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Investigacao Policial de Homicidios

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INVESTIGAÇÃO POLICIAL DE HOMICÍDIOS: análise de 
métodos, técnicas e do procedimento policial
*
 
 
 
José Meneghini Ferraresi
**
 
 
 
“Só Deus sabe, padre, as coisas de que 
uma mesma mão e uma mesma alma 
são capazes” 
 Erico Verissimo 
 
 
Resumo. Este trabalho versa sobre a investigação policial de 
homicídios dolosos, de autoria inicialmente desconhecida, realizada 
Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, especialmente em Porto 
Alegre. Em um levantamento bibliográfico preliminar, constatou-se a 
escassez de literatura nacional acerca do tema, diversamente da 
bibliografia estrangeira. Objetivou-se, dessa forma, identificarem-se os 
métodos e técnicas empregados na investigação policial de homicídios. 
Foram duas as hipóteses norteadoras deste estudo, quais sejam: a) a 
modalidade de investigação desenvolve-se sob bases empíricas, através 
de métodos dedutivos, indutivos e até intuitivos, estando 
freqüentemente alicerçada apenas em provas testemunhais e confissões, 
tendo frágil amparo técnico-científico; b) a solução dos crimes de 
homicídio não decorre de boas estruturas técnicas, metodológicas e de 
logística, mas está relacionada à dedicação profissional e ao tratamento 
prioritário destinado a essa espécie delitiva. A metodologia empregada 
neste estudo foi de caráter qualitativo, o que propiciou uma inserção no 
modus faciendi do processo investigatório e uma melhor compreensão 
 
*
 Este texto integra a monografia de conclusão apresentada ao Curso de 
Especialização em Segurança Cidadã: Violência, Criminalidade e Polícia, da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em março de 2005, sob 
orientação da Profa. M.Sc. Nara Rejane S. Widholzer. 
**
 Policial Civil – Escrivão de Polícia - Instituição de vínculo: Polícia Civil – 
Corregedoria-Geral de Polícia (COGEPOL) Porto Alegre/RS. 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 52
sobre o assunto. Para constituição da amostra dos entrevistados, 
observou-se o maior número de remessas de procedimentos policiais 
por parte dos respectivos órgãos de trabalho, selecionando-se dez 
policiais civis por critérios de função e notório saber. Foram 
confirmadas as hipóteses da pesquisa, constatando-se ainda, entre 
outras descobertas, que a prioridade dada à investigação de homicídios 
impossibilita a apuração de outros delitos e que os policiais aplicam, em 
suas investigações, métodos doutrinários consagrados, apesar de não 
terem recebido essa orientação em seus cursos de formação, o que 
demonstra a capacidade de superação por parte do policial civil. 
Palavras-chave: Investigação de homicídios; Polícia Civil; crime; 
sociologia da violência. 
 
 
Introdução 
 
O presente estudo acerca da investigação policial 
sinteticamente demonstra a gênese da persecução penal. No 
complexo mecanismo persecutório, encontra-se a investigação 
policial, que subsidiará a ação penal a ser promovida pelo 
Ministério Público e eventual denúncia, pronúncia e condenação 
perante o soberano Tribunal do Júri, tornando-se, assim, por via 
oblíqua o instrumento que conduz o investigado ao sistema 
penitenciário. 
A atividade policial tem possibilitado constatar os 
dilemas da investigação criminal e seu complexo processo de 
desenvolvimento. A investigação policial deve ser um processo 
de conhecimento que não se baseie exclusivamente no 
empirismo, mas que se utilize de um aparato científico capaz de 
transformar simples vestígios em indícios, e estes, em prova. 
Paralelamente, essa investigação deve ser desenvolvida dentro do 
estrito cumprimento do dever legal, com respeito à dignidade 
humana, preservando-se a imagem da vítima, de seus familiares e 
do investigado. 
Uma vez que a pretensão deste estudo é levar a conhecer 
a metodologia e os procedimentos utilizados na investigação 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 53 
policial de homicídios, torna-se aqui interessante apenas o exame 
da prática de homicídios dolosos e, ainda, com autoria 
inicialmente desconhecida. 
Partindo-se da hipótese de que a investigação policial de 
homicídios é desenvolvida, predominantemente, com base 
empírica, através de métodos dedutivos, indutivos e até 
intuitivos, com frágil amparo técnico-científico, sendo por vezes 
alicerçada apenas em provas testemunhais e confissões, o que 
pode levar a conclusões equivocadas. Por outro lado, quando o 
desenvolvimento das investigações processa-se com emprego de 
métodos e técnicas científicas, se constituirá uma prova mais 
qualificada e confiável, afastando-se, assim, eventuais equívocos. 
A hipótese secundária é a de que, atualmente, as soluções dos 
crimes de homicídio estão diretamente relacionadas à dedicação 
profissional e ao tratamento prioritário destinado a essa espécie 
de delito, não sendo decorrência de boas estruturas de recurso 
Pelo exposto, com este estudo, objetiva-se identificar os 
métodos, técnicas, procedimentos e instrumentos empregados na 
investigação policial de homicídios, buscando-se também, a 
partir desse diagnóstico, aferir a eficácia do processo. Deseja-se 
também, com a compreensão do fenômeno em questão, subsidiar 
o trabalho dos investigadores, traçando-se princípios de 
uniformização e padronização de procedimentos investigadores 
no que tange aos delitos de homicídio, contribuindo-se para o 
desenvolvimento doutrinário da instituição policial, que necessita 
de parâmetros científicos melhor definidos. 
Quanto à metodologia empregada na pesquisa optou-se 
por um estudo exploratório, descritivo e de análise qualitativa, 
com exame de casos restritos à região de Porto Alegre. Como 
instrumento de pesquisa, elegeu-se a entrevista semi-estruturada, 
buscando-se acessar e identificar as condutas de investigação 
(métodos e técnicas) adotadas pela Polícia Civil, contemplando 
aspectos como a formação e o aprendizado da investigação de 
homicídios. Paralelamente às entrevistas, procedeu-se às análises 
de cinco inquéritos policiais de homicídios, iniciados sem autoria 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 54
conhecida, circunscritos à região metropolitana de Porto Alegre e 
já remetidos ao Poder Judiciário. 
 
