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1 FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FEAUSP COMUNICAÇÂO NÃO-VERBAL E DIVERSIDADE: UM ESTUDO SOBRE PRIMEIRAS IMPRESSÕES EM ESPAÇOS DE CONSUMO Julia Seung Won Park Karina Mayumi NIshikawa Lucas Francisco Ferrari Paula Ito Hoshino Thais Harumi Omine São Paulo 2014 2 RESUMO Diante das diversas maneiras de ser do homem e com o conhecimento de que a comunicação não-verbal é complementar, se não a protagonista, numa interação social, o presente estudo teve como objetivo procurar saber o quanto da linguagem gestual, comportamental e visual é considerado por um indivíduo antes de se iniciar a fala propriamente dita. No caso desse estudo, focou-se no atendimento de lojas, partindo de uma premissa de que as pessoas consomem nesses locais pois se identificam de alguma maneira com o vendedor. Foi realizado uma entrevista com dez pessoas escolhidas que se dispuseram a responder algumas perguntas, acerca do tema relacionando suas preferências de determinada lojas a outras, e o porquê. Também foram questionadas sobre os aspectos não-verbais dos vendedores para saber se perceberam algum tipo de julgamento. As entrevistas foram realizadas na região da Av. Paulista, mais precisamente na R. Augusta e no centro de compras Center 3, na própria avenida. Brevemente há a fundamentação teórica de comunicação não-verbal e de diversidade. A metodologia escolhida foi a qualitativa, que visa mais subjetividade que a quantitativa, que não coleta dados numéricos para a pesquisa, procura entender o fenômeno ao invés de medir variáveis. O resultado da pesquisa mostrou que ainda há um certo olhar diferente para as pessoas que não estão dentro dos padrões visuais de determinadas lojas e comprava a teoria do grupo de que essas pessoas procuram locais em que encontrem semelhanças com a sua personalidade. Palavras-chaves: Comunicação não-verbal; diversidade; discriminação; gestos 3 SUMÁRIO Introdução....................................................................................................................3 Capítulo 1 - Comunicação não-verbal 1.1 Definições....................................................................................................6 1.2 Características da comunicação não-verbal...............................................7 1.3 Como é o processo de comunicação não-verbal........................................9 Capítulo 2 - Diversidade 2.1 Definições..................................................................................................10 2.2 Diversidades no meio social......................................................................13 2.3 Qual a relação entre diversidade e comunicação não verbal?..................16 Capítulo 3 - Metodologia 3.1 Abordagens...............................................................................................19 3.2 Métodos.....................................................................................................20 3.3 Técnicas de Coleta....................................................................................20 3.4 Pesquisas de Campo................................................................................21 Capítulo 4 – Entrevistas 4.1 Questionário..............................................................................................21 4.2 Resultados.................................................................................................22 Considerações Finais.................................................................................................25 Referências................................................................................................................27 4 INTRODUÇÂO A comunicação não-verbal exerce fascínio sobre a humanidade desde seus primórdios, pois envolve todas as manifestações de comportamento não expressas por palavras, como os gestos, expressões faciais, orientações do corpo, as posturas, a relação de distância entre os indivíduos e, ainda, organização dos objetos no espaço. Pode ser observada na pintura, literatura, escultura, entre outras formas de expressão humana. Está presente no nosso dia-a- dia mas, muitas vezes, não temos consciência de sua ocorrência e, nem mesmo, de como acontece (SILVA; BRASIL; GUIMARÃES; SAVONITTI; SILVA, 2000, p. 52) Pode-se, a partir da citação acima, que foi auxiliada por estudiosos do tema, como Corraze (1982) e Davis (1979), entender que a comunicação não-verbal é intrínseca ao ser humano e ao cotidiano social. As interações interpessoais são conduzidas de maneira que a comunicação não verbal auxilia a comunicação falada e é observável em todos os locais. De acordo com Silva, Brasil, Guimarães, Savonitti, Silva (2000), a linguagem corporal caracteriza-se pela pouca consciência que os indivíduos têm dela, ou seja, os movimentos e gestos são em sua maioria involuntários e podem expressar muito mais do que a fala. Os autores atribuem características como sinceras, naturais e intuitivas essas expressões não verbais que tanto o corpo como a face reproduzem. Dessa forma, os motivos para estudar esse tipo de comunicação são inúmeros e sua importância é máxima quando se trata de interação com outras pessoas. E como se sabe, o homem é um ser social, que vive e se relaciona com outros indivíduos, é, pois, fundamental a leitura e estudo para lidar com as pessoas. Principalmente, se estas são diferentes do individuo. Não é surpresa que existem diversas maneiras de ser, ou seja, o individuo pode apresentar um leque de características que o diferem em todas as esferas psicológicas e sociais. E assim surgem junto as mais variadas formas de discriminação que hoje é visto nas ruas com certa frequência, tornando comum esse julgamento pelas aparências, se assim pode ser definido. 5 Descriminação racial, de gênero, sexo. Pessoas que se vestem diferentes ou se expressam através de piercings e tatuagens ainda sofrem com maus olhares nas ruas e na hora de ser atendido, ou até procurar emprego. Ao juntar esses dois conceitos, o objetivo do trabalho é pesquisar o quanto do aspecto visual e corporal comportamental de um indivíduo é considerado antes de se iniciar uma fala. É entender como esses indivíduos se sentem ao serem discriminados, se foram, e se eles também deixam o pré-conceito influenciar de maneira a impedir de se interagir mais. Para esse estudo, especificou-se o atendimento em lojas de roupas. Os entrevistados foram questionados em relação as características dos vendedores, desses locais de preferência para consumir, que o marcaram e o quanto isso influencia sua opção pela loja. Também foram questionados sobre alguma forma de discriminação que sentiram. 