 1950 e 1960, em três grupos, muito ligados ao pentecostalismo clássico, que são elas: a Igreja do Evangelho Quadrangular, em 1951; Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo, em 1955; e Igreja Pentecostal Deus é Amor, em 1962. Elas eram voltadas para o modo especial, para a cura divina. Nesta segunda onda, coincidentemente houve o aumento do processo de urbanização no país e o crescimento acelerado das grandes cidades. 19 2.4. Terceira onda de implantação do pentecostalismo A terceira e última onda histórica do pentecostalismo brasileiro chegou em 1970, mas só ganhou força em 1980, quando surgiram igrejas denominadas neopentecostais, que focavam na teologia da prosperidade. A representante entre elas é a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977. Porém, há outros grupos como: a Igreja Internacional da Graça de Deus, no ano de 1980; a Igreja Renascer em Cristo; Comunidade Sara Nossa Terra e a Igreja Paz e Vida; além da Comunidade Evangélica e muitas outras. 2.5. Igreja Eletrônica e suas estratégias Robert Bellack (1990) admite que existam fatores que ajudam a pensar no “sucesso” obtido pela Igreja Eletrônica na sociedade moderna. Questões que devem ser levadas em consideração, como a possível existência de uma formação religiosa familiar e a própria consciência religiosa que mudou nos últimos tempos. O universalismo propõe o seguinte: uma abertura mais ampla das informações sem vínculos com a família, a fé ou a cultura, mas uma ligação com as experiências vividas com a religião midiática. Uma pesquisa realizada pelo Professor Hover (1987), da Universidade de Nova York, mostra que o telespectador não aceita de forma imediata o que ouve na transmissão religiosa, pois ele faz uma filtragem, de acordo com as suas convicções e pressuposição. Um ponto forte da Igreja Eletrônica está nas soluções simplistas, fortalecimento da fé, na esperança e diversão. Por isso que tem sido discutido o seu duplo sentido: se por um lado há impacto real em conjunto com apelos por recursos que permita manter e ampliar o seu trabalho, por outro ela parece contribuir de alguma forma para ajudar pessoas a superar os momentos de crise. Esta é uma das primeiras estratégias que diferenciou o 700 Club, com o uso de telefones bancários que recebiam ligações, gravando também doações feitas por telespectadores. Além de fazer pedidos relacionados a necessidades físicas, 20 espirituais, financeiras e amorosas, todas essas necessidades eram colocadas no ar. Essas e outras técnicas eram dedicadas para a arrecadação de dinheiro. De acordo com Penha Rocha (2006), um líder evangélico chamado Jimmy Swaggart visou a possibilidade de espalhar a mensagem do Senhor através de programas semanais, vendendo-as para a TV, ele se inspirou na aldeia global de McLuhan. Não apenas por ser comunicação instantânea,mas sim um tipo de evangelismo eletrônico. Penha (2006) analisa essas expectativas do evangelismo global como um golpe para arrecadar dinheiro, caso o sentimento de salvação não fosse espalhado pelas televangelistas nas emissoras americanas. A ideologia da comunicação eletrônica é visada por protestantes como uma viabilidade para o evangelismo. A partir dessa ideologia, são superados os obstáculos culturais e políticos mundiais. Por outro lado, Penha (2006) acredita que a intenção de Swaggart não era enviar missionários pelo mundo, mas sim empacotar transmissão com intuito financeiro: Swaggat e outros televangelistas visam à conquista de contribuições financeiras e compartilham a fé pela tecnologia para evangelização do mundo. Aliás, a fé na tecnologia contribui para o sucesso dos programas da igreja eletrônica e, consequentemente, para a transformação do evangelismo em atração. Neste ponto vale lembrar a afirmação de Hoarce Newcomb (1987): “ A religião na TV é a parte do tecido cultural generalizado e sistema central da história de nosso tempo (ROCHA, 2006, pg. 47) Para Buckgham (1983), a comunicação como ferramenta possibilitou pastores e bispos midiáticos seguirem a tendência mundial das empresas de comunicação e entretenimento que é a concentração de poder nas mãos de pouca gente. Com isso, a expansão das transmissões religiosas através dos meios de comunicação social continua progressivamente, adotando estratégias de comunicação, métodos computadorizados, técnicas sofisticadas para juntar fundos e pesquisas de audiência. 