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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES Aula 3

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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES – Aula 3
Mão-de-obra Indígena e Africana e a Formação do Sistema Escravista
Introdução
Essa aula tem como objetivo principal mostrar compreender que a introdução dos escravos africanos não acabou imediatamente com a escravidão indígena, ambas conviveram, em certos casos, até o século XIX. Para tanta serão seguidos três eixos centrais: a) Refletir sobre as especificidades de cada uma dessas escravidões; b) perceber as consequências do contato entre colonos e negros e entre índios e negros; c) analisar as estruturas econômicas e sociais que derivam desses contatos.
Objetivos
– Compreender que a introdução dos escravos africanos não acabou imediatamente com a escravidão indígena, ambas conviveram, em certos casos, até o século XIX;
– Refletir sobre as especificidades de cada uma dessas escravidões;
– Perceber as consequências do contato entre colonos e negros e entre índios e negros;
– Analisar as estruturas econômicas e sociais que derivam desses contatos.
Ouro branco: foi assim que muitos colonos passaram a chamar o produto advindo do processamento do caldo de cana-de-açúcar, sendo o primeiro gênero produzido em larga escala na América portuguesa.
A escolha do açúcar teve duas razões principais:
• Em primeiro lugar, o açúcar produzido da cana era um gênero tropical e por isso mesmo teria grande demanda na Europa;
• Em segundo lugar, os portugueses já possuíam conhecimento do fabrico de açúcar de cana graças à colonização das ilhas Canárias, Madeira, Açores e Cabo Verde, todas localizadas no Atlântico Norte.
Ainda no século XVI, iniciaram-se as construções dos primeiros engenhos de açúcar em diferentes localidades da América portuguesa. Contudo, a região nordeste da colônia acabou se tornando a principal produtora de açúcar devido às suas condições naturais. Veja algumas delas:
• Grandes propriedades de terra;
• Clima quente;
• Chuvas constantes;
• Solo fértil;
• Abundância de rios;
• As árvores da mata atlântica – ideais para a construção das moendas;
• A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado consumidor do produto – a Europa
Um engenho de açúcar. Pormenor de um atlas do século XVII
Senzala – Habitação dos escravos
Casa-grande – Morada do senhor do engenho e da sua família
Casa do engenho – Instalações onde se encontram os aparelhos destinados ao fabrico do açúcar
Veja também as diferentes partes do engenho (unidade produtiva do açúcar):
• Canavial – onde a cana era cultivada;
• A casa da moenda – onde era extraído o caldo de cana;
• A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço;
• A residência do senhor – conhecida como Casa-Grande;
• A residência dos demais trabalhadores.
Todavia, para que todo esse empreendimento desse lucro de fato – sobretudo frente ao monopólio de exportação exercido pela Coroa portuguesa – era necessário que a produção fosse a mais barata possível.
A escravização
Foi no contexto da lógica mercantilista que a escravidão apareceu como a melhor opção para a produção do açúcar. Além disso, o uso de escravos vinha coroar uma série de questões filosóficas colocadas pelos europeus desde o início das Navegações (no século XV), quando a Europa entrou em contato com sociedades da África-subsaariana e das Américas.
A “nova humanidade” que se apresentava para os europeus seria classificada e ordenada por eles. A escravidão foi uma instituição que ordenou boa parte das dinâmicas da sociedade da América portuguesa.
Na obra Cultura e opulência do Brasil, o padre André Antonil (1649- 1716) pontuou bem a importância que a escravidão tinha no funcionamento dos engenhos açucareiros.
Segundo ele: Os escravos são as mãos e os pés dos senhores de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982, p.36.
A escravização no Brasil
Durante muitos anos a escravidão no Brasil foi vista de forma sistêmica. De um lado estavam os índios escravizados, utilizados em sua grande maioria em pequenas e médias produções, quase todas voltadas para a subsistência da colônia. Do outro estavam os africanos escravizados e seus descendentes utilizados nas atividades envolvidas com o mercado externo, como a produção de açúcar e a mineração.
Ainda que essa sistematização esteja pautada em uma série de análises qualitativas da economia colonial, é importante ressaltar que tal assertiva não se aplica a todo o período de fabrico do açúcar.
