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ANOTAÇÕES DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I (Gabriel Dias Marques da Cruz) Gabriel_dmc@yahoo.com.br Elaborado por Helson DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 2 ÍNDICE 1. O CONSTITUCIONALISMO 1.1. Conceito 1.2. Surgimento e evolução 1.3. Breve história do Constitucionalismo Brasileiro 1.3.1. 1824 – Constituição Imperial 1.3.2. 1891 – Constituição da República Velha (ou Primeira República) 1.3.3. 1934 – Constituição da Nova República 1.3.4. 1937 – Constituição do Estado Novo (“Polaca”) 1.3.5. 1946 – Constituição Democrática 1.3.6. 1967 e 1969 – Constituição da Ditadura 1.3.7. 1988 – Constituição Federal (Constituição Cidadã) 1.4. Estrutura da Constituição de 1988 1.4.1. Preâmbulo 1.4.2. Parte Permanente 1.4.3. Parte Transitória (ADCT) 1.5. Tipos de Constitucionalismo 1.5.1. Antigo x Moderno 1.5.2. Liberal x Social 1.6. Neoconstitucionalismo: a Constituição como centro dos sistemas jurídicos atuais 1.6.1. Considerações iniciais 1.6.2. Marco histórico 1.6.3. Marco teórico 1.6.4. Marco filosófico 1.7. O neoconstitucionalismo: Conceitos extras 1.7.1. Patriotismo constitucional 1.7.2. Transconstitucionalismo 2. O Direito Constitucional 2.1. Noção Geral 2.2. Espécies 2.2.1. Direito Constitucional Geral ou Comum 2.2.2. Direito Constitucional Positivo ou Particular 2.2.3. Direito Constitucional Comparado 3. A Constituição 3.1. Classificação 3.1.1. Quanto à Estabilidade (Processo de Mudança): 3.1.2. Quanto à Forma: Constituição Escrita e não Escrita 3.1.3. Quanto à Extensão: Constituição Sintética (Concisa) e Analítica (Prolixa) 3.1.4. Quanto à Origem: Constituição Democrática (Promulgada) e não democrática (outorgada) DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 3 3.1.5. Quanto à Finalidade: Constituição Garantia (liberal) e Dirigente (Social) 3.1.6. A classificação da Constituição Federal de 1988 3.2. Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais 3.2.1. Considerações iniciais 3.2.2. Planos normativos 3.2.3. Plano da existência 3.2.4. Plano da Validade 3.2.5. Plano da Eficácia 3.2.6. Eficácia Jurídica das normas constitucionais 3.3. Síndrome de inefetividade das Normas Constitucionais 3.3.1. Considerações iniciais 3.3.2. ADIO – Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 3.3.3. MI – Mandado de Injunção 3.4. Concepções de Constituição 3.4.1. O sentido sociológico 3.4.2. O sentido político ou decisionista 3.4.3. O sentido “jurídico” (normativista) 3.4.4. O sentido dirigente 3.4.5. O sentido simbólico 3.4.6. O sentido ontológico 3.4.7. O sentido cultural 4. Poder Constituinte 4.1. Considerações gerais e históricas acerca da Teoria do Poder Constituinte. 4.1.1. O pensamento político de Sieyès 4.1.2. Visão contemporânea 4.1.3. PCO – Poder Constituinte Originário 4.1.4. PCD – Poder Constituinte Derivado 4.2. Natureza 4.3. A titularidade e o exercício 4.4. Limitações ao Poder Constituinte 4.4.1. Limitações ao Poder Constituinte Original 4.4.2. Limitações ao Poder Reformador – PCDR 4.4.3. Poder Constituinte Derivado Decorrente - PCDD 4.5. Poder Constituinte Difuso 4.6. Poder Constituinte Supranacional 4.7. Legislação anterior e nova Constituição 4.8. Desconstitucionalização 4.9. Repristinação 5. Hermenêutica e Interpretação Constitucional 5.1. Conceitos e distinções DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 4 5.2. Regras x Princípios 5.2.1. Critério de Celso Antônio de Mello 5.2.2. Critério de prof. Robert Alexy - Teoria de Direitos Fundamentais 5.3. Aplicação do direito 5.4. Métodos Hermenêuticos Clássicos de Interpretação 5.4.1. Método Gramatical, Literal ou Filológico 5.4.2. Método histórico 5.4.3. Método lógico-sistemático 5.4.4. Método teleológico 5.5. Peculiaridades da interpretação de norma constitucional 5.6. Princípios de Interpretação Constitucional 5.6.1. Princípio da Supremacia da Constituição 5.6.2. Princípio da Presunção de Constitucionalidade (das leis) 5.6.3. Princípio da Interpretação conforme a Constituição 5.6.4. Princípio da Unidade da Constituição 5.6.5. Princípio da Máxima Efetividade da Constituição 5.6.6. Princípio do Efeito Integrador 5.6.7. Princípio da Força Maior da Constituição 5.6.8. Princípio da Concordância Prática ou Harmonização 5.7. Métodos de Interpretação Constitucional 5.7.1. Método jurídico ou hermenêutico-clássico 5.7.2. Método Hermenêutico-Concretizador 5.7.3. Método Tópico-Problemático 5.7.4. Método Normativo-Estruturante 5.7.5. Método Científico-Espiritual 5.7.6. Sincretismo metodológico 6. Controle de Constitucionalidade 6.1. Conceito, pressupostos e legitimidade democrática do Controle de Constitucionalidade. 6.1.1. Incompatibilidade normativa 6.1.2. Rigidez 6.1.3. Guardião da Constituição 6.2. Principais Sistemas Mundiais de Controle de Constitucionalidade. 6.2.1. E.U.A (1803) 6.2.2. Áustria (1920) 6.2.3. França (1958) 6.3. O Controle Constitucionalidade no Brasil 6.3.1. Considerações iniciais 6.3.2. Controle Preventivo 6.3.3. Controle Repressivo DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 5 6.4. Controle Difuso vs. Controle Concentrado de Constitucionalidade no Brasil 6.4.1. Terminologia utilizada 6.4.2. Competência 6.4.3. Inter partes vs. erga omnes 6.4.4. Prejudicial vs. Principal 6.4.5. A declaração da inconstitucionalidade por juízes e tribunais 6.4.6. STF e Controle difuso de constitucionalidade 6.4.7. Controle Concentrado de Constitucionalidade no Brasil 7. Bibliografia 7.1. José Afonso da Silva 7.2. Dirley da Cunha Junior 7.3. Manuel Jorge e Silva Neto 7.4. Bernardo Fernandes 7.5. Gilmar Mendes + Paulo Branco DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 6 1. O CONSTITUCIONALISMO 1.1. Conceito O Constitucionalismo pode ser definido como o movimento político, filosófico, jurídico e ideológico que concebe a ideia de estruturação racional do Estado, concretizada pela elaboração de um documento escrito destinado a representar sua lei fundamental e suprema, onde prevalecem a limitação do exercício de poder dos governantes e a garantia de direitos fundamentais dos governados. Importante - Constitucionalismo i) limitação, pelo Direito, da ingerência do Estado na esfera privada; ii) Garantia de direitos fundamentais; 1.2. Surgimento e evolução Identifica-se a origem do constitucionalismo moderno com a Constituição dos Estados Unidos, de 1787, e a Constituição da França, de 1791. Ambas inspiradas nos ideais de racionalidade do Iluminismo do século XVIII, e, sobretudo, na valorização da liberdade formal – laissez faire – e do individualismo, características do liberalismo. No início, o conteúdo dessas Constituições escritas e rígidas, de orientação liberal, resumia-se à definição de regras sobre a organização do Estado, do exercício e transmissão do poder e à limitação do poder do Estado, assegurada pela enumeração de direitos e garantias fundamentais do indivíduo. É possível destacar cinco marcos temporais da evolução do constitucionalismo moderno: O modelo de Constituição dos E.U.A 1776 – Independência dos E.U.A o Independência das 13 colônias; o Os americanos não queriam colocar em prática a experiência europeia, então buscaram trilhar por um caminho próprio para organizar sua estrutura política; 1781 – Confederação o Primeira experiência de organização política dos E.U.A. O fracasso da Confederação propiciou o amadurecimento do modelo de Constituição que perdura até a atualidade. o Em uma Confederação, Estados soberanos se associam para prover questões de interessecomum, principalmente, econômicos ou de segurança; o O documento que firma o pacto entre os Estados soberanos em uma Confederação normalmente é um tratado internacional. o A Garantia de Direito de Secessão ou direito de retirada da Confederação é uma característica que distingue as Confederações das Federações. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 7 Curiosidade Cada antiga colônia passou a ter sua própria moeda, sua própria marinha, o que causava certa fragilidade à Confederação. o Por isso os Estados soberanos necessitavam “buscar uma união mais perfeita” – frase célebre a ser guardada. o Assim, abandonaram a Confederação e iniciaram um debate nacional acerca da necessidade de ratificar uma Constituição, substituindo o modelo antigo pelo modelo federativo. 