21 Por outro lado, Hoover (2006) admite que por recorrer a uma cenografia de espetáculo, a igreja eletrônica possui uma dependência mais carismática do que a igreja física. Os programas de rádio e televisão podem fracassar caso não tenha um televangelista, com habilidade de conquistar espectador e ouvinte. A intenção de universalidade da mensagem da igreja eletrônica também pretende que a pregação religiosa tenha consonância com nossos tempos de show business. 22 3. IMPÉRIO DA IGREJA ELETRÔNICA IURD O império da então Igreja Universal do Reino de Deus inicia-se em 9 de julho, de 1977, no bairro da Abolição, zona norte do Rio de Janeiro. Edir Bezerra Macedo, líder e fundador da igreja, com auxílio de um grupo de amigos e fiéis, conseguiu erguer seu primeiro templo religioso, onde outrora funcionava uma antiga funerária. O doutor em sociologia Mariano (2004) faz observação a partir do estudo sobre a igreja, que em menos de três décadas, por causa de novos elementos inseridos na doutrina cristã, por Macedo, acabaram anulando parte do contexto bíblico. Porém, ele fez a igreja crescer, tornando-a em um bem-sucedido e um novo fenômeno religioso no país, atuando principalmente no campo da mídia eletrônica e na política. Em contraste com o que se verifica na maioria das igrejas pentecostais, a Universal abre seus templos religiosamente todos os dias para a realização de três a quatro cultos públicos. Para manter essa "máquina" funcionando num tal ritmo de linha de produção, seus pastores trabalham em período integral, dedicando-se exclusivamente à denominação. Vínculo e compromisso institucionais que constituem enorme vantagem competitiva em relação às outras igrejas pentecostais, cujos pastores, majoritariamente, exercem outras atividades profissionais. (MARIANO, 2004, site) Ainda de acordo com Mariano (2004), a partir de uma análise com dados obtidos, desde sua fundação com apenas oito anos de existência, em 1985, a Igreja Universal já concentrava 195 templos espalhados, entre 14 estados, inclusive o Distrito Federal. Entre os anos de 1980 e 1989, o número de templos cresceu 2.600%. Já com 571 templos, em 1989, a Igreja Universal começou a negociação com a emissora de televisão Record, localizada no estado de São Paulo. Entretanto, como era proibida a aquisição de emissoras de rádio e de televisão pelas igrejas, foi formalizada em nome do pastor Laprovita Vieira. Na década de 1990, a igreja passou a alcançar todos os estados do território brasileiro. Como foi possível verificar a análise e observação do sociólogo Ricardo Mariano (2004), o Império da Universal ganhou grande proporção a partir de métodos religiosos estratégicos que Edir Macedo reciclou, os quais já existiam antes 23 da chegada da IURD. A Universal fez parte da terceira onda do pentecostalismo, e tornou-se neopentecostal devido a novos elementos inseridos na doutrina protestante, como mensagens de prosperidade, conseguindo mais espaço do que as outras igrejas, como Assembleia de Deus, inclusive a que originou a Nova Vida. Veja o mapa abaixo o crescimento da IURD: (Imagem: IBGE) A partir da visão de outro sociólogo, Nascimento (1998), a unificação da Universal como emissora a partir da Record, a deixou estruturalmente mais sólida. Uma prova disso é que apesar de, em 1998, o escritório da Procuradoria Geral da República, em São Paulo, ter solicitado o cancelamento da emissora, a partir de depoimentos dos líderes da IURD na Polícia Federal, apontando que a igreja era dona da Record, a rede de televisão não demonstrou preocupação com a repercussão e os questionamentos legais. Diante disso, investiu em mais propaganda, marketing e embelezamento na programação. A doutora em comunicação, Penha Rocha (2006), aborda a vertente da programação regional da Record em que mostra suas diferenças. Pode-se perceber que a TV IURD tem particularidades, uma vez que cada estado brasileiro pode ter uma produção diferente, pois os responsáveis pela programação local são o bispo e 24 o pastor, ou seja, além de estar no comando da instituição, eles determinam a programação. Outro fator importante são as parcerias realizadas na transmissão dos programas da IURD, para que possam alcançar todo o país. O horário de exibição dos programas religiosos é diferente em cada Estado, mas seguem um padrão de 10 horas de programação religiosa por dia. Tanto o sociólogo Nascimento (1998), quanto a Dr. Penha (2006), fizeram uma análise sobre a Universal como