Ao analisar o início da produção açucareira, Stuart Schwartz chamou atenção para um fenômeno pouco estudado: o uso massivo de indígenas escravizados nos engenhos. Grande parte desses índios tinha origem tupi, embora alguns povos tapuias tenham sido encontrados nos registros.
A análise de Schwartz se circunscreve à província da Bahia que, durante os séculos XVI e XVII, foi uma das maiores produtoras de açúcar da América portuguesa.
Baseado em registros paroquiais e inventários, o autor apontou que a lógica que regeu a escravidão indígena na produção açucareira foi muito semelhante àquela que ditaria o ritmo de trabalho de africanos escravizados anos mais tarde.
Graças à preferência senhorial, 60% dos escravos eram homens adultos e jovens. Todavia, as práticas religiosas incentivaram o casamento de muitos desses homens, fazendo que famílias escravas tivessem significativa presença nesses engenhos.
Tendo que se adaptar às condições de trabalho impostas pelos colonos, os índios escravizados deveriam realizar o cultivo extensivo da cana e depois processar seu caldo a fim de obter o açúcar.
A partir do último quartel do século XVI, a escravidão indígena passou a ser, em parte, substituída pelos africanos escravizados.
Tal substituição tinha duas razões principais:
– A primeira era a relativa fragilidade dos grupos indígenas em relação às inúmeras epidemias que assolam os engenhos açucareiros;
– A outra razão consistia na grande circulação de dinheiro promovida pelo tráfico transatlântico de africanos escravizados.
Além disso, em meados do século XVI, o valor do escravo africano era relativamente baixo, o que o tornava acessível para muitas pessoas. E, mais do que uma propriedade, o escravo africano representava um investimento, pois, depois de três ou quatro anos, o senhor conseguia recuperar, por meio do trabalho do escravo, o que havia pagado por ele e continuava usufruindo do seu trabalho por muito mais tempo. Não podemos esquecer que o fato de trabalharem em uma terra totalmente desconhecida também dificultava fugas e possíveis revoltas dos africanos escravizados.
O trabalho compulsório dos africanos
Esses aspectos foram fundamentais na hora de escolher o trabalho compulsório de africanos em detrimento dos indígenas – embora muitos índios tenham trabalhado como escravos na América portuguesa, só que em menor escala. Fora isso, existiam ainda argumentos religiosos. Na época, a Igreja católica acreditava que os negros africanos não tinham alma. Por isso, o trabalho como escravo seria uma espécie de purgatório em vida para que depois da morte esses homens e mulheres pudessem subir ao reino dos céus.
O fato é que a partir de 1580, africanos de diversas localidades do continente passaram a desembarcar em peso na América portuguesa para trabalhar como escravos em diferentes atividades econômicas. Os africanos que vieram escravizados para o Brasil tinham origens diversas. O mapa ao lado mostra as diferentes rotas do tráfico de escravos do continente africano para terras brasileiras. Se olharmos o mapa com atenção veremos que existem quatro grandes rotas de comércio.
Rota do tráfico negreiro para o Brasil
Após a longa travessia, quando finalmente desembarcavam nos portos da América portuguesa, a situaçãode boa parte dos africanos era péssima. Aqueles que tinham conseguido aguentar a viagem passavam por um breve exame médico e eram rapidamente vendidos. Os africanos mais fragilizados, principalmente aqueles que haviam contraído escorbuto, passavam por um processo de quarentena em galpões localizados na região portuária.
Nesses locais eles recebiam uma alimentação especial para recuperar suas forças o mais rápido possível. Assim que estivessem mais fortes, eram levados para os mercados onde seriam comprados. A partir de então, o destino desses africanos estava atrelado a de seu senhor e, em muitos casos, eles tinham que continuar a viagem, só que agora pelo interior do Brasil.
Nem todos os africanos recém-chegados resistiam ao período da quarentena. Por isso, era comum encontrar cemitérios nas proximidades do porto. Além dos maus tratos e das doenças adquiridas durante a travessia, muitos escravos boçais, isto é africanos recém-chegados, sofriam de banzo –, uma doença que parecia atacar a alma de alguns africanos que, tomados por uma tristeza profunda, se deixavam morrer.