1787 – Constituição o A Constituição dos E.U.A possui apenas 7 artigos e perdura desde 1787. o Passa a existir apenas um Estado Soberano. o Dentro do Estado Soberano passam a existir os estados membros, sem soberania, mas com autonomia, cujos limites serão estabelecidos pela Constituição. o Surge, assim, uma Constituição com apenas sete artigos, exemplo maior de uma constituição sintética, que perdura desde 1787. o Além dos sete artigos, alguns anos depois, foi criado um conjunto de dez primeiras emendas que são chamadas de Declaração de Direitos – Bill of Rights. Ex. “Invoco a 5ª Emenda” – Due Process of Law (Devido processo legal) Curiosidade A declaração de direitos da Constituição brasileira está inserida no art. 5º da Constituição Federal. Mas, em vez de dez – como na Declaração de Direitos dos E.U.A, estão elencados 78 direitos. o Deixou de existir o direito de secessão. A característica que marca um modelo federativo é a indissolubilidade do pacto federativo, que significa que nenhum ente da federação pode abandonar a Federação. Importante O Estado pode invocar a intervenção federal em casos de tentativas de separação. O simples fato de consultar sobre a separação do território nacional é considerado crime. O modelo de Constituição da França Antecedentes da Revolução Francesa o O absolutismo como o de Henrique XIV da França – o Rei Sol – era o retrato das monarquias europeias: Uma sociedade onde só os amigos do Rei eram regados de privilégios (gozavam de isenção de impostos, recebiam tributos feudais, etc.) o Por um lado, o absolutismo significava unidade e centralização de comando, sendo um imperativo de uma organização coesa, onde a sociedade gozava de certa segurança em vários segmentos, a exemplo da rota comercial; o Por outro lado, havia muitos excessos: “Todo aquele que possui poder, tende a dele abusar” – Montesquieu. o Daí surgiu a ideia de Montesquieu da separação dos poderes. o À época existiam os 1º, o 2º ou o 3º Estados. A votação não levava em consideração o número absoluto de cidadãos, nem era de forma ponderada. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 8 Cada Estado implicava um único voto, então o 3º estado, que congregava o povo mais a burguesia (imensa a maioria), sempre era derrotado nas eleições. 1789 – Revolução Francesa o Houve o rompimento radical de toda a estrutura antiga, inclusive todos os privilégios das classes dominantes da época; o As Constituições duravam pouco, pois o cenário fervilhava. Mas eles aprovaram um documento que ecoou uma mensagem que perdura até hoje - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; o O lema é Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Art.1 e Art. 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão Art. 1º Os homens nascem e são livres e iguais em direito. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 16 A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação de poderes não tem constituição. Principais reflexos no Brasil o 1798 - Salvador Salvador era o principal porto de comercialização de escravos no Brasil. Nesse ano, junto com a Inconfidência Mineira, estoura na Bahia a Conjuração Baiana. A também conhecida Revolta dos Alfaiates foi uma revolta social de caráter popular que teve uma importante influência dos ideais da Revolução Francesa. Além de ser emancipacionista, defendeu importantes mudanças sociais e políticas na sociedade. Luiz Koshiba – História do Brasil Em 1978 encontram um panfleto em uma igreja de Salvador. “Animai-vos povo Bahiense que está por chegar o tempo feliz de vossa liberdade. O tempo em que seremos todos irmãos, o tempo em que seremos todos iguais.” o 1988 - Constituição do Brasil de 1988 Brasil, 5 de outubro de 1988 No art. 2º a CF 1988 fala sobre a separação dos poderes, influência direta de Montesquieu. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. A Constituição do Brasil é uma das constituições que mais prevê direitos fundamentais – do art. 5º até o art. 17. Só o art. 5º possui 78 incisos. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (EC nº 45/2004) Essa característica é tão consagrada que a Constituição de 1988 ganhou um apelido: Constituição Cidadã (Ulisses Guimarães). 1791 – Constituição Francesa DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 9 1.3. Breve história do Constitucionalismo Brasileiro O Brasil já teve ao longo da sua história oito Constituições, isso porque na visão preponderante, considera-se que a Emenda nº 1 de 1969 promoveu tantas alterações na Constituição de 1967 que, efetivamente, ela se afigura uma nova Constituição. 1.3.1. 1824 – Constituição Imperial O evento histórico marcante do período foi a Independência do Brasil, que pode ser dividido em dois momentos: 07/09/1822 – Independência do Brasil 02/07/1823 – Consolidação da Independência na Bahia Fatores determinantes Com a independência surge a necessidade de montar uma estrutura política no país que, inspirada no liberalismo, conseguisse reunir a ideia de construir uma unidade nacional com a organização de um poder centralizador que freasse os poderes regionais e locais e a pretensão de assegurar os direitos individuais e um sistema de divisão de poderes. Além disso, conciliar com garantias aos privilégios do imperador e a família real. Principais características: A Constituição de 1824 foi inspirada pela Constituição francesa, pois naquela época a França despertava um fascínio muito grande pela repercussão da Revolução; Inspirada por essas ideias liberais iluministas, a Constituição consagrou, no art. 179, uma declaração de direitos civis e políticos, destacando-se a liberdade, a segurança e a propriedade. o Destaque para o princípio da legalidade. Foi a Constituição mais longeva, perdurando 65 anos; Forma de governo: Monarquia hereditária, constitucional e representativa combinada com o Estado Unitário. Estado Unitário Estado onde o poder é muito concentrado, sem que haja autonomia política para as províncias. O Estado Unitário foi ideia de José Bonifácio, grande mente e influenciador das decisões políticas do período. Nessa época, o Brasil possuía uma religião oficial que era a religião católica, mas evoluiu ao permitir a liberdade de escolha de religião (ou não possuir religião), muito embora ela não se confundisse com a liberdade de manifestação religiosa e mantivesse restrições políticas para os praticantes (liberdade religiosa mitigada). Outro traçoimportante diz respeito à tetrapartição de poderes que contemplava um quarto poder. Assim, a Constituição previa o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judicial e o Poder Moderador. Poder Moderador O Poder Moderador foi oriundo da ideia do suíço Benjamin Constant, que imaginava que o instrumento fosse necessário para manter o equilíbrio de forças entre os demais Poderes. O Poder Moderador era considerado a chave de toda a organização política e era exercido, privativamente, pelo Imperador, como Chefe Supremo da Nação. Com ele, o Imperador dispunha de amplas prerrogativas, podendo nomear Senadores, convocar extraordinariamente a Assembleia Geral nos intervalos, suspender Magistrados em caso de queixas, etc. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 10 O Poder Legislativo era responsável pelo Controle de Constitucionalidade ou Judicial Review, mas na prática não havia eficácia, dada a interferência do Imperador. 1.3.2. 1891 – Constituição da República Velha (ou Primeira República) O evento histórico marcante do período foi a Proclamação da República. 15/11/1889 – Proclamação da República Fatores determinantes: O fator militar o O papel de Marechal Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto O fator religioso As ideias descentralizadoras ou federalistas se mantiveram presentes, provocando, inclusive, várias rebeliões, como as “Balaiadas”, “Cabanadas”, “Sabinadas”, etc. Fatores como a grande extensão do território brasileiro e a criação de poderes locais, efetivos e autônomos, associados a ideias republicanas e democráticas, foram decisivos para, em 15 de novembro de 1889, por meio de um decreto, proclamar-se uma República Federativa, com transformação das províncias em Estados Unidos do Brasil. Principais características: A Constituição de 1891 foi inspirada pela Constituição americana de 1787. Não houve participação do povo no processo de Proclamação da República. A influência da Constituição americana foi trazida para o Brasil pelo jurista baiano Rui Barbosa. Forma de governo: República Federativa, sob regime representativo. o Autonomia política para os Entes Federados com base na repartição de competências definida pela Constituição. Sistema de governo: Presidencialismo. Passa a vigorar o Estado Laico, que consiste na separação entre a igreja e o Estado e no reconhecimento da liberdade religiosa. Deixa de existir o Poder Moderador, de modo que prevalece a Tripartição dos Poderes, famosa “Separação de Poderes”, influenciada por Montesquieu, que pressupõe poderes harmônicos e independentes entre si. Criação do Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da República. O Controle de Constitucionalidade fica ao encargo do judiciário. Ressalte-se que nessa época o controle se dava de forma difusa (qualquer juiz pode proferir a decisão). Atenção A forma difusa de controle de constitucionalidade é influência do Direito dos E.U.A. O controle concentrado surgiu depois, sob a influência de Hans Kelsen. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 11 1.3.3. 