6 CAPÍTULO 1 - COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL 1.1 Definições A comunicação não-verbal é algo constantemente presente na vida dos seres humanos e suas relações sociais. Segundo Corraze (1982), as comunicações não- verbais são um meio, dentre outros, de transmitir informações e podem ser definidas como as diferentes formas existentes de comunicação entre seres vivos que não utilizam a linguagem escrita, falada ou seus derivados não-sonoros como, por exemplo, a linguagem dos surdos-mudos. É uma maneira de passar umamensagem de maneira a utilizar os movimentos corporais, geralmente inconscientemente. Como diz Pease (2006) na comunicação verbal, sendo a linguagem o fator mais importante, reconhecemos que produzimos e recebemos uma quantidade muito grande de mensagens que não vêm expressas em palavras. Estas mensagens são os que denominamos não-verbais, e vão da cor dos olhos, comprimento do cabelo, movimentos do corpo, postura, e até o tom da voz, passando por objetos, roupas, distribuição do espaço e do tempo. Dessa forma ainda pode-se definir a comunicação não-verbal como um conjunto de três classes de movimentos observáveis: os faciais, gesticulares e os de postura. Embora seja possível categorizar estes tipos de movimentos, a verdade é que estão fortemente entrelaçados, e muito frequentemente se torna difícil dar significado a um, prescindido dos outros (PEASE, 2006). Tornando tão importante o estudo desses elementos em conjunto. De Corraze (1982 apud MESQUITA 1997), tem-se que a comunicação não- verbal é a forma não discursiva que pode ser transmitida através de três suportes: o corpo, os objetos associados ao corpo e os produtos da habilidade humana. Todo e qualquer conjunto de expressões caracterizadas pela ausência da escrita, ou da fala, pertence ao processo de comunicação não-verbal. Movimentos involuntários, posturas e gestos, objetos, cores e imagens, entre outros, formam uma maneira de transmitir mensagens que revelam sentimentos, pensamentos, comportamentos e intenções. A comunicação não-verbal é algo observável a todo momento nas pessoas, e apresenta profundas características que podem indicar maneiras de se comportar perante tais informações reveladas através do entendimento do corpo, e suas variáveis, da pessoa analisada. 7 1.2 Características da comunicação não verbal Corraze (1982 apud MESQUITA, 1997), citado anteriormente, afirma que para o ser humano, as comunicações não-verbais se processam através de três suportes. O primeiro, o corpo, nas suas qualidades físicas, fisiológicas e nos seus movimentos. O segundo, o homem, ou seja, objetos associados ao corpo como os adornos, as roupas ou mesmo as mutilações ¾ marcas ou cicatrizes de tatuagens, de rituais ou não; neste suporte ainda podem ser relacionados os produtos da habilidade humana que podem servir à comunicação. Finalmente, o terceiro suporte se refere aos produtos da habilidade humana. Ou seja, é dispersão dos indivíduos no espaço, este espaço engloba desde o espaço físico que cerca o corpo até o espaço que a ele se relacione, o espaço territorial. A partir do ponto de vista de Davis (1979), Mesquita (1997) deduz que os canais de comunicação não-verbal podem ser classificados em dois grupos: o primeiro, que se refere ao corpo e ao movimento do ser humano e o segundo, relativo ao produto das ações humanas. O primeiro apresenta diferentes unidades expressivas como a face, o olhar, o odor, a paralinguagem, os gestos, as ações e a postura. O segundo apresenta diferentes unidades de expressão como a moda, os objetos do cotidiano e da arte, até a própria organização dos espaços: físico (pessoal e grupal) e ambiental (doméstico, urbano e rural) É interessante comentar os estudos de Birdwhistell (1970 apud MESQUITA, 1997) que concluiu que a importância das palavras ditas em uma interação interpessoal é apenas complementar, ou seja, grande parte da comunicação se processa num nível abaixo da consciência. Segundo este autor, apenas 35% do significado social de uma conversa corresponde às palavras pronunciadas, os outros 65% seriam correspondentes aos canais de comunicação não-verbal. Segundo Rector & Trinta (1985 apud MESQUITA, 1997), os trabalhos de Mehrabian e os de Appebaum e colaboradores corroboram com os estudos citados no parágrafo anterior, pois mostraram que a porcentagem de comunicação não- verbal na transmissão de qualquer mensagem, em uma interação entre indivíduos, é muito elevada. Os estudos de Mehrabian demonstram que 55% da comunicação face a face se dá através do corpo, gesto e expressão facial; 38% é tributável à tonalidade, intensidade e outras características da voz e apenas 7% é realizada através das palavras. 8 Segundo Knapp (1982 apud MESQUITA, 1997), a habilidade de emitir e receber sinais não-verbais é decorrente da aprendizagem e da prática no decorrer da vida cotidiana. Esta aprendizagem pode ocorrer por imitação, automodelação, adaptação às instruções e retroalimentação a partir das reações de outros indivíduos. Alguns fatores têm sido considerados no desenvolvimento das habilidades não verbais. São eles: a) motivação; b) atitude; c) experiência e d) conhecimento. A motivação, de acordo com Mesquita (1997) é um fator importante, pois permite que o indivíduo busque formas de desenvolver estas habilidades. Está intrinsecamente relacionada às necessidades da pessoa, tanto para melhorar sua atuação profissional, quanto sua atuação na vida pessoal. A atitude refere-se ao posicionamento positivo ou negativo do indivíduo frente às suas experiências de aprendizagem. Por maior que seja a motivação para a aprendizagem, seu resultado também dependerá das atitudes frente a situações vivenciadas, de acordo com Mesquita (1997) Ainda segundo o mesmo autor, a experiência é fundamental: quanto maior a variedade das próprias experiências, maiores serão também as oportunidades de aprendizagem. Porém, quando o objetivo é desenvolver habilidade, uma prática adequada (que permita diversidade e especificidade de tarefas e processos bem como uma boa orientação e “feedback” das informações), auxiliará, sem dúvida, o desenvolvimento das capacidades inatas do indivíduo. Mesquita (1997) afirma que o conhecimento pode ser