A investigação policial de homicídios: métodos técnicas e do 
procedimento 
 
Mingardi (2001) salienta que, com o advento da carta 
constitucional de 1988, a produção investigatória no estado de 
São Paulo, nos primeiros anos, teve sensível queda, em razão de 
a polícia não estar preparada para investigar sem o emprego de 
métodos violentos. Logo, o impacto desse texto constitucional 
demonstra que, apesar de as instituições policiais brasileiras 
empreenderem enorme esforço, resta claro que não foram 
reorientadas para atuarem eficazmente em um Estado 
democrático de direito. 
A palavra investigar advém do latim, investigatio, de 
investigare, e, conforme Rocha (2003, p.22), significa indagar 
com cuidado, observar os detalhes, examinar com atenção, seguir 
vestígios, descobrir. A investigação policial, por sua vez, 
constitui uma pesquisa acerca de fatos relacionados a uma ação 
delituosa. 
Para Richardson (1999), não existe uma fórmula mágica 
e única para a realização de uma pesquisa ideal, uma vez que a 
investigação é um produto humano, e seus produtores são 
falíveis, exigindo-se, assim, necessário conhecimento da 
realidade, noções de metodologia, técnicas de pesquisa e um 
sério trabalho em equipe. Conforme O’Conell (1975, p. 331), 
“Naturalmente que para cada crimen hay uma manera particular 
de enfrentarse a él buscarle la solucion.” A astúcia humanatorna-
se cada vez mais sofisticada, empreendendo cada vez mais 
recursos para fugir da revelação da autoria do delito, o que exige 
o emprego de métodos e técnicas das mais variadas ciências para 
a constituição da prova, como destaca França (1998). 
Ensina Rocha (2003, p. 23) que a investigação 
desenvolve-se sob um raciocínio que parte do conhecido para o 
desconhecido, retrocedendo no tempo até a obtenção de 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 55 
elementos que projetem as suas pesquisas para o momento do 
crime. 
Ao prefaciar Vítimas e Criminosos, a obra de Frederico 
A. de Oliveira (1996) Copetti afirma que as investigações 
policiais não aproveitam os conhecimentos criminológicos e 
criminalísticos que poderiam potencializar as evidências 
processuais. Diz ainda o autor que, a cada procedimento, tudo se 
repete, a improvisação e o total desconhecimento de métodos de 
investigação de homicídios. Seria muito diferente se as 
investigações de homicídios obedecessem a critérios lógicos e se 
a vitimologia convertesse-se em indispensável aliada ao 
desvendamento dos crimes, pois a história das vítimas tem 
profunda ligação com a própria história de seus algozes, sendo o 
círculo de relações a chave para a busca da autoria do homicídio. 
Conforme Rocha (2003) o investigador poderá se valer, 
em um mesmo trabalho, de métodos dedutivos, indutivo, 
analógicos, por vezes até mesmo o intuitivo, sendo que diante de 
um crime misterioso o investigador pensará e formulará uma 
suposição preliminar, conjeturando com base em sua experiência 
e construirá mentalmente hipóteses de como teria ocorrido o 
crime e quem o teria praticado. 
O método dedutivo é um processo eficiente para o 
estabelecimento da validade de um argumento, permitindo 
chegar-se à conclusão a partir de premissas, mediante raciocínios 
elementares, cada um dos quais se sabendo como válido. Essa é 
uma maneira de se pensar em que se parte do geral para o 
particular, formulando silogismos. Cobra (1976, p. 162) elucida, 
através de exemplos, a dedução: “a descoberta de determinado 
tipo de poeira, no calçado de alguém ou num veículo, pode 
autorizar a conclusão de que aquela pessoa ou veículo passaram 
por determinado local.” 
O método indutivo desenvolve-se através de um 
raciocínio que parte do particular para o geral, porém qualquer 
conclusão obtida por esse método pode acabar sendo refutada, 
por generalizar. Assim, por exemplo, a coleta de uma digital 
pode conduzir à identificação do autor de um crime, obtendo-se 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 56
resultado geral a partir do exame particular da digital presente no 
local de crime. 
Na prática policial, conforme Cobra (1976, p.163), 
raciocina-se por analogia, fazendo-se comparações, para se 
verificar e constatar as semelhanças entre os fatos que estão 
sendo investigados e outros ocorridos anteriormente. As 
semelhanças de circunstâncias entre casos distintos podem 
conduzir a resultados idênticos, razão pela qual o investigador 
deve examinar o modus operandi dos delinqüentes, pois 
criminosos habituais agem freqüentemente do mesmo modo, com 
o emprego de semelhantes recursos, propiciando o emprego do 
método analógico. 
Conforme mencionado, o método intuitivo também pode 
ser empregado na investigação policial. Para Rocha (2003, p. 
37), intuição é a visão direta de alguma coisa, o conhecimento de 
algo independentemente de raciocínio lógico, porém, que não 
pode ser confundido com palpite, devendo seu emprego ser 
reservado para situações ausentes de outras possibilidades. 
Conforme Cobra (1976), a investigação policial é 
desenvolvida em três fases, quais sejam: fase das constatações, 
quando ocorrem observações, colheita preliminar de informações 
e conhecimento das provas objetivas; fase do raciocínio, quando 
o investigador inicia processos de emprego de métodos 
dedutivos, indutivos, analógicos e até intuitivos, formulando 
hipóteses; e fase da verificação de hipóteses, quando se poderá 
obter convicção ou certeza acerca de determinado caso. Para 
