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* * A AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS INTERNACIONAIS UMA ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRAS SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL * * CONTRATO INTERNACIONAL CONCEITO Contrato internacional é o acordo estabelecido entre duas ou mais partes que é regulado por mais de um ordenamento jurídico. * * CONTRATO INTERNACIONAL Elementos de estraneidade ao ordenamento jurídico pátrio: No tocante ao domicílio, aplicar-se-á o que vem regido pelo art. 7° da LICC, que aduz que as regras da personalidade, capacidade, nome e direitos de família são por ele determinadas; lei do lugar da celebração do contrato, art.9° caput; lei do lugar do cumprimento da obrigação, art. 9° § 1°; bens imóveis, local da coisa, art. 8°. T * * A AUTONOMIA DA VONTADE NA DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL A autonomia da vontade enquanto fundamento A autonomia da vontade enquanto fundamento A autonomia da vontade enquanto fundamento O princípio da autonomia da vontade no Direito Internacional Privado As Convenções de Haia foram as primeiras convenções a expressar a autonomia da vontade. Convenção de Haia de 1955 sobre a Lei Aplicável às Vendas de Caráter Internacional de Objetos Movéis Corpóreos Artigo 2, parágrafo 1: “a venda é regida pela lei interna do país designado pelas partes contratantes” (HAIA, 1955). Essa convenção foi, em 1986, atualizada pela Convenção de Haia sobre a Lei Aplicável aos contratos de venda internacional de mercadorias, Artigo 7: a lei aplicável ao contrato seria aquela escolhida pelas partes de forma expressa e inequívoca no contrato (HAIA, 1986). * * A AUTONOMIA DA VONTADE NA DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL A autonomia da vontade enquanto fundamento A autonomia da vontade enquanto fundamento Convenção de Viena sobre Compra e Venda Internacional de Mercadorias (1980) Convenção de Roma sobre Lei Aplicável as Obrigações Contratuais (1980) - União Européia * * A AUTONOMIA DA VONTADE NA DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL A autonomia da vontade enquanto fundamento A autonomia da vontade enquanto fundamento Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos Contratos Internacionais (Cidade do México) - 1994 Artigo 7. O contrato rege-se pelo direito escolhido pelas partes. O acordo das partes sobre esta escolha deve ser expresso ou, em caso de inexistência de acordo expresso, depreender-se de forma evidente da conduta das partes e das cláusulas contratuais, consideradas em seu conjunto. Essa escolha poderá referir-se à totalidade do contrato ou a uma parte do mesmo. A eleição de determinado foro pelas partes não implica necessariamente a escolha do direito aplicável. Artigo 8. As partes poderão, a qualquer momento, acordar que o contrato seja total ou parcialmente submetido a um direito distinto daquele pelo qual se regia anteriormente, tenha este sido ou não escolhido pelas partes. Não obstante, tal modificação não afetará a validade formal do contrato original nem os direitos de terceiros (MÉXICO, 1994). * * A AUTONOMIA DA VONTADE NA DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL A autonomia da vontade enquanto fundamento A autonomia da vontade enquanto fundamento A aplicação da autonomia da vontade em julgados internacionais O caso American Trading Company (Corte de Cassação francesa) O julgado do caso American Trading Company exerceu grande influência na Europa, fazendo com que outros países se posicionassem da mesma maneira. Tal orientação culminou com a Convenção de Roma sobre Lei Aplicável as Obrigações Contratuais, de 1980, que consagrou o princípio da autonomia da vontade, uniformizando a matéria no âmbito da União Européia * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL Art. 9° da LICC de 1942 Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL Eliminação da expressão: “salvo estipulação em contrário” PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE? É possível que as partes escolham livremente o direito a ser aplicável ao contrato? Regra: Lex loci contractus * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL Exemplo: A Brasileiro B Inglaterra COMPRA