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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES Aula 2

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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES – Aula 2
O Impacto Cultural do Contato entre Europeus e Índios. O Apresamento Indígena
Introdução
Pretende-se com essa aula analisar a importância da escravidão indígena para economia colonial e particularmente para a economia paulista, bem como compreender o termo “negro da terra” e relacioná-lo com os mecanismos de apresamento indígena. Em seguida, será realizada uma reflexão a cerca do apresamento dos guaranis como fator de ocupação do planalto paulista e da região sul do Brasil. Por fim, serão examinados os embates entre colonos e jesuítas nas relações com os índios.
Objetivos
– Perceber a importância da escravidão indígena para economia colonial e particularmente para a economia paulista;
– Compreender o termo “negro da terra” e relacioná-lo com os mecanismos de apresamento indígena;
– Refletir sobre os aldeamentos jesuíticos e seu importante papel na aculturação do indígena;
– Compreender os embates entre colonos e jesuítas nas relações com os índios.
Extração de Pau-Brasil no Século XVI
Como bem se sabe Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, durante os primeiro anos do século XVI os portugueses estavam mais preocupados em participar do comércio feito no Oceano Índico, no qual produtos de grande valor como ouro, prata, seda e especiarias eram negociados. A Coroa portuguesa só foi se preocupar, de fato, com suas terras americanas a partir de 1530.
Dessa feita, os primeiros anos da presença portuguesa no Novo Mundo foram marcados pela atuação dos jesuítas na conversão dos grupos indígenas (por meio da catequese e do aldeamento) e de ações particulares de colonos portugueses que estavam interessados, sobretudo, na extração do pau-Brasil, obtido por meio do trabalho indígena.
Capitanias Hereditárias
A partir de 1530, a concorrência do comércio do Índico trouxe inúmeros prejuízos aos portugueses, que também começavam a ter suas terras americanas invadidas por outras nações europeias. Era preciso efetivar a presença da Coroa lusitana no outro lado do Atlântico a fim de garantir a posse de suas terras e de conseguir tirar mais proveito da recente aquisição.
A primeira medida tomada pela Coroa Portuguesa data de 1534. Nesse ano, a América Portuguesa foi dividia em dezesseis grandes faixas de terra chamadas de capitanias hereditárias.
Cada uma dessas capitanias seria doada pelo rei a um nobre português (chamado de donatário) que deveria construir vilas, arrecadar impostos e, principalmente, redistribuir a terra para quem pudesse cultivá-la. No entanto, muitos donatários não cumpriram suas obrigações, sendo que alguns chegaram a nunca colocar seus pés em terras brasileiras.
A ineficiência do sistema de capitanias fez com que o rei português tentasse outra forma de administração. Em 1548 foi instituído o governo-geral, uma tentativa de centralizar a administração da América portuguesa.
O primeiro Governador Geral
A fim de consolidar o domínio português no litoral, Tomé de Souza foi nomeado como primeiro governador-geral do Brasil.
O primeiro governador geral, Tomé de Souza, ficou responsável pela construção da cidade de Salvador, na capitania da Bahia, que seria a sede do governo-geral. Além de ser um ponto relativamente mais próximo da metrópole, a capital colonial estava localizada num ponto estratégico, perto das principais regiões produtoras do açúcar, produtor que anos mais tarde seria considerado o “ouro branco” da colônia. Isso facilitava o controle da produção e exportação do açúcar, garantindo assim, o exclusivismo da Coroa Portuguesa.
A mão-de-obra escrava nos engenhos açucareiros
Por questões geomorfológicas (solo fértil e água abundante) e políticas, durante séculos XVI e XVII, a produção açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, principalmente na Bahia de todos os santos e em Pernambuco. Nos primeiros anos da produção, os diferentes grupos indígenas compuseram parte significativa da mão-de-obra escrava dos engenhos açucareiros. Na realidade, o intervalo entre os anos de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização indígena nesses engenhos.
No entanto, a descoberta de uma “nova humanidade” criou debates filosóficos extremamente profundos em toda a Europa. Os missionários católicos e protestantes que haviam entrado em contato com os diferentes grupos indígenas das Américas, lideraram discussões acerca da natureza desses homens e mulheres “recém-descobertos” que marcaram o cenário intelectual do século XVI.
Seguindo as determinações tomadas pela própria Igreja Católica, em 1570, a Coroa portuguesa sancionou a lei que proibia a escravização do gentio – cujo fragmento vimos no início desta aula. Com exceção feita aos aimorés – que se recusavam militarmente à conversão católica, os índios ficavam sob a tutela da Companhia de Jesus, não podendo mais servir como escravos nos engenhos de açúcar.
Em tese, após 1570, as questões indígenas passavam a ser decididas apenas pelos missionários responsáveis por sua evangelização. No entanto, por trás dessa decisão da Coroa lusitana também estavam interesses econômicos de muitos fidalgos portugueses que, há muito, estavam envolvidos com o tráfico de negros da guiné. Esses africanos escravizados substituiriam os indígenas na produção de açúcar. A partir da promulgação da “lei de liberdade dos gentios”, houve a substituição crescente de índios por africanos escravizados.
No entanto, essa mudança ocorreu principalmente nas capitanias que mais produziam açúcar e que, justamente por isso, eram mais vigiadas pelo Estado português.
Como será analisado na próxima aula, é preciso assinalar que, embora a entrada de africanos tenha se intensificado sobremaneira a partir do último quartel do século XVI, durante todo o período de vigência da escravidão, parte significativa dos grupos indígenas também foi reduzida à condição de cativeiro, muitas vezes subjugados pelos próprios missionários.