adquirido de duas maneiras: inconsciente e conscientemente. O primeiro, no próprio transcorrer do ciclo de vida do indivíduo, nas suas interações sociais, nas suas observações e adaptações; é um conhecimento empírico não sistematizado. O segundo é um processo de aquisição de informações através de distintos sistemas como leituras, palestras e cursos. Os dois processos são extremamente importantes, porém, quanto maior for a informação sistematizada, melhor compreensão o indivíduo terá desta área de conhecimento. Embora o conhecimento, a motivação e a atitude sejam fundamentais para o desenvolvimento das habilidades de emitir e receber sinais não-verbais, o mesmo autor afirma que se não ocorrer uma prática adequada as potencialidades inatas dos indivíduos não se desenvolverão eficientemente. Mesquita (1997) evidencia que: 9 a) fatores como a motivação, a atitude, a experiência e o conhecimento podem influenciar o desenvolvimento destas habilidades de codificação e decodificação de sinais não-verbais; b) o conhecimento das teorias e pesquisas desta área (comunicação não- verbal) pode permitir ao indivíduo uma melhor compreensão das comunicações interpessoais, bem como melhor auto conhecimento; c) a experiência e o treinamento das habilidades de emitir e receber sinais não verbais podem tornar o indivíduo ainda mais habilidoso, mais sensível para codificar e/ou decodificar sinais não-verbais. 1.3 Como é o processo de comunicação não-verbal Para que exista comunicação não-verbal, como em qualquer tipo de comunicação é necessário segundo Pease (2006) a presença de um emissor e um receptor. Dessa forma, é possível a transmissão de sinais, ou mensagens através de mecanismos que não a fala. Esses mecanismos, como gestos e movimentos por exemplo, permitem uma leitura dapessoa analisada. Dessa maneira a leitura que é consciente, parte do estudo de sinais transmitidos na maioria das vezes de forma inconsciente, como diz Corraze (1982) que no que concerne à intenção consciente, é possível perceber que o homem, nas circunstâncias habituais da vida, tem muito pouco domínio sobre suas comunicações não verbais. Com relação ao funcionamento da comunicação não verbal Birdwhistell (1985) também afirma que pode ser consciente ou não, que envolve nossos gestos, posturas, emoções e sentimentos em determinado contexto. Tem como função expressar sentimentos, emoções, reações e transmitir mensagens. Manifesta-se de forma natural, intuitiva e continuamente, mas é influenciada pelo contexto e pelas diferentes culturas (SILVA, L.M.G, BRASIL, V.V; GUIMARÃES, H.C.Q.C.P; SAVONITTI, B.H.R.A; SILVA M.J.P, 2000). Portanto, além de ocorrer de maneira geralmente involuntária, o processo de comunicação não-verbal depende muito do contexto e da cultura em que está inserido, e também segundo Birdwhistell (1985) deve ser visto no todo do corpo. Ou seja, gestos isolados dificilmente serão interpretados de maneira correta. 10 Como qualquer outra linguagem, a do corpo tem também palavras, frases e pontuação. Cada gesto é como uma só palavra e uma palavra pode ter vários significados. Só quando a palavra forma parte de uma frase, pode se saber seu significado correto (PEASE, 2006). O estudo da comunicação não-verbal acontece pela análise não somente dos gestos, inseridos em um contexto mas também, segundo Pease (2006) a maneira como é feito; não o ato de estreitar a mão, mas sim a forma de fazê-lo. CAPÍTULO 2 - DIVERSIDADE 2.1 Definições Falar de diversidade é falar sobre nós mesmos, e os outros, na relação que estabelecemos, nas nossas próprias características, história, cultura, o que temos aprendido ao longo da vida, o que nossa percepção tem nos feito observar e o que pode estar deixando de lado (BULGARELLI, 2008, p. 34) A citação acima é parte de um livro "Diversos somos todos" com uma abordagem um tanto infantil, mas que em sua simplicidade, assim como o trecho escolhido, resume bastante o conceito de diversidade. E, ao mesmo tempo em que o autor faz esse apelo às características que cada indivíduo apresenta, ele faz um paralelo com discurso de igualdade, que "todas as pessoas nascem iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade” (ONU, 1948 apud BULGARELLI, 2008) Muitos autores consideram que antes de falar sobre a diversidade, é necessário um breve contexto sobre o que é a identidade. Carvalho e Funari (2010) a correlaciona com memória e patrimônio, em sua publicação, ou seja, com a cultura, costume e país em que a pessoa está inserida. A partir dessa memória desses costumes, o indivíduo desenvolve suas características que se assemelham às de seu país, região de origem. Desse modo, Carvalho e Funari (2010) discutem sobre a aparência inflexível dessa identidade, ao ser vinculada com a coletividade do local de origem, o que não 11 é verdadeiro, pois não seria possível responder questões mais subjetivas como "quem eu quero ser" (Woodward, 2000 apud CARVALHO E FUNARI, 2010). A identidade, pois, é maleável e apresenta fluidez e multiplicidade. Carvalho e Funari (2010) completam o raciocínio afirmando que "a diversidade, segundo Arantes (2005), permite a elaboração e a construção da diferença e da própria identidade, conceitos que norteiam as relações humanas compostas por conflitos e negociações” (p.12). Oliveira e Rodriguez (2004) definiram diversidade como um "misto de pessoas com identidades grupais diferentes dentro de um mesmo sistema social". Os autores exemplificam as diversas diferenças que existem, como a cultural, religiosa, idade, orientação sexual, modos de pensar e agir, vícios, linguagens. E dentro da área da organização, Oliveira e Rodriguez (2004) ainda citam a criatividade do indivíduo em lidar com situações imprevisíveis e tempo de trabalho dentro da empresa. Todas essas características que compõem a autenticidade de um indivíduo e o caracteriza como um ser único. Sodré (2006), em seu artigo para a revista Informácion y Comunicación, cita o filósofo Badiou e suas linhas sobre a “evidente multiplicidade infinita da espécie humana” e a partir, afirma que existem dois problemas ao argumentar sobre a aceitação da convivência com o outro diverso. O mesmo autor declara o primeiro problema relacionado ao valor, e como ele é atribuído pelas pessoas, uma vez que cada individuo estabelece o significado e as características do que é valor de acordo com suas convicções e crenças particulares. O segundo problema a ser levado em consideração na diversidade é a diferenciação. Sodré (2006) discorre que a diferenciação é, de certo modo, ponto de partida do preconceito, pois “valem para qualquer forma diversa” (SODRÉ, 2006, p. 8). E em concordância com Carvalho e Funari (2010), citados acima, Sodré (2006) fala sobre a inflexibilidade que as pessoas atribuem à identidade do outro que é diferente, completando que isso contribui para um mau julgamento, em algumas vezes, de indivíduos que apresentam alguma característica exótica de conhecimento universal. Como exemplo, o próprio autor cita, um homem com turbante na cabeça que logo é admitido como um islamita árabe com determinada visão de mundo. 