emissora. O primeiro foca no escândalo, em 1998, na descoberta da igreja como dona da Record, em que utilizaram um laranja para encobrir a compra feita pela mesma, ocasionando um processo extenso. Porém, para aparentar apatia sobre o caso, preferiu investir no marketing da emissora. Já a segunda faz uma análise com ênfase na programação regional da Record, em que os bispos e pastores além de estarem à frente da igreja, também controlam a programação. Até os dias atuais funciona assim, mas eles têm uma produtora para organizar e alterar a programação à escolha do pastor. Por outro lado, voltado para as estratégias religiosas, o doutor em teologia, Alderi Matos (2004), acredita que Macedo, desde o início, adotou a evangelização como principal instrumento de sua estratégia de conversão ao protestantismo. O crescimento acelerado da IURD estava concentrado na arrecadação de ofertas e dízimos, superiores aos das outras igrejas. Obteve como base essa conclusão a partir de uma pesquisa do Instituto de Estudos da Religião realizada no ano de 2004. O sociólogo Freston (1994), compreende a IURD como uma atualização de possibilidades teológicas, éticas e estéticas. Porém, ressalta que a ênfase dela em si não é somente a conversão da religião, como o batismo no Espírito Santo, mas sim a teologia da prosperidade, seja na saúde ou nas finanças, com o slogan: “Pare de sofrer; venha para a IURD”. Nesta parte, tanto Matos (2004), quanto Freston(1994) observam as estratégias religiosas, as quais a Universal tem, e a implementação de novos conceitos que possibilitou um maior crescimento tanto populacional quanto econômico. Programas como Fala que eu te escuto; Vidas transformadas; Palavra de Vida; Falando de fé; Jesus Verdade, Jesus Maior; Desafio da cruz; Ponto de Fé; Coisas da Vida deram mais estabilidade para que a Universal ganhasse espaço no contexto televisivo. Também se estendia para o telejornalismo, pois em dezembro de 2005 ganhou lugar de destaque no VII Prêmio Imprensa Embratel. 25 Leonildo Silveira Campos (1996), doutor especializado em estudo das religiões fez sua tese de doutorado sobre a Universal, e analisa de forma crítica o fenômeno da IURD. Para ele, essa congregação religiosa seria impossível sem o surgimento do mercado moderno, do círculo de consumidores e também de uma perfeita ligação entre produtores e consumidores ao redor de uma linguagem exteriorizada pelos meios de comunicação de massa. O Dr. Leonildo Campos (1996) foca na parte de estratégia de marketing para poder fazer a análise sobre a IURD. Ele liga um fator ao outro, ou seja, o mercado moderno precisa de consumidores, logo Edir Macedo utilizou estratégias de consumismo para agregar mais fiéis na venda de produtos através da TV, principalmente nos programas religiosos. Logo abaixo é apresentada uma pesquisa feita pela Dra. Penha Rocha, em que mostra o controle que a Universal exerce sob a programação religiosa e a concentração em um único lugar. Penha (2006), por sua vez, demonstra através de sua pesquisa, que o Império da Universal, como forma organizacional, concentrou toda a produção do material de comunicação, na época, em um espaço próximo onde está localizada a Catedral da Fé. Neste ambiente funcionavam os estúdios de rádio, além dos programas televisivos conhecidos como TV IURD. Já o templo começou a ser construído em 1980 e ficou pronto em 1999. A produtora ganhou um espaço dentro da Catedral da Fé e, após a conclusão da obra, teve os setores divididos em rádio e televisão. Atualmente a Igreja Universal do Reino de Deus está presente em mais de 40 países da América Latina, além de algumas cidades nos Estados Unidos, Europa, África e Ásia. Em emissoras de rádio são 64, de televisão são 106 contando com as filiais e no internacional são 8. Logo abaixo é apresentado o altas de cobertura da Rede Record em 2014: 26 (Imagem: Rede Record) Na mídia online conta com um canal no YouTube chamado IURDTV, que disponibiliza mensagens de conforto espiritual, além de pregações do evangelho. A TV Universal (TV IURD) transmite em tempo real, pela internet, a programação religiosa que está passando na televisão. Além disso, no site universal.org é disponibilizado um pastor online, onde o líder atende o fiel e o conforta através das palavras que estão acostumados a utilizar em cultos, porém de uma forma mais personalizada. 