As capitanias do Sul
Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como gentios (ou seja, eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente os grupos autóctones rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados sistematicamente e serviram como mão-de-obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas.
Ao analisar a relação entre índios e bandeirantes na origem de São Paulo, o historiador John Monteiro mostrou que a colonização foi um processo plural. Ainda que boa parte da América portuguesa tenha vivenciado experiências comuns advindas do encontro entre colonos e índios – encontro este que foi marcado pela desintegração de muitas sociedades indígenas e pelo processo de catequização daquelas que conseguiram sobreviver –, a partir de meados do século XVI, a relação entre ambos tomou rumos distintos.
No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra morta. De acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições que assaltavam aldeias indígenas transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” (MONTEIRO: 1994, 57). Isso porque, diferentemente do que ocorria na região açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam trabalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem para o mar, os paulistas se embrenharam sertão adentro.
As Expedições
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros europeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentouas primeiras expedições para as regiões interioranas da colônia portuguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador geral D. Francisco de Souza armou uma série de expedições em busca de metais preciosos. A vertente paulista, chefiada por João Pereira Botafogo conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, reacendendo o sonho português. No entanto, as expedições subsequentes não corresponderam ás expectativas criadas pelos colonos.
A Escravidão Indígena
Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em abundância, a experiência das expedições apresentou um produto extremamente interessante para os colonos: os escravos indígenas. Após terminar seu governo, D. Francisco voltou a Portugal com o intuito de colocar em prática um projeto que visava fomentar a economia das capitanias sulistas da colônia. Com inspiração no modelo da América espanhola, o objetivo era articular diferentes setores econômicos (mineração, agricultura e indústria), tendo como base o uso da mão-de-obra indígena (MONTEIRO: 1994, 59).
Uma vez mais, os colonos portugueses não lograram êxito em suas investidas. Mas a proposta do antigo governador acabou redimensionando os objetivos das expedições para o interior. A busca por ouro deu lugar ao aprisionamento de índios. Embora os colonos utilizassem a procura por metais preciosos frente à Coroa portuguesa - que baixava inúmeras leis proibindo a escravização de indígenas – as expedições organizadas pelos colonos de São Paulo se transformaram em verdadeiras empreitadas escravizadoras.
A rentabilidade da venda dos indígenas escravizados era tamanha, que rapidamente criou-se uma intricada rede de negociações nas capitanias do sul. Praticamente toda a mão-de-obra dessa localidade da colônia era formada por índios escravizados. Os lucros eram tantos que pagavam os custos e riscos de expedições cada vez mais interioranas.
Colonos x Jesuítas
Além das sociedades indígenas, os maiores opositores das expedições foram os missionários e demais religiosos responsáveis pela evangelização dos índios. Embora os indígenas trabalhassem em condições muito ruins nas missões e aldeamentos, ali não havia o discurso nem a prática efetiva da escravização. Soma-se a isso, nessas organizações, os índios recebiam instruções religiosas para que se convertessem ao cristianismo e passassem a seguir um padrão europeu de vida e de relação com o trabalho. Nenhuma dessas preocupações pautou a organização das expedições nos séculos XVII e XVIII.
Centenas de aldeias foram destruídas, e milhares de índios foram reduzidos ao cativeiro. Segundo Monteiro, o padre Montoya afirmava que as expedições haviam destruído 11 missões, o que significava o apresamento de praticamente 50 mil índios. Ao descrever as expedições no Rio de Janeiro, o padre Lourenço de Mendonça apontou quem 60 mil guaranis foram escravizados e levados para São Paulo (MONTEIRO: 1994, 73-74). Tais índios eram utilizados, sobretudo, na reposição da força de trabalho da região sendo poucos os que seguiam para as lavouras de cana.
Graças às bandeiras que identificavam as expedições, as campanhas organizadas por colonos paulistas em busca de índios ficaram conhecida como Movimento Bandeirante. O auge desse movimento ocorreu na segunda metade do século XVII, momento em que bandeirantes como Antonio Raposo Tavares e Domingos Jorge Velho ganhavam reconhecimento em toda colônia. Jorge Velho foi, inclusive, convocado pela Coroa Portuguesa para sufocar a rebelião indígena chefiada por Canindé (Rio Grande), além de ter sido um dos responsáveis pela desarticulação do Quilombo dos Palmares.
À medida que as bandeiras aumentavam, crescia também o movimento de oposição chefiado pelos missionários. Amparados pela letra da lei, esses religiosos recorreram diversas vezes ao rei português a fim de denunciarem os abusos cometidos pelos colonos paulistas. Outro fator que começou a dificultar o movimento foi o aumento das distâncias. O sertão era cada vez mais distante, o que encarecia muito a organização das expedições (que necessitam de pólvora, chumbo, correntes e índios escravizados).
Conforme será trabalhado nas próximas aulas, outro fator que levou à diminuição significativa das expedições de apresamento (que praticamente deixaram de existir a partir do século XVIII) foram diferentes movimentos de resistência dos grupos indígenas. Revoltas individuais, migrações para regiões ainda mais distantes e até mesmo rebeliões coletivas despontaram nesse contexto.
Resumo do conteúdo
– As múltiplas formas de resistência à escravidão;
– Como o termo “negro da terra” está relacionado com os mecanismos de apresamento indígena;
– Os embates entre colonos e jesuítas nas relações com os índios.
Próximos passos
– Introdução de africanos escravizados na colônia;
– Convivência de índios e africanos escravizados na produção açucareira;
– Diferenças entre a escravidão indígena e a escravidão africana na América Portuguesa.

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