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INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA Glêzia Renata da Silva Lacerda Graduada em Biomedicina / ASCES Mestre em Biotecnologia Industrial/ UFPE Doutora em Ciências Biológicas/ UFPE O que é Parasitologia? “É o estudo dos organismos que vivem em íntima e estreita dependência de outros seres e que, quando tenham o homem como hospedeiro, podem causar doenças”; “Associações entre indivíduos de espécies diferentes, onde existe unilateralidade de benefícios, ou seja, o hospedeiro é espoliado pelo parasita pois fornece alimento e abrigo para este”; “É a ciência que tem por fim o estudo da morfologia e da biologia dos parasitos como fundamento para o conhecimento da patologia, do diagnóstico, da terapêutica, da epidemiologia e da profilaxia das doenças parasitárias”. O que é Parasitologia? É uma ciência que estuda os organismos que vivem no interior ou exterior de outro hospedeiro, obtendo alimento às custas de seu hospedeiro, consumindo- lhe os tecidos e líquidos ou o conteúdo intestinal; Porém, o parasito não pode lesar drasticamente o hospedeiro porque, assim, este poderia perder seu hospedeiro; Esta convivência nem sempre é nociva ao hospedeiro, pois o parasitismo ideal é aquele que não causa dano ao hospedeiro e, por conseguinte, não provoca doença. Importância do Estudo de Parasitologia Apesar do grande avanço tecnológico, do alto padrão educacional, da boa nutrição e de boas condições sanitárias, mesmo os países desenvolvidos estão sujeitos a doenças parasitárias; O estudo da parasitologia é fundamental, pois, as doenças parasitárias são frequentes na população mundial; A parasitologia humana recebeu uma maior importância após a globalização, pois o mundo se tornou “menor” devido à rápida movimentação de pessoas e de imigrantes de áreas endêmicas. Importância do Estudo de Parasitologia DOENÇAS FREQUENTES NA POPULAÇÃO MUNDIAL 980 milhões de pessoas estão parasitadas pelo Ascaris lumbricoides 200 milhões pelo Schistosoma mansoni 116 milhões pelo Trypanosoma cruzi NO BRASIL - PARASITOSES INTESTINAIS: Crianças parasitadas: 55,3% Crianças poliparasitadas: 51% Importância do Estudo de Parasitologia Pode levar à morte súbita ou incapacitar para o trabalho; Quando associada à má nutrição, desencadeia deficiência no aprendizado, deficiência no desenvolvimento físico e incapacidade para o trabalho. Origem do Parasitismo Todas as espécies dos mais diferentes reinos interagem simultaneamente, com a finalidade de manutenção da vida, através da obtenção de alimentos e/ou proteção; Para ocorrer esta interdependência, duas ou mais espécies se associam e promovem modificações adaptativas de origem morfológica, fisiológica e reprodutiva. Tipos de relação entre os seres vivos Podemos classificar as relações entre os seres vivos em dois grupos principais: Intraespecíficas seres da mesma espécie Interespecíficas seres de espécies distintas HARMÔNICAS OU POSITIVAS: Quando há benefício mútuo ou ausência de prejuízo mútuo DESARMÔNICAS OU NEGATIVAS: Quando há prejuízo para algum dos participantes Formas de simbiose FORÉSIA Associação entre duas espécies diferentes em que uma delas busca apenas abrigo e/ou transporte. Exemplo: Veiculação de ovos de Dermatobia hominis através de moscas ou mosquitos. Simbiose é qualquer associação que envolva espécies diferentes. Portanto, toda simbiose é uma relação interespecífica. Formas de simbiose MUTUALISMO Espécies diferentes vivem em íntima associação e ambas são beneficiadas. Exemplo: associação de protozoários e de bactérias no rúmen de bovinos o ruminante fornece fatores alimentares e proteção para os protozoários e bactérias, enquanto que