1934 – Constituição da Nova República Os eventos históricos marcantes do período foram a Revolução de 30, capitaneada por Getúlio Vargas, e a Revolução Constitucionalista, encabeçada pela elite paulista que pretendia retomar o poder. 1930 – Revolução de 30 1932 – Revolução Constitucionalista de 32 o Derrota na luta armada o Vitória por conseguir emplacar a Assembleia Constituinte, que se reuniria em 15 de novembro de 1933. Fatores determinantes: As Constituições de 1917 do México e de 1919 – República de Weimar – da Alemanha influenciaram o Constitucionalismo Social de 1930 no Brasil. Constitucionalismo Liberal x Constitucionalismo Social Liberal – Ausência do Estado para garantir a liberdade dos cidadãos. Social – Intervenção do Estado na proteção dos diretos dos cidadãos. Principais características: Manteve os principais traços da Constituição anterior no que tange à organização do Estado e dos Poderes: o A República, a Federação, o presidencialismo, sistema representativo, a separação dos Poderes; Consagração de um regime de democracia social, que deu início à era das Constituições sociais, preocupadas com o bem-estar social. o Este aspecto refletiria nas Constituições de 1946 e 1988. Criação do Ministério do Trabalho e do Ministério da Educação. o O Governo provisório de Getúlio Vargas teve como foco, ao menos inicialmente, a questão social, o que atraiu o apoio popular, principalmente dos trabalhadores. Criou a Justiça Eleitoral como órgão do Poder Judiciário e passou a admitir o voto feminino. Reconhecimento de diversos direitos trabalhistas; 1.3.4. 1937 – Constituição do Estado Novo (“Polaca”) Os eventos históricos marcantes do período foram o Fascismo e o Nazismo, norteando características nacionalistas exacerbadas. Dica de filme A onda Fatores determinantes Plantaram o temor do Plano Cohen, suposta revolução comunista, que deu legitimidade para as ações do presidente. Com a comoção popular causada pela existência do suposto Plano Cohen e a instabilidade política gerada pela intentona comunista, Getúlio Vargas, sem resistências, deu o golpe e instaurou uma ditadura, denominada de Estado Novo. Principal acontecimento da política externa: A 2ª Guerra Mundial. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 12 Dica de filme Pearl Arbor Necessidade de parar os avanços do líder alemão Rommel que dominava as batalhas na África. O Brasil e os Estados Unidos firmaram parceria de construção de base americana em solo brasileiro para facilitar o combate na África. Troca de interesses: O Brasil construiu a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN “Se não aderisse por bem, aderiria por mal.” Principais características: Constituição “Polaca”, por ter se inspirado na Constituição da Polônia, de tendência fascista; o Gerou uma grande contradição para o governo, que dependia economicamente dos E.U.A, mas possuía uma política semelhante à alemã. Constituição mais autoritária que já existiu no Brasil. o Fechamento do Congresso Nacional; o Extinção de partidos políticos; o Concentração dos poderes do Executivo e Legislativo nas mãos do presidente, que legislava por meio de decretos-leis. o Não contemplava princípios de legalidade e irretroatividade. o Não previa mandados de segurança; o Possibilitava a pena de morte para crimes políticos; o Previa a censura prévia da imprensa; o Determinava que o texto fosse submetido a um plebiscito, algo que nunca aconteceu. Avanços sociais o Criação da Justiça do Trabalho em 1939 e da CLT; o Estabelecimento do salário mínimo como parte da política salarial; o Regulamentação do trabalho da mulher e de menores; o Regulamentação dos sindicatos, inclusive com a criação do imposto sindical. 1.3.5. 1946 – Constituição Democrática O evento histórico marcante do período foi o fim da 2ª Guerra Mundial. Fatores determinantes O sucesso na 2ª Guerra mundial e a parceria com os E.U.A forçaram o Brasil a mudar os rumos de sua Constituição. Deu-se início um movimento de redemocratização do País. Principais características Recuperou, na essência, o modelo de 1934, recompondo os princípios constitucionais democráticos; Preocupação muito maior com o equilíbrio entre os Poderes. Recorde de estabilidade democrática (18 anos) até então. Por outro lado, apenas 18 anos de estabilidade democrática. Construção da nova capital do país, no governo de Juscelino Kubitschek. No cenário internacional, houve a instalação da Guerra Fria – competição polarizadoraentre E.U.A e Rússia – por zonas de influência (aspectos bélicos, econômicos, espacial, etc). DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 13 Curiosidade A crise dos mísseis em Cuba quase gerou a 3ª Guerra Mundial. Dica de filme Stalingrado Eventos do cenário político brasileiro o Getúlio retorna à presidência nas eleições de 1950. o Suicídio de Getúlio Vargas em 1954 o Presidentes na sequência: Café Filho, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros; o Jânio Quadros, após ser eleito por maioria dos votos, renunciou. o Assumiu João Goulart, que tinha perfil socialista e mantinha contato com comunistas. Transição Insatisfação de três grupos (militares, classe média e igreja) Houve apoio da classe média para que os militares retomassem o poder, em um ciclo militar que duraria mais de 20 anos. Daí surge a necessidade de uma nova constituição. Mais à frente viria a necessidade da redemocratização. 1.3.6. 1967 e 1969 – Constituição da Ditadura O evento histórico marcante no cenário internacional foi a Guerra Fria - competição polarizadora entre E.U.A e Rússia – por zonas de influência (aspectos bélicos, econômicos, espacial, ideológicos, etc). Entre 1961 e 1963, no Brasil houve tentativa de mudança de sistema de governo. O país experimentou o sistema parlamentar, em uma manobra dos militares que pretendiam reduzir poderes do então presidente da República – João Goulart. Com uma consulta popular em 1963, o Brasil retornou ao sistema presidencialista. Mas logo em seguida, ocorreu o golpe militar, com o apoio da classe média, igreja e mídia. Fatores determinantes As políticas reformistas de Jango desagradaram aos militares, que, apoiados pela classe média, tomaram o poder. As sedes de partidos políticos que apoiavam as reformas foram tomadas por soldados, e a sede da UNE foi incendiada. Principais características Fortalecimento do poder executivo; O Decreto-lei nº 314/1967 transformou em lei a Doutrina de Segurança Nacional, que era o alicerce da violenta repressão política nos anos 60 e 70: perseguições políticas, prisões, torturas de opositores políticos e cassação de direitos políticos. Elaboração de sucessivos Atos Institucionais autoritários (número de 4) o AI nº 5, de 13 de dezembro de 1968 Instituído na presidência de Costa e Silva, com apogeu das medidas repressivas no governo Médici. Delegava plenos poderes ao presidente para cassar mandatos e suspender direitos políticos; DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 14 Impedir que o Judiciário tivesse acesso às violações perpetradas pelo AI nº 5; Recesso do Congresso Nacional; Redução dos direitos fundamentais; A EC nº 01 alterou substancialmente a Constituição de 1967, afigurando-se, inegavelmente, uma nova Constituição. o Manteve o caráter ostensivamente autoritário e o regime de opressão; o Ampliou consideravelmente os poderes do Presidente e debilitou o Poder Legislativo, restringindo as imunidades dos parlamentares, dentre outras medidas. Milagre econômico o O PIB crescia em média 11% ao ano, sob o endurecimento progressivo do regime militar, que afastou o populismo e o comunismo; o Prosperidade econômica e sociopolítica artificial, com base na violência e autoritarismo. o Milagre econômico seguiu o padrão brasileiro: excludente e selvagem. o Sempre baseada na concentração de rendas. Em 1982, houve o “Movimento das Diretas Já” que dependia da Emenda Dante de Oliveira, que foi reprovada. Mas em 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves e José Sarney – dois civis. Tancredo Neves faleceu antes de assumir, e José Sarney herdou a Presidência. José Sarney restabeleceu as eleições diretas para presidente e promoveu as eleições para Assembleia Constituinte, com trabalhos efetivos entre 1987 e 1988. 1.3.7. 