3.1. Edir Macedo: Um empresário de sucesso no comando de sua igreja eletrônica Edir Bezerra Macedo nasceu em 18 de julho de 1945, na cidade Rio das Flores, interior do Estado do Rio de Janeiro. Largou os estudos e começou a trabalhar aos 11 anos de idade, para ajudar o pai em um bar, mas retomou seus estudos aos 15 anos, já na cidade de Simão Pereira. Veio para a cidade do Rio de Janeiro, definitivamente, aos 16 anos, onde concluiu o ensino fundamental e 27 conseguiu um emprego em um escritório administrativo. Aos 18 anos iniciou sua carreira de funcionário público na Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). Nascido em uma família católica, Macedo foi influenciado por sua irmã mais velha, Elcy Macedo, de 17 anos, a primeira da família a se tornar protestante após, segundo ela, receber uma cura de saúde. Ela fez com que Macedo meditasse sobre a bíblia evangélica e, em pouco tempo, frequentasse a igreja Nova Vida. Assim, ele se converteu ao protestantismo aos 19 anos. Edir Macedo foi servidor público por 16 anos e largou o cargo para pregar o Evangelho que acreditava. Começou em um coreto da Praça Jardim Méier, zona norte do Rio de Janeiro. Em 1977, fundou a Universal que anteriormente teve dois nomes até chegar ao definitivo: ”Ministério Cruzada para o Caminho Eterno” e “Casa de Bênçãos”. Antes de ter um local próprio e fixo, fez uma passagem por um antigo cinema chamado Bruni Méier e outro Cine Ridan em Piedade, além de fazer incursões em vários outros lugares. (Imagem: Blog do Edir Macedo - Coreto onde pregava) Utilizou também a igreja de seu cunhado, Romildo Ribeiro Soares para fazer pregações quando o número de pessoas era mais baixo. Apesar de se acostumar com a pouca quantidade de seguidores, começou a atrair mais adeptos. Em 1977, Macedo conseguiu um espaço maior e fundou a Universal. E com o seu modo de gesticular e pregar conseguiu aumentar o número de fiéis, possibilitando abrir novos templos. Ele sempre acreditou que as atividades do evangelho dependiam de um forte veículo de comunicação de massa no Brasil e no mundo. 28 (Imagem: Blog do Edir Macedo- Primeiro culto) Por isso, em 1980, rompeu a administração conjunta da Universal com R.R Soares, pois o modo de pensar e compreender eram diferentes. Romildo criou a Igreja Internacional da Graça, enquanto Macedo seguiu com a IURD e o seu progresso promissor como empresário. No ano de 1986, ele fundou uma filial nos Estados Unidos, na cidade de Nova York. Depois de quatro anos, no ano de 1990, viveu uma turbulenta fase, principalmente com a compra da TV Record, adquirida em 1989, quando desencadeou uma série de críticas e acusações da imprensa, inclusive de alguns setores evangélicos. Foram feitos inquéritos policiais, além dos processos judiciais contra líderes da igreja. (Imagem: Blog do Edir Macedo) A situação ficou ainda mais complicada em 1991, pois um ex-líder de Salvador, na Bahia, Carlos Magno, que tinha assumido o lugar de R.R Soares na administração conjunta da Universal, acusou Edir Macedo de sonegar impostos, 29 além de envolvimento com o narcotráfico e também de enviar ouro e dólares ilegalmente para o exterior, o que levou o bispo a depor na Justiça Federal. Um ano depois, em 24 de maio de 1992, foi acusado de cometer crimes como charlatanismo, curandeirismo e estelionato. Edir Macedo foi preso na 91ª DP em São Paulo, onde permaneceu por 12 dias, sendo solto por meio de um habeas corpus. (Imagem: Agência Estado) Em 1995, nas vésperas de Natal, o ex-líder voltou à mídia com um vídeo gravado em 1990, em que Edir Macedo aparecia contando dinheiro no templo em Nova York, no Brooklin, e divertindo-se em um iate em Angra dos Reis, instruindo pastores a serem mais eficazes com a arrecadação de dízimos e ofertas. Foi ao ar pelo Jornal Nacional, no ano de 1995, com direito a uma exclusiva de Carlos Magno. Edir Macedo tentou tirar o vídeo do ar, porém não obteve sucesso. 