Para muitos deles era preferível morrer a trabalhar como escravo, pois acreditavam que a morte significava o retorno à sua terra natal, junto a seus ancestrais.
No entanto, a maior parte dos africanos sobrevivia à travessia do atlântico. Dessa forma, o escravo boçal rapidamente era introduzido à sua nova sociedade.
Em seguida, ele recebia ensinamentos básicos do catolicismo, como deveriam se portar perante seu senhor, bem como algumas palavras em português. A partir de então o escravo boçal se juntava ao ladino e ao crioulo na execução das mais variadas tarefas.
A Jornada de trabalho dos escravos
Para conseguir cumprir a demanda da produção em larga escala, os escravos enfrentavam jornadas de trabalho que variavam de doze a dezoito horas e eram constantemente vigiados por feitores e capatazes para que otimizassem seu tempo de trabalho.
No ápice da produção do açúcar (século XVI) e do café (século XIX), e no auge do período aurífero (século XVIII), a exploração do escravo era tamanha que a média de vida ativa do cativo variava entre sete e dez anos. Contudo, estimativas apontam que, mesmo nesse curto tempo de vida ativa, o escravo “pagava” para seu proprietário a quantia que havia sido desembolsada no momento da sua compra e ainda gerava benesses.
A partir do terceiro ano de trabalho, tudo o que era produzido pelo cativo representava lucro ao senhor. Este retorno financeiro relativamente rápido fez com que o escravo fosse visto como uma boa forma de investimento, o que fomentou o tráfico intercontinental de africanos por três séculos.
Essa lógica da exploração total do trabalho escravo intensificou ainda mais a violência inerente à escravidão. Além da obrigação em labutar horas a fio de baixo de sol quente, chuva forte ou em dias frios, o constante reabastecimento de africanos escravizados nos portos do Brasil fez com que muitos proprietários fossem negligentes com os cuidados despendidos aos cativos.
As péssimas condições que viviam os escravos
Apesar de cuidados com alimentação, moradia e vestimenta serem de responsabilidade senhorial, a fácil reposição dos escravos ajuda a explicar as péssimas condições de vida que os proprietários ofereciam a seus cativos. A alimentação que os escravos recebiam costumava ser composta apenas por farinha de mandioca ou de milho, uma porção de carne salgada e, por vezes, um pouco de feijão: o básico para o sustento humano. As roupas desses cativos eram feitas de panos de algodão simples e deveriam durar ao menos um ano.
Muitos escravos que adoeciam eram deixados à própria sorte, pois, como vimos, muitas vezes era mais vantajoso comprar um novo cativo do que cuidar do enfermo.
Junto à rígida e pesada disciplina de trabalho no eito e às chibatas recebidas quando não alcançavam a quantidade estipulada de feixes de cana ou cestos de grãos de café, os escravos e escravas ainda enfrentavam outros dois grandes problemas: os acidentes e as condições insalubres de trabalho.
Os acidentes foram comuns nos engenhos de açúcar, mais especificamente:
• Na casa da moenda, onde era extraído o caldo da cana, os cativos que não tomassem cuidado podiam ter o braço inteiro triturado pelas engrenagens ao colocar os feixes de cana na moenda;
• Na casa de purgar, onde o caldo era transformado em melaço, que normalmente era o local de trabalho das escravas, havia sempre o perigo de queimaduras.
As regiões mineradoras também foram palco de acidentes de trabalho. Mesmo que muitos dos africanos escravizados, principalmente os oriundos da Costa da Mina, tivessem conhecimentos milenares sobre mineração aprendidos na África, em diversas ocasiões as minas subterrâneas, que haviam sido cavadas, desabavam, matando dezenas de cativos. Quando tragédias como essas não ocorriam, os escravos eram obrigados a passar o dia inteiro com parte do corpo submersa nos rios e córregos para realizar o garimpo do ouro.
Resumo do conteúdo
– Analisou a introdução dos africanos escravizados e a convivência com a escravidão indígena, até o século XIX;
– Aprendeu as especificidades de cada uma dessas escravidões;
– Analisou as consequências do contato entre colonos e negros e entre índios e negros.
Próximos passos
– Importância da religião na organização do sistema colonial;
– Usos que índios e negros fizeram da religião como forma de resistência;
– Religiões africanas e indígenas.

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