E VENDA O contrato entre A e B é internacional? Sim -> transporte ou trânsito de valores, bens, mercadorias ou serviços através de fronteiras Qual o direito aplicável para reger as obrigações e os aspectos a elas relacionadas (pagamento, tradição, quitação, etc): direito brasileiro ou direito inglês? As partes poderão escolher ? Art. 9° da LICC (interpretação literal): Lei do local da celebração do contrato (lex loci contractus) – elemento de conexão * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL Conseqüências da alteração da LINDB - discussão doutrinária e jurisprudencial: O Direito Internacional Privado brasileiro consagra o princípio da autonomia da vontade? As partes podem eleger a lei aplicável ao contrato internacional? * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL 2 correntes doutrinárias Não há autonomia da vontade no DIP brasileiro: a LINDB designa expressamente da lei aplicável ao contrato, não podendo as partes escolher essa lei - Maria Helena Diniz, Amílcar de Castro e Nádia de Araújo - Literalidade do art. 9 da LICC Há autonomia da vontade no DIP brasileiro, limitada pela noção de ordem pública - Haroldo Valladão e Jacob Dollinger * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL 1 A autonomia da vontade no DIP brasileiro Contexto histórico-político da promulgação da LINDB de 1942 Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos Contratos Internacionais (CIDIP V, Cidade do México, 1994) Artigo 11: consagração expressa do princípio da autonomia da vontade A lei de arbitragem (Lei n° 9.307/96): positivação da autonomia da vontade Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes. § 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL A autonomia da vontade no contexto interamericano Tratado de Montevidéu de 1889/1940 (Tratado de Direito Civil) Vigente apenas na Argentina, Uruguai e Paraguai Seguiu a teoria da Sede/ de Savigny: a lei que rege o contrato é a lei do local da execução (lex loci executionis) Código de Bustamante (Convenção de Havana) – 1928 art.186: a lei aplicável aos contratos internacionais é a lei comum às partes e, na sua falta, a lei do lugar onde o contrato foi celebrado. Ordenamentos jurídicos da Argentina, Uruguai e Paraguai: lex loci executionis Ordenamento jurídico do Brasil: lex loci celebrationis * * A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DETERMINAÇÃO DA LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL A autonomia da vontade no contexto interamericano Como se pode perceber, a legislação dos países do MERCOSUL e as normativas do bloco não reconhecem expressamente a autonomia da vontade -> contramão da tendência mundial Avanços em direção à consagração da autonomia da vontade: Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos Contratos Internacionais (CIDIP V) - OEA Art. 7: eleição da lei pelas partes Em vigor apenas para México e Venezuela Acordo sobre Arbitragem Comercial Internacional do Mercosul (1998) Artigo 10 As partes poderão eleger o direito que se aplicará para solucionar a controvérsia com base no direito internacional privado e seus princípios, assim como no direito de comércio internacional. Se as partes nada dispuserem sobre esta matéria, os árbitros decidirão conforme as mesmas fontes. * * A POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA Tribunal de Justiça do Paraná: Apelação Cível nº 0299773-5. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CHEQUE. DÍVIDA DE JOGO CONTRAÍDA NO EXTERIOR. URUGUAI. PAÍS NO QUAL A PRÁTICA DE CASSINO É LÍCITA. PREVALÊNCIA DA REGRA LOCUS REGIT ACTUM. INTELIGÊNCIA DO ART. 9º DA LICC. INAPLICABILIDADE DO ART. 814 DO CC E DO ART. 17 DA LICC. DÍVIDA LEGAL E NÃO MORAL. VEDAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. TÍTULO EXIGÍVEL. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO CÍVEL PROVIDA. Exemplo de aplicação da regra lex loci celebrationis (art. 9º da LICC) * * A POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA Novas tendências na jurisprudência brasileira em direção ao reconhecimento da autonomia da vontade 1° TACivSP, AgIn 1.247.070-7, 12ª Câmara, relator Artur César Beretta da Silveira. 