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QUADRO VI O contexto do século XIX Prof. Euclides Guimarães 2 Contexto histórico I: As revoluções burguesas � Na virada do século XVIII para o XIX a Europa passa por mudanças radicais: as revoluções burguesas. � Em nome da esperança, da liberdade, da fraternidade e da igualdade, da necessidade da derrocada das velhas instituições medievais e do nascimento e consolidação das novas instituições, a modernidade brota através das revoluções � Mas quando levado à prática, o projeto iluminista/liberal de civilização mostrou-se muito diferente do que era na pureza da teoria; as utopias estão na iminência de se tornar distopias. � O liberalismo e o iluminismo são a fonte de toda a retórica e dão base para que se estruturem as novas instituições como: o Estado de Direito, o nascimento da fábrica e da extensão de sua estrutura à administração urbana, à escola pública, às vilas operárias e à clínica � Em conseqüência da revolução industrial surge um ambiente completamente novo e inusitado, a metrópole. 3 Contexto histórico I: Metrópoles � Na primeira metade do século XIX as metrópoles européias experimentam os primeiros efeitos da revolução industrial: cidades ultrapassam a marca de um milhão de habitantes. � Falta infra-estrutura para esse boom populacional. � A ausência de saneamento básico, redes de água e esgoto, serviços como coleta de lixo e a aglomeração de pessoas em vielas e prédios medievais gera um quadro de miséria e epidemias para os novos moradores, em sua maior parte migrados do campo para os imensos cortiços que eram as vilas operárias � A produção industrial recruta milhões de pessoas, que rápido começam a perceber as precárias condições que se lhes ofertam. 4 Contexto histórico I: Metrópoles � Além do saneamento, dos problemas relativos ao transporte e deslocamento, da questão da precariedade das moradias, ocorre um aumento considerável da promiscuidade e da prostituição, o que desencadeará epidemias como a sífilis. � Conflitos entre trabalhadores insatisfeitos e polícia, associados aos novos arranjos do crime, organizado ou não, fazem brotar astronômicos índices de criminalidade. � Mas a cidade começa a mudar com o planejamento urbano e os novos monumentos da modernidade (o prédio, a estação ferroviária, o grande teatro, a galeria, os grandes mercados de secos e molhados, os pavilhões da indústria e o subúrbio) � O mundo moderno oscila entre o horroroso e o maravilhoso, marca indelével do novo tempo: tempo de extremos 5 Contexto histórico II: Bohemia � O novo ambiente urbano povoa-se por um novo modus vivendi, a sociedade dos indivíduos, do cosmopolitismo, da cena romântica. � O indivíduo se vê solitário na multidão, abandonado à própria sorte, tangido pelos novos hábitos insalubres (alcoolismo, promiscuidade) e pelos atrativos da sociedade de consumo. � Nasce o cosmopolitismo moderno, o indivíduo que se informa sobre o mundo e não se importa com o vizinho. O jornal se torna o veículo da informação por excelência, dando margem à cultura folhetinesca. 6 Contexto histórico II: Bohemia � O folhetim é o caderno jornalístico precursor da revista, onde se anunciam os espetáculos e onde se publicam em fascículos, as novelas. Personagens de ficção começam a substituir as pessoas reais nas preocupações e compaixões das pessoas. � O boêmio solitário flana por um mundo novo, da fugacidade, da solidão, das imagens que se fundem ao real, como um cidadão do mundo, expatriado e despido das relações tradicionais da família, da guilda, ou da comunidade da pequena cidade. 7 Contexto teórico II: Instituições culturais � As academias, criadas e consolidadas pelos reis absolutistas, terão seu apogeu no espírito cívico e cientificista do séc. XIX � Consolidam-se os novos espaços para as ciências e as artes, como os museus e os teatros, os pavilhões para as feiras de ciências, as livrarias, os campus universitários, e os cafés. � A efervescência da cena urbana dá margem ao surgimento de grandes debates, ferrenhas polêmicas, atitudes rebeldes e inconformistas e à moda � Moda e moderno são palavras irmãs, têm o mesmo radical mod, que significa culto ao novo, tolerância e adaptação ao exótico, apreço ao não convencional, ao criativo, ao original. � Assim como o vestuário, o pensamento também se sujeita a modismos. Resumiremos nas próximas páginas o que consideramos ser os principais modismos do pensamento do século XIX. 8 Contexto teórico II: Cientificismo � O racionalismo e o humanismo herdado dos gregos, dos renascentistas e dos iluministas, encontra seu auge na crença da salvação pela ciência, pela tecnologia e pela engenhosidade humana. � Crê-se que os novos problemas suscitados pelo advento da metrópole industrial só poderão ser solucionados por novas ciências capazes de diagnosticar e encontrar receitas adequadas para sua solução � Não basta pensar, é preciso agir: a herança do empirismo de Bacon e Locke torna-se uma obstinação. Com o auxílio da ciência o homem pode se tornar senhor do próprio destino, mudando o mundo e a sociedade através do uso de métodos preconcebidos. 