1988 – Constituição Federal (Constituição Cidadã) Ulisses Guimarães “ Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados.” Só o artigo 5º tem 78 incisos, não sendo exaustivos. Equilíbrio entre os poderes com valorização do Poder Judiciário. Não será permitida a censura Constituição de grande influência social, que teve por base a Constituição de 1934. Constituições dirigentes (J.J. Gomes Canotilho) – transformadoras, que melhoram a condição social. Dica de livro – J.J. Gomes Canotilho Constituição dirigente e vinculação do legislador Constituição dirigente Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 15 1.4. Estrutura da Constituição de 1988 1.4.1. Preâmbulo Introdução ao texto constitucional, que aduz o contexto de elaboração e os principais valores da época. Preâmbulo Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. Primeiro destaque: A Constituição é originada pelo Poder Constituinte Originário. A Constituição de 1988 foi produto de uma Assembleia Nacional Constituinte, integrada por representantes eleitos pelo povo brasileiro. O Contrato Social - Rousseau O povo é titular do Poder Constituinte Art. 1º, CF – Regime representativo Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Segundo destaque: A “polêmica” acerca da citação da expressão “sob a proteção de Deus” no preâmbulo da Constituição Federal provocou a interposição de uma ADI nº 2076, questionando a constitucionalidade da Constituição do Acre, por nela não existir a tal expressão. Sucede que o STF pacificou o assunto: Os preâmbulos não dispõem de força normativa, o que implica dizer que não é de observação obrigatória para os entes federados. Por isso os preâmbulos estão situados muito mais no campo da política do que do direito. 1.4.2. Parte Permanente Possui força normativa e é considerada a essência da Constituição. Possui nove títulos e 250 artigos. Títulos – Capítulos – Artigos – Incisos – Parágrafos – Alíneas Os nove Títulos da Constituição de 1988 são classificados de forma sistemática, em função dos temas mais abrangentes. o Título I - Dos Princípios Fundamentais; o Título II -Dos Direitos e Garantias Fundamentais; o Título III -Da Organização do Estado; o Título IV -Da Organização dos Poderes; o Título V -Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas; o Título VI -Da Tributação e do Orçamento; o Título VII -Da Ordem Econômica e Financeira; o Título VIII -Da Ordem Social; o Título IX -Das Disposições Constitucionais Gerais; DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 16 1.4.3. Parte Transitória (ADCT) Possui força normativa Foi pensada por razões estratégicas, para que houvesse harmonização na transição dos regimes constitucionais. Várias regras nasceramcom vocação de temporariedade, que perdem sua efetividade normativa com o tempo. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT Art. 2º No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País. Art. 15. Fica extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, sendo sua área reincorporada ao Estado de Pernambuco. Art. 98. O número de defensores públicos na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população. (EC no 80/2014) § 1º No prazo de 8 (oito) anos, a União, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, observado o disposto no caput deste artigo. § 2º Durante o decurso do prazo previsto no § 1º deste artigo, a lotação dos defensores públicos ocorrerá, prioritariamente, atendendo as regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional. 1.5. Tipos de Constitucionalismo 1.5.1. Antigo x Moderno Antigo Uma etapa um pouco mais embrionária, que remonta a datas anteriores ao século XVIII, de tentativas de limitação do poder. Várias sociedades cogitaram projetar uma norma mais importante dentro do ordenamento jurídico. “Politeia”, “Constitutiu” Esses termos antecedem a terminologia da própria “Constituição” moderna. Hebreus A “lei do senhor” seria a lei suprema de uma sociedade, a exemplo do Antigo Testamento. Experiência histórica inglesa – A Magna Carta A Magna Carta inglesa de 1215 é considerada um marco de referência do constitucionalismo, que logrou importantes vitórias com a limitação do poder absoluto do Rei, através do reconhecimento no próprio texto, da garantia da liberdade e da propriedade, afigurando-se, assim, na pedra fundamental para a construção da democracia moderna. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 17 Essa declaração retrata a oposição entre os Bispos, os Barões feudais e o arbitrário Rei João sem Terra. Ele foi obrigado a assinar a Magna Carta impondo limites aos seus próprios poderes. Cláusula 39 – Magna Carta Processos e acusações devem respeitar “Law of the land” (direito da terra) O “direito da terra” é a raiz do devido direito legal. O devido direito legal pressupõe imparcialidade no julgamento, não se valer de provas ilícitas e aplicar sanções proporcionais. Lei de “Habeas Corpus” ou Habeas Corpus Act o Lei de 1679 o Garantia voltada à proteção da liberdade de locomoção. o O termo significa “Tenhas o corpo de delito” ou “Tragas o corpo de delito”; Principais características Dispensabilidade do advogado; Ação gratuita; Informalidade; Revolução Glosiosa o Revolução de 1689 o “Bill of rights” – Declaração inglesa de direitos, que marca a ascensão do parlamento inglês, que se tornou o guardião da efetividade desses direitos, controlando os atos praticados pela própria coroa. Moderno Final do século XVIII – a experiência do Constitucionalismo dos E.U.A (Independência dos E.U.A) e da França (Revolução Francesa). 1.5.2. Liberal x Social Liberal Pressupõe a menor interferência possível do Estado na sociedade – ausência do Estado ou Estado Mínimo. Exemplo: Obama Care (E.U.A) – Trump deseja acabar com o programa Obama Care, alegando dentre outras coisas que o Estado não deve interferir na autonomia do indivíduo (liberal); Ubber – O governo deve regulamentar o serviço (mais social) ou o serviço deve seguir sem regulamentação (mais liberal)? Social Pressupõe uma intervenção do Estado para garantir direitos fundamentais. Complemento de Assunto – Dirley da Cunha Jr. A primeira Guerra Mundial assinalou uma profunda mudança no caráter do constitucionalismo, que até então estava alicerçado no liberalismo, que moldava suas funções basicamente na DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 18 “...organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio de uma declaração de direitos e garantias fundamentais”. As Constituições passaram a configurar um novo modelo de Estado, agora social e intervencionista, conferindo-lhe tarefas, diretivas, programas e fins a serem executados por meio de prestações positivas oferecidas à sociedade. No Brasil, a partir da Constituição de 1934, influenciada pelas Constituições mexicana de 1917 e de Weimar de 1919, foi a primeira a delinear contornos de atuação intervencionista social, dualista: promover o desenvolvimento econômico e promover o bem-estar social. Desde então, o regime constitucional brasileiro tem se pautado por uma conjugação de democracia liberal e de democracia social. Na Constituição de 1988, essa assertiva está descortinada nos arts. 170 e 193, respectivamente, ordenando e sistematizando a atuação estatal intervencionista para conformar a ordem socioeconômica. É o arbítrio conformador (Forsthoff), “... pelo qual o Estado, dentro de certos limites estabelecidos pela ordem jurídica, exerce uma ação modificadora de direitos e relações jurídicas dirigidas à totalidade, ou a uma parte considerável da ordem social”. 1.6. Neoconstitucionalismo: a Constituição como centro dos sistemas jurídicos atuais 1.6.1. Considerações iniciais O professor comentou sobre a polêmica da aplicação do termo neoconstitucionalismo. Alguns autores não concordam com o uso, mas outros defendem, como Luis Roberto Barroso. Segundo Dirley Cunha Jr., o neoconstitucionalismo representa o constitucionalismo atual, contemporâneo, que emergiu como uma reação às atrocidades cometidas na segunda Guerra Mundial, e tem ensejado um conjunto de transformações responsável pela definição de um novo direito constitucional, fundado na dignidade da pessoa humana. Trata-se do Estado Constitucional de Direito, fundado no reconhecimento da força normativa da Constituição, com eficácia jurídica vinculante e obrigatória, dotada de supremacia material e intensa carga valorativa. Luis Roberto Barroso assevera que o neoconstitucionalismo identifica um conjunto amplo de transformações, destacando i) como marco histórico, a formação do Estado Constitucional de Direito; ii) como marco filosófico, o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais e a reaproximação entre Direito e Ética; e iii) como marco teórico, o conjunto de mudanças que incluem a força normativa da Constituição, a expansão da jurisdição e o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação da Constituição. 1.6.2. Marco histórico Mundo Pós-45 o Desolação com o fim da 2ª Guerra Mundial o ONU (Carta das Nações Unidas) 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH o Sistema global de proteção de direitos humanos. o Inspirada na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (França) Liberdade, igualdade, fraternidade. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 19 o As constituições a partir daí irão se pautar sempre no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. o A Guerra Fria contrapõe o bloco norte-americano e o bloco soviético. Brasil Passada a 2ª Guerra Mundial, o Brasil adota a Constituição de 1946, inspirada na Constituição de 1934, a primeira a consagrar o Constitucionalismo Social. Não havia o mesmo grau de democratização de outros países para propiciar o enraizamento no novo direito constitucional. Mesmo porque o Brasil passou por um período de Ditatura Militar com as Constituições de 1967 e 1969. Por isso, só passamos a falar em novo direito constitucional e processo de redemocratização a partir da Constituiçãode 1988 – A Constituição Cidadã. A Assembleia Nacional Constituinte foi instalada entre 1987 e 1988. Sobre a Constituição de 1988: Altamente preocupada com os direitos fundamentais “... foi capaz de promover, de maneira bem sucedida, a travessia do Estado brasileiro de um regime autoritário, intolerante e, por vezes, violento para um Estado democrático de direito”. (BARROSO, 2005) “... tem propiciado o mais longo período de estabilidade institucional da história republicana do país”. (BARROSO, 2005) Luis Roberto Barroso Uma constituição não é só técnica. Tem de haver, por trás dela, a capacidade de simbolizar conquistas e de mobilizar o imaginário das pessoas para novos avanços. 1.6.3. Marco teórico O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana A primeira menção ao Princípio da Dignidade Humana ocorreu em 1949 na Alemanha, na Constituição chamada de Lei Fundamental de Bonn (Art. 1º). No Brasil, a menção à Dignidade da Pessoa Humana está registrada no Art. 1º, III, Constituição Federal de 1988, que se tornou um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. A Fundamentação filosófica foi dada pelo alemão Kant, em sua obra Fundamentação sobre a Metafísica dos Costumes. Kant e os Imperativos Kant trata dos imperativos Hipotético e Categórico para falar das relações entre coisas e pessoas. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 20 Imperativo hipotético Imperativo categórico A pessoa deve ser considerada um fim em si mesma. Assim, jamais poderá ser um meio para se alcançar alguma finalidade. Expansão da jurisdição Além do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, observa-se como marco teórico a ascensão do Poder Judiciário. Houve um aumento do poder dos magistrados, pelo aumento da confiança depositada no poder judiciário como garantidor de direitos fundamentais. Houve a instituição do Tribunal Constitucional, idealizada pelo autor Austríaco Hans Kelsen. O Tribunal Constitucional deveria zelar pela Constituição, afigurando-se seu verdadeiro Guardião. Com o Tribunal Constitucional Austríaco se inaugura o conceito de Controle Concentrado de Constitucionalidade. O Tribunal Constitucional da Alemanha – TCF, criado em 1951, tornou-se o Tribunal mais importante do mundo, considerando a simbologia que lhe é associada, sendo referência para diversos tribunais de outros países. Força normativa dos princípios constitucionais O terceiro ponto importante diz respeito ao reconhecimento da força normativa dos princípios constitucionais. Regras vs. Princípios Exemplo de Regra . Idade mínima de 35 anos para assumir o Senado. Exemplo de Princípio . Princípio da privacidade (Art. 5º, X) Reconhecimento de força normativa à Constituição; o As normas constitucionais são dotadas de imperatividade, que é atributo de todas as normas jurídicas. o Sua inobservância há de deflagrar os mecanismos próprios de coação, de cumprimento forçado. Expansão da jurisdição constitucional; o Modelo de supremacia da Constituição, envolvendo constitucionalização dos direitos fundamentais, cuja proteção passava a caber ao Judiciário (judicial review). o No Brasil, a expansão se deu verdadeiramente a partir da Constituição Federal de 1988, com a criação de novos mecanismos de controle concentrado de constitucionalidade (ADI, ADC e a Arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais - ADPF); Nova dogmática da interpretação constitucional Desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional; DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 21 o As especificidades das normas constitucionais levaram a doutrina e a jurisprudência a desenvolver ou sistematizar um elenco próprio de princípios aplicáveis à interpretação constitucional. Supremacia da Constituição; Presunção de constitucionalidade das normas e atos do Poder Público Interpretação conforme a Constituição Unidade Razoabilidade Efetividade o Nova interpretação constitucional Cláusulas gerais ou conceitos jurídicos Princípios Colisões de normas constitucionais Ponderação Argumentação 1.6.4. Marco filosófico O grande pilar foi o pós-positivismo. Houve superação e talvez sublimação entre dois grandes paradigmas opostos: jusnaturalismo e positivismo. Jusnaturalismo x positivismo O jusnaturalismo moderno, desenvolvido a partir do século XVI, aproximou a lei da razão e transformou-se na filosofia natural do Direito. Fundado na crença em princípios de justiça universalmente válidos, foi o combustível das revoluções liberais e chegou ao apogeu com as Constituições escritas e as codificações. O positivismo buscava a objetividade científica, equiparando o Direito à lei, afastando a influência da filosofia e as discussões sobre legitimidade e justiça. O fracasso está associado ao fim do nazismo e do fascismo. O que seria o direito válido? Para os jusnaturalistas o direito natural prevalece à lei escrita. Para os positivistas é o direito posto, aquele que está estabelecido em lei escrita. Exemplo: Salvador de 1800 e a escravidão: A escravidão estava garantida em lei escrita, mas para os jusnaturalistas não é uma lei válida, pois a liberdade é um direito natural do ser humano; Salvador de 1940 e a questão da mulher: “O homem é o cabeça da família, e a mulher se torna relativamente incapaz após o casamento”; No neoconstitucionalismo há uma sublimação de aspectos valiosos entre o positivismo e o jusnaturalismo: Aliar normatividade (segurança jurídica e previsibilidade social) ao conteúdo substancial (valoração à luz de princípios para reaproximar o direito da moral); O pós-positivismo busca ir além da legalidade estrita (função social e interpretação), mas não despreza o direito posto; Formação de uma nova hermenêutica constitucional; Desenvolvimento de uma teoria dos direitos fundamentais edificada sobre o fundamento da dignidade humana. Reaproximação entre ética e direito, com a fundamentação moral dos direitos humanos e com a busca da justiça fundada no imperativo categórico de Kant. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 22 1.7. O neoconstitucionalismo: Conceitos extras 1.7.1. Patriotismo constitucional O neoconstitucionalismo favoreceu o surgimento se um sentimento constitucional universal, baseado na lealdade e respeito às Constituições. O termo surgiu por ocasião da comemoração dos 30 anos da marcante e simbólica Lei Fundamental de Bonn da Alemanha (1949), como forma de oposição à noção tradicional de nacionalismo totalitário alemão, visando apresentar uma identificação do Estado Alemão com a ordem política e os princípios constitucionais. Nos anos 80, o sociólogo J. Habermas consolidou o conceito, ao difundir ao mundo que o patriotismo constitucional produziu de forma reflexiva uma identidade política coletiva conciliada com uma perspectiva universalista comprometida com os princípios do Estado Democrático de Direito. Além disso, o patriotismo constitucional buscou o reconhecimento da pluralidade cultural, promovendo a conciliação de diversas práticas culturais, aproximando os cidadãos da solidariedade social baseada nos direitos. 1.7.2. Transconstitucionalismo Ocorre quando a existência de problemas jurídico-constitucionais perpassam às distintasordens jurídicas, sendo comum a todas elas, como, por exemplo, os problemas associados aos direitos humanos. 2. O Direito Constitucional 2.1. Noção Geral (citou José Afonso da Silva como autor referência para o tema) O Direito Constitucional é um ramo do direito público, que expõe, interpreta e sistematiza princípios e normas fundamentais do Estado. Direito Público x Direito Privado Os ramos do direito público são caracterizados pela prevalência do princípio da legalidade. O Estado só faz o que está estritamente previsto na lei - “Estado de Direito”. Os ramos do direito privado são marcados pela lógica da autonomia da vontade. “O que não está juridicamente proibido está juridicamente permitido”. Expõe, interpreta e sistematiza. O Direito Constitucional está voltado para o conjunto de normas e princípios dispostos na Constituição Federal. 