12 A discriminação vem do fato de ignorarmos ––– afetivamente, intelectualmente –– que estamos excluindo o outro, o diverso, por não termos possibilidade de lidar existencialmente com a diferenciação (SODRÉ, 2006, p. 9). Em seu artigo, Sodré (2006) ainda remete aos princípios de violência frente ao que é diverso do que o indivíduo está acostumado. A época das grandes navegações (viagens de descobrimento, guerras de colonização e cristianização), quando as grandes potências procuravam e encontraram locais e matérias-primas, foi o ponto de partida citado pelo autor para essa correlação, num sentido mais moderno da história. A “pretensão de ocupar pela força” (SODRÉ, 2006, p.9), que o autor cita, é relacionado ao encontro de indivíduos que você julga inferior, talvez pelo desconhecimento de seus costumes ou por uma simples arrogância do ser, que hoje persiste, mas de diferente forma, não pela dominação de “regiões mais férteis” (SODRÉ, 2006, p.9). O que se tem hoje são notícias de violência gratuita e discriminação contra a mulher, o homossexual, o negro, o islâmico e outros grupos minoritários. De certo modo, é uma dominação de alguns indivíduos auto-avaliados como superiores e que não enxergam o outro (considerado inferior) como um igual. Sodré (2006) remedia essa violência exatamente com o reconhecimento da diversidade humana. Ora, se não existisse essa negação do que é diferente, o resultado seria a não-violência, pois todos seriam vistos como iguais e agraciados com as mesmas oportunidades e tolerância. Ou seja, a principal causa da discriminação do que é diferente é a comparação, segundo Sodré (2006), baseado em Kant, que afirma que “o conceito de diversidade é o próprio conceito de comparação”. A nossa sociedade moderna foi criada sobre um alicerce que trata tudo e todos como objetos dotados de valor ou não, inclusive as pessoas. O próprio termo de ser igual e desigual é alcunha dessa sociedade que exerce a comparação para poder subjugar e dominar, de acordo com o autor, ou seja, não existe igual e diferente, somente existe o ser. 13 Os homens, seres singulares, coexistem emsua diversidade. Cada uma dessas singularidades corresponde, às vezes, à dinâmica histórica de um Outro, um coletivo diverso. Na prática, aquilo que nós experimentamos de uma cultura, principalmente da nossa, é a diversidade de seus repertórios, onde se mostram hábitos, enunciados e simbolizações. (SODRÉ, 2006, p.11) Ao lembrar que as grandes navegações foram realizadas pelas civilizações europeias, e com isso seus ideais de cultura e costumes foram disseminados no mundo todo, pode-se afirmar que a base comparativa que persiste até hoje, é justamente uma herança dos ideais europeus, segundo Sodré (2006). De acordo com mesmo autor, no Brasil, quando questionados socialmente o que significa ser brasileiro, há o encontro de dois significados, fruto da interculturalidade que existe no país: o primeiro baseado nas instituições europeias e o segundo, nas origens africanas e indígenas do povo. Sabe-se que o país teve a intensa colaboração dessas duas diferentes bases para se desenvolver e criar hoje uma sociedade miscigenada com diversos elementos. Na cultura do brasileiro, vemos características diversas convivendo, não que isso signifique que não haja violência, muito pelo contrário, ainda há e muitas noticiadas no dia a dia do país. Mas, se houvesse uma profunda reflexão, sobre essa colaboração, seria possível ver o Outro como “potência de cooperação radical entre as diferenças” (SODRÉ, 2006, p.14). Aceitá-las é um passo gigantesco contra a violência frente ao Outro, diverso 2.2 Diversidade no meio social A diversidade é um assunto bastante importante e que tem ganhado destaque nos últimos anos. Segundo Maria Tereza Fleury (2000), a diversidade cultural foi uma resposta das empresas à intensa mudança na força de trabalho e à necessidade de aumentar a competitividade entre elas. No Brasil, a Portaria 1.199 do Ministério do Trabalho e Emprego, publicada em 30/10/2003, determinou que as empresas com 100 ou mais empregados são 14 obrigadas a preencher de 2 a 5% dos seus cargos com pessoas portadoras de deficiência, ou beneficiários reabilitados. A não observância da legislação implica multa (BRASIL, apud VERGARA; IRIGARY, 2007, p. 2). Subbarao (1995) avalia a diversidade na força de trabalho como um acontecimento internacional, que ocorre tanto em países desenvolvidos, como nos em desenvolvimento. O autor considera a diversidade como um tema bastante amplo, já que engloba questões como: sexo, grau de instrução, etnia, religião, língua, idade e orientação sexual (FLEURY, 2000, p. 20) De acordo com Maria Tereza Fleury (2000) a diversidade é definida como um mix de pessoas com identidades diferentes, mas que interagem em um mesmo meio social, havendo tantos grupos de maioria como de minorias. Podem-se tratar os grupos de maioria como aqueles que obtiveram vantagens desde o início da história do capitalismo, ou seja, tanto no quesito de recursos econômicos, como em poder de influências. A administração dessa diversidade requer a elaboração de estratégias que harmonizem justiça social, lucro e práticas organizacionais (ROBINS e COULTER, 1998). O Instituto Ataku (2006) verificou que os consumidores brasileiros apontam a gestão da diversidade como um assunto bastante relevante entre as práticas socialmente responsáveis, isto é, dar oportunidade às minorias, ser um empregador justo e correto, agir de forma honesta com os clientes e ser ecologicamente responsável, são características positivas na visão dos consumidores (VERGARA, S. C.; IRIGARY, H. A. R. Os Múltiplos Discursos sobre Diversidade no Ambiente de Trabalho, p. 2. 