Cobra (1976), a partir do conhecimento de um crime, como por 
exemplo, um homicídio, os policiais passarão a formular 
hipóteses acerca do evento criminoso, de seus detalhes, de suas 
circunstâncias, analisando o modo como o crime foi praticado, os 
detalhes, os motivos e a possibilidade das autorias, tornando as 
hipóteses suposições provisórias. O autor (id., p.166) leciona: 
No trabalho de verificação de hipóteses, os encarregados 
de investigações ficam em situação idêntica a do viandante que, 
andando por terras estranhas e desejando alcançar determinado 
lugar, encontra, à certa altura da estrada, ponto donde saem 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 57 
diversos caminhos, tendo de fazer uma opção, podendo seguir 
um rumo e ter, até mesmo, que retroceder quando constatar que 
seu norte não é o da verdade. O trabalho de exame de detalhes ou 
circunstâncias objetiva a descoberta da autoria do evento 
criminoso, e será para a captura de detalhes e das circunstâncias 
que os encarregados da investigação, por vezes, terão que tomar 
novos caminhos para atingir o objetivo principal. A partir da 
exclusão de hipóteses, restarão aquelas, em tese, correspondentes 
à realidade, sendo que, destas, algumas conduzirão à convicção, 
outras à almejada certeza. 
Restará presente a convicção quando os elementos 
probatórios forem unicamente subjetivos, isto é, sem apoio de 
provas materiais, de elementos objetivos. Cobra (id.) exemplifica 
afirmando que, por melhores que sejam a prova testemunhal e a 
confissão, só permitirão a convicção porque faltará elemento 
material corroborador. 
Para Hespanha (1996, p. 179), a fidelidade ou a 
infidelidade do testemunho não depende apenas das qualidades 
morais, culturais, intelectuais ou biogenéticas da testemunha e 
dos numerosos fatores relacionados aos sentimentos de sua vida 
psíquica. A verdade ou o erro e a fidelidade ou a infidelidade do 
testemunho são resultados, também, do conhecimento científico, 
da competência profissional daqueles que interpretam as 
declarações da testemunha. Tourinho Filho (1997, p. 285, v.3) 
afirma que a experiência tem demonstrado que não se pode e 
nem se deve, em princípio, atribuir valor probatório absoluto 
para a confissão. 
Por sua vez, haverá certeza quando os elementos 
objetivos – provas materiais – permitam concluir, sem sombra de 
dúvidas, sobre os acontecimentos. Assim, se, num local de 
homicídio, é encontrada uma impressão digital, e seu dono 
confessa a prática do crime e aponta o lugar onde está o 
instrumento utilizado no crime, possibilitando a sua apreensão, 
não haverá apenas convicção, mas certeza da autoria, em 
decorrência do conjunto objetivo. No plano concreto, nem 
sempre é possível a obtenção da certeza da autoria ao final da 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 58
investigação, porém esta restará completa tanto com a certeza 
quanto com a convicção, por assim ter atingido a última fase do 
processo investigatório, disponibilizando a possibilidade de 
conclusão sobre a autoria delitiva. 
Conforme Dorea (1995, p.208), os departamentos de 
polícia norte-americanos adotam um procedimento técnico-
metodológico padrão para as investigações de casos com morte 
denominado método dos círculos concêntricos. Esse método 
consiste simplesmente em se considerar a vítima como o centro 
de uma série de círculos e, iniciando-se as investigações a partir 
daquele que dela se encontre mais próximo, ampliando-se ao 
infinito, abrangem-se todos os círculosde relação da vítima. A 
prática desse método de investigação, somada ao emprego de 
técnicas de coleta e análise de indícios, poderá constituir-se em 
um procedimento capaz de apontar a autoria e as circunstâncias 
de um crime. Uhnak (apud Dorea, 1995) sustenta que, na maioria 
dos casos, o assassino é encontrado dentro de quatro paredes da 
casa da vítima, sendo que, ao invés de andar pelas ruas, 
procurando novas vítimas, em geral ele está em casa, ajudando 
nos preparativos do enterro. 
Para Rocha (2003), a complexidade da investigação 
confronta-se com a necessidade de uma apuração dinâmica, 
rápida e firmada em conhecimentos interdisciplinares, pois, em 
matéria investigatória, persiste a máxima de Locard, para quem o 
tempo que passa é a verdade que foge. 
A oxigenação da doutrina de polícia judiciária brasileira, 
atualmente, ressurge com Queiroz (2000). O autor propõe uma 
maior qualificação ao inquérito policial, apresentando, para isso, 
a técnica da recognição visiográfica, utilizada pelo FBI e 
introduzida no Departamento de Homicídios da Polícia Civil do 
Estado de São Paulo em 1995. Conforme essa técnica, o policial 
que atende ao homicídio relata minuciosamente o que viu e 
sentiu no local, baseando-se na heurística e na semiótica. 
A necessidade pela busca de novos métodos e técnicas, 
tanto para a investigação quanto para a prevenção de homicídios 
motivou a Metropolitan Police da Inglaterra, ou, mais 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 59 
especificamente, sua unidade de prevenção de homicídios, 
trabalhar no sentido de estudar a mente dos criminosos, 
objetivando a criação de um perfil psicológico que defina os 
sinais de perigo para ser utilizado tanto de forma preventiva 
como no auxílio à investigação policial, (cf. Herbert, 2005). 
Corrobora Douglas (2002), pioneiro na análise investigativa do 
comportamento criminal e responsável pela criação do perfil 
psicológico de criminosos no FBI. 
 
