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Recuperação de Matas Ciliares Recuperação de Matas Ciliares O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e conseqüente destruição dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da história do País, a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades. A noção de recursos naturais inesgotáveis, dadas as dimensões continentais do País, estimulou e ainda estimula a expansão da fronteira agrícola sem a preocupação com o aumento ou, pelo menos, com uma manutenção da produtividade das áreas já cultivadas. Assim, o processo de fragmentação florestal é intenso nas regiões economicamente mais desenvolvidas, ou seja, o Sudeste e o Sul, e avança rapidamente para o Centro-Oeste e Norte, ficando a vegetação arbórea nativa representada, principalmente, por florestas secundárias, em variado estado de degradação, salvo algumas reservas de florestas bem conservadas. Este processo de eliminação das florestas resultou num conjunto de problemas ambientais, como a extinção de várias espécies da fauna e da flora, as mudanças climáticas locais, a erosão dos solos e o assoreamento dos cursos d'água. Neste panorama, as matas ciliares não escaparam da destruição; pelo contrário, foram alvo de todo o tipo de degradação. Basta considerar que muitas cidades foram formadas às margens de rios, eliminando-se todo tipo de vegetação ciliar; e muitas acabam pagando um preço alto por isto, através de inundações constantes. Além do processo de urbanização, as matas ciliares sofrem pressão antrópica por uma série de fatores: são as áreas diretamente mais afetadas na construção de hidrelétricas; nas regiões com topografia acidentada, são as áreas preferenciais para a abertura de estradas, para a implantação de culturas agrícolas e de pastagens; para os pecuaristas, representam obstáculos de acesso do gado ao curso d'água etc. Este processo de degradação das formações ciliares, além de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam transportados para os cursos d'água, afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e conseqüentemente a fauna aquática e a população humana. São importantes também como corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais e vegetais. Em regiões com topografia acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos. Apesar da reconhecida importância ecológica, ainda mais evidente nesta virada de século e de milênio, em que a água vem sendo considerada o recurso natural mais importante para a humanidade, as florestas ciliares continuam sendo eliminadas cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo de produção. É necessário que as autoridades responsáveis pela conservação ambiental adotem uma postura rígida no sentido de preservarem as florestas ciliares que ainda restam, e que os produtores rurais e a população em geral seja conscientizada sobre a importância da conservação desta vegetação. Além das técnicas de recuperação propostas neste trabalho, é fundamental a intensificação de ações na área da educação ambiental, visando conscientizar tanto as crianças quanto os adultos sobre os benefícios da conservação das áreas ciliares. A definição de modelos de recuperação de matas ciliares, cada vez mais aprimorados, e de outras áreas degradadas que possibilitam, em muitos casos, a restauração realativamente rápida da cobertura florestal e a proteção dos recursos edáficos e hídricos, não implica que novas áreas possam ser degradadas, já que poderiam ser recuperadas. Pelo contrário, o ideal é que todo tipo de atividade antrópica seja bem planejada, e que principalmente a vegetação ciliar seja poupada de qualquer forma de degradação. As matas ciliares exercem importante papel na proteção dos cursos d'água contra o assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas, além de, em muitos casos, se constituírem nos únicos remanescentes florestais das propriedades rurais sendo, portanto, essenciais para a conservação da fauna. Estas peculiaridades conferem às matas ciliares um grande aparato de leis, decretos e resoluções visando sua preservação. O novo Código Florestal (Lei n.