30 (Imagem: Rede Globo – Bispo Macedo contando dinheiro em Igreja do Brooklin) Nesse período complicado da Universal, Macedo procurou ficar longe do Brasil e foi para os Estados Unidos onde tinha fundado a filial. Nomeou o pastor Renato Suhets, e este tornou-se o braço direito do então bispo. Após a repercussão, para evitar mais conflitos, o líder reestruturou o poder eclesiástico criando três instâncias hierárquicas: Conselho Mundial de Bispos; Conselho de Bispos do Brasil; e o Conselho de Pastores. Com essa estrutura e concentração do governo episcopal, a Universal manteve-se firme em seu caminho. Nesse sentido, cumpre destacar que o governoepiscopal tal como exercido pela igreja reforça a unidade e a coesão denominacional, dinamiza o processo decisório, agiliza a transmissão das ordens superiores e a realização dos trabalhos administrativos, organizacionais e de evangelismo, permite centralizar a administração dos recursos coletados e fazer investimentos caros e estratégicos, como a abertura de novas congregações e frentes de evangelização, a construção de templos de grande porte, a compra de emissoras de rádio e TV, a criação de gravadoras, de editoras e de outros empreendimentos. (MARIANO, 2004, site) Segundo o sociólogo Mariano (2004), Edir Macedo optou por investir pesado nos meios de comunicação, como a TV e o rádio, para divulgar crenças e práticas religiosas, com saberes e valores de instituições da modernidade. Recentemente, a revista Forbes indicou o bispo Macedo como um dos 54 brasileiros bilionários, com sua riqueza pessoal estimada em US$ 1,1 bi, o equivalente a R$ 3,15 bi. Ele alega que seu dinheiro é proveniente da venda de 31 livros de sua autoria. Já o Grupo Record, de propriedade do bispo, está avaliado em R$ 1 bi. 3.2. Universal na era digital Para Kotler (2010), o conceito de marketing 3.0 é incorporado diretamente ao marketing religioso. Pois o conceito é focado no espírito humano com interpretação em uma base associada à tricotomia. A crença evangélica acredita na tricotomia, ou seja, o homem possui um corpo, alma e espírito. Essa concepção é de extrema importância para os evangélicos antes mesmo de Kotler (2010) fazer a análise sobre estratégias de marketing. Antes mesmo de as igrejas atualizarem os conceitos de marketing e propaganda, já utilizavam a abordagem tricotômica e conseguiam convencer as pessoas, além de direcionar suas estratégias para o lado emocional do “espírito humano”. Atualmente, já fazem uso de ferramentas de propaganda com duplo sentido, sendo o primeiro para a adesão de mais membros para a igreja e o segundo para pregar as doutrinas em que acreditam. Entretanto, a Igreja Universal do Reino de Deus destacou-se, entre seus fiéis, com seus programas televisivos. Um exemplo disso é a aquisição da Rede Record no final da década de 1980, buscando fortalecer e expandir a doutrina da igreja. Essa foi uma das maiores, se não a maior estratégia de comunicação efetuada por Edir Macedo. Como foi apresentado no capítulo anterior, o bispo Edir Macedo sempre acreditou que o meio de comunicação era a chave para a expansão da igreja. Com a chegada da internet em meados da década de 1990, a IURD procurou investir nesta nova ferramenta digital. Segundo Penha (2006), os primeiros passos na utilização da internet foram a criação de sites, de forma amadora, com as publicações na web feita por pastores obreiros, pastores e fiéis com o objetivo de discutir e interagir sobre do Evangelho. Começaram a tomar forma com a transferência de conteúdo da Folha da Universal para web, nela continha matérias, orações, pedidos, fotos dos cultos e 32 templos. A era digital ainda era nova, então as estruturações dos sites eram bem simples, em HTML básico, sem muitas opções de fazer um amplo trabalho de interatividade. Penha (2006) acrescenta ainda que uma mudança visível aconteceu nos anos 2000, quando a Arca Universal foi criada, indicando um investimento maior na rede de computadores feita pela IURD. Para tornar o trabalho mais sério, foram contratados profissionais da área da informática, que montaram um escritório com propósito especifico em desenvolver projetos inovadores além da constante alimentação da tecnologia da informação. Na época do desenvolvimento dos protótipos, uma entrevista foi concedida pelo web designer e gerente de projetos da Arca Universal, Moises Cruz, em que ele esclarece o objetivo do portal: criar uma singularidade de entretenimento e jornalismo para os fiéis. Foi feita a junção na plataforma digital da Folha Universal, Rede Plenitude, Terapia do Amor, que antes eram gerenciadas por obreiros. Percebe-se que no início da era digital, a Universal começou de forma amadora, porém ao longo dos anos foi se aperfeiçoando, para criar uma identidade digital mais profissional e adequada, para se firmar no mercado virtual. Para entender melhor a forma que a Universal se estruturou na era da tecnologia, Penha (2006) explica com detalhes como foi feita a divisão estrutural para