Categorias de Análise 
 
Formação policial e aprendizado da investigação de 
homicídios 
 
Esta categoria comporta dois momentos o da concepção 
dos entrevistados acerca da formação policial e o segundo, ao 
aprendizado prático da investigação de homicídios. De acordo 
com os sujeitos, a instrução recebida durante formação é de 
extrema relevância, porém criticaram as deficiências dessa 
instrução. Veja: 
 
A academia deu apenas o rumo. 
[...] a academia tinha que ser assim, inquérito policial e 
investigação criminal, só o que precisava. Eu fiz um 
concurso público, era formado em Direito e aí fiquei 
estudando mais um ano e meio de Direito em pleno curso 
de delegado. O que eu tinha que ter e não tive é com o que 
vou trabalhar, que é a investigação. 
Na realidade, a gente não sabia, a gente se achava, achava 
que estava preparado, mas daí, no dia-a-dia, a gente foi 
vendo que muitas coisas só se aprendia trabalhando. 
 
Os entrevistados, em seu conjunto, afirmam que o ensino 
da investigação, especialmente de homicídios, é apresentado a 
partir de experiências pessoais e profissionais dos instrutores, 
não havendo a reunião de métodos didático-pedagógicos e, 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 60
conseqüentemente, inexistindo qualquer orientação que objetive 
a padronização de procedimentos. 
Em sua absoluta maioria, os policiais não demonstraram 
conhecimento de métodos doutrinários de investigação, salvo os 
ensinamentos sumariamente recebidos durante o curso de 
formação. Entretanto, condutas instaladas reflexivamente no 
cotidiano policial a partir do conhecimento prático demonstram a 
aplicação espontânea de conceituados métodos de investigação 
de homicídios, apesar do desconhecimento doutrinário. Um 
exemplo de tal prática é a utilização do método dos círculos 
concêntricos, desenvolvido por Uhnak (1995), o qual sustenta a 
probabilidade de o homicida pertencer ao círculo de relações da 
vítima. Observem-se as falas a seguir apresentadas: 
 
Na realidade, o homicídio, quando não tem autoria, é 
fundamental que a gente inicie investigando a vítima. A 
peculiaridade do delito de homicídio é a investigação da 
vítima [...] isso é a lógica do dia-a-dia que vai mostrando 
para a gente. 
Eu sigo uma rotina que a gente aprendeu na prática, a 
gente conseguiu esclarecer casos e foi aprendendo. Eu 
oriento o meu pessoal agora que estou chefiando a 
investigação. 
[...] saber se a vítima tinha inimigos, se era usuário de 
drogas, se pagava corretamente seus fornecedores, quem 
eram seus amigos. 
 