° 4.777/65) desde 1965 inclui as matas ciliares na categoria de áreas de preservação permanente. Assim toda a vegetação natural (arbórea ou não) presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes e de reservatórios deve ser preservada. De acordo com o artigo 2° desta lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada está relacionada com a largura do curso d'água. A tabela apresenta as dimensões das faixas de mata ciliar em relação à largura dos rios, lagos, etc. Largura Mínima da Faixa Situação 30 m em cada margem Rios com menos de 10 m de largura 50 m em cada margem Rios com 10 a 50 m de largura 100 m em cada margem Rios com 50 a 200 m de largura 200 m em cada Rios com 200 a 600 m margem de largura 500 m em cada margem Rios com largura superior a 600 m Raio de 50 m Nascentes 30 m ao redor do espelho d'água Lagos ou resevatórios em áreas urbanas 50 m ao redor do espelho d'água Lagos ou reservatórios em zona rural, com área menor que 20 ha 100 m ao redor do espelho d'água Lagos ou reservatórios em zona rural, com área igual ou superior a 20 ha 100 m ao redor do espelho d'água Represas de hidrelétricas Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores essenciais para a manutenção da resiliência como, banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, dentre outros, podem ser perdidos, dificultando o processo de regeneração natural ou tornando-o extremamente lento. Uma floresta ciliar está sujeita a distúrbios naturais como queda de árvores, deslizamentos de terra, raios etc., que resultam em clareiras, ou seja, aberturas no dossel, que são cicatrizadas através da colonização por espécies pioneiras seguidas de espécies secundárias. Distúrbios provocados por atividades humanas têm, na maioria das vezes, maior intensidade do que os naturais, comprometendo a sucessão secundária na área afetada. As principais causas de degradação das matas ciliares são o desmatamento para extensão da área cultivada nas propriedades rurais, para expansão de áreas urbanas e para obtenção de madeira, os incêndios, a extração de areia nos rios, os empreendimentos turísticos mal planejados etc. Em muitas áreas ciliares, o processo de degradação é antigo, tendo iniciado com o desmatamento para transformação da área em campo de cultivo ou em pastagem. Com o passar do tempo e, dependendo da intensidade de uso, a degradação pode ser agravada através da redução da fertilidade do solo pela exportação de nutrientes pelas culturas e, ou, pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, da compactação e da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito de máquinas agrícolas. O conhecimento dos aspectos hidrológicos da área é de suma importância na elaboração de um projeto de recuperação de mata ciliar. A menor unidadede estudo a ser adotada é a microbacia hidrográfica, definida como aquela cuja área é tão pequena que a sensibilidade a chuvas de alta intensidade e às diferenças de uso do solo não seja suprimida pelas características da rede de drenagem. Em nível de microbacia hidrográfica é possível identificar a extensão das áreas que são inundadas periodicamente pelo regime de cheias dos rios e a duração do período de inundação. Estas informações são extremamente importantes na seleção das espécies a serem plantadas, já que muitas espécies não se adaptam a condições de solo encharcado, ao passo que outras só sobrevivem nestas condições. Técnicas de Recuperação de Matas Ciliares 1. Regeneração Natural: Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de se recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos. Quando uma determinada área de floresta sofre um distúrbio como a abertura natural de uma clareira, um desmatamento ou um incêndio, a sucessão secundária se encarrega de promover a colonização da área aberta e conduzir a vegetação através de uma série de estádios sucessionais, caracterizados por grupos de plantas quer vão se substituindo ao longo do tempo, modificando as condições ecológicas locais até chegar a uma comunidade bem estruturada e mais estável. A sucessão secundária depende de uma série de fatores como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração do distúrbio. Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica sucessional específica. Em áreas onde a degradação não foi intensa, e o banco de sementes próximas, a regeneração natural pode ser suficiente para a restauração florestal. Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de degradação, ou seja, isolar a área e não praticar qualquer atividade de cultivo. Em alguns casos, a ocorrência de espécies invasoras, principalmente gramíneas exóticas como o capim- gordura (Melinis minutiflora) e trepadeiras, pode inibir a regeneração natural das espécies arbóreas, mesmo que estejam presentes no banco de sementes ou que cheguem na área, via dispersão. Nestas situações, é recomendado uma intervenção no sentido de controlar as populações de invasoras agressivas e estimular a regeneração natural. A regeneração natural tende a ser a forma de restauração de mata ciliar de mais baixo custo, entretanto, é normalmente um processo lento. Se o objetivo é formar uma floresta em área ciliar, num tempo relativamente curto, visando a proteção do solo e do curso d'água, determina as técnicas que acelerem a sucessão devem ser adotadas. 2. Seleção de Espécies: As matas ciliares apresentam uma heterogeneidade florística elevada por ocuparem diferentes ambientes ao longo das margens dos rios. A grande variação de fatores ecológicos nas margens dos cursos d'água resultam em uma vegetação arbustivo-arbórea adaptada a tais variações. Via de regra, recomenda-se adotar os seguintes critérios básicos na seleção de espécies para recuperação de matas ciliares: plantar espécies nativas com ocorrência em matas ciliares da região; plantar o maior número possível de espécies para gerar alta diversidade; utilizar combinações de espécies pioneiras de rápido crescimento junto com espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas); plantar espécies atrativas à fauna; respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantar espécies adaptadas a cada condição de umidade do solo. Na escolha de espécies a serem plantadas em áreas ciliares é imprescindível levar em consideração a variação de umidade do solo nas margens dos cursos d'água. Para as áreas permanentemente encharcadas, recomenda-se espécies adaptadas a estes ambientes, como aquelas típicas de florestas de brejo. Para os diques, são indicadas espécies com capacidade de sobrevivência em condições de inundações temporárias. Já para as áreas livres de inundação, como as mais altas do terreno e as marginais ao curso d'água, porém compondo barrancos elevados, recomenda-se espécies adaptadas a solos bem drenados. A escolha de espécies nativas regionais é importante porque tais espécies já estão adaptadas às condições ecológicas locais. Por exemplo, o plantio de uma espécie típica de matas ciliares do norte do País em uma área ciliar do sul, pode ser um fracasso por causa de problemas de adaptação climática. Além disso, no planejamento da recuperação deve-se considerar também a relação da vegetação com a fauna, que atuará como dispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural. Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a recuperar as funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação de peixes. Recomenda-se utilizar um grande número de espécies para gerar diversidade florística, imitando, assim, uma floresta ciliar nativa. Florestas com maior diversidade apresentam maior capacidade de recuperação de possíveis distúrbios, melhor ciclagem de nutrientes, maior atratividade à fauna, maior proteção ao solo de processos erosivos e maior resistência à pragas e doenças. Em áreas ciliares proximas a outras florestas nativas, e quando não se tem disponibilidade de mudas de muitas espécies, plantios mais homogêneos podem ser realizados. Nestas situações, deve ocorrer um enriquecimento natural da área recuperada, pela entrada de sementes vindas das florestas próximas. Entretanto, salienta-se que o aumento da diversidade nestes plantios homogêneos tende a ser muito lento, podendo ser necessários posteriores