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Seção 3 Polinizadores Fotos: Carlos eduardo Pereira Nunes Hipólito Paulino-Neto André Rech Artur Antunes Jana Tesserolli de Souza * Introdução * Síndromes de polinização: especialização e generalização André Rodrigo Rech1, Rubem Samuel de Avila Jr.2 e Clemens Schlindwein3 1 Programa de Pós-Graduação em ecologia, Instituto de Biologia, Universidade estadual de Campinas (Unicamp) – Rua Monteiro Lobato, 970 – CeP: 13083-970 – Campinas-SP – Brasil – Caixa postal 6190. e-mail: andrerodrigorech@gmail.com 2 Universidade Federal do Pampa, campus São Gabriel – Av. Antônio Trilha, 1.847 – CeP: 97300-000 – São Gabriel-RS – Brasil. 3 Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Departamento de Botânica, Universidade Federal de Minas Gerais – Av. Antônio Carlos, 6.627 – CeP: 31270-901 – Belo Horizonte-MG – Brasil. Foto: André Rodrigo Rech D uas frases contrastantes publicadas ao longo da história da ecologia da polinização são uma boa maneira de evidenciar a discussão que pretendemos apresentar nesse capítulo. Uma delas, escrita por Grant & Grant (1965), diz: “uma relação chave-fechadura entre flores e seus polinizadores... é comum e provavelmente universal entre as espécies de Polemoniaceae”. Isso ilustra a busca por padrões para síntese e entendimento da natureza complexa dos processos interativos, um objetivo comum da ecologia. A outra frase foi escrita muito antes, por Hermann Müller, no século XIX (Müller 1882, p. 20), e diz: “Solanum dulcamara é... um bom exemplo... da arbitrariedade e artificialidade que deve ser evitada, ao tentarmos forçar a quase infinita diversidade de formas florais dentro de um número limitado de categorias básicas claramente delineadas...”. Essa frase, por sua vez, evidencia os incidentes que podem ocorrer na tentativa inadvertida de se usar uma abordagem reducionista em ecologia. Em vez de adaptar os fatos para que se ajustem às teorias, o caminho para fazer avançar o entendimento de processos naturais deve residir muito mais em repensar as teorias, para que estas se acomodem aos dados. 172 ⁞ Síndromes de polinização: especialização e generalização Apresentamos aqui uma breve síntese histórica de como se chegou ao conceito de síndromes de poliniza- ção, quais foram as síndromes descritas originalmente e o cenário atual de debate das mesmas. A primeira classificação de tipos florais na ecologia da polinização foi elaborada por Federico Delpino (1868-1875). O grande avanço científico de Delpino foi demonstrar que semelhanças em forma, cor e funcionamento de flores não podem ser explicadas pelo parentesco das espécies (hoje se diria filogenia); desta maneira, ele destacou este fenômeno como um problema cientí- fico (Vogel 1954). Ele estabeleceu dois sistemas de flores, os quais formaram a base para os tratamentos e classificações posteriores. Um sistema classifica as flores de acordo com forma e função, o qual resultou em categorias como: flores tubulares, papilionadas, hipocrateriformes, labiadas etc. A segunda classifi- cação foi resultado do descobrimento de que certos tipos florais são relacionados com certos grupos de visitantes. Posteriormente, Herrmann Müller (1873), Paul Knuth (1898-1905) e vários outros autores re- visitaram e ampliaram a classificação de Delpino. Mais recentemente, Stefan Vogel realizou um estudo amplo da flora da África do Sul (Vogel 1954). Nesse estudo ele analisou características florais na busca de uma classificação natural dos tipos florais de acordo com o modo de polinização. Ele revisou as classificações anteriores e chegou a um sistema ao qual chamou de “estilos” florais (Stiltypen), com base em características fisiológicas, morfológicas, anatômicas e fenológicas das flores. A classificação dos “estilos florais” de Vogel (1954) antecipou o estabelecimento do conceito das síndromes florais de van der Pijl (1960; 1961), popularizado por Faegri & van der Pijl (1966; 2ª ed. 1971; 3ª ed. 1979). As diferentes características de uma determinada síndrome ou “estilo” floral não são necessariamente exclusivas, mas uma questão de probabilidade e podem aparecer em mais de uma síndrome (Vogel 1954; Faegri & van der Pijl 1979). Assim, flores brancas podem ser visitadas por abelhas, esfingídeos ou