Esses procedimentos vão ao encontro do que expõe 
Rocha (2003, p. 23) ao escrever que, em uma ocorrência de 
homicídio, o primeiro passo do investigador é identificar a vítima 
e saber tudo a seu respeito, enquanto os peritos fazem o exame 
de local. Depois, com os elementos obtidos no local, o policial 
iniciará a busca pelas pessoas relacionadas à vitima e, 
possivelmente, com o crime. Essa constatação corrobora a teoria 
dos círculos concêntricos, pela qual o homicida apenas 
excepcionalmente não freqüenta os círculos de relações das 
vítimas. 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 61 
De acordo com as entrevistas transcritas, apenas um dos 
dez entrevistados recebeu instrução específica para a 
investigação de homicídio após ter concluído o curso de 
formação. Logo, foi recorrente a informação de que o processo 
de aprendizado da investigação teria se dado por meio da própria 
prática, a partir da análise de casos em puro exercício de 
empirismo, o que veio a confirma uma das hipóteses do estudo 
em tela. Veja: 
 
[...] a partir dos casos do dia-a-dia, nosso conhecimento 
vai se ampliando... também se aprende fazendo estudo de 
caso. 
Eu aprendi a investigar homicídio na prática e também 
com policiais mais velhos. 
[...] o que a gente aprende mesmo, principalmente na 
investigação de homicídio, é na prática, depois de 
formado. 
 
Ficou assim demonstrada a capacidade de o policial civil 
abstrair, a partir de experiências do cotidiano, o desenvolvimento 
de métodos que, inconscientemente, são projetados nas 
investigações. 
Os entrevistados também se manifestaram acerca das 
carências de recursos que vão desde a escassez de papel até a 
inexistência de equipamentos de proteção individual. Observem-
se as falas: 
 
Falta pessoal. A nossa deficiência maior é de pessoal e 
tecnologia. 
Tomando por base que a Polícia Civil, já em 1980, previa 
um efetivo maior do que tem hoje e o crescimento 
populacional, posso afirmar que há carência de recursos 
humanos. Também temos carência de material, faltam 
filmadoras, computadores, não existe material de escuta 
ambiental em quantidade necessária. 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 62
[...] tá faltando computador, uma filmadora facilitaria, 
uma máquina digital, dessas modernas, daria para tirar 
fotos do local e fazer levantamentos, mas não dispomos. 
 
Os entrevistados com mais de dez anos de serviço 
perceberam ter havido melhoras estruturais nas condições de 
investigação em relação à época de seus respectivos ingressos. 
Foi, inclusive, salientado por alguns policiais que, no início de 
suas carreiras, não conheciam computador e que nem 
imaginavam que esse instrumento fosse capaz de possibilitar 
tantos benefícios para a investigação policial. Pôde-se observar 
ainda que houve uma sensível evolução qualitativa nos quadros 
funcionais da Polícia Civil nos últimos dez anos, em razão das 
maiores exigências de qualificação para o acesso à carreira 
policial e pela melhora na formação. 
 
Na minha época,1980, a polícia era uma polícia 
romântica, né. Tu trabalhava pela paixão... na época, se 
amarrava cachorro com lingüiça, tinha que empurrar 
viatura, só existia revólver, a prática de tiro era com .22 
porque a munição era mais barata que o .38... a polícia 
mudou um monte. 
 
Todos os entrevistados conferiram extrema relevância ao 
isolamento e preservação dos locais de crime, para posterior 
exame, porém, entendem que essas medidas cautelares seriam 
maximizadas se houvesse um serviço pericial mais bem 
estruturado. 
 
[...] a gente fica brabo com os brigadianos quando eles 
mexem no local do crime, mas às vezes eles preservam 
tudo, e aí não adianta nada, porque a perícia não aproveita 
o local preservado, por falta de meios... não que o perito 
não seja bom, mas é como a gente, não dispõe de meios. 
Segurança pública não é prioridade. 
 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 63 
As considerações expostas pelos sujeitos ilustram, ainda 
que superficialmente, a crise estrutural da instituição policial 
encarregada do desenvolvimento da investigação criminal, que se 
mantém graças à dedicação e qualificação de seus integrantes. 
 