plantios de enriquecimento ou até a introdução de sementes. A combinação de espécies de diferentes grupos ecológicos ou categorias sucessionais é extremamente importante nos projetos de recuperação. As florestas são formadas através do processo denominado de sucessão secundária, onde grupos de espécies adaptadas a condições de maior luminosidade colonizam as áreas abertas, e crescem rapidamente, fornecendo o sombreamento necessário para o estabelecimento de espécies mais tardias na sucessão. Várias classificações das espécies em grupos ecológicos têm sido propostas na literatura especializada, sendo mais empregada a classificação em quatro grupos distintos: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climáticas. A tolerância das espécies ao sobreamento aumenta das pioneiras e climáticas. Para facilitar o entendimento das exigências das espécies quanto aos níveis de luz, adotou-se apenas dois grupos: pioneiras e não-pioneiras. O grupo das pioneiras é representado por espécies pioneiras e secundárias iniciais, que devem ser plantadas de maneira a fornecer sombra para as espécies não pioneiras, ou seja, as secundárias tardias e as climáticas. Tabela I - Características de espécies arbóreas nativas do Brasil, que compõem os diferentes grupos ecológicos. Grupo Ecológico Características Pioneiras Secundárias Iniciais Secundárias Tardias Climáticas Crescimento muito rápido rápido médio lento ou muito lento Madeira muito leve leve mediamente dura dura e pesada Tolerância à sombra muito intolerante intolerante tolerante no estágio juvenil tolerante Altura das árvores (m) 4 a 10 20 20 a 30 (alguns até 50) 30 a 45 (alguns até 60) Regeneração banco de sementes banco de plântulas banco de plântulas banco de plântulas Dispersão de sementes ampla (zoocoria: alta diversidade de animais); pelo vento, a grande distância restrita (gravidade); ampla (zoocoria: poucas espécies de animais); pelo vento, a grande distância principalmente pelo vento ampla (zoocoria: grandes animais);restrita (gravidade) Tamanhos de frutos e sementes pequeno médio pequeno à médio mas sempre leve grande e pesado Dormência das sementes induzida (foto ou termorregulada) sem sem inata (imaturidade do embrião) Idade da 1.° reprodução (anos) prematura (1 a 5) prematura (5 a 10) relativamente tardia (10 a 20) tardia (mais de 20) Tempo de vida (anos) muito curto (menos de 10) curto (10 a 25) longo (25 a 100) Muito longo (mais de 20) Ocorrência capoeiras, bordas de matas, clareiras médias florestas secundárias, bordas de clareiras, florestas secundárias e primárias, bordas de florestas secundárias em estágio avançado de e grandes clareiras pequenas clareiras e clareiras pequenas, dossel floresta e sub-bosque sucessão, florestas primárias, dossel e sub- bosque Na tabela II são apresentadas as espécies nativas indicadas para a recuperação de matas ciliares, com os respectivos nomes vulgares, o grupo ecológico a que pertencem e a tolerância à umidade do solo. Foram incluídas na lista aquelas espécies que aparecem em destaque na maioria dos estudos fitossociológicos em matas ciliares, e as que a experimentação científica tem comprovado sua capacidade para recuperar estas áreas. Espécies arbustivo-arbóreas, recomendadas para recuperação de matas ciliares G.E. = grupo ecológico: P = pioneira; NP = não pioneira; Si = secundária inicial. Quanto a indicação: A = áreas encharcadas permanentemente; B = áreas com inundação temporária; C = áreas bem drenadas, não alagáveis. Nome Científico Nome Vulgar G.E. Indicação Acacia polyphylla DC. angico-branco P B, C Acrocomia aculeata Lodd. ex Mart macaúba, macaúva P B, C Aegiplila sellowiana Cham. tamanqueira, papagaio P C Albizzia hassleri (Chod.) Burkart farinha seca P (Si) C Albizzia glandulosa Poepp & Endl. tapiá P B, C Alchornea triplinervia (Spr.) Muell. Arg. tapiá mirim P A, B Allophylus edulis (A. ST. HIL.) Juss lixeira P C Amaioua guianensis Aublet café do mato, marmelada NP C Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan angico vermelho P (Si) C Aniba fimula Mez canelinha NP A Annona cacans Warm. araticum, araticum cagão NP B, C Apulea