18 de dezembro de 2003. EMENTA: Legislação estrangeira – Discussão sobre qual legislação deve ser aplicada no caso concreto, a estrangeira, objeto de eleição pelas partes, ou a brasileira – Contrato celebrado no estrangeiro com cláusula expressa de aplicação da legislação estrangeira – Validade – Por força de imposição da norma de direito internacional privado, é possível que seja aplicada uma lei estrangeira no Brasil, num dado caso concreto, e caberá ao órgão judicante averiguar se sua aplicabilidade não ofenderá os princípios de nossa organização política, jurídica e social, ou seja, a soberania nacional, a ordem pública ou os bons costumes (...) De acordo com o princípio da autonomia da vontade, que preside a elaboração dos contratos, podem as partes eleger o foro de sua conveniência e escolher as leis que devem reger seus contratos. [...] * * A POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA Novas tendências na jurisprudência brasileira em direção ao reconhecimento da autonomia da vontade “(...) No caso, as partes desavindas contrataram, expressamente, na cláusula 14, que o contrato seria regido e interpretado de acordo com as leis do Reino Unido, e cada uma das partes naquele ato se submete circunscrição judicial de tais tribunais. É inegável que nosso direito manteve a autonomia da vontade no campo da lei aplicável às obrigações contratuais. Sustenta tal posição Haroldo Valladão e também o professor Irineu Strenger. Tem-se, portanto, que no Brasil é admitida a escolha da lei aplicável nos contratos internacionais, e como as partes no presente caso escolheram expressamente a lei do Reino Unido, esta escolha é válida e eficaz”. * * A POSIÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA Novas tendências na jurisprudência brasileira em direção ao reconhecimento da autonomia da vontade 2° Tribunal de Alçada Civil, AgIn 620.546-00/1, 1ª Câmara, relator Diogo de Salles. 13 de março de 2000. “em princípio, entendo, nos termos do artigo 9° da Lei de Introdução ao Código Civil, que a lei que deveria disciplinar o arrendamento mercantil seria a inglesa, pois a obrigação foi constituída na Inglaterra (fls. 59 e 107). Todavia, como a autora da ação, sem objeção da ré, reportou-se ao Código Civil e ao de Processo Civil brasileiros, a lei brasileira é que norteará a questão”. * * CONCLUSÕES Conclusão geral: o princípio da autonomia da vontade deve ser aplicado no Brasil, com a limitação da ordem pública Consagrar o princípio da autonomia da vontade na determinação da lei aplicável ao contrato internacional, na verdade, é uma questão de interpretação da norma jurídica A norma jurídica é resultado da interpretação do seu texto legal. O texto do art. 9° deve ser interpretado de acordo com princípios e garantias consagrados. Mesmo sem a alusão expressa ao princípio, no texto da LICC, a autonomia da vontade está presente no ordenamento jurídico brasileiro – é princípio geral de direito civil e expressão da liberdade individual (fundamento constitucional – art. 5°, II) O texto do art. 9° da LICC não pode ser interpretado isoladamente: deve-se levar em conta, além dos princípios, o ordenamento jurídico como um todo coerente e uniforme. Assim, outras normas do Direito brasileiro indicam a consagração da autonomia da vontade no âmbito do Direito Internacional (ex.: lei de arbitragem). * * CONCLUSÕES No MERCOSUL - não há uma norma especifica sobre o assunto - as legislações dos países do bloco divergem quanto ao critério para a solução do conflito de leis no espaço Conseqüências: Gera insegurança jurídica nas contratações comerciais -> prejuízos econômicos e políticos ao MERCOSUL Revela uma das dificuldades no processo de integração regional na América-latina: o impasse em relação à uniformização jurídica ser consagrado no âmbito do MERCOSUL O princípio da autonomia da vontade é o critério que mais favorece o fluxo comercial transnacional. Convenções internacionais demonstram uma tendência mundial consolidada pela adoção do princípio na determinação do direito aplicável ao contrato. Em relação a contratos, instrumento mais importante do comércio internacional, é imprescindível que haja uniformização jurídica da matéria dentro dos blocos regionais (exemplo da UE – Convenção de Roma) *
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