estes possuem enzimas capazes de digerir a celulose ingerida pelo bovino. Formas de simbiose COMENSALISMO Associação entre duas espécies diferentes em que uma obtém vantagens sem promover prejuízos à outra. Exemplo: A Entamoeba coli é um protozoário comensal que vive no intestino humano, onde se nutre dos restos da digestão. Cistos de E. coli Formas de simbiose PARASITISMO Relação desarmônica que caracteriza a espécie que se instala no corpo de outra, dela retirando matéria para a sua nutrição e causando-lhe, em consequência, danos cuja gravidade pode ser muito variável, desde pequenos distúrbios até a própria morte do indivíduo parasitado. Exemplo: A Entamoeba histolytica causa uma infecção conhecida como amebíase. Cistos de E. histolytica Parasitismo Parasitismo sem manifestações clínicas ou assintomático Parasitismo com manifestações clínicas ou sintomático, revelando DOENÇA PARASITÁRIA. LUTA PARASITO-HOSPEDEIRO Mecanismo de agressão do parasito (Ap) Meios de defesa do hospedeiro (Dh) Ap > Dh doente Ap < Dh morte do agressor Ap = Dh portador são Parasitismo Para que ocorra associação parasitárias são necessários: FATORES INERENTES AO PARASITO: Número de exemplares que atingiram o hospedeiro; Capacidade de multiplicação dos parasitos no hospedeiro; Virulência da cepa do parasito; Localização no organismo do hospedeiro; Dimensões do parasito. Parasitismo Para que ocorra associação parasitárias são necessários: FATORES INERENTES AO HOSPEDEIRO: Idade; Estado nutricional; Tipo de resposta imune desenvolvida; Doenças intercorrentes; Medicamentos utilizados; Tensão emocional; Costumes. Classificação dos parasitos QUANTO AO NÚMERO DE HOSPEDEIROS: monoxenos/monogenéticos e heteroxenos/digenéticos QUANTO À LOCALIZAÇÃO NOS HOSPEDEIROS: ectoparasitas ou endoparasitas QUANTO AO NÚMERO DE CÉLULAS: unicelulares ou pluricelulares Classificação dos parasitos MONOXENOS OU MONOGENÉTICOS: são os parasitas que realizam o seu ciclo evolutivo em um único hospedeiro. Exemplo: Ascaris lumbricoides. Classificação dos parasitos HETEROXENOS OU DIGENÉTICOS: são os parasitas que só completam o seu ciclo evolutivo passando pelo menos em dois hospedeiros. Exemplo: Schistossoma mansoni. Classificação dos parasitos ECTOPARASITOS: vivem externamente no corpo do hospedeiro. Exemplo: pulgas, piolhos, carrapatos. ENDOPARASITOS: vivem internamente no corpo do hospedeiro. Exemplo: bactérias, vírus, helmintos, protozoários. HEMOPARASITO: vivem na corrente sanguínea. Exemplo: Plasmodium falciparum (malária). ENTEROPARASITO: vivem no intestino. Exemplo: Ascaris lumbricoides. Classificação dos parasitos UNICELULARES: possuem uma única célula que apresenta o núcleo organizado, ou seja, está separado do citoplasma pela membrana nuclear. São, portanto, organismos eucariontes. Exemplo: protozoários. PLURICELULARES: são organismos formados por conjuntos de células semelhantes e interdependentes, que desempenham uma ou mais funções. São, portanto, organismos eucariontes. Exemplo: helmintos. Tipos de adaptações A adaptação mostra a evolução do parasito para melhorar seu relacionamento com o hospedeiro e, esta evolução tornou o parasito mais dependente de seu hospedeiro. ADAPTAÇÕES MORFOLÓGICAS Degenerações; Hipertrofia. ADAPTAÇÕES BIOLÓGICAS Capacidade reprodutiva; Tipos de reprodução; Capacidade de resistência à agressão do hospedeiro; Tropismos. Adaptação Morfológica: Degenerações Ocorre perda ou atrofiade órgãos locomotores, aparelho digestivo, etc. Taenia sp. não apresenta sistema digestivo. A absorção é realizada pelo tegumento, através de difusão Adaptação Morfológica: Hipertrofia Ocorre o aumento de estruturas, tais como: órgãos de fixação (ventosas, lábios, acúleos), órgãos