beija-flores, contudo flores esfingófilas, apresentam antese noturna e muitas vezes tubos florais longos, delicados e com odor muito forte liberado apenas à noite. Flores ornitófilas, em contrapartida, apresentam antese diurna, são geralmente inodoras e robustas. A combinação de atributos florais como co- loração, forma da flor, horário da antese, características e localização do néctar, características e periodicidade do odor floral e características anatômicas da flor, desta maneira, sugerem a associação de um polinizador a uma determinada síndrome floral (Vogel 1954; van der Pijl 1960; 1961). Os atributos florais que compõem cada uma das síndromes florais foram apresentados como um conjunto de adaptações convergentes das flores às particularidades do equipamento sensorial dos po- linizadores e suas características morfológicas, como demonstrado por van der Pijl (1961), ou às caracterís- ticas do meio abiótico responsável pela polinização (vento, água), embora, há que se ressaltar, nem todos os visitantes florais são polinizadores. Muitas vezes, além de poucas espécies de polinizadores efetivos (visitantes florais que medeiam a produção de semen- tes viáveis e causam polinização cruzada com alta probabilidade), ocorrem visitantes florais de vários grupos que não polinizam as flores, visitantes florais que possuem papel de polinizadores complementares ou que causam apenas autopolinização ou poliniza- ção entre flores vizinhas (geitonogamia). Quando considerada a efetividade dos visitantes florais como polinizadores, um sistema aparentemente genera- lista pode revelar especialização críptica (Waser & Ollerton 2006; King et al. 2013). Em síntese, a maioria das espécies de plantas já estudadas apresenta flores que podem ser associadas a uma determinada síndrome floral. Por um lado, André Rodrigo Rech ♦ Rubem Samuel de Avila Jr. ♦ Clemens Schlindwein ⁞ 173 isso pode refletir um viés na escolha dos modelos de estudos, historicamente orientados para modelos nos quais se esperava de antemão por uma relação chave-fechadura, o que reflete uma presença muito forte do paradigma da coevolução. Várias espécies de plantas, no entanto, são polinizadas por diferentes grupos de animais e classificadas como polifílicas, alotrópicas ou generalistas (Vogel 1954; Faegri & van der Pijl 1979; Endress 1994; Fenster et al. 2004). Os visitantes florais dessas plantas são menos previsíveis e/ou variam no tempo e no espaço (Gómez 2002; Ollerton et al. 2009; Johnson 2013). Espécies vegetais fenotipicamente especializa- das ou com características florais restritivas tam- bém podem ser polinizadas por diferentes grupos taxonômicos de animais como representantes de Oenothera L. (Onagraceae) do sul do Brasil. Embora apresentem longas corolas tubulares, são polinizadas por esfingídeos com peças bucais longas, abelhas e moscas diurnas (R.S. Avila obs. pess.). Randia ita- tiaiae (Rubiaceae), na Floresta Atlântica do Sudeste, e Hancornia speciosa (Apocynaceae), do Nordeste do Brasil, apresentam atributos florais característicos de esfingofilia e também são polinizadas adicionalmente por outros agentes polinizadores (borboletas, beija- flores e abelhas Euglossini – Darrault & Schlindwein 2005; Avila & Freitas 2011). Na sequência apresentamos a caracterização ori- ginal resumida das síndromes florais de acordo com Vogel (1954), van der Pijl (1960; 1961) e Faegri & van der Pijl (1979): Anemofilia: Polinização pelo vento. Flores ane- mófilas não apresentam coloração e estruturas atra- tivas a visitantesflorais; cor normalmente verde ou esbranquiçada e o perianto fortemente reduzido ou ausente; flores sem néctar, inodoras, frequentemen- te unissexuais ou com dicogamia nítida; estigmas longos, expostos e com superfície grande, frequente- mente ramificados; estames grandes e expostos, com enorme produção de pólen pulverulento com pouca ornamentação. A razão pólen-óvulo geralmente é muito grande. Melitofilia. Polinização por abelhas. Flores com antese diurna; cores variando do ultravioleta ao ama- relo intenso, frequentemente com guias visuais de néctar ou pólen; flores geralmente delicadas e com poucos elementos de sustentação, labiadas, papilio- nadas, em forma de disco, infundibuliformes; odor frequentemente presente, “agradável” ao olfato hu- mano; néctar