2007) Conforme o artigo de Vergara e Irigaray (2007), a adoção de políticas de diversidade não é feita de acordo com uma racionalização ética ou moral (ARANHA, ZAMBALDI e FRANCISCO, 2006); mas sim, uma resposta estratégica de aceitação à pressão institucional política (IRIGARAY, 2006). Ou seja, o fato das empresas estarem contratando trabalhadores diferenciados, não representa que os trate de forma igualitária aos demais, realizando as ações para apenas ceder às pressões políticas e sociais. De acordo com Vergara e Irigaray (2007): Sluss e Ashford (2007) realçam que a Teoria da Identidade Social assume que os indivíduos tendem a classificar a si próprios e aos 15 outros em categorias sociais e que estas classificações têm efeito significativo sobre as interações humanas. O estudo desses autores foca identidade e identificação na dicotomia indivíduo vis-à-vis o coletivo, o que implica admitir que os indivíduos interagem com base no protótipo grupal e não em características pessoais. (p.4) A identidade social de um indivíduo é construída logo a partir do primeiro encontro contato com o outro. Através desse ponto de vista, pode-se dizer que a primeira percepção da aparência física, comportamento e trajes geram expectativas ou não por parte daquele que as percebe. As impressões que causamos nos demais podem ser involuntárias, refletindo ou não na real identidade do indivíduo. Nesse interim, a percepção de um sinal diferenciado reduz as expectativas dos outros, podendo representar uma “anormalidade”, “fraqueza moral” ou “debilidade” (Goffman, apud VERGARA; IRIGARY, 2007, p 7.) Durante as últimas quatro décadas, diversos estudos no campo da Psicologia Social sobre preconceito, estereótipos e discriminação têm analisado as causas e consequências desse tipo de ação sobre as minorias sociais. Esses estudos comprovaram que os segmentos que mais sofrem com discriminação são os “negros (BRIGHAM, 1974); mulheres (BROVERMAN et al., 1972), pessoas com deformação facial (EDWARDS e WATSON, 1980); deficientes físicos (NEWMAN, 1976); obesos (HARRIS, HARRIS, BOCHNER,1983); retardados mentais (FOLEY, 1979); homossexuais (HEREK, 1984) e cegos (SCOTT, 1969)” (VERGARA; IRIGARY, 2007, p 5.) O estigma é um fenômeno construído pela sociedade (BLAINE, 2000) e causa fortes implicações em suas vítimas (THOMPSON et al, 2004), uma vez que ao se perceber como pertencente a uma minoria desprivilegiadas, seja por fatores de etnia, de sexo, de obesidade, de ser portador de necessidades especiais ou de orientação sexual, torna o indivíduo um alvo mais fácil de sofrer preconceitos (YINGER, 1995) ou de situações estressantes. Segundo estudos, existe uma forte correlação entre estresse e discriminação (IRIGARAY, 2006; WILLIAMS, JACKSON, ANDERSON, 1997) como consta na pesquisa de Vergara e Irigaray (2007) Devido às diferenças existentes entre os indivíduos e a considerarmos determinadas características como “fora do padrão”, ocorre em muitos casos o 16 preconceito. O preconceito é visto pela Psicologia Social Individualista (Farr, 1999) como uma economia de esforços cognitivos, no entanto, para se viver em uma sociedade complexa e diversa, torna-se necessária uma contenção e simplificação das diversas percepções criadas (VERGARA, S. C.; IRIGARY, H. A. R. Os Múltiplos Discursos sobre Diversidade no Ambiente de Trabalho, 2007, p. 4) Segundo Fleury (2000) a pessoa que pratica o preconceito está suscetível a percepções construídas, ou seja, é possível dizer que os estereótipos existem por influência da ideologia formada desde o início do capitalismo. Nesse processo as características grupais pejorativas são retiradas do seu contexto político e particularizadas aos indivíduos que sofrem as agressões. Isto é, as pessoas que nascem com determinada característica (cor de pele negra, por exemplo), sofre com atribuições de significados feitas por grupos e são inseridas como pertencentes a eles (Rodrigues et al, 2000).2.3 Qual a relação entre diversidade e comunicação não-verbal? As primeiras discussões sobre gestão da diversidade dentro das empresas começaram nos Estados Unidos no contexto de mudança na qual as empresas estavam se inserindo em meados do século XIX. Houve a intensificação dos debates acerca das relações humanas e dos preconceitos raciais, a desconstrução de linhas de pensamentos antiquadas tanto científicas quanto religiosas, o contato com novas línguas e culturas sob a ótica da globalização e multipolarização do mundo, a diversificação da mão de obra com a entrada de novas forças de trabalho. Diante desse novo cenário, era preciso reestruturar o modo como as pessoas se relacionavam a fim de administrar um novo e complexo mosaico de singularidades. Era preciso não só criar um ambiente menos hostil ao convívio de diferentes culturas, mas administrá-las de forma a alocá-las da melhor maneira possível. Gerir a diversidade, nesse novo contexto, significava diminuir os abismos que a desigualdade entre classes e raças gerara ao longo dos séculos e, como maior interesse das empresas, criar uma vantagem competitiva no cenário internacional. Essa vantagem competitiva consiste em, basicamente, conseguir trabalhar com a diversidade a fim de que ela não se torne um empecilho para o desenvolvimento da empresa. Isso porque, se mal gerida, torna-se um enorme 17 obstáculo para a comunicação e resolução de problemas, além de opressor para com as minorias. Gerenciá-las, portanto, significa estar a frente de um processo de desenvolvimento mais predominantemente humanístico característico das políticas empresariais contemporâneas. Para Mesquita (1997), a comunicação humana é uma área de investigação e de estudos muito complexa, é tanto um fenômeno quanto uma função social e profissional. Ela é processada através de dois níveis: o verbal e o não-verbal. A comunicação não-verbal é a forma não discursiva que pode ser transmitida através de três suportes: o corpo, os objetos associados ao corpo e os produtos da habilidade humana. Investigações científicas têm evidenciado que a importância das palavras, em uma interação entre pessoas é apenas indireta. Resultados de diversos estudos demonstram que as relações interpessoais são mais influenciadas por canais de comunicação não-verbais do que verbais. Isto é indicativo que o discurso não-verbal assume relevância nos processos de comunicação humana. Fica, então, evidente que em determinadas profissões os sinais não-verbais são de capital importância, principalmente, para aqueles profissionais cuja ação está mais diretamente relacionada ao corpo e ao movimento, na medida em que contribuem