de reprodução (ovários, útero e testículos), órgãos de resistência ou proteção (estruturas alimentares de insetos hematófagos). Proglotes de Taenia sp. Inseto hematófago Adaptação Biológica: Capacidade reprodutiva Ocorre a produção de grandes quantidades de ovos, cistos ou outras formas infectantes, com a finalidade de escapar de predadores e perpetuar a espécie. Proglotes grávidas de Taenia solium 80 mil ovos Proglotes grávidas de Taenia saginata 160 mil ovos Cada cápsula ovígera possui um ou mais ovos Adaptação Biológica: Tipos de reprodução Hermafroditismo, partenogênese (desenvolvimento do embrião a partir de um óvulo sem haver fecundação), poliembrionia (reprodução de formas jovens), esquizogonia (núcleo sofre mitose e o citoplasma se divide gerando vários parasitas), etc. Taenia sp. Hermafroditismo Partenogênese Só fêmeas podem ser parasitas, os machos vivem sempre livres no solo, alimentando-se de detritos orgânicos por toda a vida. Strongyloides stercoralis Plasmodium sp. Esquizogonia Adaptação Biológica: Capacidade de resistência à agressão do hospedeiro Presença de enzimas que neutralizam a ação dos sucos digestivos sobre os helmintos; Capacidade de resistir a ação de anticorpos ou de macrófagos; Capacidade de induzir à imunossupressão. Adaptação Biológica: Tropismos Tem a finalidade de facilitar a propagação, reprodução ou sobrevivência; É a capacidade de se movimentar devido a estímulos ambientais, tais como: Luz (Fototropismo); Gravidade (Gravitropismo/Geotropismo); Mecânico (Tigmotropismo); Água (Hidrotropismo); Substâncias químicas (Quimiotropismo). Ações do parasito sobre o hospedeiro Nem sempre a presença de um parasito em um hospedeiro indica que está havendo ação patogênica do mesmo; Em geral, os distúrbios que ocorrem são pequenos, pois há uma tendência de haver um equilíbrio entre a ação do parasito e a capacidade de resistência do hospedeiro. Ações do parasito sobre o hospedeiro AÇÃO MECÂNICA A presença do parasito em determinado órgão gera uma ação obstrutiva ou destrutiva, impedindo, por exemplo o fluxo de alimento, de bile ou a absorção alimentar. Ações do parasito sobre o hospedeiro AÇÃO ESPOLIATIVA Quando o parasito absorve nutrientes ou mesmo sangue do hospedeiro, podem deixar pontos hemorrágicos na mucosa quando abandonam o local de sucção. AÇÃO TRAUMÁTICA É provocada, geralmente, pela migração de formas larvais de helmintos, embora vermes adultos e protozoários também possam fazê-lo. Ações do parasito sobre o hospedeiro AÇÃO TÓXICA Acontece quando algumas espécies produzem enzimas ou metabólicos que são tóxicas para o hospedeiro. AÇÃO IMUNOGENÉTICA Partículas (antígenos) dos parasitos sensibilizam tecidos do hospedeiro, aumentando a resposta imunológica, o que agrava a parasitose. AÇÃO IRRITATIVA A presença constante do parasito não provoca lesões traumáticas, mas irrita o local parasitado, causando fenômenos alérgicos. Ações do parasito sobre o hospedeiro AÇÃO INFLAMATÓRIA O parasito ou produtos do seu metabolismo estimulam a migração de células inflamatórias para o local da infecção. ANÓXIA Quando ocorre grande consumo de oxigênio pelas hemácias, podendo desencadear em uma anóxia generalizada. Tipos de Hospedeiros Dependendo das necessidades individuais de cada parasito, ele é capaz de utilizar apenas determinada espécie de hospedeiro ou um grupo de diferentes espécies, dando origem aos dois tipos de hospedeiros: HOSPEDEIRO DEFINITIVO: Abriga o parasito em sua forma adulta (maturidade) ou forma reprodutiva final (atividade sexual). HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO: Geralmente, são moluscos ou artrópodes que desenvolvem as fases jovens ou assexuadas de um