muitas vezes escondido, em pequena quantidade e com concentração alta de açucares; recursos florais: pólen, néctar, óleo e, em alguns casos, resinas e voláteis florais. Psicofilia: Polinização por borboletas. Flores com antese diurna, cores amarela, laranja, vermelho, azul, branco, roxo e rosa; geralmente com guias de néctar. As flores são delicadas, eretas, frequentemente hipocrateriformes, tubulares, em forma de pincel, às vezes, com cálcares. O recurso floral é quase ex- clusivamente néctar, com nectário escondido; com poucos grãos de pólen, odor agradável. Esfingofilia (+falenofilia): Polinização por esfin- gídeos (Sphingidae) e outras mariposas (principalmen- te Noctuidae) noturnas. Antese e liberação de odor noturna, cores branca e creme; sem guia de néctar; flores delicadas, hipocrateriformes, com tubos florais estreitos e compridos, sem plataforma de pouso, em forma de pincel; orientação das flores frequentemente horizontal. O néctar é o único recurso presente e encontra-se profundamente escondido, é pouco con- centrado e produzido em grande quantidade; odor muito forte, adocicado até narcótico. Algumas vezes a esfingofilia é inserida junto à falenofilia (Faegri & van der Pijl 1979). 174 ⁞ Síndromes de polinização: especialização e generalização Miofilia: Polinização por moscas. A cor das flo- res varia de castanha, vermelha, amarela, esverdeada, geralmente com manchas coloridas abundantes, com brilho forte, superfície verrucosa; antese sem periodicidade; flor aberta, em forma de disco, fre- quentemente com armadilhas que mantêm moscas temporariamente presas; odor muito forte, desagra- dável e até repugnante, assemelhando-se à material em decomposição; muitas vezes sem recursos florais; néctar, se presente, com acesso livre; flores pouco delicadas, às vezes muito grandes e com apêndices filiformes; frequentemente perto da superfície do solo. A sapromiofilia – associação entre flores que imitam carcaça ou excrementos e moscas relacio- nadas a estes substratos – é um pouco mais bem estudada. Cantarofilia: Polinização por besouros. Flores geralmente com antese noturna ou crepuscular; sem coloração específica, frequentemente verdes ou esbranquiçadas; flores/inflorescências abertas em forma de disco ou formando uma câmara de polinização; flores robustas, grandes; termogênese; flores/inflorescências com produção de odores fortes, volatilização de odores florais no início da antese; tecidos florais utilizados como recurso alimentar pelo visitante; flores/inflorescências, em geral, com protoginia. Ornitofilia: Polinização por aves. Antese diurna; flores com cores conspícuas – vermelho, amarelo, laranja, azul, lilás, branco; geralmente sem guia de néctar; sem odor; néctar em grande quantidade, geralmente profundamente escondido, em baixa concentração; flores frequentemente em forma de tubo, pincel, goela e, às vezes, também flores la- biadas; flores geralmente robustas, mecanicamente fortalecidas; frequentemente com sistema capilar que faz que o néctar flua apenas quando tocado e não escorra da flor. Quiropterofilia: Polinização por morcegos. Antese noturna, geralmente restrita a uma noite; flores com cores pouco conspícuas, esbranquiçadas, avermelhadas, esverdeadas, castanhas e sem guia de néctar; flores ou inflorescências grandes, robus- tas, perianto geralmente carnoso e com abertura ampla; forma campanulada, labiada, em forma de pincel; flores expostas, com livre acesso (caulifloria, flagelifloria, flores elevadas da folhagem); forte odor noturno, lembrando algo fermentado; quantidade muito grande de néctar e pólen; frequentemente, grande quantidade de estames. Além dos grupos definidos pelas síndromes florais, várias outras interações planta-polinizador configuram associações altamente especializadas (Rech & Brito 2012). Entre esses sistemas podem ser citadas a rara polinização de flores usando a água como veículo (hidrofilia), a polinização de flores que fornecem substrato para alimentação de larvas (por exemplo, Ficus, Moraceae e pequenas vespas) (Capítulo 13) ou, ainda, sítios de reprodução e ovipo- sição (Araceae, Aristolochiaceae, Balanophoraceae e diversas espécies de Coleoptera, Lepidopera, Diptera) (Pellmyr & Thien 1986), e a polinização de flores que imitam feromônios de fêmeas e são