manter o site apresentável. Foram divididos em Desenvolvimento e Alimentação, em que a primeira área é composta por engenheiros, profissionais de informática e designers, que cuidam da parte técnica, criação e execução de projetos direcionados para internet. Já a segunda área, a de Alimentação, é voltada para o conteúdo de informação que colocam na página, constituída pela central de jornalismo da IURD e a redação da Folha Universal que contribuem também com informações e notícias. A Internet possibilitou à IURD, igualmente, a exploração da interatividade com seu público e membros da igreja. Pelo Arca Universal, o fiel pode estar em contato com a Universal do Reino de Deus nas 24 horas do dia, de qualquer ponto do país ou do mundo. Se, antes, essa aproximação já era essencial e bastante explorada nos templos, nos programas de rádio ou televisão, a Internet otimiza o contato com o público. (ROCHA, 2006, Estratégias de Comunicação da IURD, pg.121) 33 Sabe-se que na era digital a ampla liberdade de expressão é forte e isso foi um grande empecilho para o portal, pois nos primeiros meses uma grande quantidade de pessoas invadiram as páginas e chats da Igreja Universal com conteúdos, segundo eles, considerados ofensivos aos conceitos evangélicos. Medidas de segurança tiveram que ser tomadas, passou-se a investir na segurança eletrônica. Segundo o web designer Moisés, essas políticas de segurança foram necessárias para evitar a invasão de hackers que colocassem mensagens contra o então bispo Edir Macedo. Atualmente, a Arca não recebe mais esse nome, pois foi substituída pela Universal.org, onde contém tudo o que precisam, de pastores online até agendas de eventos e pregações, ou seja, um site completo para atrair mais pessoas e trazer a maior comodidade possível. Além desse site existem outros onde funcionam a TV Universal e Rede Aleluia, esses são ramificações, como o canal Filhos da Universal, voltado para jovens, criado com o intuito de se aproximar deste público alvo. Com mais rapidez e eficácia a tecnologia deste tempo pode facilitar a comunicação. Cada vez mais investindo no meio tecnológico, as ferramentas digitais que surgiram também foram o Facebook, Twitter e o mais recente Instagram. As popularizações destas redes foram em tempos diferentes, pois cada plataforma digital tem uma função divergente da outra e dependia da capacidade de adeptos a novidade. O Facebook lançado em 2004, é um ambiente onde as pessoas se encontram e se comunicam. A linguagem das redes sociais tornou-se um padrão de comunicação informal, onde muitas empresas têm readaptado sua linguagem. Um dos canais mais difusores de comunicação, a rede social atraiu os olhares de IURD. O Facebook foi o primeiro a ser incorporado à ferramenta digital da Universal, onde nele há cerca de 1,5 milhão de curtidas. A rede social popularizou-se mais no Brasil, entre os anos de 2011 e 2012, onde teve um aumento de 660%, desde fevereiro de 2011, e tornou-se a mais comum utilizada entre os brasileiros, que abandonaram de vez o Orkut. Segundo uma entrevista realizada com os idealizadores do Facebook, concedida ao portal de notícias G1, no ano de 2013, o Brasil ficava em segundo 34 lugar ao conectar-se à rede social,cerca de 76 milhões de usuários, o que atraiu ainda mais a Universal para essa estrutura social. Na página do Facebook são repassadas as mensagens que foram transmitidas nas igrejas, como por exemplo: Dia do Jejum de Daniel, um tipo de propósito, segundo o que eles acreditam, é divulgado na página, com mensagens de apoio e incentivo. Ainda contém matérias de cunho religioso que remetem ao site central, além de mensagens matinais e interatividade com o público. (Imagem: Facebook) O Twitter, que teve início em 2006, tem como objetivo enviar mensagens em apenas 140 caracteres. A novidade espalhou-se, porém para a IURD não há uma enorme utilidade. Começou a ser utilizado pela Igreja em 2008, mas não teve tanta repercussão quanto o Facebook, atraindo aproximadamente 131 mil seguidores. Nele são divulgadas palavras de conforto, incentivos aos propósitos que realizam e como não tem muito interatividade com o público, faz postagens que redirecionam ao site central da Universal. O Instagram, lançado em 2010, é um aplicativo que permite aplicação de filtros em fotos online e o envio de vídeos. Anteriormente recebia o nome de Burbn, porém as funções eram complexas, segundo um dos criadores, então resolveram simplificar e transformar para o nome atual. Como o Facebook, o Instagram popularizou-se e também é utilizado pela Universal, mas foi adquirido mais recentemente do que os outros. Com aproximadamente 772 publicações, recebe um público maior de 1 milhão de seguidores. Nessa rede social são compartilhadas fotos sobre os templos, incentivos, campanhas que realizam e inaugurações realizadas. 