Padrões adotados pela Polícia Civil nas investigações 
de homicídios 
 
Apesar das peculiaridades de cada homicídio, há 
procedimentos genéricos de investigação que podem ser 
observados no esclarecimento dos crimes. Não se pretendendo, 
com isso, estabelecer formulas mágicas nem, o emprego 
inflexível de métodos ou técnicas, devendo tão somente se buscar 
uma padronização racional de métodos e técnicas apuratórias. 
Entre eles, estão o isolamento e a preservação do local do crime, 
o exame preliminar de vestígios e indícios, o exame pericial do 
que inicialmente era imperceptível pelo investigador e a 
realização de interrogatórios com observâncias técnicas, entre 
outros. 
Conforme Rocha (2003), os métodos de investigação 
policial tendem a ser os mesmos em todos os países, diferindo, 
porém, a forma de se documentarem as investigações, de acordo 
com o sistema jurídico de cada país. Pelas falas recorrentes 
surgidas nas entrevistas, pôde-se observar o emprego de alguns 
procedimentos técnicos e metodológicos nesse processo 
investigativo. Salientou-se a necessidade de isolamento e 
preservação do local do crime, além da tomada de conhecimento 
do círculo de relações das vítimas e testemunhas, e do imediato 
comparecimento ao local, pois segundo Cabe lembrar que, para 
Locard (1939), “o tempo que passa é a verdade que foge”. 
Observem-se as falas a seguir: 
 
[...] a investigação se inicia pelo imediato 
comparecimento, quanto mais cedo, menos contaminação 
do local... às vezes, acontecem alterações imprescindíveis, 
como no caso de socorro, em que o cenário é alterado pela 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 64
necessidade, o que pode trazer dificuldades à leitura do 
local. A segunda providência será o isolamento do local 
para análise da vítima, quando possível, das manchas, 
objetos e coleta dos demais vestígios que poderão 
contribuir para a elucidação do crime. Quando ocorre um 
crime, tem-se que retroceder no tempo, partindo-se do 
conhecido para o desconhecido. Deve-se iniciar o terceiro 
momento pela busca de informações e, posteriormente, 
surgirá a fase de avaliação e construção de inferências..., o 
local de crime fala. 
O primeiro passo é ter a informação do fato o mais rápido 
possível, para que se possa encaminhar alguém para fazer 
o local, com o local preservado... e se passa à coleta de 
informações. 
Não existe fórmula mágica... 
[...]o homicídio tem que ter uma rotina, observar 
princípios básicos... o principal de todos é a preservação 
do local... depois do local, os próximos passos são as 
testemunhas, familiares... 
 
A presença dos policiais nos locais de crimes, também 
foi destacada pelos entrevistados como ponto relevante para 
apuração de um crime e de suas circunstâncias. Alguns chegaram 
mesmo a afirmar que, em muitos casos, a solução do crime é 
obtida já no próprio cenário do homicídio. 
Os padrões identificados foram lecionados na Academia 
de Polícia, antiga Escola de Polícia, e são observados pelos 
policiais civis. O mesmo não ocorre, com o aprendizado 
empírico, por exemplo, quanto ao método dos círculos 
concêntricos, que, muito embora aplicável reflexivamente, não 
chega a ser observado como procedimento padrão. Isso porque, 
para sua implementação, faz-se necessário um suporte 
pedagógico, o que só poderá ocorrer mediante o ensinamento 
teórico. 
Pelo discurso dos informantes, percebeu-se sua grande 
disponibilidade em relação à profissão, o que pode se explicar, 
novamente, pelo fato de terem ingressado na polícia por motivos 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 65 
vocacionais, o que comprova a hipótese desta pesquisa segundo a 
qual a eficácia da solução de homicídios está relacionada à 
dedicação profissional dos policiais. 
Em razão da gravidade do delito, pela mobilização 
psicossocial que deflagra e por sua repercussão no meio, a 
apuração dos crimes de homicídio recebe tratamento 
diferenciado dos demais casos. 
O homicídio é tratado como prioridade em razão da 
gravidade e pela carência de recursos para atender a todos os 
casos. 
Normalmente, é dada prioridade ao homicídio, porque a 
investigação não tem pessoal para atender a todos os casos, 
então, tem que responder com a apuração dos crimes mais 
graves, como homicídio, estupro, latrocínio, que também são 
aqueles de maior repercussão. 
 
[...] eu penso que todos deveriam receber o mesmo 
tratamento, mas, infelizmente, não dispomos de meios 
para atender a todos os casos. Por muitas vezes, se tem 
que parar toda a delegacia para investigar um homicídio. 
 