de forma relevante para melhor percepção de outras pessoas - os clientes. A comunicação se efetua através da transferência de informação, sob duas condições principais: a primeira condição é a presença de dois sistemas: um emissor e um receptor; a segunda é a transmissão de mensagens (Corraze, 1982 apud MESQUITA, 1997). Bitti (1984 apud MESQUITA, 1997) considera que a mensagem é o ato final, é a exteriorização do material expresso, de acordo com uma forma de codificação. A produção da mensagem tem início em organizações interiores (conscientes ou não), até atingir a exteriorização; pode atravessar uma série complexa de operações em nível cognitivo, afetivo, social e motor. A conceituação do que é comunicação não-verbal é um dos assuntos muito enfocados e discutidos na literatura por diversos autores. Segundo Rector & Trinta (1985 apud MESQUITA, 1997), alguns fazem objeção ao termo não verbal por ser abrangente e pela oposição que faz ao componente verbal da comunicação humana. Outros utilizam o termo integração comunicativa cara a cara ou ainda 18 consideram a comunicação não-verbal como atividade expressiva aquém das palavras. De acordo com Corraze (1982 apud MESQUITA, 1997), a comunicação não- verbal é um meio, dentre outros, de transmitir informação; o autor se refere a este tipo de comunicação como “as comunicações não-verbais”. Estas são definidas como os diferentes meios existentes de comunicação entre seres vivos que não utilizam a linguagem escrita, falada ou seus derivados não sonoros (linguagem dos surdos-mudos, por exemplo). É um conceito que evidencia um extenso campo de comunicações, pois este não se restringe apenas à espécie humana. A dança das abelhas, o ruído dos golfinhos, a expressividade das artes: Dança, Música, Teatro, Pintura, Escultura etc, são também consideradas como formas de comunicação não- verbal. A comunicação não-verbal, como um meio de transmissão e recepção de uma mensagem, como um meio de interação e entendimento entre os seres humanos, não pode ser desvinculada do contexto individual ou de natureza social ao qual pertence a informação. Grande parte das informações que são geradas e emitidas por esses canais não verbais situa-se abaixo do nível da consciência (DAVIS, 1979 apud MESQUITA, 1997). Em resumo, o modo como percebemos as pessoas impacta diretamente no modo como isso será estruturado dentro das organizações. Hoje, com a diversificação das empresas e dos ambientes de trabalho, há uma necessidade crescente de adaptação à essa nova realidade. A comunicação não-verbal é apenas o primeiro canal de percepção. Esse canal primário é muito evidente em trabalhos em que existe uma relação direta com o cliente, por exemplo, no comércio. As questões sobre a integração da diversidade são muito recentes. Ainda perpetua-se a ideia de um modelo de comportamento, ideais, vestimentas etc muito atrelada à questão do preconceito e da construção de estereótipos. Eles estão sendo desconstruídos, a medida que fala-se e discute-se mais a respeito da diversidade como um ponto positivo a ser gerido. CAPITULO 3 - METODOLOGIA 3.1 Abordagens 19 Segundo Samperi, Collado e Lucio (2006), o enfoque qualitativo visa uma aproximação maior dos elementos da pesquisa, ou seja, o refinamento das questões envolvidas no projeto, e diferentemente do enfoque quantitativo, que põe sobre avaliação a hipótese predefinida do estudo, o enfoque qualitativo pode ou não provar hipóteses (Grinnel, 1997 apud SAMPERI, COLLADO e LUCIO, 2006), mas ele não tem essa finalidade especificada. Ainda de acordo com Samperi, Collado e Lucio (2006), a pesquisa com esse tipo de metodologia está baseado na coleta de dados, porém sem se preocupar com a quantidade numérica da amostra, sendo assim, o estudo reúne dados a partir das observações e descrições. Não consiste em finalizar o estudo com precisão e exatidão, e sim “em “reconstruir” a realidade, tal como é observada pelos atores de um sistema social predefinido” (SAMPERI, COLLADO e LUCIO, 2006, p. 5). Outra característica apontada pelos mesmos autores remete ao dinamismo que o enfoque qualitativo apresenta, pois conforme a pesquisa é realizada, podem ou não surgir mais teorias e nele ser respondidas ou não. A maior preocupação de um estudo com esse foco é compreender e entender o fenômeno, e não em medir suas variáveis e estabelecer pontualidades. Oliveira (2007) já contradiz os autores acima, pois afirma que qualquer investigação de carácter acadêmico, pesquisa que está para ser desenvolvido pressupõe o desenvolvimento de hipóteses, ou seja, é o motivo que incentiva o autor a iniciar um projeto. “A utilização de uma hipótese é necessária para que a pesquisa apresente resultados úteis, atinja níveis de interpretação mais altos principalmente nas dissertações e teses (Olivera, 2000 apud OLIVEIRA, 2007, p. 30) Oliveira (2007) acrescenta a necessidade de clarezaao definir o objeto de estudo, pois o estudo com método qualitativo é uma reflexão e análise da realidade do tema escolhido, sendo assim é preciso detalhes, conhecimento histórico anterior para poder discutir e fazer as devidas considerações finais. Godoi e Balsini (2006 apud GODOI, MELLO e SILVA, 2006) assim como Samperi, Collado e Lucio (2006) utilizam o termo “não-quantitativo” para se referir a metodologia qualitativa, com o acréscimo do termo “não-numérico”, ou seja, sugere a não importância de dados numéricos e variáveis e utilização de estatísticas para provar ou testar alguma hipótese sobre o tema a ser estudado, colocando-se completamente ao contrário da pesquisa quantitativa. 20 3.2 Método No presente trabalho o método qualitativo foi escolhido para a coleta de dados através de uma entrevista em profundidade. Isso porque as questões mais relevantes a serem observadas em relação ao comportamento e poder de decisão dos consumidores não são cabíveis em um universo numérico ou avaliáveis em nível estatístico. Faz-se necessária uma análise mais profunda e descritiva dos motivos que levam os consumidores a optarem por determinados segmentos de lojas de vestuário, levando-se em consideração, principalmente, os aspectos não- verbais do local, tais como o estilo musical ou esportivo à que, muitas vezes, o vestuário faz referência, a decoração e organização do espaço, a localização da loja, o perfil dos vendedores e sua identidade visual etc. As perguntas do roteiro semi-estruturado da entrevista em profundidade têm como objetivo principal incitar a reflexão acerca de escolhas corriqueiras que as pessoas fazem em relação ao seu consumo em lojas de roupas. É um dos objetivos avaliar se as decisões são tomadas de forma consciente ou inconsciente, se aspectos não-verbais são realmente levados em consideração e/ou influenciam significantemente nas escolhas dos consumidores. 