polinizadas por machos de certas abelhas ou vespas na tentativa de copular com a flor (Schiestl 2005; Mant et al. 2005; Vereecken et al. 2011; 2012). No Brasil já foram descritas algumas associações interdependentes entre plantas e abelhas oligoléti- cas: Cajophora (Loasaceae) e Bicolletes (Colletidae), Eichornia (Pontederiaceae) e Ancyloscelis (Apidae, Emphorini), Cordia (Cordiaceae) e Ceblurgus (Halictidae), Hydrocleys (Alismataceae) e Protodiscelis (Colletiadae) (Schlindwein & Wittmann 1997; Alves- dos-Santos & Wittmann 1999; Milet-Pinheiro & Schlindwein 2008). Nessas associações, as abelhas são os únicos polinizadores efetivos e coletam pólen André Rodrigo Rech ♦ Rubem Samuel de Avila Jr. ♦ Clemens Schlindwein ⁞ 175 de poucas espécies de plantas que polinizam. Estudos recentes com abelhas oligoléticas indicam que pro- priedades químicas do pólen restringem sua utilização a espécies de abelhas fisiologicamente adaptadas em digeri-lo (Praz et al. 2008; Sedivy et al. 2008; 2011; 2013). Essa restrição química imposta por essas plan- tas na digestão dos seus grãos de pólen abre caminho para uma visualização do processo de polinização de forma muito mais ativa. Nesse sentido, os visitantes florais fitófagos teriam suas interações modeladas por princípios similares aos descritos para interações entre plantas e herbívoros. O pólen que atua na polinização é o mesmo do qual as abelhas se alimentam; dessa forma, para se valer do serviço de polinização, essas plantas precisam arcar com a perda de grande quantidade dos grãos que vão para alimentação da cria dos seus polinizadores (Schlindwein et al. 2005), o chamado “dilema do pólen”. As plantas que apresentam restrições digestivas em seus grãos de pólen podem aumentar, via filtra- gem, a especificidade e a constância dos seus visitantes florais, aumentando consecutivamente as chances de se reproduzirem. Em contrapartida, para o visitante a capacidade de digerir pólen com determinadas ca- racterísticas tóxicas pode ter um custo extra ou até ser mutuamente exclusiva, de forma que sistemas es- pécie-específicos podem ser a consequência esperada nesses cenários e, além disso, muito mais comuns do que imaginado previamente (Sedivy et al. 2013). A questão emblemática do conceito de síndromes está na premissa de evolução unidirecional e contínua das relações entre flores e polinizadores. O mecanis- mo evolutivo subjacente às síndromes de polinização foi proposto por Stebbins (1970) e ficou conhecido como “princípio do polinizador mais efetivo”. De acordo com esse princípio a seleção natural deveria filtrar características ecofisiológicas ou estruturais que melhor atraíssem o polinizador mais efetivo.Dessa forma, dado o tempo suficiente, plantas e polinizadores tenderiam a coadaptarem-se, culmi- nando em relações especializadas. No entanto, em muitos sistemas, a morfologia floral não é resultado apenas da interação com o polinizador mais efetivo (Aigner 2004). Na perspectiva do paradigma da especialização, os grupos em interação seguem necessariamente para cenários progressivamente mais especializados, che- gando ao ponto em que se podem prever grupos de polinizadores baseando-se em caracteres florais. Já na primeira abordagem sobre interações entre flores e polinizadores, Sprengel (1793) fez previsões acerca de possíveis polinizadores a partir das características florais (Capítulo 1). Darwin (1862) previu a polini- zação por uma mariposa de língua extremamente longa para a orquídea malgaxe Angraecum sesquipe- dale. A confirmação veio muitos anos depois, com o descobrimento do esfingídeo Xanthopan morganii praedicta Rothschild & Jordan, 1903 cujo epíteto específico faz alusão à previsão de Charles Darwin (Nilsson et al. 1987). No entanto, a partir da década de 1990, o poder preditivo e as premissas evolutivas que sustentam o conceito de síndromes de polinização foram questionados (Waser et al. 1996). Na sequência, o aprimoramento nos estudos com redes de interação entre visitantes florais e plantas em nível de comunidade indicaram o predomínio de relações generalistas entre plantas e visitantes florais (Waser & Ollerton 2006), e a estratégia generalista de polinização emergiu como uma interação estável (Gómez 2002). No entanto, estudos de redes “mutua- listas”, em