Isso se torna cristalino quando da confrontação com os 
dados disponibilizados pela DIPLANCO/PC referentes ao ano de 
2003, pelos quais se constata que foram registradas 325 
ocorrências de homicídio, instaurados 434 inquéritos policiais e 
remetidos ao Poder Judiciário 218 procedimentos inquisitoriais, o 
que perfaz uma média de 50,23%. Nesse mesmo período, foram 
registrados 8.103 furtos de veículos, instaurados 6.840 e 
remetidos ao Poder Judiciário 706 procedimentos policiais, ou 
seja, apenas 10,32% das ocorrências, situação que se repete para 
outras modalidades delitivas, que demandam investigação, como 
no furto/em veículo. Comprova-se, assim, que a dedicação 
prioritária ao crime de homicídio, considerado de maior 
gravidade, acaba por inviabilizar a persecução penal dos demais 
crimes, em decorrência das carências estruturais dos órgãos 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 66
policiais, o que se confirma pelo depoimento de um dos 
informantes: 
Foi um retrocesso quando, há três anos, se retirou da 
Delegacia de Homicídios [DHD/DEIC] a investigação dos 
homicídios de autoria desconhecida. O distrito não tem 
condições. Quando acontece um homicídio, tem que parar todas 
as outras investigações. Pára tudo, porque o pouco pessoal que se 
dispõe terá que se dedicar ao homicídio. 
Assim, diante desses dados, pode-se afirmar que a 
solução dos homicídios está diretamente relacionada ao 
tratamento prioritário destinado ao atendimento dessa espécie de 
delito e pela dedicação dos policiais encarregados da 
investigação, que se voltam quase que exclusivamente ao 
desvendo de assassinatos. Isso pode explicar os consideráveis 
índices de solução de crimes de homicídio e respectivas remessas 
de inquéritos policiais ao Poder Judiciário, em detrimento de 
outras modalidades criminosasmenos privilegiadas pela 
dedicação dos serviços de investigação. 
Dos casos de homicídio referidos nas entrevistas, foram 
examinados cinco inquéritos, que, por razões éticas e legais, não 
serão identificados. Três inquéritos foram encaminhados ao 
Poder Judiciário com apuração da autoria dos homicídios, 
restando porém, em um dos casos, o acusado absolvido pelo 
Tribunal do Júri por insuficiência de provas. Nos outros dois 
casos, não foi possível o apontamento da autoria, em que pese, 
em um desses casos, o convencimento policial ventilar chances 
de se elucidar o caso. Assim, partindo-se do exame dos casos em 
que foram identificadas as respectivas autorias e posteriormente 
aqueles não-solucionados, pôde-se observar o que segue. 
Em um dos casos, o registro de ocorrência policial 
apresentava-se incompleto, havendo carências de dados 
elementares, como a identificação de quem teria efetuado o 
recolhimento do cadáver e testemunhas, uma vez que não se 
conheciam a identidade da vítima, sua origem e, obviamente, a 
identidade do criminoso. Apenas em um dos casos solucionados 
houve a observação dos peritos sobre a não-preservação do local 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 67 
do crime. A materialidade do crime foi comprovada através de 
laudos necroscópicos e, em um dos casos, por meio de exame e 
DNA. A prova pericial demonstrou-se com maior robustez em 
um único caso, em que só restou comprovada a autoria por 
subsídios de exames papilares, residuográficos e balístcos. Nos 
demais casos, a investigação policial apontou a autoria com base 
em testemunhos e em uma confissão, o que, segundo a fala dos 
próprios informantes, pode ser comprometedor: 
 
[...] a prova indiciária involuntariamente pode acabar se 
direcionando ao suspeito... é o caso xxx, onde 
desapareciam “pessoas”, e três testemunhas avistaram um 
suspeito com uma das vítimas, exatamente no dia de seu 
desaparecimento. E o que acontece? Um policial é 
procurado por uma das testemunhas, que diz: “Olha, a 
pessoa que desapareceu esteve aqui, e um funcionário 
anotou o nome do acompanhante e o seu “RG”. Três 
testemunhas afirmaram que o desaparecido tinha estado 
no local... Não havia outra hipótese. Tudo levava a crer 
que o suspeito era o autor do crime, porém, não tínhamos 
uma prova direta, que levasse à certeza da autoria, era 
convicção firmada nos testemunhos, indícios que os 
confirmavam e uma confissão. 
 
Segundo Hespanha (1996, p. 175), a fidelidade do 
testemunho nada mais é do que o resultado de um processo 
psíquico do sensível e do racional que cada pessoa pode 
perceber, sendo que o testemunho de uma pessoa conterá a 
verdade que ela conseguiu percepcionar em relação aos fatos da 
realidade. Logo, a testemunha de uma personalidade normal 
poderá ser submetida a procedimentos sugestivos, interpretando a 
realidade dos fenômenos de uma forma falsa ou errada. Da 
mesma forma, segundo Tourinho Filho (1997), a confissão deve 
ser vista com reservas. 
Por sua vez, quanto aos casos não-solucionados, pôde-se 
perceber, pelas leituras dos respectivos inquéritos policiais e dos 
relatos dos entrevistados, que não houve a adequada preservação 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 68
do local de crime em um dos casos e no outro, apesar da 
preservação, a perícia não conseguiu fornecer subsídios 
consideráveis para a investigação policial. 
Constatou-se também que, nos casos sem apuração da 
autoria, inexistem, em seus respectivos inquéritos policiais vários 
documentos relacionados a investigação. Nos autos desses dois 
procedimentos, as únicas peças periciais dizem respeito à 
materialidade do crime. 
Assim, com o exame desses procedimentos, constatou-se 
a freqüente constituição da prova indiciária com base em 
testemunhos e confissões, o que, como visto, pode conduzir ao 
equivocado apontamento da autoria de um homicídio. Além 
disso, também demonstrou-se o frágil amparo técnico-científico 
que recebem as investigações. 
 