3.3 Técnicas de Coleta Utilizando-se de um processo qualitativo, a coleta de dados a ser analisada será feita por meio de uma entrevista. Esta, então, terá um roteiro semiestruturado, ou seja, haverá perguntas que serão obrigatoriamente feitas por tratarem de assuntos essenciais ao tema da comunicação não verbal relacionada ao preconceito no primeiro contato com outra pessoa; e além das perguntas obrigatórias, os integrantes do grupo podem aprofundar a conversa em certos assuntos ou fazer perguntas que acharem relevantes dentro do tema trabalhado. Este método de coleta mostrou-se adequado na medida em que há um contato maior e mais profundo com a pessoa entrevistada quando comparada a um questionário, por exemplo. Assim, a entrevista traz consigo uma grande quantidade de informações que podem ser utilizadas, pois o entrevistador pode se inteirar das 21 opiniões em relação a um determinado assunto através de uma interação mais direta, flexível e espontânea. 3.4 Pesquisa de Campo A pesquisa de campo consistirá na entrevista de dez pessoas aleatórias na faixa etária de 18 a 26 anos. Ou seja, o alvo de estudo são os jovens adultos. A coleta de dados será feita em shoppings, já que no estabelecimento em questão pode-se encontrar uma grande variedade de pessoas, tanto no aspecto numérico quanto no social. Além disso, o grupo também realizará entrevistas na rua Augusta, situada na Paulista, pois no local há geralmente uma presença maior de pessoas com estilos mais alternativos. CAPITULO 4 – ENTREVISTAS 4.1 Questionário 1.Que tipo de loja você frequenta? Cite exemplos. 2.Você se identifica com os vendedores dessa loja? Por que? (Características em comum) 3.A sua percepção em relação à aparência física do vendedor influencia na imagem da loja para você? 4.Existe algum aspecto físico que te incomoda em um vendedor? Quais? 5.Você já se sentiu discriminado por um vendedor devido ao seu estilo? 6.Existe alguma característica física marcante em um vendedor? Você a considera positiva ou negativa? (Se for ruim, por que? você acha intimidador/ desconfortável... etc?) A pergunta 1 foi utilizada para identificar o tipo de loja que a pessoa entrevistada costuma visitar com o intento de ser seguida da segunda. A questão seguinte tinha como objetivo avaliar se o primeiro contato visual com o vendedor era relevante ou não na identificação pessoal, e quais características particulares eram similares as do vendedor. 22 A pergunta 3 visava relacionar a imagem do vendedor com a marca da loja, isto é: se a aparência do atendente influencia na percepção da marca; se a aparência física deveria ou não combinar com o perfil da loja; e o que e como eles julgam para definir se o atendente e a loja são condizentes. A questão seguinte avaliava a impressão do cliente em relação aos aspectos físicos, citando o que o incomodava. A quinta, envolvia a percepção inversa, isto é, se o cliente já havia se sentido julgado pela sua aparência por algum atendente. Por fim, a última questão buscava enumerar quais características físicas costumam ser marcantes, inferindo principalmente à modificações corporais, maquiagem e cabelos; e a opinião do cliente em relação a isso. 4.2 Resultados A primeira pergunta foi feita para situar e compreender melhor cada entrevistado com o intuito de direcionar a entrevista dentro da especificidade de cada um deles. Como a questão era bastante ampla, tivemos uma grande gama de respostas, o que possibilitou que pudéssemos atingir públicos de diferentes perfis. Havia frequentadores de lojas de skate, surf, Calvin Klein, Zara, lojas de departamentos, etc. Dentre eles, pessoas tatuadas, com cabelo colorido, vestidas de forma despojada, de maneira casual e de forma sport-fino. A questão de número dois foi realizada com o intuito de detectar padrões de identificação entre os compradores e vendedores da loja, com possíveis características não-verbais em comum. As entrevistas indicaram que a maioria dos entrevistados se identifica com os vendedores da loja que frequenta, seja pelas roupas que utilizam, pelo estilo de vida, naturalidade ou ainda por características predominantemente verbais, como simpatia no atendimento e uma boa comunicação. No entanto, uma parcela dos entrevistados diz que não se identifica com os vendedores, e que os procuram apenas com o intuito de obter os itens desejados, e que em alguns casos não se identificam com os vendedores, por considerarem terem maneiras e gostos aparentemente diferentes. De acordo com as respostas obtidas na questão três, nove entre os dez entrevistados disseram que a aparência física do vendedor influencia na percepção da loja. Em uma das entrevistas foi dito: "Quem é que não gosta de entrar em uma loja e ver um vendedor bonito, bem vestido?!" e em outra a pessoa entrevistada 23 comentou que se vai comprar roupas com estilo mais largo e despojado e se depara com uma vendedora que veste roupas curtas e apertadas, não vai se sentir confortável para comprar naquele local. Em outra situação, a pessoa entrevistada disse que muitas vezes a ligação vendedor-loja ocorre inconscientemente. Ou seja, vê uma vendedora bonita em uma determinada loja, então associa o fato de comprar roupas lá com o fato de ficar tão bonita quanto a mulher que está a atendendo. Nessa pergunta ficou evidente como a aparência física influencia na percepção do indivíduo em relação a assuntos indiretamente ligados a ele. Isto é, a comunicação não-verbal do atendente (aparência física) gera percepções que vão além do julgamento "bonito ou feio", conectando-se com outros aspectos. A questão denúmero quatro indicou que poucas pessoas sentem incômodos com alguma característica física do vendedor de alguma loja. Os entrevistados não se importam com aspectos físicos tais como modificações no corpo. No entanto alguns entrevistados disseram ser fundamental que o vendedor esteja se vestindo de acordo com o ambiente da loja e o que o estabelecimento se propõe a vender. Uma das entrevistadas relatou se sentir incomodada com “dreads” no cabelo, porém disse que isso não influenciaria sua compra. Destaca-se ainda que a maioria dos entrevistados ao