parasito. Tipos de Hospedeiros Shistosoma mansoni Hospedeiro definitivo: homem Hospedeiro intermediário: caramujo Plasmodium falciparum Hospedeiro definitivo: fêmea do mosquito Hospedeiro intermediário: homem Tipos de Ciclo Biológico Ciclo biológico ou ciclo vital corresponde às diversas fases e etapas que um parasito passa durante sua vida. CICLO MONOXÊNICO: Também chamado de ciclo direto; Há a participação de apenas um hospedeiro, o definitivo. CICLO HETEROXÊNICO: Conhecido como ciclo indireto; Ocorre a participação de mais de um hospedeiro, o definitivo e o intermediário. Tipos de Ciclo Biológico Ciclo monoxênico Ciclo heteroxênico Ciclo de vida da E. histolytica Tipos de Vetor Vetor é um artrópode, molusco ou qualquer outro veículo que seja capaz de transmitir o parasito entre dois hospedeiros. VETOR BIOLÓGICO: O parasito se reproduz ou se desenvolve no molusco ou no artrópode. VETOR MECÂNICO: O parasito não se reproduz nem se desenvolve no vetor, apenas ocorre o transporte. VETOR INANIMADO OU FÔMITE: O parasito é transportado por objetos (seringa, copo, talher, espéculo, etc.) Formas de transmissão dos parasitos O parasito é capaz de se reproduzir disseminando seus ovos, e estes, costumam infectar outros hospedeiros, dos quais eles retirarão seus meios de sobrevivência através do parasitismo; Eles podem ser transmitidos entre os seres humanos através de: Contato pessoal ou uso de objetos pessoais; Água, alimentos, mãos sem a devida higienização; Solo contaminado por larvas; Vetores ou hospedeiros intermediários. Classificação dos Seres Vivos Sistema binominal – Linnaeus (1978) A designação científica é regulada por regras de nomenclatura promulgadas em congressos e denominadas Regras Internacionais de Nomenclatura Zoológica. Nomenclatura das espécies: Latina e binominal, ou seja designada por duas palavras: 1ª representa o gênero (primeira letra maiúscula) e a 2ª representa a espécie (letra minúscula). Devem ser sempre grifadas ou escritas em itálico. Exemplos: Giardia lamblia Entamoeba histolytica Epidemiologia É a ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades, bem como seus determinantes (fatores de risco) na população; Tem como objetivo a promoção da saúde através da prevenção de doenças. Por que algumas pessoas adoecem e outras não? Por que algumas doenças ocorrem apenas em algumas áreas geográficas? Por que a ocorrência de algumas doenças varia com o tempo? NÃO OCORREM AO ACASO, MAS EXISTEM FATORES DE RISCO QUE DETERMINAM SUA DISTRIBUIÇÃO Medidas Preventivas Prevenção Primária Age na fase pré-patogênica, quando o indivíduo está saudável; Procura impedir que o indivíduo adoeça, controlando os fatores de risco: Moradia adequada Saneamento ambiental Tratamento de água, esgoto e coleta de lixo Educação Alimentação adequada Áreas de lazer Imunização, equipamento de segurança, uso de camisinha, proteção contra acidentes Controle de vetores Medidas Preventivas Prevenção Secundária Age na fase subclínica e clínica; Compreende as medidas aplicáveis aos indivíduos que se encontram sob a ação do agente patogênico; Busca impedir que a doença se desenvolva para estágiosmais graves, que deixem sequelas ou provoquem morte; Envolve duas medidas: Diagnóstico Tratamento precoce Medidas Preventivas Prevenção Terciária Consiste na prevenção da incapacidade através de medidas destinadas à reabilitação aplicadas na fase em que esteja ocorrendo ou que já tenha ocorrido a doença; Inclui: Reabilitação (impedir a incapacidade total); Fisioterapia; Terapia ocupacional; Cirurgias de reparo; Colocação de próteses. Exemplo: implante de marca-passo em pacientes com doença de Chagas
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