35 4. COMUNICAÇÃO DA UNIVERSAL ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS Neste capítulo será analisada a função das plataformas digitais da igreja Universal. Quais são as principais estratégias para aproximar cada vez mais os fiéis e principalmente a estrutura do site que tem a junção de todas as redes sociais, além de outros setores que estão contidos no veículo de comunicação da igreja. Começamos falando sobre a comparação que Freston (1994) fez entre a Universal e a Assembleia de Deus, na qual as duas servem de contraste, pois tem ideais diferentes. “A ética da Assembleia vem do tradicional capitalismo primitivo e lutou para obter o respeito da pequena-burguesia. Já a IURD adquiriu uma versão religiosa da ética yuppie, ou seja, enriquece de forma rápida através de jogadas audaciosas”. A partir desta comparação é possível afirmar que o líder da Universal, Edir Macedo, sempre acreditou que os meios de comunicação em massa eram canais de fonte para propagar as doutrinas que pratica. Um dos maiores interesses nestas estratégias de comunicação foi a aquisição da emissora Rede Record, na década de 1980, por 45 milhões de cruzeiros na época. O site Universal.org, antiga Arca Universal, começou a se solidificar logo nos anos 2000, no mesmo período do lançamento de outros portais como Globo.com, do IG e do UOL. A IURD tinha o intuito de consolidar mais o seu domínio nas ferramentas de comunicação. Para isso, contratou profissionais de engenharia, informática e de designer para deixar o site mais bem organizado, e a central de jornalismo para preencher com conteúdos a versão impressa da Folha Universal. Cores neutras e padronizadas suavizam a estrutura do site. A partir deste ponto será feita uma análise completa do site. 36 (Imagem: Site da Universal) 4.1. Análise dos setores do site A barra superior tem divisão de setores de identificação de quem são. Nela sãos identificados onde estão as igrejas, as reuniões (cultos) que realizam, quais os tipos de trabalhos que costumam praticar e embaixo há uma interação na qual pede que o internauta participe e trabalhe com eles. (Imagem: site da Universal) Já a próxima são as editorias divididas em 15 assuntos diferentes. Ela sempre remete à igreja, começando no âmbito nacional e desenvolvendo ao 37 comportamental, na vida à dois, contexto internacional e etc. Algumas delas são atualizadas frequentemente como, por exemplo, as notícias da Universal, e outras com menor frequência, um exemplo é a coluna Brasil. (Imagem: site da Universal) O setor de serviço é a área comercial que consiste em divulgação do site, endereço da loja online de produtos que atende do público infantil até ao adulto. Há o Fale conosco, um tipo de interação que aceita sugestões, reclamações; e também há livros de orações onde é possível colocar seu nome e fazer pedidos. Ainda tem vídeos com mensagens de pastores e bispos, sobre diversos assuntos de contexto religioso. Tem a caixa de promessa em que é possível baixar capa para o Facebook com mensagens e com a logo da instituição. 38 (Imagem: site da Universal) Há também três setores mais objetivos. O primeiro é a TV UNIVERSAL (antiga TV IURD), na qual disponibiliza a programação em tempo real de programas religiosos da igreja. (Imagem: site da Universal) 39 O segundo são os blogs, de dirigentes e pessoas relacionadas a igreja, inclusive o do Bispo Macedo, com mensagens e conselhos de cunho religioso. (Imagem: site da Universal) O terceiro são as doações, com opções de pagamento: cartão de crédito, débito em conta ou boleto bancário. De acordo com o site, esses donativos são direcionados alguns setores, como à manutenção do templo, pastor online 24 horas, dízimo evangelização em rádio e televisão, auxiliares do bispo e programas como voto com Deus e fogueira santa. Ou seja, o fiel e o internauta tem a opção de escolher qual setor vai ajudar. (Imagem: site da Universal) 40 Antes das Doações há uma ferramenta digital, cada vez mais utilizada pela igreja para se aproximar de