leiocarpa Macbr. garapa NP C Aspidosperma cylindrocarpum Müell Arg. peroba poca NP B, C Aspidosperma polyneuron Müell. Arg. peroba rosa NP C Astronium graveolens Jacq. guaritá, quebra-machado P (Si) C Balfourodendron riedelianum Engl. pau marfim P (Si) B, C Bauhinia forficata Link. unha-de-vaca P (Si) B, C Blepharocalyx salicifolius (Kunth) Berg. guruçuca NP B, C Brossimum gaudichaudii Trécul. mamica-de-cadela NP B Cabrelea canjerana (Veloso) Martins canjerana NP B, C Calophyllum brasiliensis Camb. guanandi, landi NP A, B Campomanesia xanthocarpa Berg. gabiroba NP B, C Cariniana estrellensis (Raddi) O. Kuntze. jequitibá branco NP C Cariniana legalis (Mart.) Kuntze. jequitibá rosa NP C Casearia decandra Jacq. pitumba, guaçatonga, espeto NP B, C Casearia sylvestris Sw. guaçatonga, erva-de-lagarto P C Cassia ferruginea Schard. ex DC. canafístula P (Si) B, C Cecropia glaziovi Sneth. embaúba vermelha P B, C Cecropia hololeuca Miq. embaúba branca P B, C Cecropia pachystachya Trécul. embaúba P A, B Cedrela fissilis Vell. cedro P (Si) C Cedrela odorata Ruiz & Pav. cedro do brejo NP A, B Centrolobium tomentosum Guill. ex Benth araribá P A, B Cestrum laevigatum Schlecht P A, B Chorisia speciosa St. Hil. paineira P (Si) B, C Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichl.) Engl. guatambú de leite P (Si) B, C Citronella gongonha (Mart.) Howard congonha NP A, B Clethra scabra Pers vassourão, canjuja P (Si) A, B Columbrina glandulosa Perkins saquaragi vermelho, sobrasil P (Si) C Copaifera lansdorffii Desf. óleo copaíba, copaíba NP B, C Cordia ecalyculata Vell. café-de-bugre P (Si) B, C Cordia superba Cham. barbosa, grão-de-galo P C Cordia trichotoma Vell. ex Steud. louro-pardo, canela-batata P (Si) C Croton florinbundus Spreng. capixingui P C Croton priscus Müel. Arg. pau-sangue P C Croton urucurana Baill. sangra d'água, aldrago P A, B Cupania vernalis Camb. camboatã P (Si) C Cytharexyllum myrianthum Cham. pau-viola P A, B Dendropanas cuneatum Decne. & Planch. maria-mole, mandioca P (Si) A, B Duguetia lanceolata St. HIl. pindaíba, biribá NP C Endlicheria paniculata (Spreng.) J. F. Macb. canela do brejo NP A, B Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morang tamboril, orelha-de-negro P (Si) B, C Erythrina crista-gali L. suinã P A, B Erythrina falcata Benth. sainã P B Erythrina speciosa Andrews candelabro, faquinha P A, B Esenbeckia leiocarpa Engl. guarantã NP C Eugenia florida DC. guamirim NP A, B Eugenia uniflora L. pitanga NP C Euterpe edulis Mart. palmiteiro, jussara NP B Ficus citrifolia Willd. figueira P (Si) B Ficus guaranitica Schodat figueira, figueira branca P (Si) B Ficus insipida Willd. figueira branca P (Si) A, B Gallesia intergrifolia (Spreng.) Harms pau d'alho P (Si) B, C Genipa americana L. genipapo NP A, B Geonoma brevispatha Barb. Rodr. NP A, B Gomidesia affinis (Camb.) D. Legr. guamirim NP C Guapira opposita (Vell.) Reitz. maria-mole P (Si) B, C Guarea guidonea (L.) Sjeum. marinheiro, cura-madre NP A, B Guarea kunthiana A. Juss marinheiro NP A, B Guatteria nigrescens Mart. pindaíba-preta, araticum-seco NP C Guazuma ulmifolia Lam. mutambo P C Heliocarpus americanus L. jangada P (Si) C Hyeronima alchorneoides Fr. All. urucurana, licurana P (Si) A, B Hymenaea coubaril L. jatobá NP B, C Ilex brasiliensis Loes cana da praia NP A, B Ilex paraguariensis St. Hil. erva-mate NP A, B Inga affinis DC ingá, ingá-doce P (Si) A, B Inga fagifolia Willd. ingá, ingá-feijão P (Si) A, B Inga luschnatiana Benth. ingá P (Si) A, B, C Inga marginata Willd. ingá P (Si) A, B Inga uruguensis Hook. et Arn. ingá P (Si) A, B Inga vera Willd. ingá P (Si) A, B Jacaranda macrantha Cham. caroba-do-mato P (Si) A, B Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC. jaracatiá P C Lafoensia pacari St. Hil. dedaleiro P (Si) B, C Lithraea molleoides Engl. aroeira brava P (Si) B Lonchocarpus muehlbergianus Hass. embira de sapo P (Si) B, C Luehea divaricata Mart. açoita-cavalo P (Si) B, C Luhea grandiflora Mart. & Zucc. açoita-cavalo P (Si) C Machaerium aculeatum Raddi bico-de-pato, jacarandá-de-espinho P (Si) B, C Machaerium nictitans (Vel.) Benth. bico-de-pato, jacarandá-ferro P (Si) B, C Machaerium stipitatum Vog. sapuvinha P (Si) B, C Maclura tinctoria (L.) Don ex Steud. amoreira P (Si) B, C Matayba elaeagnoides Radlk. miguel pintado, pau-crioulo P (Si) B, C Mauritia flexuosa L. buriti P A, B Metrodorea stipularis Mart. carrapateira NP C Myrcia rostrata DC. lanceira, guamirim-miúdo P B, C Myrciaria trunciflora Berg. jabuticabeira NP C Nectandra lanceolata Ness canela-do-brejo NP A, B Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez canelinha, canela-preta NP C Nectandra rigida (H. B. K.) Ness canela-amarela, canela-ferrugem NP B, C Ocotea beaulahie Baitello canela NP B, C Ocotea odorifera (Vell.) J.G. Rohwer canela sassafrás NP C Peltophorum dubium (Spreng) Taub. angico-cangalha, canafístula P (Si) C Pera obovata Baill. pau-de-sapateiro, cacho-de-arroz NP A, B Persea pyrifolia Ness. & Mart. ex Ness. maçaranduba NP C Piptadenia gonoacantha (Mart.) Macbr. pau-jacaré P (Si) C Piptocarpha macropoda Baker pau-de-fumo, vassoura-preta P C Platyciamus regnelli Benth. pau-pereira, cataguá NP C Podocarpus sellowii Klotz. ex Endl. pinheiro-bravo NP B, C Protium almecega March. almacegueira P (Si) A, B Protium heptaphyllum (Aubl.) March amescla, almíscega, breu-vermelho P (Si) Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueiro-bravo NP A, B Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Rob. embiruçu P B, C Psidium guajava L. goiabeira P B, C Psychotria sessilis (Vell.) Müell. Arg. cafezinho-do-mato NP C Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez azeitona-do-mato,capororoca P (Si) C Rapaenea guianensis Aubl. capororoca P A, B Rapanea umbellata (Mart. ex DC.) Mez capororoca-branca P (Si) A, B, C Rheedia gardneriana Planch. & Triana bacupari NP B, C Rollinia sylvatica (A. St. Hil.) araticum-do-mato, cortiça P (Si) B, C Rudgea jasminioides (Cham.) Müell. café-do-mato NP C Sapium glandulatum Pax leiteiro P (Si) B, C Savia dyctiocarpa Kuhlm. guaraiúva NP B, C Schefflera morototonii (Aubl.) B. Manguire mandioqueiro, mandiocão P C Schinus terebinthifolius Raddi aroeirinha, aroeira-pimenteira P A, B Schyzolobium parahyba (Vell.) Blake ficheira, guapuruvu P B, C Sebastiana brasiliensis Spreng branquilho NP A, B Sebastiana klotzschiana Müell. Arg. branquilho, capixava NP A, B Sebastiana serrata (Baill) Müell. Arg. branquilho NP A, B Seguieria floribunda Benth. limão bravo P (Si) C Sesbania virgata (Cav.) Pers. P (Si) A, B Sorocea bonplandii Burger folha de serra NP C Styrax pohlii A. D. C. benjoeiro, estoraque P (Si) C Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glass. jerivá, coquinho babão P (Si) B, C Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. caixeta P (Si) A, B Tabebuia chysotricha (Mart. ex DC.) Stanley ipê-tabaco P (Si) C Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standley ipê-roxo P (Si) B, C Tabebuia umbelata (Sound.) Sand. ipê-amarelo-do-brejo P (Si) A, B Talauma ovata St. Hil. pinha-do-brejo NP A Tapirira guianensis Aubl. peito-de-pomba, pau-pombo P (Si) A, B Terminalia triflora Griseb pau-de-lança, amarelinho NP A, B Trema micrantha Blume crindiúva, trema P C Trichilia catingua A. Juss. catiguá NP C Trichilia clausseni C. DC. catiguá vermelho NP C Trichilia elegans A. Juss. catiguá miúdo NP C Trichilia pallida Sw. catiguá amarelo, baga-de-morcego NP B, C Triplaris brasiliana Cham. pau-formiga P (Si) B, C Veronia difusa Less. pau-de-fumo, vassourão-preto P C Virola oleifera (Schott) A.C. Smith bicuíba NP B, C Vitex montevidensis Cham. tarumá NP A, B Xylopia aromatica Baill. primenteira, pindaíba P (Si) C Xylopia brasiliensis (L.) Spreng. pindaíba, asa-de-barata NP B, C Xylopia emarginata Mart. pindaíba-d'água P (Si) A, B Zanthoxylum rhoifolium Lam. mamica de porca P (Si) C Zeyheria tuberculosa (Vell.) Burn. ipê-felpudo, bolsa-de-pastor P (Si) C Indicadores de Recuperação O sucesso de um projeto de recuperação de mata ciliar deve ser avaliado por meio de indicadores de recuperação. Através destes indicadores, é possível definir se o projeto necessita sofrer novas interferências ou até mesmo ser redirecionado, visando acelerar o processo de