2.2. Espécies (citou o autor Biscaretti di Ruffia) DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 23 2.2.1. Direito Constitucional Geral ou Comum O Direito Constitucional Geral ou Comum tem por objetivo a elaboração de uma teoria geral de caráter científico (temas centrais), em detrimento do caráter dogmático ou descritivo. Essa teoria geral é viabilizada pela sistematização e definição de princípios, conceitos e instituições que se acham presentes em vários ordenamentos constitucionais. Como exemplo, define o conceito de Direito Constitucional e suas fontes; o conceito de Constituição e sua classificação; a Teoria do Poder Constituinte, o método de interpretação da Constituição, o Controle de Constitucionalidade, etc. 2.2.2. Direito Constitucional Positivo ou Particular O Direito Constitucional Positivo (especial, particular ou interno) tem por finalidade estudar uma Constituição específica vigente em um Estado determinado, possuindo uma orientação tipicamente dogmática. Ocupa-se do direito positivo, procedendo à análise, interpretação, sistematização e crítica das regras e princípios integrantes de uma determinada Constituição. A Constituição Federal de 1988 – Constituição Cidadã - data de 5 de outubro de 1988 e possui os direitos fundamentais elencados entre os artigos 5º e 17. 2.2.3. Direito Constitucional Comparado O Direito Constitucional comparado tem por finalidade o estudo comparativo de uma pluralidade de Constituições, destacando os contrastes e as semelhanças entre elas. Vale-se de um método descritivo, baseado na comparação de diferentes textos constitucionais, não sendo, a rigor, propriamente uma ciência. Exemplo: A CF88 prevê pena de morte em situações de guerra declarada. Mas nos E.U.A, há várias possibilidades diferentes a depender do estado da federação. 3. A Constituição 3.1. Classificação 3.1.1. Quanto à Estabilidade (Processo de Mudança): Rígida A Constituição é rígida quando exige um processo legislativo especial para modificação do seu texto, mais difícil e mais solene do que o processo legislativo de elaboração das demais leis do ordenamento. Importante A palavra rigidez não se confunde com imutabilidade. As Emendas Constitucionais – EC são o instrumento adequado para que processe uma alteração de norma constitucional. É necessário obter votação favorável de 3/5 dos membros de cada Casa em dois turnos de votação. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 24 Na prática, requerem-se 308 votos na Câmara (3/5 de 513 deputados) e 49 votos no Senado (3/5 de 81 senadores) Art. 60, CF § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. A título de comparação, uma lei ordinária é aprovada por maioria simples, com votação de um turno nas duas casas. Maioria Simples vs. Maioria Absoluta Simples ou Relativa Maioria com relação ao número de presentes na votação; Absoluta Maioria com relação ao número total de membros; Da rigidez da Constituição decorre sua supremacia frente às demais normas. Superrígida A Constituição é considerada superrígida quando não admite alterações nos dispositivos relativos às Cláusulas Pétreas. Denomina-se de Cláusulas Pétreas as normas constitucionais que são consideradas imutáveis por representar a essência da Constituição. Art. 60, CF § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. Flexível A Constituição flexível é aquela que permite sua modificação pelo mesmo processo legislativo de elaboração e alteração das demais leis do ordenamento. Itália do Século XIX, Estatuto Albertino. Semirrígida A Constituição semirrígida (ou semiflexível) é aquela que exige um processo legislativo mais difícil para alteração de parte de seus dispositivos e permite a mudança de outros dispositivos por um procedimento simples, semelhante àquele de elaboração das demais leis do ordenamento. Na história do Constitucionalismo brasileiro, unicamente a Constituição do Império (1824) foi semirrígida. Art. 178. E' só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 25 3.1.2. Quanto à Forma: Constituição Escrita e não Escrita Escrita Constituição escrita (ou instrumental) é aquela formada por um conjunto de regras sistematizadas e formalizadas por um órgão constituinte, em documentos escritos solenes, estabelecendo as normas fundamentais de um dado Estado. Considera-se “Escrita” toda Constituição que é organizada e sistematizada; Não Escrita Nas Constituições não escritas (costumeiras ou consuetudinárias), as normas constitucionais não são solenemente elaboradas por um órgão especialmente encarregado dessa tarefa, tampouco estão codificadas em documentos formais, solenemente elaborados. Tais normas se sedimentam a partir dos usos e costumes, das leis esparsas comuns, das convenções e da jurisprudência (assistemática). Exemplo é a Constituição inglesa, país em que parte das normas sobre organização do Estado é consuetudinária. Também Israel e Nova Zelândia. 3.1.3. Quanto à Extensão: Constituição Sintética (Concisa) e Analítica (Prolixa) Analítica Constituição que possui texto detalhado, minucioso, prolixo, no que diz respeito à abrangência dos temas que aborda. A Constituição de 1988, no afã de incluir o máximo de assuntos em seu texto criou uma situação de existência de normas apenas formalmente constitucionais. Exemplo: Cita o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, que será mantido na órbita federal. Sintética Constituição que cuida de poucos temas, em linhas gerais, deixando para a Jurisprudência construir o significado do direito e da própria Constituição (precedentes). Exemplo: Constituição dos E.U.A de 1787, que possui apenas sete artigos. Prevalece o princípio do Stare decisis et non quieta movere ou força vinculante dos precedentes. Exemplos: Caso Marbury vs. Madison (1803) – Controle difuso de constitucionalidade. Caso americano que inaugurou o controle difuso de constitucionalidade nos E.U.A. Garantia que o Poder Judiciário protege a Constituição; Garantia de que cabe ao Poder Judiciário a palavra final em termos de interpretação de normas constitucionais. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação[ Helson ] 26 Curiosidade Esse julgado é tão importante para os E.U.A que, a partir dele, a lógica de invocação do Controle de Constitucionalidade foi incorporado ao ordenamento: Assim, quando se pretende invocar que uma norma é inconstitucional, refere-se ao precedente de 1803. No Brasil, o Controle de Constitucionalidade está previsto no próprio texto constitucional, motivo pelo qual não se fala em um análogo Caso Marbury vs. Madison no nosso país. Caso Brown (1954) – Afastamento do precedente Caso mundialmente conhecido por encerrar a política “dos separados, mas iguais”; Dica de filme Doze anos de escravidão O mordomo da Casa Branca Retratam a teoria dos “Separados, mas iguais”. Pela teoria dos “Separados, mas iguais” (final de século XIX), brancos e negros não poderiam andar juntos. Havia assentos em ônibus separados, bebedouros separados nas escolas, etc. À época, a Suprema Corte asseverou que essa teoria respeitava a Constituição. Após o Caso Brown (1954), onde a Suprema Corte decidiu de forma diferente do precedente anterior, começou um processo de agregação social, deixando de haver paulatinamente a separação racial. Curiosidade Novo CPC brasileiro é todo baseado em precedentes judiciais. Conclusão: Essas decisões jurisprudenciais enriquecem o significado da Constituição sintética americana. 3.1.4. Quanto à Origem: Constituição Democrática (Promulgada) e não democrática (outorgada) Quanto à origem, a classificação diz respeito ao exercício do Poder Constituinte Originário que é o responsável pela elaboração da Constituição. Outorgadas Constituição imposta pela vontade unilateral de um autocrata, sem qualquer participação popular. No Brasil, as Constituições de 1824, 1937, 1967 e 1969 foram OUTORGADAS. Promulgadas (Democráticas) Uma Constituição promulgada pressupõe algum grau de participação popular, normalmente vinculada a um regime de representação, onde o povo elege os representantes de uma Assembleia Constituinte. Lincon “Governo do povo, pelo povo, para o povo”. No Brasil, as Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988 foram PROMULGADAS. 1967 – Embora promulgada pelo CN, a carta foi outorgada pelo Executivo através do CN. 1891 – Limitações de poderes da ANC DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 27 3.1.5. Quanto à Finalidade: Constituição Garantia (liberal) e Dirigente (Social) Garantia A Constituição-garantia, de texto reduzido (sintética), é Constituição negativa, que tem como principal preocupação a limitação dos poderes estatais, isto é, a imposição de limites à ingerência do Estado na esfera individual. Daí a denominação "garantia", indicando que o texto constitucional preocupa-se em garantir a liberdade, limitando o poder (ALEXANDRINO; PAULO, 2016). São, portanto, típicas dos Estados liberais. Balanço Constituição-balanço é aquela destinada a registrar um dado estágio das relações de poder no Estado. Nesse tipo de Constituição, o texto é elaborado com vistas a espelhar certo período político, findo o qual é elaborado um novo texto para o período seguinte. Sua preocupação é, portanto, disciplinar a realidade do Estado num determinado período, retratando o arranjo das forças sociais que estruturam o Poder. Foi o que aconteceu na antiga União Soviética, que elaborou três Constituições seguidas com essa finalidade. A primeira, em 1924 (Constituição do proletariado); a segunda, em 1936 (Constituição dos operários); e a última, em 1971 (Constituição do povo) (ALEXANDRINO; PAULO, 2016). Dirigente É a Constituição que estabelece, ela própria, um programa para dirigir a evolução política do Estado, um ideal social a ser futuramente concretizado pelos órgãos estatais. 