seus seguidores: o Pastor Online. Nele é possível entrar em contato com o pastor apenas informando seu nome, e-mail e se é frequentador da Universal, sem a necessidade de realizar um cadastro. (Imagem: site da Universal) 4.2. Pastor Online 24 horas – Fiel da Igreja que utiliza o serviço Em conversa com Cristina, frequentadora da Universal há 10 anos, a mesma se diz contente em poder participar da Terapia do Amor, na Catedral da Fé, em Del Castilho, zona Norte do Rio. Ela afirma que além de ir à igreja, acessa os serviços online oferecido pelo site como, por exemplo, o Pastor Online. Extraoficialmente, Cristina alerta também sobre os problemas vivenciados pela Universal, como a atuação de jovens pastores (incluso menores de idade) na igreja, resultando em processos judiciais. Essas informações não foram confirmadas pela Universal. 4.3. Outros setores Por fim, o site tem um rotativo que direcionam para as matérias das editorias, uma barra na direita com “as mais lidas” e ao lado tem em destaque o blog do bispo 41 Macedo. Acima do destaque há os links para as redes sociais, que são o Twitter, Facebook e o Google +. (Imagem: site da Universal) Abaixo, há os destaques de matérias de conforto, e seguindo de forma sequencial encontra-se a chamada para TV Universal, a galeria de fotos dos templos, dos eventos realizados no âmbito nacional e internacional, e os destaques da barra inicial com os setores. (Imagem: site da Universal) 42 Além de todos esses setores, o site também disponibiliza um canal de comunicação para a imprensa e relações institucionais, na qual a assessoria da UNIcom funciona em horário comercial, durante o fim de semana é por regime de plantão. (Imagem: site da Universal)43 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a terceira onda do neopentecostalismo, a Igreja Universal do Reino de Deus surgiu em 1977, e em menos de 10 anos expandiu-se, tanto de forma física, como multimídia e agora virtualmente. O Bispo Macedo acreditou que o meio de comunicação pudesse ampliar de forma harmoniosa o evangelho no qual acredita, entretanto, não tinha somente este intuito, pois incluía a conquista progressiva de mais fiéis. A Igreja Universal do Reino de Deus procura de forma contínua e estratégica adaptar-se ao mundo tecnológico, e além de conseguir os objetivos almejados, tem uma força maior da palavra e de seus ideais. Com discursos persuasivos e adoção de práticas inovadoras no protestantismo a igreja tem crescido cada vez mais. As práticas religiosas foram adquiridas por meio de programas norte- americanos, como por exemplo 700 Club, que auxiliou para o conforto dos fiéis e, consequentemente, ampliou o número de seguidores. Faz parte da estatística da igreja eletrônica, como foi intitulada, por “empacotar” os programas e transmiti-los a partir da adesão da emissora Record, em 1989. Todavia, a ideia deste trabalho foi o de abrir uma discussão sobre as estratégias de comunicação utilizadas pela IURD, além de oferecer dados para mostrar a força que ela apresenta, cada vez mais, em tecnologias avançadas. Além do cuidado ao escolher novos profissionais com boas experiências nas diferentes áreas da mídia, a igreja apresenta estratégias retóricas e discursos midiáticos de bispos e pastores que trabalham em favor dos interesses institucionais, focados principalmente em consumidores religiosos, que são o foco desta pesquisa. A abordagem do tema não tem como objetivo analisar a questão religiosa da Igreja Universal do Reino de Deus em suas vertentes filosóficas, teológicas, antropológicas, mas sim no contexto de como a IURD organizou-se em diversas maneiras para difundir suas ideias, crendices e argumentos de sedução. Ou seja, é importante mencionar que o objetivo principal deste trabalho não é o de fazer análise de discurso religioso, mas sim, das ferramentas de comunicação, dos canais que se propagam as ideias. 44 Esse modelo de igreja, sempre busca formas de persuasão usadas pela propaganda para evangelizar, além de métodos das ciências econômicas. Os líderes são empresários de sucesso, pois têm capacidade administrativa de um profissional de marketing e utilizam a fé como mercadoria. Portanto, fica evidente que, nesse tipo de igreja, os meios de comunicação de massa são ferramentas fundamentais para o manuseio e influência da “verdade conveniente”, ou seja, a suposta palavra de Deus. 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