sucessão e de restauração das funções da mata ciliar, bem como determinar o momento em que a floresta plantada passa a ser auto-sustentável, dispensando intervenções antrópicas. A avaliação da recuperação, através de indicadores, é função das metas e dos objetivos pretendidos com ela. Não se pode cobrar uma elevada diversidade biológica em um projeto cujo objetivo tenha sido o de proteger o solo e o curso d'água dos efeitos negativos da erosão do solo de uma área extremamente degradada. Neste aspecto, modelos de recuperação mais complexos, envolvendo uma diversidade inicial maior de espécies, tendem a promover uma recuperação mais rápida da biodiversidade e da funcionalidade do ecossistema. Vários estudos têm proposto um conjunto de indicadores de avaliação da recuperação e da sustentabilidade dos projetos de restauração e, ou, manejo das florestas. Os insetos têm sido considerados bons indicadores ecológicos da recuperação, principalmente as formigas, os cupins, as vespas, as abelhas e os besouros. Em nível de solo nas áreas em processos de recuperação, há uma sucessão de organismos da meso e macrofauna que estão presentes em cada etapa da recuperação destas áreas, sugerindo que possam ser encontrados bioindicadores de cada uma destas etapas. Outros indicadores vegetativos podem ser medidos como: chuva de sementes, banco de sementes, a produção de serapilheira e silvigênese. Estes indicadores apresentam a vantagem de serem de quantificação relativamente fácil, quando comparados com outros indicadores biológicos. 1 - Regeneração Natural: O monitoramento da comunidade jovem, do ponto de vista estrutural estático e dinâmico, possibilita a identificação do estágio seral e a evolução da mesma. Assim, as análises da regeneração natural são essenciais para se avaliar o sucesso da recuperação. A regeneração natural é analisada através de medições de diâmetro, no nível do solo, e da altura das plântulas e plantas jovens, presentes em pequenas parcelas amostrais, lançadas na floresta. Uma estratificação vertical auxilia o entendimento da dinâmica da regeneração natural. Estudos mais detalhados determinam categorias de tamanho para a análise da regeneração. A quantificação da regeneração, quando associada com a classificação sucessional das espécies (pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climáticas), compõe um indicador extremamente útil das condições de recuperação e de sustentabilidade da floresta ciliar. Quando, na regeneração natural, espécies típicas dos estágios iniciais da sucessão (pioneiras e secundárias iniciais) predominam em número de espécie e, ou, de indivíduos, percebe-se indicativo de que a sucessão está muito lenta na área e que as espécies tardias não estão conseguindo chegar até o local ou, embora estejam chegando, por algum motivo não estão conseguindo se estabelecer. Neste caso é necessário algum tipo de intervenção. É claro que a análise deve levar em consideração o tempo em que a floresta foi implantada. 2 - Banco de Sementes: O banco de sementes compreende as semenetes viáveis presentes na camada superficial do solo. Através de uma moldura de 05 X 0,5 cm, lançada na superfície do solo, coleta-se toda a serapilheira e o solo, numa profundidade de 0-5 cm, que retém a maior parte das sementes. Transferindo para a casa de vegetação e livre de contaminações externas, são forcecidas condições de luz e de umidade necessárias para a germinação das sementes. Após um determinado tempo, as sementes germinadas são contadas e as plântulas identificadas. É importante destacar que o banco de sementes é formado, principalmente, por espécies pioneiras que, normalmente, apresentam dispersão a longa distância e, portanto, não estão, necessariamente, presentes na vegetação arbórea local. Em condições de boa cobertura vegetal e com bom sombreamento do solo, espera-se que estas espécies pioneiras presentes no banco não encontrem condições favoráveis à germinação e ao estabelecimento, a menos que ocorra um distúrbio. Contudo, este aspecto não diminui a importância do banco de sementes como indicador de recuperação e de sustentabilidade, uma vez que são as espécies pioneiras que irão desencadear o processo de colonização de uma área, após um distúrbio. O importante é determinar a riqueza de espécies do banco de sementes e a proporção entre espécies nativas e invasoras. Um banco rico em sementes de espécies invasoras ou ruderais sugere que, frente a um distúrbio natural, como a abertura de clareiras, estas espécies poderão vir a colonizar a área, podendo competir com as espécies nativas, afetando a sustentabilidade da floresta ciliar. 