Conclusão: Proposta de uma metodologia de investigação de 
crimes de homicídios 
 
Neste momento, torna-se oportuno fazer uma apreciação 
a respeito das motivações e dos propósitos deste trabalho e das 
conclusões a partir dele obtidas. Primeiramente, cabe lembrar 
que a experiência profissional do pesquisador na área policial foi 
o fator desencadeante da pesquisa, seguido da consciência da 
necessidade de alteração da prática investigativa a partir da 
Constituição Federal de 1988, que repele o emprego de 
violências. Somou-se a isto a conscientização da 
imprescindibilidade de um norteamento institucional capaz de 
proporcionar condições para o estabelecimento de uma 
padronização no que tange à investigação dos crimes de 
homicídio. Igualmente, tem-se a convicção de que a repressão a 
essa espécie de delito resulta no desestímulo à vingança privada e 
no conseqüente fortalecimento do Estado. 
Genericamente, a pesquisa teve por objetivo identificar 
os métodos e técnicas empregados na investigação policial de 
homicídios, sendo que, a partir desse objeto geral, apresentaram-
se outros específicos. A análise da eficácia do processo 
José Meneghini Ferraresi 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 69 
investigador demonstrou resultados satisfatórios, assim como o 
fito de proporcionar subsídios ao trabalho investigativo, 
podendo-se, a partir das conclusões da pesquisa, estabelecer um 
traçado padrão, isso tudo associado ao desejo de, 
pretensiosamente, contribuir-se para o desenvolvimento 
doutrinário da instituição policial. 
Confirmou-se a hipótese de que a investigação policial 
de homicídio é desenvolvida sob bases empíricas, com emprego 
de métodos dedutivo, indutivo e intuitivo, mas com frágil amparo 
técnico-científico. Pôde-se ainda comprovar que essa 
investigação funda-se, sobretudo, em testemunhos e confissões e 
que a solução dos casos relaciona-se diretamente à dedicação 
profissional dos investigadores e ao tratamento prioritário 
destinado a essa espécie criminosa. Corroborou-se que o 
tratamento prioritário destinado à investigação dos crimes de 
homicídios acaba por intervir no desenvolvimento da apuração 
de outras espécies de crimes, em decorrência do emprego de 
todos os recursos humanos e materiais nas diligências pertinentes 
ao homicídio, em detrimento dos demais. Finalmente, constatou-
se que, através do aprendizado empírico, forjado no cotidiano das 
investigações, os policiais abstraem lições que são empregadas 
no desenvolvimento de um método que se assemelha ao 
consagrado pela doutrina de investigação policial de homicídios, 
demonstrando-se, assim, a elevada capacidade de percepção do 
policial civil, o que vem a justificar a terceira hipótese. 
Através dos dados fornecidos pela DIPLANCO/PC e 
pelo Poder Judiciário, pôde-se constatar a eficácia da 
investigação policial de homicídios, como revelou o número 
considerável de remessas de inquéritos policiais, além das 
condenações dos acusados denunciados pelo Ministério Público e 
levados ao Tribunal do Júri. Esse desempenho compromete as 
atoardas que trazem à baila a discussão acerca da capacidade 
persecutória da polícia judiciária. Deve-se ressaltar que, se o 
desenvolvimento da investigação encontra dificuldades, isso se 
deve, em parte, ao fato de a polícia não estar acompanhando o 
Investigação Policial de Homicídios 
Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias,4(1):51-71, Jan.-Dez./2005 70
concomitante processo evolutivo, chegando inclusive a regredir 
no que tange ao efetivo policial. 
Nesse contexto dinâmico, apresentam-se os dilemas das 
investigações policiais de homicídios, cabendo, por fim, reprisar 
queeste estudo engalanou-se na utopia que deve viver a 
investigação policial moderna, qual seja, a obtenção de 
convicções probatórias que afastem quaisquer hipóteses que 
possam levar ao erro judiciário, muitas vezes fatal. Com 
tranqüilidade, não apenas pelas observações do cotidiano policial 
vividas pelo pesquisador, mas sobretudo pelos dados oficiais e de 
campo apresentados, pode-se afirmar que a investigação policial 
distanciou-se do emprego da prática de tortura essencialmente 
por duas razões: porque a natureza do Estado Democrático de 
Direito em vigência não tolera tal prática e porque a nova 
geração policial reconhece que o valor da confissão como prova 
é de presunção relativa, pelo que essa prática vem sendo 
desprezada. 
Por fim, consigne-se que políticas de respeito à 
dignidade humana vem sendo divulgadas pelos órgãos de 
segurança, com especial incentivo por parte da Secretaria 
Nacional de Segurança Pública (SENASP/MJ), que realiza 
excelente trabalho e supre uma lacuna na estrutura de segurança 
nacional. A despeito das carências de toda ordem enfrentadas 
pela polícia civil deste estado, apresenta-se a investigação 
policial de homicídios com resultados satisfatórios, afastada do 
emprego de métodos violentos, adaptando-se assim ao 
ordenamento constitucional de 1998. 
 
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