3.1.6. A classificação da Constituição Federal de 1988 Rígida ou Superrígida (a depender da classificação); Escrita; Formal; Dogmática; Analítica; Promulgada; Dirigente. 3.2. Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais 3.2.1. Considerações iniciais Alguns autores preferem denominar o assunto de Teoria da Norma Constitucional. Quais são os efeitos gerados pelas normas constitucionais? Como são interpretados os fatos da vida dentro da esfera jurídica? Inicialmente, cumpre esclarecer que os fatos que ocorrem no cotidiano têm significado jurídico totalmente diversificado. Natureza jurídica Os fatos jurídicos, na ótica do direito, têm reconhecidos sua a natureza jurídica. Qual a natureza jurídica de um determinado evento da vida? Objetivos: DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 28 o Qual o significado jurídico? Como classificar. o Qual o regime jurídico? Qual o conjunto de regras a ser aplicados. Exemplo hipotético nº 1 Uma pessoa entrega um objeto a outra pessoa. Qual a natureza jurídica desse ato? Qual o significado jurídico? Um contrato de depósito? Um contrato de empréstimo? Um contrato de doação? Um contrato de compra e venda? O evento da vida foi a entrega do objeto, mas para tentar enquadrar o significado jurídico foi necessário proceder a interpretações. Exemplo hipotético nº 2 Relação afetiva entre colegas de faculdade Qual a natureza jurídica dessa relação? Pode ser uma relação episódica (“Ficar com o outro”), pode ser um namoro, pode ser um namoro que se transforme em união estável e até mesmo chegar ao casamento. O mesmo fato, que é a relação efetiva, pode ter repercussões diversas no mundo jurídico, a depender do regime jurídico que lhe é atribuído. 3.2.2. Planos normativos A realidade jurídica é traduzida em etapas. Uma vez conhecida a natureza jurídica, passa- se a um olhar jurídico que vai delinear três planos básicos chamados: Plano da existência Plano da validade Plano da eficácia Possibilidades Um evento que existe na vida pode não existir juridicamente; Um evento que existe na vida, tem validade na vida, pode não possuir validade no mundo jurídico; Um evento que existe na vida, tem validade na vida, tem validade no mundo jurídico, mas não tem eficácia; Exemplo Um documento jurídico deverá ser protocolado por um advogado na Justiça em nome de seu cliente em um processo judicial. O advogado e o cliente assinam um contrato que define os honorários advocatícios, e elaboram uma procuração, mas o cliente se esquece de assiná-la. O serventuário da justiça percebe que a procuração juntada não está assinada. Pergunta-se: O ato é ineficaz, inválido ou inexistente? Resposta: Um documento jurídico que não está assinado é um ato inexistente, porque não é possível comprovar que houve sequer vontade. Se o documento estivesse assinado por terceiros (falsificação de documentos) se afiguraria em um ato inválido. 3.2.3. Plano da existência O Plano da Existência é caracterizado pela presença de certos elementos essenciais: DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 29 Agente Vontade Forma Objeto Exemplo: A procuração que, por engano, não foi assinada. A vontade não foi comprovada no plano jurídico, apenas de existir na vida real. 3.2.4. Plano da Validade Pressupõe uma presença regular, caracterizada por uma ordem jurídica especifica. Não basta só a presença, mas que haja uma presença de acordo com a ordem jurídica brasileira. Agente Não é qualquer agente. Tem que ser um agente capaz; Ex. Uma pessoa de menor de 18 anos não poderia abrir uma conta bancária. Se assim o fizesse, não seria um ato válido, porque não foi efetuado por um agente capaz. Vontade Não é qualquer vontade. Tem que ser uma vontade livre e consciente; Exemplo: Uma pessoa que assinou um contrato sob coação. O ato não seria válido,porque a vontade não foi livre. Forma Não é qualquer forma. Tem que ser uma forma prevista em lei; Exemplo: Contrato de compra e venda. A forma de aquisição da propriedade imóvel só se efetiva com o registro do imóvel (controle de segurança jurídica). Objeto Não é qualquer objeto. Tem que ser um objeto lícito, possível e determinado. Exemplo positivo: Venda de terreno na lua. Os corpos celestiais não são suscetíveis de apropriação. Nenhum Estado pode invocar soberania, nenhum particular pode invocar propriedade. Exemplo positivo: Existência de exemplares do CDC nos estabelecimentos comerciais. Exemplo negativo: Direitos fundamentais. Embora a Constituição elenque tantos direitos, infelizmente há uma dissonância entre a norma e a realidade, o que configura falta de efetividade. 3.2.5. Plano da Eficácia Foca na produção de efeitos. Jurídica Produção de efeitos normativos DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 30 Social Produção de efeitos da realidade ou efetividade do direito. Exemplo: O art. 2º, CF trata da separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Existe total correspondência da norma jurídica com a realidade social, então diz-se que há efetividade. 3.2.6. Eficácia Jurídica das normas constitucionais Dica de livro José Afonso da Silva – Aplicabilidade das Normas Constitucionais Livro de 1967 Examinou a doutrina norte-americana e a italiana. Os doutrinadores desses países chegaram à conclusão que várias normas da Constituição eram desprovidas de eficácia, que eram normas não executáveis. Por seu turno, José Afonso da Silva, pensava diferente: “Toda norma constitucional possui eficácia jurídica.” Se “Toda norma constitucional possui eficácia jurídica.”, isso implica que ela gera necessariamente dois efeitos. Efeito de revogação; o Uma nova norma constitucional revoga a anterior, que deixa de produzir efeitos. Efeito condicionante; o Efeito que se projeta a partir da Constituição em direção normas infraconstitucionais, condicionando-as. o É a observância da validade vertical das normas, que determina a supremacia da Constituição. Por esta concepção, o entendimento dos doutrinadores americanos e italianos estaria incorreto. Classificação com relação à aplicabilidade Plena Possui aplicabilidade direta, imediata e integral. Ela diz tudo que é necessário para sua total aplicabilidade, prescindindo da regulamentação por outras normas. Ex. Art. 2º, CF – Máxima da tripartição de funções. Contida Possui aplicabilidade direta, imediata, mas possivelmente não integral. Ela diz tudo que é necessário para sua total aplicabilidade, prescindindo, em princípio, da regulamentação por outras normas. Entretanto, uma lei posterior poderá restringir o conteúdo da norma constitucional contida. Ex. Liberdade de exercício profissional (art. 5º, XIII, CF) DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 31 XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; Alguns autores preferem utilizar a classificação “contível” ou “restringível”, dando ideia de potencialidade da restrição. Dica de livro Michel Temer - Elementos de Direito Constitucional O professor comentou que apenas o rodapé que trata da discussão sobre os termos “contida”, “contível” ou “restringível” se salva no livro, pois, no, geral, a abordagem é muito superficial. Limitada Possui aplicabilidade indireta, mediata e reduzida. Ela necessita da regulamentação de outra norma, que versará sobre o tema, para só então passar a produzir efeitos. Ex. Art. 37, VII, CF – Lei de greve dos servidores públicos; Art. 153, VII, CF – Instituição do Imposto sobre Grandes Fortunas; 3.3. Síndrome de inefetividade das Normas Constitucionais 3.3.1. Considerações iniciais Surge do não cumprimento de uma promessa de norma constitucional limitada prevista na Constituição, mas que não produziu efeitos por falta de regulamentação. A Constituição prevê dois instrumentos de combate à inefetividade das normas constitucionais limitadas. 3.3.2. ADIO – Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão Art. 103, §2º, CF § 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. Concentrado Realizado apenas por Tribunal de Cúpula Pensado por Hans Kelsen em 1920 na Áustria Competência originária do STF (Começa e termina com o STF) DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 32 Legitimidade ativa: Propostitura Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. Efeitos erga omnes, que tem repercussões para todos. Curiosidade Configurada a substancial mudança das situações fáticas, o STF poderá retomar a discussão sobre o tema deliberado. Exemplo de ADIO: art. 153, VII – IGF O STF alegou que o Governador do Maranhão não tinha pertinência temática para a propositura da ação. A jurisprudência impõe que alguns legitimados comprovem a pertinência temática, a exemplo de governadores, mesa de assembleia legislativa, entidades de classe e confederações sindicais. Decidindo favorável, o máximo que ocorre é uma ciência ao poder legislativo que está em mora, mas não vincula, por obediência ao princípio da separação dos poderes. 