dizer que não possuíam aspectos físicos que os incomodavam em um vendedor ressaltou a características verbais tais como falta de comunicação que geraram um mau atendimento, ou tentativa de influenciar a compra por meio de discursos persuasivos. Na questão cinco, 80% dos entrevistados disseram que já sofreram algum tipo de discriminação por parte dos vendedores ao serem atendidos. Em um dos casos o entrevistado retratou um evento que aconteceu com ele. Cerca de duas semanas antes da entrevista ele havia visitado a loja da Mont Blanc para comprar um relógio para o pai e foi vestido de social, pois havia saído do trabalho. Em seguida, foi para casa e voltou vestindo bermuda e chinelo. Quando entrou na loja, o vendedor presente "mal se mexeu" para atendê-lo e o tratou com descaso, ficando sem graça após ele realizar a compra. Em outro caso, um rapaz comentou que se sente descriminado com grande frequência. Segundo ele, por ter muitas tatuagens e usar roupas largas, muitas vezes já foi ignorado ou mal tratado. 24 Alguns entrevistados comentaram de perceberem que não eram muito bem atendidos em lojas de maior poder aquisitivo, pois os atendentes não davam muita atenção por achar que não tinham condições de comprar os produtos da loja. Em outra entrevista, a pessoa em questão comentou que já se sentiu julgado apenas pelo olhar, o que o deixou em situação desconfortável: "literalmente a pessoa te olha de cima para baixo e de baixo para cima e já vira o rosto, isso pra mim não é legal, já é uma atitude bem chata". Nessa questão é possível perceber como a aparência física gera uma imagem sobre o indivíduo, que não necessariamente condiz com o estilo, mas que provoca uma diferenciação no tratamento (como é o caso do rapaz da loja de relógio). Isto é, os próprios vendedores, observando apenas a aparência da pessoa, imaginam se comprarão ou não na loja e já os tratam com base nisso. Além disso, também foi percebido que alguns atendentes reagem diferentemente com pessoas que possuem estilo alternativo e diferenciado. A sexta questão revelou que a maioria das pessoas notam tatuagens nos vendedores como uma característica marcante, e dizem não se incomodar com isso, considerando por muitas vezes como algo positivo. Outra parcela dos entrevistados diz não notar características físicas nos vendedores, ressaltando novamente aspectos verbais. Portanto, nesse requisito pode-se perceber que as pessoas não focam sua atenção em características não verbais, não se sentindo influenciados por elas. 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a realização das entrevistas em profundidade com dez indivíduos de aparências físicas distintas, é possível compreender melhor o que é relevante na decisão do consumidor no momento em que escolhe a loja de vestuário que irá frequentar. Para a maioria dos entrevistados, a aparência do vendedor influi na sua percepção da loja, ou seja, aspectos não-verbais são relevantes na sua escolha. Pode-se concluir que o vendedor é visto como um "elemento-chave" e, assim como outros aspectos como o estilo do ambiente, na concepção de muitos entrevistados, deve estar alinhado com a identidade visual da loja, para assim vender a marca de uma forma mais eficiente. Essa relação ocorre tanto da maneira direta e consciente (consumidor identifica-se com determinados elementos e, então, escolhe a loja) quanto de maneira indireta e inconsciente (após adentrar a loja identifica seus elementos e então percebe que houve uma paridade inconsciente). Para a maioria dos entrevistados, portanto, é fundamental que o vendedor esteja se vestindo de acordo com o ambiente da loja e o que o estabelecimento se propõe a vender, contrapondo a ideia de que o preconceito em relação à aparência física seja algo permanente e onipresente. Muitos alegaram não se importar realmente com modificações corporais e que isso não influencia significantemente em sua compra, entretanto, no caso de lojas de vestuário, os estilos devem estar de acordo com o que está sendo vendido. Um ponto relevante a ser notado no discurso dos entrevistados é que a aparência e a comunicação não-verbal têm papel significante somente num primeiro contato do consumidor com a loja e o vendedor, ou seja, na escolha de entrar ou não em algum recinto. A escolha da compra em si é muito mais influenciada pelo comportamento do vendedor (aspectos como simpatia, competência e comunicabilidade) e seu poder moderado de barganha (discursos persuasivos foram repudiados pela maioria). Além disso, outro ponto curioso a ser estudado é que, dentre os entrevistados, 80% alegou já ter sofrido algum tipo de discriminação por parte dos vendedores. Um estilo despojado dentro de um ambiente formal e requintado; alguém com muitas modificações corporais como tatuagens e piercings; uma pessoa que aparenta não ter poder aquisitivo suficiente para consumir os produtos de uma 26 determinada loja são as situações mais citadas pelos entrevistados em que houve mau atendimento e descaso por parte dos funcionários. Dessa forma, a partir das informações coletadas e o estudo com base em artigos científicos, é possível afirmar que, dentro dessa amostra limitada de indivíduos, o preconceito mostrou-se mais expressivo na relação vendedor- consumidor do que na relação consumidor-vendedor. A aparência física não chega a influenciar no tratamento que o consumidor dá à loja ou ao vendedor, no entanto, o oposto é relativamente mais incidente. Ainda, é congruente nas opiniões coletadas que deva existir um alinhamento da aparência do vendedor com a identidade visual da loja, dessa forma, é possível afirmar que as pessoas buscam locais em que haja uma maior identificação dos elementos da loja e do vendedor com os estilos próprios de cada um. 27 REFERÊNCIAS ALVES, M. A., SILVA L. G. G. A crítica da gestão da diversidade nas organizações RAE - Revista de Administração de Empresas, vol. 44, núm. 3, julho-setembro, 2004, pp. 20-29, Fundação Getulio Vargas, São Paulo. BIRDWHISTELL, R.L. Kinesics and context: essays on body motion communication. Philadelphia: UPP (University of Pensylvania Press). ed.4, 1985. BULGARELLI, R. Diversos somos todos. São Paulo. Editora de Cultura, 2008 CARVALHO, A.V., FUNARI P.P., Memória e Patrimônio. Revista Memória em Rede. p.7-16. 2010, Pelotas, RS CORRAZE, J. As comunicações não-verbais. Rio de Janeiro: Zahar, 1982 CROCHIK, J. L. Preconceito, indivíduo e cultura. 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