geral, precisam se basear no simples registro de um visitante floral numa flor em levantamentos padronizados, sem avaliar o papel do visitante como polinizador efetivo, o que facilmente pode levar a uma distorção da importância das diferentes espécies como polinizadores (King et al. 2013). Medir essas 176 ⁞ Síndromes de polinização: especialização e generalização variáveis em situações reais é bastante difícil, por isso a maioria dos estudos com redes de polinização consi- dera as interações binárias e todos os visitantes florais, polinizadores. Essas abordagens, quando feitas de tal forma, estão muito mais próximas de redes tróficas do que de redes realmente mutualísticas (Capítulo 17). Existem várias formas de classificar um sistema de polinização como especialista ou generalista. Um sistema de polinização generalista pode ser baseado na morfologia floral. Flores abertas com recursos facilmente acessíveis poderiam ser tratadas como generalistas; essa seria a definição de especialização fenotípica de Ollerton et al. (2007). Por outro lado, o número efetivo de interações entre uma espécie de planta e seus polinizadores pode ser considerado determinante do grau de generalização da interação, generalização ecológica para Ollerton et al. (2007). Por último, os mesmos autores definem “generali- zação/especialização funcional” como o número de espécies não relacionadas filogeneticamente, porém similares na morfologia e comportamento, com o qual uma espécie de planta interage. Nesse sentido, uma espécie com alto grau de generalização ecológica pode ser um especialista funcional caso os visitantes sejam equivalentes e exerçam uma pressão seletiva coletiva similar. Poucos estudos até o momento tentaram definir o poder preditivo das síndromes de polinização a partir de dados de comunidades completas (Ollerton et al. 2009; Johnson 2013). De maneira geral, parece haver alguns atributos facilmente associáveis a grupos de polinizadores, os quais, no entanto, não apresentam aplicação universal. Flores polinizadas por moscas e abelhas foram os grupos mais facilmente previsíveis pela análise de Ollerton et al. (2009), enquanto foram pouco distinguíveis na análise de Johnson (2013). Vale ressaltar que ambos os autores usaram conjuntos de dados e ferramentas de análise diferentes. Um aspecto importante para a qualificação de um visitante floral como polinizador efetivo é sua frequência de visitação a determinada espécie de planta em flor (Herrera 1989; Ne’eman et al. 2010). Como é fácil de ser medida, infelizmente é muitas vezes tomada como sinônimo da efetividade de um polinizador. Mesmo redes de interação quantitativas não se tornam mais realistas quando consideram ape- nas frequência sem considerar efetividade. Abelhas- sem-ferrão e Apis mellifera muitas vezes são visitantes florais altamente frequentes devido ao recrutamento das operárias até fontes de recursos florais atrativos (Rech et al. 2011). Em árvores com floração maciça, todas. ou a maioria, as visitas dessas abelhas resul- tam em fluxo polínico geitonogâmico, por isso não podem ser consideradas polinizadores efetivos nesses casos, podendo até atuar como antagonistas, reduzin- do o recurso utilizado também pelos polinizadores (Ollerton et al. 1999). Quando a espécie de planta é autoincompatível, esse indicador de efetividade pode ficar ainda mais prejudicado. Outra razão que demanda o uso da frequência associada com a qualidade da visita é que o pólen de outros indivíduos coespecíficos (pólen xenogâmi- co) transportado na superfície de um visitante floral pode ser perdido rapidamente em poucas visitas na copa da mesma árvore. Assim, em Hancornia speciosa (Apocynaceae, mangaba), que é autoincompatível (Darrault & Schlindwein 2005), somente as primeiras três visitas florais resultam na formação de frutos (Pinto et al. 2008). Além disso, o pólen já depositado na su- perfície estigmática de Inga (Fabaceae-Mimosoideae) em experimento de suplementação polínica foi parcial- mente removido por um excessivo número de visitas por flor (Avila et al. não publicado). As visitas repetidas também podem obstruir a superfície estigmática e impedir que pólen proveniente de polinização cruzada possa germinar (Lloyd & Webb 1986).
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