3 - Produção de Serapilheira e Chuva de Sementes: A serapilheira compreende, principalmente, o material de origem vegetal (folhas, flores, rasos, casas, frutos e sementes) e, em menor proporção, o de origem animal (restos animais e material fecal) depositado na superfície do solo de uma floresta. Atua como um sistema de entrada e saída, recebendo entradas via vegetação e, por sua vez, decompondo-se e suprindo o solo e as raízes com nutrientes e com matéria orgânica. Este processo é particularmente importante na restauração da fertilidade do solonas áreas em início de sucessão ecológica. Em comunidades sucessionais, o acúmulo de serapilheira e o tempo de sua remoção podem produzir mudança radical na estrutura, afetando a substituição de espécies dominantes, bem como a riqueza e a diversidade. A quantificação da serapilheira, ao longo do ano, permite estimar a produção anual por hectare. Em uma área ciliar em recuperação, esta informação é muito importante, pois possibilita a comparação com outros estudos realizados em áreas ciliares. Se a produção de serapilheira da área em avaliação está muito baixa em comparação com outras comunidades ciliares pode estar ocorrendo problemas, em nível de ciclagem de nutrientes. A ausência ou a baixa densidade de sementes de espécies não pioneiras na chuva de sementes significa que estas espécies terão dificuldades de regeneração na área em recuperação. Como as espécies pioneiras são mais importantes na definição da estrutura da floresta, devem ser tomadas medidas visando estimular sua chegada na área. 4 - Abertura do Dossel: O dossel da floresta, ou seja, a cobertura superior da floresta formada pelas copas das árvores, em termos ecológicos apresenta uma grande influência na regeneração das espécies arbustivo-arbóreas, além de atuar como barreira física às gotas de chuva, protegendo o solo da erosão. Em florestas secundárias jovens, o dossel normalmente encontra-se mais aberto, com grandes espaços entre as copas das árvores, permitindo maior passagem de luz e, assim, inibindo a regeneração de espécies não pioneiras, especialmente as climácicas. Nas florestas maduras, o dossel é mais fechado, causando maior sombreamento no sub-bosque e favorecendo a regeneração das espécies tardias, formadoras de bancos de plântulas. Numa área ciliar em processo de restauração, espera- se que o dossel tone-se cada vez mais fechado, à medida em que as árvores cresçam e que suas copas se encontrem. Contudo, em áreas em que ocorreu mortalidade elevada de mudas, sem posterior replantio, o dossel apresentará muitas falhas, e a regeneração natural de espécies não pioneiras poderá ser prejudicada. Desta maneira, o nível de abertura do dossel pode ser um bom indicador da recuperação de uma mata ciliar. Porém, cabe ressaltar que este indicador deve ser combinado com outros principalmente com a regeneração natural, pois é posível se obter um dossel muito fechado, com bom sombreamenteo e boa cobertura do solo em reflorestamentos homogêneos, e que, apesar da proteção ao solo, não são considerados auto- sustentáveis e são pouco eficientes na recuperação da biodiversidade. Existem vários métodos para se estimar a abertura do dossel, sendo a utilização de fotografias hemisféricas o método mais prático e preciso. A abertura do dossel também pode ser estimada através da projeção das copas das árvores, determinando-se a proporção entre as áreas cobertas e as abertas. É um método subjetivo, mas que possibilita uma visão geral do estado de recuperação de uma floresta, em nível de cobertura do solo.
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