9 Contexto teórico II: Cientificismo � A grande maioria das ciências como as denominamos hoje, nasce e se consolida no século XIX, mediante as demandas do novo tempo: a medicina moderna dita alopática, a sociologia, o urbanismo, a psicologia, a antropologia, a bioquímica, a biologia e a semiologia são alguns exemplos. � O mundo se desencanta e a lógica, que tudo traduz como quantidades de recursos, que tudo reduz à frieza dos cálculos numéricos, das relações custo/benefício e da aplicabilidade prática dão o tom da modernidade que, nesse momento, apenas engatinha. É o limiar da idade da tecnologia. 10 Contexto teórico III: Evolucionismo � Consolidado pelos contundentes trabalhos de Darwin no campo da biologia, o evolucionismo só se afirma como paradigma na segunda metade do século XIX, mas como parte integrante da mentalidade do homem moderno já vem de antes. � O primeiro aspecto do espírito evolucionista é anterior à sistematização de Darwin e pode ser descrito também como culto ao progresso: acredita-se que a história só se move para frente, como se cada nova geração necessariamente melhorasse o mundo deixado pela geração anterior. É um otimismo em face do futuro que construímos para nossos filhos. � O segundo aspecto, muito mais frutífero para as ciências infantes, é a idéia darwiniana de complexidade: tal conceito oferece um critério para dimensionar os entes do mundo, especialmente os viventes, que variam desde a simplicidade de um mecanismo até a complexidade de um organismo. 11 Contexto teórico III: Evolucionismo � Um ente é complexo quando tem muitas partes diferentes, cada uma realizando sua função e a soma dessas funções garante a manutenção (sobrevivência) de um todo, um organismo. Algo como o corpo e o metabolismo humanos, como uma orquestra, ou como uma sociedade moderna. � A possibilidade de usar uma metáfora orgânica (ver a sociedade como um organismo) para se pensar a sociedade e de associar a complexidade com a modernidade, foi uma das bases mais fortes para a teoria social no século XIX, especialmente no positivismo, doutrina que abordaremos no próximo quadro. 12 Contexto teórico IV: Romantismo � Embora muitas vezes desprezado pelos estudiosos da ciência, circunscrito ao campo das artes e dos costumes, o romantismo teve grandes repercussões na ciência do século XIX. � O romantismo é fruto da cena boêmia do século XIX, da assimilação da carga dos novos problemas, da solidão do indivíduo que flana (passeia) pela cidade, se informa pelos jornais, folhetins e livros (editadosindustrialmente) e freqüenta teatros, feiras de ciências e cafés. � O indivíduo abandonado à sua sorte postula um novo modo de olhar as coisas: pela ótica da subjetividade. A obra de arte, por exemplo, passa a ser vista e produzida como produto da experiência subjetiva de seu autor. 13 Contexto teórico IV: Romantismo � Sem que a razão perdesse sua crescente importância, a sensibilidade passou a ser tematizada, ganhando um lugar especial nas obras românticas: sentimentos intensos como grandes sofrimentos, paixões arrebatadoras, ódio, vingança e crime são a tônica da arte romântica � Nas ciências sociais, o reflexo é um humanismo levado ao extremo: “o homem é bom porque é racional e é bom também por ser emotivo, por vezes, tempestivo”. 14 As ciências sociais no século XIX � Sob influência do que estava na moda (cientificismo, evolucionismo, romantismo), nascem as duas mais importantes vertentes das ciências sociais do século XIX: o Positivismo e o Socialismo. � Produtos da mesma cena e da mesma época, Positivismo e Socialismo têm ainda em comum serem ferinos críticos do Liberalismo, a quem atribuem a maior responsabilidade pelas mazelas do mundo moderno. � Mas as semelhanças param por aí: mesmo nascendo na mesma Paris dos anos de 1840, deixemos registrado que o Positivismo nasceu na academia, dentro dos muros da universidade, enquanto o Socialismo nasceu na rua. � Só no início do século XX, quando o socialismo foi levado para a academia, tem início um dos maiores debates daquele século nascente. Antes socialistas e positivistas só se entreolhavam de soslaio e, afinal, tinham um inimigo comum: os liberais.
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