3.3.3. MI – Mandado de Injunção Art. 5º, LXXI, CF LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; Difuso Competência atribuída a qualquer juiz ou tribunal; Origina-se com o caso Marbory vs. Madison em 1803 nos E.U.A Competência: Qualquer juiz ou tribunal, dependendo da autoridade envolvida na ação. Legitimidade Ativa: Qualquer pessoa física (Mandado Individual) ou jurídica (Mandado Coletivo) prejudicada pela omissão da lei. Efeitos: inter partes, por regra. Mas já houve casos em que o STF julgou com efeitos para todos. Exemplo: Greve do Servidor Público DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 33 o Em 2007, o STF recebeu três MI (670, 708 e 712) sobre a regulamentação de direito de greve. o O STF foi mais ousado na decisão, ao aplicar por analogia a lei de greve da atividade privada. 3.4. Concepções de Constituição O termo é utilizado para revelar as visões próprias que alguns autores tiveram para os sentidos da Constituição 3.4.1. O sentido sociológico A essência da concepção sociológica remonta a uma palestra ministrada por Ferdinand Lassale na antiga Prússia. Por essa concepção, o sentido da constituição estaria associado à soma dos fatores reais de poder em uma sociedade, sendo que os fatores reais de poder são representados por: Forçaseconômicas; Forças políticas; Forças religiosas; Forças militares; Se os fatores reais de poder não tiverem consonância com a Constituição, prevalecerão os primeiros, e o texto escrito torna-se apenas uma mera folha de papel. Exemplo: Art. 192, §3º, CF – sistema financeiro. Tratava de uma taxa de juros máxima a ser praticada no mercado financeiro. Foi revogado pela EC nº 40/2003, dada uma pressão do setor financeiro. Konrad Hesse muitos anos depois se revelou o maior crítico de Lassale, defendendo a normatividade. 3.4.2. O sentido político ou decisionista Carl Schmitt constrói essa concepção na Alemanha dos anos 30 asseverando que a Constituição é a decisão política fundamental, distinguindo do que ele chama de meras leis constitucionais. O chefe de Estado é que seria o guardião da Constituição, definindo, dessa forma, quais elementos representariam a decisão política fundamental. Carlo Schmitt se tornou um dos principais juristas do partido nazista, construindo obras com cunho discriminatório muito pesado. No Brasil, existem três conceitos que relacionam a essa concepção: DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 34 Normas formalmente constitucionais; o Tudo que foi previsto pelo Poder Constituinte Originário é formalmente constitucional. Normas materialmente constitucionais; o Seu conteúdo é tão importante que deve ser consideradas normas constitucionais, ainda que não estejam formalmente no texto. o O código eleitoral possui conteúdos que são materialmente constitucionais. Normas apenas formalmente constitucionais. o Está presente na Constituição, mas seu conteúdo não é materialmente constitucional, pela irrelevância. o Um bom exemplo é o art. 242, §2º, CF, que trata do Colégio Pedro II, localizado no Rio de Janeiro, embora não se consubstancie um conteúdo relevante. 3.4.3. O sentido “jurídico” (normativista) A concepção normativa ou jurídica está associada à Teoria Pura do Direito, da autoria de Hans Kelsen – o mestre de Viena, publicada em 1934. Com essa teoria, Hans Kelsen travou um debate épico com Carl Schmitt. Dica de livros Teoria Pura do Direito Jurisdição constitucional . Debate clássico com Carl Schmitt Kelsen questionava que havia uma confusão na definição do objeto do direito (justiça, decisões judiciais, valores sociais, princípios, normas jurídicas). Para Kelsen, o objeto do direito é a normatividade. Assim, Kelsen criou a metáfora da Pirâmide Normativa de Hans Kelsen, asseverando que a Constituição é o ápice de uma ordem jurídica escalonada, na qual cada nível representa o fundamento de validade do nível anterior. A Constituição seria respeitada com base na Norma hipotética Fundamental (ficção jurídica fundamental), que possui a única frase: “Deve obedecer a Constituição.” Sentidos da Constituição: Lógico-jurídico o A Constituição se aproxima da Norma Hipotética Fundamentação; legitima a obediência a CF Jurídico-positivo o O “olhar” se direciona à própria Constituição e sua posição de força maior na hierarquia da pirâmide. O Intérprete maior da Constituição seria o Tribunal Constitucional. Uma das posições mais encontradas no Brasil. 3.4.4. O sentido dirigente Em 1982, o jurista lusitano J.J. Gomes Canotilho escreveu o livro Constituição Dirigente e vinculação do legislador. A Constituição não deveria ser apenas o balanço (retrato) da realidade, e, sim, ela deveria ser transformadora, encaminhando a sociedade de um estágio para um estágio melhor. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 35 Esse dirigismo atribuído à Constituição está associado às normas programáticas, que projetam a criação de leis para que haja uma total aplicabilidade das normas constitucionais limitadas. A nossa Assembleia Constituinte de 1987 foi completamente influenciada pelas ideias de J.J. Gomes Canotilho, por isso previu normas programáticas no texto constitucional. Dirigismo da Constituição que deseja transformar a realidade Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Sucede que anos depois, Canotilho alertou no prefácio da 2ª edição do livro que o conceito de dirigismo possuía uma força menos significativa que a aduzida por ele na 1ª edição. 3.4.5. O sentido simbólico O brasileiro Marcelo Neves em seu livro “Constitucionalização simbólica” tece uma crítica ao processo que busca tornar normas constitucionais mera simbologia. Foi influenciado por Luhmann e a teoria da linguagem. “A linguagem constitucional, muitas vezes, serve apenas para o processo de neutralização das expectativas sociais”. Crítica o uso do texto constitucional apenas como justificativa de ação por parte do legislativo, quando na verdade a ação não possui a efetividade necessária – legislação álibi. Exemplo: A inclusão da “alimentação” como sendo direito social no art. 6º, CF, pela EC nº 90/2015, sendo que nada efetivo foi feito, o que neutralizou as expectativas. Luis Barroso “Existe uma insinceridade normativa” 3.4.6. O sentido ontológico Essa concepção está associada ao autor Karl Loewenstein, que estava preocupado em analisar a eficácia da Constituição perante a realidade. Ontologia significa essência, realidade. Por essa concepção, haveria três categorias de Constituições: Normativas Para o autor, essa concepção é a melhor, pois há plena harmonia ou adequação entre o texto constitucional e a dinâmica do processo político ou a realidade social (valor jurídico). Exemplo: A Constituição dos E.U.A, embora promulgada em 1787 (completou 230 anos em 2017), continua mantendo uma adequação entre seu texto e a realidade social. DIR110 – DIREITO CONSTITUCIONAL I Anotações da 2ª avaliação [ Helson ] 36 Para tanto, destaca-se o papel relevante da Suprema Corte Americana (SCOTUS), que é a responsável por manter a adequação do texto constitucional à realidade social, mediante seu papel de grande intérprete da Constituição. Nominais Em uma Constituição nominal existe uma adequação parcial entre o texto constitucional e a realidade social ou a dinâmica do processo político (sem valor jurídico; constituição de fachada). Significa dizer que uma parte da Constituição se mantém adequada à realidade social, mas, por outro lado, a outra parte não mantém essa harmonia. A Constituição Federal de 1988 é considerada pela maioria dos autores como sendo nominal. Entretanto, cumpre ressaltar o posicionamento doutrinário do prof. Dirley Cunha, que diverge desse entendimento majoritário, enquadrando a Constituição Pátria como do tipo normativa. Isso porque considera que uma Constituição normativa é aquela cujas normas dominam o processo político, ou seja, logram submeter o processo político à observância e adaptação de seus termos. Nesse ponto, o professor Gabriel Marques discorda de Dirley Cunha, pois considera que nossa Constituição não possui uma adequação plena. Segundo ele, a parte da Constituição dedicada à Organização dos Poderes é plenamente respeitada, mas infelizmente a parte dedicada aos direitos fundamentais não é igualmente respeitada. -- a colega fez uma pergunta ótima sobre vinculação entre essa concepção e as Constituições dirigentes. – Semânticas O autor considera que uma Constituição semântica se afigura em uma espécie de disfarce, uma vez que quem está no poder se vale dessa
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